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“Educar Para humanizar”

TRABALHO DE FILOSOFIA

O DOCENTE
TURNO: TARDE | SALA Nº 12
CURSO: CIENECIAS ECONOMICAS E JURIDICAS

O DOCENTE
________________________________
Adolfo Jorge Catamba
TEMA: A
Nome:

DIMENSÃ
1. Mariana Mendonça Alcino

O DO
HOMEM

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Índice
1. Introdução pg .4
2. O conceito de pessoa e ser humano sob a ótica da antropologia filosófica pg. 5
3. A importância do conceito de pessoa para o direito pg. 7
4. Conclusão pg. 10
5. Referencias. Bibliográficas pg. 11
6.

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1. Introdução
Cuida-se de trabalho em que se pretende investigar as teses controvertidas sobre os
conceitos de homem, pessoa e ser humano, essencialmente sob os enfoques
antropológico-filosófico e jurídico, cuja compreensão é indispensável tanto para
resoluções dos dilemas no campo da Bioética, quanto para a disciplina referente à
proteção jurídica ao indivíduo.

O termo homem recebeu ao longo da história diversos e controversos conceitos. A


tarefa de responder a pergunta o que é o homem geralmente é destinada à antropologia
filosófica

O que temos claro, todavia, é que nem sempre as concepções de ordem antropológico
filosóficas estão em consonância os próprios princípios bioéticos, bem como com as
normas vigentes na ordem jurídica.

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2. O conceito de pessoa e ser humano sob a ótica da antropologia filosófica

A primeira pergunta que deve ser feita é: O que é a pessoa?

Um dos problemas fundamentais da metafísica consiste em saber o que é ser uma


pessoa. A resposta a esta pergunta geralmente está associada à identificação de certas
características ou propriedades atribuídas tipicamente à pessoa, em contraste com outras
formas de vida: racionalidade, domínio de linguagem, consciência de si, controle e
capacidade para agir, e valor moral ou direito a ser respeitado (BLACKBURN, 1997)[4].

Consoante aduz Rachels (2006, p. 132), Kant acreditava que os seres humanos
ocupam um lugar especial na criação. Para ele, os seres humanos possuem um valor
intrínseco, isto é, dignidade, o que os torna valiosos acima de tudo. Outros animais, por
outro lado, possuem valor apenas enquanto servem os propósitos humanos. Os humanos,
todavia, nunca podem ser usados como meio para se alcançar um fim, ainda que vise o
bem-estar da maioria. Trata-se, portanto, de formulação importante do imperativo
categórico kantiano, princípio moral fundamental do qual todas as nossas obrigações e
responsabilidades devem derivar.

Kant destaca o caráter racional do ser humano que o diferencia de todas as outras
coisas (incluindo os animais não-humanos), por disporem de desejos e objetivos
autoconscientes. Em outras palavras, os seres humanos são agentes racionais, ou seja,
agentes livres capazes de tomar suas próprias decisões, estabelecer seus próprios
objetivos e guiar suas condutas por meio da razão (RACHELS, 2006).

Como destaca Ferreira (2005), Locke expressa que o “homem nasce com direito à
liberdade de sua pessoa”. A pessoa, porém, não nasce com o homem. A qualidade de
pessoa deve ser adquirida; é um status a ser alcançado. O homem desenvolve-se para
pessoa; do ser humano passa ao ser inteligente, racional e responsável, que se reconhece
como um si mesmo em diferentes tempos e lugares. Do homem chega-se à pessoa
responsável por seus atos e que, como tal, se reconhece no presente e no passado e da
mesma forma é reconhecida por outras pessoas (FERREIRA, 2005).

Cassirer por sua vez, fala de um homem como animal simbólico (symbolicum) e


não um como um animal racional (rationale). Ressalta ele que “as coisas físicas podem
ser descritas nos termos de suas propriedades objetivas, mas o homem só pode ser
descrito e definido nos termos de sua consciência”. E arremata dizendo que “só por meio
do pensamento dialógico ou dialético podemos abordar o conhecimento da natureza
humana” (2001, p. 16).

