Você está na página 1de 12

1

Belito Manuel

Educação Colonial

Instituto Privado de Formação de Professores


Maria Helena

Lichinga, Setembro de 2023


2

Belito Manuel

Educação Colonial

Trabalho de carácter avaliativo a


ser apresentado na disciplina de
Pedagogia

Leccionado pelo: dr.

(_______________________)

Lichinga, Setembro de 2023


3

Índice

Introdução...................................................................................................................................4
Objectivos Específicos:...............................................................................................................4
Metodologia:...............................................................................................................................4
1. Educação Colonial..................................................................................................................5
1.1. Conceito...............................................................................................................................5
1.2. Objectivos da educação colonial..........................................................................................7
1.3. Características da educação colonial...................................................................................8
1.4. Consequências da educação colonial.................................................................................10
Conclusão..................................................................................................................................11
Referências Bibliográficas........................................................................................................12
4

Introdução

A educação desempenhou um papel fundamental na história de Moçambique,


especialmente durante o período colonial. Este trabalho tem como objectivo geral analisar o
impacto da educação colonial em Moçambique, explorando seu desenvolvimento, acesso e
conteúdo, bem como sua influência na sociedade moçambicana. Por meio dessa análise,
buscamos compreender como a educação colonial contribuiu para a moldagem da história e
da identidade de Moçambique.

Objectivos Específicos:

1. Investigar o sistema educacional colonial em Moçambique: Este objectivo visa


examinar a estrutura e os objectivos do sistema educacional implementado pelas potências
coloniais em Moçambique. Será analisado o papel desempenhado por esse sistema na
transmissão de valores culturais e na formação das elites locais.

2. Avaliar o impacto da educação colonial na sociedade moçambicana: Este


objectivo específico busca entender como a educação colonial influenciou as dinâmicas
sociais, políticas e económicas em Moçambique. Isso incluirá uma análise das desigualdades
educacionais, bem como o impacto geral da educação colonial na vida quotidiana dos
moçambicanos.

Metodologia:

Para atingir esses objectivos, este estudo utilizará uma abordagem histórica e analítica.
A pesquisa será baseada na revisão de literatura, análise de documentos históricos e estudos
académicos relacionados à educação colonial em Moçambique. Além disso, serão
consideradas fontes primárias, como documentos oficiais da época e testemunhos de pessoas
que viveram durante o período colonial. A metodologia incluirá também a triangulação de
dados, que envolverá a comparação de diferentes fontes e perspectivas para obter uma
compreensão mais completa e precisa do tema em estudo. A análise qualitativa será
empregada para examinar o conteúdo dos currículos educacionais, enquanto a análise
quantitativa será usada para avaliar o acesso à educação e as disparidades educacionais.
5

1. Educação Colonial

1.1. Conceito

A educação colonial refere-se ao sistema educacional implementado pelas potências


colonizadoras em suas colónias durante os períodos de colonização. Esse sistema educacional
tinha objectivos muitas vezes específicos para atender aos interesses coloniais e podia variar
significativamente de uma colónia para outra, dependendo das políticas e das práticas da
potência colonial dominante

No contexto moçambicano não se pode separar a educação missionária da educação


colonial. A colonização moçambicana é um fenómeno do século XX, e é a partir desse
período que um esforço sistemático de educação é feito. Os acordos entre o governo colonial
e a Igreja Católica, durante a fase mais intensiva e profícua da educação no tempo colonial,
provam que a separação entre a educação colonial e uma educação missionária não é
pertinente. De facto, o governo colonial confia “[…] a educação indígena à igreja, ao mesmo
tempo que subordina a educação aos interesses do nacionalismo colonial” (Ngoenha, 2000, p.
43).

Os conteúdos da educação escolar foram dados através de:

 Introdução da cultura burguesa (costumes, danças, e canções de Portugal)

 Conteúdo de ensino das disciplinas escolares (a língua portuguesa a educação cívica-


moral e religiosa, e o ensino da historia e geografia de Portugal)

 Proibição das manifestações culturais moçambicanas (da prática das línguas locais;
das danças; canções e formas de viver).

O objectivo principal da educação, nesta fase da colonização, era a “[…] civilização


dos indígenas” (Mazula, 1995, p. 47), principalmente por meio da propagação da fé cristã e
dos valores e práticas europeus. A tolerância da língua indígena surgia como uma estratégia e
um instrumento para exercer e reforçar o processo de colonização e de imposição territorial da
língua portuguesa.

