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ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

Cadeira: História
Nível: 10ª Classe, Curso Diurno, Turma 06
Estudante: Mirian Ivo Xixava

Nacionalismo em Moçambique

As primeiras manifestações nacionalistas em África, tiveram seu início entre duas


primeiras guerras no período de 1914 a 1945. Mas foi a II Guerra Mundial que os
africanos começaram a ter ideias mais precisas sobre como por fim ao colonialismo. Foi
nesse período que os africanos começaram a compreender que a exploração colonial não
era apenas uma tribo, ou grupo étnico mas sim de toda a nação colonizada.

O Nacionalismo moçambicano nasceu da contestação ao colonialismo e manifestou-se


principalmente ao nível das associações da imprensa e da poesia, na linha mais ampla
da emancipação africana cuja inspiração predominante chamou-se de Pan Africanismo.

Em Moçambique foi da dominação colonial que criou a base para a consciência


nacionalista fundada na experiencia de descriminação, exploração, trabalho forçado
entre outros aspectos ligados a sistema colonial.

O Nacionalismo Africano foi feito de diversas formas, quer através das greves e
sabotagens por parte dos trabalhadores e camponeses através das empresas e literaturas
críticas por parte dos intelectuais do período pela arte e religião.

Datam do último quartel do século XIX as primeiras posições africanas que se opunham
política colonial portuguesa. Esta desenvolveu-se, inicialmente, nas povoações ao norte
do Zambeze, como Tete, Quelimane e ilha de Moçambique. Entre as temáticas
recorrentes encontravam-se as que apresentamos na página seguinte:

 A defesa de uma maior autonomia governativa;


 A incapacidade da administração portuguesa em promover o avanço das
populações;
 A discriminação praticada contra os africanos para ocuparem cargos no
funcionalismo público;

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 A presença dominante da colónia inglesa.
 O combate ao trabalho obrigatório para os indígenas.

Mas seria em Lourenço Marques, actual Maputo, para onde se tinha transferido o centro
administrativo e económico da colónia que, na primeira década do século XX, um
pequeno grupo de negros e mulatos instruídos começou a reagir às tendências
discriminatórias e políticas, impostas pela administração colonial portuguesa.

Associações/organizações que impulsionaram o nacionalismo moçambicano

O Grémio Africano de Lourenço Marques

O Grémio Africano de Lourenço Marques, cuja existência remonta a 1906, mas que
viria a ser legalizado apenas em 1920, foi a primeira de várias associações. Durante
muitos anos, até ä sua legalização, a sua actividade de mobilização e organização estava
muito limitada, por não terem sido aprovados os seus estatutos. Os seus membros
iniciais não ultrapassaram os 142, parecendo que em nenhum momento da associação,
no referido período, terá ultrapassado as quatro centenas. Entre eles, contavam-se:
empregados públicos, proprietários, tipógrafos, empregados comerciais, amanuenses,
oficiais de diligências, empregados dos correios, comerciantes e operários.

Grande parte desta gente era descendente de uma certa burguesia local, podendo
caracterizar-se do seguinte modo: eram indivíduos nascidos, muito provavelmente, nas
últimas três décadas do século fruto do contacto directo com a colonização mercantil
portuguesa, que receberam «toda ou parte da sua educação antes da estruturação do
imperialismo colonial», educados em missões ou sob influência cristã. Eram, em alguns
casos, aparentados com as chefias tradicionais locais, muitas vezes proprietários de
terrenos e imóveis, ocupando diferentes posições nos quadros do funcionalismo público
e da actividade comercial.

Numa primeira fase, que foi de 1908/9 até 1912, os membros desta elite, através do seu
jornal, o periódico O Africano (1908/9 - 1920), abordavam:

 Criticamente, a acção da igreja católica, apesar da sua base cristã;


 O racismo dos colonos;
 A ganância dos cantineiros;
 O Estado colonial, pela ausência de uma política correcta, não existindo escolas;

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 Os administradores, por cobrarem ilegal e violentamente os impostos;
 As autoridades policiais, pela sua actuação repressiva;
 O trabalho forçado.

Quando se iniciou a publicação de O Brado Africano, em 1917, provavelmente em


reacção lei que aprovava o regime assimilação, a conjuntura politica e económica era já
nitidamente desfavorável a este pequeno grupo de africanos, não se encontrando
verdadeiras alternativas para a situação existente. Para além da ausência de uma
verdadeira liderança, com a morte dos seus membros mais representativos, sucedem-se
as cisões no Grémio Africano, procurando romper com as rotinas existentes, através de
uma política mais radical. Entre estas destacam-se:

 O Congresso Nacional Africano, em 1920;


 A Liga da Mocidade Africana, fundada em 1930, acabando por ser extinta
em 1939;
 O Instituto Negrófilo, fundado em 1932.

