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MATÉRIA:
VOCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE
PROFESSOR:
Rev. André Silvério
Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano JMC (2004)
Mestre em Teologia Pastoral – Pregação, pelo Andrew Jumper (2015)
Doutorando em Ministério pelo Reformed Theological Seminary/CPAJ
Contatos
E-mail:
revandresilverio@yahoo.com.br
Telefone: 11-981-456-959
Facebook: André Michele Silvério
DEFINIÇÃO DE VOCAÇÃO
ü Introdução
• De modo geral, todos os seres humanos recebem de Deus
talentos (“vocação”) para as mais variadas esferas da vida.
• De modo especial, a Igreja de Cristo tem uma santa “vocação”
de Deus – a salvação em Jesus.
• Primeiramente, a igreja é “chamada para fora do mundo”,
redimida por Cristo e capacitada pelo Espírito, a fim de servir a
Deus no mundo, sendo uma agente proclamadora do Evangelho
de Cristo (1Pe 2.9).
• Além disso, dentro da Igreja, cada crente recebe de Deus a sua
vocação para servir ao Senhor com seus dons e talentos natos,
dados pelo Senhor na criação.
• Mas antes de adentrarmos aos detalhes, é importante definirmos
os termos. Vocação na língua grega é “kaleo” (καλεω), que
significa “chamar”. “Klesis” (κλησις) significa “chamada”,
“convite”. “Kletos” (κλητος) significa “chamado”, “convidado”.
Kaleo significa “falar a outra pessoa, ou diretamente ou por
intermediários, a fim de trazê-la mais perto, num relacionamento
físico ou pessoal.” (Dic. Inter. Teo. p. 349).
• Em outro sentido, kaleo quer dizer “eu chamo”, “eu nomeio”, “eu
convoco”. (cf. Ef 4.1; 1Co 1.26; Rm 1.6). (CÉSAR, Kléos Magalhães
Lens. Vocação: Perspectivas Bíblicas. Viçosa: Ultimato,1997, p.
19).
• No Novo Testamento, o termo kaleo surge 148 vezes e a palavra
klesis 11. Paulo usa kaleo 29 vezes, klesis 8 e klétos 7. Esses termos
quase sempre são empregados com o sentido de vocação
procedente de Deus. É o Senhor dirigindo-se ao homem,
vocacionando-o para a salvação e para o serviço do Reino. É
um chamado irresistível e irrecusável (Kléos César, Vocação, p.
19).
• Outro termo usado para falar de vocação é hiperetologia, do
grego hyperetes (υπερετης). Originalmente, essa palavra significa
“remador do rei” ou “remador de galé”, que dá a ideia de
“servir”, “ministrar”, “ser um assistente” (cf. Mt 5.25; especialmente
1Co 4.1 - hyperétas Cristou – servos de Cristo).
• Nos anos anteriores, a matéria de “Vocação e Espiritualidade”
era ministrada nos seminários da IPB como Hiperetologia –
“doutrina da vocação”. Mas se temos que optar por um termo
para designar a doutrina da vocação, a pergunta é qual deles
melhor se adequa: hiperetologia ou clesiologia?
• De fato, o termo clesiologia (klêsis + logia) é mais apropriado do
que hiperetologia para designar a teologia da vocação, visto
que clesiologia provém de klésis (chamado, vocação). Desta
expressão vem a palavra ekklesia – igreja, assembleia, povo
chamado por Deus para fora do mundo. Portanto, a Clesiologia
é o estudo da doutrina da vocação. (Kléos, Vocação, p. 20).
Definição Teológica
• Como vimos, todos os crentes verdadeiros foram
vocacionados/chamados irresistivelmente por Deus à salvação
em Cristo Jesus. Além disso, por sua multiforme graça, Deus
também vocaciona alguns para determinadas tarefas e ações
no corpo de sua Igreja amada. Assim, não há crente sem
vocação, como não há crente sem salvação. Ao escrever aos
Efésios, Paulo expressa a multiforme graça de Deus ao descrever
os muitos ofícios e ministérios que Deus dá aos crentes para
servirem a sua igreja (Ef 4.11-13). Aos Gálatas, Paulo dá o seu
próprio testemunho quanto ao seu chamado para o sagrado
ministério da Palavra (Gl 1.15, 16).
Definição Confessional
• O Catecismo Maior de Westminster entende assim o chamado
para o ministério: Pergunta 158: “A quem é permitido pregar a
Palavra de Deus? Resposta: A palavra de Deus deve ser pregada
somente por aqueles que têm dons suficientes (1Tm 3.2,6; 2Tm 2.2;
Ml 2.7) e são devidamente aprovados e chamados para o
ministério (Rm 10.15; 1Co 12.28,29; 1Tm 4.14).”
Pergunta 159: “Como deve ser pregada a Palavra de Deus por
aqueles que para isso são chamados? Resposta: Aqueles que são
chamados a trabalhar no ministério da Palavra devem pregar a
são doutrina (Tt 2.1, 7, 8), diligentemente, em tempo e fora de
tempo (At 18.25; 2Tm 4.2); claramente (1Co 14. 9), não em
palavras persuasivas de humana sabedoria, mas em
demonstração do Espirito e de poder (1Co 2.4); fielmente (Jr
23.28; 1Co 4.1,2), tornando conhecido todo o conselho de Deus
(At 20.27), sabiamente (Cl 1.28; 2Tm 2.15) acomodando-se às
necessidades e às capacidades dos ouvintes (1Co 3.2; Hb 5.12-
14; 1Ts 2.7; Lc 12.42), zelosamente (At 18.15; 2Tm 4.5), com amor
fervoroso para com Deus (2Co 5.13, 14; Fp 1.15-17) e para com as
almas do seu povo (2Co 12.15; 1Ts 3.12); sinceramente (1Co 4.2;
2Co 2.17), tendo por alvo a glória de Deus (Jo 7.18; 1Ts 2.4-6) e
procurando converter (1Co 9.19-22), edificar (2Co 12.19; Ef 4.12)
e salvar as almas (1Tm 4.16; 2Tm 2.10; At 16.16-18)”.
Definição Constitucional
• A Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil define assim a
vocação: “Vocação para ofício na igreja é a chamada de Deus,
pelo Espírito Santo, mediante o testemunho interno de uma boa
consciência e a aprovação do povo de Deus, por intermédio de
um concílio” (CI/IPB artigo 108).
A Dimensão da Vocação
• “A vocação que vem de Deus tem uma conotação
essencialmente abrangente. Devemos compreender que o
termo vocação tem um sentido muito mais amplo do que uma
simples forma de servir a Deus. Biblicamente, a vocação ocorre
primeiro no chamado para receber a salvação em Cristo e fazer
parte da Igreja do Senhor em santificação.
• Só depois é que vem a convocação para servi-lo. Esse depois
pode nem sequer existir, pois a vocação para a salvação e a
vocação para o serviço na igreja acontecem
concomitantemente. Em outras palavras, no momento em que
somos salvos somos também separados para alguma missão no
reino de Deus. O conhecimento da missão é que pode vir algum
tempo depois” (Kléos, p. 23-24).
• Há várias passagens onde Paulo ensina a vocação redentora – o
chamado para a salvação em Cristo (cf. 1Tm 6.12; Rm 1.6-7; 1Co
1.2, 9; Ef 1.18; 4.1-4). O texto mais impressionante é, sem dúvida, o
de Romanos: “aos que de antemão conheceu... predestinou; e
aos predestinou, a esses também chamou” (Rm 8.29-30).