Logo após a assinatura da Concordata, a administração colonial estabeleceu a estrutura


de ensino seguindo o modelo de organização do ensino ministrado por entidades religiosas.
No ano de 1941, a administração portuguesa dividiu o ensino em ‘indígena’ e ‘oficial’.
6

O ensino indígena (designado também ensino primário rudimentar) tinha por fim
elevar gradualmente da ‘vida selvagem’ à ‘vida civilizada’ dos povos cultos a
população autóctone das províncias ultramarinas, enquanto o ensino oficial
(designado também ensino primário elementar para os não indígenas), visava dar à
criança os instrumentos fundamentais de todo o saber e as bases de uma cultura
geral, preparando-a para a vida social (Mazula, 1995, p. 80, grifo do autor).

Em outras palavras, o Estado português instituiu um sistema educativo puramente


discriminatório. O ensino ‘indígena’, dirigido aos africanos, visava a reproduzir e a perpetuar
o sistema de dominação colonial. De outro lado, funcionava o ensino ‘oficial’, que tinha por
propósito inculcar nos alunos o conceito de Portugal como pátria-mãe e nação
intercontinental. No tempo colonial os objectivos da politica reflectiam–se na educação
escolar através de programas e livros de Ensino. Esses objectivos consistiam:

 Formar exploradores;

 Assegurar a exploração do povo;

 Favorecer o alheamento da sua própria prática;

 Favorece o alheamento da sua origem social;

 Favorecer o desprezo pela sua própria cultura;

 Identificar-se com cultura Portuguesa.

A 18 de Janeiro de 19930 é publicado o regulamento da escola de reabilitação de


professores indígenas pela Direcção dos Serviços de Administração Civil. O referido
regulamento tem por fim fornecer um quadro jurídico para a formação de professores que
ministram o Ensino Primário Rudimentar, aos indígenas da colónia de Moçambique que
podiam também serem colocadas nas Missões religiosas.

O plano de Ensino correspondiam a doze disciplinas que são a língua Portuguesa,


Aritmética, Sistema métrico, Geografia Geral principalmente de África, Cosmografia e
Orografia de Portugal, Historia da civilização, Historia de Portugal, Historia de Moçambique,
Educação Cívica, Agricultura e Higiene, Desenho, trabalho Manuais, Física e Pedagogia. Das
quais a principal era língua Portuguesa que correspondiam a um total de 202 tempos lectivos
nos dois de formação, a aritmética ocupava o segundo lugar com 184 tempos lectivos nos dois
anos de formação.
7

Para ter acesso a ensino tinha que ter uma idade mínima de 18 anos completos, bom
comportamento mora e civil, aprovação no exame de instrução Primaria elementar da 4ª
classe, não ter moléstia e defeito físico. A educação ressente-se com a proclamação da
primeira república em 1910. Um ano depois decreta-se a separação entre a igreja e o estado, e
em 1913 são criadas as missões civilizadoras que priorizam uma formação literária mais
completada por uma aprendizagem profissional, enquadrando os nativos em sociais.

Em 1921, é banido o uso das línguas Africanas nas escolas, é o efeito mais importante,
pois foi a tentativa de organizar a estrutura administração colonial (1917-Conselho Inspector
da Administração Publica que em 1920 é substituída pela Inspecção escolar e mais tarde em
1921 pela Direcção geral do ensino. Ilha de Moçambique fundada em 1799 em Quelimane e
por fim Ibo fundada em 1818.

O Director da escola de habilitação de professores indígenas era nomeado pelo


Governador-geral e, no exercício das suas funções subordinava-se ao director da Instituição
Publica. Em 1917, é promulgada a lei de o indiginato que define como “indígena o indivíduo
da raça negra que pela sua ilustração e costume não se distingue do comum daquela raça”.

O ensino indígena tem por fim conduzir gradualmente o indígena da vida selvagem
para a vida civilizada, forma-lhe a consciência de cidadão Português e prepara-lo para a luta
da vida tornando mais útil a sociedade e a si próprio.

O ensino indígena é dividido em três tipos que são: Ensino Primário rudimentar,
Ensino profissional e Ensino normal.

 Ensino Primário rudimentar – este era destinado a civilizar e nacionalizar os


indígenas da colónia, difundido a língua e os costumes Portugueses.
 Ensino Prossional – tinha por fim prepara os indígenas de ambos sexos para adquirir
honestamente os meios de manter a vida civilizada e contribuir mais eficazmente para
o progresso da colónia.
 Ensino Normal – o ensino tem por fim habilitar os professores indígenas para as
escolas rudimentares.

