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A ARTE E A BÍBLIA

(Francis A. Schaeffer)
– por miguel arruda –

PREFÁCIO

“e com a verdade vem a beleza, e com a beleza a liberdade diante de Deus.”


– Esta frase de Schaeffer diz respeito, originalmente, à verdade de que a arte não é menos
espiritual. No entanto, a maneira com Card coloca me traz a seguinte percepção:
– Com a Verdade: Escritura que relata a Redenção (revelação especial)
– vem a Beleza: compreensão corrigida acerca da Criação (revelação geral)
– Liberdade: o desfrutar correto da Criação, sob o crivo e cosmovisão da Escritura.

Em um mundo onde o belo era visto com desconfiança, Schaeffer nos lembrou que o Pai de
Jesus é também o Deus da beleza.
– isto, por causa dos movimentos fundamentalistas nos usos e costumes, do qual Schaeffer fez
parte; eram separatistas e não conseguiam estabelecer diálogo com a cultura e o mundo;
nisto, deixavam de apreciar o belo e honrar a Deus por sua Criação (revelação geral) e pela
capacidade dada à criatura de fazer cultura, produção humana (graça comum);

Somos livres para criar, contanto que não esqueçamos que somos escravos de Jesus.
– a relação saudável entre a faceta criadora e o crivo que impõe limites a esta atividade
humana: a Escritura, a mensagem do evangelho (Jesus); Obs: isso não significa produção
cultural evangelística (aspecto redentor), mas produção cultural boa (aspecto criacional);
– Como fazer isso? Como (1) não ser separatista (2) e nem um secularizado?

A Arte e a Bíblia, um manual sobre criatividade bíblica; levar a sério o senhorio de Jesus
Cristo em cada aspecto da vida criativa;
– criatividade bíblica: a liberdade do desfrute da criação e do que pode ser feito a partir dela;
– senhorio de Jesus: o ponto base que impulsiona e impõe limites para esta produção;
– em cada aspecto da vida criativa: “para todo o homem e o homem todo” (alcance);

Criar para a glória de Deus!


– o fim último: a doxologia!
– E quanto aos incrédulos que não produzem para a glória de Deus? Deus é glorificado com a
criação deles? Sim. O ponto, é que eles não reconhecem isso e suprimem esta verdade.
– Nós, regenerados, temos a consciência de que a nossa produção é doxológica!

1- A ARTE E A BÍBLIA

O senhorio de Cristo:

Deuz fez tanto o corpo como a alma, e a redenção é para o homem todo. Os evangélicos têm
sido criticados, com razão, por estarem sempre tão interessados em ver almas sendo salvas e indo
para o céu que não se importam muito com as pessoas de maneira integral.

1. Deus fez o homem todo;


2. Em Cristo o homem todo é redimido;
3. Cristo é o Senhor do homem todo agora e Senhor da vida cristã toda;
4. No futuro, quando Cristo retornar, o corpo será ressuscitado dentre os mortos e o homem
todo terá uma redenção completa.

É a partir desse sistema que devemos compreender o lugar da arte na vida cristã.

– É interessante como Schaeffer tira de jogo uma visão dicotômica (platônica) alastrada no
meio cristão de que as coisas do mundo (aspecto criacional) não prestam, e apenas as coisas
espirituais (aspecto redentivo? Ou o que isso quer dizer) são boas.
– Ora, estaríamos discordando de Deus em Gn 1 ao inferir que o mundo (cosmos), isto é, a
criação não é boa? É verdade, ela é manchada pela queda, mas não destituída de beleza! O
cristão deve admirar a arte e a produzir arte; deve perseguir o belo e, fazendo-o, encontrar
Deus — e isto, para a sua glória.

A verdadeira espiritualidade significa o senhorio de Cristo sobre o homem todo.


– eis aqui a chave de virada na jornada de Schaeffer, principalmente, depois de sua crise de fé
no início dos anos 50.
– De um sectarista de usos e costumes (dicotômico) a um engajado com o homem todo;
– sua obra “A verdadeira espiritualidade”, segundo ele mesmo, é a mais importante.

Francis Bacon: “Na queda o ser humano perdeu ao mesmo tempo o estado de inocência e o
domínio sobre a natureza. Entretanto, ambas as perdas podem, até certo ponto, ser reparadas ainda
nesta vida; a primeira, por meio da religião e da fé; a segunda, pela arte e pela ciência”.
– Schaeffer escreve angustiado, na sequência diz que gostaria que cristãos evangélicos
tivessem tido esta visão no século XX. Meio século se passou (1973 → 2023) e este ainda é
um gigante dilema para o cristianismo. Como lidar com o separatismo x secularismo?

