Você está na página 1de 119

SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO

REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO

MATÉRIA:
VOCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE

PROFESSOR:
Rev. André Silvério
Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano JMC (2004)
Mestre em Teologia Pastoral – Pregação, pelo Andrew Jumper (2015)
Doutorando em Ministério pelo Reformed Theological Seminary/CPAJ

São Paulo, março de 2022

Contatos
E-mail:
revandresilverio@yahoo.com.br
Telefone: 11-981-456-959
Facebook: André Michele Silvério
DEFINIÇÃO DE VOCAÇÃO

ü Introdução
• De modo geral, todos os seres humanos recebem de Deus
talentos (“vocação”) para as mais variadas esferas da vida.
• De modo especial, a Igreja de Cristo tem uma santa “vocação”
de Deus – a salvação em Jesus.
• Primeiramente, a igreja é “chamada para fora do mundo”,
redimida por Cristo e capacitada pelo Espírito, a fim de servir a
Deus no mundo, sendo uma agente proclamadora do Evangelho
de Cristo (1Pe 2.9).
• Além disso, dentro da Igreja, cada crente recebe de Deus a sua
vocação para servir ao Senhor com seus dons e talentos natos,
dados pelo Senhor na criação.
• Mas antes de adentrarmos aos detalhes, é importante definirmos
os termos. Vocação na língua grega é “kaleo” (καλεω), que
significa “chamar”. “Klesis” (κλησις) significa “chamada”,
“convite”. “Kletos” (κλητος) significa “chamado”, “convidado”.
Kaleo significa “falar a outra pessoa, ou diretamente ou por
intermediários, a fim de trazê-la mais perto, num relacionamento
físico ou pessoal.” (Dic. Inter. Teo. p. 349).
• Em outro sentido, kaleo quer dizer “eu chamo”, “eu nomeio”, “eu
convoco”. (cf. Ef 4.1; 1Co 1.26; Rm 1.6). (CÉSAR, Kléos Magalhães
Lens. Vocação: Perspectivas Bíblicas. Viçosa: Ultimato,1997, p.
19).
• No Novo Testamento, o termo kaleo surge 148 vezes e a palavra
klesis 11. Paulo usa kaleo 29 vezes, klesis 8 e klétos 7. Esses termos
quase sempre são empregados com o sentido de vocação
procedente de Deus. É o Senhor dirigindo-se ao homem,
vocacionando-o para a salvação e para o serviço do Reino. É
um chamado irresistível e irrecusável (Kléos César, Vocação, p.
19).
• Outro termo usado para falar de vocação é hiperetologia, do
grego hyperetes (υπερετης). Originalmente, essa palavra significa
“remador do rei” ou “remador de galé”, que dá a ideia de
“servir”, “ministrar”, “ser um assistente” (cf. Mt 5.25; especialmente
1Co 4.1 - hyperétas Cristou – servos de Cristo).
• Nos anos anteriores, a matéria de “Vocação e Espiritualidade”
era ministrada nos seminários da IPB como Hiperetologia –
“doutrina da vocação”. Mas se temos que optar por um termo
para designar a doutrina da vocação, a pergunta é qual deles
melhor se adequa: hiperetologia ou clesiologia?
• De fato, o termo clesiologia (klêsis + logia) é mais apropriado do
que hiperetologia para designar a teologia da vocação, visto
que clesiologia provém de klésis (chamado, vocação). Desta
expressão vem a palavra ekklesia – igreja, assembleia, povo
chamado por Deus para fora do mundo. Portanto, a Clesiologia
é o estudo da doutrina da vocação. (Kléos, Vocação, p. 20).

O Uso Histórico do Termo Vocação


• Histórica e catolicamente, somente o clero era vocacionado por
Deus. Havia uma separação entre o clero e o leigo, entre os
ordenados para o sacerdócio e o restante do povo simples
(Kléos, p. 21).
• Como bem sabemos, essa visão católica está em oposição à
visão Reformada do sacerdócio universal (1Pe 2.9).
• Hoje, ainda, na igreja evangélica, há o costume de se usar o
termo “leigo” para designar aqueles crentes que têm pouco
conhecimento das Escrituras. Mas, biblicamente falando, não
encontramos essa divisão de leigo e clero. Há, sim, a bem da
verdade, crentes mais ou menos maduros na fé e também os
neófitos, mas, talvez, o termo leigo não se aplique bem a eles.
• Quanto ao uso comum (evangelical) do termo vocação, é muito
provável que, como “herança da nossa visão Católica”, sejamos
tentados a pensar que somente os pastores e missionários sejam
vocacionados por Deus. Mais uma vez, afirmamos que esta não
é a visão bíblica; pois todos os crentes são vocacionados por
Deus para exercerem seus dons e talentos.

Definição Teológica
• Como vimos, todos os crentes verdadeiros foram
vocacionados/chamados irresistivelmente por Deus à salvação
em Cristo Jesus. Além disso, por sua multiforme graça, Deus
também vocaciona alguns para determinadas tarefas e ações
no corpo de sua Igreja amada. Assim, não há crente sem
vocação, como não há crente sem salvação. Ao escrever aos
Efésios, Paulo expressa a multiforme graça de Deus ao descrever
os muitos ofícios e ministérios que Deus dá aos crentes para
servirem a sua igreja (Ef 4.11-13). Aos Gálatas, Paulo dá o seu
próprio testemunho quanto ao seu chamado para o sagrado
ministério da Palavra (Gl 1.15, 16).

Definição Confessional
• O Catecismo Maior de Westminster entende assim o chamado
para o ministério: Pergunta 158: “A quem é permitido pregar a
Palavra de Deus? Resposta: A palavra de Deus deve ser pregada
somente por aqueles que têm dons suficientes (1Tm 3.2,6; 2Tm 2.2;
Ml 2.7) e são devidamente aprovados e chamados para o
ministério (Rm 10.15; 1Co 12.28,29; 1Tm 4.14).”
— Pergunta 159: “Como deve ser pregada a Palavra de Deus por
aqueles que para isso são chamados? Resposta: Aqueles que são
chamados a trabalhar no ministério da Palavra devem pregar a
são doutrina (Tt 2.1, 7, 8), diligentemente, em tempo e fora de
tempo (At 18.25; 2Tm 4.2); claramente (1Co 14. 9), não em
palavras persuasivas de humana sabedoria, mas em
demonstração do Espirito e de poder (1Co 2.4); fielmente (Jr
23.28; 1Co 4.1,2), tornando conhecido todo o conselho de Deus
(At 20.27), sabiamente (Cl 1.28; 2Tm 2.15) acomodando-se às
necessidades e às capacidades dos ouvintes (1Co 3.2; Hb 5.12-
14; 1Ts 2.7; Lc 12.42), zelosamente (At 18.15; 2Tm 4.5), com amor
fervoroso para com Deus (2Co 5.13, 14; Fp 1.15-17) e para com as
almas do seu povo (2Co 12.15; 1Ts 3.12); sinceramente (1Co 4.2;
2Co 2.17), tendo por alvo a glória de Deus (Jo 7.18; 1Ts 2.4-6) e
procurando converter (1Co 9.19-22), edificar (2Co 12.19; Ef 4.12)
e salvar as almas (1Tm 4.16; 2Tm 2.10; At 16.16-18)”.

Definição Constitucional
• A Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil define assim a
vocação: “Vocação para ofício na igreja é a chamada de Deus,
pelo Espírito Santo, mediante o testemunho interno de uma boa
consciência e a aprovação do povo de Deus, por intermédio de
um concílio” (CI/IPB artigo 108).

A Dimensão da Vocação
• “A vocação que vem de Deus tem uma conotação
essencialmente abrangente. Devemos compreender que o
termo vocação tem um sentido muito mais amplo do que uma
simples forma de servir a Deus. Biblicamente, a vocação ocorre
primeiro no chamado para receber a salvação em Cristo e fazer
parte da Igreja do Senhor em santificação.
• Só depois é que vem a convocação para servi-lo. Esse depois
pode nem sequer existir, pois a vocação para a salvação e a
vocação para o serviço na igreja acontecem
concomitantemente. Em outras palavras, no momento em que
somos salvos somos também separados para alguma missão no
reino de Deus. O conhecimento da missão é que pode vir algum
tempo depois” (Kléos, p. 23-24).
• Há várias passagens onde Paulo ensina a vocação redentora – o
chamado para a salvação em Cristo (cf. 1Tm 6.12; Rm 1.6-7; 1Co
1.2, 9; Ef 1.18; 4.1-4). O texto mais impressionante é, sem dúvida, o
de Romanos: “aos que de antemão conheceu... predestinou; e
aos predestinou, a esses também chamou” (Rm 8.29-30).
• “Paralelamente à vocação redentora, vemos a vocação para o
serviço. Essa vocação ocorre juntamente com vocação
redentora ou a sucede imediatamente. Quando Deus salva
alguém, ele o faz visando o serviço do seu reino. Não são duas
vocações distintas; é uma só, com duplo aspecto, fazendo parte
de um grande e abrangente projeto predeterminado por Deus”
(Kléos. p.25).
• É importante ressaltar que, na Bíblia, esses dois aspectos
vocacionais estão de tal forma vinculados que, às vezes, torna-
se difícil distingui-los exegeticamente e diferenciar o significado
deles no texto” (Kléos. p. 25).
• Veja, por exemplo, Paulo mencionando as duas vocações ao
mesmo tempo (2Co 5.18-20; Rm 1.5).
• Portanto, “a vocação redentora e a vocação para o serviço são
tão inseparáveis que podemos insistir em dizer que, no tocante
aos filhos de Deus, eleitos em Cristo Jesus, não há vocação para
a salvação sem vocação para o serviço; e o contrário também
não ocorre. Em outras palavras, quem é chamado para ser salvo
é chamado para servir. A questão é apenas o estilo de missão a
desempenhar (Kléos, p. 26).
Aplicações
• Você realmente foi chamado à salvação em Cristo Jesus? Que
provas você tem dado disso? Quais frutos você evidencia da sua
regeneração?
• Você realmente está certo de que Deus o chamou para o
sagrado ministério da Palavra? Quais evidências você tem dado
deste chamado?
• Por que você acredita que Deus realmente o chamou para este
ofício tão glorioso?
• Você já leu toda a Escritura? Você tem vida de oração? Você já
levou, pela graça do Espírito, pessoas aos pés de Cristo, como
pregador do evangelho? Quem sabe dentro do seu lar, na
escola, na igreja, no trabalho, na vizinhança.
• Você terá quatro anos no JMC para provar a sua vocação.
Vocação Interna e Externa

— Como vimos, todo cristão verdadeiro foi vocacionado de


maneira redentora, isto é, à salvação em Cristo Jesus (Ef 2.8). Por
outro lado, todo cristão também é vocacionado ao serviço no
Reino de Deus. Aquele que foi chamado também foi capacitado
pelo Senhor a exercer seus dons (carismas) na Igreja de Cristo
(1Co 12.8-11).
— Inegavelmente, todos os cristãos recebem de Deus a grande
missão de proclamar a mensagem da salvação. Neste sentido,
todos têm a vocação para a reconciliação – o “ide” de Jesus (Mt
28.19). Contudo, apenas alguns recebem do Senhor o
chamado/vocação para servir como pastores do rebanho de
Cristo Jesus. Esta é, por natureza, uma vocação específica no
Reino.
— Mas a pergunta que devemos nos fazer é a seguinte: Como esta
vocação específica para o pastorado se dá interna e
externamente? Isto é, de maneira pessoal, dentro do coração do
aspirante, e, também, externamente, através das pessoas que o
cercam, como a família e principalmente a igreja. Sem dúvida,
esta é uma das mais importantes e intrigantes perguntas.

Sinais Duvidosos da Vocação


— Antes de respondermos àquela pergunta, é necessário
pensarmos por um instante acerca dos sinais duvidosos relativos
à vocação pastoral. O professor Kléos (p. 75) nos ajuda a pensar
em alguns deles, tais como:
— Em primeiro lugar, a tradição familiar – por vezes, alguns jovens
pensam que devem seguir o caminho da família no serviço
eclesiástico, por assim dizer. Ele acredita nisso porque o avô, o pai
ou tio foram ou são pastores.
— Em segundo lugar, a pressão ou a indução familiar - por vezes, a
própria família acaba inculcando no jovem aquela expectativa
de ser pastor porque sempre viu (e até de maneira sincera) o
ministério como algo maravilhoso e digno.
— Em terceiro lugar, a frustração na vida profissional – outras vezes,
o aspirante ao sagrado ministério pastoral sofreu algumas
derrotas profissionais, ou não se encontrou no mercado de
trabalho, então vê no ministério um meio de realização
“profissional” ou de reconhecimento da sua família e amigos.
— Em quarto lugar, a fonte de lucro material ou “status” eclesiástico
– por pior que possa parecer, não é de se estranhar que pessoas
mal intencionadas embarquem no ministério por motivos
econômicos ou de status eclesiástico perante a sua
comunidade. Ver o ministério desta forma é, sem dúvida, um
grande prejuízo para a Igreja de Cristo aqui na terra.
— Em quinto lugar, a mera existência de algumas qualificações
naturais – comunicação, liderança, erudição, oratória, simpatia,
entusiasmo, humildade, iniciativa, criatividade são qualificações
necessárias a um pastor, mas, isoladamente, não se constituem
provas conclusivas de vocação pastoral. Uma pessoa pode ter
muitos destes sinais e não ser um verdadeiro vocacionado! (Kléos,
p. 76).

Sinais Internos da Vocação


— O que exatamente ocorre dentro do nosso coração que nos dá
a certeza da vocacão pastoral? Que sinais internos realmente
evidenciam a nossa vocação? Novamente, o professor Kléos
César, em seu livro Vocação, nos ajuda a pensar sobre estes
sinais, que analisaremos de maneira resumida e adaptada (p. 78-
80).
— Em primeiro lugar, uma intensa compulsão interior – é a ação
eficaz do Espírito Santo falando ao coração e à consciência do
indivíduo convencendo-o sobre a necessecidade do chamado
pastoral. É uma ação irresistível. O Espírito não deixa dúvida no
coração. Do mesmo modo que o verdadeiro convertido não tem
dúvida de sua salvação, o vocacionado não tem dúvida de seu
chamado. Paulo expressa essa verdade ao escrever aos
coríntios: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar,
pois sobre mim pesa essa obrigação” (1Co 9.16). “O sentido da
palavra ‘obrigação’ (anagke) é ‘necessidade’, ‘compulsão’”.
Paulo foi impulsionado pelo Espírito a se tornar um pregador
missionário do evangelho da salvação. Charles Spurgeon disse
assim sobre esta compulsão interna: “Se vocês não sentem o
calor sagrado, rogo-lhes que voltem para casa e sirvam a Deus
em suas respectivas esferas. Mas, se, com certeza, as brasas de
zimbro chamejam por dentro, não as apaguem” (Lições ao meus
Alunos, Vol. II, p. 31). Este ardor não é um emocionalismo
momentâneo, mas um sentimento santo, puro e sincero.
— Em segundo lugar, um ardor pela pregação da Palavra tantos
aos crentes quanto aos perdidos – o verdadeiro vocacionado
sente o seu coração arder pela genuína pregação da Palavra.
Ele sente a necessidade constante de compartilhar a Palavra de
Deus com os pecadores, tanto para a edificação quanto para a
conversão. Ele tem amor pelas almas que caminham a passos
largos para o inferno. Paulo é um exemplo de um vocacionado
que experimentou estes sinais internos da vocação. Ele,
indubitavelmente, sentiu aquela compulsão do Espírito (At 9.17),
como também sentiu aquela paixão pela pregação da Palavra
de Deus (At 9.20). Um homem não vocacionado jamais sentirá o
seu coração arder pela pregação das Escrituras. Ainda que ele
pregue, tal atitude não lhe passará de um peso constante.
— Em terceiro lugar, uma inquientante concientização da falta de
obreiros – o verdadeiro vocacionado percebe a grande
necessidade de obreiros para trabalharem no Reino de Deus. Ele
entende e atende ao apelo de Jesus, quando disse: “A seara é
grande e os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da
seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Lc 10.2).
— Em quarto lugar, um desejo ardente e sincero de viver e conviver
entre as ovelhas – o verdadeiro vocacionado sente no coração
aquele amor sincero pelo rebanho de Cristo. Seu desejo é estar
entre o povo de Deus, caminhar com ele, chorar e se alegrar com
ele, alimentá-lo com palavras de vida e corrigi-lo quando
necessário. Como se diz, o pastor deve ter “cheiro” de ovelha.
Quem não gosta de pessoas deve repensar a sua vocação!

Sinais Externos da Vocação


— Se, por um lado, é necessário que o vocacionado dê sinais
internos convincentes, por outro lado, é ainda mais importante
que estes sinais sejam confirmados através dos sinais externos.
Mas que sinais externos são estes que podem confirmar e
reafirmar os sinais internos?
— Em primeiro lugar, vida de leitura e meditação na Palavra - o
verdadeiro vocacionado sente prazer na leitura e na meditação
nas Escrituras (Sl 119.15, 97). A Palavra é a base e o centro do seu
ministério. Ela é tanto o seu alimento espiritual quanto sua
“ferramenta” inspirada, inerrante e suficiente de trabalho. O seu
coração e a sua vida estão pautados nela. A recomendação de
Deus a Josué deve ser uma realidade na vida do aspirante (Js
1.8).
— Em segundo lugar, vida de oração – é possível que um
vocacionado não tenha vida de oração? Certamente que não!
Aquele que foi chamado por Deus para o santo ministério da
Palavra é também um homem dependente de Deus em oração.
A sua vida, a sua família e o seu ministério estão postos em oração
aos pés do Senhor. Jesus é o nosso exemplo de homem de
oração. Ele orou por tudo e em todo o tempo (Mt 14.23; Lc 6.12).
— Em terceiro lugar, envolvimento com a Igreja – o verdadeiro
vocacionado sente prazer e alegria em servir o corpo de Cristo.
Ele se envolve com tudo quanto é possível na igreja. Ele sempre
está disposto e disponível para pregar ou lecionar quando
convidado pelo Pastor. Ele se envolve com os jovens, crianças,
senhores e senhoras. Ama discipular os novos crentes. Ama fazer
trabalhos de evangelização. É comprometido com as reuniões
do seu Concílio. Aliás, é muito estranho que um vocacionado não
aprecie as reuniões do Presbitério, uma vez que é ali que se dará
a maior parte do seu relacionamento eclesiástico. Como disse
um pastor experiente, quando perguntado por um seminarista se
era importante participar das reuniões do Presbitério: “quem não
é visto não é notado!”. Vocação pastoral inclui responder
positivamente às convocações conciliares!
— Em quarto lugar, confirmação/apoio familiar – é por demais
estranho que alguém que seja vocacionado não tenha o
testemunho favorável e confirmador, especialmente, da sua
esposa. É até compreensível que alguém que seja convertido do
catolicismo ou de outra religião não encontre apoio de sua
família quanto ao seu chamado. A dificuldade está quando nem
a própria esposa do candidato pode afirmar a vocação
ministerial do marido. Neste caso, é certo que ela jamais apoiará
o marido na sua decisão de se tornar um pastor. E caso ele venha
a se tornar um, certamente ele encontrará inúmeras dificuldades
em seu ministério relaciondas à sua família. Será, com toda a
certeza, um grande prejuízo para ele e para a igreja do Senhor.
“A esposa deve caminhar com o marido no ministério e encarar
o chamado dele, de certo modo, como seu também” (Kléos, p.
115).
— Em quinto lugar, confirmação da Igreja – “Como disse Ed
Diserens: “O Senhor vocaciona pessoas de dentro da igreja, por
meio da igreja e para a igreja” (Kléos, p. 105). Uma das
evidências externas mais fortes é a confirmação do povo de
Deus. Não basta ser um crente de bom testemunho, é preciso
que a igreja veja nele a alma, o coração e as atitudes de um
verdadeiro pastor do rebanho de Cristo. Não é possível que
apenas o vocacionado se veja como tal quando a sua própria
família e, especialmente, a sua igreja não o vê como tal. Um
indivíduo nestas circunstâncias deve dobrar os seus joelhos e
pedir que Deus ilumine o seu coração e lhe mostre claramente
qual é a sua vontade. É preciso ter humildade para reconhecer
que não é chamado ao ministério pastoral e confessar isso a
família e a igreja. Mas é necessário! Encontramos no Novo
Testamento um exemplo claro de ministério sendo confirmado
pela igreja. Em Atos 13.1-3, vemos a Igreja de Antioquia reunida
em culto, adorando, orando e jujuando, até que, pela graça do
Senhor, o Espírito Santo falou através de alguém que Paulo e
Barnabé fossem “separados” para o ministério da pregação. O
ato foi precedido e encerrado com jejum e oração.
— Em sexto lugar, confirmação pelos Concílios – Na IPB, há dois
concílios que recebem o encargo de confirmar a vocação – o
Conselho e o Presbitério. O Conselho acompanha a vida do
candidato mais de perto e tem uma palavra importante na hora
de “julgar” os sinais. O Presbitério também cumpre o seu papel
ao examinar os documentos e ao entrevistar oralmente o
candidato. É muito importante que estes concílios sejam
prudentes ao emitir um parecer; afinal, estamos falando do futuro
da vida de uma pessoa e também sobre o futuro da Igreja de
Cristo. Os concílios podem tanto abençoar o Reino do Senhor
como causar graves problemas no meio da Igreja. Embora os
concílios possam errar (e tem errado!), é salutar que os
canditados estejam atentos à voz do Senhor falando por meio
deles, seja para confirmação ou não do chamado.

Aplicações Finais
— Você escolheu o ministério por que é um meio de autoafirma-se
como pessoa para a sua família ou amigos?
— Você escolheu o ministério por que não se encontrou na vida
profissional?
— Você escolheu o ministério por que viu nele um meio de obter um
“bom salário”?
— Escolheu por que foi chamado por Deus e sentiu aquela
compulsão interior?
— Escolheu por que ama a Palavra de Deus e a vida de oração?
— Escolheu por que deseja servir o rebanho de Deus?
— Escolheu por que está disposto a entregar, gastar e sacrificar a
sua vida pela igreja de Cristo?
— Que sinais internos e externos você tem demonstrado da sua
vocação?
— As pessoas que o cercam, família, igreja e concílios, podem dar
testemunho favorável ao seu chamado para o ministério
pastoral?
Vocação de Todos os Crentes
Os Estilos da Vocação

— Como já temos visto, todos os verdadeiros crentes são


vocacionados por Deus, tanto para a salvação quanto para a
proclamação do evangelho aos perdidos. Isto quer dizer que a
salvação implica necessariamente em serviço ao Senhor.
Portanto, vocação é igual a serviço.
— O Senhor, entretanto, chama cada um para um serviço
específico dentro do Reino. Nem todos são chamados para
serem pastores, mestres, professores ou missionários. Cada um
tem de Deus o seu chamado. O apóstolo Paulo, escrevendo aos
Coríntios 12.4-11, nos ensina sobre a grande diversidade de
serviços que Deus tem para os vocacionados (cf. Ef 4.7-16).

Vocação no Antigo Testamento


— Aprouve ao Senhor chamar muitas pessoas no Antigo Testamento
para tarefas especiais. Cada qual com suas características.

