Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ao longo dos seus quatro séculos de presença em território africano, a primeira vez que
Portugal teve que enfrentar guerras de independência, e forças de guerrilha, foi em 1961,
na Guerra de Independência de Angola. Em Moçambique, o conflito começou em 1964,
resultado da frustração e agitação entre os cidadãos moçambicanos, contra a forma de
administração estrangeira, que defendia os interesses económicos portugueses na
região. Muitos moçambicanos ressentiam-se das políticas portuguesas em relação aos
nativos. Influenciados pelos movimentos de autodeterminação africanos do pós-guerra,
muitos moçambicanos tornaram-se, progressivamente, nacionalistas e, de forma
crescente, frustrados pelo contínuo servilismo da sua nação às regras exteriores. Por
outro lado, aqueles moçambicanos mais cultos, e integrados no sistema social
português implementado em Moçambique, em particular os que viviam nos centros
urbanos, reagiram negativamente à vontade, cada vez maior, de independência. Os
portugueses estabelecidos no território, que incluíam a maior parte das autoridades,
responderam com um incremento da presença militar e com um aumento de projectos
de desenvolvimento.
Do ponto de vista militar, o contingente militar português foi sempre superior durante
todo o conflito contra as forças de guerrilha. Embora em desvantagem, as forças da
FRELIMO saíram vitoriosas, após a Revolução dos Cravos em Lisboa, a 25 de Abril de
1974, que acabou com o regime ditatorial em Portugal. Moçambique acabaria por obter
a sua independência em 25 de Junho de 1975, após mais de 400 anos de presença
portuguesa nesta região de África. De acordo com alguns historiadores da Revolução
Portuguesa do 25 de Abril, este golpe de Estado militar foi impulsionado principalmente
pelo esforço de guerra e impasses políticos nos diversos territórios ultramarinos de
Portugal, pelo desgaste do regime então vigente e pela pressão internacional.
Massacre de Mueda
No início dos anos 60, o descontentamento dos agricultores era grande. A partir de
1929, o Estado português iniciou um forte controlo sobre as companhias comerciais,
nomeadamente sobre o monopólio que exerciam. O governo de Lisboa passou a
centralizar a política de colonização. Dos produtos produzidos em Moçambique para
exportação - algodão, açúcar, caju e sisal - o algodão era dos mais importantes, tendo
sido imposta a sua exploração em larga escala. De 4 mil toneladas produzidas entre
1931 e 1935, passou-se para cerca de 130 mil na década de 1960. Associado a este
forte aumento de produção, estava o elevado número de trabalhadores, que eram
recrutados entre a população maconde na região de Mueda. O descontentamento dos
macondes tinha a ver, essencialmente, com os baixos salários auferidos, as más
condições de trabalho, o autoritarismo da administração colonial e questões
económicas - o algodão era comprado por baixo valor e vendido a um preço mais alto.
Em meados de 1960, é organizada uma reunião entre o governador do distrito de Cabo
Delgado, o capitão de fragata Teixeira da Silva, e Garcia Soares, administrador da região
dos macondes. A União Nacional Africana de Moçambique (MANU) é a porta-voz dos
macondes e à sua frente estão Faustino Vanomba e Chibilite Vaduvane. É combinada
para o dia 16 de junho uma reunião, na qual os macondes apresentariam as suas
reivindicações: preços de compra mais altos para a produção e uhulu, liberdade para a
terra. Do lado de fora do edifício onde decorria a reunião juntam-se cerca de 5 mil
macondes em festa. No entanto, Teixeira da Silva apenas falou do aumento do valor a
que ia comprar o algodão, não referindo a «liberdade da terra». Os representantes da
MANU reclamaram, e foram presos à vista da multidão, que protesta violentamente. O
governador manda os polícias dispararem sobre os manifestantes, matando alguns:
fontes locais referem 16 mortos; o relatório militar indica 20; e o relatório da
administração cerca de 30. A FRELIMO, anos mais tarde, disse que foram 150 as
vítimas; e outra fonte, Alberto Joaquim Chipande, num texto publicado no livro de
Eduardo Mondlane Lutar por Moçambique, refere 600 mortos.
De 1969 a 1974
Guerra contínua
Em 1969, o General António Augusto dos Santos foi retirado do comando e, no ano
seguinte, em Março, as tropas em Moçambique passaram a ser lideradas pelo General
Kaúlza de Arriaga. Kaúlza de Arriaga era mais favorável a um método de combate
directo contra os rebeldes, e a política estabelecida de utilizar forças africanas de
contra-insurgência foi substituída por forças regulares portuguesas acompanhadas por
um pequeno número de soldados africanos. Pessoal local continuava a ser recrutado
para operações especiais, tal como o Grupo Especial de Pára-quedistas em 1973,
embora tivessem um papel menos importante sob as ordens do novo comandante. As
suas tácticas foram parcialmente influenciadas após uma reunião com o General
William Westmoreland dos Estados Unidos.
