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Ficha de trabalho

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Ficha 9

Ficha 9 · Coesão textual


1. Lê o artigo de opinião.

A coragem é preguiça
Faulkner escrevia quando estava bê- as bestas que existiam antes de haver cé-
bado e uma das melhores foi dizer que os 20 rebros. […]
ursos tinham tanto medo dos cobardes A coragem é passar uma certidão sin-
como dos heróis. cera de ineficácia perante quem nos quis
5 É mentira, claro. Todos os animais têm fazer medo. Fazer-nos medo é a mesma
mais medo dos heróis. Por isso é que os coisa que procurar exercer o poder: é
gatinhos se põem espessos e gigantes 25 assustar-nos e ameaçar-nos ao ponto de
quando são confrontados por um lobo. E nos fazer alterar o nosso comportamento.
não só isso: saltitam de ladecos, como se A coragem é uma desobediência gra-
10 estivessem a semear sementes que se re- tuita e deliciosa: mostra a enorme pre-
cusam a entrar na terra, para fazerem de guiça que todos temos de obedecer.
loucos varridos. Funciona quase sempre. 30 A cobardia é uma palavra boa que os
A coragem é o segredo dos cobardes. brutos e estúpidos, assustados pela inteli-
Ser cobarde é ter medo e ser inteligente. gência e pela sensatez, fizeram tudo para
15
Quem é que quer correr o risco de se tornar má.
magoar? Mas, por outro lado, quem pro-
CARDOSO, Miguel Esteves, 2016. “A coragem é preguiça”.
cura fazer medo, só por ser maior e mais Público, 14 de janeiro de 2016
forte, é quase de certeza estúpido como

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1.1. Associa as afirmações da coluna A a um dos mecanismos de coesão lexical indicados na


coluna B, de forma a obteres informação correta.

A B

a. Com a utilização das palavras “cobardes” e “heróis” (ll.


3-4), concretiza-se o processo de

b. Na relação que estabelecem as palavras “ursos” (l. 3),


1. repetição
“animais” (l. 5), “gatinhos” (l. 7) e “lobo” (l. 8), é utilizado o
processo de 2. sinonímia (substituição)
3. antonímia (substituição)
c. O uso das palavras “medo” (ll. 3, 6, 14, 17, 23) e “coragem” (ll.
13, 21, 27) concretiza o processo de 4. hiperonímia / hiponímia (substituição)

d. As expressões “Fazer-nos medo” (l. 23), “procurar 5. holonímia / meronímia (substituição)


exercer o poder” (l. 24), “assustar-nos” (l. 25) e
“ameaçar-nos” (l. 25) concretizam o uso do processo
de

2. Lê a apreciação crítica que se segue.

Mais brilhante do que o sol

A inesperada ousadia de José Luís Peixoto – pegar no tema da aparição de


Fátima – seria já merecedora de espanto. Porém, o que mais surpreende é que
o resultado, Em Teu Ventre, seja um dos melhores livros de Peixoto (se não
mesmo o melhor).