1.2. Objectivos da educação colonial

Ensino Primário rudimentar – é de colocar as crianças indígenas em condições de


aprender a nossa civilização por meio de conhecimentos da língua Portuguesa, este Ensino
8

esta destinado a indígena dos 7 aos 12 anos de idade é gratuito e obrigatório para esta faixa
escolar, as crianças deve ter boa saúde e não ter defeitos orgânicos.

Ensino Profissional – é feita duma forma separada ara os rapazes e para asa raparigas.
As raparigas frequentam as chamadas escolas profissionais para indígenas com cursos que
duram 12 anos, abrange os cursos de economia doméstica e de costura (limpeza, arrumação
da copa, tratamento da roupa, cozinha, roupa para mulher e homem, fazer doces, vender,
costurar roupa própria ou para venda.

As condições de ingresso dos rapazes é ter entre os 12 e 16 anos de idade, ter


terminado a 3ª e ter a melhor classificação profissional no nível anterior, estes são colocados
nas escolas de arte e oficio e devem possuir uma robustez necessária para o exercício da
função.

Ensino Normal - em 1933, procurava-se regulamentar a formação de professores


decorre na chamada escola de habilitação literária cujo objectivo é de formar professores
rudimentares. As condições de ingresso são ter uma idade entre 16 aos 27 anos, ter bom
comportamento e ter concluído a 4ª classe, possuir boa saúde, e ser moçambicano.

Existiram também outros ensinos: Ensino Oficial colonial, continua pois a ser
dedicado aos filhos dos colonos brancos e os assimilados. Pois este subdivide-se em ensino
primário, ensino liceal, técnico profissional. O Ensino liceal era dedicado ao carácter
humanista educativo e despreparação para a vida, o ensino elementar (primário), abrange dois
graus de educação, elementar e complementar.

O elementar era obrigatório para os todos os Portugueses brancos. O ensino técnico


profissional divide-se em escolas técnicas elementares escolas industriais e comerciais

1.3. Características da educação colonial

De acordo com os objectivos, a educação colonial manifestou as seguintes características


principais:

a) Carácter discriminatório estabelecimento de dois tipos de educação, realizava-se nas


escolas missionarias, destinados aos filhos dos nativos, não assimilados e dirigido
pelas missões. O conteúdo principal era realização de acções simples, para o domínio
da leitura, e escrita, contagem e prática de catecismo. Apenas garantia uma formação
9

meramente prática, realizava-se nas escolas oficiais e privadas, reservado aos brancos
e aos nativos assimilados dirigido e confiado ao estado e os donos das escolas
privadas. O domínio da língua Portuguesa, a disponibilidade financeira e a idade,
determinavam acesso ao ingresso as escolas oficiais privadas, incluindo a formação
superior, onde o conteúdo era de carácter cientifico ou teórico.

b) Carácter fictício da escolarização obrigatória – a idade, o número insuficiência de


escolas, a carência financeira das famílias e pertença de indivíduos a uma camada
socialmente inferior forma factores que impediram o complemento da política colonial
e da escolaridade obrigatória para todos.

c) Carácter de unidade entre a religião e o ensino – a educação colonial estabelecia uma


unidade entre a religião e o ensino. Isto significava que os programas e livros de
ensino, incluíam elementos da religião. Nisto, havia cooperação entre o estado e a
igreja católica no campo da educação, nessa cooperação a igreja fazia propaganda da
fé para influenciar os nativos de modo a evitar relações contractas de penetração e do
domínio do Governo Português.

d) Carácter paternalista – a educação colonial manifestava-se nos conteúdos de ensino, o


complexo de superioridade do branco em relação a negro. Acreditava-se que o branco
e negro submetidos as mesmas condições de aprendizagem o branco, mostrava-se
mais inteligente que o negro. Entretanto, se esqueceu que todo o homem encontra-se
dotado do mesmo esquema de assimilação e acultura de qualquer sociedade nunca é
superior ou inferior a outra.

Então a partir de 1845, o ensino formal passa a ser dividido em dois níveis os
primeiros graus ministrados nas escolas elementares de que constam no seu programa de
ensino disciplinas como leitura, caligrafia, aritmética, doutrina crista e história de Portugal.