• “Paralelamente à vocação redentora, vemos a vocação para o
serviço. Essa vocação ocorre juntamente com vocação
redentora ou a sucede imediatamente. Quando Deus salva
alguém, ele o faz visando o serviço do seu reino. Não são duas
vocações distintas; é uma só, com duplo aspecto, fazendo parte
de um grande e abrangente projeto predeterminado por Deus”
(Kléos. p.25).
• É importante ressaltar que, na Bíblia, esses dois aspectos
vocacionais estão de tal forma vinculados que, às vezes, torna-
se difícil distingui-los exegeticamente e diferenciar o significado
deles no texto” (Kléos. p. 25).
• Veja, por exemplo, Paulo mencionando as duas vocações ao
mesmo tempo (2Co 5.18-20; Rm 1.5).
• Portanto, “a vocação redentora e a vocação para o serviço são
tão inseparáveis que podemos insistir em dizer que, no tocante
aos filhos de Deus, eleitos em Cristo Jesus, não há vocação para
a salvação sem vocação para o serviço; e o contrário também
não ocorre. Em outras palavras, quem é chamado para ser salvo
é chamado para servir. A questão é apenas o estilo de missão a
desempenhar (Kléos, p. 26).
Aplicações
• Você realmente foi chamado à salvação em Cristo Jesus? Que
provas você tem dado disso? Quais frutos você evidencia da sua
regeneração?
• Você realmente está certo de que Deus o chamou para o
sagrado ministério da Palavra? Quais evidências você tem dado
deste chamado?
• Por que você acredita que Deus realmente o chamou para este
ofício tão glorioso?
• Você já leu toda a Escritura? Você tem vida de oração? Você já
levou, pela graça do Espírito, pessoas aos pés de Cristo, como
pregador do evangelho? Quem sabe dentro do seu lar, na
escola, na igreja, no trabalho, na vizinhança.
• Você terá quatro anos no JMC para provar a sua vocação.
Vocação Interna e Externa
Aplicações Finais
Você escolheu o ministério por que é um meio de autoafirma-se
como pessoa para a sua família ou amigos?
Você escolheu o ministério por que não se encontrou na vida
profissional?
Você escolheu o ministério por que viu nele um meio de obter um
“bom salário”?
Escolheu por que foi chamado por Deus e sentiu aquela
compulsão interior?
Escolheu por que ama a Palavra de Deus e a vida de oração?
Escolheu por que deseja servir o rebanho de Deus?
Escolheu por que está disposto a entregar, gastar e sacrificar a
sua vida pela igreja de Cristo?
Que sinais internos e externos você tem demonstrado da sua
vocação?
As pessoas que o cercam, família, igreja e concílios, podem dar
testemunho favorável ao seu chamado para o ministério
pastoral?
Vocação de Todos os Crentes
Os Estilos da Vocação
O Sacerdote
• O sacerdote era um homem com a missão de representar o povo
diante de Deus por meio de ofertas e sacrifícios (cf. Gn 14.18; Êx
40.13; Lv 6.6, 7). O sacerdote também tinha a missão de instruir o
povo na Lei de Deus (Ml 2.8). Esdras exerceu tanto o papel de
sacerdote quanto de escriba e mestre (Ed 7.11). Arão e seus filhos
foram os primeiros sacerdotes instituídos por Deus (Êx 28.1)
O Profeta
O profeta era um homem vocacionado por Deus para ser a voz
do Senhor junto ao povo. Ele recebia a mensagem de Deus, por
inspiração direta do Espírito Santo, e entregava ao povo (2Pe
1.19-21; Hb 1.1). Por vezes, o profeta predizia acontecimentos a
alguém, em especial, ou ao povo, em geral, entretanto, sua
principal função era dizer aquilo que Deus estava requerendo do
seu povo (Jr 1.5). A mensagem profética também continha uma
característica essencialmente exortativa quanto ao
arrependimento e a santidade (Is 1.10-20). Muitos foram os
profetas do Antigo Testamento: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel,
Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, além de
outros como Samuel, Elias, Eliseu, Micaías.
O Juíz
• Juíz era um homem vocacionado por Deus para julgar as causas
do povo de Israel (Ed 7.25; At 13.20). Em alguns momentos, ele
também assumia o papel de libertador do povo contra a
opressão dos inimigos. Os principais juízes são Eúde, Gideão,
Jefté, Sansão, Eli e Samuel.
O Rei
O rei era o homem vocacionado por Deus para governar o seu
povo. O Senhor já havia prescrito o que ele esperava de um rei
(cf. Dt 17.14-20). Sabemos que Saul foi o primeiro rei de Israel,
escolhido por Deus (1Sm 10.20-23). Depois veio Davi (1Sm 16.12-
13), o grande rei de Israel. Depois de Davi a monarquia
estabeleceu-se em Israel. Muitos reis foram notáveis, como
Salomão, Josafá e Josias, ao passo que outros foram uma lástima.
O Líder
Eram homens vocacionados por Deus para guiar e orientar o
povo. Não eram sacerdotes, profetas ou juízes, mas foram muito
importantes. Dois exemplos clássicos são Josué e Neemias. Josué
conduziu o povo na entrada da terra prometida e em várias
guerras contras os cananeus (Êx 33.11; Nm 27.18-23). Neemias
conduziu a reconstrução dos muros, servindo, inclusive como
governador (Ne 1.1; 8.9). Foram homens muito usados por Deus
em ocasiões importantíssimas na história do povo de Israel.
O Escriba
Eram homens com talentos especiais na área da escrita. Também
eram chamados de copistas. Diz a tradição que ao escreverem
o nome de Deus (Yahweh) eles lavavam as mãos e trocavam a
pena. Alguns deles fizeram registros, sob inspiração divina,
importantíssimos (Ed 7.11; Ne 8.9).
O Sacerdote
• Esta importante função do A.T. não é mais encontrada na Igreja
Cristã. Alguns são mencionados ainda no período de transição,
como Caifás (Jo 11.49-51) e Zacarias (Lc 1.5-10). Esta função não
existe mais, pois Jesus cumpriu plenamente este papel, como
sumo sacerdote perfeito e eterno (cf. Hb 3.1; 4.14; 5.5, 6; 6.20; 7.26;
9.1).
O Apóstolo
Eram aqueles homens comissionados diretamente por Cristo para
levarem a mensagem do Reino de Deus (At 4.33; ). Eles também
lançaram os fundamentos da Igreja Cristã. Eram homens dotados
de uma vocação especialíssima de autoridade (Mt 10.1-4). Além
dos doze (Matias que substituiu Judas), Paulo também foi
chamado ao apostolado (cf. 1Co 15.8; 2Co 1.1). Sabemos que o
apostolado cessou com a morte de João. Hoje não temos mais o
ministério apostólico.
O Profeta
O profeta era aquele encarregado de receber a mensagem de
Deus e entregá-la ao povo. Em alguns momentos, eles até
prediziam certos eventos (At 11.27-28), entretanto, sua principal
tarefa na Igreja era pregar a Palavra de Deus, interpretando e
aplicando as Escrituras (13.1; 15.32; 21.10; 1Co 12.28, 29. 14.32; Ef
4.11). Falando sobre o papel profético no Novo Testamento, Sttot
afirma: “Mas o que era um profeta? Para o A.T., era o instrumento,
pelo qual Deus falava diretamente... o profeta era a ‘boca’ de
Deus... A característica essencial do profeta não era prever o
futuro, mas falar as palavras de Deus. O pregador cristão não é
um profeta neste sentido. Ele não recebe qualquer revelação
original, direta; sua tarefa é expor a revelação que já foi
definitivamente dada... ele não é ‘inspirado’, como eram os
profetas do A.T., mas iluminado pelo Espírito Santo. A última vez
na Bíblia em que aparece a expressão “veio a Palavra de Deus”
[Lc 3.2], é com relação a João Batista... A profecia é mencionada
como um dom espiritual, mas este dom não é mais concedido a
pessoas na igreja. Agora que a Palavra de Deus escrita está
disponível a todos nós, a Palavra de Deus no discurso profético
não é mais necessária. (Kléos, p. 39-40).
