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Licenciatura em História
Massinga
2021
Universidade Save
Departamento de letras e ciências sociais
Licenciatura em História
Massinga
2021
Índice
pág.
1. Introdução .................................................................................................................................... 4
2.1. Problematização........................................................................................................................ 4
3. Bibliografia ................................................................................................................................ 21
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1. Introdução
Milhões de raparigas em África e no mundo vêm os seus direitos violados todos os dias,
sem oportunidade de se expressarem nem de serem ouvidas ou porque são crianças ou pelo
simples facto de serem mulheres. Uma das melhores alternativas de levar à sua independência é
também lhe negada – a educação – porque as famílias não priorizam a educação para seus filhos e
principalmente da rapariga.
Este projecto tem como tema: Impacto da Violência Doméstica Contra Rapariga em
Idade Escolar: Caso da Vila da Massinga (2016-2020).
1.1. Justificativa
O interesse em realizar este estudo surge pelo facto de ser estudante finalista do ensino em
Geografia na Universidade Save – Extensão da Massinga, de certo modo preocupado com os
níveis de violência doméstica contra rapariga em idade escolar, que são registados nas
comunidades da vila de Massinga em particular e Província de Inhambane em geral.
Outro factor que não é menos importante, está, associado a razão destes actos de violência
doméstica retardarem o futuro risonho e tranquilo das raparigas e lhes aprisionarem a uma
convivência sempre turbulenta, sem poderem ir a escola ao menos, mas sim serem reféns de
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maridos emigrantes em grande parte, facto que urge realizar este estudo científico, de modo a
analisar o impacto da violência contra rapariga em idade escolar, particularmente na vila de
Massinga, de modo a procurar meios que permitam minimizar o mesmo.
Para o campo cientifico, o estudo procura fazer uma contribuição no que tange ao debate
do impacto da violência doméstica, com estreita direção para a rapariga em idade escolar, assim
como se juntar aos demais estudos já realizados de forma cientifica, que também possuem uma
inclinação direcionada ao tema em estudo.
A escolha da Vila de Massinga, surge pelo facto do proponente ser residente nesta vila,
enquanto estudante, facto que lhe permitiu observar e constatar vários casos de violência
doméstica contra rapariga em idade potencial para frequentar a escola, o que concorreu para
realizar estudo de modo a analisar o impacto que estes actos tem.
Em relação ao período de 2016 á 2020, fundamenta-se pelo facto de ser período em que
vários casos de violência contra rapariga em idade escolar o proponente constatou, e também em
que não se registou algum estudo até então publicado que procura analisar o impacto desta
mesma, em particular neste intervalo de tempo e espaço geográfico.
1.3. Problematização
O acesso a escolarização é um direito de todos cidadãos, e este não pode ser alienado por
qualquer circunstância que for, mas sim deve ser promovido a todos níveis, de modo que as
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pessoas possam ter a habilidade de escrita e leitura. A promoção deste direito deve também
obedecer, o género e equidade. Considerando que em tempos passados, as mulheres, estiveram
bastantemente excluídas em vários processos de integração social e incluindo a escolarização.
Tema: Impacto da Violência Doméstica Contra Rapariga em Idade Escolar: Caso da Vila
da Massinga (2016-2020).
2.2. Hipóteses
Com as presentes hipóteses procura-se responder a questão de partida, levantada na
problematização da pesquisa.
Hipótese1: A violência doméstica contra rapariga em idade escolar pode provocar abandono
escolar ou interrupção da frequência do sistema de ensino, afastamento praticamente irreversível
e porfim casamentos pré-maturos no seio de algumas raparigas em idade escolar.
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Hipótese2: A violência doméstica contra rapariga em idade escolar não traduz impacto algum
para vila da Massinga, porque as raparigas em idade escolar, podem recorrer ao gabinete de
mulher e crianças vítimas de violência doméstica, para reportar actos de violência.
Geral:
Específicos:
a) Rapariga
Segundo Ussene (2016), em termos de idade a rapariga significa menina, mulher que se
encontra entre a adolescência e a juventude.
Nessa ordem de ideia Cipire (1996), define a rapariga em termos de género, como um
indivíduo do sexo feminino que lhe cabem responsabilidades de servir ao lar e gerar o maior
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número possível de filhos sob pena de ser rejeitada, entregar todos os rendimentos monetários
ao marido e não o envergonhar.