O Sacerdote
• O sacerdote era um homem com a missão de representar o povo
diante de Deus por meio de ofertas e sacrifícios (cf. Gn 14.18; Êx
40.13; Lv 6.6, 7). O sacerdote também tinha a missão de instruir o
povo na Lei de Deus (Ml 2.8). Esdras exerceu tanto o papel de
sacerdote quanto de escriba e mestre (Ed 7.11). Arão e seus filhos
foram os primeiros sacerdotes instituídos por Deus (Êx 28.1)

O Profeta
— O profeta era um homem vocacionado por Deus para ser a voz
do Senhor junto ao povo. Ele recebia a mensagem de Deus, por
inspiração direta do Espírito Santo, e entregava ao povo (2Pe
1.19-21; Hb 1.1). Por vezes, o profeta predizia acontecimentos a
alguém, em especial, ou ao povo, em geral, entretanto, sua
principal função era dizer aquilo que Deus estava requerendo do
seu povo (Jr 1.5). A mensagem profética também continha uma
característica essencialmente exortativa quanto ao
arrependimento e a santidade (Is 1.10-20). Muitos foram os
profetas do Antigo Testamento: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel,
Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, além de
outros como Samuel, Elias, Eliseu, Micaías.

O Juíz
• Juíz era um homem vocacionado por Deus para julgar as causas
do povo de Israel (Ed 7.25; At 13.20). Em alguns momentos, ele
também assumia o papel de libertador do povo contra a
opressão dos inimigos. Os principais juízes são Eúde, Gideão,
Jefté, Sansão, Eli e Samuel.

O Rei
— O rei era o homem vocacionado por Deus para governar o seu
povo. O Senhor já havia prescrito o que ele esperava de um rei
(cf. Dt 17.14-20). Sabemos que Saul foi o primeiro rei de Israel,
escolhido por Deus (1Sm 10.20-23). Depois veio Davi (1Sm 16.12-
13), o grande rei de Israel. Depois de Davi a monarquia
estabeleceu-se em Israel. Muitos reis foram notáveis, como
Salomão, Josafá e Josias, ao passo que outros foram uma lástima.

O Líder
— Eram homens vocacionados por Deus para guiar e orientar o
povo. Não eram sacerdotes, profetas ou juízes, mas foram muito
importantes. Dois exemplos clássicos são Josué e Neemias. Josué
conduziu o povo na entrada da terra prometida e em várias
guerras contras os cananeus (Êx 33.11; Nm 27.18-23). Neemias
conduziu a reconstrução dos muros, servindo, inclusive como
governador (Ne 1.1; 8.9). Foram homens muito usados por Deus
em ocasiões importantíssimas na história do povo de Israel.

O Escriba
— Eram homens com talentos especiais na área da escrita. Também
eram chamados de copistas. Diz a tradição que ao escreverem
o nome de Deus (Yahweh) eles lavavam as mãos e trocavam a
pena. Alguns deles fizeram registros, sob inspiração divina,
importantíssimos (Ed 7.11; Ne 8.9).

Vocação no Novo Testamento

— Dadas as diferenças, Deus chamou muitas pessoas para o


servirem com seus dons e talentos na Nova Aliança.

O Sacerdote
• Esta importante função do A.T. não é mais encontrada na Igreja
Cristã. Alguns são mencionados ainda no período de transição,
como Caifás (Jo 11.49-51) e Zacarias (Lc 1.5-10). Esta função não
existe mais, pois Jesus cumpriu plenamente este papel, como
sumo sacerdote perfeito e eterno (cf. Hb 3.1; 4.14; 5.5, 6; 6.20; 7.26;
9.1).

O Apóstolo
— Eram aqueles homens comissionados diretamente por Cristo para
levarem a mensagem do Reino de Deus (At 4.33; ). Eles também
lançaram os fundamentos da Igreja Cristã. Eram homens dotados
de uma vocação especialíssima de autoridade (Mt 10.1-4). Além
dos doze (Matias que substituiu Judas), Paulo também foi
chamado ao apostolado (cf. 1Co 15.8; 2Co 1.1). Sabemos que o
apostolado cessou com a morte de João. Hoje não temos mais o
ministério apostólico.

O Profeta
— O profeta era aquele encarregado de receber a mensagem de
Deus e entregá-la ao povo. Em alguns momentos, eles até
prediziam certos eventos (At 11.27-28), entretanto, sua principal
tarefa na Igreja era pregar a Palavra de Deus, interpretando e
aplicando as Escrituras (13.1; 15.32; 21.10; 1Co 12.28, 29. 14.32; Ef
4.11). Falando sobre o papel profético no Novo Testamento, Sttot
afirma: “Mas o que era um profeta? Para o A.T., era o instrumento,
pelo qual Deus falava diretamente... o profeta era a ‘boca’ de
Deus... A característica essencial do profeta não era prever o
futuro, mas falar as palavras de Deus. O pregador cristão não é
um profeta neste sentido. Ele não recebe qualquer revelação
original, direta; sua tarefa é expor a revelação que já foi
definitivamente dada... ele não é ‘inspirado’, como eram os
profetas do A.T., mas iluminado pelo Espírito Santo. A última vez
na Bíblia em que aparece a expressão “veio a Palavra de Deus”
[Lc 3.2], é com relação a João Batista... A profecia é mencionada
como um dom espiritual, mas este dom não é mais concedido a
pessoas na igreja. Agora que a Palavra de Deus escrita está
disponível a todos nós, a Palavra de Deus no discurso profético
não é mais necessária. (Kléos, p. 39-40).

O Mestre
— O Mestre era aquele que tinha a função básica de ensinar e
instruir pessoas (At 13.1; 1Co 12.28; Ef 4.11; Hb 5.12; Tg 3.1). Seu
trabalho, nos dias iniciais da Igreja, era lidar com a interpretação
do Antigo Testamento. O próprio Senhor Jesus foi chamado de
“mestre” (Rabi) (Jo 3.2). Nicodemos era mestre em Israel (Jo 3.6).
Paulo também se denomina mestre (1 Tm 2.7; 2Tm 1.11). Pedro diz
que “aquele que fala (mestre!?), fale de acordo com os oráculos
de Deus” (1Pe 4.11). Kistemaker afirma que, segundo Paulo, o
trabalho de mestre está muito relacionado ao do Pastor (Ef 4.11).
Muito do tempo do pastor é dedicado ao ensino do povo (1Co
12.28, p. 545).

O Pastor
— O pastor era chamado por Deus para apascentar o rebanho. Ele
era encarregado de cuidar da vida espiritual dos crentes da
igreja local (1Ts 5.12-13). Os pastores também são denominados
nas Escrituras de Presbíteros Docentes (1Tm 5.17). Pedro também
faz referência ao trabalho dos pastores (1Pe 5.1-4). Há que se
afirmar que não há nenhuma base hermenêutica, exegética ou
confessional para o ofício de pastora, presbítera ou diaconisa na
Igreja do Senhor. Aqueles que ordenam mulheres ao oficialato o
fazem com base no aspecto cultural, e não bíblico. Se a cultura
for, portanto, o elemento balizador da igreja, que Deus tenha
misericórdia do seu povo nos dias futuros!

Líder/Presidente
— Eram homens que se destacavam na Igreja com “espírito” de
liderança e direção (cf. Rm 12.8; At 15.22). Este pode ser um dom
associado à uma vocação, como o pastorado, uma vez que
todo pastor deve liderar/presidir o seu rebanho. Ademais, este
dom pode estender-se também além das fronteiras da igreja
local chegando aos concílios da denominação.

Evangelista
— Eram pessoas que recebiam a incumbência de anunciar o
evangelho, especialmente em lugares onde Cristo ainda não era
conhecido. Lucas registra que o Diácono Filipe também era um
evangelista na Igreja Primitiva (cf. At 6.5; 8.5, 12, 13; 21.8). Paulo
também inclui o evangelista entre os carismas de Ef 4.11. Paulo
ordenou ao jovem pastor Timóteo que fizesse o trabalho de um
evangelista (2Tm 4.5). É certo que a vocação pastoral também
inclui em seu bojo o aspecto evangelístico, pois todo pastor é um
pregador do evangelho de Cristo. É fato também, que na
multiforme graça de Deus, alguns pastores são chamados com
este aspecto evangelístico muito aguçado. São evangelistas
natos.

Presbítero Regente
— É aquele chamado por Deus para, juntamente com o Presbítero
Docente (Pastor), ajudar na administração da igreja local. Mas
não apenas isto, ele também deve apascentar o rebanho de
Deus (cf. 1Pe 5.1-4). Ele é também denominado na Bíblia de o
episkopos (aquele que olha de cima, superintendente). A ordem
de Paulo é que em cada igreja fosse promovida a eleição de
presbíteros, com oração e jejum, isto é, dependência de Deus,
na direção segura do Espírito Santo (At 14.22-23; Tt 1.5). Paulo dá
instruções claras sobre as qualificações que os aspirantes aos
presbiterato deveriam ter (1Tm 3.1-7). Qualificações estas que
não devem ser menosprezadas pela igreja. Conforme da CI-IPB,
art. 50, 51, compete ao presbítero: Art. 50. “O Presbítero Regente
é o representante imediato do povo, por este eleito e ordenado
pelo Conselho, para, juntamente com o Pastor, exercer o
governo e a disciplina e zelar pelos interesses da igreja a que
pertencer, bem como pelos de toda a comunidade, quando
para isso eleito ou designado.“ Conforme da CI-IPB, art. 50, 51,
compete ao presbítero: Art. 51.
a) Levar ao conhecimento do Conselho as faltas que não puder
corrigir por meio de admoestações particulares;
b) Auxiliar o pastor no trabalho de visitas;
c) Instruir os neófitos, consolar os aflitos e cuidar da infância e da
juventude;
d) Orar com os crentes por eles;
e) Informar o pastor dos casos de doenças e aflições;
f) Distribuir os elementos da Santa Ceia;
g) Tomar parte na ordenação de ministros e oficiais;
h) Representar o Conselho no Presbitério, este no Sínodo e no
Supremo Concílio.

Diácono
— É aquele chamado por Deus para servir o povo da igreja
(diakoneo – aquele que serve). Sua principal tarefa na Igreja
Primitiva era servir às mesas, isto é, levar a provisão material para
os pobres e necessitados da comunidade. Era,
fundamentalmente, para esta função que eles foram eleitos e
designados, conforme At 6.1-3. Tal como aqueles que almejam o
presbiterato, aqueles que aspiravam ao diaconato deveriam ter
também certas qualidades essenciais para o exercício do ofício
(1Tm 3.8-10; 12-13). A CI-IPB, art. 53, descreve assim este ofício: “O
diácono é o oficial eleito pela igreja e ordenado pelo Conselho,
para, sob a supervisão deste, dedicar-se especialmente:
a) À arrecadação de ofertas para fins piedosos;
b) Ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos;
c) À manutenção da ordem e reverência nos lugares reservados ao
serviço divino;
d) Exercer a fiscalização para que haja boa ordem na Casa de Deus
e suas dependências.

Aplicações
• A vocação é um chamado de Deus ao homem. Somente
permanecerão no ministério pastoral aqueles que
verdadeiramente foram vocacionados pelo Senhor. Se insistirem,
irão enfrentar grandes dificuldades pessoais, familiares e
eclesiásticos. Se você realmente foi vocacionado por Deus para
o sagrado ministério da Palavra, a sua vida, a sua família e o seu
ministério serão uma bênção!
• Se você é realmente um vocacionado, saiba que Deus irá usá-lo
com seus dons e talentos pessoais para abençoar a Igreja do
Senhor. Cada pastor tem o seu próprio perfil ministerial. Uns são
mais dados ao ensino, outros à visitação, outros ao
aconselhamento, outros à liderança, outros à evangelização,
outros misericórdia, e assim por diante. Isto não significa que o
pastor não deva se esforçar para exercer de algum modo cada
um destes aspectos. Nenhum pastor é capaz de desenvolver
todos eles com maestria. Ele terá pontos fortes e pontos fracos.
Cabe ao pastor perceber cada um deles e se esforçar para
melhor naquilo que é mais fraco e se tornar ainda mais excelente
naquilo que é mais forte.
• Se você for um vocacionado para o ministério pastoral,
certamente priorizará a leitura da Palavra e a oração. Além disso,
irá apascentar amorosamente o rebanho que Deus lhe confiou.
Irá pregar a Palavra com fidelidade, ensinar com dedicação,
aconselhar com compaixão, liderar com intrepidez, visitar com
satisfação, e assim por diante. Este é o tipo de ministério que
agrada a Deus e recebe a sua bênção e a sua confirmação.
Vocação e Separação para o Ministério
Os Pilares da Vocação

— Quais são os pilares fundametais de um ministério realmente sério


e abençoado por Deus? O professor Kléos César nos ajuda a
refletir sobre isto, apontando pelo menos 7 pilares fundamentais.
São eles: *pontos resumidos e adaptados

A Conversão
— Antes de ser um pastor, o vocacionado precisa ter a certeza
absoluta e inquestionável da sua conversão. O Dr. Charlie
Wingard afirma que “um ministro não pode ser um recém
convertido, mas um convertido. O fundamento mais importante
de um ministro é saber que é um cristão verdadeiro.” (D.Min.
CPAJ). Como alguém não convertido irá falar e pregar sobre
aquilo que ele nunca experimentou? Poderá ele dar aos outros
aquilo que não tem? Um ministro não convertido certamente irá
causar grandes danos ao rebanho de Cristo. Estar no ministério
sem ser um convertido é algo muito perigoso e danoso para
todos que cercam este “ministro”. Portanto, a primeira pergunta
a ser feita, antes mesmo de saber se realmente é ou não um
vocacionado, é se sou um genuíno convertido. Se nasci de novo,
do alto, do Espírito. É possível que haja muitos pastores
“convencidos” e não “convertidos”, que são lobos vestidos de
peles de ovelhas, e que estão minando aos poucos as igrejas
locais. Você é um convertido? Jesus fez uma afirmação severa
ao dizer que os fariseus “eram cegos guiando cegos” (Mt 15.14;
cf. Jo 12.26; Mt 7.15-23). Portanto, a vocação pressupõe a
conversão. Esta é o pilar daquela. É possível, claro, que alguém
não convertido se aproprie carnalmente do ministério,
entretanto, seus frutos irão revelar quem ele realmente é, mais
cedo ou mais tarde (At 8.20-23). Quando vemos tantos ministérios
indo de mal a pior, é preciso questionar se realmente tais ministros
são de fato convertidos ao Senhor Jesus. É evidente que a
conversão por si só não é base para um ministério abençaodo,
mas certamente é o fundamento. Deste modo, a primeira
pergunta que os examinadores deveriam fazer a um candidato
é: Você é um convertido? Como e quando se deu a sua
experiência de conversão? Após a conversão houve vida de
oração, leitura da Palavra e testemunho autêntico? Estas são
perguntas fundamentais que deveriam ser feitas e respondidas
com toda a sinceridade do coração. Devemos nos lembrar que
é o Senhor quem sonda os corações dos homens! Tomando Paulo
como exemplo, podemos verificar que a sua vocação estava
baseada no fundamento da sua conversão (cf. 2Co 5.18; 11.10;
12.19; 4.13-14; Gl 1.13-16; 1Ts 1.5). Outro exemplo de um jovem
ministro que era realmente convertido, e que tem servido de
parâmetro para os nossos estudos vocacionais, é Timóteo (cf. 2Tm
1.4-5).

A Convicção
— Para qualquer função que venhamos a exercer na vida é preciso
ter plena convicção, especialmente, se tratando de vocação
pastoral. O pastor não lida apenas com pessoas, ele lida com
vidas eternas. Ele se torna responsável diante de Deus pelo
progresso ou regresso do seu rebanho. Deus irá cobrar isto de
cada ministro. O vocacionado precisa estar verdadeiramente
convicto do seu chamado. Não pode haver, se quer, uma ponta
de dúvida no coração. Ele precisa examinar todas as evidências
internas e externas da sua vocação para ter certeza. Se você
não tem convicção plena do seu chamado é necessário orar
mais e conversar com pastores mais experientes sobre a sua
vocação. Um pastor sem convicção do seu chamado será como
uma palha ou a onda do mar. Ele vai de uma lado para outro
sem se encontrar naquilo que faz. Um pastor sem convicção
jamais se sentirá realizado, pelo contrário, vai viver eternamente
frustrado e desanimado. Em cada dificuldade ou provação a
dúvida baterá à porta do coração:Realmente sou um
vocacionado? Novamente, vemos em Paulo um pastor-
missionário que realmente tinha a mais plena convicção do seu
chamado (cf. Rm 1.1; 1Co 1.1, 17; Gl 2.6-9; 1Tm 2.7). Paulo jamais
titubeou em sua convicção sobre a vocação para o ministério
pastoral. Um pastor não pode jamais viver em dúvida no seu
coração quanto ao chamado de Deus. Este chamado é
inconfundível!

A Submissão
— O vocacionado é alguém submisso às autoridades eclesiásticas
– Conselho e Presbitério. Submissão não é uma opção, mas uma
obrigação do ministro. Aquele que se diz um vocacionado, mas
não tem este perfil de submissão, será um dominador e um tirano,
mas jamais um pastor de ovelhas. O pastor deve ser submisso à
voz de Deus em todo o tempo. Ele deve estar pronto para se
dispor a ir aonde Deus quer que ele vá. Vemos na Bíblia muitos
exemplos de submissão ao Senhor, como Noé (Gn 6.23), Abraão
(Gn 12.1-3), Moisés (Hb 11.23-29), Davi (At 13.22), Paulo (Gl 1.16-
17; At 26.19; 20.22-24). O próprio Senhor Jesus foi submisso ao Pai
(Mt 26.39, 42; Jo 6.38-40).

A Santificação
— A santificação é um dos pilares fundamentais no ministério
pastoral. Um pastor que não cultiva uma vida santa estará
sempre na berlinda da imoralidade. A ordem para a santificação
é muito clara: “Sede santos” (1Pe 1.13-16; cf. Rm 14.22; Hb 12.14).
Ao falar sobre as qualificações para o ministério, Paulo exorta que
o ministro tenha uma vida irrepreensível na sua vida moral, na sua
conduta, dentro e fora do seu lar (1Tm 3.2). Os cuidados com os
escândalos sexuais e econômicos devem ser redobrados. Não
poucos pastores têm caído em seus ministérios por estas razões.
Escrevendo aos coríntios, Paulo os alerta sobre o perigo do
escândalo para a Igreja de Cristo (2Co 6.3-10). Os ministros
devem ser padrão de vida e procedimento para os cristãos, assim
exortou Paulo (2Tm 2.1; 1Tm 4.12). Os ministros devem tomar
cuidado para que não venham eles a provar aquilo que eles
reprovam. Cuidado para não praticarem no oculto aquilo que
condenam em público (1Co 9.27). Os sacerdotes tinham escritos
na testa o seguinte: “Santidade ao Senhor” (Êx 28.36-38).

A Humildade
— A humildade é um fator sine qua non para o exercício do
pastorado. Um ministro pode conhecer e zelar muito pela
doutrina, mas se ele não tiver humildade ao transmitir e viver as
verdades que prega, ele dificilmente será ouvido por sua
congregação. Charlie Wingard diz que o orgulho, que é o oposto
da humildade, possui três aspectos básicos: 1. orgulho do
conhecimento, 2. orgulho da posição, 3. orgulho do sucesso.
Escrevendo aos coríntios, a despeito de todo conhecimento e
autoridade, Paulo se apresenta como o “remador de galés”
(hypereta) (1Co 4.1; cf. 1.26-31; Rm 12.3; Fp 2.3; Cl 3.12; 1Tm 3.1-
2). O próprio Senhor Jesus, mesmo sendo Deus, ensinou sobre a
necessidade da humildade (Mt 20.20-28). Quando questionado
por seus discípulos sobre a multidão que seguia Jesus e não mais
ele, João Batista respondeu: “Convém que Ele cresça e eu
diminua” (Jo 3.30; cf. 1.26-28). O ministro humilde busca a glória
de Cristo em tudo quanto faz; e, ao mesmo tempo, também se
coloca na posição de alguém que precisa ser orientado e até
exortado. O orgulho e a humildade não combinam, como o óleo
e a água que não se misturam.

A Dedicação
— O verdadeiro vocacionado é aquele que busca dedicação ao
ministério. Aliás, o pastor é aquele que se dedica integral e
exclusivamente ao serviço do Senhor.
— Sobre isto, Paulo exorta o jovem Pastor Timóteo: “Nenhum
soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque
o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou” (2Tm 2.4;
cf Rm 12.6-8, 11; At 20.24).
— Uma questão que precisa ser bem entendida é o fator tempo, ou
seja, o vocacionado deve dividir seu tempo entre a vocação
para o ministério e outra atividade? Kléos nos ajuda:
— “Primeiro, que existe diferença entre tempo integral e dedicação
integral. Há vocacionados de tempo integral sem dedicação
integral. Isto acontece quando o ministro administra mal o seu
tempo de modo que não exerce diligentemente o seu
ministério”.
— “Segundo, em princípio, as Escrituras indicam o tempo integral
com dedicação integral para os que exercem o sagrado
ministério. O ideal é tempo e dedicação integral”.
— “Terceiro, que as circunstâncias temporárias podem levar o
ministro a ter que “fazer tendas”, como foi o caso de Paulo (At
18.1-4). A dificuldade, porém, está quando o fazer tendas se
torna a prioridade e não o ministério pastoral. Atenção!!!”
— Dedicação integral e exclusiva no ministério implica basicamente
os seguintes pontos:
a) Tempo devocional com piedade
b) Tempo de estudos com qualidade
c) Tempo de pastoreio (aconselhamento e visitação) com
sistematicidade
d) Tempo pessoal com racionalidade.
• Dedicação no ministério quer dizer trabalho, e trabalho duro,
focado, concentrado (Jo 9.4; 1Co 15.10; 3.9; 9.16; 2Ts 3.7). No
ministério não há lugar para vocacionados que não gostam de
acordar cedo, labutar e preencher seu dia com tarefas
ministeriais. Não estamos induzindo ninguém a ser um workaholic
(viciado em trabalho), negligenciando sua devoção pessoal e
família, mas trabalhar com diligência

O Amor
— O verdadeiro vocacionado é aquele que, acima de tudo, ama
a Deus de todo o seu coração e ama a Igreja do Senhor. Ele sente
compaixão pelas ovelhas e pelas almas perdidas. Jesus nos
ensina que “o bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11; cf.
Jo 15.12-13). Aquele que não é pastor não ama o seu rebanho a
ponto de dar a sua vida por ele (Jo 10.13). Paulo declarou o seu
amor pelo rebanho (2Co 6.11; 12.15; 1Ts 2.7-8). Paulo demonstrou
todo o seu amor pelos irmãos de Éfeso, no seu último encontro
com os presbíteros daquela Igreja na Praia de Mileto (At 20.17-
38). Não era um amor fingido, mas sincero. Não era um amor
pragmático, pensando em benefícios próprios, mas abnegado,
puro, legítimo. O pastor que ama o seu rebanho irá alimentá-lo
com palavras de vida. Irá exortá-lo e consolá-lo quando
necessário. Irá se alegrar e rir com ele. Irá abrir mão de seu tempo,
muitas vezes, para aconselhar, visitar, dar o ombro e chorar
juntos. Quem não ama as pessoas não pode ser pastor, não pode
ser um ministro da Palavra de Cristo, que ordenou que
amássemos os nossos irmãos (cf. Jo 13.34; 15.12; 15.17).
Aplicações
• Você tem certeza absoluta que é um crente em Jesus Cristo e
não um convencido na igreja? Quais evidências em sua vida
revelam a sua conversão?
• Você está convicto do seu chamado? Há paz no seu coração?
Pessoas ao seu redor podem atestar sua vocação? Você estaria
disposto a abandonar qualquer posição e comodidade para
servir ao Senhor?
• Você é alguém submisso? Submisso ao Conselho, ao Presbitério,
ao Tutor? Você estaria disposto a trabalhar, por direção do
presbitério, numa pequena congregação, bastante afastada do
grande centro, ganhando uma pequena côngrua?
• Você tem uma vida de santificação? Você tem buscado
mortificar os feitos da carne e encher-se abundantemente do
Espírito Santo? Há frutos reais na sua vida que provam isto?
• Você tem sido alguém humilde? Você ensina com humildade
aqueles crentes mais simples do que você? Quando você não
sabe uma resposta, diz que não sabe e procura encontrá-la?
Cuidado para não ficar soberbo e jactancioso com o
conhecimento adquirido no transcorrer do curso. Esteja aberto às
boas críticas. Lembre-se que você é apenas um servo (doulos) do
Senhor.
• Você tem se dedicado com o máximo empenho no serviço do
Senhor? Pregar, aconselhar, visitar, discipular, ensinar, participar
de reuniões, tem sido um peso para você?
• Você realmente tem amado aquelas ovelhas que estão sob o
seu cuidado pastoral? Você ama aquelas pessoas mais fracas,
mais simples, mais complicadas? Como você tem demonstrado
amor pelo seu rebanho? Você se envolve com o seu rebanho?
A Vocação para um Trabalho Glorioso

— O ministério pastoral é diferente de qualquer outro ofício no


mundo. Já temos afirmado categoricamente que o ministério
pastoral não é profissão. Isto é, o pastor não entra no ministério
por dinheiro, por fama, por cargo, benessis ou qualquer outra
coisa relacionada a isto. O seu coração deve estar motivado
pelo serviço ao Senhor.
— Qualquer motivação que não seja esta é pecaminosa e revela
um chamado duvidoso ou não autêntico.
— O verdadeiro vocacionado, cujas evidências internas e externas
confirmam e reafirmam o seu chamado, entende que a sua
vocação é algo glorioso. Paulo afirmou que tanto a salvação
quanto o ministério são para a glória de Cristo (2Co 10.17; Ef 1.6,
12; 3.21; 1Ts 2.6; 1Tm 1.11; )
— O propósito último do ministério não é tornar as pessoas melhores
ou fazer a igreja crescer numérica ou economicamente, mas
glorificar a Cristo como Salvador e Senhor absoluto. Paulo disse
que “tudo é por meio dEle e para Ele” (Rm 11.36).
— Se Cristo não for o alvo do nosso ministério, então nada do que
venhamos a fazer tem valor real.
— Diante do fato de que o nosso chamado é algo glorioso por
natureza, há três aspetos que devemos analisar.