O cristão deve usar a arte para glorificar a Deus, não simplesmente como propaganda
evangelística, mas como algo belo para a glória de Deus. Uma obra de arte pode ser, em si, uma
doxologia.
– O ponto mais alto de sua fala. O belo (aspecto criacional) deve ser admirado como um fim
em si mesmo, o que remete ao próprio Deus Criador.
– A arte não é folheto evangelístico, embora possa ser uma ferramenta; mas, não deveria ser
reduzida a isso → o que culminou no adjetivo “cristão” para todas as coisas (ex: arte cristã,
música cristã, livro cristão, futebol cristão? Shopping cristão? Carro cristão? Copo cristão?)
– A arte, sobretudo, não é soteriológica, mas doxológica!

Nenhuma imagem de escultura:

– A Bíblia diz algo sobre a arte? Os judeus a rejeitavam por causa dos dez mandamentos?

Ex 20.4-5 “Não farás para ti imagem de escultura...”


Proibido reproduzir não só a imagem de Deus, mas também qualquer outra coisa no céu e na
terra. Esse posicionamento certamente não deica espaço para a arte.
Lv 26.1: “Não fareis para vós outros ídolos...”
A Bíblia não proibe a confecção de arte figurativa e sim sua adoração.
O mandamento não é contra a arte, mas contra a adoração a qualquer coisa além de Deus.
Adorar a arte é um erro; produzi-la, não.
– Schaeffer faz uma excelente hermenêutica, sob o princípio da “Escritura interpreta a
Escritura”; ele lança luz ao texto do decálogo com o texto de Levítico. É bíblico, exegético,
prático para a proposta do livro (não se delonga em tecnicidade), e acerta na inferência.

A arte e o tabernáculo:

Deus deu os dez mandamentos e simultanetamente ordenou a Moisés que construísse o


tabernáculo utilizando quase toda forma de arte figurativa conhecida pelos homens.
– Esta asserção sustenta sua hermenêutica: “o mandamento não é contra a arte, mas contra a
adoração a qualquer coisa além de Deus”.
– A partir disto, Schaeffer oferece vários exemplos sobre o tabernaculo a fim de demonstrar
que seus elementos não eram “funcionais”, mas decorativos → simplesmente, arte!

O próprio Deus mostrou a Moisés o padrão do tabernáculo. Em outras palavras, o arquiteto


foi Deus, não o ser humano.
Ex 25.18 – O que são querubins? O que está sendo ordenado aqui? Simplesmente que uma
obra de arte seja produzida. Que tipo de arte? Arte figurativa.
Ex 25.31-33 – um candelabro. E como ele é decorado? … com representações da natureza,
flores, objetos de beleza natural;
– Schaeffer aponta que não e trata de “questão [arte intrinsicamente] religiosa” por que
contém anjos, uma vez que há também vários elementos da natureza;

Na natureza, as romãs são vermelhas; porém, estas tomãs deveriam ser azul, púrpura e
carmesim... O princípio é que há liberdade para se faer algo a partir da natureza, que seja distinto
dela e que possa ser levado à presença de Deus.
– Isso aqui é um espetáculo de inferência! Absurdo de bom!

O Templo:

Não foi planejado por homens (1Cr 28.11-12).


A experiência de Davi com Deus em relação ao templo não foi apenas uma experiência
religiosa. … Davi disse que Deus o tinha feito compreender por escrito como deveria ser a
aparência do templo. … o que deveria existir no templo?
2Cr 3.6 – O templo era coberto de pedras preciosas para ornamento. Não havia razão
pragmática — elas não possuíam valor utilitário algum.
Deus se interessa por beleza.
Os jovens com frequência apontam a feiura de muitos prédios evangélicos. Infelizmente,
muitas vezes eles têm razão.
Nos versículos 16 e 17 – eis aqui duas colunas soltas. Elas não sustentavam peso
arquitetônico algum nem tinham função alguma do ponto de vista da engenharia.
Arte sobre arte.

2 Crônicas 4.3-4

A arte figurativa de temas não-religiosos era posta no lugar central de adoração.


– Esta frase é um dos pontos mais alto de sua exposição bíblica.
– É uma conclusão com implicações extremamente profundas acerca de como o cristão deve
lidar com a cultura. Temas não-religiosos dispostos em um ambiente para adoração.
– Será que cristãos deveriam desenhar e pintar somente o “leão da tribu de judá”? Somente
corações com a cruz ou qualquer outra imagem que os atrele necessariamente — como um
logotipo — ao cristianismo?
– A arte, para ser aceita por Deus, deve ter o tema: religião? Ou, antes, deve ser bela?