Já Peter Singer, de forma singular, pretende dar à expressão ser humano um


significado preciso, designando-o como equivalente a membro da espécie Homo sapiens. 
Consoante escreve o autor:

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“A questão de saber se um ser pertence a determinada espécie pode ser
cientificamente determinada por meio de um estudo da natureza dos cromossomas das
células dos organismos vivos. Neste sentido, não há dúvida que, desde os primeiros
momentos da sua existência, um embrião concebido a partir de esperma e óvulo humanos
é um ser humano; e o mesmo é verdade do ser humano com a mais profunda e irreparável
deficiência mental — até mesmo de um bebé anencefálico (literalmente sem cérebro)”
(SINGER, 2000).

Singer prossegue sua justificação propondo outra definição do termo humano,


atribuída a Joseph Fletcher. Conforme Singer (2000), Fletcher compilou uma lista daquilo
a que chamou indicadores de humanidade, em que incluiu o seguinte:

a)Autoconsciência

b)Autodomínio

c)Sentido do futuro

d)Sentido do passado

e)Capacidade de se relacionar com outros

f)Preocupação pelos outro

g)Comunicação

h)Curiosidade

Dos indicadores apontados, destaca Singer que os elementos mais importantes


seriam a racionalidade e a autoconsciência, conforme se extrai do conceito de Locke
(Singer, 2000). E é nesta acepção que afirma deva ser compreendido o conceito de
pessoa.

Ainda de acordo com Singer (2000):                  

“É este o sentido do termo que temos em mente quando elogiamos alguém


dizendo que ‘é muito humano’ ou que tem ‘qualidades verdadeiramente humanas’.
Quando dizemos tal coisa não estamos, é claro, a referir-nos ao facto de a pessoa
pertencer à espécie Homo sapiens que, como facto biológico, raramente é posto em
dúvida; estamos a querer dizer que os seres humanos possuem tipicamente certas
qualidades e que a pessoa em causa as possui em elevado grau.

Estes dois sentidos de ‘ser humano’ sobrepõem-se mas não coincidem. O


embrião, o feto subsequente, a criança gravemente deficiente mental e até mesmo o
recém-nascido, todos são indiscutivelmente membros da espécie Homo sapiens, mas
nenhum deles é autoconsciente nem tem um sentido do futuro ou a capacidade de se
relacionar com os outros. Logo, a escolha entre os dois sentidos pode ter implicações

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importantes para a forma como respondemos a perguntas como ‘Será que o feto é um ser
humano?’”

Diante da possível confusão terminológica, Singer entende que o melhor é


abandonar o termo ambíguo ser humano e substituí-lo por dois termos diferentes,
correspondentes aos sentidos diferentes da palavra. O primeiro sentido, já ressaltado
acima, enquadra o ser humano a uma expressão, a seu juízo, mais precisa, como membro
da espécie Homo sapiens, enquanto para o segundo sentido usa o termo pessoa, embora
reconheça ele que o termo é muitas vezes usado como sinônimo de ser humano e,
portanto, provocam equívocos interpretativos. No entanto, assevera Singer que “os
termos não são equivalentes; poderia haver uma pessoa que não fosse membro da nossa
espécie. Também poderia haver membros da nossa espécie que não fossem
pessoas  (…)” (SINGER, 2000).

A maior dificuldade de admitir o argumento de Singer de que alguns animais não-


humanos como chimpanzés, golfinhos e, quem sabe, até porcos, são pessoas, está
compreensão de dignidade e respeito que permeia o conceito de humano.  Por esta razão,
muitos filósofos criticaram o conceito proposto por Singer, conforme veremos adiante.

Dworkin (2003, p. 30 apud Ferreira 2005), embora sem expressa referência a


Singer, admite a possibilidade de que, em sentido filosófico, alguns animais não-
humanos, como, por exemplo, os porcos, sejam considerados pessoas. Todavia, ressalta
que a exemplo das discussões sobre o feto ser ou não pessoa, “seria inteligente deixar de
lado a questão, não por se tratar de uma questão irrespondível, mas por ser demasiado
ambígua para ser útil”.