A Relevância
— Em primeiro lugar, o ministério pastoral é relevante (indispensável,
importante, necessário) porque foi Deus quem estabeleceu este
ofício para sua Igreja (Ef 4.11).
— O pastorado não é uma invenção humana, mas uma
designação soberanamente divina. Os verdadeiros pastores são
chamados e designados por Cristo para pastorearem a sua Igreja
amada, comprada com seu próprio sangue, cujo Grande e
Principal Pastor é o próprio Senhor Jesus Cristo (Hb 13.20; 1Pe 2.25;
5.4).
— Em segundo lugar, o ministério pastoral é relevante porque
organiza e mantém em ordem a vida espiritual, doutrinária e
administrativa da Igreja de Cristo (Tt 1.15; 1Tm 3.15; 1Pe 5.2, 3). O
pastor é chamado por Jesus de o “anjo da Igreja” (Ap 2.1, 8, 12,
18; 3.1, 7, 14), pois tem a missão de zelar pelas almas dos que
estão sob o seu cuidado pastoral (Hb 13.17). Que grande missão!
— Em terceiro lugar, o ministério pastoral é relevante porque, além
de alimentar o rebanho com palavras de vida e verdade,
protege o rebanho dos ataques malígnos, quer de dentro ou de
fora do aprisco. Paulo exortou os Presbíteros/Pastores da Igreja de
Éfeso sobre essa grande tarefa (At 20.28-32 cf. Tt 1.10-15). Calvino
disse que o Pastor precisa ter duas vozes, uma para consolar o
rebanho e outra para afugentar os lobos.

A Reverência
— Um ministério pastoral longo e profícuo é marcado, sem dúvida,
pela reverência do ministro. A reverência é aquele sentimento de
“profundo respeito”, “consideração” e “temor” pelas coisas do
Senhor. Um ministro que não leva a sério o ministério, não leva a
sério Aquele que o vocacionou. O ministério não é lugar para
“meninos”, mas para homens tementes a Deus. A reverência
pode ser evidenciada em pelo menos cinco áreas do ministério
pastoral.
— Em primeiro lugar, o ministério pastoral deve ser reverente quanto
à vida pessoal do pastor (1Tm 4.12). A vida do ministro deve ser
“irrepreensível” (1Tm 3.2). Não pode haver nada que deponha
contra ele ou a sua família (Tt 1.7). Suas ações devem ornar com
a sua doutrina. O pastor deve ser visto como alguém sério em seu
procedimento pessoal. É evidente que o ministro não precisa e
não deve ser carrancudo, sisudo ou mal-humorado na igreja ou
fora dela. Não devemos pensar que seriedade é ser assim. É
possível, sim, ser alegre, “carismático” (contagiante), simpático,
sem deixar de ser reverente na vida pessoal.
— Em segundo lugar, o ministério pastoral deve ser reverente quanto
à vida familiar (1Tm 3.4; Tt 1.6). A família do ministro diz muito sobre
a sua reverência. Se a sua mulher e filhos não dão a devida
importância aos trabalhos da igreja, chegam atrasados, não
participam ativamente, lendo a Palavra e orando, atrapalham o
andamento dos estudos e cultos, é evidente que não há
reverência neste lar. Tais atitudes, além de serem péssimos
exemplos para os demais na igreja local, minam o minitério
pastoral, desacreditando tal pastor. A família do ministro deve ser
a primeira a dar exemplo de reverência dentro e fora da igreja.
A família pastoral, quer queira ou não, torna-se um padrão de
vida para toda a igreja. Os crentes estarão observando
minuciosamente cada passo da família pastoral. Cuidado!
— Em terceiro lugar, o ministério pastoral deve ser reverente quanto
à oratória (Tt 2.7, 8; Hb 12.28). Por oratória, entenda-se conteúdo
e maneira de se expressar. A linguagem do pastor deve ser
simples, mas jamais simplista. Deve ser clara e direta, mas jamais
escandalizadora. Deve ser honesta, mas jamais destruidora e
humilhante. As palavras do pastor devem ser bem trabalhadas,
apresentadas com amor, temperança, temor, sobriedade,
humildade, clareza, encorajamento e assim por diante. A palavra
do pastor pode tanto edificar como destruir uma igreja. Pode
tanto encorajar alguns na fé, como desviar outros. A palavra do
pastor tem um peso muito grande na vida dos seus ouvintes. A
linguagem do pastor deve ser permeada da sã doutrina (Tt 2.1;
1Pe 4.11).
— Em quarto lugar, o ministério pastoral deve ser reverente quanto
à vestimenta (1Tm 4.2). A roupa que usamos enquanto seres
humanos diz muito sobre a nossa cultura, gostos pessoais e visão
do nosso trabalho. Seria estranho ver um médico ou padeiro
vestido com roupa de mecânico, ou vice-versa. Rev. Boanerges
Ribeiro dizia que para cada função há um roupa adequada. Em
nossa cultura americanizada, o que prevalece é o uso comum
do social, terno e gravata. O que se espera de um ministro
reverente é que ele se vista adequadamente para o culto ao
Senhor. Devemos tomar cuidado com as polarizações sobre este
assunto. De um lado, há aqueles que defendem o uso da toga,
típica na magistratura. Por outro, há aqueles que rejeitam por
completo o traje social, e partem para o modismo. A grande dica
que podemos dar é a seguinte: pecar pelo excesso é melhor do
que pecar pela falta. Já dizia o velho ditado que “é melhor ter o
que tirar a não ter o que pôr”. Nenhum pregador irá morrer se
usar terno e gravata, por uma ou duas horas, num dia de muito
calor. Cuidado para não escandalizar ou afrontar a liderança por
uma mera questão de consciência particular. Seja prudente!
— Em quinto lugar, o ministério pastoral deve ser reverente quanto
aos relacionamentos pessoais na igreja e fora dela (1Tm 5.1, 2). O
ministro precisa ser muito reverente ao tratar as diversas classes
de pessoas na igreja. É preciso ser reverente ao dirigir-se aos mais
velhos. Exorte-os como a pais e mães. Cuidado ao exortar as
jovens senhoras. Jamais as aconselhe sem a presença de alguém
por perto. Cuidado para não permitir que as moças e as
adolescentes da igreja infrinjam os limites da reverência e do
respeito, com brincadeiras, piadas e atitudes duvidosas. Seja
cuidadoso com cumprimentos gerais ou individuais. Seja o mais
afetuoso possível, sem deixar de ser respeitoso. O pastor, com
suas palavras e gestos, jamais pode dar margem a uma dupla
interpretação. Seja cauteloso!

Zelo
• Por zelo, entendemos aquele grande cuidado, interesse e
dedicação aplicado às coisas relacionadas ao ministério
pastoral. Um pastor deve ser zeloso para com a Igreja de Cristo,
jamais relapso, desmazelado ou desleixado. Se a Igreja é a
“noiva” de Cristo, então, o “amigo” do noivo deve trabalhar para
a apresentar como noiva gloriosa. Não poucos pastores têm
falhado quanto ao zelo. O pastor deve ter a conciência de que
está servindo o Deus vivo, que é galardoador daqueles que o
servem com dignidade e amor. Um pastor que não é zeloso em
seu ministério certamente não colherá as bênçãos do Senhor da
Igreja. O pastor deve ser zeloso, em pelo menos, sete áreas.
— Em primeiro lugar, o pastor deve ser zeloso quanto à sua vida
espiritual. Paulo exortou o pastor Timóteo a ser zeloso na prática
da piedade pessoal (1Tm 3.7, 8). O pastor não pode jamais
descuidar da sua vida devocional – leitura, meditação e oração.
Ele não pode dar brecha para que o inimigo trabalhe em sua
vida. O exercício espiritual é o que alimenta e protege o pastor
contra a corrupção moral. Quando o pastor negligencia a sua
vida espiritual, ele não terá mais com o que alimentar a sua
congregação. Ele, rapidamente, perderá o seu entusiasmo e
paixão pelas coisas de Deus. O seu coração não irá mais arder
como antes pela pregação da Palavra. Seu conteúdo será raso.
O desprezo pela comunhão com Deus é o princípio do declínio
espiritual (cf. 2Sm 12.9). Atenção!
— Em segundo lugar, o pastor deve ser zeloso quanto à doutrina.
Paulo exortou o jovem Pastor Timóteo nas seguintes palavras:
“Tem cuidado... da doutrina” (1Tm 4.16). O zelo pela doutrina é
fundamental no ministério. A “saúde” espiritual da igreja
depende disto. O pastor deve zelar por aquilo que ele mesmo
ensina e, também, por aquilo que está sendo ensinado em sua
congregação. O pastor jamais deve relegar a segundo plano o
zelo pela doutrina. É sua tarefa, e principal delas, cuidar para que
toda pregação e ensino na igreja estejam de acordo com as
Escrituras Sagradas. O pastor não pode falhar nesta área tão
crucial para a firmeza e desenvolvimento espiritual dos crentes.
Sendo um pastor zeloso na doutrina, “ventos estranhos” não
atingirão o seu rebanho (Ef 4.14; cf. 4.11-13).
— Em terceiro lugar, o pastor deve ser zeloso quanto aos
sacramentos. Jesus ordenou que a Igreja celebrasse o batismo
dos arrependidos e a Santa Ceia (Mt 28.19; 1Co 11.17-33). O zelo
pelos sacramentos impede, à priori, que pessoas não convertidas
sejam recebidas na igreja e participem da Ceia do Senhor.
Impede também aqueles que já são membros da Igreja, mas que
estejam em processo de disciplina, de participarem da Ceia do
Senhor indignamente. O pastor deve ser muito zeloso quanto ao
preparo e ao exame para a pública profissão de fé. Não tenha
pressa de agregar ninguém ao rol de membros da igreja local,
ainda mais se você não tem certeza, por claras evidências, de
que a pessoa está escrita no Livro da vida. Seja criterioso! O
pastor também deve ser muito zeloso para com a participação
dos crentes na Ceia do Senhor. Uma ou duaz vezes no ano,
pregue sobre este assunto. Em cada celebração, fale sobre os
perigos e as bênçãos advindas da indigna e digna participação
na Ceia do Senhor. Desafie os seus crentes a confessarem os seus
pecados e se consagrarem a Deus a cada dia mais.
— Em quarto lugar, o pastor deve ser zeloso quanto à liturgia.
Escrevendo aos coríntios, Paulo ensina que a liturgia (leitourgos =
serviço) deve transcorrer com ordem e decência (1Co 14.26-40).
A ordem do e no culto público diz muito sobre o zelo que o pastor
tem. O culto é a principal atividade da Igreja de Cristo. É para a
adoração que o Senhor a instituiu. Portanto, é necessário que ela
preste a Deus um culto espiritual. O zelo do pastor quanto a
liturgia se evidencia no seu preparo. A liturgia não é algo que
pode ser feita de última hora, poucos instantes antes do culto. É
algo que precisa ser pensado e refletido. É preciso que haja
conexão entre todos os elementos – leitura das Escrituras, hinos,
cânticos, orações e mensagem. Se Deus é Deus de ordem, então
o culto deve expressar claramente esta grande e eterna
verdade.
— Em quinto lugar, o pastor deve ser zeloso quanto à aplicação da
disciplina. Jesus ensinou sobre como tratar um irmão culpado (Mt
18.15-20). Paulo falou sobre o perigo da indisciplina na igreja (1Co
5). O autor de Hebreus exortou sobre a necessidade da disciplina
na vida cristã (Hb 12.4-13). O pastor precisa zelar para que a
disciplina seja aplicada, e bem aplicada, na igreja. Uma igreja
sem disciplina é como uma mata seca em tempos de grande
calor ou um carro descendo a serra com os freios
comprometidos. O pastor que não zela pela disciplina na igreja
está deixando o seu povo a mercê da ação do diabo, do
escândalo e do mau testemunho do nome de Cristo. Não
negligencie este meio de graça, mesmo que isto lhe custe,
tempo, lágrimas e a amizade e a admiração de alguns!
— Em sexto lugar, o pastor deve ser zeloso quanto à
confessionalidade. Em sua epístola, Judas nos “exorta a batalhar,
diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos
santos.” (Jd 3). Cremos que a Confissão de Fé e os Catecismos
Maior e Breve são a fiel interpretação das Escrituras Sagradas.
Zelar pela confessionalidade não é uma opção, mas uma
obrigação constitucional. No momento da nossa ordenação ao
sagrado ministério da Palavra, prometemos, diante de Deus e dos
homens, que subscreveremos a Confissão e seus Catecismos, isto
é, que vamos acatar tudo quanto nela está escrito. A subscrição
não é parcial ou com reservas mentais, mas total e irrestrita. Ou
abraçamos o sistema como ele é ou ficamos contra ele, à favor
de nossa própria consciência aética. Em tempos tão difíceis
como os nossos, de confusão e “passividade”, mais do que
nunca, a Igreja Presbiteriana do Brasil precisa de pastores zelosos
quanto à confessionalidade. Mantenha a Confissão e os
Catecismos diante dos seus olhos. Ensine a Confissão e os
Catecismos sistematicamente para a sua igreja; transcreva-os
nos boletins dominicais e recite-os com a igreja na Escola
Dominical.
— Em sétimo lugar, o pastor deve ser zeloso quanto ao seu
testemunho público. Paulo exorta assim o jovem Pastor Timóteo:
“Tem cuidado de ti mesmo...” (1Tm 4.12). O pastor deve zelar por
aquilo que faz na sua vida pública. Ele deve tomar muito cuidado
para não se envolver em escândalos sexuais e econômicos. Um
tropeço ministerial pode comprometer todo um trabalho de
vários anos. O pastor deve ser zeloso em todos os lugares,
especialmente na cidade ou na região onde reside ou frequenta.
As pessoas precisam saber que ele é pastor. O seu piedoso
comportamento deve falar mais alto do que as suas palavras no
púlpito. Ele precisa ter o bom testemunho dos de fora, como disse
Paulo (1Tm 3.7). As pessoas esperam que a vida pública do pastor
seja irrepreensível e um espelho para elas.

Aplicações
— Nunca perca de vista a relevância do ministério pastoral. Lembre-
se que você foi vocacionado e comissionado por Deus para uma
obra gloriosa. Dê o verdadeiro alimento espiritual para o seu
povo. Cuide bem da Igreja de Cristo. Você será cobrado pela
vida de cada ovelha sob o seu cuidado. O seu papel não é
aparecer, mas exaltar a Cristo na sua vida como pastor.
— Seja reverente no seu ministério. Não brinque com as coisas
sagradas. Seja alguém sério em seu procedimento. Seja
reverente no falar. Cuidado ao usar o humor no púlpito. Cuidado
com o uso de ironias ou sarcasmos no ensino bíblico. Pese bem
as palavras antes de dizê-las. Apresente-se adequadamente em
suas vestimentas, especialmente nos serviços solenes. Tome
cuidado para não abrir sua intimidade pessoal e familiar.
— Seja zeloso no serviço do Senhor. Cultive uma vida devocional
piedosa. Tenha seu tempo diário com Deus. Se você falhar nisto,
é certo que irá falhar em tudo mais. Cuide da doutrina da igreja.
Dê bons materiais para o seu povo ler. Monte uma pequena
biblioteca na igreja, se possível. Trate os sacramentos com
respeito. Seja sério ao celebrá-los. Quanto à liturgia, mantenha a
ordem. Instrua seus presbíteros como prepará-la.
— Discipule e supervisione a equipe musical da igreja. Não permita
que haja um culto dentro do culto. Não mude sua liturgia com a
finalidade de atrair pessoas. Busque adorar ao Senhor como Ele
prescreveu. Aplique a disciplina com firmeza e amor. Siga os
passos bíblicos. Não menospreze o pecado. Mantenha a
confessionalidade a todo preço. Estude a Confissão e os
Catecismos sistematicamente com sua igreja local. Você irá
enriquecê-la.
O Que o Pastor Deve Ser e Fazer
Características e Funções – Uma Perspectiva Constitucional

— A vocação pastoral é algo de grande honra para alguém. Não


é apenas uma função, um trabalho, uma ocupação, um meio
de manutenção, é uma vocação gloriosa, como já temos
afirmado. Portanto, dois aspectos devem ser considerados sobre
o ministério pastoral: as características bíblicas e as funções do
pastor.
— Sobre este assunto, a Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil
nos será de grande valia. Vejamos o que ela afirma sobre os
ministros do evangelho:
— “Art. 30. O Ministro do Evangelho é o oficial consagrado pela
igreja, representada no Presbitério, para dedicar-se
especialmente à pregação da Palavra de Deus, administrar os
sacramentos, edificar os crentes e participar, com os presbíteros
regentes, do governo e disciplina da comunidade. Parágrafo
único. Os títulos que a Sagrada Escritura dá ao ministro, de Bispo,
Pastor, Ministro, Presbítero ou Ancião, Anjo da Igreja, Embaixador,
Evangelista, Pregador, Doutor e Despenseiro dos Mistérios de
Deus, indicam funções diversas e não graus diferentes de
dignidade no ofício.”
— No parágrafo único do artigo 30, a Constituição, muito
sabiamente, destaca dez características bíblicas do ministro.
— Passemos a analisar cada uma delas nos aspectos etimológico,
exegético e teológico, aplicando seus significados, de forma
prática, ao ministério pastoral.
.
Títulos ou Características Bíblicas do Ministro

Bispo
— O Bispo (επίσκοπος) – epískopos é aquele “superintendente” ou
“supervisor” espiritual do rebanho (cf. 1Tm 3.2; Tt 1.7; 1Pe 2.25).
Não é um tirano ou legalista, mas um amoroso e preocupado
líder espiritual (Hb 13.17).

Pastor
— O pastor (ποιµην) é uma das figuras mais conhecidas do ministro,
que resume bem a sua característica. O pastor é aquele que
alimenta, protege e cuida do rebanho em todo o tempo (cf. 1Pe
5.1-3). Não é sem razão que, dentre os muitos títulos, a figura do
pastor é a mais usada. Jesus é o exemplo Supremo de Pastor (Sl
23; Jo 10.11, 14; Hb 13.20; 1Pe 2.25; 5.4).

Ministro
— O apóstolo Paulo caracteriza o ministro de três formas. Primeiro,
ele fala do ministro como aquele que “ministra publicamente” ou
que “se dedica às coisas sagradas” (λειτουργος) (Rm 15.16). O
ministro lida com aquilo que é essencialmente sacro, separado,
espiritual. É uma grande responsabilidade ser um ministro do
evangelho! Segundo, ele fala do ministro como “servo” ou
“remador inferior (galé)” (ὑπηρέτης) (At 26.16; 1Co 4.1). Terceiro,
ele fala do ministro como “aquele que serve” (διακονος) (2Co 3.6;
6.4; 11.23; Ef 3.7; 6.21; Cl 1.23, 25; 1Tm 4.6). Em síntese, podemos
afirmar que o ministro do evangelho é um “servo público das
coisas de Deus”, ou seja, aquele que serve os servos de Deus.

Presbítero ou Ancião
— O presbítero ou ancião (πρεσβυτερος) é aquele que possui
maturidade cristã para exercer a liderança espiritual da igreja no
corpo presbiterial (conselho) (cf. At 11.30; 14.23; 15.22; 1Tm 5.17,
19; 1Pe 5.1; Ap 4.4 – a palavra presbiterous é traduzida por
anciãos). O presbítero não pode ser um neófito, mas alguém com
experiência na fé cristã (1Tm 3.6, 7; 5.22).

Anjo da Igreja
— O ministro também é chamado de o “anjo da igreja” (ἀγγέλῳ
ἐκκλησίας), ou seja, é aquele ele tem a função de ser um
mensageiro de Deus para o seu povo (Ap 2.1, 8, 12, 18; 3.1, 7, 14).
Não se trata de uma figura hierárquica ou inerrante; pelo
contrário, é a figura de um servo fiel enviado para proclamar a
mensagem da Palavra de Deus. Apenas isto!

Embaixador
— Paulo também se identifica como embaixador (πρεσβευω),
“aquele que age como embaixador”, isto é, como
“representante” (cf. 2Co 5.20; Ef 6.20). Esta palavra tem a mesma
raiz de presbiterous (πρεσβυτερος), “ancião”, “pessoa de idade”.
A ideia da palavra embaixador é de uma “pessoa incumbida de
uma missão pública”, “que leva uma mensagem” (cf. Is 18.2; Lc
14.32).

Evangelista
— O evangelista (ευαγγελιστης) é “aquele que leva as boas-novas”
(cf. At 21.8; 2Tm 4.5). Todo pastor deve ser um evangelista, por
natureza, pois é um pregador e proclamador das boas-novas da
salvação em Cristo Jesus. Suas mensagens, ensinos e conselhos
são essencialmente evangelísticos. Suas palavras e ações são
naturalmente evangelísticas.

Pregador
— O pregador (κηρυξ) é o “arauto”, ou o “mensageiro investido
com autoridade pública para entregar uma mensagem
importante e grave” (cf. 1Tm 2.7; 2Tm 1.11; 2Pe 2.5). O pastor é,
portanto, um porta-voz da mensagem de Deus ao seu povo. Ele
tão somente diz aquilo que o Senhor, em sua Palavra, disse. O
pregador não diz nada aquém e nada além!