Em 1 Reis 7.29 – Deus está dizendo: “Eu terei leões em minha casa, leões entalhados, bois e
querubins”. Não por função pragmática, mas por beleza.

1 Reis 6.29 – temos a arte figurativa tanto no mundo visível quanto do invisível.
– rememora a hermenêutica do decálogo: produzir arte, sim; ídolos, não.

Arte secular

A arte não precisa de temas religiosos específicos.


O que torna a arte cristã não é necessariamente o fato de ela tratar de questões religiosas.
1Rs 10.18-20 – arte secular: o trono de Salomão. Que peça de arte secular maravilhosa!
– o termo arte secular é utilizado aqui não para sectarizar de maneira dicotômica “o que é de
Deus e o que é do mundo”, mas para distinguir em sua exposição temas religiosos (ex:
anjos) de temas não-religiosos (ex: leões) no que se refere à arte.

O uso da arte por Jesus

Bíblia e a arte figurativa; a serpente debronze que Moisés ergueu no deserto.


Nm 21.6 – O impressionante é que Jesus usou esse incidente e essa obra de arte como uma
ilustração de sua crucificação vindoura
Jo 3.14-15 – O que Jesus estava usando como ilustração neste momento? Uma obra de arte.
– Uma observação importante é que é verdade que “a arte não precisa de justificativas”
(Rookmaker), mas isso não significa que ela não deva fazer sentido.
– A arte não precisa de justificativas, mas precisa ser suficientemente significativa!
– Ao contrário do caos dadaísta — que refletiu a sociedade em transição entre o homem
moderno e o pós-moderno — em sua luta contra o “sentido”, a arte não precisa de
justificativas, mas deve fazer sentido.
– E isso não significa obrigá-la de valor utilitário (pragmático), necessariamente. Ela pode
fazer sentido de simples apreciação e deleite do belo.
– No caso do exemplo bíblico citado por Schaeffer, ela faz sentido quanto ao plano redentivo
em Cristo. E isto, além de belo e arte pela arte, é uma ferramenta de ilustração figurativa da
mensagem do evangelho. Ela é válida e foi utilizada por Jesus Cristo.

Em 2 Reis 18.4 a serpente é despedaçada


Será que ele [Ezequiel] a quebrou por ser uma obra de arte? Claro que não, pois Deus havia
ordenado a Moisés que a confeccionasse. Ele a destruiu porque as pessoas a tinham transformado
em um ídolo.
Não é a existência da arte figurativa que é errada, mas o seu uso incorreto.

Poesia

A Bíblia trata de outras formas de arte. A mais clara é a poesia [ex: salmos].
E nem todas tratam especificamente de assuntos religiosos.
2Sm 1.19-27 – é uma ode secular; homenagem a Saul e Jonatas como herois nacionais;

Septuaginta – registro de um salmo que não está em nossa Bíblia [não-inspirado];


Portanto, podemos considerar o seguinte salmo da Septuaginta uma poesia escrita por Davi
simplesmente como poesia.

Davi era músico também. … Davi fazia todas estas coisas como um exercício espiritual para
a glória de Deus. Como a arte pode ser suficientemente significativa? … Oferecida diante de Deus.

Um dos poemas mais impressionantemente seculares na Bíblia é Cantares de Salomão.


Poema que expressa com grande força antifonal o amor de um homem por uma mulher e de
uma mulher por um homem, e o coloca em sua Palavra.
Que primoroso louvor a Deus é este poema!
– Aqui, Schaeffer está reconhecendo Cantares como “primoroso louvor a Deus” não pelo seu
aspecto alegórico judaico do relacionamento de Deus com a nação de Israel, e nem por sua
aplicação analógica cristã do relacionamento de Cristo com a Igreja, mas, Cantares é um
“primoroso louvor a Deus” pelo poema romântico e nupcial que ele é. Ponto!
– É um exemplo nítido na Escritura do que Schaeffer nomeia “arte secular” (não-religiosa).

Você pode, de fato, escrever belos poemas de amor. Não tenha medo; isto também pode ser
um louvor a Deus. E quando as duas pessoas são cristãs, tal poema pode ser uma doxologia
consciente.
– Eis aqui o ponto mais alto (uma aplicação prática) das últimos linhas. É libertador e gera
gozo ler tal coisa. Glória a Deus!

Música

Uma das mais fantásticas peças de arte musical – Êxodo 15. Uma antífona, uma obra de arte.
Havia música no templo também – 1 Crônicas 23.5. Davi dividiu os cantores em naipes,
formando o que chamamos de coro.
– A beleza, a técnica, a organização musical é tão importante quanto a chamada unção.
– Isto não diminui o “simples”. É verdade que há pessoas piedosas que jamais foram
instruídas em técnica musical e ainda assim, no simples, louvam a Deus poderosamente.
– Também, é verdade que há grupos de louvor que deixaram a piedade de lado, tornando a
técnica e a organização em um ídolo.
– No entanto, a maneira bíblica é: piedade e organização. Deve-se ter os dois!

