Você está na página 1de 16

Elsa Bernardo Magul

CONFLITOS INTERNOS NA FRELIMO DESDE 1974-1986

Licenciatura em ensino de História (curso Diurno 3º ano)

Uni Save Massinga


2022
Elsa Bernardo Magul

CONFLITOS INTERNOS NA FRELIMO DESDE 1974-1986

Licenciatura em ensino de História (curso Diurno 3º ano)

Trabalho de Pesquisa da Cadeira de


História de Moçambique dos meados do
século XX-XXI, para ser Entregue ao
docente da Cadeira, Curso de História,
para fins Avaliativos Sob Orientação

Docente:
MSc. Samuel Baúque.

Uni Save Massinga


2022
Índice
0.Introdução.......................................................................................................................................4
0.1.Objectivos....................................................................................................................................4
0.1.1.Geral......................................................................................................................................4
0.1. 2. Específicos......................................................................................................................4
0.2. Metodologias.........................................................................................................................4
1. Contextualização do conflito no seio da FRELIMO.....................................................................5
1.1. Conflito interno na FRELIMO..................................................................................................5
2. Início dos conflitos internos.....................................................................................................10
2.1. O Desenvolvimento do conflito interno em Moçambique...............................................11
2.2. A intensificação do conflito interno em Moçambique......................................................13
3. Conclusão.................................................................................................................................15
4. Referências bibliográfica..........................................................................................................16
4

0.Introdução

Este presente trabalho versa sobre conflitos no seio da Frelimo de 1974


a1986: Onde vamos perceber que os primeiros conflitos no seio da frente
registaram-se quando Mondlane regressou dos Estados Unidos para constatar que
Aldridge demitira uma série de activistas essenciais ao partido. A influência de
Aldridge durou pelo menos até Agosto de 1964, e a oposição aos Americanos levou
a que alguns líderes mais antigos, Gumane e Gwambe entre outros, deixassem a
Frelimo. Nesta altura, decidira-se lançar uma campanha militar. Esta acção foi, sem
dúvida, precipitada pelo facto evidente de se estarem a verificar em Moçambique
focos esporádicos de violência e banditismo, aos quais os Portugueses tinham
respondido declarando o estado de emergência.

0.1.Objectivos

0.1.1.Geral
 Compreender o fenómeno de conflitos no seio da Frelimo de 1974 a 1986 em
Moçambique

0.1. 2. Específicos
 Contextualização do conflito no seio da FRELIMO;
 Explicar o início dos conflitos internos na Frelimo;
 Descrever a intensificação do conflito interno na Frelimo em Moçambique.

0.2. Metodologias

Para a produção deste trabalho recorreu-se, as consultas bibliográficas que consistiu na


leitura de obras fichas que versam sobre, carta escolar e perfil dos distritos e tivemos como
suporte metodológico o método qualitativos na recolha de informação necessária optou se
pela qualidade e não quantidade.
5

1. Contextualização do conflito no seio da FRELIMO

1.1. Conflito interno na FRELIMO

Quando a Frelimo se formou não existia um acordo entre os seus membros


constituintes de que iria enveredar pela insurreição armada, e muitos dentro do
partido queriam uma campanha política e evitar o conflito armado. Existiam
profundas divisões, mesmo entre aqueles que acreditavam que a guerra era
inevitável, a respeito das tácticas a adoptar, pretendendo alguns uma insurreição
urbana que se revelara tão extraordinária na Argélia, outros uma rebelião popular,
proporcionando a campanha de guerrilha a maior hipótese de êxito. Tão-pouco se
verificou, nesta fase, qualquer compreensão ideológica da natureza do movimento,
indo as opiniões desde aqueles que viam a Frelimo como um movimento de bases
amplas em prol da independência nacional aos que estavam empenhados em o
transformar num movimento pela revolução social (NEWITT, 1997).