Doutor/Mestre
— O doutor ou mestre (διδασκαλος) é “aquele que é qualificado
para ensinar”. É um mestre, por excelência, no conhecimento
bíblico. Ele se dedica ao estudo fiel e à clara transmissão das
verdades Escriturísticas (cf. At 13.1; 1Co 12.28; Ef 4.11). Paulo
afirma que o ministro deve ser “apto para ensinar” a Palavra de
Deus (1Tm 3.2; cf. Tt 1.9).

Despenseiro dos Ministérios de Deus


— O ministro é, por fim, despenseiro (οικονοµος) dos mistérios de
Deus (cf. 1Co 4.1, 2; 9.17; Tt 1.7), isto é, “administrador”, “gerente”,
“superintendente” das “coisas de Deus”. Como servo, o pastor
tem a função de dirigir e conduzir bem e fielmente tudo quanto
é relativo à Igreja do Senhor aqui na terra.
— É importantíssimo ressaltar que estes títulos de bispo, pastor,
ministro, presbítero ou ancião, anjo da igreja, embaixador,
evangelista, pregador, doutor/mestre e despenseiro dos
ministério de Deus “indicam funções diversas e não graus
diferente de dignidade no ofício” (art. 30 da CI/IPB).

Funções Privativas do Ministro


— A Constituição da IPB, em seu artigo 31, diz o seguinte sobre isto:
“São funções privativas do ministro: a) administrar os
sacramentos; b) invocar a bênção apostólica sobre o povo de
Deus; c) celebrar o casamento religioso com efeito civil; d)
orientar e supervisionar a liturgia na igreja de que é pastor.”
—
Deveres Essenciais do Ministro
— A Constituição da IPB, em seu artigo 32, diz o seguinte sobre isto:
“O ministro, cujo cargo e exercício são os primeiros na igreja,
deve conhecer a Bíblia e sua teologia; ter cultura geral; ser apto
para ensinar e são na fé́; irrepreensível na vida; eficiente e zeloso
no cumprimento dos seus deveres; ter vida piedosa e gozar de
bom conceito, dentro e fora da igreja.”

Atribuições do Ministro que Pastoreia Igreja


— A Constituição da IPB, em seu artigo 36, diz o seguinte sobre isto:
“São atribuições do ministro que pastoreia igreja: a) orar com o
rebanho e por este; b) apascenta-lo na doutrina cristã; c) exercer
as suas funções com zelo; d) orientar e superintender as
atividades da igreja, a fim de tornar eficiente a vida espiritual do
povo de Deus; e) prestar assistência pastoral; f) instruir os neófitos,
dedicar atenção à infância e à mocidade, bem como aos
necessitados, aflitos, enfermos e desviados; g) exercer,
juntamente com os outros presbíteros, o poder coletivo de
governo. Parágrafo único. Dos atos pastorais realizados, o ministro
apresentará, periodicamente, relatórios ao Conselho, para
registro.”

Aplicações
— Que os títulos bíblicos e constitucionais sejam mais do que títulos
em seu ministério, que sejam eles verdades em seu ministério.
— Que você seja um bispo “atento” ao seu rebanho. Um pastor
cuidadoso e amável. Um ministro servo. Um presbítero maduro e
sábio. Um anjo com uma mensagem de Deus. Um embaixador
em nome de Cristo. Um evangelista fervoroso e autêntico. Um
Pregador profundamente apaixonado e prático. Um excelente
mestre na Palavra. Um eficiente administrador das coisas do
Senhor.
— Seja um pastor piedoso e culto. Mantenha a Bíblia numa mão e
o jornal na outra. Esteja antenado aos acontecimentos e trate-os
à luz da Bíblia.
— Seja um pastor de testemunho dentro e fora da Igreja.
— Esteja sempre atento às suas funções pastorais. Cuidado para
não negligenciar alguns aspectos do ministério em detrimento de
outros, como, por exemplo, a visitação, aconselhamento e
estudo da Palavra.
— Não permita que futilidades tire o seu tempo de devoção e
estudo da Palavra de Deus.
Vocação para o Ensino
Um Chamado Didático

— Uma das tarefas mais importantes, urgentes e gloriosas do


ministério pastoral é o ensino.
— O pastor deve ser, por natureza, um pastor-mestre para a sua
igreja. Sua tarefa é edificar os crentes na Palavra de Deus, como
um bom pastor que alimenta o seu rebanho.
— O verdadeiro pastor não pode ser negligente quanto à sua tarefa
de ensinar, doutrinar e alimentar o seu rebanho.
— O pastor que não cumpre, ou não cumpre bem, a sua tarefa de
ensinar está pecando contra Aquele que o vocacionou,
deixando o seu rebanho desnutrido espiritualmente e a mercê de
falsas doutrinas e heresias. Logo a sua igreja estará em ruínas!

A Trindade como Exemplo de Ensino


— Devemos ensinar o nosso povo, assim como o próprio Deus tem
ensinado o Seu povo em Sua Palavra (Sl 25.9; 86.11; 119.66, 73; Is
48.17).
— A primeira ação de Jesus no seu curto e intenso ministério foi
justamente o ensino da Palavra. Ele pregou para todo o povo o
famoso “Sermão da Montanha (Mt 5–7). Diz a Bíblia: “Vendo Jesus
as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse,
aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los,
dizendo:..” (Mt 5.1-2).
— O Senhor Jesus era o mestre por excelência, pois ensinava com
autoridade, isto é, com vida (Mt 7.29).
— Portanto, todo o ministério do Filho foi marcado pelo ensino do
povo (cf. Mc 2.13; 4.2; 9.31; 10.1; 11.17; Lc 4.15; 5.3; 10.13; Jo 6.59;
8.2).
— Jesus ensinou até mesmo depois da sua ressurreição, enquanto
caminhava com os discípulos da pequena aldeia de Emaús (Lc
24.27). Jesus fez com eles um discipulado ao ar livre, por assim
dizer.
— O próprio Lucas, escrevendo a seu amigo Teófilo, afirma que o
ministério de Jesus era marcado pelo ensino da Palavra (At 1.1).
— O Espírito Santo, como consolador (παρακλητος), também
cumpre a função de mestre na vida Igreja de Cristo (cf. Jo 16.12-
15). Seu papel é ensinar o povo acerca da Palavra de Deus
revelada nas Escrituras (cf. Jo 14.26), que Ele mesmo colocou nos
corações dos autores bíblicos de forma inspirada, inerrante e
suficiente (cf. 2Pe 1.20-21). Portanto, a Trindade está plenamente
envolvida no ensino.

O Imperativo Bíblico para o Ensino


— Ao descrever as qualificações do presbítero/pastor, o apóstolo
Paulo afirma que estes devem ser “aptos para ensinar” (1Tm 3.2).
A palavra grega usada por Paulo (διδακτικόν, da raiz grega
διδακτικος – “hábil para o ensino” e διδασκαλος – “professor”,
“mestre”), significa, numa tradução mais literal, “capacitado a
ensinar”.
— O apóstolo Paulo, escrevendo ao jovem pastor Timóteo, exorta-o
a exercer o dom do ensino na vida da igreja. Ele diz: “Ordena e
ensina (δίδασκε) estas coisas” (1Tm 4.11).
— Um pouco mais à frente ele afirma: “Até à minha chegada,
aplica-te à leitura (ἀναγνώσει), à exortação (παρακλήσει), ao
ensino (διδασκαλίᾳ).” (1Tm 4.13).
— Paulo reafirma a necessidade de reconhecimento e
manutenção econômica daqueles presbíteros (docentes) que se
afadigavam no ensino da Palavra de Deus: “... com
especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino
(διδασκαλίᾳ)” (1Tm 5.17).
— Por fim, Paulo diz: “Ensina (δίδασκε) e recomenda (παρακάλει)
estas coisas” (1Tm 6.2).
— Portanto, o ministério pastoral é essencialmente um ministério de
ensino.
— É importante ressaltar que, em algumas passagens, as palavras
ensino e exortação/aconselhamento aparecem lado a lado (cf.
1Tm 4.13 e 6.2). Isto reforça a ideia de que o pastor deve ensinar
tanto publicamente (διδασκαλίᾳ) quanto particularmente
(παρακλήσει).

A Importância do Ensino
— O ensino na Igreja não é um mero apetrecho. Pelo contrário, ele
é muito importante, tanto é que já afirmamos que há um
imperativo bíblico para o ensino.
— Em primeiro lugar, o ensino na Igreja alimenta o rebanho. O
trabalho do pastor quanto ao ensino não é apenas dar
informações teológicas aos crentes, mas, antes de tudo, é
alimentá-lo bíblica e sadiamente, levando-o a uma vida de
santidade e piedade cristã (Tt 2.11-15).
— Muitas igrejas estão “inchadas” de tanto conhecimento
teológico, mas anoréxicas de alimento genuinamente espiritual.
— É evidente que o bom ensino pressupõe o conhecimento, mas
este, por si só, sem aplicação e vida não transforma, mas
deforma.
— Em segundo lugar, o ensino na igreja corrige os faltosos. Se por
um lado o ensino alimenta cotidianamente o rebanho, por outro,
ele também coloca na linha aqueles que estão se desviando (cf.
2Tm 2.24-26).
— Este ensino deve ser manso e piedoso, a fim de fazer com que os
irmãos em pecado retornem à sensatez. Se a Palavra não corrigir,
ninguém mais corrigirá!
— Em terceiro lugar, o ensino na igreja mantém a sã doutrina. O
pastor deve zelar para que a sua igreja seja fiel à Palavra de Deus.
A única maneira de fazer isto é ensinar a Lei do Senhor (2Tm 4.1-
4).
— A Palavra será um divisor de águas na igreja, tanto para firmar os
crentes verdadeiros quanto para afugentar os falsos irmãos. Não
tenha receio de expor a verdade e mostrar o erro!

O Conteúdo/Instrumento do Ensino
— Pode até parecer redundante e óbvio de mais afirmar que o
conteúdo do ensino na Igreja é a Palavra de Deus. Mas não é!
Em tempos como os nossos, de tanto relativismo eclesiástico,
ensinamentos estranhos e frouxidão doutrinária, é mais do que
necessário afirmar esta verdade imutável. O pressuposto do
ensino sadio na Igreja é o “Sola Scriptura!”
— Por vezes, e em muitos lugares, tem se falado de tudo nos
púlpitos, menos das Sagradas Escrituras. Fala-se de política, de
conflitos, de fraternidade, de filmes, de séries e de todo tipo de
acontecimento, menos da pessoa e da obra de Jesus.
— Em outros lugares, os ministros são tão rasos no ensino que você
não consegue ver nada além das páginas impressas da Bíblia.
— Paulo é incisivo ao ordenar a Timóteo: “Ordena e ensina estas
cousas” (1Tm 4.11). É evidente que a expressão “estas cousas”
está apontando para todas aquelas verdades expostas por Paulo
na carta (cf. 1Tm 4.1-11, 13-16).
— Em sua Segunda Carta a Timóteo Paulo ainda o conjura: “prega
a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige,
repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm
4.2).
— A Palavra de Deus deve ser lida e ensinada publicamente, como
ordenou Paulo (cf. 1Tm 4.13).
— O Pastor precisa compreender que a Palavra de Deus é “fiel e
digna de toda aceitação” (1Tm 4.9). Portanto, é necessário que
o ministro saiba manejá-la muito bem (2Tm 2.15).
— O ministro deve “apegado à Palavra fiel” (Tt 1.9), se quiser que o
seu ensino seja bíblico e transformador.

Como Apresentar o Ensino


— É muito importante ser um expositor fiel das Escrituras e um mestre
bem capacitado. Nenhum ministro comprometido com Deus
ousará afirmar o contrário. Isto é importante, mas não é tudo. É
preciso entender como ensinar a Palavra de Deus.
— Muitos pastores estão cheios de bom conteúdo, mas tropeçam
na maneira de transmitir e aplicar a verdade.
— Em primeiro lugar, ensine fielmente. Paulo diz a Tito que o
presbítero “deve ser apegado à palavra fiel, que é segundo a
doutrina” (Tt 1.9). Não se trata de qualquer ensino, mas um ensino
fiel, segundo a doutrina bíblica. Como arautos de Cristo, os
ministros devem ensinar com a máxima fidelidade. Nada aquém
das Escrituras (liberais) e nada além dela (pentecostais), somente
ela!
— Escrevendo aos coríntios, Paulo afirma que “o que se requer dos
despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel.” (1Co
4.2).
— Não foi por acaso que Paulo enviou Timóteo em seu lugar para
tomar as providências necessárias para o bom andamento da
Igreja de Corinto. Paulo afirma categoricamente que Timóteo era
um ministro, apesar de jovem, fiel ao Senhor (1Tm 4.17).
— Em segundo lugar, ensine piedosamente. Escrevendo ao jovem
pastor Tito, Paulo o exorta nas seguintes palavras: “Torna-te,
pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra
integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para
que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade
nenhuma que dizer a vosso respeito.” (Tt 2.7-8).
— Todas estas expressões usadas por Paulo, como integridade,
reverência, linguagem sadia e irrepreensível, podem ser
resumidas na palavra piedade (do grego ευσεβεια – reverência,
respeito, religiosidade).
— O ministro deve ser piedoso em todo o seu ensino. Suas palavras
devem ser edificantes, não destrutivas, doces, não amargas,
sinceras, não sarcásticas, vibrantes, não monótonas.
— Em terceiro lugar, ensine sistematicamente. Paulo exorta o seu
filho na fé, a que se ocupasse com o ensino sistemático da
congregação em Éfeso – “Até à minha chegada, aplica-te à
leitura, à exortação, ao ensino” (1Tm 4.13). A ideia presente no
texto é de um ensino constante, paulatino, progressivo. Timóteo
não deveria ser negligente no tocante ao ensino sistemático (cf.
1Tm 4.14).
— O próprio apóstolo Paulo dá o seu testemunho de como ensinou
a Palavra de Deus na cidade de Éfeso: “jamais deixando de vos
anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar
publicamente e também de casa em casa…, porque jamais
deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus. Portanto, vigiai,
lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de
admoestar, com lágrimas, a cada um.” (At 20.20, 27, 31).

Preparando-se para o Ensino


— Ensinar a Palavra de Deus é algo muito glorioso. É uma tarefa
singular. Ensinar a Bíblia é diferente de ensinar qualquer outra
matéria “secular”. Os conteúdos são diferentes, os propósitos são
diferentes, os meios são diferentes.
— Portanto, aquele que ensina precisa “esmerar-se” [dedicar-se],
como exortou Paulo (cf. Rm 12.7).
— Jamais podemos relegar o ensino na igreja à segundo plano. Se
desejamos crentes maduros na fé, bem doutrinados,
conhecedores profundos das Escrituras, então é necessário
preparar-nos bem para o ensino.
— Qualquer pastor que entende a sua responsabilidade de
“mestre” na igreja local precisa dedicar tempo ao preparo de
suas lições, cursos, palestras e assim por diante.
— Em primeiro lugar, prepare-se em oração. A oração torna o
coração do ministro sensível para ouvir a voz de Deus. Preparar
uma aula, por mais simples que seja, sem oração, é o mesmo que
tentar fazer uma longa viagem num carro quase sem
combustível. Não irá longe! É certo!
— Sem oração o ministro não alimenta a sua própria alma, quanto
mais a de seus ouvintes.
— Jesus estava sempre preparado em oração. Na escolha dos seus
doze apóstolos Ele passou a noite orando. Isso lhe deu autoridade
e sensibilidade da hora da escolha (cf. Lc 6.12-13). Se Jesus orou
para escolher seus discípulos, muito mais, nós também devemos
orar por uma aula. Lembre-se daquela velha máxima: “Estude,
como se tudo dependesse de você. Ore, como se tudo
dependesse de Deus.”
— Em segundo lugar, estude com dedicação o texto bíblico ou o
assunto. Paulo exorta os seus leitores nos seguintes termos: aquele
“que ensina esmere-se no fazê-lo” (Rm 12.7). É necessário haver
dedicação, diligência e empenho no preparo da aula. Ao
amado Timóteo, Paulo exorta: “... aplica-te à leitura, à exortação,
ao ensino.” (1Tm 4.13).
— Nenhum pastor-mestre é capaz de produzir uma boa aula, com
bom conteúdo, boas ilustrações e fartas e práticas aplicações
sem preparar-se adequadamente.
— É até possível que ele se saia bem num ou outro improviso,
quando as circunstâncias não lhe forem favoráveis ao estudo,
mas certamente sucumbirá se isto se tornar uma regra em seu
ministério.
— Em terceiro lugar, dependa do Espírito Santo. Timóteo tinha uma
grande tarefa dada por Paulo: “Mantém o padrão das sãs
palavras, que de mim ouviste com fé e com amor que está em
Cristo Jesus.” (2Tm 1.13). Mas como ele poderia fazer isto? Não
era uma tarefa por demais grandiosa, ainda mais para um jovem
ministro? Na sequência imediata do texto, Paulo responde a esta
possível pergunta.
— Ele diz: “Guarda o bom depósito (isto é, a sã doutrina, explicitada
no verso anterior), mediante o Espírito Santo que habita em nós.”
(2Tm 1.14). Na visão de Paulo, só é possível manter e guardar a sã
doutrina pela ação soberana e eficaz do Espírito Santo da
verdade.
— É Ele quem guia os ministros e os relembra acerca da verdade (cf.
Jo 14.17; 16.13).
— O trabalho do pastor-mestre é ensinar, mostrar e aplicar a
verdade, mas o papel de transformar e santificar é exclusivo do
Espírito Santo.
— Os ministros devem fazer bem a sua parte e descansar na ação
soberana do Santo Espírito. Devemos sempre nos lembrar que é
Ele quem aplica a verdade ao coração do homem,
“convencendo-o do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16.8).

Aplicações Finais
— Se você é realmente um vocacionado, dedique-se ao ensino.
Não seja negligente ou relapso.
— Ensine com amor, com piedade, com paixão, com humildade.
— Ensine para transformar vidas e não para informar pessoas.
— Seja um habilidoso conhecedor e manejador das Escrituras.
— Não brinque com as coisas sagradas. Deus é santo!
— Invista tempo no preparo de suas aulas.
— Esteja tanto disponível para ensinar individualmente
(aconselhamento), quanto para ensinar publicamente.
— Prepare-se, como se tudo dependesse de você. Ore, como se
tudo dependesse de Deus.
Vocação e Pregação
Um Chamado à Proclamação

— Ao lado do ensino (doutrinação), a pregação é a principal tarefa


do pastor.
— O pastor é chamado por Deus para ser, especialmente, um
proclamador das verdades bíblicas.
— Sua missão é apresentar Cristo para os pecadores como único
meio de salvação.
— Edward Veith, falando sobre a centralidade da pregação, disse
que o “púlpito dá o tom de tudo quanto acontece na vida da
igreja local.
— É por meio da pregação que o pastor alimenta o rebanho e
afugenta os lobos travestidos de cordeiro.
— Um ministro que não leva a sério a pregação não permanecerá
no ministério por muito tempo e colocará em risco o seu rebanho.

Imperativos à Pregação
— Ao escrever ao jovem pastor Timóteo, Paulo exorta: “prega a
palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende,
exorta com toda a longanimidade e doutrina.” (2Tm 4.2). Como
pastor, Timóteo não tinha a opção de não pregar, ou pregar
quando achasse oportuno. A sua missão era pregar a Palavra.
— Essa missão era em todo o tempo – “quer seja oportuno, quer
não”. O pastor deve aproveitar todas as oportunidades para
pregar a Palavra, quer na igreja ou fora dela.
— A pregação, segundo Paulo, tem como alvo “corrigir, repreender
e exortar”. Se por um lado a pregação chama os pecadores ao
arrependimento, ela também traz de volta ao caminho os
pecadores salvos
— Paulo compreendia perfeitamente a ordem de pregar a Palavra
de Deus. Ele via isso como algo de muita responsabilidade. Nas
seguintes palavras, ele expressou o peso da sua obrigação: “Se
anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre
mim pesa essa obrigação [ἀνάγκη = necessidade]; porque ai de
mim se não pregar o evangelho!” (1Co 9.16).
— Ainda sobre o imperativo de pregar a Palavra de Deus, Paulo
exorta Timóteo: “Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à
exortação, ao ensino.” (1Tm 4.12). Enquanto o aconselhamento
tem haver com o ensinamento particular (παρακλήσει), a
pregação tem haver com o ensinamento público,
congregacional, mais abrangente (αναγινωσκω – ler, conhecer
acuradamente).
— A ideia da passagem é que o ministro, o pregador do evangelho,
o arauto de Cristo deve ser um fiel expositor público da Palavra
de Deus.
— Essa é a tarefa para a qual ele foi vocacionado por Deus.
— Essa é a mesma missão que Deus entregou aos seus servos do
passado, como aos profetas Isaías (6.9); Jeremias (1.17; 7.2),
Ezequiel (12.8) e Jonas (3.2).

Pregue Expositivamente
— Há muitos métodos de pregação. Cada um tem o seu valor. Deus
pode usar (e tem usado!) vários métodos ao longo dos tempos
para edificar a sua igreja. Spurgeon, por exemplo, era um
pragador mais temático, entretanto, foi alguém muito usado por
Deus na sua época. Seus sermões são uma fonte de edificação
para a vida dos crentes (cf. Sermões do Ano de Avivamento).
— Há muitas excelentes definições do que seja o sermão ou
pregação expositiva. Grandes escritores e pregadores deram
suas próprias definições. Haddon Robinson, por exemplo, disse
que “pregação expositiva é a comunicação de um conceito
bíblico derivado e transmitido através de um estudo histórico,
gramatical e literário de uma passagem em seu contexto.”
— John Stott, em seu clássico livro Between Two Worlds (Entre dois
Mundos), afirma que “toda verdadeira pregação é pregação
expositiva.” Ele também diz que pregação expositiva “é a
manifestação da verdade registrada nas Escrituras, por isso, todo
sermão deve ser, de algum modo, expositivo.” Bryan Chapell
afirmou que “a pregação expositiva é descobrir e propagar o
significado preciso da Palavra”
— Albert Mohler afirmou que “a pregação expositiva é a única
forma de pregação cristã autêntica, de modo que o cerne e o
âmago da pregação expositiva é ler a Palavra de Deus e, em
seguida, explicá-la às pessoas, de modo que a entendam.” Ele
ainda acrescenta que a “pregação expositiva é aquele estilo de
pregação cristã que tem como propósito central a
apresentação e a aplicação do texto da bíblico.”
— Martin Lloyd-Jones disse o seguinte: “a minha posição é que um
sermão sempre deve ser expositivo.”
— Portanto, podemos dizer que pregação expositiva é ler, explicar
e aplicar um texto das Escrituras. Nenhum outro modelo, por mais
piedoso e lógico que possa parecer, é tão capaz de trazer à tona
a verdade de um texto e aplicá-la à vida, como o faz a
pregação expositiva.