… tudo conduzido a um alto padrão de arte sob o comando de Deus.


Quando começamos a entender essas coisas, logo recuperamos o fôlego e toda aquela
terrível pressão posta sobre nós ao fazer da arte algo menos espiritual desaparece. E com esta
verdade vem a beleza, e com esta beleza, a liberdade diante de Deus.

O Teatro e a Dança

Ez 4.1-3 – O que era isso? Simplesmente teatro. O “tijolo” tinha a linha do horizonte de
Jerusalém desenhada apenas como cenário, para que as pessoas não esquecessem o que Ezequiel
estava retratando.
Notemos: não significa que todo uso de qualquer uma dessas formas de arte seja
automaticamente certo; significa que não é errado em si.
– Aqui é importante uma brevíssima consideração com um exemplo prático. Schaeffer
defende o uso do teatro como arte e se embasa biblicamente para isso.
– No entanto, o que significa dizer que “todo” uso do teatro não é automaticamente certo?
– Significa dizer que ele é bom “em si” (essencialmente), mas não cabe em qualquer ocasião.
– Por exemplo, na liturgia de um culto solene, segundo o padrão bíblico de culto — como é
defendido pela teologia reformada — não há prerrogativa para o teatro. Isto é, o teatro não é
errado “em si”, afinal, ele é uma arte e deve ser utilizada e produzida. Mas isso não significa
que qualquer uso dela é correto.
– Outros exemplos: cantar uma boa música mpb não é errado em si, na verdade, é uma
benção. Mas, não é certo cantá-la no culto. Dar uma pirueta é lindo, mas não para o culto.
– Para maiores pesquisas, ver “princípio regulador de culto”.
– Obs: a frase de Schaeffer não se reduz à questão do culto. Ela é apenas um exemplo
ilustrativo utilizado por mim. Pensemos, rapidamente, em outro: a expressão artística do
pagode é lindo. Mas, cabe num funeral?

Dança – Sl 149.3; 150.4-5 Êx 15.20; 2Sm 6.14-16.

A Arte e o Céu

Apocalipse 15.2-3 – A arte não cessa nos portões do paraíso. As formas de arte são levadas
para dentro do céu.
– Que frase, que inferência, que percepção. Glória a Deus!

Será que compreendemos a liberdade que temos submissos ao senhorio de Cristo e aos
preceitos das Escrituras? Será que a parte criativa da nossa vida está submetida a Cristo?

A vida cristã deve produzir não apenas verdade... mas também beleza.
– Conclusão da primeira parte no cume do Everest, do ápice de onde Schaeffer intenta levar o
leitor. A vida cristã produz:
– “verdade” → aspecto redentivo, revelação especial, graça salvífica, mandato espiritual, vida
que aponta para Jesus Cristo e sua obra;
– “mas também beleza” → aspecto criacional, revelação geral, graça comum, mandato social
e cultural, vida que aponta para o Deus Criador e sua glória.

2- ALGUMAS PERSPECTIVAS SOBRE A ARTE

Todos nós nos relacionamos diariamente com obras de arte, mesmo que não sejamos artistas
profissionais nem amadores.
Como criadores e apreciadores da beleza, como devemos compreendê-la e avaliá-la?
Onze perspectivas
→ a partir das quais o cristão pode considerar e avaliar os vários aspectos da arte.

A obra de arte como obra de arte

1- Uma obra de arte tem valor em si mesma.

A arte não é algo que simplesmente analisamos ou avaliamos por seu conteúdo intelectual. É
algo a ser apreciado.
Como um artista deve começar a fazer sua obra como artista? Eu diria que ele deve iniciar
seu trabalho decidindo fazer uma obra de arte.

Como cristãos, sabemos porque uma obra de arte tem valor. Primeiro porque uma obra de
arte é uma obra de criatividade, e a criativiade tem valor porque Deus é o criador.
A primeira razão para valorizarmos a criatividade é que Deus é o Criador.
Em segundo lugar, uma obra de arte tem valor porque o homem é feito à imagem de Deus,
portanto, ele tem também a capacidade de criar.
Jamais encontraremos um animal, um ser não-humano, que faça uma obra de arte... A
criatividade faz parte da distinção entre o ser-humano e o ser-não-humano.
A criatividade é intrínseca à nossa hominalidade.

Contudo... Nem toda criação é uma nobre expressão de arte. Nem tudo o que é feito pelo ser
humano é intelectual ou moralmente bom. Assim, ainda que a criatividade em si seja algo bom, não
significa que tudo que provém da criatividade humana é bom.