O Mestre
O Mestre era aquele que tinha a função básica de ensinar e
instruir pessoas (At 13.1; 1Co 12.28; Ef 4.11; Hb 5.12; Tg 3.1). Seu
trabalho, nos dias iniciais da Igreja, era lidar com a interpretação
do Antigo Testamento. O próprio Senhor Jesus foi chamado de
“mestre” (Rabi) (Jo 3.2). Nicodemos era mestre em Israel (Jo 3.6).
Paulo também se denomina mestre (1 Tm 2.7; 2Tm 1.11). Pedro diz
que “aquele que fala (mestre!?), fale de acordo com os oráculos
de Deus” (1Pe 4.11). Kistemaker afirma que, segundo Paulo, o
trabalho de mestre está muito relacionado ao do Pastor (Ef 4.11).
Muito do tempo do pastor é dedicado ao ensino do povo (1Co
12.28, p. 545).
O Pastor
O pastor era chamado por Deus para apascentar o rebanho. Ele
era encarregado de cuidar da vida espiritual dos crentes da
igreja local (1Ts 5.12-13). Os pastores também são denominados
nas Escrituras de Presbíteros Docentes (1Tm 5.17). Pedro também
faz referência ao trabalho dos pastores (1Pe 5.1-4). Há que se
afirmar que não há nenhuma base hermenêutica, exegética ou
confessional para o ofício de pastora, presbítera ou diaconisa na
Igreja do Senhor. Aqueles que ordenam mulheres ao oficialato o
fazem com base no aspecto cultural, e não bíblico. Se a cultura
for, portanto, o elemento balizador da igreja, que Deus tenha
misericórdia do seu povo nos dias futuros!
Líder/Presidente
Eram homens que se destacavam na Igreja com “espírito” de
liderança e direção (cf. Rm 12.8; At 15.22). Este pode ser um dom
associado à uma vocação, como o pastorado, uma vez que
todo pastor deve liderar/presidir o seu rebanho. Ademais, este
dom pode estender-se também além das fronteiras da igreja
local chegando aos concílios da denominação.
Evangelista
Eram pessoas que recebiam a incumbência de anunciar o
evangelho, especialmente em lugares onde Cristo ainda não era
conhecido. Lucas registra que o Diácono Filipe também era um
evangelista na Igreja Primitiva (cf. At 6.5; 8.5, 12, 13; 21.8). Paulo
também inclui o evangelista entre os carismas de Ef 4.11. Paulo
ordenou ao jovem pastor Timóteo que fizesse o trabalho de um
evangelista (2Tm 4.5). É certo que a vocação pastoral também
inclui em seu bojo o aspecto evangelístico, pois todo pastor é um
pregador do evangelho de Cristo. É fato também, que na
multiforme graça de Deus, alguns pastores são chamados com
este aspecto evangelístico muito aguçado. São evangelistas
natos.
Presbítero Regente
É aquele chamado por Deus para, juntamente com o Presbítero
Docente (Pastor), ajudar na administração da igreja local. Mas
não apenas isto, ele também deve apascentar o rebanho de
Deus (cf. 1Pe 5.1-4). Ele é também denominado na Bíblia de o
episkopos (aquele que olha de cima, superintendente). A ordem
de Paulo é que em cada igreja fosse promovida a eleição de
presbíteros, com oração e jejum, isto é, dependência de Deus,
na direção segura do Espírito Santo (At 14.22-23; Tt 1.5). Paulo dá
instruções claras sobre as qualificações que os aspirantes aos
presbiterato deveriam ter (1Tm 3.1-7). Qualificações estas que
não devem ser menosprezadas pela igreja. Conforme da CI-IPB,
art. 50, 51, compete ao presbítero: Art. 50. “O Presbítero Regente
é o representante imediato do povo, por este eleito e ordenado
pelo Conselho, para, juntamente com o Pastor, exercer o
governo e a disciplina e zelar pelos interesses da igreja a que
pertencer, bem como pelos de toda a comunidade, quando
para isso eleito ou designado.“ Conforme da CI-IPB, art. 50, 51,
compete ao presbítero: Art. 51.
a) Levar ao conhecimento do Conselho as faltas que não puder
corrigir por meio de admoestações particulares;
b) Auxiliar o pastor no trabalho de visitas;
c) Instruir os neófitos, consolar os aflitos e cuidar da infância e da
juventude;
d) Orar com os crentes por eles;
e) Informar o pastor dos casos de doenças e aflições;
f) Distribuir os elementos da Santa Ceia;
g) Tomar parte na ordenação de ministros e oficiais;
h) Representar o Conselho no Presbitério, este no Sínodo e no
Supremo Concílio.
Diácono
É aquele chamado por Deus para servir o povo da igreja
(diakoneo – aquele que serve). Sua principal tarefa na Igreja
Primitiva era servir às mesas, isto é, levar a provisão material para
os pobres e necessitados da comunidade. Era,
fundamentalmente, para esta função que eles foram eleitos e
designados, conforme At 6.1-3. Tal como aqueles que almejam o
presbiterato, aqueles que aspiravam ao diaconato deveriam ter
também certas qualidades essenciais para o exercício do ofício
(1Tm 3.8-10; 12-13). A CI-IPB, art. 53, descreve assim este ofício: “O
diácono é o oficial eleito pela igreja e ordenado pelo Conselho,
para, sob a supervisão deste, dedicar-se especialmente:
a) À arrecadação de ofertas para fins piedosos;
b) Ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos;
c) À manutenção da ordem e reverência nos lugares reservados ao
serviço divino;
d) Exercer a fiscalização para que haja boa ordem na Casa de Deus
e suas dependências.
Aplicações
• A vocação é um chamado de Deus ao homem. Somente
permanecerão no ministério pastoral aqueles que
verdadeiramente foram vocacionados pelo Senhor. Se insistirem,
irão enfrentar grandes dificuldades pessoais, familiares e
eclesiásticos. Se você realmente foi vocacionado por Deus para
o sagrado ministério da Palavra, a sua vida, a sua família e o seu
ministério serão uma bênção!
• Se você é realmente um vocacionado, saiba que Deus irá usá-lo
com seus dons e talentos pessoais para abençoar a Igreja do
Senhor. Cada pastor tem o seu próprio perfil ministerial. Uns são
mais dados ao ensino, outros à visitação, outros ao
aconselhamento, outros à liderança, outros à evangelização,
outros misericórdia, e assim por diante. Isto não significa que o
pastor não deva se esforçar para exercer de algum modo cada
um destes aspectos. Nenhum pastor é capaz de desenvolver
todos eles com maestria. Ele terá pontos fortes e pontos fracos.
Cabe ao pastor perceber cada um deles e se esforçar para
melhor naquilo que é mais fraco e se tornar ainda mais excelente
naquilo que é mais forte.
• Se você for um vocacionado para o ministério pastoral,
certamente priorizará a leitura da Palavra e a oração. Além disso,
irá apascentar amorosamente o rebanho que Deus lhe confiou.
Irá pregar a Palavra com fidelidade, ensinar com dedicação,
aconselhar com compaixão, liderar com intrepidez, visitar com
satisfação, e assim por diante. Este é o tipo de ministério que
agrada a Deus e recebe a sua bênção e a sua confirmação.