De acordo com Antônio (1996), os primeiros conflitos no seio da frente


registaram-se quando Mondlane regressou dos Estados Unidos para constatar que
Aldridge demitira uma série de activistas essenciais ao partido. A influência de
Aldridge durou pelo menos até Agosto de 1964, e a oposição aos «Americanos»
levou a que alguns líderes mais antigos, Gumane e Gwambe entre outros, deixassem
a Frelimo. Nesta altura, decidira-se lançar uma campanha militar. Esta acção foi,
sem dúvida, precipitada pelo facto evidente de se estarem a verificar em
Moçambique focos esporádicos de violência e banditismo, aos quais os Portugueses
tinham respondido declarando o estado de emergência." Temendo que, tal como em
Angola, a insurreição pudesse eclodir a qualquer momento, a Frelimo decidiu lançar
a sua própria campanha. Assim sucedeu em 25 de Setembro de 1964, atacando a
base portuguesa de Chai no norte de Moçambique, ao mesmo tempo que emitia uma
proclamação e um apelo às armas. A Frelimo desencadeou as operações apenas com
250 combatentes treinados.

As questões cruciais sobre a natureza da campanha não tiveram ainda


resposta e existem provas de que a Frelimo desta vez estava a preparar alguma
6

grande campanha no Sul, a partir da capital. A ser este o caso, então a acção da
PIDE, em Dezembro de 1964, não só destruiu a possibilidade de insurreição mas
resolveu o debate no seio da Frelimo. Em Dezembro, numa série de razias, a PIDE
deteve 1800 activistas e destruiu mesmo a organização do partido no Sul. A partir
de então, desaparecera a opção de um golpe de estado a partir da capital (Forquilha
2020)

Segundo Forquilha (2020) contesta que as incertezas iniciais paralisaram e


ameaçaram destruir a Frelimo. Durante a primeira parte de 1965 verificaram-se
tentativas de trazer de volta ao movimento os líderes desertores, culminando num
encontro em Lusaca em Junho, altura em que se deu uma rotura definitiva e os
desertores foram fundar a Coremo, uma «frente» rival sediada na Zâmbia.
Gawambe, o seu líder, não tardou a ser desmascarado como agente português, mas a
Coremo continuou a existir sob a liderança de Gumane durante o período da guerra.
Em termos militares, manteve-se activa por um breve tempo em 1971, mas não
deixou de constituir um foco alternativo para o sentimento nacionalista.

Ainda na percepção de Forquilha (2020) esclarece que as divisões internas


foram em parte uma resposta ao fracasso militar. Existem indícios de que a Frelimo
esperava que aos êxitos recentes no Norte se seguisse uma insurreição maciça. No
entanto, fracassou uma tentativa da Frelimo, no início de 1965, de se infiltrar nas
plantações zambezianas, e as frentes que haviam sido anunciadas na Zambézia e no
Tete tiveram de ser abandonadas, empreendendo Hastings Banda acção no sentido
de impedir que a Frelimo usasse o Malawi como rota de abastecimentos." Em
Lourenço Marques, a acção da PIDE levou à interdição da Nesam e do Centro
Associativo dos Negros de Moçambique e à detenção de Domingos Arouca, um dos
poucos Moçambicanos negros com perfil internacional." No ano seguinte, a PIDE
deteve uma série de outros intelectuais mais importantes, incluindo Luis Honwana e
o famoso artista moçambicana Malangatana. No entanto, em contraste com o seu
fracasso nas frentes central e sul, a Frelimo obteve um êxito rápido no Norte. No
final de 1965, grande parte da região de Maconde, no extremo norte, tornara-se
território conquistado pela Frelimo, e esta agia com eficácia nas orlas do lago
7

Malawi, junto da população falante de nyanja, chegando inclusivamente a ameaçar


a cidade ferroviária de Novo Freixo.

Sem dúvida os éxitos no Norte fortaleceram a posição dos líderes macondes


e dos antigos manus no seio da Frelimo. Foi o apoio da população maconde,
alienada pelo massacre de Mueda e politizada pelo movimento migratório na
fronteira tanzaniana, que permitiu à Frelimo manter os Portugueses confinados às
suas bases e «libertar» o território. A região dos Macondes foi conquistada pela
Frelimo com a ajuda dos chefes tradicionais, muitos dos quais foram eleitos
presidentes do partido nas zonas das suas chefias." (Forquilha 2020).