Com frequência pensamos [evangélicos] que uma obra de arte tem valor somente se a
reduzirmos a propaganda. Isto também é ver a arte somente como uma mensagem para o intelecto.
– … e não algo a ser apreciado!

Três possibilidades concernentes à natureza de uma obra de arte:

A primeira [errada] – noção de que a arte simplesmente existe e é só isso que interessa. Não
se pode falar a respeito dela, não se pode analisá-la e ela não diz nada
– eis o dadaísmo e sua herança; é sem significado, sem sentido e irracional;
– Schaeffer traz boas ilustrações → alta renascença: os artistas produziam sob os escopos do
cristianismo e do humanismo; na modernidade: Picasso tinha uma filosofia que ele
demonstrava em suas pinturas. Há cosmovisão intrincada. Ponto!
– Arte pela arte é falha. Novamente, ela não precisa de justificativas, mas precisa ser
suficientemente significativa!

A segunda [errada] – a arte é somente a materialização de uma mensagem, um veículo para a


propagação de uma mensagem particular sobre o mundo, o artista, os ser humano ou qualquer outra
coisa.
– eis o outro extremo: reduzir a arte a um “meio” (veículo) para o fim que é uma mensagem;
– muito comum no nicho cristão que vê a arte somente como veículo de pregação do
evangelho; esta visão reduz a arte à uma declaração intelectual → exclui a apreciação da
arte como arte!

A terceira [correta] – o artista produz uma obra de arte e esta demonstra sua cosmovisão.
… suas cosmovisões transparecem no conjunto de suas obras.
Quando vemos uma coleção de pinturas... poemas... romances..., tanto a fundamentação
quanto certos detalhes da concepção do artista sobre a vida se manifestam.

As formas de arte foralecem a cosmovisão

2- As formas de arte fortalecem a cosmovisão, não importa qual seja a cosmovisão nem se
ela é verdadeira ou falsa.

– Schaeffer é objetivo quanto a esta perspectiva; ela é de suma importância. A Escritura, por
exemplo, apresenta uma variedade de gêneros literários, recursos linguísticos,
particularidades autorais e formas de arte. Tudo isto enriquece (fortalece), torna robusto, o
seu objetivo, a sua mensagem — a sua cosmovisão.
– Ex: A filosofia pós-moderna pode argumentar em âmbito acadêmico a morte das
metanarrativas, da verdade, o pluralismo e a privatização das crenças ao foro íntimo. Mas,
são as manifestações artísticas as que mais expressam (e fortalecem!) tais perspectivas.

Definições padrões, sintaxe padrão

3- Em todas as formas de escrita, seja poesia ou prosa, o fato de haver uma continuidade ou
uma descontinuidade em relação às definições padrões das palavras na sintaxe padrão faz bastante
diferença.

– A frase ficou complicada, é verdade. Mas, basicamente, Schaeffer está defendendo o sentido
na arte. Arte com significado!

O vocabulário simbólico comum a todas as pessoas (os artistas e seus apreciadores) é o


mundo a nossa volta, o mundo de Deus. Esse vocabulário simbólico nas artes figurativas
corresponde ao que a gramática padrão e a sintaxe padrão são para as artes literárias.
– O sentido – isto é, observar uma arte e apreciar a sua beleza, que tem significado; da mesma
forma, apreciar um poema adornado, e que segue padrões linguísticos, que fazem sentido →
que são compreensíveis, passíveis de apreciação;

Quando o artista não se dispõe a usar esse vocabulário simbólico, a comunicação se torna
impossível. Não há como alguém saber o que ele está dizendo. Meu argumento não é que fazer esse
tipo de arte é imoral ou anticristão, mas que, com isso, perdemos uma dimensão da arte.
A arte totalmente abstrata possui uma limitação exclusiva.
– Para ilustração, ver:
– John Cage – 4'33 (1952);
– Piero Manzoni – Merda do artista (1961)
– Marcel Duchamp – Roda de Bicileta (1913) e Fonte (1917);
– Samuel Beckett – “Como é?” (1961)
– [exemplos extraídos de uma palestra de Jonas Madureira na IBNU];
– expressões dadaístas que defendem o absurdo, a ausência de sentido, a incoerência;

A arte o sagrado

4- O fato de algo ser uma obra de arte não o torna sagrado.

O simples fato de um artista — mesmo um grande artista — retratar uma cosmovisão por
escrito ou numa tela, não significa que devemos automaticamente aceitar sua cosmovisão.
– A arte pode ser bela, e ainda assim, não ser verdadeira.