Assim concluímos que a rapariga é todo ser humano do sexo feminino que se encontra
entre a adolescência e a juventude com responsabilidades de frequentar a escola até ao término
dos níveis de escolaridade. Para a mudança do cenário, esta valorização da rapariga,
conscientização da comunidade sobre a importância da educação da rapariga, demonstrando as
vantagens da mesma, tanto no âmbito pessoal, como a nível da própria comunidade.
b) Violência
c) Violência doméstica
Segundo Gelles (1993) citado por Castro (2017), desde os tempos imemoriais que
crianças, mulheres, homens e idosos, têm sido alvos de variadas formas de violência na família.
Os crimes de ofensa física, verbal, abuso sexual, emocional, psicológico, incesto, entre outros,
surgem com frequência no seu seio e adequam-se a um padrão de comportamento coberto pelo
conceito de violência doméstica. Legitimada ora por crenças religiosas e políticas, ora pela
ideologia patriarcal, a violência doméstica é um fenômeno que faz parte da história da família,
não só das sociedades ocidentais, mas também das outras sociedades.
Por sua vez, para Organização Mundial de Saúde (2005), a definição de violência
doméstica é o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio,
ou contra outra pessoa, ou ainda, contra um grupo ou comunidade, que resulte em manifestações
de natureza física, sexual, psicológica e intelectual no âmbito familiar e na comunidade em geral,
abrangendo a agressão física, o abuso sexual de crianças.
Segundo a UNICEF (2005) a violência doméstica é um ato ou ação que envolve violência
em situação de interação, envolvendo um ou mais atores, que de modo direto ou indireto cause
danos em graus variáveis a uma ou mais pessoas, seja na integridade física ou mental, seja em
suas posses ou participações simbólicas e culturais que podem se manifestar de forma continuada
e ampliada territorialmente.
Para Abromovay (2002) citado por Castro (2017), na mesma vertente dos conceitos
anteriores, a violência doméstica é um ato que atinge as integridades físicas, psíquicas,
emocionais e simbólicas dos indivíduos ou grupos nas diversas esferas sociais, tanto no espaço
público quanto no espaço privado. E, dentro dessa perspectiva, alguns acontecimentos, aceitos
socialmente como naturais, passaram a ser nomeados como violência: as agressões físicas e
psicológicas interfamiliares, contra mulheres ou crianças; a violência simbólica contra grupos ou
categorias étnicas.
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Segundo Lundy e Grossman (2001) citados por Castro (2017) os maus-tratos infantis
podem ser definidos como “uma expressão que inclui a agressão física, a violência sexual, a
negligência quanto à alimentação, saúde e proteção, a violência psicológica, o abandono físico e
emocional, analisados sob o ponto de vista social, coletivo e institucional.
i) Violência Física
Segundo Azevedo & Guerra, (2001) a violência física é o emprego de força física no
processo disciplinador de uma criança. É toda a ação que causa dor física, desde uma simples
tapa até o espancamento fatal que pode ou não, deixar marcas físicas. Tais agressões podem
provocar fraturas, hematomas, queimaduras, esganaduras hemorragias internas, socos mordidas,
chutes, cortes, lesões por armas ou objetos obrigar a tomar medicamentos desnecessários ou
inadequados, álcool, drogas ou outras substâncias, inclusive alimentos, tirar de casa à força,
amarrar, arrastar, arrancar a roupa, abandonar em lugares desconhecidos, danos à integridade
corporal decorrentes de negligência (omissão de cuidados e proteção contra agravos evitáveis
como situações de perigo, doenças, gravidez, alimentação, higiene, entre outros).
Esta é a modalidade mais comum e a que tem o menor índice de denúncias, por
apresentar marcas visíveis na vítima, as quais representam consequências, como:
vergonha, constrangimento, humilhação, medo, mudanças repentinas de humor,
insegurança, agressividade, dificuldade de aprendizagem, dentre outras (Azevedo
e Guerra: 2001).
Segundo Minayo (2005) a violência física é o uso da força física contra criança e o
adolescente, em forma intencional, dirigido para ferir, lesionar ou destruir, causando-lhes desde
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leve dor, passando por danos e ferimentos de média gravidade, até a tentativa ou execução do
homicídio
Para Weber, (1991) o uso da força é uma das características mais comum da violência
doméstica presente neste tipo de modalidade, estar presente à intensidade de aplicação desta força
e o uso intencional ou acidental, neste último caso, se houve intenção ou não de causar dano à
criança ou ao adolescente
Por seu turno Minayo (2005) a dominação é outra característica bastante constante, e esta
independentemente de sentimentos, por outro lado, relaciona-se a questão de hierarquia e de
imposição de ordem, vez que basta ter um ser subordinado para obedecer e outro ser para ordenar
(ex. pai e filho), formalizando a submissão do ser dominado. Tais características: dominação e
submissão são bastante comuns e ocasionam: medo, raiva, ódio, traumas, baixa estima, etc.