No entanto, segundo NEWITT (1997), os líderes macondes não se


mostraram interessados na revolução social. Muitos deles, e designada- mente o seu
líder Lazaro Nkavandame, não eram radicais mas tradicionalistas que pretendiam
um continuar da guerra em moldes mais enérgicos e uma campanha política menos
intensa. Muitos dos apoiantes de Nkavandame tinham-se tornado «presidentes» nas
zonas libertadas e, de acordo com o registo oficial da Frelimo, constituíram um
grupo de pressão que tentou apoderar-se do partido e conduzir a guerra. Para tentar
por termo ao conflito entre os presidentes» e os combatentes da guerrilha decidiu-
se, em Outubro de 1966, acalma divisão da autoridade entre o Departamento dos
Assuntos Internos da Frelimo mento de Defesa.

As vitórias de finais de 1965 não tardaram a inverter-se. Apesar de os


Portugueses terem contado com o início de uma guerra de guerrilha depois do
sucedido em Angola e na Guiné, foram tomados um pouco de surpresa pelos
primeiros ataques. As suas forças armadas no Norte eram muito discretas, e parece
que o comando do Norte possuía apenas cinco aviões e duas embarcações de
patrulha a funcionar. Em 1966, os Portugueses contra-atacaram- encorajados, ao
que parece, pela recepção hostil que a Frelimo recebia por parte dos Yao e Macuas,
os grupos étnicos mais islamizados e tradicionalmente hostis aos Macondes
(NEWITT, 1997).

Ao longo do lago Malawi, a campanha da Frelimo resultara em rotura e


fome generalizadas, e foi fácil os Portugueses reprimirem as guerrilhas.” No Cabo
8

Delgado, era levada a efeito uma política de agrupamento da população em


aldeamentos e, em 1966, cerca de 250-000 pessoas estavam reinstaladas em 150
aldeias,” Estes atrasos resolveram outra questão dentro da Frelimo: decidiu-se que,
de futuro, seria necessário o «amolecimento» político antes de se lançarem
ofensivas. Em Outubro de 1966, o comandante da Frelimo, Filipe Magaia, foi
assassinado e Samora Machel nomeado para o substituir. Verificou-se uma
reorganização e em 1967 foi desencadeado um ataque à base aérea de Mueda.
Entretanto, os Portugueses responderam com o reforço das patrulhas no lago
Malawi (NEWITT, 1997).

A ineficária da campanha militar aumentou as tensões ideológicas e técnicas


dentro da Frelimo e iria levar directamente a confrontações e a uma guerra civil» em
1968-9. No início de 1968, a Frelimo reabriu a frente de Tete, em parte para
responder às críticas dos Macondes de que a guerra estava a ser travada quase
exclusivamente no seu território, e em parte para combater a propaganda da Coremo
na região. Anunciaram-se planos para a realização de um Segundo Congresso do
Partido em Moçambique; julgava-se que, deste modo, se isolariam os «presidentes»
macondes que acreditavam, que se o Congresso se realizasse na Tanzânia, os seus
apoiantes o dominariam, mas pensava-se também que a realização do congresso em
território libertado seria vista como uma vitória da propaganda.” Com a
aproximação do Congresso intensificou-se a luta entre facções. Os Macondes leais a
Nkavandame atacaram a secção da Frelimo em Dar es Salaam em Maio e mataram
um funcionário do partido. No Instituto de Moçambique (a escola secundária criada
pela Frelimo na Tanzania), os estudantes influenciados pelo sacerdote recém-
recrutado, o P. Gwenjere, amotinaram-se e fecharam as portas. O apoio a Gwenjere
partiu também dos estudantes moçambicanos nos Estados Unidos. Nada disto
impediu a realização do Congresso.