Quatro padrões de julgamento

5- Que tipo de julgamento se aplica, então, a uma obra de arte?


1. excelência técnica;
2. validade;
3. conteúdo intelectual, a cosmovisão que está sendo comunicada;
4. integração entre o conteúdo e o veículo.

Excelencia técnica:
Ao reconhecer a excelência técnica como um aspecto de uma obra de arte, podemos dizer
que, ainda que não concordemos com a cosmovisão de um determinado artista, não obstante, ele é
um grande artista. Não estaremos sendo verdadeiros se desprezarmos sua arte simplesmente porque
discordamos de seu ponto de vista.
– Para isso, é necessário fazer distinção entre: excelência técnica e conteúdo;
– Ex: eu posso discordar da cosmovisão expressa na letra de uma música cantada por uma
banda (ex: apologia ao adultério), e ainda assim apreciar a qualidade musical e artística
absurdamente boa da mesma.

Validade:
Questionamos se o artista é honesto consigo mesmo e com sua cosmovisão ou se faz sua arte
apenas por dinheiro ou para ser aceito. [no segundo caso,] então seu trabalho não tem validade.

Conteúdo:
Reflete a cosmovisão do artista. No caso dos cristaos, a cosmovisão comunicada por meio
da arte precisa ser vista sob a ótica das Escrituras.
Um artista pode até usar um avental de pintor e ser praticamente venerado; entretanto, uma
vez que seu trabalho mostra sua cosmovisão, ele deve ser julgado à luz da cosmovisão cristã.
Alguns artistas podem não saber que estão conscientemente comunicando uma cosmovisão.
Porém, as cosmovisões se manifestam... e deve ser submetida ao julgamento da Palavra.

[dois alertas:]
(a) Muitos parecem achar que, quanto maior a qualidade da arte, tanto menor deve ser nossa
crítica à sua cosmovisão. Precisamos reverter isso.
– Imagine um artista a quem você é muito fã. Você ama o seu estilo, suas músicas e até o que
ele defende em suas letras. Há uma grande chance de você diminuir ou até deletar qualquer
crítica à sua cosmovisão, devido a grande qualidade do seu trabalho e também devido a
apreciação que você tem por ele. Isso é um erro. Você precisa submeter esse artista e o seu
trabalho ao julgamento da Escritura. No fim, é plausível admirar sua excelência técnica e até
a sua validade (o que ele defende genuinamente e expressa na sua arte), mas se o conteúdo,
os pressupostos e a sua cosmovisão não está de acordo com a Bíblia, você deve
absolutamente rejeitar as suas ideias! Isso é ter critério.

(b) é possível que um escritor ou pintor não-cristão escreva ou pinte de acordo com uma
cosmovisão cristã ainda que ele mesmo não seja cristão.
– Como Schaeffer aponta, este é o caso de pessoas não-cristãs mas que escrevem ou pintam
com base no consenso cristão pelo qual foram influenciados.
– Ex: John Mayer é um não-cristão, mas analise a letra de sua música “Stop this train” (2006);
ela é embebida de cosmovisão cristã, especialmente sob a ótica dos livros poéticos da
Escritura que lidam com a vida passageira e os anseios humanos na terra; embora não seja
possível parar o trem da vida, é possível amar enquanto estamos dentro dele. O que John não
sabia é que para além do trem há uma estação eterna chamada novos céus e nova terra.

– Outro ponto interessante que Schaeffer faz aqui é dizer que também existe:
– cristãos que atuam artisticamente dentro da cosmovisão cristã (válido);
– não-cristãos que atuam artisticamente numa cosmovisão não-cristã (válido);
– cristãos que atuam artisticamente incorporando cosmovisões não-cristãs (incosistente).

Integração entre o conteúdo e o veículo


Quão bem o artista adequou o veículo à mensagem; correlação entre o estilo e o conteúdo.
– Os exemplos de Schaeffer são ótimos, e o mesmo: o tema é a fragmentação da modernidade;
e as duas expressões artísticas são um poema (Eliot) e uma pintura (Picasso);
– São exemplos de artistas que conseguiram dar sentido à obra com o “vocabulário simbólico”
utilizado. No caso de Eliot, coleção de fragmentos de linguagem; no caso de Picasso, a
proposta e estilo de pintura em três movimentos.

A arte pode ser usada para todo tipo de mensagem

6- As formas de arte podem ser utilizadas para todo tipo de mensagem, da pura fantasia à
história detalhada.

O fato de uma obra de arte se apresentar em forma de fantasia ou épico ou pintura não
significa que ela não possua conteúdo proposicional.
A letra de uma canção pode ter um conteúdo teológico relevante.
Porque algo tem a forma de uma obra de arte não quer dizer que não possa ser factual.

