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APRENDENDO A
SER E A CONVIVER
FUNDAÇÃO
��, FTD ODEBRECHT
©1999 by Fundação Odebrecht
Todos os direitos reservados.
Foi feito o depósito legal.
Agradecimentos especiais para os educadores populares que, com suas exper,encias, reflexões e comentários, nos
ajudaram a validar este manual, permitindo-nos compreender o mundo sob outra ótica:
Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão: Antonio Carlos S. Carpistrano, Áurea Silva da
Enr.arnação, Cristiane Medina da Silva, Ezelvira Lima Santos, Gilda Teles dos Santos, Humberto Jorge}. dos Santos, Ivone
de Jesus Paiva, }oseda!va Conceição da Silva, José/ia Bispo Duarte, Luciano dos Santos, Miriam Celeste Sanches Costa e
Vanilda Conceição Lima
Centro Educacional Santo Antonio (CESA): Rita de Cássia Assis Souza
Escola Santo Antonio das Malvinas: Miralva Lima Sá Barreto
Grupo de Educadores Comunitários do Engenho Velho de Brotas: Iara dos Santos Cóes
llê Aiyê: Alba Rosângela Dias dos Santos, Givaldo Pereira Santos, Hildelice Benta dos Santos e Maria das Graças
Correia Santos
Paróquia São Lucas Evangelista (Marechal Rondon): E/iene Santos da Silva Reis, Evanete Andrade Ramos, Maria Claudete
dos Santos e Vanda Rocha Fiúza
Serviço Social do Mosteiro de São Bento da Bahia: José Edmilson Pereira dos Anjos e Vanda de Carvalho Farias
Bibliografia.
99-3764 CDD-370-115
FUNDAÇÃO ODEBRECHT
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C) NC)SSC> ADC>LESCENTE
lugar na sociedade.
O adolescente se afasta da identidade infantil e vai construindo pou-
co a pouco uma nova definição de si mesmo. É um período de reorgani
zação pessoal e social que se inicia, na maioria das vezes, com contesta
O adolescente
O NOSSO ADOLESCENTE
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do que a uma essência ou natureza pe soai diversa em relação aos ado
lescentes de outra classe social.
Esse ··modo particular"' de estar no mundo relaciona-se ao contexto
social em que estão inseridos. �esse contexto, a escola e a família muitas
vezes não têm conseguido responder aos seus reais anseios e necessida
des. A dificuldade de alcançar escolaridade e formação profissional satis
fatórias leva muitas vezes o jovem elo meio popular a ingressar prematu
ramente no mundo do trabalho, sem o preparo e o acompanhamento
adequados.
As observações que se seguem não se apresentaram necessaria
mente nos três grupos que se1Yiram de base para a elaboração deste
manual. Listamos aquelas que consideramos importantes para a reflexão
cios educadores que atuam com populações semelhantes.
Estas obser vações foram feitas de forma assistemática durante o tra
balho com os grupos de referência, não seguindo nenhum critério ele
ordenação. Elas não devem ser tomadas como definitivas e invariáveis.
• Auto-estima fragilizada. A maioria dos adolescentes observados nos
grupos de referência espantava-se ao receber elogios ou qualquer pala
=vra de reconhecimento dirigida à sua pessoa, demonstrando uma auto
estima enfraquecida. O conceito de auto-estima diz respeito ao valor
O fortalecimento que o sujeito atribui a si mesmo. Percebemos que o fortalecimento
da auto-estima dâ dessa auto-estima passava por um reposicionamento na família, na
suporte para comunidade, na escola e na sociedade e acontecia pelo vínculo estabe
o crescimento
pessoal e social lecido com o educador e o grupo e como resultado do trabalho reali
zado. Recolocar-se nesses ambientes modificava o olhar sobre si próprio
e possibilita,·a readquirir a dignidade que ficou perdida no processo
histórico.
• Auto-imagem contaminada por preconceitos. Preconceitos relati
vos a classe social. etnia, nível cultural. profissão e local ele moradia
constituíam referenciais de identidade social. Ser negro, ser pobre ou ser
da periferia parecia ,·incular-se a obstáculos •'intransponíveis" e deter
minantes de uma condição ela qual não podiam escapar. Muitos ado
lescentes percebiam o fato de ser negro e/ou ser pobre como um ele
mento de des,·alorização dentro da sociedade. Observamos que esse
adolescente, quando em ambientes estranhos, freqüentemente omitia
ou mentia sobre a ua origem. Este dado tanto pode indicar que sua
auto-imagem estava comprometida, quanto revelar um manejo eficaz
para lidar com o preconceitos ociais.
• Medo de expressar-se. A dificuldade de se expor, presente em alguns
jo\·ens, relaciona\·a- e com o medo do ridículo e da exclusão. A des
confiança dentro do grupo era muito intensa. Como a sociedade, ele
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• ntradi ões frente à realidade. Parecia existir u ma contradição
e e o dé cur o e a ação no que diz re peito à transformação da reali
dade . Quando solicitado a falar obre a mesma , expressavam-s e como
agentes de ação : é possível mudar, transform ar, criar, resolver. Quando
solicitados a agir, encaraYam a realidade como imut:"ivel : é assim, tem
ido a im, erá a im. Ficavam, portanto, imobiliza dos diante dos fatos.
Isso foi muito ob ervado princip alment e nos momen tos iniciais cio gru
po . À medida que foram le,·ado a refletir sobre suas possibi lidades de
ação e alternat i,·a , muito pa aram a acredita r em si próprio s , a enten
der mudan ça como proce o e não apenas como resultad o e a confiar
em ua capacid ade de tran formar ua própria vida e a da coletivid ade .
Este cre cin1ento e deu a partir do resgate da auto-estima , que é funda
mental para o joYem er dono do eu desejo e acreditar no seu poder
de transformaçã o.
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APRE DE\DO A SER E A CONVIVER
• Papéis de gênero masculino e feminino com limites mais rígi
dos. Os adolescentes obser vados pareciam reproduzir os modelos
familiares que reforçam a separação entre o permitido ao homem e
o permitido à mulher. os relatos masculinos, era expresso que aos
homens permitia-se ter árias mulheres, esquivar-se das funções do
mésticas, usufruir de maior liberdade, ter direito ao lazer, abandonar
a responsabilidades familiares de sustento, de presença e de afeto.
Em contrapartida , lhes era cobrado que reprimissem sua sensibili
dade, que não demonstrassem suas emoções, que tivessem atitudes
características de " macho", a saber: atividade heterossexual constante
e iniciada o mais cedo pos ível, iniciativa perante a mulher, impossibi
lidade de recusar qualquer oferecimento/insinuação/convite femini
A s desigualdades
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