Esclarece ainda NEWITT (1997), que o Segundo Congresso, realizado em


Moçambique em Julho de 1968, constituiu uma vitória de Mondalne. O Comité
Central alargou-se para incluir os radicais mais jovens que apoiaram os conceitos
gémeos de revolução social e de uma campanha de guerrilha generalizada baseada
9

na politização do campesinato e no estabelecimento de cooperativas. O Congresso


aprovou também a ideologia de articulação com movimentos internacionais afins e
adoptou a perspectiva de que a guerra era contra os inimigos de classe e não os
inimigos raciais. Estas propostas colocaram a Frelimo de uma forma cada vez mais
distinta no extremo socialista do espectro da opinião política internacional.” Apesar
do êxito indiscutido do Congresso, a Frelimo não conseguiu uma base firme para
muitas das suas operações em Moçambique, e até ao fim da guerra actuou em
absoluto a partir dos quartéis-generais da organização fora do país.

Nkavandame, que boicotou o Congresso, estava agora isolado e em minoria.


Ele e os seus seguidores encontraram-se com Mondlane em Mtwara, na Tanzania,
em Agosto, para tentarem resolver as suas divergências, e quando isso não foi
possível, Nkavandame procurou ocupar as zonas libertadas de Cabo Delgado e
próximo das fronteiras com a Frelimo lealista, «usando grupos de bandidos e outros
personagens pouco abonatórios onde se incluíam os “presidentes da chamada Liga
da Juventude da Frelimo».

Consequentemente, foi afastado dos cargos partidários em Janeiro de 1969 e


passou-se para o lado português. Mais tarde, foi acusado de envolvimento nos
planos para o assassinato de Mondlane em Fevereiro de 1969. Nkavandame
acreditava que ele e os seus seguidores eram os representantes genuínos dos valores
tradicionais macondes e moçambicanos, com a sua longa história de trabalho dentro
do país, que era um líder cujas ideias estavam mais em sintonia com as do povo do
que com as do Americano Mondlane. A luta entre ambos foi sobretudo pessoal, mas
uma série de questões de política acabou por levar ao conflito (NEWITT, 1997).
Nkavandame era um conservador social e opunha-se à posição revolucionária dos
seguidores de Mondlane; tornou-se cada vez mais um africanista e um
tradicionalista, e conjecturou até soluções federalistas em que um estado maconde
emergiria da destruição do regime português. Parece também que Nkavandame, que
ocupou importantes cargos no Comité Central da Frelimo e na província de Cabo
Delgado, esteve envolvido, juntamente com outros chefes macondes, na corrupção e
no enriqueci- mento financeiro e comercial; poderá ter estado também envolvido no
10

assassinio de oposi- tores políticos. Depois de perder a luta pelo poder dentro da
Frelimo, tornou-se o seu mais directo opositor.

Inicialmente, a fuga de Nkavandame limitou-se a estimular os conflitos.


Mondlane foi assassinado com uma encomenda armadilhada em Fevereiro, quase de
certeza de dissidentes do partido com o auxílio de agentes da PIDE. Seguiu-se uma
luta pela liderança da Frelimo. Uria Simango foi o vice-presidente e deveria ter
sucedido a Mondlane mas o resto da liderança não confiava nele e foi eleito um
Conselho de Presidência, constituído por Dos Santos, o comandante militar Machel
e o próprio Simango. A luta pelo poder continuou ao longo de 1969. Casal Ribeiro,
o secretário provincial de Tete, desertou, o que levou ao colapso dos esforços
desenvolvidos no Distrito de Tete, e em Novembro, depois de emitir um manifesto
contra os seus opositores. Simango foi expulso do partido e aliou-se a outros líderes
desiludidos na Coremo. Machel acabou por se instalar como líder do partido em
Maio de 1970 (NEWITT, 1997).