Vocação e Separação para o Ministério
Os Pilares da Vocação
A Conversão
Antes de ser um pastor, o vocacionado precisa ter a certeza
absoluta e inquestionável da sua conversão. O Dr. Charlie
Wingard afirma que “um ministro não pode ser um recém
convertido, mas um convertido. O fundamento mais importante
de um ministro é saber que é um cristão verdadeiro.” (D.Min.
CPAJ). Como alguém não convertido irá falar e pregar sobre
aquilo que ele nunca experimentou? Poderá ele dar aos outros
aquilo que não tem? Um ministro não convertido certamente irá
causar grandes danos ao rebanho de Cristo. Estar no ministério
sem ser um convertido é algo muito perigoso e danoso para
todos que cercam este “ministro”. Portanto, a primeira pergunta
a ser feita, antes mesmo de saber se realmente é ou não um
vocacionado, é se sou um genuíno convertido. Se nasci de novo,
do alto, do Espírito. É possível que haja muitos pastores
“convencidos” e não “convertidos”, que são lobos vestidos de
peles de ovelhas, e que estão minando aos poucos as igrejas
locais. Você é um convertido? Jesus fez uma afirmação severa
ao dizer que os fariseus “eram cegos guiando cegos” (Mt 15.14;
cf. Jo 12.26; Mt 7.15-23). Portanto, a vocação pressupõe a
conversão. Esta é o pilar daquela. É possível, claro, que alguém
não convertido se aproprie carnalmente do ministério,
entretanto, seus frutos irão revelar quem ele realmente é, mais
cedo ou mais tarde (At 8.20-23). Quando vemos tantos ministérios
indo de mal a pior, é preciso questionar se realmente tais ministros
são de fato convertidos ao Senhor Jesus. É evidente que a
conversão por si só não é base para um ministério abençaodo,
mas certamente é o fundamento. Deste modo, a primeira
pergunta que os examinadores deveriam fazer a um candidato
é: Você é um convertido? Como e quando se deu a sua
experiência de conversão? Após a conversão houve vida de
oração, leitura da Palavra e testemunho autêntico? Estas são
perguntas fundamentais que deveriam ser feitas e respondidas
com toda a sinceridade do coração. Devemos nos lembrar que
é o Senhor quem sonda os corações dos homens! Tomando Paulo
como exemplo, podemos verificar que a sua vocação estava
baseada no fundamento da sua conversão (cf. 2Co 5.18; 11.10;
12.19; 4.13-14; Gl 1.13-16; 1Ts 1.5). Outro exemplo de um jovem
ministro que era realmente convertido, e que tem servido de
parâmetro para os nossos estudos vocacionais, é Timóteo (cf. 2Tm
1.4-5).
A Convicção
Para qualquer função que venhamos a exercer na vida é preciso
ter plena convicção, especialmente, se tratando de vocação
pastoral. O pastor não lida apenas com pessoas, ele lida com
vidas eternas. Ele se torna responsável diante de Deus pelo
progresso ou regresso do seu rebanho. Deus irá cobrar isto de
cada ministro. O vocacionado precisa estar verdadeiramente
convicto do seu chamado. Não pode haver, se quer, uma ponta
de dúvida no coração. Ele precisa examinar todas as evidências
internas e externas da sua vocação para ter certeza. Se você
não tem convicção plena do seu chamado é necessário orar
mais e conversar com pastores mais experientes sobre a sua
vocação. Um pastor sem convicção do seu chamado será como
uma palha ou a onda do mar. Ele vai de uma lado para outro
sem se encontrar naquilo que faz. Um pastor sem convicção
jamais se sentirá realizado, pelo contrário, vai viver eternamente
frustrado e desanimado. Em cada dificuldade ou provação a
dúvida baterá à porta do coração:Realmente sou um
vocacionado? Novamente, vemos em Paulo um pastor-
missionário que realmente tinha a mais plena convicção do seu
chamado (cf. Rm 1.1; 1Co 1.1, 17; Gl 2.6-9; 1Tm 2.7). Paulo jamais
titubeou em sua convicção sobre a vocação para o ministério
pastoral. Um pastor não pode jamais viver em dúvida no seu
coração quanto ao chamado de Deus. Este chamado é
inconfundível!
A Submissão
O vocacionado é alguém submisso às autoridades eclesiásticas
– Conselho e Presbitério. Submissão não é uma opção, mas uma
obrigação do ministro. Aquele que se diz um vocacionado, mas
não tem este perfil de submissão, será um dominador e um tirano,
mas jamais um pastor de ovelhas. O pastor deve ser submisso à
voz de Deus em todo o tempo. Ele deve estar pronto para se
dispor a ir aonde Deus quer que ele vá. Vemos na Bíblia muitos
exemplos de submissão ao Senhor, como Noé (Gn 6.23), Abraão
(Gn 12.1-3), Moisés (Hb 11.23-29), Davi (At 13.22), Paulo (Gl 1.16-
17; At 26.19; 20.22-24). O próprio Senhor Jesus foi submisso ao Pai
(Mt 26.39, 42; Jo 6.38-40).
A Santificação
A santificação é um dos pilares fundamentais no ministério
pastoral. Um pastor que não cultiva uma vida santa estará
sempre na berlinda da imoralidade. A ordem para a santificação
é muito clara: “Sede santos” (1Pe 1.13-16; cf. Rm 14.22; Hb 12.14).
Ao falar sobre as qualificações para o ministério, Paulo exorta que
o ministro tenha uma vida irrepreensível na sua vida moral, na sua
conduta, dentro e fora do seu lar (1Tm 3.2). Os cuidados com os
escândalos sexuais e econômicos devem ser redobrados. Não
poucos pastores têm caído em seus ministérios por estas razões.
Escrevendo aos coríntios, Paulo os alerta sobre o perigo do
escândalo para a Igreja de Cristo (2Co 6.3-10). Os ministros
devem ser padrão de vida e procedimento para os cristãos, assim
exortou Paulo (2Tm 2.1; 1Tm 4.12). Os ministros devem tomar
cuidado para que não venham eles a provar aquilo que eles
reprovam. Cuidado para não praticarem no oculto aquilo que
condenam em público (1Co 9.27). Os sacerdotes tinham escritos
na testa o seguinte: “Santidade ao Senhor” (Êx 28.36-38).
A Humildade
A humildade é um fator sine qua non para o exercício do
pastorado. Um ministro pode conhecer e zelar muito pela
doutrina, mas se ele não tiver humildade ao transmitir e viver as
verdades que prega, ele dificilmente será ouvido por sua
congregação. Charlie Wingard diz que o orgulho, que é o oposto
da humildade, possui três aspectos básicos: 1. orgulho do
conhecimento, 2. orgulho da posição, 3. orgulho do sucesso.
Escrevendo aos coríntios, a despeito de todo conhecimento e
autoridade, Paulo se apresenta como o “remador de galés”
(hypereta) (1Co 4.1; cf. 1.26-31; Rm 12.3; Fp 2.3; Cl 3.12; 1Tm 3.1-
2). O próprio Senhor Jesus, mesmo sendo Deus, ensinou sobre a
necessidade da humildade (Mt 20.20-28). Quando questionado
por seus discípulos sobre a multidão que seguia Jesus e não mais
ele, João Batista respondeu: “Convém que Ele cresça e eu
diminua” (Jo 3.30; cf. 1.26-28). O ministro humilde busca a glória
de Cristo em tudo quanto faz; e, ao mesmo tempo, também se
coloca na posição de alguém que precisa ser orientado e até
exortado. O orgulho e a humildade não combinam, como o óleo
e a água que não se misturam.
A Dedicação
O verdadeiro vocacionado é aquele que busca dedicação ao
ministério. Aliás, o pastor é aquele que se dedica integral e
exclusivamente ao serviço do Senhor.