A característica brutalidade, esta é considerada como sendo a mais comum nesta prática,
referindo-a como sendo umas das mais bem acentuadas no ser dominador e tem como significado
rudeza, grosseria, violência, ou ainda, castigar o ser dominado (vitima da violência doméstica).
Neste sentido, o ser dominado (crianças e adolescentes) é castigado muitas vezes com brutalidade
e sem nenhum respeito, chegando inclusive a gerar maus tratos, violência física, psicológica ou
sexual, propiciando a esta vitima inúmeras consequências podendo chegar até a morte, vez que a
vitima desta prática não consegue denunciar o agente dominador, seja por medo ou por
dependência afetiva (Ferreira, 2002).
Segundo Azevedo & Guerra (2007) a violência psicológica é toda ação ou omissão que
causa sofrimento mental, ou visa a causar dano à autoestima, à identidade, ou ao
desenvolvimento da pessoa, caracterizada pela rejeição, discriminação. Inclui: insultos
constantes, desrespeitos exagerados, humilhação, desvalorização, chantagem, isolamento de
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Segundo Garbarino e Col (1988) a violência psicológica inclui vários sentimentos, dentre
eles:
ou seja, obriga outra ao ato sexual contra a sua vontade, ou que a exponha em interações sexuais
que propiciem sua vitimização, da qual o agressor tenta obter gratificação.
Segundo Azevedo e Guerra (2001) é importante destacar que no caso desse tipo de
violência, a criança e o adolescente são sempre vítimas e jamais culpados, e que essa é uma das
violências mais graves pela forma como afeta o físico e o emocional da vítima, além de envolver
o silêncio. Este mantido tanto pelo parceiro /cônjuge do agressor, como pela criança/ adolescente
vitima, podem durar anos, se não houver uma intervenção, vez que ambos apresentam inúmeros
motivos para mantê-lo
As crianças que sofrem este tipo de violência estabelecem, por norma, uma conduta do
silêncio, por medo, culpa ou vergonha.
iv) Negligência
Segundo MS (2001) a negligência é o descaso ou omissão dos pais, para com os seus
filhos, ou ainda, ausência de auxílio financeiro, expondo a criança e o adolescente em situação
precária: desnutrição, baixo peso, doenças, falta de higiene, desajuste, vestimenta inadequada,
abandono, privação de medicamentos, e ainda pode ser percebida através das constantes faltas às
aulas na escola, etc. É ainda a omissão de responsabilidade de um ou mais membros da família
em relação a outro, sobretudo àqueles que precisam de ajuda por questões de idade ou alguma
condição física, ou seja, é o descuido propriamente dito
Para Bazon (2008) a negligência ainda pode ser moderada1 ou severa2 e não é devida a
falta de recursos econômicos, configura-se negligencia quando os pais falham de forma abusiva,
nas questões de se vestir, medicar, alimentar e evitar acidentes, colocando em risco o seu
crescimento e o desenvolvimento.
v) Violência Simbólica
Este tipo de violência constitui a principal espécie, pois, é a forma mais difícil de
ser identificada, vez que acarreta “submissão, livre aceitação de consciência
dominada, baixa estima, medo, busca pelo isolamento, confusões com o universo
interno e suas próprias leis e falta de desejo de perspetiva e de projeto” (Idem).
Para Cunha & Pinto (2008) a violência simbólica é a forma de violência invisível, fruto
do sofrimento calado e contido das crianças vitima de diversas situações desfavoráveis e
preconceituosas, que terminam por formalizar esta tendência natural na sociedade e nas
instituições, dificultando a socialização e a inclusão da mesma no meio escolar e social.
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Segundo José & Coelho (2006) as barreiras que impedem o processo do ensino-
aprendizagem são: a rejeição, o desprezo, a humilhação, dentre outras. E tais barreiras ocasionam
uma baixa estima e insegurança, impedindo a criança e o adolescente de aprender, tendo em vista
que o cognitivo encontra-se no mesmo plano da afetividade. Portanto, qualquer problema
emocional irá interferir no aprendizado dos indivíduos.
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Desta forma, a partir da análise dos estudos dispostos acima, acredita-se que é possível à
visualização significativa que o ambiente familiar das raparigas em idade escolar maltratadas
exerce, com grande probabilidade, uma influência negativa no desempenho, ao não proporcionar
os cuidados necessários à promoção do desenvolvimento sócio emocional, desenvolvimento da
conduta, desenvolvimento cognitivo, da linguagem e do rendimento acadêmico, além do
desenvolvimento da cognição social, desembocando na inibição da capacidade de aprender e de
socializar-se.