Pregue Experiencialmente
— Não é muito simples de se definir o que é um sermão ou
pregação experiencial, dado ao fato de que o termo não é de
uso comum. Entretanto, uma excelente definição é dada pelo
pastor, escritor e expositor bíblico, Joel Beek, em seu livro Vivendo
para a Glória de Deus, uma Introdução à Fé Reformada: “A
palavra experiencial vem do latim experimentum e significa
“teste”. É derivada de experior, que significa “tentar, provar ou
colocar em teste”. Esse verbo também pode significar “achar ou
saber por experiência”, levando à palavra experientia, que
significa “conhecido por meio do experimento”. Portanto, uma
definição funcional de pregação experiencial pode ser:
pregação que busca explicar, com termos da verdade bíblica,
reformada, como as coisas devem ser, como elas realmente são
e o objetivo final da vida cristã. A pregação experiencial tem
como alvo aplicar a verdade de Deus a todo o âmbito da
experiência pessoal do crente, incluindo seu relacionamento
com a família, a igreja e o mundo ao seu redor. Em outras
palavras, ela aborda todo o âmbito do viver do cristão,
focalizando intensamente o seu bem-estar espiritual e a
maturidade do crente. Com a bênção do Espírito, a missão dessa
pregação é transformar o crente em tudo que ele é e faz, para
que se torne cada vez mais semelhante ao seu Salvador.”
— A pregação experiencial não é outro modelo de pregação ou
diferente da pregação expositiva; ela é tão somente a pregação
que explica o texto levando-se em consideração os elementos
gramaticais, históricos e teológicos, e o aplica à vida dos crentes
em todos os aspectos da vida cristã. “O ensino experimental
reforça a necessidade de saber por experiência as grandes
verdades da Palavra de Deus.”
— Paul Helm também definiu a pregação experiencial dizendo que
“a pregação deve prover direção e instrução aos cristãos em
termos de sua experiência real, de modo que não se deve lidar
com a congregação como se ela vivesse em um século
diferente.”
— Robert Burns disse que a pregação experiencial é “o Cristianismo
traduzido para os lares dos homens e de seus negócios, de modo
que, a cristandade deve ser não somente conhecida,
compreendida e aceita, mas também sentida, apreciada e
aplicada praticamente.”
— John Piper, por sua vez, também compreende que “toda a
pregação deve ser a exposição e a aplicação de textos
bíblicos.”
— Pregação experiencial é muito mais do que dar aos ouvintes o
conhecimento técnico do texto, é demostrar na prática como se
vive aquilo.
— Esse tipo de pregação experiencial, nos ensina que, a menos que
a nossa religião seja experiencial (prática), nós iremos padecer –
não porque a experiência em si possa salvar, mas porque o Cristo
que salva os pecadores deve ser experimentado pessoalmente
como fundamento da nossa esperança.
— Alinhando, por conseguinte, as definições de pregação
expositiva e pregação experiencial, podemos afirmar que a
pregação expositiva só é pregação verdadeira quando ela
atinge o ponto da experiência, isto é, da aplicação prática. Por
outro lado, a pregação experiencial só é verdadeira quando
está fundamentada e plenamente solidificada na pregação
expositiva.
— Pregação expositiva e experiencial são os dois lados da mesma
moeda, por assim dizer. De um lado está a exposição do texto, e
do outro lado está a aplicação do texto. Elas são os dois trilhos
da mesma linha, que caminham lado a lado até que no horizonte
se encontram perfeitamente. Um não subsiste sem o outro.
— Dan Doriani, citando John Frame, diz que “a teologia é a
‘aplicação da Palavra de Deus a todas as áreas da vida das
pessoas’, a fim de satisfazer as necessidades espirituais e
promover a piedade e a saúde espiritual.”
— Boa exegese é igual a boa aplicação. Aplicação sem exegese
não passa de inferências superficiais e subjetivas. Isso é pregação
expositiva experiencial.

Pregue Cristocentricamente
— Entender o que é pregação Cristocêntrica é fundamental, uma
vez que ela é uma das características essenciais do sermão
experiencial. O distinto pregador e professor Bryan Chapell disse
que “pregação Cristocêntrica é centralizar a pessoa de Cristo em
toda a exposição bíblica. Pregação Teocêntrica é Cristo no
centro da pregação.”
— Outro conhecido expoente cristão, Steve Lawson, afirmou que
pregação Cristocêntrica é aquela “pregação direcionada pela
Palavra, que exalta a Deus, que é centrada em Cristo e
fortalecida pelo Espírito.”
— O renomado escritor Sidney Greidanus, autor de várias obras
nesta linha, definiu pregação Cristocêntrica da seguinte forma:
“pregar Cristo não é meramente mencionar o nome de Jesus ou
o Cristo no sermão. [Antes], pregar Cristo é proclamar alguma
faceta da pessoa, da obra ou do ensino de Jesus de Nazaré,
para que as pessoas possam crer nele, confiar nele, amá-lo e
obedecê-lo.”
— O pregador galês, Stuart Olyott, afirmou: “Jesus é o assunto de
toda a Bíblia. [Se] um pregador abre a sua Bíblia e não prega a
Cristo com base na passagem que tem diante de si, esse
pregador não entendeu o Livro; e, se não o entendeu, não
deveria estar pregando! Onde Cristo não é pregado, ali não
existe pregação.” (ex. Spurgeon...)
— Em seu comentário da Primeira Epístola aos Coríntios, Calvino
demonstrou claramente a sua compreensão acerca da
pregação Cristocêntrica: “Como Paulo pusera tantas vezes o
nome de Cristo em contraste com a orgulhosa sabedoria carnal,
assim ele planta a Cruz de Cristo bem no centro, a fim de
destronar toda a arrogância dessa sabedoria. Pois toda a
sabedoria dos crentes está concentrada na luz de Cristo. Não
devemos condenar nem rejeitar a eloquência, antes o seu alvo é
conclamar-nos de volta à simplicidade do evangelho e pôr em
relevo a pregação da Cruz e nada mais.”
— Pregação Cristocêntrica, portanto, é colocar Cristo no centro da
mensagem, mostrando o seu amor e sua graça aos ouvintes.
— Os grandes expositores do passado eram pregadores
Cristocêntricos, como Calvino, Knox, Spurgeon, Whitefield,
Edwards, Lloyd-Jones e tantos outros.
— Deixar de apresentar Cristo em qualquer passagem da Escritura
é o mesmo que não compreender o seu objetivo principal, pois
toda a Bíblia aponta para Jesus Cristo.
— Ele é a razão pela qual a Bíblia foi escrita. Sermões sem Cristo não
passam de meros discursos moralistas ensinando as pessoas a
viverem uma vida de “moral ilibada”.
— O sermão Cristocêntrico desafia as pessoa a abandonarem o
pecado, tendo Cristo como seu amigo gracioso que as ajudará
no longo e difícil processo de santificação.
— Edmund Clowney disse muito bem: “devemos pregar Cristo como
o texto o apresenta, pois ele está presente em cada página da
Escritura.”
— Os pregadores devem encorajar os seus ouvintes a olharem para
Cristo nas horas conturbadas da vida, pois só ele é capaz de dar
consolo e esperança.
— O puritano Joel Beeke resumiu muito bem a questão: “Cristo tem
de ser o começo, o meio e o fim de todo o sermão. A pregação
tem de exaltar a Cristo, para despertar, justificar, santificar e
confortar os pecadores”.
— Beeke ainda insiste no fato de que “o grande tema e contorno
governante da pregação experiencial é Jesus Cristo, pois ele é o
foco e o prisma supremos e o alvo da revelação de Deus.
Portanto, um verdadeiro pregador calvinista tem de ser decidido
a ‘nada saber... senão a Jesus Cristo e este crucificado’
(1Co2.2).”
— William Perkins disse que “o âmago de toda pregação é ‘pregar
somente a Cristo, por Cristo, para o louvor de Cristo.’”
— Cotton Mather disse: “Apresente tanto quanto você puder do
glorioso Cristo. Sim, que o lema de seu ministério seja este: Cristo
é tudo. Que outros apresentem no púlpito fábulas que surgem e
desaparecem. Especializemo-nos em pregar o nosso Senhor
Jesus Cristo.”
— Bryan Chapell, ainda faz um alerta sobre a necessidade de se
tornar a pregação expositiva em pregação Cristocêntrica: “A
pregação teocêntrica inevitavelmente se torna Cristocêntrica,
não por que o sermão menciona com insistência o nome de
Jesus, ou arranca da memória algum acontecimento do seu
ministério terreno, antes, porque ele demonstra a realidade da
condição humana que requer solução divina. Pregação
teocêntrica é Cristo no centro do pregação. O foco sobre a
atividade redentora de Deus determina a fase para trabalho de
Cristo, alerta o coração humano para a sua necessidade, e/ou
expõe a natureza divina. Quando contemplamos Deus em
atividade, o ministério de Cristo inevitavelmente se manifesta (Jo
1.1-3; 14.7-10; Cl 1.15-20; Hb 1.1-3). O sermão se mantém
expositivo e cristocêntrico não devido ao salto imaginativo para
a Gólgota, mas porque ele situa o objetivo da passagem dentro
do alvo da obra redentora de Deus.”
— Portanto, o pregador atento deve fugir da armadilha de tentar
encontrar Cristo em cada pedra de Israel ou em cada mínimo
detalhe do tabernáculo.
— Pelo contrário, seu trabalho deve focar sempre com atenção a
história da redenção, vendo como Deus apresenta seu Filho Jesus
Cristo como a resposta aos problemas e anseios humanos.
— Se conseguirmos nos lembrar de que Jesus é o criador do mundo,
o legislador da Lei hebraica, a rocha e a o maná do deserto, o
motivo dos cânticos do Saltério, o Messias prometido que
restauraria a sorte de Israel, o Deus-homem encarnado que
morreu na cruz para cumprir um propósito maior, então,
certamente nossas mensagens serão infinitamente mais ricas e
cheias de propósito. Jesus não é um apêndice no sermão, mas o
seu conteúdo por natureza.

Pregue Apaixonadamente – ao Coração


— A pregação experiencial, como já vimos , busca atingir não
apenas o campo intelectual, isto é, a razão, mas também o
ponto da experiência.
— Isto significa que ela visa aplicar ao ouvinte, de maneira prática,
tudo aquilo que foi explanado no texto bíblico. A pregação
experiencial é a pregação do coração para os corações.
— Sinclair Ferguson diz que “toda pregação verdadeiramente
bíblica é pregação para o coração. Mas, “pregar ao coração
não é meramente uma questão de técnica, método homilético
ou estilo. Essas coisas têm o seu lugar e o seu valor. Porém, a coisa
mais fundamental e essencial para o pregador é deixar
transparecer que algo aconteceu no seu coração.”
— Sinclair Ferguson ainda observa que pregar aos corações traz
“prostração interior dos corações de nossos ouvintes por meio da
consciência da presença e da glória de Deus. Isso distingue a
autêntica pregação bíblica expositiva de qualquer substituto
barato para ela; ela marca a diferença entre pregar a respeito
da Palavra de Deus e pregar a Palavra de Deus.”
— O puritano John Owen fez uma maravilhosa afirmação ao falar
sobre a necessidade de se pregar ao coração: “Um homem
somente prega bem um sermão para outras pessoas se ele já
pregou para si mesmo, a própria alma... Se a palavra não habitar
com poder em nós, ela não será transmitida com poder através
nós.”
— Umas das características da pregação experiencial, que fala ao
coração, é o pathos (no grego emoção). Entretanto, pensando
em seu uso na pregação, “pathos não é apenas emoção pela
emoção, certamente não é o tipo de emocionalismo que tende
a se transformar em algo banal. Antes, a pregação é, mais
exatamente, a comunicação e evocação por meio de nossas
palavras de ‘ânimo’ aos ouvintes.”
— Steve Lawson afirma que “onde não há nenhuma paixão, não
há pregação real. Spurgeon gracejou dizendo que alguns
ministros ‘fariam bons mártires – ou seja, estão a ponto de pegar
fogo’. A respeito de um pregador, ele disse sarcasticamente:
‘Não há dúvida de que ele ardia muito bem, porque era muito
seco’. A tragédia é que muitos pastores não se mostram
entusiasmados quando proclamam a Palavra.”
— R. C. Sproul disse o seguinte: “‘A pregação sem paixão é uma
mentira’. Isto significa que um discurso insípido procedente de um
púlpito é uma contradição de termos. Não importando o que
seja isso, não é pregação, definitivamente”. E, ainda: “‘Onde não
há paixão pela verdade, não há pregação autêntica – somente
retórica insípida. Mas, onde o Espírito Santo de Deus está agindo
com poder, ali há verdadeira pregação ’”.
Pregue Confiadamente – No poder do Espírito Santo
— Pregar a Palavra de Deus é uma tarefa muitíssimo árdua e que
exige um esforço grandioso do pregador. É trabalho
hermenêutico, exegético, sistemático, homilético, criativo e
comunicativo. O ponto é que não estamos lidando com um
assunto de natureza puramente teórica ou simplesmente
técnica, mas essencialmente espiritual.
— A pregação experiencial exige do pregador não só um trabalho
humano de pesquisa e transmissão de conteúdo, mas também
uma dependência plena da ação poderosa do Espirito Santo de
Deus.
— O trabalho do pregador consiste em dizer exatamente aquilo que
Deus quis comunicar em sua Palavra. Mas essa mensagem só
alcançará êxito se for pregada no poder do Espírito Santo.
— Sem a ação do Espírito a mensagem do evangelho não passará
dos ouvidos, não chegará aos antros do coração humano,
jamais transformará vidas e não passará de um “belo” discurso
moralista recheado de advertências e deveres sobre a vida
cristã.
— Para o escritor e pregador Joel Beeke, pregar na dependência
do Espírito Santo significa o seguinte: “Os pregadores sentem
profundamente a sua incapacidade de pregar com exatidão,
de trazer alguém a Cristo e de promover o amadurecimento dos
santos. Sabem que dependem completamente da obra do
Espírito Santo para operar a regeneração e a conversão quando,
como e em quem ele deseja. Eles creem que somente o Espírito
persuade os pecadores a buscar a salvação, renova a vontade
corrompida e faz as verdades espirituais enraizarem em corações
de pedra. Como escreveu Thomas Watson: ‘Os ministros batem à
porta do coração dos homens; o Espírito Santo vem com a chave
e abre a porta.”
— Com muita autoridade, o grande expositor bíblico, John Stott,
em seu clássico livro Eu creio na Pregação, sabiamente afirma o
seguinte sobre a necessidade da dependência do Espírito Santo:
“A nossa maior necessidade como pregadores ‘é sermos
revestidos do poder do alto’ (Lc 24.49) a fim de que, como os
apóstolos, possamos ‘pregar o evangelho pelo Espírito Santo
enviado do céu’ (1Pe 1.12) e o evangelho chegue às pessoas
mediante a nossa pregação ‘não somente em palavra, mas
também em espírito de poder, e no Espírito Santo e em plena
convicção’ (1Ts 1.5). Todos nós que somos pregadores cristãos
somos criaturas finitas, caídas, frágeis e falíveis, como ‘vasos de
barro’ (2Co 4.7). O poder pertence a Cristo e é exercido por
intermédio do seu Espírito. As palavras que falamos na fraqueza
humana são levadas diretamente pelo Espírito Santo, mediante o
seu poder, ao coração, à mente, à consciência e à vontade dos
ouvintes.”
— Lloyd-Jones afirma que “alguns homens caem no erro de
depender exclusivamente da unção do Espírito, negligenciando
tudo que se refere à preparação. A maneira correta de se
encarar a unção do Espírito é pensar nela como aquilo que vem
sobre a preparação.”
— Para ele, a unção do Espírito está ligada direta e
inequivocamente ao preparo prévio do pregador, ou seja, seu
estudo, oração e humildade. Para ele, “a preparação cuidadosa
e a unção do Espírito Santo jamais devem ser consideradas como
alternativas, e sim como fatores que complementam um ao
outro.”
— É fato que a unção do Espírito e o preparo do pregador são os
dois lados da mesma moeda. Mas a pergunta que segue é: o que
devemos realmente entender por unção do Espírito? Lloyd-Jones
responde assim: “É a descida do Espírito Santo sobre o pregador,
de maneira especial. É um acesso de poder. Deus é quem
outorga poder e capacidade ao pregador, mediante o Espírito
Santo, a fim de que o pregador realize a sua tarefa, de modo que
seu desempenho seja elevado, acima e além dos esforços e
empreendimentos humanos, chegando a uma posição em que
ele está sendo usado nas mãos do Espírito e se torna o canal por
intermédio do qual o Espírito opera. [Portanto], um homem pode
ter conhecimento e ser meticuloso na preparação de seus
sermões, mas, sem a unção do Espírito Santo, não terá qualquer
poder, e a sua pregação não será eficaz.”

Pregue Habilidosamente
— Pregar sermões expositivos experienciais requer algumas
habilidades importantes.
— Em primeiro lugar, pregue sequencialmente (lectio continua).
Calvino acreditava que expor versículo após versículo, capítulo
após capítulo e livro após livro era o significado de pregar todo o
“desígnio de Deus” (At 20.27).
— Há muitas coisas boas em se pregar sequencialmente. 1. Faz o
pregador estudar profundamente cada passagem. 2. Força o
pregador a lidar com os textos originais e bons comentários. 3. Dá
a congregação uma visão detalhada do texto. 4. Evita a
tentação de pregar possíveis “sermões encomendados”. 5. Evita
que alguém o acuse de atingir pessoas por meio de seus sermões.
6. Evita a angustia semanal pela busca do texto a ser pregado no
domingo. 7. Encoraja o pregador a planejar suas exposições ao
longo de um ou mais anos. 8. Lida com temas delicados que
dificilmente seriam tratados numa pregação. 9. Economiza
tempo no estudo contextual. 10. Proporciona ao pregador a
bênção de produzir um rico material para o futuro, quer
devocional ou mais “teológico”, se ele for disciplinado em
escrevê-lo.
— A despeito da grande bênção que é a exposição sequencial, é
importante ressaltar as seguintes observações: 1. Séries de
sermões podem e devem ser interrompidas, a qualquer
momento, para tratar de questões importantíssimas na igreja
local. 2. Cuidado para não fazer exposições muito longas, a tal
ponto de cansar o seu público (ex. Lloyd-Jones – expôs Romanos
por 13 anos). 3. Cuidado para não transformar a sua exposição
numa palestra. Lembre-se que pregação não é mera
informação, mas aplicação prática. Sermão sem aplicação é
como uma carta sem endereço. Cuidado para não parecer que
levou as “panelas para a mesa”. Estude o texto, escreva o
sermão e leve o mínimo de notas para o púlpito. Calvino fazia
exposições sem nenhuma anotação.
— Faça uso de boas e oportunas ilustrações. Elas dão mais vida e
brilho ao sermão. Jesus usava ilustrações com frequência,
especialmente em suas parábolas (Mt 6.26, 28; 7.24-27; 13.33; Lc
17.26-27). Use histórias da própria Bíblia o máximo possível.
Lembre-se também que há excelentes ilustrações nas biografias
de homens de Deus. Conte as histórias como se estivesse nelas.

Pregue Piedosamente
— Seja um pregador comprometido com as Escrituras Sagradas.
Creia que elas são a Palavra de Deus inspirada, inerrante e
suficiente.
— Mantenha uma vida devocional regular para sua edificação e
crescimento pessoal; e não com a finalidade de encontrar textos
para o sermão de domingo. Antes da Bíblia ser o seu instrumento
de trabalho, ela é o seu alimento diário.
— Regue os seus sermões com oração. Não confie no seu
conhecimento, ou no seu manuscrito, muito menos na sua
memória, confie no poder do Espírito Santo. Só Ele pode
transformar pecadores.
— Seja humilde ao receber as críticas. Considere de quem são, suas
motivações e o seu conteúdo. Mas também tome cuidado com
os “elogios na porta da igreja”!
Vocação e Aconselhamento

— Ser pastor é dedicar tempo ao aconselhamento bíblico.


— Se por um lado a pregação é pública, por outro, o
aconselhamento tem um tom mais pessoal e particular.
— O aconselhamento, ao lado da pregação, é umas das tarefas
mais importantes, urgente e necessárias no ministério pastoral.
— O pastor jamais deve negligenciar a tarefa bíblica do
aconselhamento.
— Muitos crentes estão perecendo por falta de instrução cristã. Em
contrapartida, estão buscando ajuda profissional sem nenhum
critério.
— Portanto, vivemos numa época em que o aconselhamento
bílbico está sendo redescoberto; e mais do que nunca, é
necessário colocá-lo em prática na igreja local.

Imperativos ao Aconselhamento
• Desde os tempos apostólicos, o aconselhamento tem ocorrido na
Igreja como função natural da vida espiritual do corpo.
• O Novo Testamento afirma e ordena aos crentes que se exortem
mutuamente: “... pelo contrário, exortai-vos (παρακαλεῖτε da raíz
παρακαλεω) mutuamente cada dia...” (Hb 3.13).
• Escrevendo aos Colossenses, Paulo diz: “Habite, ricamente, em
vós a palavra de Cristo; instruí-vos (διδάσκοντες) e aconselhai-vos
(νουθετοῦντες, da raíz νουθεσια – “pôr na mente”) mutuamente
em toda a sabedoria (Palavra de Deus)...” (Cl 3.16).
• Essa palavra é que dá origem ao chamado “aconselhamento
noutético” – confrontação bíblica.
— E também aos Tessalonicenses Paulo afirma: “consolai-vos
(παρακαλεω) uns aos outros...” (1Ts 4.18); “consolai-vos
(παρακαλεω) uns aos outros, e edificai-vos reciprocamente...” (1Ts
5.11).
— Em seu último encontro com os Presbíteros da Igreja de Éfeso,
Paulo relembrou o seu ministério de aconselhamento naquele
lugar: “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos,
noite e dia, não cessei de admoestar (νουθετῶν), com lágrimas,
a cada um.” (At 20.31).
— Portanto, todas essas instruções aplicam-se ao povo da Igreja –
não somente a uma “casta sacerdotal” de “especialistas”.
— O aconselhamento bíblico é tanto uma tarefa do ministro quanto
de toda a igreja local.

Aconselhamento Integracionista
— Em anos recentes, surgiu dentro da igreja cristã um forte e
bastante influente movimento que procura substituir o
aconselhamento bíblico pela “psicologia cristã”.
— O chamado aconselhamento “integracionista” (bíblia +
psicologia) é uma mistura de versículos da Palavra de Deus e
ensinamentos de diversos pensadores da área, como Freud,
Rogers e Jung. O perigo deste tipo de aconselhamento é que ele
faz com que a igreja acabe encaminhando os crentes para os
“especialistas”, sem nenhum cuidado
— Outro perigo é colocar de lado a suficiência das Escrituras para
a solução dos grandes humanos.
— A pergunta que temos que responder sinceramente é: A Bíblia é
ou não suficiente?
— Em contrapartida, tem havido um movimento muito forte em
todo o mundo pelo retorno às Escrituras como fonte e recurso
para o aconselhamento. Isso é chamado de aconselhamento
bíblico.
— Vemos que a Bíblia é superior ao conhecimento humano (1Co
3.19). Ela é capaz de discernir o coração (Hb 4.12), coisa que
método nenhum pode fazer.
— Além disso, o Espírito Santo também age nos corações
recuperando e regenerando (Ef 5.18-19) e que todos os tesouros
da sabedoria encontram-se no próprio Cristo (Cl 2.3).
— A Bíblia é o único manual confiável para o verdadeiro estudo da
alma. Ela é tão exaustiva no diagnóstico e no tratamento de
cada questão espiritual que, aplicada pelo Espírito Santo no
cristão, Ela o torna semelhante a Jesus Cristo. A isto chamamos
de o processo da “santificação progressiva”. Esse é o alvo do
verdadeiro aconselhamento bíblico.
— Os puritanos chamavam isso de a “obra da alma”. Nos seus dias,
o pastor era o responsável primeiro pela “cura das almas”. Seu
trabalho era à partir das Escrituras!