Sobre isto, Paulo exorta o jovem Pastor Timóteo: “Nenhum
soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque
o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou” (2Tm 2.4;
cf Rm 12.6-8, 11; At 20.24).
Uma questão que precisa ser bem entendida é o fator tempo, ou
seja, o vocacionado deve dividir seu tempo entre a vocação
para o ministério e outra atividade? Kléos nos ajuda:
“Primeiro, que existe diferença entre tempo integral e dedicação
integral. Há vocacionados de tempo integral sem dedicação
integral. Isto acontece quando o ministro administra mal o seu
tempo de modo que não exerce diligentemente o seu
ministério”.
“Segundo, em princípio, as Escrituras indicam o tempo integral
com dedicação integral para os que exercem o sagrado
ministério. O ideal é tempo e dedicação integral”.
“Terceiro, que as circunstâncias temporárias podem levar o
ministro a ter que “fazer tendas”, como foi o caso de Paulo (At
18.1-4). A dificuldade, porém, está quando o fazer tendas se
torna a prioridade e não o ministério pastoral. Atenção!!!”
Dedicação integral e exclusiva no ministério implica basicamente
os seguintes pontos:
a) Tempo devocional com piedade
b) Tempo de estudos com qualidade
c) Tempo de pastoreio (aconselhamento e visitação) com
sistematicidade
d) Tempo pessoal com racionalidade.
• Dedicação no ministério quer dizer trabalho, e trabalho duro,
focado, concentrado (Jo 9.4; 1Co 15.10; 3.9; 9.16; 2Ts 3.7). No
ministério não há lugar para vocacionados que não gostam de
acordar cedo, labutar e preencher seu dia com tarefas
ministeriais. Não estamos induzindo ninguém a ser um workaholic
(viciado em trabalho), negligenciando sua devoção pessoal e
família, mas trabalhar com diligência
O Amor
O verdadeiro vocacionado é aquele que, acima de tudo, ama
a Deus de todo o seu coração e ama a Igreja do Senhor. Ele sente
compaixão pelas ovelhas e pelas almas perdidas. Jesus nos
ensina que “o bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11; cf.
Jo 15.12-13). Aquele que não é pastor não ama o seu rebanho a
ponto de dar a sua vida por ele (Jo 10.13). Paulo declarou o seu
amor pelo rebanho (2Co 6.11; 12.15; 1Ts 2.7-8). Paulo demonstrou
todo o seu amor pelos irmãos de Éfeso, no seu último encontro
com os presbíteros daquela Igreja na Praia de Mileto (At 20.17-
38). Não era um amor fingido, mas sincero. Não era um amor
pragmático, pensando em benefícios próprios, mas abnegado,
puro, legítimo. O pastor que ama o seu rebanho irá alimentá-lo
com palavras de vida. Irá exortá-lo e consolá-lo quando
necessário. Irá se alegrar e rir com ele. Irá abrir mão de seu tempo,
muitas vezes, para aconselhar, visitar, dar o ombro e chorar
juntos. Quem não ama as pessoas não pode ser pastor, não pode
ser um ministro da Palavra de Cristo, que ordenou que
amássemos os nossos irmãos (cf. Jo 13.34; 15.12; 15.17).
Aplicações
• Você tem certeza absoluta que é um crente em Jesus Cristo e
não um convencido na igreja? Quais evidências em sua vida
revelam a sua conversão?
• Você está convicto do seu chamado? Há paz no seu coração?
Pessoas ao seu redor podem atestar sua vocação? Você estaria
disposto a abandonar qualquer posição e comodidade para
servir ao Senhor?
• Você é alguém submisso? Submisso ao Conselho, ao Presbitério,
ao Tutor? Você estaria disposto a trabalhar, por direção do
presbitério, numa pequena congregação, bastante afastada do
grande centro, ganhando uma pequena côngrua?
• Você tem uma vida de santificação? Você tem buscado
mortificar os feitos da carne e encher-se abundantemente do
Espírito Santo? Há frutos reais na sua vida que provam isto?
• Você tem sido alguém humilde? Você ensina com humildade
aqueles crentes mais simples do que você? Quando você não
sabe uma resposta, diz que não sabe e procura encontrá-la?
Cuidado para não ficar soberbo e jactancioso com o
conhecimento adquirido no transcorrer do curso. Esteja aberto às
boas críticas. Lembre-se que você é apenas um servo (doulos) do
Senhor.
• Você tem se dedicado com o máximo empenho no serviço do
Senhor? Pregar, aconselhar, visitar, discipular, ensinar, participar
de reuniões, tem sido um peso para você?
• Você realmente tem amado aquelas ovelhas que estão sob o
seu cuidado pastoral? Você ama aquelas pessoas mais fracas,
mais simples, mais complicadas? Como você tem demonstrado
amor pelo seu rebanho? Você se envolve com o seu rebanho?
A Vocação para um Trabalho Glorioso
A Relevância
Em primeiro lugar, o ministério pastoral é relevante (indispensável,
importante, necessário) porque foi Deus quem estabeleceu este
ofício para sua Igreja (Ef 4.11).
O pastorado não é uma invenção humana, mas uma
designação soberanamente divina. Os verdadeiros pastores são
chamados e designados por Cristo para pastorearem a sua Igreja
amada, comprada com seu próprio sangue, cujo Grande e
Principal Pastor é o próprio Senhor Jesus Cristo (Hb 13.20; 1Pe 2.25;
5.4).
Em segundo lugar, o ministério pastoral é relevante porque
organiza e mantém em ordem a vida espiritual, doutrinária e
administrativa da Igreja de Cristo (Tt 1.15; 1Tm 3.15; 1Pe 5.2, 3). O
pastor é chamado por Jesus de o “anjo da Igreja” (Ap 2.1, 8, 12,
18; 3.1, 7, 14), pois tem a missão de zelar pelas almas dos que
estão sob o seu cuidado pastoral (Hb 13.17). Que grande missão!
Em terceiro lugar, o ministério pastoral é relevante porque, além
de alimentar o rebanho com palavras de vida e verdade,
protege o rebanho dos ataques malígnos, quer de dentro ou de
fora do aprisco. Paulo exortou os Presbíteros/Pastores da Igreja de
Éfeso sobre essa grande tarefa (At 20.28-32 cf. Tt 1.10-15). Calvino
disse que o Pastor precisa ter duas vozes, uma para consolar o
rebanho e outra para afugentar os lobos.
A Reverência
Um ministério pastoral longo e profícuo é marcado, sem dúvida,
pela reverência do ministro. A reverência é aquele sentimento de
“profundo respeito”, “consideração” e “temor” pelas coisas do
Senhor. Um ministro que não leva a sério o ministério, não leva a
sério Aquele que o vocacionou. O ministério não é lugar para
“meninos”, mas para homens tementes a Deus. A reverência
pode ser evidenciada em pelo menos cinco áreas do ministério
pastoral.
Em primeiro lugar, o ministério pastoral deve ser reverente quanto
à vida pessoal do pastor (1Tm 4.12). A vida do ministro deve ser
“irrepreensível” (1Tm 3.2). Não pode haver nada que deponha
contra ele ou a sua família (Tt 1.7). Suas ações devem ornar com
a sua doutrina. O pastor deve ser visto como alguém sério em seu
procedimento pessoal. É evidente que o ministro não precisa e
não deve ser carrancudo, sisudo ou mal-humorado na igreja ou
fora dela. Não devemos pensar que seriedade é ser assim. É
possível, sim, ser alegre, “carismático” (contagiante), simpático,
sem deixar de ser reverente na vida pessoal.