2. Início dos conflitos internos

A partir de então, a Renamo, chefiada pela SADF, tornou-se o principal


instrumento de desestabilização do Governo da Frelimo. A desestabilização
provocada por estes conflitos internos é agravada por agressões militares que a
Rodésia faz a Moçambique, mais tarde transferidas para o regime de apartheid da
África do Sul. Apenas em 1992, com a assinatura do ‘Acordo Geral de Paz’ entre a
FRELIMO e a RENAMO, cessam as hostilidades e inicia-se um processo de paz e
reconciliação.

A década de 80 marca a transição de uma economia centralmente


planificada para uma economia aberta, de mercado. Nos anos 90, concretiza-se a
transição política anteriormente iniciada, onde se destaca a introdução de uma
constituição pluralista e a emergência de um processo de descentralização política e
administrativa.

Inicialmente, não possuía bases permanentes em Moçambique e as suas


unidades eram abastecidas pela África do Sul, quer por mar quer pelo ar. Tinha
11

ordens para não atacar alvos militares ou cidades bem defendidos, mas para sabotar
a infra-estrutura económica e a base para a economia rural. (Almeida, 1970, p. 85).

Ainda no mesmo contexto de Almeida (1970), clarifica que os seus ataques foram
desencadeados contra as estradas e os caminhos-de-ferro-o seu acto mais sensacional de
sabotagem foi a explosão da ponte do caminho-de-ferro sobre o Zambeze em 1983. Atacou
também cooperantes estrangeiros – matando ou raptando 100 em cinco anos até 1985.

No entanto, os seus alvos principais foram a população rural. Atacou aldeias comunais e
cooperativas, infra-estruturas sociais como hospitais, escolas e edifícios governamentais e
as instalações da economia rural, como os edifícios e os armazéns das plantações. Apesar
de os líderes da Renamo provirem maioritariamente dos Ndaus que falavam chona, as suas
fileiras eram cada vez mais preenchidas raptando jovens e rapazes das zonas rurais.

Em 1984, o seu número aumentara para entre 15 000 a 20000 e conseguia operar em todas
as partes de Moçambique apesar de estar concentrada na faixa central, destruindo a
economia de plantação da Zambézia e a rede ferroviária sediada na Beira.
Simultaneamente, a renamo começou a desenvolver-se como organização política.
Surgiram delegações em Lisboa, na República Federal da Alemanha e nos Estados Unidos,
que afirmavam representar o movimento além-mar e consta que a Remano terá realizado
um «congresso» onde foi definida a política. Duvida-se que a Renamo tivesse qualquer
existência como movimento político no início da década de 1980. Para os seus próprios fins
políticos, a África do Sul e a administração Reagan necessitavam que a Renamo possuísse
pela menos tanta credibilidade quanto um movimento anticomunista como a UNITA, o
veículo da política americana e sul-africana em Angola.

2.1. O Desenvolvimento do conflito interno em Moçambique


De acordo com Antônio (1996, p.65), entende que a acção política da FRELIMO revelou
pouca ponderação. Aquando do seu nascimento (Accra, 25 de Junho de 1962), assumiu-se
como uma organização política constituída por moçambicanos para defender os direitos da
totalidade do seu povo, tendo por objectivo a liquidação do poder colonial português. Os
seus dirigentes forjaram uma estratégia de desenvolvimento nacional, sem uma noção clara
da realidade que iriam administrar: a sua atenção estava focada na criação do homem novo
12

8. Aliando paternalismo e intolerância cultural e política, a própria FRELIMO lançou as


sementes para a subversão.

O mesmo autor diz que a RENAMO começou por ser um instrumento de agressão externa
por parte dos que se opunham à autodeterminação dos africanos negros, dos que lutavam
contra o alastramento do comunismo e dos que combatiam ambas as tendências. Fugidos da
descolonização moçambicana, alguns ex-colonos e militares refugiaram-se na Rodésia,
onde se estabelecera um governo racista condenado pela comunidade internacional.