Os Puritanos e o Aconselhamento Bíblico


— Os puritanos eram crentes que buscavam apaixonadamente a
pureza espiritual – daí “puritanos”.
— Eles tinham uma alma fervorosa pela Palavra de Deus. Eram
pessoas de excepcional testemunho cristão. Os pregadores eram
homens de Deus que fizeram coisas extraordinárias em seu
tempo.
— Os puritanos eram conselheiros bíblicos de primeira linha, por
assim dizer.
— A característica fundamental do aconselhamento bíblico
puritano era o compromisso com a Palavra de Deus. Eles criam
na suficiência dela para tratar os problemas humanos.
— Eles confiavam plenamente em Deus e no seu poder
transformador.
— A compreensão do homem era algo basilar no aconselhamento
puritano. Eles se dedicavam muito em obter uma antropologia
(estudo do homem) com base nas Escrituras.
— Além disso, eles tinham uma teologia bem definida sobre a
pecaminosidade e depravação humana.
— Nos dias dos puritanos as pessoas buscavam os pastores e
pessoas experientes para se aconselharem.
— Não havia psicólogos ou psiquiatras que pudessem prover
terapias alternativas.
— A Igreja e casas eram os “consultórios” de aconselhamento. As
pessoas acreditavam na suficiência da Palavra de Deus para
tudo (cf. Rm 15.4).

A Redescoberta do Aconselhamento Bíblico nos Tempos Modernos


— Com o passar dos anos, a Bíblia começou a ser colocada de lado
como fonte e autoridade no aconselhamento pastoral.
— O liberalismo teológico (sec. XIX) contribuiu muito para isso, pois
ele levou as pessoas a desacreditarem na inspiração, inerrância
e suficiência das Escrituras.
— Outras “terapias estranhas” começaram a ganhar força no meio
cristão.
— As pessoas passaram a procurar os psicólogos e nãos mais os
pastores das suas igrejas.
— Quem sabe, por mais de décadas, o aconselhamento bíblico
ficou “esquecido” e “adormecido” em detrimento de práticas
humanistas.
— Foi neste contexto que surgiu um homem chamado Jay E.
Adams. Um homem muito culto, doutor em teologia, versado na
língua grega e mestre dos mestres em pregação. Mas acima de
tudo um pastor que lidava diariamente com os problemas das
pessoas.
— Logo ele percebeu que as terapias psicológicas não resolviam de
fato os problemas das pessoas.
— Foi aí que ele começou a estudar o aconselhamento puramente
bíblico.
— Aconteceu uma revolução nos seus dias (década de 60). Sua
proposta caiu como uma bomba na comunidade terapêutica-
psicológica.
— O aconselhamento bíblico era diferente de tudo o que havia no
“mercado” das terapias.
— Seus dois grandes trabalhos publicados em português são o
“Conselheiro Capaz” e o “Manual do Conselheiro Capaz”,
considerados por muitos estudiosos da área como as grandes
obras de referência na área de aconselhamento bíblico.
— Ele fundou um curso paralelo em treinamento de conselheiros
bíblicos em Filadélfia – Christian Conseling Educaticional
Fundation.
— Por conta de sua grande procura, ele também, juntando outros
interessados fundou a National Association of Nouthetic
Counselor (NANC) – em 1976 (Associação Nacional de
Conselheiros Noutéticos).
— Fundou, além disso, o The Jornal of Pastoral Practice (1977). O
Jornal da Prática Pastoral.
— Infelizmente, Jay Adams é pouco conhecido ainda no Brasil. Há
pouquíssimas obras dele publicadas em português (O Lar Cristão
[FIEL]; Casamento, Divórcio e Novo Casamento [PES], Teologia do
Aconselhamento), além dos livros já citados.
— Vale a pena ler cada palavra escrita por este profundo e humilde
servo de Deus.

As Bases do Aconselhamento Bíblico


— Podemos definir o Aconselhamento Bíblico em basicamente sete
pontos:
1. Deus está no Centro do Aconselhamento – Deus é soberano. Ele
está falando por meio da sua Palavra através da ação livre do
Espírito Santo.
2. O Compromisso com Deus traz consigo consequências
Epistemológicas [conhecimento] – Outras formas de
conhecimento devem ser submetidas à autoridade da Palavra.
A ciência e a literatura podem ser úteis mas nãos devem exercer
uma função essencial no aconselhamento.
3. O Pecado, em todas as suas dimensões, constitui-se no
problemas básico e primordial com o qual os conselheiros bíblicos
terão de lidar em todo o tempo. É por essa razão que o
aconselhamento bíblico é chamado de noutético [no grego –
confrontação], porque ele confronta o pecado do homem.
4. O Evangelho de Jesus Cristo é a Resposta. Não há outra resposta
para o pecado do homem senão a graça de Cristo apresentada
por meio do evangelho. Somente o aconselhamento bíblico é
capaz de realmente diagnosticar precisamente a causa do
problema e aplicar o melhor e mais eficaz remédio – a graça.
5. O processo de mudança que o aconselhamento deve visar é a
santificação progressiva. Ao passo que a psicologia e outras
terapias, em sua grande maioria, trabalha apenas o
comportamento, o aconselhamento leva à verdadeira
transformação do coração por meio da santificação progressiva,
tendo a Palavra e a oração como ferramentas indispensáveis.
6. Dificuldades situacionais não são a causa aleatória dos
problemas da vida. Situações adversas operam dentro do plano
soberano de Deus. Hereditariedade, temperamento,
personalidade, cultura, opressão e mal, perdas, obstáculos,
idade avançada são considerados no aconselhamento, mas
não são, em última análise, determinantes e causadores de
pecado contra Deus. Temos aqui uma máxima: O homem peca
porque quer pecar. “Eu faço o que faço, porque quero o quero”,
diz outra máxima do aconselhamento. Cada pessoa é
responsável pelo seu pecado, mesmo que ele não reconheça
isso (Gn 3.9). Situações externas e fisiológicas podem influenciar,
mas não determinar comportamentos pecaminosos.
— 7. O aconselhamento bíblico é uma atividade eminentemente
pastoral e deve ser ministrado pela igreja. Deus incumbiu a Igreja
de cumprir esse papel de conselheira e não os “profissionais” da
terapia. A igreja jamais pode negligenciar a sua tarefa de
“admoestar”, “exortar” e “encorajar” uns aos outros.

O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Bíblico


— O Espírito Santo é o Paracleto (consolador, exortador) (Jo 14.16-
26). O Espírito Santo é o ajudador do crente. Ele tanto o exorta
nos momentos de pecado e frieza, quanto também o encoraja
nos momentos de tristeza e angústia. Ele é o companheiro do
cristão no seu dia-a-dia.
— O Espírito Santo é um guia rumo à Verdade (Jo 14.17; cf. 1Co
2.10,12,14). Além de exortar e encorajar, o Espírito também
ilumina e ministra ao coração dos crentes por meio da Palavra.
Se o Espírito Santo não fizer isso ninguém mais pode fazê-lo, por
isso, o aconselhamento bíblico é, por natureza, uma atividade
espiritual e não “meramente terapêutica”.
— O Espírito Santo habita nos crentes (Jo 14.17.b). O Espírito Santo
não apenas está com os crentes, mas está neles. A presença do
Espírito Santo no crente é, primeiro, a prova de que ele é
realmente crente, depois, é a garantia de eterna salvação e
direção segura e constante.
Disciplina Espiritual do Conselheiro Bíblico
No Relacionamento com o Senhor
— Leitura e estudo diligente das Escrituras é fundamental. Para
ensinar é preciso primeiro conhecer.
— Vida de constante oração. A oração é a demonstração da
dependência de Deus no aconselhamento. Quem melhor ora,
melhor aconselha.

No Relacionamento com a Igreja


— Testemunho Autêntico – aquele que deseja ser um conselheiro
precisa ter um testemunho autêntico dentro e fora de sua casa e
da igreja. Ele precisa ser um exemplo em tudo. As pessoas
precisam ver nele um conselheiro confiável.

No Relacionamento com os Outros


— Evangelização de não crentes – o conselheiro é e precisa ser um
evangelista. Ele deseja “aconselhar” as pessoas a crerem em
Jesus e entregar-lhe a vida.
— Discipulado – o conselheiro deve estar disposto a discipular as
pessoas a quem Deus coloca no seu caminho.

Nos Relacionamentos Pessoais


— Família – deve ser alguém que ama a esposa e educa bem os
filhos no caminho do Senhor. Isso é fundamental!
— Na moral e nos negócios – deve ser alguém irrepreensível, que
tem uma vida ilibada no que tange à sua moral e finanças.
Nenhuma dúvida pode pairar sobre estas áreas.

Desenvolvendo uma Relacionamento de Ajuda ao Aconselhado


Vínculo por meio da Compaixão
— O vínculo se estabelece quando as pessoas sabem e percebem
que você se interessa por elas. Jesus é o nosso melhor exemplo
de compaixão (Mt 9.36). Paulo também é um grande exemplo
de pastor-conselheiro compassivo (cf. At 20.31; 2Co 2.4; 1Ts 2.7-
8).
Desenvolvendo uma Compaixão Genuína
— Pense como você se sentiria na posição do aconselhado (Mt 9.36
– “vendo as multidões”). Coloque-se no lugar do outro.
— Imagine o aconselhado como alguém da sua família (1Tm 5.1,2).
Pense que você está aconselhando alguém próximo.

Considere sua própria pecaminosidade


• Da mesma maneira que confrontamos alguém em pecado,
podemos também cair em pecado. Isso nos faz lembrar sempre
que, nessa relação aconselhando e aconselhado, é um pecador
tratando com outro. Isso nos torna mais humildes (cf. Gl 6.1).

Pense em formas práticas de demonstrar compaixão. Como?


1. Diga aos seus aconselhados que você se importa com eles (Fp
1.8)
2. Ore com eles (Cl 4.12,13)
3. Alegre-se ou entristeça-se com eles (Rm 12.15)
4. Ame-os, mesmo quando rejeitarem seus conselhos (Mc 10.21)
5. Perdoe-os, mesmo quando te maltratarem (Mt 18.21-22)
6. Supra as necessidades físicas deles, se for o caso (1Jo 3.17)

Respeitando seu Aconselhado


1. Utilize a comunicação correta (Pv 16.21)
2. Evite posturas inadequadas durante o aconselhamento
3. Leve o problema do aconselhado a sério
4. Expresse confiança em seu aconselhado
5. Receba bem a contribuição do aconselhado
6. Mantenha a confidencialidade
— Um conselho Final sobre a relação com o aconselhado: “A
verdade sem amor fere! O Amor sem verdade engana!”
Dando Esperança ao Aconselhado
Características da Falsa Esperança
1. A falsa esperança se baseia em ideias humanas quanto ao que
é agradável e desejável – muitas pessoas acham que seus
problemas vão desaparecer simplesmente porque obtém o que
desejam.
2. A falsa esperança se baseia numa negação da realidade – isso
é dizer a pessoa alguma coisa que de fato não vai acontecer. Ex.
Uma mulher divorciada, cujo marido está com outra, mas ainda
pensa que o marido irá voltar. O conselheiro, ao invés de dizer a
verdade, dá falsas esperanças.
3. A falsa esperança se baseia numa visão antibíblica da oração –
há pessoas que acreditam que oração, por si só, soluciona todos
os problemas, como finanças, estudos, cura física (sem remédio
ou tratamento adequado), etc. É muito comum ouvir pessoas
que dizem que estão orando, mas também não estão fazendo
nada.
4. A falsa esperança se baseia em uma interpretação inadequada
das Escrituras – não raras vezes as pessoas distorcem passagens
bíblicas para usarem ao seu bel-prazer. Por exemplo: Sl 23.1; 37.4;
Fp 4.13; Mt 18.19. No aconselhamento devemos abordar sempre
os textos em seus devidos contextos. Eis a boa hermenêutica!

Características da Verdadeira Esperança


1. A verdadeira esperança está biblicamente baseada na
expectativa do bem – ela está alicerçada nas promessas de Deus
e não em achismos humanos.
2. A verdadeira esperança é realista – Não inventa fatos, mas
trabalha com o real (ex. Doença terminal...)
3. A verdadeira esperança flui do estudo diligente e fiel da Palavra
de Deus – é a partir da Bíblia que o aconselhamento se dá. As
esperanças são fruto do estudo e da compreensão daquilo que
Deus ensina claramente em sua Santa Palavra.
4. A verdadeira esperança descansa na soberania de Deus

Como dar a Verdadeira Esperança


1. Ajude as pessoas a crescerem em seu relacionamento com Cristo
– lembrando que o objetivo do aconselhamento bíblico é a
santificação progressiva, e isso envolve relacionamento com o
Salvador Jesus.
2. Ensine as pessoas a pensar biblicamente – a seguinte pergunta
deve ficar na cabeça do aconselhando sempre: o que a Bíblia
diz ou ensina sobre tal coisa...ex.: dinheiro, sexo, família, estudo,
namoro, casamento, ética, trabalho, etc.
3. Dê exemplos piedosos aos aconselhandos – os melhores
exemplos vêm da Palavra de Deus. Histórias, parábolas,
situações, etc. Use também exemplos da história cristã e
exemplos pessoais (cuidado para não exagerar neste aspecto e
parecer sempre um super-crente).

A Dinâmica do Aconselhamento
— Aconselhamento não é apenas trabalho do Pastor ou do
Presbítero. Qualquer irmão ou irmã com conhecimento bíblico e
experiência cristã pode e deve aconselhar.
— Aconselhamento é uma tarefa da igreja como um todo. “Exortai-
vos mutuamente...” Entretanto, o que se espera do pastor é que
seja ele o exemplo de conselheiro.
— Aconselhamento não se faz apenas numa sala ou gabinete, com
horário agendado, como uma clínica terapêutica.
— Aconselhamento se faz em todo o tempo – numa conversa
informal, caminhando, num restaurante, num acampamento
(local ótimo), ao término do culto, por telefone, skype, whatsapp,
messenger, etc.
— Comece e termine com oração, se possível. Peça a direção de
Deus para aquilo que for dito e ore ao final agradecendo, pela
fé, o agir de Deus naquela vida.
— Ore especificamente pelo problema da pessoa, exaltando
sempre a soberania de Deus e rogando por graça abundante.
— Se o aconselhamento for numa sala, e, portanto, mais formal,
procure anotar algumas coisas importantes que serão ditas, para
que a pessoa fique bem a vontade para falar.
— A anotação irá lhe permitir retomar o assunto mais tarde sem
interromper o raciocínio da pessoa. Se não for formal, fique bem
atento para recapitular depois.
— Por exemplo: “Você disse que num determinado momento da
sua vida teve algo que te entristeceu muito, seria possível me falar
um pouco mais sobre isso? O que exatamente aconteceu
naquele momento. Fique a vontade para contar. Não tenha
pressa, tenho o tempo necessário para lhe ouvir.”
— Se você notar contradições, questione um pouco mais até
estabelecer a verdade.
— Diga ao aconselhando que os conselhos que você vai fornecer
são da Palavra de Deus. Isso lhe dará mais crédito e confiança.
— Não tenha pressa em ouvir. Muitas vezes pessoas querem apenas
desabafar – alguém pra ouvi-las.
— Estabeleça um tempo razoável para o aconselhamento. Não
queira ouvir toda a história de uma senhora de 80 anos, com
problemas com os filhos, em apenas uma hora.
— Particione o tempo e remarque outro momento para continuar a
ouvir a história. Cuidado para não deixar a conversa perder o
foco.
— Esteja bem atento e olhando nos olhos do aconselhando. Isso
demonstra atenção e preocupação com a pessoa e com a
situação dela.
— Cuidado para não fazer ou entrar em assuntos constrangedores.
Deixe a pessoa a vontade para responder segundo o seu querer.
Salvo se perceber alguma contradição.
— Muitas vezes, é necessário descontruir o pensamento e refazê-lo
à luz da Palavra de Deus. Ex.: “veja bem, isso que você disse não
é exatamente assim. Vejamos o que a Bíblia fala sobre a
ansiedade... Note como Jesus enxerga a questão da ansiedade.
É bem diferente do que você estava imaginando, não é
mesmo?”
— Cuidado para não ser pesado de mais nas palavras. Seja amável,
uma vez que aquela pessoa já está fragilizada por alguma coisa
que aconteceu. Ao mesmo tempo, seja firme em confrontar o
erro e o pecado. Se algo é pecado, então diga e trate como
pecado. Ex. Vício de cigarro ou droga não é vício, é um pecado
escravizador.
— Vá construindo um pensamento com a pessoa. Jamais entre num
“ping-pong”. Ela fala e você rebate e vice-versa.
— O papel do conselheiro é aconselhar e não entrar num debate
sem fim. A pessoa que vai a você buscar conselhos precisa
compreender que você é um instrumento de Deus e ela tem que
lhe ouvir.
— Tenha anotado na sua Bíblia ou de cabeça algumas passagens-
chave no aconselhamento. Por exemplo: ansiedade, morte,
dinheiro, sexo, família, criação de filhos, perdão, pecado,
adultério, soberania de Deus, alegria, encorajamento e história
bíblicas que ilustrem o assunto. Isso vai lhe dar boa bagagem
para aconselhar prontamente.
o final, se for um aconselhamento formal, atribua uma tarefa. Ex.:
ler e meditar em tal passagem durante a semana. Escrever uma
lista de coisas que a separa de Deus. Ler ou assistir um filme sobre
determinado assunto. Orar dez minutos sobre aquilo. Anotar as
vitórias e derrotas, etc.
— Se for informal, diga pra pessoa assim: “Vamos continuar esse
papo na semana que vem, daí você me conta como foi. Vou
ficar ‘ansioso’ para saber dos resultados, de como Deus agiu”.
Passados alguns dias você liga pra pessoa e puxa a conversa
sobre aquele assunto novamente.
— Cuidado para não se envolver com o caso do aconselhando
achando que o problema é seu e é seu dever resolvê-lo. Cuidado
para não levar para casa o problema da pessoa.
— Em casa, o máximo que se pode fazer é orar em secreto.
Cuidado com o envolvimento próximo com o aconselhando.
Mantenha o fator “distância”.
— Jamais faça comentários de casos quando a pessoa envolvida
está presente. Ao citar um caso como exemplo não seja muito
específico e muito menos dê nomes. A não ser que você tenha
autorização expressa da pessoa para compartilhar aquela
situação. Caso contrário, o que foi dito entre vocês morre
exatamente ali.
— Cuidado ao aconselhar mulheres, especialmente solteiras,
divorciadas, com problemas no casamento. Se possível, procure
ter alguém de confiança junto. Quem sabe sua esposa ou uma
mulher piedosa da igreja na sala ao lado. Jamais aconselhe
pessoas assim sozinho, onde quer que seja. “Aquele que pensa
estar em pé veja que não caia...”
— Se a pessoa ignorar os seus conselhos, continue tendo
misericórdia, mas seja sincero e diga que não há mais o que ser
feito nesta circunstância.
— A pessoa tem que quer buscar a mudança, mesmo errando e
tendo recaídas. Mas se ela negar deliberadamente a mudança,
não resta mais nada a ser feito.
— Ao tratar de um caso que não sabe como agir, primeiro ore,
estude a Bíblia e procure ajuda de alguém experiente. Não
pense que você vai saber tudo da noite para o dia.
— Aconselhamento é experiência. A cada dia você aprende a
tratar os mais diversos casos. Seja humilde para reconhecer suas
limitações como conselheiro pecador.
— Busque ser um exemplo em tudo, porque a partir daquele
momento do aconselhamento, o aconselhado passará a lhe
observar nas palavras, gestos, ações e omissões.
— É um grande desafio ser conselheiro. Mas é muito gratificante ver
pessoas sendo transformadas pela graça de Cristo. Deus seja
louvado.
Vocação e Missão

— Uma das tarefas do Pastor é a de envolver-se na obra da


evangelização.
— É fato que há pastores com vocações específicas para
determinados lugares.
— Assim como Pedro foi considerado o “apóstolo dos judeus”, Paulo
foi o “apóstolo dos gentios” (Ef 3.8). Cada qual com sua vocação
particular de Deus.
— Há pastores com vocação para plantação de igreja em sua
própria cultura. Outros recebem de Deus o chamado para
pregar em outras culturas (transcultural).
— Há pastores que só trabalham plantando igrejas, abrindo
trabalhos, desbravando novos campos ainda não semeados.
Contudo, há um fato inegável – todos os ministros devem
envolver-se com missões.
— Missões não são apenas para missionários formados – pessoas
comissionados por meio de um órgão missionário instituicional.
Pelo contrário, a tarefa de “ir” e pregar é uma tarefa que é
atribuida a toda a Igreja de Cristo e não apenas a um grupo
específico (Mt 28.18-20). Portanto, isto significa, por implicação,
que os pastores devem se envolver com esta grande ordem.

Imperativos à Evangelização
— O maior imperativo foi dado pelo próprio Senhor Jesus: “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (Mt 28.18-20);
“Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura”
(Mc 16.15); “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, com em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8).
— Escrevendo ao jovem pastor Timóteo, Paulo o exorta sobre o
dever de anunciar o evangelho: “prega a palavra, insta, quer
seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a
longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2), e ainda: “Tu, porém, sê
sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de
um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério.” (2Tm 4.5).

Exemplos de Missionários
— No Antigo Testamento encontramos o Senhor comissionando
Jonas para pregar o arrependimento para o ninivitas (Jn 1.1; 3.1-
3). Este foi o missionário bem sucedido que falhou.
— Lemos, ainda, no livro do Profeta Isaías sobre a tarefa missionária
de Cristo: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o
Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados,
enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar
libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados” (Is
61.1).
— Ainda em Isaías lemos aquele texto encorajador: “Que formosos
são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que
faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a
salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is 52.7; cf. citação
de Isaías em Rm 10.15).
— O Senhor Jesus, durante todo o seu ministério, desenvolveu sua
tarefa missionária. Ele viajava de um lugar para o outro
apregoando o Reino de Deus (cf. Mc 1.14,-15; 2.2; Lc 4.42-44).
— O principal ministério de Jesus era ensinar e anunciar as boas-
novas do Reino.
— Enquanto fazia missões, Jesus treinava os seus discípulos para que
continuassem a sua obra (Lc 8.1).
— O apóstolo Paulo foi outro exemplo inspirador de missionário.
— Ele dedicou toda a sua vida e o seu ministério à gloriosa tarefa de
apresentar Cristo onde ele ainda não era conhecido (cf. Rm
15.20).
— Paulo, segundo os eruditos, trabalhou como missionário por cerca
de 30 anos, fez três viagens missionárias, plantou várias igrejas,
deixou vários discípulos, formou liderança e escreveu várias
cartas preciosas.
— O primeiro ato de Paulo após a sua conversão foi pregar o
evangelho (cf. At 9.20, 22, 28).
— Paulo continuou pregando o evangelho por onde passava (cf. At
13.5; 13.46; 14.21-23; 18.5; 19.8).
— A narrativa de Lucas sobre o ministério missional de Paulo termina
assim: “Por dois anos, permaneceu Paulo na sua própria casa,
que alugara, onde recebia todos que o procuravam, pregando
o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento
algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo.” (At
28.30).
— Podemos afirmar que, de certo modo, Paulo fez missões locais
(entre os judeus de sua região), missões transculturais (entre os
gentios de diversas culturas) e missões “prisionais” (numa casa em
Roma).
— Paulo era um apóstolo, um pregador do evangelho, um
doutrinador, um conselheiro, um pastor, mas também era um
missionário que entendia a urgência e a necessidade de
envolver-se com a obra missionária. Ele expressou bem esta
responsabilidade ao afirmar: “Se anuncio o evangelho, não
tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação;
porque ai de mim se não pregar o evangelho! (1Co 9.16).