Em segundo lugar, o ministério pastoral deve ser reverente quanto
à vida familiar (1Tm 3.4; Tt 1.6). A família do ministro diz muito sobre
a sua reverência. Se a sua mulher e filhos não dão a devida
importância aos trabalhos da igreja, chegam atrasados, não
participam ativamente, lendo a Palavra e orando, atrapalham o
andamento dos estudos e cultos, é evidente que não há
reverência neste lar. Tais atitudes, além de serem péssimos
exemplos para os demais na igreja local, minam o minitério
pastoral, desacreditando tal pastor. A família do ministro deve ser
a primeira a dar exemplo de reverência dentro e fora da igreja.
A família pastoral, quer queira ou não, torna-se um padrão de
vida para toda a igreja. Os crentes estarão observando
minuciosamente cada passo da família pastoral. Cuidado!
Em terceiro lugar, o ministério pastoral deve ser reverente quanto
à oratória (Tt 2.7, 8; Hb 12.28). Por oratória, entenda-se conteúdo
e maneira de se expressar. A linguagem do pastor deve ser
simples, mas jamais simplista. Deve ser clara e direta, mas jamais
escandalizadora. Deve ser honesta, mas jamais destruidora e
humilhante. As palavras do pastor devem ser bem trabalhadas,
apresentadas com amor, temperança, temor, sobriedade,
humildade, clareza, encorajamento e assim por diante. A palavra
do pastor pode tanto edificar como destruir uma igreja. Pode
tanto encorajar alguns na fé, como desviar outros. A palavra do
pastor tem um peso muito grande na vida dos seus ouvintes. A
linguagem do pastor deve ser permeada da sã doutrina (Tt 2.1;
1Pe 4.11).
Em quarto lugar, o ministério pastoral deve ser reverente quanto
à vestimenta (1Tm 4.2). A roupa que usamos enquanto seres
humanos diz muito sobre a nossa cultura, gostos pessoais e visão
do nosso trabalho. Seria estranho ver um médico ou padeiro
vestido com roupa de mecânico, ou vice-versa. Rev. Boanerges
Ribeiro dizia que para cada função há um roupa adequada. Em
nossa cultura americanizada, o que prevalece é o uso comum
do social, terno e gravata. O que se espera de um ministro
reverente é que ele se vista adequadamente para o culto ao
Senhor. Devemos tomar cuidado com as polarizações sobre este
assunto. De um lado, há aqueles que defendem o uso da toga,
típica na magistratura. Por outro, há aqueles que rejeitam por
completo o traje social, e partem para o modismo. A grande dica
que podemos dar é a seguinte: pecar pelo excesso é melhor do
que pecar pela falta. Já dizia o velho ditado que “é melhor ter o
que tirar a não ter o que pôr”. Nenhum pregador irá morrer se
usar terno e gravata, por uma ou duas horas, num dia de muito
calor. Cuidado para não escandalizar ou afrontar a liderança por
uma mera questão de consciência particular. Seja prudente!
Em quinto lugar, o ministério pastoral deve ser reverente quanto
aos relacionamentos pessoais na igreja e fora dela (1Tm 5.1, 2). O
ministro precisa ser muito reverente ao tratar as diversas classes
de pessoas na igreja. É preciso ser reverente ao dirigir-se aos mais
velhos. Exorte-os como a pais e mães. Cuidado ao exortar as
jovens senhoras. Jamais as aconselhe sem a presença de alguém
por perto. Cuidado para não permitir que as moças e as
adolescentes da igreja infrinjam os limites da reverência e do
respeito, com brincadeiras, piadas e atitudes duvidosas. Seja
cuidadoso com cumprimentos gerais ou individuais. Seja o mais
afetuoso possível, sem deixar de ser respeitoso. O pastor, com
suas palavras e gestos, jamais pode dar margem a uma dupla
interpretação. Seja cauteloso!
Zelo
• Por zelo, entendemos aquele grande cuidado, interesse e
dedicação aplicado às coisas relacionadas ao ministério
pastoral. Um pastor deve ser zeloso para com a Igreja de Cristo,
jamais relapso, desmazelado ou desleixado. Se a Igreja é a
“noiva” de Cristo, então, o “amigo” do noivo deve trabalhar para
a apresentar como noiva gloriosa. Não poucos pastores têm
falhado quanto ao zelo. O pastor deve ter a conciência de que
está servindo o Deus vivo, que é galardoador daqueles que o
servem com dignidade e amor. Um pastor que não é zeloso em
seu ministério certamente não colherá as bênçãos do Senhor da
Igreja. O pastor deve ser zeloso, em pelo menos, sete áreas.
Em primeiro lugar, o pastor deve ser zeloso quanto à sua vida
espiritual. Paulo exortou o pastor Timóteo a ser zeloso na prática
da piedade pessoal (1Tm 3.7, 8). O pastor não pode jamais
descuidar da sua vida devocional – leitura, meditação e oração.
Ele não pode dar brecha para que o inimigo trabalhe em sua
vida. O exercício espiritual é o que alimenta e protege o pastor
contra a corrupção moral. Quando o pastor negligencia a sua
vida espiritual, ele não terá mais com o que alimentar a sua
congregação. Ele, rapidamente, perderá o seu entusiasmo e
paixão pelas coisas de Deus. O seu coração não irá mais arder
como antes pela pregação da Palavra. Seu conteúdo será raso.
O desprezo pela comunhão com Deus é o princípio do declínio
espiritual (cf. 2Sm 12.9). Atenção!
Em segundo lugar, o pastor deve ser zeloso quanto à doutrina.
Paulo exortou o jovem Pastor Timóteo nas seguintes palavras:
“Tem cuidado... da doutrina” (1Tm 4.16). O zelo pela doutrina é
fundamental no ministério. A “saúde” espiritual da igreja
depende disto. O pastor deve zelar por aquilo que ele mesmo
ensina e, também, por aquilo que está sendo ensinado em sua
congregação. O pastor jamais deve relegar a segundo plano o
zelo pela doutrina. É sua tarefa, e principal delas, cuidar para que
toda pregação e ensino na igreja estejam de acordo com as
Escrituras Sagradas. O pastor não pode falhar nesta área tão
crucial para a firmeza e desenvolvimento espiritual dos crentes.
Sendo um pastor zeloso na doutrina, “ventos estranhos” não
atingirão o seu rebanho (Ef 4.14; cf. 4.11-13).
Em terceiro lugar, o pastor deve ser zeloso quanto aos
sacramentos. Jesus ordenou que a Igreja celebrasse o batismo
dos arrependidos e a Santa Ceia (Mt 28.19; 1Co 11.17-33). O zelo
pelos sacramentos impede, à priori, que pessoas não convertidas
sejam recebidas na igreja e participem da Ceia do Senhor.
Impede também aqueles que já são membros da Igreja, mas que
estejam em processo de disciplina, de participarem da Ceia do
Senhor indignamente. O pastor deve ser muito zeloso quanto ao
preparo e ao exame para a pública profissão de fé. Não tenha
pressa de agregar ninguém ao rol de membros da igreja local,
ainda mais se você não tem certeza, por claras evidências, de
que a pessoa está escrita no Livro da vida. Seja criterioso! O
pastor também deve ser muito zeloso para com a participação
dos crentes na Ceia do Senhor. Uma ou duaz vezes no ano,
pregue sobre este assunto. Em cada celebração, fale sobre os
perigos e as bênçãos advindas da indigna e digna participação
na Ceia do Senhor. Desafie os seus crentes a confessarem os seus
pecados e se consagrarem a Deus a cada dia mais.
Em quarto lugar, o pastor deve ser zeloso quanto à liturgia.