Estilos em transformação

7- Os estilos artísticos mudam e não há nada de errado nisso.

Muitos cristãos, especialmente aqueles não acostumados a observar as artes e refletir sobre
elas, rejeiram a pintura e a poesia contemporâneas não por causa de sua cosmovisão, mas
simplesmente porque se sentem ameaçados por uma nova forma de arte.
Os estilos de arte do passado, portanto, não são necessariamente adequados para os dias de
hoje ou de amanha. Impor o estilo de arte de ontem, quer seja no vocabulário, quer seja na arte, é
um fracasso burguês. Não podemos supor que se um pintor cristão se tornar “mais cristão” ele terá
necessariamente de se parecer mais com Rembrandt.

E a arte cristã? Três coisas precisam ser enfatizadas aqui.

Primeiro – A arte cristã dos dias atuais deve ser uma arte do século atual. A arte muda; a
linguagem muda. A pregação de hoje deve ser feita em uma linguagem de comunicação atual.
– Muito válido o ponto de Schaeffer. Apenas um risco, ao meu ver, é dizer expressamente:
“deve”. Ora, existe muita coisa boa de tempos passados que são absolutamente aplicáveis
como são no século atual. Há um valor tremendo na tradição e ela deve ser apreciada,
mantida, divulgada e cuidada por nós, herdeiros de tempos mais antigos!

Segundo – a arte cristã deve variar de país para país. Por que forçamos os africanos a usarem
a arquitetura gótica? É um esforço desnecessário. Tudo o que conseguimos fazer foi tornar o
cristianismo estrangeiro para os africanos.
– Outro ex: É verdade que exitem canções lindas de adoração a Deus produzidas por
movimentos internacionais. Mas, por causa disso, deveríamos enterrar a brasilidade em prol
de uma importação, em muito, mais comercial do que reflexiva?
– Precisamos de artistas cristãos brasileiros também produzindo arte brasileira!
– Sobre isso, ainda, medito no fato de Jesus ser identificado como nazareno e carregar tal
identificação por toda a sua vida na terra e ainda depois. Valorizemos nossa identidade!

Terceiro – o conjunto de obras de um artista cristão deve refletir a cosmovisão cristã.


Resumindo, se você é um jovem artista cristão, deve trabalhar as formas artísticas do presente
século, mostrando as marcas de sua cultura de origem, refletindo seu próprio país e sua própria
contemporaneidade e incorporando algo da natureza do mundo visto de um ponto de vista cristão.
– Everest detectado! O ponto alto de sua reflexão até então é esta conclusão.
Formas de arte moderna e a mensagem cristã

8- Não existe um bom estilo e um mau estilo.


“A música cristã é aquela que você pode acompanhar com leves batidas do pé”. Isso é um
absurdo. Contudo, mesmo não existindo um estilo santo ou profano, não podemos nos enganar ou
ser ingênuos ao pensar que os diversos estilos não têm relação com o conteúdo ou a mensagem da
obra de arte.
– Aqui Schaeffer media o argumento ilustrando questões de linguística → inclusive, são um
prato cheio para missionários e interessados em Antropologia Missionária. Ex: o alemão de
Lutero ser o alemão literário e isso facilitar o ensino do cristianismo, uma vez que o sentido
das palavras são o sentido cristão. Por outro lado, como Schaeffer traz, usar a palavra
“culpa” no Japão em termos bíblicos demanda trabalho, já que carrega o conceito japonês de
impureza cerimonial — e não de marca de pecado.

Portanto, mesmo utilizando estilos do século atual, não devemos usá-los de forma a sermos
dominados pelas cosmovisões das quais eles surgiram.
– Aqui Schaeffer ilustra muito bem também com o exemplo da importância do feedback em
relação ao estilo escolhido: grupo de rock cristão tocando em cafeterias para pregar a
mensagem cristã. Schaeffer: Será que elas ouviram porque você usou a linguagem moderna
delas, ou simplesmente ouviram mais uma vez o que já vinham ouvindo sempre que
escutavam rock porque você usou o estilo delas?
– Schaeffer também dá o exemplo de Joan Baez, que canta uma canção chamando Jesus de
Salvador. Certo, mas ela e muitos dos que a ouvem não o faz como um cristão o faz.
– Ex brasileiro: pense na música “Andar com fé” (1982) de Gilberto Gil → “Andar com fé eu
vou, que a fé não costuma 'faiá'”. Será que o tema da fé trabalhado na música é o mesmo
elucidado pela Escritura? Certamente não. O entendimento popular de “fé” é de pensamento
positivo, de lidar com uma energia impessoal à seu favor. Definitivamente, não é a fé bíblica
que opera na regeneração do ser humano salvo por Jesus Cristo!