Desse modo, embora se possa filosoficamente acreditar que os porcos são pessoas,
o fato é que os seres humanos não têm nenhuma razão para tratá-los do mesmo modo
como tratam uns aos outros. No domínio da antropologia filosófica, a categoria de pessoa
não pode ser pensada para além do humano e de que a própria compreensão de pessoa
(DWORKIN, 2003 apud FERREIRA, 2005)

3. A importância do conceito de pessoa para o direito

As teorias do direito se assentam em teorias filosóficas, inclusive sobre a natureza


humana e, por isso, devem adotar uma ou outra posição em disputa sobre problemas da
filosofia que não são especificamente problemas jurídicos (DWORKIN, 2002).

O conceito atual de homem para direito está ligada a concepção filosófica de valorização
da humanidade enquanto capacidade de autonomia, ambas constitutivas do humanismo
moderno. De acordo com Renaut (2004, p. 10):

“(…) o que define intrinsecamente a modernidade é, sem dúvida, a maneira como o ser
humano nela é concebido e afirmado como fonte de suas representações e de seus atos,
seu fundamento (subjectum, sujeito) ou, ainda, seu autor: o homem do humanismo é
aquele que não concebe mais receber normas e leis nem da natureza das coisas, nem de

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Deus, mas que pretende fundá-las, ele próprio, a partir de sua razão e de sua vontade.
Assim, o direito natural moderno será um direito ‘subjetivo’, criado e definido pela
razão humana (voluntarismo jurídico), e não mais um direito ‘objetivo’, inscrito em
qualquer ordem imanente ou transcendente do mundo.”

O direito deve ser enxergado, portanto, como instrumento feito pelo homem para o
homem. E, como tal, deve assegurar a este o status jurídico compatível a sua existência
humana. Tal estatuto advém de sua consideração como pessoa: ser digno de proteção e
respeito.

Depreende-se da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), em seu Artigo


VI, que “Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como
pessoa perante a lei.” O homem da Declaração dos direitos humanos é uma pessoa e,
como tal deve ser tratamento pela lei.

Consoante adverte Tasca (2009), a princípio pode parecer estranho o teor desse artigo
sexto da DUDH, pois no presente a idéia de ser humano está indissociavelmente ligada à
idéia de pessoa. Todavia, a história do homem comprova que nem sempre foi assim. A
escravidão é um exemplo claro de que o ser humano nem sempre foi pessoa. Referido
instituto legitimou durante séculos a coisificação do homem enquanto ser passível ser
comercializado, explorado e destruído por outros homens. Daí a necessidade de
afirmação permanente dos direitos do homem, além de sua efetiva proteção ou
efetivação.

De acordo com Supiot (2007, p. 236), “os direitos do Homem são os herdeiros dessa
concepção, que vê em cada pessoa um espírito único, o qual vai desenvolver-se ao longo
de toda a sua vida e lhe sobreviverá através de suas obras”.  E, ao tratar sobre os
fundamentos jurídicos da pessoa, ele chama a atenção o fato de que em toda sociedade
adota certa concepção do homem que dá sentido à vida humana, bem como que, “sob o
ponto de vista jurídico, nós o consideramos como sujeito, dotado de razão e titular de
direitos inalienáveis e sagrados”. (idem, 2007, p. 12)

A idéia de que o homem é um sujeito dotado de razão não passa por uma demonstração
científica, mas é fruto de uma afirmação dogmática, própria da história do Direito e não
da história das ciências (SUPIOT, 2007).

Os três atributos da humanidade que são: a individualidade, a subjetividade e a


personalidade são ambivalentes. É que o homem, enquanto indivíduo, é um ser único,
indivisível, mas também semelhante a todos. Quando tido como sujeito, ele é soberano,
mas também se sujeita à lei comum. Já como pessoa, o homem é espírito e também é
matéria (SUPIOT, 2007).