Escrevendo aos coríntios, Paulo ensina que a liturgia (leitourgos =
serviço) deve transcorrer com ordem e decência (1Co 14.26-40).
A ordem do e no culto público diz muito sobre o zelo que o pastor
tem. O culto é a principal atividade da Igreja de Cristo. É para a
adoração que o Senhor a instituiu. Portanto, é necessário que ela
preste a Deus um culto espiritual. O zelo do pastor quanto a
liturgia se evidencia no seu preparo. A liturgia não é algo que
pode ser feita de última hora, poucos instantes antes do culto. É
algo que precisa ser pensado e refletido. É preciso que haja
conexão entre todos os elementos – leitura das Escrituras, hinos,
cânticos, orações e mensagem. Se Deus é Deus de ordem, então
o culto deve expressar claramente esta grande e eterna
verdade.
Em quinto lugar, o pastor deve ser zeloso quanto à aplicação da
disciplina. Jesus ensinou sobre como tratar um irmão culpado (Mt
18.15-20). Paulo falou sobre o perigo da indisciplina na igreja (1Co
5). O autor de Hebreus exortou sobre a necessidade da disciplina
na vida cristã (Hb 12.4-13). O pastor precisa zelar para que a
disciplina seja aplicada, e bem aplicada, na igreja. Uma igreja
sem disciplina é como uma mata seca em tempos de grande
calor ou um carro descendo a serra com os freios
comprometidos. O pastor que não zela pela disciplina na igreja
está deixando o seu povo a mercê da ação do diabo, do
escândalo e do mau testemunho do nome de Cristo. Não
negligencie este meio de graça, mesmo que isto lhe custe,
tempo, lágrimas e a amizade e a admiração de alguns!
Em sexto lugar, o pastor deve ser zeloso quanto à
confessionalidade. Em sua epístola, Judas nos “exorta a batalhar,
diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos
santos.” (Jd 3). Cremos que a Confissão de Fé e os Catecismos
Maior e Breve são a fiel interpretação das Escrituras Sagradas.
Zelar pela confessionalidade não é uma opção, mas uma
obrigação constitucional. No momento da nossa ordenação ao
sagrado ministério da Palavra, prometemos, diante de Deus e dos
homens, que subscreveremos a Confissão e seus Catecismos, isto
é, que vamos acatar tudo quanto nela está escrito. A subscrição
não é parcial ou com reservas mentais, mas total e irrestrita. Ou
abraçamos o sistema como ele é ou ficamos contra ele, à favor
de nossa própria consciência aética. Em tempos tão difíceis
como os nossos, de confusão e “passividade”, mais do que
nunca, a Igreja Presbiteriana do Brasil precisa de pastores zelosos
quanto à confessionalidade. Mantenha a Confissão e os
Catecismos diante dos seus olhos. Ensine a Confissão e os
Catecismos sistematicamente para a sua igreja; transcreva-os
nos boletins dominicais e recite-os com a igreja na Escola
Dominical.
Em sétimo lugar, o pastor deve ser zeloso quanto ao seu
testemunho público. Paulo exorta assim o jovem Pastor Timóteo:
“Tem cuidado de ti mesmo...” (1Tm 4.12). O pastor deve zelar por
aquilo que faz na sua vida pública. Ele deve tomar muito cuidado
para não se envolver em escândalos sexuais e econômicos. Um
tropeço ministerial pode comprometer todo um trabalho de
vários anos. O pastor deve ser zeloso em todos os lugares,
especialmente na cidade ou na região onde reside ou frequenta.
As pessoas precisam saber que ele é pastor. O seu piedoso
comportamento deve falar mais alto do que as suas palavras no
púlpito. Ele precisa ter o bom testemunho dos de fora, como disse
Paulo (1Tm 3.7). As pessoas esperam que a vida pública do pastor
seja irrepreensível e um espelho para elas.
Aplicações
Nunca perca de vista a relevância do ministério pastoral. Lembre-
se que você foi vocacionado e comissionado por Deus para uma
obra gloriosa. Dê o verdadeiro alimento espiritual para o seu
povo. Cuide bem da Igreja de Cristo. Você será cobrado pela
vida de cada ovelha sob o seu cuidado. O seu papel não é
aparecer, mas exaltar a Cristo na sua vida como pastor.
Seja reverente no seu ministério. Não brinque com as coisas
sagradas. Seja alguém sério em seu procedimento. Seja
reverente no falar. Cuidado ao usar o humor no púlpito. Cuidado
com o uso de ironias ou sarcasmos no ensino bíblico. Pese bem
as palavras antes de dizê-las. Apresente-se adequadamente em
suas vestimentas, especialmente nos serviços solenes. Tome
cuidado para não abrir sua intimidade pessoal e familiar.
Seja zeloso no serviço do Senhor. Cultive uma vida devocional
piedosa. Tenha seu tempo diário com Deus. Se você falhar nisto,
é certo que irá falhar em tudo mais. Cuide da doutrina da igreja.
Dê bons materiais para o seu povo ler. Monte uma pequena
biblioteca na igreja, se possível. Trate os sacramentos com
respeito. Seja sério ao celebrá-los. Quanto à liturgia, mantenha a
ordem. Instrua seus presbíteros como prepará-la.
Discipule e supervisione a equipe musical da igreja. Não permita
que haja um culto dentro do culto. Não mude sua liturgia com a
finalidade de atrair pessoas. Busque adorar ao Senhor como Ele
prescreveu. Aplique a disciplina com firmeza e amor. Siga os
passos bíblicos. Não menospreze o pecado. Mantenha a
confessionalidade a todo preço. Estude a Confissão e os
Catecismos sistematicamente com sua igreja local. Você irá
enriquecê-la.
O Que o Pastor Deve Ser e Fazer
Características e Funções – Uma Perspectiva Constitucional
Bispo
O Bispo (επίσκοπος) – epískopos é aquele “superintendente” ou
“supervisor” espiritual do rebanho (cf. 1Tm 3.2; Tt 1.7; 1Pe 2.25).
Não é um tirano ou legalista, mas um amoroso e preocupado
líder espiritual (Hb 13.17).
Pastor
O pastor (ποιµην) é uma das figuras mais conhecidas do ministro,
que resume bem a sua característica. O pastor é aquele que
alimenta, protege e cuida do rebanho em todo o tempo (cf. 1Pe
5.1-3). Não é sem razão que, dentre os muitos títulos, a figura do
pastor é a mais usada. Jesus é o exemplo Supremo de Pastor (Sl
23; Jo 10.11, 14; Hb 13.20; 1Pe 2.25; 5.4).
Ministro
O apóstolo Paulo caracteriza o ministro de três formas. Primeiro,
ele fala do ministro como aquele que “ministra publicamente” ou
que “se dedica às coisas sagradas” (λειτουργος) (Rm 15.16). O
ministro lida com aquilo que é essencialmente sacro, separado,
espiritual. É uma grande responsabilidade ser um ministro do
evangelho! Segundo, ele fala do ministro como “servo” ou
“remador inferior (galé)” (ὑπηρέτης) (At 26.16; 1Co 4.1). Terceiro,
ele fala do ministro como “aquele que serve” (διακονος) (2Co 3.6;
6.4; 11.23; Ef 3.7; 6.21; Cl 1.23, 25; 1Tm 4.6). Em síntese, podemos
afirmar que o ministro do evangelho é um “servo público das
coisas de Deus”, ou seja, aquele que serve os servos de Deus.
Presbítero ou Ancião
O presbítero ou ancião (πρεσβυτερος) é aquele que possui
maturidade cristã para exercer a liderança espiritual da igreja no
corpo presbiterial (conselho) (cf. At 11.30; 14.23; 15.22; 1Tm 5.17,
19; 1Pe 5.1; Ap 4.4 – a palavra presbiterous é traduzida por
anciãos). O presbítero não pode ser um neófito, mas alguém com
experiência na fé cristã (1Tm 3.6, 7; 5.22).