As Várias Esferas das Missões


Missões Locais
— A nossa tendência é pensar que missões são apenas para
aqueles pastores ou missionários que vão, mas não para os que
ficam. Isto não é verdade! Jesus disse que devemos pregar o
evangelho tanto num lugar quanto em outro, ou seja, em todos
os lugares. A tarefa é tanto na África quanto no Brasil.
— O pastor precisa ver o seu bairro e a sua cidade como um grande
campo missionário a ser trabalhado.
— A igreja precisa ser a sua base, como Antioquia foi para Paulo, e
os membros como missionários a serviço do Reino.
— Se os pastores pensarem deste modo, haverá um grande
trabalho a ser desenvolvido naquele local. Sem esta
compreensão missiológica, a igreja tenderá a ficar estagnada
em todos os sentidos.
— Mas como os pastores podem envolver-se com missões locais?
— Primeiro, sendo eles mesmos modelos de missionários para a sua
igreja local. Somente um verdadeiro vocacionado sentirá arder
na sua veia o desejo de evangelizar os pecadores. Alguém que
se diz vocacionado, mas não sente compaixão dos perdidos e o
desejo ardente de lhes apresentar Jesus Cristo, deve repensar o
seu chamado. Não significa que o pastor deva passar a semana
toda evangelizando, deixando assim de estudar e se preparar,
mas que ele, sempre que possível, deve levar as boas-novas da
vida eterna aos vizinhos da igreja e da sua casa, aos moradores
do seu bairro e da sua cidade. Quando se está disposto, Deus vai
dando as oportunidades no devido tempo.
— Segundo, desafie a sua igreja a se corresponder com os
missionários do Brasil e do exterior. As notícias irão despertar e
encorajar e o seu povo a orar e a contribuir. Isto vai trazer um
grande impacto local.
— Terceiro, faça conferências locais sobre missões. Elas são muito
encorajadoras para despertar os crentes e muito mais produtivas
do que conferências nacionais.
— Quarto, aplique métodos reformados de evangelização. Alguns
deles podem ser muito frutíferos, se bem adaptados e usados
para a glória de Deus (evangelismo explosivo, distribuição de
folhetos, cultos em praça pública, pesquisa religiosa, trabalhos
sociais – futebol, artesanato, fisioterápico, etc.). Lembre-se que
métodos são apenas métodos. O que vale é a Palavra de Deus
proclamada fielmente!
— O discipulado é, certamente, o caminho mais seguro para se
apresentar o evangelho as pessoas, de maneira simples e
objetiva. Não é sem razão que a ordem de Jesus quanto à tarefa
de evangelização começa com o “ide e fazei discípulos”. Olhe
para a sua igreja como uma base, o seu bairro como um campo
e os seus crentes como agentes.
— Quinto, como pastor, ore por missões. Ore por um despertamento
na sua igreja local. Pregue, ministre, escreva, fale e converse
sobre o assunto. Comece pelo seu Conselho.
— Todo pastor sério e comprometido tem o desejo de ver a sua
igreja amadurecer e crescer saudavelmente. O caminho é
envolver a sua igreja na obra missionária, tanto a nível local,
quanto extra local.

Missões Transculturais
— Quando falamos de missões transculturais, estamos falando da
obra de evangelização em culturas diferentes, tanto no Brasil,
quanto no exterior. É possível, também, nos envolvermos nesta
outra esfera de missões.
— Primeiro, ore e leve a sua igreja a orar pelos missionários nos
campos. Mantenha uma agenda de oração.
— Segundo, desafie a sua igreja a contribuir para missões. Convide
missionários para pregar em sua igreja e levante ofertas para ele.
Remeta ofertas mensais.
— Desafie seus membros a visitarem um campo missionário por
alguns dias. Você pode promover uma viagem missionária. Com
certeza, a sua igreja nunca mais será a mesma depois dela. A
visão vai se abrir muito.
— Terceiro, como pastor, se possível, visite um campo missionário, de
preferência uma realidade bastante diferente. Você pode
envolver a sua igreja nisto em oração e contribuição. Ela se
sentirá parte desta viagem missionária. Ao retornar, preste um
relatório detalhado ao Conselho e a igreja. Fale dos desafios e do
que Deus tem feito naquele lugar. Quem sabe, outros crentes
poderão ir com você no futuro.

Missões “Presbiteriais”
— Além de pensarmos em missões locais, a nível de igreja, e missões
transculturais, podemos e devemos pensar também sobre
missões “presbiteriais”, a nível de concílio.
— Muitas vezes, igrejas pequenas sentem o desejo de “alargar as
suas tendas”, mas não possuem recursos suficientes. Outras,
porém, que os possuem, lhes falta, infelizmente, a visão de reino.
— Algumas igrejas estão tão fechadas em si mesmas que não
conseguem olhar para além de suas paredes, de seu coral e de
suas inúmeras programações mensais.
— É justamente neste ponto que entra a figura do Presbitério. É
verdade, também, que para muitos falta a visão missionária.
Estão tão preocupados com as questões doutrinárias (o que não
é errado) ou políticas que se esquecem do essencial.
— A Constituição da IPB, em seu artigo 70, h), falando sobre a
competência dos concílio diz: “determinar planos e medidas que
contribuam para o progresso...”, e ainda, no artigo 88, l), ao falar
especificamente sobre o Presbitério, diz: “estabelecer e manter
trabalhos de evangelização, dentro dos seus próprios limites, em
regiões não ocupadas por outros presbitérios ou missões
presbiterianas;”.
— Portanto, a CIIPB é clara ao dizer que é função do Presbitério
propor e determinar planos de evangelização na sua região. Mas
como fazer isto?
— Primeiro, é preciso que os pastores, presbíteros e conselhos
tenham esta visão. Mas é possível que ela possa nascer do desejo
de alguns pastores e presbíteros. Boas conversas, nos interregnos
das reuniões, regadas de oração, podem ajudar muito.
— Segundo, fazer propostas ao presbitério, por meio de
documentos bem elaborados, é outro caminho para despertar o
concílio. Pode ser que o presbitério não abra um trabalho dele,
mas invista em algum.
— Terceiro, algumas igrejas, duas ou três, podem se juntar numa
parceria missionária. Isto pode dar muitos frutos! Uma igreja pode
ajudar com recursos humanos e outras com recursos
econômicos.
— Por fim, há muitas maneiras de se envolver o presbitério na ação
missionária. Seja como for, por iniciativa de uma igreja, de um
grupo de pastores ou do próprio presbitério, o importante é que
alguma ação neste sentido esteja acontecendo e produzindo
preciosos frutos para a glória de Deus e bênção do seu reino aqui
na terra.
— Invista em Missões!!!
Vocação e Defesa do Rebanho
Um chamado Apologético

— O pastor deve ser zeloso para com o seu rebanho. Ele deve zelar
pela vida espiritual de cada crente. Deus pedirá contas aos
pastores acerca disto.
— Calvino disse que “o pastor deve ter duas vozes: uma para
apascentar o rebanho e outra para afugentar os lobos”.
— Não poucas igrejas estão sofrendo com problemas graves,
porque, muitas vezes, seus pastores estão sendo negligentes em
defender o seu rebanho dos lobos internos e externos. Tais
pastores estão tão preocupados com o crescimento númerico
que se esquecem dos perigos que cercam e assolam o seu
rebanho. Portanto, a vocação pastoral está ligada diretamente
ao zelo/defesa da doutrina e da liturgia.

O Zelo na Doutrina
— A Bíblia fala da sã doutriana como algo muito sério e inegociável.
— Jesus ensinou sobre o perigo de falsos profetas: “Acautelai-vos
dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em
ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.” (Mt 7.15). E ainda:
“Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos
saduceus.”(Mt 16.6,12).
— Na mesma linha, Paulo também exortou acerca dos falsos
ensinos: “Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus
obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!” (Fp 3.2).
— Em sua despedida dos presbíteros de Éfeso, Paulo alertou: “Eu sei
que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos
vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós
mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para
arrastar os discípulos atrás deles.” (At 20.29-30).
— O apóstolo Pedro também alerta: “Assim como, no meio do
povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós
falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias
destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que
os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.”
(2Pe 2.1)
— Por fim, o apóstolo João afirma: “Amados, não deis crédito a
qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus,
porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.” (1Jo
4.1).
— Deste modo, a recomendação de Paulo é muito importante:
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes
deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como
aos teus ouvintes.” (1Tm 4.16).
— Diante de todos estes perigos, a Bíblia dá aos ministros do
evangelho uma série de exortações e alertas quanto ao zelo na
doutrina.
— A Palavra de Deus jamais relega a doutrina à segundo plano,
muito pelo contrário, a doutrina é a vida da igreja.
— A Igreja Primitiva via a doutrina apostólica como algo vital. Não
é sem razão que Lucas afirma que ela “perseverava na doutrina
dos apóstolos.” (At 4.42).
— Por um lado, Paulo exortou Timóteo a que admoestasse certas
pessoas, a fim de que não ensinassem outra doutrina
(ἑτεροδιδασκαλεῖν). (1Tm 1.3). Por outro, que ele deveria pregar a
“boa doutrina” (καλῆς διδασκαλίας).
— Ainda ao jovem pastor Timóteo, Paulo afirma: “prega a palavra,
insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta
com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em
que não suportarão a sã doutrina (ὑγιαινούσης διδασκαλίας =
“doutrina saudável”); pelo contrário, cercar-se-ão de mestres
segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira
nos ouvidos” (2Tm 4.2-3).
— Portanto, o papel do ministro sério e zeloso, segundo Paulo, é ser:
“apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo
que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para
convencer os que o contradizem.” (Tt 1.9). E ainda mais: “Tu,
porém, fala o que convém à sã doutrina (ὑγιαινούσῃ διδασκαλίᾳ).”
(Tt 2.1).
— Seja um ministro que ama e zela pela doutrina bíblica.
— Não negocie a doutrina por nada, dinheiro, fama, amizade,
interesses pessoais, etc.
— Seja apegado ao melhor sistema doutrinário já produzido na
história reformada – A Confissão de Fé e seus Catecismos.
Mantenha este material diante dos seus olhos e na cátedra da
sua igreja. Seja um ministro Confessional.

Zelo na Liturgia
— Outro grande perigo do ministério é relegar a liturgia a segundo
plano. Isto é, abrir mão para que outros tomem conta dela. Eis
um enorme perigo!
— Muitos pastores não conseguem ver a liturgia como algo
extremamente sério, mas simplesmente como mais um elemento
presente na vida da igreja.
— Sobre isto, vejamos alguns princípios.

Em primeiro lugar, a liturgia reflete a teologia.


— A liturgia deve ser o reflexo da doutrina. Jamais podemos
dicotomizar estas duas coisas. Se a doutrina for santa e pura, a
liturgia também o será. Mas se a liturgia for corrompida ou
distorcida, a liturgia também o será, inevitavelmente. Esta é a
consequência daquela.
— É, de certo modo, muito comum ouvir pastores afirmando assim:
“A doutrina tem que ser ortodoxa, mas a liturgia pode ser mais
aberta (animada, informal, convidativa).” A questão é que isto é
impossível, uma vez que a liturgia é a expressão clara daquilo que
cremos (sistema doutrinário). A maneira como Deus é visto e
tratado irá influenciar diretamente a liturgia.

Em segundo lugar, a liturgia deve ser tratada com o máximo zelo.


— A liturgia, isto é, o culto público ou a adoração dominical, é a
“menina” dos olhos de Deus. É ali que toda a teologia
desemboca e fica patente.
— Se queremos ter uma boa noção sobre qual é a teologia de uma
igreja, basta-nos visitar um culto dela. Ali teremos o “cartão de
visitas” teológico da igreja.
— Deus é zeloso para com o culto e, portanto, nós também
devemos ser.
— Na história clássica sobre Nadabe e Abiú, o Senhor os puniu
duramente porque não prestaram culto de acordo com as Suas
prescrições (Lv 10.1-3).
— Os filhos de Arão imaginaram, por alguma razão, que poderiam
prestar culto segundo melhor lhes parecia. Deus se importa tanto
com a forma quanto com a sinceridade!

Em terceiro lugar, a liturgia deve ser com entendimento.


— Na carta aos Romanos, depois de expor toda a sua doutrina por
onze capítulos, Paulo leva os seus leitores a adorarem a Deus, pois
na sua visão, a primeira resposta da igreja à salvação é a
adoração (cf. Rm 12.1-2). Paulo vê a liturgia como algo que deve
começar pelo entendimento (λογικὴν λατρείαν – culto
racional/lógico).
— O entendimento correto da doutrina (ortodoxia) deve levar a
uma liturgia pura e agradável a Deus (ortolatria – adoração
correta).
— O entendimento da doutrina não só deve levar a uma liturgia
correta, bem como a uma vida correta (ortopraxia).
— Doutrina, liturgia e vida cristã estão profunda e arraigadamente
ligadas entre si.

Em quarto lugar, a liturgia deve ser Confessional.


— A Confissão é muito clara ao tratar do culto público: “...mas o
modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele
mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve
ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens
ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível
ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”.
(XXI, I, III, IV). “A oração com ações de graças, sendo uma parte
especial do culto religioso, é por Deus exigida de todos os
homens...” (XXI, III); “A leitura das Escrituras com o temor divino, a
sã pregação da palavra e a consciente atenção a ela em
obediência a Deus, com inteligência, fé e reverência; o cantar
salmos com graças no coração, bem como a devida
administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por
Cristo - são partes do ordinário culto de Deus, além dos
juramentos religiosos; votos, jejuns solenes e ações de graças em
ocasiões especiais, tudo o que, em seus vários tempos e ocasiões
próprias, deve ser usado de um modo santo e religioso.” (XXI, IV).

Em quinto lugar, a liturgia deve estar sob orientação e supervisão do


pastor.
— A Constituição da IPB, em seu art. 31, d, afirma o seguinte: “São
funções privativas do ministro: ... orientar e supervisionar a liturgia
na igreja de que é pastor. (nota: a liturgia deve estar «em
conformidade com as Sagradas Escrituras e os Símbolos de Fé da
Igreja” (CE 98-113). “O Presbitério tem competência para
deliberar matéria que envolva a liturgia da igreja local” (CI-IPB
art. 62, 71 e 88) “e tem poderes para orientar a liturgia das igrejas
e pastores a ele jurisdicionadas” (CE 2005-18)).
— Portanto, não resta dúvida sobre a grande tarefa que o ministro
tem de zelar pela liturgia de sua igreja, bem como, juntamente
com seus pares, a de todo o Presbitério.
— Não negocie a sua liturgia para agradar ou atrair as pessoas.
Culto não é gosto pessoal. Culto é obediência às prescrições
bíblicas. Culto ao Senhor é algo sagrado e deve ser levado à
sério.
— Cuidado com os modismos. Cuidado para não abandonar a boa
e antiga tradição em detrimento do moderno.
— Pregue, ensine, escreva sobre culto na sua igreja. Leve o seu povo
a desenvolver uma adoração santa, reverente, alegre, dinâmica,
lógica, piedosa.
— Seja um pastor zeloso na sua liturgia e prove das bênção do
Senhor sobre a sua igreja. Amém!
O Pastor e os Relacionamentos

— Uma das muitas dificuldades do ministério pastoral é o


relacionamento.
— Por vezes, pastores saem de suas igrejas porque não conseguiram
se relacionar bem com a liderança e com a igreja em geral.
— O tempo de ministério acaba sendo bastante conflituoso,
gerando desgaste e rancor no coração.
— O bom relacionamento do pastor com sua igreja é indispensável
no desenvolvimento do ministério.
— Nenhum pastor consegue permanecer por muito tempo na
mesma igreja sem desenvolver um saudável relacionamento
com os irmãos.
— Mas com quem e como deve ser este relacionamento na
prática?

Relacionamento com os Presbíteros


— Alguns princípios podem ser destacados neste ponto.
— Primeiro, o relacionamento deve ser pautado pela ética cristã. As
conversas, quer particulares ou em conselho, devem ser
espirituais, com respeito e temor (cf. Ef 5.19). O pastor e os
presbíteros devem estar tranquilos e seguros de que suas palavras
estarão reservadas e bem guardadas naquele local. Qualquer
palavra que sair daquele local trará desconfiança sobre os
presbíteros ou sobre o pastor. Nem mesmo o pastor está
autorizado pela ética cristã a comentar assuntos reservados com
sua esposa. Ele deve preservar o seu conselho, bem como
poupar sua família de situações terríveis. A ética cristã,
biblicamente orientada, e somente ela, deve dirigir o
relacionamento entre o pastor e seus presbíteros.
— Segundo, o relacionamento deve ser pautado pela verdade em
amor. Paulo ensina que devemos dizer a verdade em amor (cf.
Ef 4.15, 25). O pastor não deve ter medo de confrontar seus
presbíteros, quando necessário. Falar a verdade, mostrar o erro,
é um ato de amor. Em sua despedida dos presbíteros da Igreja
de Éfeso, Paulo os relembra das frequentes exortações, “com
lágrimas” (cf. At 20.31).
— Terceiro, o relacionamento deve ser pautado pela fraternidade
e companheirismo. O pastor deve buscar ser amigo e não inimigo
dos seus presbíteros. O ensino paulino é de “chorar com os que
choram e se alegrar com os que se alegram” (Rm 12.15).
Desenvolva uma profunda amizade com seus presbíteros. Esteja
sempre pronto para caminhar com eles e servi-los e também
aberto a torná-los participantes da sua vida.
— Quarto, o relacionamento deve ser pautado pela pacificação.
O pastor deve ser alguém manso nas suas palavras e ações.
Paulo é muito enfático ao afirmar que o ministro não deve “viver
a contender, mas deve ser brando para com todos” (2Tm 2.24;
cf. 1Pe 3.4). O pastor não só deve ser pacífico (manso), bem
como também ser um pacificador quando houver diferenças
entre os presbíteros.
— Quinto, o relacionamento deve ser pautado pelo exemplo. As
palavras são muito importantes, mas o exemplo sempre fala
muito mais alto. Pedro exorta os presbíteros a serem “modelos”
(τυπος) do rebanho (1Pe 5.3) de Cristo. O pastor deve ser modelo
na vida pessoal, na família (relacionamento com a esposa e
filhos), nos negócios, na ética, nas palavras, nas ações e reações.
— Sexto, o relacionamento deve ser pautado pela humildade. O
pastor deve ser humilde na sua vida e ministério. A despeito de
quem era, Paulo se apresenta como o “remador de galés”
(hypereta) (1Co 4.1; cf. 1.26-31; Rm 12.3; Fp 2.3; Cl 3.12; 1Tm 3.1-
2). Seja humilde para reconhecer os seus erros e ser exortado
pelos irmãos, especialmente pelos líderes. Esteja pronto a mudar,
se preciso for.

Relacionamento com os Diáconos


— Basicamente, os mesmos princípios do relacionamento do pastor
com os presbíteros servem também para o relacionamento do
pastor com os diáconos. Salvo algumas diferenças.
— A ética cristã, a verdade em amor, a fraternidade e o
companheirismo, a pacificação, a humildade e o exemplo
devem formar a base deste relacionamento.
— Além destes princípios, o pastor deve estar sempre pronto, no que
for possível, a ajudar os diáconos no exercício de suas funções.
Por vezes, o pastor terá de executar tarefas antes deles, ou
juntamente com eles, para encorajá-los e desafiá-los no serviço
do Senhor. Este tipo de atitude não rebaixa o ministério, pelo
contrário, traz sobre ele ainda mais autoridade no exercício de
sua liderança.

Relacionamento com os irmãos em geral


— Em tese, o relacionamento do pastor com o seu rebanho, de
modo geral, parece ser mais fácil e tranquilo. Na verdade, o
sucesso deste relacionamento depende mais do pastor do que
das pessoas da igreja.
— O desejo de estreitar os laços ou de envolver-se afetivamente
deve partir do pastor e não das pessoas.
— Podemos destacar aqui alguns princípios importantes.
— Primeiro, ame as pessoas como elas são. O pastor que não ama
o seu rebanho, com suas virtudes e defeitos, dificilmente terá um
bom relacionamento com ele. No Livro do profeta Ezequiel há um
grande alerta aos pastores quanto ao trato para com o rebanho
(34.2-10).
— Segundo, esteja aberto a ouvir e pronto a aconselhar. Gaste
tempo ajudando o seu rebanho a superar as suas lutas (Tt 1.9).
— Terceiro, seja hospitaleiro para com a sua igreja. Faça da sua
casa um lugar para as suas ovelhas frequentarem (Tt 1.8). Faça
reuniões de oração, encontros da mocidade ou convites para
casais. Torne a sua casa uma “extensão” da igreja.
— Quarto, visite o tanto quanto for necessário e possível. O único
modo de estar mais próximo do rebanho, e realmente estar
ciente das suas bênçãos e vitórias, é por meio da visitação. Paulo
tinha um trabalho sistemático de ensino público e privado na
Igreja de Éfeso (At 20.20). Este foi o método de discipulado
empregado por Richard Baxter durante o seu ministério. Ele
visitava anualmente, junto com seus auxiliares, todas as famílias
da igreja. O ministério não é só visitação, mas sem ela nenhum
ministério durará por muito tempo. Faça visitas com regularidade.
Se possível, leve um oficial com você. Deixe que as pessoas
contem suas histórias. Dê-lhes palavras de instrução e
encorajamento na fé. Comece visitando os oficiais e percorra
cada família, inclusive os mais humildes.
— Quinto, aprenda a lidar com os elogios e críticas. É muito natural
o pastor ser elogiado pelos estudos e sermões. Entretanto, é mais
natural ainda o pastor receber várias críticas. Seja humilde ao
receber um elogio. Dê toda a glória a Deus. Mas também seja
humilde ao receber críticas diretas ou indiretas (Rm 12.16). Elogios
podem ser muito perigos, ao passo que críticas podem ser muito
proveitosas.
— Por fim, relacionar-se bem com a liderança e o rebanho é algo
muito difícil, mas necessário e indispensável ao exercício do
ministério pastoral.
— Esteja sempre em oração e dependência de Deus. Busque estar
cheio do Espírito Santo, a fim de evidenciar aqueles frutos
gloriosos (Gl 5.22-23). Seja amável, manso e refreie a sua língua.
Vocação e Postura Pastoral

— A postura pastoral (maneira de se comportar, procedimentos,


atitudes) diz muito sobre um ministro.
— A postura de um pastor estará sendo notada e analisada, a cada
momento, por seu rebanho e também por seus colegas de
ministério.
— Esta observação é natural, uma vez que o pastor é o exemplo do
seu rebanho.
— Portanto, que tipo de postura se espera de um pastor, um ministro
da Palavra de Deus? Vejamos os aspectos negativamente e
positivamente.

Negativamente:
Egocentricidade (1Co 3.6-9)
— O pastor não deve jamais ser ou estar no centro da igreja. Sua
posição é de servo e não de senhor.
— Ele não precisa e não deve estar envolvido em cada reunião na
igreja. Embora, deva estar atento a tudo!
— O pastor deve aprender a dividir o fardo e não ser um
centralizador de tudo e de todos.
— Pastores que são egocêntricos não formam liderança, não
“descobrem” dons e talentos, não preparam a igreja para o dia
da sua saída. Quando ele deixa a igreja, ela perece porque não
sabe como fazer.
— Seja um pastor colaborador, não um centralizador e autoritário.

Pomposidade (1Tm 6.6-8)


— Não seja um pastor pomposo (que demonstra luxo, exagero,
estravagância) na sua maneira de se vestir e portar.
— Busque manter o mesmo padrão da realidade da sua
comunidade local. Cuidado para não ser o diferente em tudo.
Destaque-se pelas boas obras e pela humildade, não pela
pompa. Lembre-se do exemplo de Jesus e pense nos pobres.