Por esta razão, o direito deve buscar conciliar toda a ambivalência do homem e
todas as suas dimensões, uma vez que é sua função antropológica instituir o ser humano,
o que significa.

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Nesse sentido, Xavier (2009) ressalta, em termos jurídicos, como sinônimas as
palavras pessoa e sujeito de direito:

“Na concepção jurídica, pessoa é um ente físico ou coletivo susceptível de direitos


e obrigações, sendo sinônimo de sujeito de direito. Sujeito de direito é aquele que é
sujeito de um dever jurídico, de uma pretensão ou titularidade jurídica, é o indivíduo que
pode exercer as prerrogativas que o ordenamento jurídico lhe atribui, que tem o poder de
fazer valer, através dos meios legais disponíveis, o não-cumprimento do dever jurídico.”

A atribuição de uma personalidade jurídica a todo ser humano resultada em duas


consequências elementares. A primeira é a de que todas as pessoas tem direitos inerentes
à sua condição humana, os chamados direitos de personalidade, classificados em três
grandes categorias:

a) direito à integridade física;

b) direito à integridade moral;

c) direito à integridade intelectual.

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4. Conclusão.

Concordamos com a visão kantiana de que os seres humanos ocupam um lugar especial
na criação, bem como que estes possuem “um valor intrínseco”, isto é, “dignidade”, o que
os torna valiosos “acima de tudo”. E que tratar o ser humano não dotado de
autoconsciência como um animal, subtrai-lhe seu valor, bem como promove um
nivelamento por baixo em relação às outras espécies vivas, na medida em que lhe retira
sua singularidade e importância.

Nada justifica tratar os seres humanos como aos animais, mesmo que se tenha a
boa intenção de valorizar estes últimos. 

Assim, somos contrários, portanto, às posições que distingue as dimensões do ser


humano, como faz Peter Singer, entre vida biológica e ser pensante, dotado de
autoconsciência, conferindo-lhes tratamento diferente. O ser humano, a pessoa, é algo
integral, composto de corpo e alma e assim deve ser visto, independentemente de suas
qualidades, seu estado físico ou psíquico.

Embora o conceito filosófico de pessoa seja sempre mais amplo que o do Direito,
este não pode perder vista o valor do homem enquanto distinto e superior a qualquer
outra espécie animal. E que, por isso, deve ampliar cada vez mais seu espectro de
proteção sobre os direitos da pessoa, salvaguardando não só ser biológico dotado de
autoconsciência, mas também a pessoa em potencial (nascituro, embriões); a pessoa em
sua integridade física e psíquica; e a pessoa enquanto corpo humano indisponível.

É esse o tratamento adequado que o direito deve dar a ser humano. Tratá-lo o mais
breve e integralmente como pessoa, conferindo-lhe a proteção necessária que a dignidade
decorrente de sua condição com ser único, irrepetível exige.

Em síntese, o homem deve ser tributário de dignidade jurídica em toda sua


ambivalência.

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Referências bibliográficas:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Homem (verbete). São Paulo: Martins


Fontes, 2003.

BALLONE, GJ – O Indivíduo, o Ser Humano e a Pessoa – in. PsiqWeb Psiquiatria Geral,
Internet, 2001 – disponível em http://gballone.sites.uol.com.br/voce/pessoa.html.
Acessado em 03/05/2010.

BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Tradução: Danilo Desidério


Murcho et. al. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

CAMPOS, Diogo Leite de; BARROS, Stella. O início da pessoa e da pessoa jurídica.
Extraído de http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/LCamposSBarbas.pdf. Acessado em
24/04/2010.

CASSIRER, Ernest. Ensaio sobre o homem. Introdução a uma filosofia da cultura


humana. Trad. Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução Nelson Boeira. São Paulo:


Martins Fontes, 2002

FERREIRA, Sandro de Souza. O Conceito de Pessoa e sua extensão a animais não


humanos. Revista Controvérsia. V.1 n° 2, jul-dez 2005. Disponível em
http://www.controversia.unisinos.br/index.php?a=49&e=2&s=9. Acessado em
22/04/2010.

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