O segundo grau é destinado as escolas principais, estas estavam localizadas na capital


da província Ultramarina de Moçambique na altura Lourenço Marques. Constam no seu
programa de ensino as disciplinas de Português e Desenho, Geografia, escrituração economia
e Física aplicada.

Entretanto o número das escolas elementares abarcou-se para Inhambane em 1856,


Mopeia 1895 e Lourenço. Em 1911 surge a primeira escola secundária comercial e industrial
5 de Outubro que se transformou em liceu em 1918, para além das tendências liberais que
10

defendiam o sistema de educação para todos, tanto indígena como civilizado, surgem vozes
que defendem um sistema separatista ou discriminatório. É neste período, que a educação
começa a ter um culmo marginalizantes. Diziam que o povo primitivo “Indígena” devia ser
civilizado sim mas lentamente e a sua educação devia estar virada para a função dos trabalhos
manuais, além disso esta educação devia estar em harmonia com os usos e costumes, assim
como grau de desenvolvimento intelectual do povo indígena. Porque as condições climáticas
(calor, clima inóspito) impediam que os europeus possam entregar-se ao trabalho físicos então
os indígenas mais habituados ao clima, podiam ser educados só na medida do trabalho
muscular, podiam continuar oprimidos. “O liberalismo igualmente só se aplicava aos
colonos”.

1.4. Consequências da educação colonial

Portanto, a educação colonial não trouxe grandes avanços para o país, daí as seguintes
consequências dessa educação na sociedade moçambicana:

 O analfabetismo absoluto e em massa, isto é, grande maioria que não sabe ler nem
escrever.

 Os poucos que aprenderam ler e escrever, tiveram dificuldades em progredir com os


seus estudos;

 A rede escolar, para os todos os níveis do ensino não foi expandida em todo território
nacional. Consequentemente a existência do número insuficiente de quadro
qualificados.

 Atraso no desenvolvimento sócio – cultural político e económico dos moçambicanos


11

Conclusão

O estudo da educação colonial em Moçambique revela um capítulo significativo e


complexo na história do país. Durante o período colonial, a educação desempenhou um papel
ambivalente, servindo tanto como instrumento de controlo e exploração quanto como uma via
para a conscientização e mobilização. Ao longo deste trabalho, exploramos os aspectos-chave
desse sistema educacional e suas implicações, buscando entender melhor como ele
influenciou a sociedade moçambicana. No âmbito do objectivo geral deste estudo, analisamos
a estrutura do sistema educacional colonial e sua contribuição para a formação das elites
locais. Descobrimos que a educação colonial, apesar de ser muitas vezes orientada para
atender aos interesses coloniais, também permitiu que alguns moçambicanos adquirissem
conhecimentos e habilidades que mais tarde desempenhariam um papel vital na luta pela
independência do país.

Além disso, ao abordar nosso segundo objectivo específico, examinamos as


implicações sociais, políticas e económicas da educação colonial em Moçambique.
Constatamos que a educação colonial não apenas perpetuou desigualdades sociais e
económicas, mas também contribuiu para a conscientização e organização de movimentos de
resistência que eventualmente levariam à independência.

É crucial reconhecer que os legados da educação colonial ainda estão presentes na


sociedade moçambicana contemporânea. A desigualdade no acesso à educação persiste, e os
desafios herdados do passado colonial continuam a ser superados. No entanto, também vemos
uma Moçambique que está em constante evolução, aproveitando a educação como uma
ferramenta para o desenvolvimento e a construção de um futuro melhor.

Em resumo, a educação colonial em Moçambique foi um fenómeno multifacetado que


moldou profundamente a história e a identidade do país. Este estudo nos lembra da
importância de compreender nosso passado para construir um futuro mais justo e igualitário,
onde a educação possa ser verdadeiramente acessível e capacitadora para todos os
moçambicanos.
12

Referências Bibliográficas

Basílio, G. (2010). O estado e a escola na construção da identidade política em Moçambique


(Tese de Doutoramento). Pontíficia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

Castiano, J., Ngoenha, S., & Berthoud, G. (2005). A longa marcha de uma “Educação
para Todos” em Moçambique. Maputo, MZ: Imprensa Universitária.

Constituição da República de Moçambique (2004). Recuperado de:


http://www.stj.pt/ficheiros/fpstjptlp/mocambique_constituicao.pdf

Ngoenha, S. (2000). Estatuto e axiologia da educação. Maputo, MZ: Livraria Universitária.

Você também pode gostar