Seria a partir dos refugiados do antigo regime colonial português e de jovens europeus
fanáticos, de tendência neo-nazi, que a Central Intelligence Office da Rodésia recrutaria os
primeiros membros da RENAMO. Para a Rodésia branca, era urgente, sob risco de
sufocação económica e política, enfraquecer o regime de Maputo. A esses receios juntou-se
desconforto da África do Sul, incomodada com a vizinhança de um regime de tendência
comunista que proferia discursos contra o apartheid. Os sul-africanos investiam na criação
em seu redor de um cordão sanitário de estados neutrais e até coniventes com a segregação
racial. (Idem, p.89-93).

Para Hedges (1999), esclarece que a RENAMO, porém, viria a autonomizar-se. Deu disso
provas em 1980, na altura da transformação da Rodésia em Zimbabwe, pois, ao transferir-
se para o território sul-africano, revelava uma atitude de independência, surpreendendo os
seus próprios criadores. Ao apresentar-se como a continuadora de Mondlane, atraiçoado
pelo governo, tendo como objectivo recuperar a legitimidade da revolução, foi bem
recebida pela população rural moçambicana; o apoio e a conivência com a guerrilha eram,
afinal, expressão do descontentamento vivido. Um dos graves desrespeitos sentidos pelo
povo fora a acção «desalienante», traduzida nas aldeias comunais, nos campos de
reeducação (veiculadores de valores frequentemente contrários aos tradicionais) e na
destruição das referências religiosas. (p. 85).

A RENAMO pôde facilmente aproveitar-se da falta de tacto dos órgãos do poder. A


humilhação das autoridades tradicionais jogou a seu favor uma vez que o governo não tinha
tomado em consideração a força e o estatuto dos chefes tradicionais, anteriores à própria
situação colonial. Beneficiou também da intolerância para com as práticas religiosas, do
desencanto dos jovens das comunidades rurais e da centralização da administração no sul
13

do território. Estes factores, acompanhados pela selvajaria paralisante de um exército bem


organizado, continuamente fomentado e apoiado do exterior, originaram dezasseis anos de
conflito sangrento. (idem, p. 88).

Segundo Forquilha (2020, p. 59), na sua viagem de regresso à Moçambique, o Tupolev Tu-
134, avião cedido pela União Soviética no qual Machel viajava, junto com muitos dos seus
colaboradores, despenhou-se em Mbuzini, nos montes Libombos, localizado em território
sul-africano próximo à fronteira com Moçambique. O acidente foi atribuído a erros do
piloto russo, mas ficou provado que este tinha seguido um rádio-farol, cuja origem não foi
determinada. Este facto levou a especulações sobre uma possível cumplicidade do governo
sul-africano. Então, Joaquim Chissano foi eleito como o sucessor de Machel. Chissano era
Ministro dos Negócios Estrangeiros desde 1975. (Idem, p. 110).

2.2. A intensificação do conflito interno em Moçambique


Na visão de muitos autores ao longo de 1987, houve a impressão de que a guerra civil não
seria resolvida militarmente. A Frelimo conquistou o território norte do país após vencer
uma batalha em Fevereiro de 1987 mas, no mesmo período, os ataques da Renamo no sul
aumentavam. A Renamo ameaçou dividir o país ao longo do Rio Zambeze. Em Agosto,
regista-se o Massacre das populações de Homoíne, no qual houve a morte de cerca de 400
pessoas, e de Manjacaze. Com o apoio da Tanzania e do Zimbabwe, a Frelimo fez um
contra-ataque em meados de 1988, no qual conseguiu bloquear as investidas da Renamo. A
guerra civil fez com que centenas de milhares de moçambicanos emigrassem para os países
vizinhos à procura de abrigo. Segundo as estimativas, entre os ataques de 1986 a 1988, a
Renamo havia matado cerca de 100 mil civis. Tanto a Renamo como a Frelimo cometeram
várias atrocidades durante a guerra. Ademais, foi reportada a existência de gangues em
áreas ruais, que apoiavam ambos lados da guerra. (Matos, 1966, p.46).