A rapariga em idade escolar vítima de violência doméstica pode ser comprometida, pois,
ela internaliza o tratamento que recebe, acreditando ser a merecedora dos maus-tratos, o que se
traduz nesse medo de fazer a actividade, de tentar; na crença de que não é capaz. Então, acaba por
internalizar que não conseguirá aprender.
Diversos outros estudos têm evidenciado um baixo rendimento acadêmico nas crianças
vítimas de maus-tratos bem como falta de motivação para as tarefas escolares. Outros estudos
demonstraram ainda atrasos no desenvolvimento da competência linguística em crianças
maltratadas tanto no nível da linguagem receptiva como no da linguagem expressiva. Tais
estudos têm caracterizado o discurso das crianças maltratadas como redundante e pobre, ao nível
dos conteúdos, sobretudo os de natureza abstrata (BASANTA & DOPICO, 2000).
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Neste item tratar-se-á realmente de outra etapa do estudo, onde, descreve como vai se
operacionalizar o estudo, ou seja quais são os caminhos que serão percorridos para consecução
dos objectivos definidos pelo autor.
a) Método de procedimento
✓ Método fenomenológico
Não menos importante é que este método será extremamente importante no processo de
construção do conhecimento, porque o autor terá a obrigação de inovar e trazer à ribalta, novos
pressupostos que ainda não foram explorados, que se debruçam em prol do tema em estudo.
A pesquisa vai ser uma pesquisa aplicada porque pretende-se, produzir um certo
conhecimento relativo ao impacto da violência doméstica contra rapariga em idade escolar na vila
de Massinga, que tenha aplicação prática e dirigido à solução de problemas reais e específicos
como é o caso da violência doméstica contra a rapariga, e envolvendo verdades e interesses locais
da localidade ou vila da Massinga, local onde vai decorrer o estudo.
Pesquisa será qualitativa, visto que limita-se a fazer uma discrição de certo fenómeno
social que é a violência doméstica contra a rapariga em idade escolar, sendo desnecessário o uso
exclusivo da quantificação. Como se sabe a interpretação dos fenômenos e a atribuição de
significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e
técnicas estatísticas, apensas descreve os factos e por fim o pesquisador tende a analisar seus
dados indutivamente.
De acordo com os objectivos que se pretendiam alcançar neste estudo, será feita uma
pesquisa de carácter descritiva, de modo a descrever o impacto da violência domestica contra
rapariga em idade escolar, na vila da Massinga, por forma, também a analisar de que maneira esta
violência se impõe no seio do local do estudo.
A pesquisa descritiva julga-se relevante neste estudo porque acredita-se que ia alargar o
debate não só para o grupo alvo da pesquisa, mas também com alguns estudos levados acabo por
vários pesquisadores, que se debruçaram em volta desta problemática por um lado, mas em outra
perspectiva, permitirá fazer um entrosamento entre os dados que foram colhidos no campo e
pesquisas que serão consultadas.
Como já foi mencionado, o presente estudo será um estudo de caso neste sentido
apresenta um universo de cerca de 184 531 habitantes, segundo o censo populacional de 2017.
Neste universo, o pesquisador vai trabalhar com uma amostra de 28 participantes, nomeadamente
(1) Autoridade tradicional; (20) membros da comunidade; (2) Polícias do gabinete de assistência
a mulheres e crianças vítimas de violência e (5) professores sendo 2 ensino Primário e 3 do
ensino Secundário geral.
Polícias 2 Entrevista
Autoridade tradicional 1 Entrevista
Fonte: Autor (2020)
Tabela 2: Cronograma
01 Elaboração e
entrega do
projecto
02 Apresentação
em jornadas
científicas
03 Correção e
revisão do
projecto
04 Actividades
do campo
05 Análise e
interpretação
dos dados
06 Apresentação
do trabalho
final
(Monografia)
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3. Bibliografia
ABRAPIA. Maus-Tratos contra Crianças e Adolescentes. Proteção e Prevenção. In: Guia de
Orientação para Profissionais de Saúde. Rio de Janeiro. 1992
AZEVEDO, M. e GUERRA, V. Infância e Violência Doméstica: o castigo dos cacos quebrados.
São Paulo. 2000.
CUNHA, R. Violência doméstica: lei Maria da Penha (Lei11. 340/2006), comentado artigo por
artigo. São Paulo. In: Revista dos Tribunais. 2008.
UNICEF. Domestic Violence Against Women and Girls. UN Report. UNICEF. Florence: 2000
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