Sob a influência da AALM foram-se estabelecendo outras agremiações por todo o


território moçambicano: Associação Africana de Inhambane, Grémio Africano de
Gaza, Grémio Africano de Quelimane e o Grémio Africano de Manica e Sofala. A
realidade do associativismo africano, neste período, era, porém bem mais complexa,
existindo um número bastante dilatado de associações, de carácter político, social e
cultural, e clubes desportivos, só nos bairros suburbanos da capital da colónia.

O Congresso Nacional Africano

O Congresso Nacional Africano de Moçambique surgiu por volta de 1920, este


mantinha contactos com o ANC da África do Sul que já existia. Os seus fundadores
foram, entre outros, Lindstrom Mathite, Jeremias Nhaca, João Tomás Chembene e José
da Conceição Hobjana (este último, avó materno de Josina Machel, heroína da
Revolução Moçambicana). O primeiro presidente da direcção foi o Chembene. Era um
empregado comercial. Falava muito bem inglês e português. Outros sócios fundadores
foram Amade Dulla, Benjamim Moniz, Hassan Tricamo e outros.

O Instituto Negrófilo

O Instituto Negrófilo, que viria a celebrizar-se com o nome de Centro Associativo dos
Negros de Moçambique, fundado em 1932, por iniciativa de Loodge Manicusse
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Chrindja, David Zinhougua Manhiça, Raul Pessana, Abraão Aldasse, Enoque e Daniel
J. Libombo, Raul Manuel Bernardo Honwana, Filipe Tembe, Levi Pinto Maximiano,
Filimone J. Honwana, Alberto Madeira e Sem Balaze, procurava igualmente uma via
reformista, centrada em dois grandes objectivos: instrução e beneficência.

Numa primeira fase, o Instituto Negrófilo tinha como únicas actividades a recreação e
as actividades culturais. A partir de 1949, com a estadia de Eduardo Chivambo
Mondlane em Moçambique, após a sua expulsão da África do Sul, foi criado o Núcleo
de Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM) que viria,
gradualmente, a radicalizar as posições no interior do Centro Associativo, levando à sua
extinção pelas autoridades portuguesas em 31 de Julho de 1965.

O Grémio Negrófilo de Manica e Sofala

Criado na cidade da Beira, em 1935, sob a influência de Kamba Simango, a actividade


do Grémio estendia-se à cidade da Beira, Machanga, Mambone, Mossurize, Búzi,
Sofala, Gondola, Chimoio, Manica e Lourenço Marques (actual Maputo). No Transvaal,
na África do Sul, encontrava-se uma importante comunidade da Machanga que,
regularmente, enviava fundos para o Grémio, permitindo a sua existência. O Grémio
procurou:

 Defender os interesses dos seus associados e populações;


 Resolver questões gentílicas;
 Manter uma escola na sua sede;
 Fazer propaganda e cerimónias religiosas, permitindo reuniões de seitas
dissidentes.

Após os acontecimentos da Machanga, em 1955, em que o Grémio fez uma exposição


protestando contra os maus tratos exercidos pelo administrador daquela localidade sobre
a população, viria a ser extinto em Margo de 1956.

Greves e protestos

A primeira greve dos trabalhadores negros do porto e caminhos-de-ferro de Lourenço


Marques (PCFLM), teve lugar em Maio de 1919 na qual os trabalhadores negros do cais
abandonaram o trabalho exigindo o aumento salarial de $20 por turno, a reacção do

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Estado não fez sentir: 400 trabalhadores foram detidos acusados como os principais
promotores da greve a 28 de Agosto de 1913 incluiu uma curta mais uma das greves
pesadas. Além desta greve outras greves tiveram lugar outras nomeadamente:

 A greve Quinheta, a causa foi a intenção do Estado de corta os salários entre


10% a 30% para minimizar o alagamento das férias.
 Greve do PCFLM: 7 de Junho de 1947 – Greve monte da pedreira de Goba,
Maputo: 22 de Setembro de 1954;
 Greve da açucareira de Chinavane: 18 de Agosto de 1954.

A luta contra o Nacionalismo pelos moçambicanos não se fez sentir só na cidade, mas
também nas zonas rurais. Foram várias as formas e tipos de protestos levados a cabo
pelo povo moçambicano de 1914 até a independência de 1975 destacando-se as
migrações para fora do território para as zonas de difícil acesso, as decepções do
trabalho mal remunerado, as greves entre outras.

Com o objectivo comum de libertar Moçambique em 1962 formou-se a Frente de


Libertação de Moçambique (FRELIMO) em Dar-es-salaan na Tanzânia para acabar com
a situação colonial do país, objectivo alcançado com a independência declarada a 25 de
Junho de 1975.

Bibliografia

FENHANE, João Baptista H. História 10ª Classe; Diname Editores, 1996.

RECAMA, Dionísio Calisto; História 10ª Classe. Plural Editores, 2021.

SOPA, António. História 10ª Classe. 1ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017

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