Esclarece também, que á África do Sul finalmente concordou em providenciar assistência


ao processo de apaziguamento de fim da Renamo por volta de Setembro-Outubro de 1988.
Em Novembro, o governo de Moçambique pediu à Igreja e ao Estado para que pudessem
encontrar uma oportunidade de negociar. Ademais, uma amnistia geral havia sido
prometida aos membros da Renamo. Em Fevereiro de 1989, os membros da Igreja haviam
afirmado que a Renamo concordara em uma conversa sobre a paz. O governo
14

do Quénia negociava separadamente com os representantes da Frelimo e Renamo


em Nairobi em Dezembro de 1989. Ambos partidos haviam perdido apoio financeiro
internacional quando o Presidente da África do Sul, Frederik Willem de Klerk removeu o
restante dos subsídios providenciados pela União Soviética à Renamo e Frelimo. Pela
primeira vez, negociações directas entre ambos partidos foram realizadas em Julho de 1990
na cidade de Roma, Itália. Em Dezembro seguinte, foi atingido um cessar-fogo parcial, mas
ambos partidos quebraram-no em uma questão de meses. (p. 52).

No mesmo tempo, aquando dos problemas económicos que Moçambique atravessava, o


governo assinou um acordo com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional em
1987, que obrigou o país a abandonar a ideologia Marxista-Leninista, e a República
Popular de Moçambique tornou-se na República de Moçambique. Além disso, a Frelimo
adopta uma nova constituição na qual legalizava o multipartidarismo e permitia economia
de mercado livre e privatizava propriedade do Estado. Contudo, a guerra continuou até
1992. A população moçambicana ainda sofria com a seca. Aproximadamente 10% do
território moçambicano era governado pela Renamo em 1991. O partido ainda continuava o
seu ataque ao governo e praticava escravatura laboral em regiões do país.
15

3. Conclusão

Terminado o trabalho conclui-se que, quando a Frelimo se formou não existia um acordo
entre os seus membros constituintes de que iria enveredar pela insurreição armada, e muitos
dentro do partido queriam uma campanha política e evitar o conflito armado. Existiam
profundas divisões, mesmo entre aqueles que acreditavam que a guerra era inevitável, a
respeito das tácticas a adoptar, pretendendo alguns uma insurreição urbana que se revelara
tão extraordinária na Argélia, outros uma rebelião popular, proporcionando a campanha de
guerrilha a maior hipótese de êxito. Tão-pouco se verificou, nesta fase, qualquer
compreensão ideológica da natureza do movimento, indo as opiniões desde aqueles que
viam a Frelimo como um movimento de bases amplas em prol da independência nacional
aos que estavam empenhados em o transformar num movimento pela revolução social. A
guerra que eclodiu depois da independência nacional em Moçambique e que se caracterizou
na desestabilização económica e militar, tem sido objecto de debates sobre o seu verdadeiro
conceito a atribuir. Neste aspecto, existem conceitos muito vulgares, dependem e variam de
cada autor. Há quem designa simplesmente de guerra, de guerra de desestabilização ou de
guerra civil.”
16

4. Referências bibliográfica

 NEWITT, Malyn, (1997). História de Moçambique. Mira-Sintra: Publicações Europa-


America.
 ANTÔNIO, Alexandre (1996). Processos e Problemas de Desconstrução social Pós-
Guerra civil: o caso do Distrito do Lago-Niassa. Maputo, Universidade Eduardo
Mondlane.
 ARNOLD, Guy (2016). Wars in the Third World Since 1945. Oxford: Bloomsbury
Publishing.
 FORQUILHA, S. e Pereira, J. (2020). «Face ao conflito no Norte, o que Moçambique
pode aprender da sua própria guerra civil (1976-1992). Uma análise das dinâmicas da
insurgência em Cabo Delgado». Boletim Ideias 130. Maputo: IESE.
 ALMEIDA, Antônio Lopes de (1970). O colonato de Limpopo-contribuição de
cooperas agrícolas no desenvolvimento sócio econômico. Lisboa, ISCPU, 1970.
 HEDGES, David até all. (199). Moçambique no auge do colonialismo. Maputo,
Livraria Universitária.

Você também pode gostar