Academicidade (1Co 2.1-5)


— Não seja um pastor de linguagem acadêmica ou de linguagem
difícil de se compreender.
— Fale, pregue e ensine de forma simples e objetiva. Evite o uso de
linguagem rebuscada e intelectual, que nada edifica.
— Deixe a linguagem e a escrita acadêmica para a academia. Lá
é o lugar apropriado para ela.
— Na igreja, entre os irmãos, use o linguajar pastoral, que todos
conseguem entender. Aliás, o linguajar do pastor deve ser o mais
bíblico possível.
— Entretanto, é importante afirmar que ser simples e pastoral não
significa falar errado, com um português pobre e horrível. Ao
contrário, o pastor deve ler bem e falar bem. Sua comunicação
deve ser com excelência!

Jactanciosidade (1Co 5.6)


— O pastor jamais deve ser jactancioso, soberbo, ensimesmado,
cheio de si mesmo.
— Muitos pastores tendem a se achar os donos da verdade em
matéria de teologia. Não conseguem jamais reconhecer que
não sabem sobre certos assuntos. Pelo contrário, acabam
fazendo ousadas afirmaçoes que não conseguem comprovar.
— Não é vergonha alguma para o pastor dizer que não sabe ou
não tem uma resposta convicta sobre algum assunto. Ele pode
se propor a pesquisar e elucidar a questão em outro momento.
— Cuidado com a jactância que os títulos podem lhe proporcionar.
Cuidado com a jactância nos concílios. Cuidado com a
jactância por estar numa igreja maior.

Sarcacidade (Tt 2.8; 2Tm 2.17)


— Não seja um pastor sarcástico ou irônico nas suas palavras. O
sarcasmo é um tipo de linguagem zombodora, que escarnece e
provoca as pessoas à ira. Isto é pecaminoso!
— Há muitos pastores que usam do sarcasmo, habitualmente, com
o objetivo de zombar ou depreciar a pessoa com quem fala ou
alguém que está longe.
— Muitas vezes, as pessoas, usam o sarcasmo ou a ironia para dizer
alguma coisa que desejam, porque não têm coragem ou lhes
falta oportunidade. Não faça isso! A Bíblia ensina que devemos
dizer a “verdade em amor” (Ef 4.15).
— Aquilo que o pastor tem para dizer, seja para quem for, deve ser
dito com verdade e amor, jamais com sarcasmos e ironias.

Positivamente:
Integridade (Tt 2.7-8)
— A ideia de integridade (no grego ἀφθορίαν, incorruptível, reto,
justo) é alguém que não tem nada que deponha contra ele. De
fato, a postura do ministro diante da sua congregação deve ser
de integridade total.
— Sobre o caráter espiritual, moral ou pessoal do pastor não pode
pairar nenhuma ponta de dúvida, sequer. Isto não quer dizer que
o pastor não tenha falhas. Todos cometem erros no ministério.
Mas de qualquer modo, a vida do pastor deve ser irrepreensível
como servo de Deus, pregador, conselheiro, conciliar, amigo e
assim por diante. Seja um pastor íntegro em todo seu
procedimento.
Seriedade (Tt 2.7b-8)
— O pastor deve ser sério em seu procedimento. Os crentes devem
ver o seu pastor como alguém de respeito.
— É evidente que isto não elimina o uso do “bom” humor, isto é,
aquele humor que alegra o ambiente sem depreciá-lo ou
vulgarizá-lo.
— Há momentos que requerem do pastor apenas a seridade. Por
exemplo, um velório, ofício fúnebre, pregação solene,
celebração da Ceia do Senhor, momentos de sofrimento de
alguém e coisas assim.
— De outro lado, há momentos de seriedade, nos quais um bom
humor fica apropriado. Ele quebra o gelo do momento e
aproxima as pessoas. Por exemplo, uma palestra sobre
casamento, criação de filhos, acampamentos, confraternização,
etc.

Amabilidade (Fp 4.8)


— O pastor deve ser amável para com o seu rebanho.
— Ser amável é tratar as pessoas com carinho, atenção,
preocupação. É dar a elas a atenção que precisam, seja antes
ou depois de um trabalho.
— Ser amável é chorar ou se alegrar com o rebanho nas suas lutas
e vitórias. É tornar-se parte da vida das pessoas.
— Há pastores que são tão rígidos como um poste ou tão secos
como uma parede, que não conseguem expressar o seu amor e
receber o amor do seu rebanho. Tal atitude afasta as pessoas.
— Seja amável nas palavras, na atenção e nos gestos, respeitoso.
Seja um pastor que as pessoas anseiam por receber na casa
delas para um almoço e uma boa conversa.
Comunicabilidade (Ef 4.29)
— O pastor deve ser alguém comunicativo. Ele não pode ser
fechado, do tipo de que mal cumprimenta as pessoas com um
bom dia ou boa noite.
— Comunicação pastoral tem dois alvos, basicamente. Primeiro,
transmitir graça aos que o ouvem. Segundo, demonstrar interesse
pelos acontecimentos da vida dos crentes.
— Ser comunicativo é gastar tempo com as pessoas. Uma das
maiores necessidades das pessoas na igreja é de ser ouvidas. Elas
querem ter um pastor que dialoga com elas, que pergunta, que
ri, que se interessa, etc.
— É muito mais proveitoso o pastor gastar tempo, em conversa, com
uma ou duas pessoas numa atividade da igreja, a, simplesmente,
dizer bom dia ou boa noite para uma multidão.

Hospitalidade
— Como já temos enfatizado, o pastor deve ser hospitaleiro
(φιλοξενος = amigo de estranho).
— Quando um pastor chega numa igreja, naturalmente, todas as
pessoas serão estranhas, tanto para ele quanto para a sua
família. Deste modo, com muito cuidado, é preciso abrir as portas
do seu lar para receber as pessoas, a fim de conhecê-las e se dar
a conhecer.
— Você pode demonstrar hospitalidade de forma sistemática. Crie
uma agenda de famílias para tomar um café em sua casa.
Comece com os líderes e prossiga.
— As pessoas precisam ver como você age na sua casa,
especialmente com a sua família. Além de aproximar as pessoas,
a sua maneira de viver e agir será um excelente espelho para o
seu rebanho.
Responsabilidade (Rm 12.7)
— O pastor deve ser alguém extremamente responsável para com
as coisas de Deus.
— Ele deve ser responsável quanto ao preparo dos seus sermões,
estudos e aulas semanais. Quanto ao preparo da mensagem do
boletim ou todo ele. Quanto à agenda de visitação, para que
nenhum irmão fique desassistido. Quanto às reuniões do
Conselho, preparando a pauta com antecedência. Quanto às
reuniões do presbitério, para não faltar por qualquer motivo.
Quanto à agenda de convites para pregar. Quanto à agenda
pessoal.
— Umas das coisas que uma igreja mais nota num pastor é a sua
responsabilidade. Nenhuma igreja confia e se sente confortável
com um pastor que trata as coisas de Deus com
irresponsabilidade.

Acessibilidade (1Tm 3.3)


— O pastor deve ser alguém acessível, isto é, cordato (επιεικη =
suave, gentil). Alguém que as pessoas tenham acesso com
facilidade, quando quiserem e quando precisarem.
— Se o pastor for alguém fechado, sempre sisudo e carrancudo,
dificilmente as pessoas se aproximarão dele.
— O pastor deve ser acessível na igreja e fora dela. Seu tempo deve
estar à disposição da igreja, para aconselhamento e dúvidas
genéricas.
— Os números de telefone do pastor e outros meios de contato
devem estar sempre visíveis para que as pessoas possam
contactá-lo, sempre que preciso for.
— No ministério pastoral não há espaço para ministros isolacionistas.

Objetividade (Tt 2.1)


— O pastor precisa ser objetivo nas questões relativas à vida da
igreja.
— É muito ruim quando um pastor é visto como alguém que
empurra o ministério com a “barriga”.
— Ele nunca consegue terminar o que começa. A pauta nunca é
esgotada na reunião. Uma questão sempre é deixada para
depois. Um assunto sempre fica sobre a mesa.
— De fato, há situações que fogem ao controle do pastor, de tal
modo que não se consegue resolver naquele momento. Mas, via
de regra, o pastor deve ser objetivo no ministério.
— Dever ser objetivo nos sermões, nos estudos e aulas (sem deixar
de ser profundo e prático), nas reuniões do conselho, nas reuniões
do presbitério e nos demais assuntos relacionados à vida
eclesiástica e a vida pessoal.

Imparcialidade (1Tm 5.21)


— O pastor deve ser imparcial (προσκλισις = “inclinar a fovor de”)
nas suas ações na igreja.
— Em qualquer situação difícil de relacionamento na igreja, o que
se espera do pastor é que ele aja com imparcialidade, isto é, que
ele não tome partido no seu juízo, a despeito de quem quer que
seja.
— Não é fácil ser imparcial, uma vez que em muitos casos, as
pessoas envolvidas serão pessoas próximas do pastor.
— Para se evitar a parcialidade, primeiro, pense biblicamente
acerca da questão. Segundo, ore e peça discernimento ao
Senhor. Terceiro, mantenha suas convicções acima de tudo e de
todos. Quarto, se possível, divida o fardo com o conselho.

Pontualidade (Rm 12.8)


— O pastor deve ser extremamente pontual em todos os seus
compromissos.
— É muito vergonhoso para um pastor a fama de atrasado. Ele se
atrasa para os cultos e estudos, para as visitas, para os passeios
da igreja, para as reuniões do conselho e do presbitério, e assim
por diante. As pessoas acabam desacreditando nele.
— O caminho para evitar o atraso é se planejar de antemão. Por
exemplo, prepare a sua sua roupa no sábado. Certifique-se de
que sua aula e sermão estão okay. Se você vai para a reunião,
verifique se todos os documentos estão certos, impressos e na
pasta. Não esqueça a carteira de ministro, se for ao presbitério!
Saia de casa com antencedência. É melhor chegar cedo e
esperar, a se atrasar e passar vergonha.

Aplicações
— Seja um pastor que mantém uma postura condizente com o
ofício que desempenha.
— Desde as suas ações, passando por suas palavras e vestes,
demonstre integridade e reverência (Tt 2.7-8). Em alguns casos, é
melhor “pecar” pelo exagero do que pela falta de seriedade.
— Procure ser conhecido como um profeta de Deus e não como
um palhaço, animador de culto.
— Encare as coisas de Deus com a máxima seriedade possível, sem
deixar de ser alegre, carinhoso e bem humorado.
— Manter uma postura séria no ministério só produz bons frutos para
o pastor e para a igreja.
— O ministério não é para “meninos”, mas para verdadeiros homens
vocacionados que o veem como algo sério, reverente e glorioso.
— Não brinque de ser pastor. Deus cobrará de você cada palavra
dita, cada conselho transmitido, cada gesto praticado.
— Lembre-se que a recompensa por servir a Deus com integridade
virá do Senhor Jesus, naquele Dia (1Pe 5.1-4).
Vocação e Família Pastoral

— A família do pastor é um assunto que precisa ser considerado, no


contexto do ministério, com muito cuidado.
— Se o pastor for negligente com a sua família, tanto ele, quanto
ela, e a própria igreja, em certos casos, sofrerão grandes perigos
e males.
— De certo modo, o desenvolvimento do ministério pastoral será o
reflexo da família do pastor.
— Não poucos ministérios são abalados por conta de problemas na
família do pastor. Ouve-se, vez em sempre, relatos de pastores
que deixaram o seu ministério por questões relacionadas à
família.
— Por vezes, a falta de entendimento do pastor, em trabalhar bem
a relação família/ministério, acaba gerando conflitos no lar e no
ministério.
— Os pastores não podem e não devem romantizar seus ministérios,
a tal ponto de esquecerem-se da realidade das suas famílias. Isso
é um perigo!
— É urgente, portanto, que os pastores reflitam biblicamente sobre
o seu relacionamento com suas famílias no âmbito ministerial. Por
isso, devemos voltar à fonte, a Palavra de Deus, e compreeder o
que o Senhor requer do pastor no contexto familiar.

Pastoreie a sua Família


— O pastor deve compreender que o seu primeiro rebanho é a sua
própria família – esposa e filhos. Se ele falhar com sua família, ele
estará falhando com o seu rebanho pessoal, logo com a própria
igreja.
— O pastorado não começa no gabinete ou no escritório, e com
hora marcada, mas na sala da casa, com a sua família reunida,
em todo o tempo.
— Esposa de pastor (que por vezes é assim chamada) não é a
“primeira dama” da igreja (como alguns carinhosamente
costumam chamar), mas a “primeira ovelha”.
— O pastor deve ter em mente que ele poderá “ter” muitas igrejas
ao longo do seu ministério, mas família é uma só, para a vida
toda.
— Ao tratar sobre as qualificações para o ministério pastoral, o
apóstolo Paulo afirma que o bispo “deve ser esposo de uma só
mulher,... e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob
disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe
governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)”
(1Tm 3.1, 4-5).
— Para Paulo, alguém que não cuida bem da sua própria família,
esposa e filhos, não deve jamais exercer o sagrado ofício do
ministério pastoral.
— Mas o que significa, na prática, pastorear a própria família?
— Primeiro, zele pela vida espiritual da sua família. Gaste tempo
ensinando a sua família a amar ao Senhor de todo o coração e
obedecer os seus mandamentos. Ore pela sua família.
Apresente, diariamente, se possível, de joelhos, sua família no
altar da graça. Peça a Deus que guarde o coração da sua
esposa e filhos.
— Segundo, promova a culto em família. Tenham um tempo em
conjunto de leitura da Palavra, meditação, oração e louvor. Não
negligencie isto no seu lar.
— Terceiro, lidere espiritualmente a sua família. Deixe que a sua
família veja em você um homem crente, piedoso, cheio do
Espírito Santo, capaz de tomar as decisões corretas no momento
certo.
— É você quem deve dirigir e orientar espiritualmente a sua família.
Este é o seu papel e não da sua esposa. Você não deve esperar
que ela decida sobre as questões espirituais.
— Antes de ser o “sacerdote” da igreja, o pastor deve ser o
“sacerdote” do seu próprio lar.
— O pastor deve levar o seu lar a ter um constante e profundo
relacionamento com o Salvador Jesus.

Priorize a sua Família


— A ordem natural das prioridades no ministério pastoral deve ser a
seguinte: Deus, família, igreja e depois as demais atividades,
como estudos e lazer.
— Quando esta ordem é invertida, haverá, sem sombra de dúvida,
muitos problemas.
— O pastor deve compreender que a sua família é o seu primeiro
rebanho. Logo, a sua família é a sua prioridade.
— Em forma de pergunta, Paulo afirma a Timóteo que se o pastor
(bispo) “não cuidar bem da sua própria casa, como cuidará bem
da igreja de Deus?” (1Tm 3.5). A resposta óbvia é: impossível!
— É evidente que o pastor que não prioriza a sua família está
invertendo a ordem natural dos relacionamentos. Em algum
momento as graves consequências virão.
— Primeiro, priorize a sua família no tempo. Tenha tempo, e tempo
de qualidade, com a sua família.
— Promova comunhão na sua família, seja tomando uma refeição
juntos, assistindo um filme, viajando ou simplesmente
descansando.
— Coloque de lado os aparelhos eletrônicos e as redes sociais para
dar tempo de qualidade à sua família. Ouça sua mulher e filhos.
— Segundo, priorize a sua família no cuidado. Esteja atento às
necessidades espirituais, emocionais e materiais da sua família.
— Cuidado para não dar de comer aos outros enquanto sua família
passa fome espiritual, emocional e material.
— Não poucos pastores gastam tempo ensinando outros, mas não
ensinam suas famílias, ouvindo os outros, mas não suas famílias,
suprindo os outros, mas não suas famílias.
— A casa, e não a igreja, deve ser o primeiro lugar onde o pastor
deve ansiar por estar e sentir prazer.
— A casa do pastor é o lugar onde ele também é esposo e pai. A
sua casa é o lugar onde ele pode colocar de lado os problemas
e aflições do ministério para se deleitar na sua esposa e se alegrar
nos seus filhos.

Considere a sua Família


— Sabemos muito bem que o pastor é o líder da família. É ele quem
deve conduzir o seu lar de maneira piedosa, segura e convicta.
Isto é natural.
— Mas também devemos ter em mente que o pastor não é o único
a ser afetado com as decisões ministeriais. Ao lado dele estão a
sua mulher e filhos.
— Qualquer decisão importante no ministério afetará diretamente
a família do pastor, especialmente se ela for em relação a
mudança de campo.
— Por isso, é indispensável que o pastor considere a sua família ao
tomar decisões importantes no ministério. Ele deve orar e crer na
soberania de Deus, sem deixar de ouvir sua esposa e,
eventualmente, seus filhos.
— Analisando biblicamente alguns casos, vemos que o chamado
de Deus para servi-Lo envolve sempre a família, como foi o caso
de Abraão e de seus descendentes.
— Não devemos nos esquecer de que Deus, em sua soberania,
também usa a família do pastor para revelar e confirmar a sua
vontade. Jamais devemos desconsiderar a opinião daqueles que
mais nos amam.

Decida-se por sua Família


— Haverá momentos nos quais a igreja e a sua família clamarão por
seu cuidado. Pode ser que haja uma reunião de jovens na sua
igreja e uma festa de aniversário de um primo ou amigo do seu
filho. Pode ser que haja uma reunião do Conselho da Igreja e
uma enfermidade inesperada da esposa ou dos filhos. Pode ser
que haja uma reunião de Concílio e um passeio da família pré
agendado. Então, com olidar com estas questões? A resposta é:
depende!
— Em certos momentos, o pastor deverá considerar todas as
circunstâncias antes de tomar uma decisão.
— Em todo caso, em matéria de enfermidade, o pastor deve
sempre decidir-se por estar com sua família e assiti-la. Neste
sentido, o pastor jamais deve negligenciar a sua família
— Em certos momentos, o pastor deve ter mais sabedoria do que o
habitual, para saber dizer não aos possíveis compromissos, que
podem roubar o tempo da e com a famíia.
— Em outros momentos, o pastor também terá de ter a
sensibilidade, com o apoio da família, para cuidar de algum
assunto relacionado à igreja. Quando o pastor, habitualmente,
prioriza a sua famíia, isto não é difícil.

Invista na sua Vida Conjugal


— Procure ter um tempo particular com sua amada esposa. Nada
é mais gratificante para ela quando seu marido cria na sua
agenda um tempo especial de comunhão.
— Um passeio, uma ida ao cinema, um jantar especial ou uma
viagem de final de semana são sempre bem-vindos no
relacionamento conjugal. Tenha um tempo qualitativo com sua
amada.

Dedique Tempo aos seus Filhos


— Procure ter momentos de alegria e descontração com seus filhos.
Mais do que um pastor, os seus filhos desejam ter pais que os
amam verdadeiramente.
— Estudar com eles, ir ao cinema, ao shopping, ao zoológico,
passear num parque, jogar vídeo game, etc., são muito bem-
vindos. Tenha um tempo de qualidade com seus filhos.

Preserve a sua Família


— Evite levar problemas da igreja ou do presbitério para a sua casa.
Sua família não deve ser bombardeada com as lutas do
ministério. Isto não quer dizer que, em alguns momentos, muito
específicos, você não possa chorar com sua esposa, no
recôndito do quarto, no sentido de desabafar, pedir conselhos,
ser encorajado e orar juntos.
— Muito cuidado deve ser tomado em relação aos filhos. O pastor
jamais deve fazer críticas ou demonstrar amargura em relação à
igreja diante dos filhos. Se ele fizer isto, em algum momento os
filhos passarão a ver a igreja como inimiga e um problema nas
suas vidas. Ao contrátio, o pastor deve elogiar a igreja
ressaltando suas virtudes e bênção. Os filhos não podem jamais
ver o minitério como um peso ou um fardo complicado que só
produz tristeza e lágrimas. Pelo contrário, os filhos devem enxergar
o ministério como um privilégio e grande bênção.
— Não é sem razão que muitos filhos de pastores crecem
desanimados ou revoltados com a igreja. O fato é que o pai não
os ensinou a ver a Igreja como Cristo a vê – Igreja gloriosa, santa
e sem defeito (Ef 5.27).
— Ao mesmo tempo, cuidado para não expor a sua família diante
da igreja.
— Você não deve ser fariseu, aparentando uma família perfeita,
sem dificuldades e lutas, mas também não deve expor
sobremaneira a sua família, a ponto de contar tudo o que se
passa no dia a dia da sua casa. É preciso ter muita sabedoria
para compartilhar as experiências do seu lar sem o exaltar ou o
expor de mais.

Envolva a sua Família


— Como já dissemos, embora o ministértio seja do pastor, Deus
chama a família para servi-lo.
— Neste sentido, busque envolver a sua família, de tal modo que
ela se sinta parte integrante do seu ministério. Isto vai fazer bem
para sua esposa e filhos.
— De forma prática, leve, quando possível, sua esposa e filhos para
fazer visitas com você ou estar em outras igrejas. Em casos
especiais, leve sua esposa para uma sessão de aconselhamento.
A presença e a experiência dela, como mulher cristã piedosa,
ajudarão muito no processo.
— Deixe a sua família perceber que as suas vitórias, mais do que as
suas lutas, são dela também. Leve a sua família a vibrar com as
suas alegrias e “conquistas” ministeriais.

Crie Bons Relacionamentos para a sua Família


— Por vezes, a família pastoral é muito só. Nem sempre os presbíteros
estão prontos para ouvir e compreender as tensões e lutas da
família de um pastor. A igreja exalta tanto a família pastoral que
não é capaz de perceber que ela é tão pecadora quanto
qualquer outra. E quando a igreja nota o primeiro problema, logo
aponta os de condenação. Alguém, em algum lugar, sempre irá
dizer: “Nossa, é a família do pastor..., é a mulher do pastor..., é o
filho do pastor”. Não é fácil lidar com isso. É preciso ter muita
sabedoria.
— Um caminho mais suave é o pastor envolver-se com outros
pastores e suas famílias. É muito proveitoso quando pastores,
esposas e filhos de pastores podem ter um tempo juntos.
— Somente um pastor é capaz de compreender, em todos os
sentidos, outro pastor. Eles falam a mesma língua, porque
enfrentam as mesmas lutas. O mesmo vale para as esposas de
pastores, e, também, em alguns casos, para filhos de pastores.
— Procure ter um grupo próximo de patores amigos. Tenha
encontros regulares de oração e comunhão com suas famílias.
Isto é algo encorajador!

Honre a sua Família


— Seja um pastor aprovado, mas seja, também, um esposo e pai
aprovado. Honre a sua família com suas orações, ensinos e
exemplos. Mantenha a sua pureza moral. Seja um modelo de
crente e pai para os seus filhos. Que eles vejam a luz de Cristo na
sua vida. Que eles queiram ir para casa após o culto, na certeza
de que o mesmo homem do púlpito também estará lá, não mais
pregando com os lábios, mas cativando pelo exemplo. Que os
seus lábios e gestos sejam bênçãos no seu lar. Que a sua esposa
tenha a alegria e o orgulho de dizer que você é um pastor
consagrado, homem sério e comprometido com o Senhor e com
a igreja. Que os seus filhos também tenham orgulho de dizer que
são filhos de pastor. Em resumo, honre a sua família!
Use esta apostila para a Glória de Deus
Rev. André Silvério
Pastor e Professor de Teologia Pastoral
Seminário Rev. José Manoel da Conceição

Você também pode gostar