dias, “a cada passo,


5 O assunto do último livro de José Luís
deixa escapar lágri-
Peixoto (n. 1974) é especioso 1. Reconhecida-
mas que a desgos-
mente especioso. E não gentil. Quase se pode-
tam. Sente o cheiro
ria dizer que, em Portugal, chega a ser um
40 verde dos figos a rebentarem nos ramos e
tema fraturante. […] O livro Em Teu Ventre
chora, recebe uma aragem súbita na nuca e
10 não toma partido e como que naturaliza, e
chora, varre a cinza do lume apagado e
subjuga à ficção, as aparições da “Senhora
chora”(p. 22). […] Curiosamente, portanto,
mais brilhante do que o Sol”. Digamos que,
corre entre parêntesis o veio mais sentimental
anulando ou secundarizando expansões
45 da novela (e tal sentimentalidade é frequente-
metafísicas ou religiosas, este livro toma o
mente, na obra de Peixoto, a sua qualidade
15 partido do imanente quotidiano, campestre e
mais debilitante) e o seu subtexto último: a
pobre, o partido da água “fresca e salitrosa” e
condição maternal. […]
do “pão com pingo”. Toma “o partido das coi-
Na obra de Peixoto, poeticidade rima fre-
sas”, como diria Francis Ponge. Na novela de
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quentemente com toxicidade. A prosa do autor
Peixoto, a transcendência é como que um resí-
20 costuma enrodilhar-se em si mesma, numa
duo do lirismo, que, na obra do autor, sempre
espécie de autodeslumbramento lírico que, ora
ressumbra de personagens, paisagens e acon-
se torna esgotante, ora em si mesmo se esgota.
tecimentos. A inesperada ousadia do escritor,
O estipêndio2 de imagens e construções
ao pegar em tão intratável assunto, seria já 55
desejadamente poéticas ou poetizantes não
merecedora de elogio. Ou de espanto. Porém,
25 raro afoga as suas narrativas. Os sentimentos
o que mais surpreende é que o resultado seja
(os bons, em particular) e o lirismo trabalhoso
(quase) airosamente conseguido, fazendo de
sempre atrapalham. Isto é especialmente
Em Teu Ventre um dos melhores livros de
verdadeiro em Peixoto. […] Em Teu Ventre
Peixoto (se não for mesmo o melhor). 60
talvez se salve pela brevidade. Mas salva-se:
30 Em Teu Ventre é uma novela a várias vozes, “O ar é fino, carrega o sabor e a som-bra dos
e uma delas pertence à própria divindade, que montes e dos cabeços, perfume de eucaliptos,
nos fala regularmente ao longo do livro atra- pinheiros, seiva velha de oliveiras.
vés de versículos balsâmicos, propedêuticos e Parece um tempo simples” (p. 49). É um
programáticos. Fala-nos Lúcia, por interposto 65
tempo simples.
35 e impessoal narrador. E fala-nos, entre parên-
tesis, Maria, a mãe de Lúcia, que, por aqueles
1. delicado; 2. custo, paga.
SANTOS, Mário, 2016. “Mais brilhante do que o sol”. Público, 27 de janeiro de 2016

2.1. Descreve os mecanismos de coesão frásica e interfrásica utilizados no pequeno resumo que
antecede o corpo do artigo, atendendo aos tópicos seguintes:
a. Coesão frásica: ordenação das palavras e das funções sintáticas na oração/frase;
concordâncias; regências; presença de funções sintáticas exigidas pelos verbos;
b. Coesão interfrásica: coordenação e subordinação; conectores; pontuação.

2.2. Para responderes a cada um dos itens de 2.2.1. a 2.2.4., seleciona a única opção que permite
obter uma afirmação correta, tendo em conta os processos de coesão referencial.
2.2.1. A utilização das palavras “livro” (l. 5) e “novela” (l. 18) e “Peixoto” (l. 19), “autor” (l. 20) e
“escritor” (l. 22) corresponde a exemplos do processo de
(A) anáfora.
(B) correferência não anafórica.
(C) elipse.
(D) catáfora.

2.2.2. No início do segundo parágrafo, a utilização dos pronomes “elas” (l. 30) (na contração
“delas”) e “que” (l. 30) concretizam casos de
(A) correferência não anafórica.
(B) catáfora.
(C) anáfora.
(D) elipse.

2.2.3. O(s) referente(s) dos determinantes possessivos “sua” (l. 46) e “seu” (l. 47)
(A) é o constituinte “o veio mais sentimental da novela” (ll. 44-45).
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(B) é o constituinte “obra de Peixoto”


(C) são os constituintes “obra de Peixoto” (l. 46) e “novela” (l. 45), respetivamente.
(D) são os constituintes “obra de Peixoto” (l. 46) e “qualidade mais debilitante” (ll. 46-
47), respetivamente.

2.2.4. No último parágrafo, os pronomes das linhas 52 e 53 (“que”, “se”, “si” e “se”) são
correferentes, constituindo uma cadeia anafórica, do referente
(A) “obra de Peixoto” (l. 49).
(B) “poeticidade” (l. 49).
(C) “prosa do autor” (l. 50).
(D) “autodeslumbramento lírico” (l. 52).

3. Transcreve exemplos dos mecanismos que contribuem para a coesão temporal do artigo.

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