Em conclusão, portanto, geralmente usamos formas de arte do século atual, mas devemos ter
cuidado para que elas não distorçam a cosmovisão que é, de forma distinta, nossa como cristãos.

A cosmovisão cristã

9- A cosmovisão cristã pode ser dividida no que chamo de um tema maior e um tema menor.

Tema menor – é a imperfeição do mundo rebelde;


(1) Os homens que se revoltaram contra Deus e não voltaram a Cristo estão eternamente
perdidos;
(2) Há um lado fracassado e pecaminoso na vida cristã... Em cada um de nós, há sempre
coisas pecaminosas e enganosas... jamais chegaremos à perfeição.

Tema maior – diz respeito à plenitude de sentido e propósito da vida;


(1) Na área da metafísica (existência), Deus intervém, Deus existe. … Além disso, o ser
humano é feito à imagem e semelhança de Deus e, por isso, tem significância. …
Portanto, o tema maior é um orimismo no que diz respeito à existência.
(2) Na área moral: Deus existe e possui um caráte, que rege o universo. Existe, portanto,
um absoluto em relação à moral. … O dilema do ser humano não é apenas que ele é
finito e Deus é infinito, mas também que ele é um pecador culpado diante de um
Deus santo. … O ser humano caiu e falhou, mas é redimível por causa da obra de
Cristo. Isso é lindo. Isso é otimismo.

Isso é importante em relação ao tipo de arte que os cristãos devem produzir:


– a arte cristã precisa reconhecer o tema menor, o aspecto da derrota; se a arte cristã enfatizar
apenas o tema maior, ela não será plenamente cristã, mas meramente romântica.
– O artista cristão deve ter sempre em mente a lei do amor em um mundo imerso na
destruição. … o artista deve abrir espaço suficiente para o tema maior.

O cerne da arte cristã

10- A arte cristã não é, de forma alguma, sempre religiosa, isto é, uma arte que lida com
temas religiosos.

A criação de Deus está totalmente imersa em temas religiosos?


Quando Deus criou, a partir do nada, criou por meio de sua palavra falada, ele não criou
apenas objetos “religiosos”. [lembremos: há arte não-religiosa do próprio Deus e na Bíblia].
Se Deus fez as flores, é louvável pintá-las e escrever sobre elas.
Vale a pena criar obras com base nas grandes obras já criadas por Deus.
Essa noção baseia-se na percepção de que o cristianismo não está comprometido apenas com
a “salvação” do homem, mas com o homem todo no mundo todo. [Everest aqui!]
A mensagem cristã começa com a existência eterna de deus, e então, com a criação. Ela não
parte da salvação. Devemos ser gratos pela salvação, porém a mensagem cristã é mais abrangente.

Se, portanto, o cristianismo tem tanto a dizer sobre as artes e ao artista, por que temos
produzido tão pouca arte cristã nos últimos tempos?

O cristão é quem verdadeiramente é livre — ele é livre para usar a imaginação. Isso também
é herança nossa. O cristão é alguém cuja imaginação deve voar além das estrelas.
– Lágrimas, aqui. Que haja restauração, o uso e o devido valor da imaginação!
– Este tema é caro para a filosofia clássica (Aristóteles), escolástica (Tomás de Aquino) e
moderna (C.S. Lewis).

Além disso, o artista cristão não precisa se concentrar nos temas religiosos. Afinal, os temas
religiosos podem ser completamente não-cristãos.
Um artista não precisa se culpar por não usá-los.
Esta é uma liberdade que o artista tem em Cristo, sob a direção do Espírito Santo.

Uma obra de arte individual e o conjunto de obras de uma artista

11- Todo arista entrenta a dificuldade de fazer uma obra de arte individual bem como de
desenvolver seu conjunto de obras.

Nenhum artista pode dizer tudo o que quer.


Portanto, não podemos julgar a obra de um artista com base em apenas uma peça.
Ex: Nenhum sermão individualmente contém tudo o que precisa ser dito. E ninguém pode
julgar toda a teologia de um ministro ou a profundidade de sua fé com base em apenas um sermão.

Não tenha medo de escrever um podema de amor apenas por não conseguir colocar nele
toda a mensagem cristã.
A vida cristã como obra de arte

Nenhuma obra de arte é mais importante que a própria vida do cristão e todo cristão deve se
preocupar em ser um artista nesse sentido.
… toda pessoa tem o dom da criatividade no que diz respeito à forma como vive a sua vida.

Nesse sentido, a vida do cristão deve ser algo verdadeiro e belo em meio a um mundo
perdido e desesperado. [última escalada deste Everest. Glória a Deus!]

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