Na prática, foram várias as forças especiais que tiveram um papel importante do lado
português, tanto para o conflito moçambicano como para a Guerra Colonial:
De 1974 a 1975
No último ano do conflito, a opinião generalizada entre os militares era a de que esta
guerra se encontrava numa situação insustentável. No início do ano, em Janeiro, um
ataque da FRELIMO provoca a morte da mulher de um colono europeu, em Vila Pery, e
instala um sentimento de insegurança na região central de Moçambique; as Forças
Armadas são acusadas de nada fazer. Dois dias depois, tanto o comércio desta cidade,
como o da Beira, encerra em sinal de luto, e têm lugar violentas contestações da
população branca contra os militares; estes declinam responsabilidades dadas as
difíceis condições por que estavam a passar. O General Francisco da Costa Gomes,
parte para Moçambique para se inteirar sobre estes acontecimentos. Face à gravidade
dos acontecimentos, o Movimento das Forças Armadas (MFA) reúne-se, e expõe as
suas preocupações ao General Spínola, assinada por 180 oficiais. Neste novo contexto
do conflito, Costa Gomes demite o comandante da Região Militar de Moçambique. No
entanto, em Lisboa também se dão movimentações políticas e, em Março, tanto Costa
Gomes como Spínola, são demitidos, o que determina o fim das operações militares em
Moçambique. Em Abril de 1974, a FRELIMO está equipada com o SAM-7, um míssil terra
-ar de grande precisão, que vem ameaçar a supremacia aérea portuguesa. De acordo
com informações militares, a FRELIMO tinha aumentado a sua actividade nos primeiros
quatro meses de 1974.
Independência
Em 1961 visitou Moçambique, a convite da Missão Suíça, e teve contactos com vários
nacionalistas, onde se convenceu de que as condições estavam criadas para o
estabelecimento de um movimento de libertação. Por essa altura e independentemente,
formaram-se três organizações com o mesmo objectivo: a UDENAMO (União
Democrática Nacional de Moçambique), a MANU (Mozambique African National Union,
à maneira da KANU do Quénia e de tantas outras) e a UNAMI (União Nacional Africana
para Moçambique Independente). Estas organizações tinham sede em países
diferentes e uma base social e étnica também diferentes, mas Mondlane tentou uni-las,
o que conseguiu com o apoio do presidente da Tanzânia, Julius Nyerere – a FRELIMO
foi de facto criada na Tanzânia, com base naqueles três movimentos, em 25 de Junho
de 1962, e Mondlane foi eleito seu primeiro presidente, com Uria Simango como Vice-
Presidente.
Nessa altura, Mondlane já tinha chegado à conclusão de que não seria possível
conseguir a independência de Moçambique sem uma guerra de libertação, mas era
necessário desenhar uma estratégia e obter apoios para a levar a cabo, o que Mondlane
começou a fazer. Os primeiros guerrilheiros foram treinados na Argélia e, entre eles,
contava-se Samora Machel que o substituiria após a sua morte. Os seguintes foram já
treinados na Tanzânia, onde a FRELIMO organizou ainda uma escola secundária, o
Instituto de Moçambique.
Este não foi o único incidente que ensombrou os primeiros anos da FRELIMO: Mateus
Gwengere, um padre católico que tinha aliciado muitos jovens da sua província (Tete) e
era professor do Instituto de Moçambique, insurgiu-se contra a política do movimento
de enviar a maior parte dos jovens para a luta armada, em vez de os incentivar a
continuar os estudos. Em março de 1968, verificou-se um motim, seguido pelo
abandono quase maciço dos estudantes que, mais tarde, se descobriu ter sido
despoletado por Gwengere. Em maio, uma multidão de macondes invadiu os escritórios
do movimento e assassinou um dos membros do Comité Central, Mateus Sansão
Muthemba – exigiam a independência imediata de Cabo Delgado. Entretanto,
Nkavandame tentou forçar a realização de um congresso do movimento na Tanzânia,
mas o Comité Central decidiu realizá-lo em Matchedje, nas zonas libertadas do Niassa,
em Julho de 1968.
Morte e legado
Mondlane deixou viúva, Janet Mondlane, que foi a primeira Directora Nacional de Acção
Social de Moçambique independente e a primeira presidente do Conselho Nacional
contra a SIDA, já nos anos 2000-2004, e três filhos. Mais importante, deixou um livro,
"Lutar por Moçambique", que só foi publicado alguns meses depois da sua morte, onde
detalha como funcionava o sistema colonial em Moçambique e o que seria necessário
para desenvolver o país.