Anjo da Igreja
O ministro também é chamado de o “anjo da igreja” (ἀγγέλῳ
ἐκκλησίας), ou seja, é aquele ele tem a função de ser um
mensageiro de Deus para o seu povo (Ap 2.1, 8, 12, 18; 3.1, 7, 14).
Não se trata de uma figura hierárquica ou inerrante; pelo
contrário, é a figura de um servo fiel enviado para proclamar a
mensagem da Palavra de Deus. Apenas isto!
Embaixador
Paulo também se identifica como embaixador (πρεσβευω),
“aquele que age como embaixador”, isto é, como
“representante” (cf. 2Co 5.20; Ef 6.20). Esta palavra tem a mesma
raiz de presbiterous (πρεσβυτερος), “ancião”, “pessoa de idade”.
A ideia da palavra embaixador é de uma “pessoa incumbida de
uma missão pública”, “que leva uma mensagem” (cf. Is 18.2; Lc
14.32).
Evangelista
O evangelista (ευαγγελιστης) é “aquele que leva as boas-novas”
(cf. At 21.8; 2Tm 4.5). Todo pastor deve ser um evangelista, por
natureza, pois é um pregador e proclamador das boas-novas da
salvação em Cristo Jesus. Suas mensagens, ensinos e conselhos
são essencialmente evangelísticos. Suas palavras e ações são
naturalmente evangelísticas.
Pregador
O pregador (κηρυξ) é o “arauto”, ou o “mensageiro investido
com autoridade pública para entregar uma mensagem
importante e grave” (cf. 1Tm 2.7; 2Tm 1.11; 2Pe 2.5). O pastor é,
portanto, um porta-voz da mensagem de Deus ao seu povo. Ele
tão somente diz aquilo que o Senhor, em sua Palavra, disse. O
pregador não diz nada aquém e nada além!
Doutor/Mestre
O doutor ou mestre (διδασκαλος) é “aquele que é qualificado
para ensinar”. É um mestre, por excelência, no conhecimento
bíblico. Ele se dedica ao estudo fiel e à clara transmissão das
verdades Escriturísticas (cf. At 13.1; 1Co 12.28; Ef 4.11). Paulo
afirma que o ministro deve ser “apto para ensinar” a Palavra de
Deus (1Tm 3.2; cf. Tt 1.9).
Aplicações
Que os títulos bíblicos e constitucionais sejam mais do que títulos
em seu ministério, que sejam eles verdades em seu ministério.
Que você seja um bispo “atento” ao seu rebanho. Um pastor
cuidadoso e amável. Um ministro servo. Um presbítero maduro e
sábio. Um anjo com uma mensagem de Deus. Um embaixador
em nome de Cristo. Um evangelista fervoroso e autêntico. Um
Pregador profundamente apaixonado e prático. Um excelente
mestre na Palavra. Um eficiente administrador das coisas do
Senhor.
Seja um pastor piedoso e culto. Mantenha a Bíblia numa mão e
o jornal na outra. Esteja antenado aos acontecimentos e trate-os
à luz da Bíblia.
Seja um pastor de testemunho dentro e fora da Igreja.
Esteja sempre atento às suas funções pastorais. Cuidado para
não negligenciar alguns aspectos do ministério em detrimento de
outros, como, por exemplo, a visitação, aconselhamento e
estudo da Palavra.
Não permita que futilidades tire o seu tempo de devoção e
estudo da Palavra de Deus.
Vocação para o Ensino
Um Chamado Didático
A Importância do Ensino
O ensino na Igreja não é um mero apetrecho. Pelo contrário, ele
é muito importante, tanto é que já afirmamos que há um
imperativo bíblico para o ensino.
Em primeiro lugar, o ensino na Igreja alimenta o rebanho. O
trabalho do pastor quanto ao ensino não é apenas dar
informações teológicas aos crentes, mas, antes de tudo, é
alimentá-lo bíblica e sadiamente, levando-o a uma vida de
santidade e piedade cristã (Tt 2.11-15).
Muitas igrejas estão “inchadas” de tanto conhecimento
teológico, mas anoréxicas de alimento genuinamente espiritual.
É evidente que o bom ensino pressupõe o conhecimento, mas
este, por si só, sem aplicação e vida não transforma, mas
deforma.
Em segundo lugar, o ensino na igreja corrige os faltosos. Se por
um lado o ensino alimenta cotidianamente o rebanho, por outro,
ele também coloca na linha aqueles que estão se desviando (cf.
2Tm 2.24-26).
Este ensino deve ser manso e piedoso, a fim de fazer com que os
irmãos em pecado retornem à sensatez. Se a Palavra não corrigir,
ninguém mais corrigirá!
Em terceiro lugar, o ensino na igreja mantém a sã doutrina. O
pastor deve zelar para que a sua igreja seja fiel à Palavra de Deus.
A única maneira de fazer isto é ensinar a Lei do Senhor (2Tm 4.1-
4).
A Palavra será um divisor de águas na igreja, tanto para firmar os
crentes verdadeiros quanto para afugentar os falsos irmãos. Não
tenha receio de expor a verdade e mostrar o erro!
O Conteúdo/Instrumento do Ensino
Pode até parecer redundante e óbvio de mais afirmar que o
conteúdo do ensino na Igreja é a Palavra de Deus. Mas não é!
Em tempos como os nossos, de tanto relativismo eclesiástico,
ensinamentos estranhos e frouxidão doutrinária, é mais do que
necessário afirmar esta verdade imutável. O pressuposto do
ensino sadio na Igreja é o “Sola Scriptura!”
Por vezes, e em muitos lugares, tem se falado de tudo nos
púlpitos, menos das Sagradas Escrituras. Fala-se de política, de
conflitos, de fraternidade, de filmes, de séries e de todo tipo de
acontecimento, menos da pessoa e da obra de Jesus.
Em outros lugares, os ministros são tão rasos no ensino que você
não consegue ver nada além das páginas impressas da Bíblia.
Paulo é incisivo ao ordenar a Timóteo: “Ordena e ensina estas
cousas” (1Tm 4.11). É evidente que a expressão “estas cousas”
está apontando para todas aquelas verdades expostas por Paulo
na carta (cf. 1Tm 4.1-11, 13-16).
Em sua Segunda Carta a Timóteo Paulo ainda o conjura: “prega
a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige,
repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm
4.2).
A Palavra de Deus deve ser lida e ensinada publicamente, como
ordenou Paulo (cf. 1Tm 4.13).
O Pastor precisa compreender que a Palavra de Deus é “fiel e
digna de toda aceitação” (1Tm 4.9). Portanto, é necessário que
o ministro saiba manejá-la muito bem (2Tm 2.15).
O ministro deve “apegado à Palavra fiel” (Tt 1.9), se quiser que o
seu ensino seja bíblico e transformador.
Aplicações Finais
Se você é realmente um vocacionado, dedique-se ao ensino.
Não seja negligente ou relapso.
Ensine com amor, com piedade, com paixão, com humildade.
Ensine para transformar vidas e não para informar pessoas.
Seja um habilidoso conhecedor e manejador das Escrituras.
Não brinque com as coisas sagradas. Deus é santo!
Invista tempo no preparo de suas aulas.
Esteja tanto disponível para ensinar individualmente
(aconselhamento), quanto para ensinar publicamente.
Prepare-se, como se tudo dependesse de você. Ore, como se
tudo dependesse de Deus.
Vocação e Pregação
Um Chamado à Proclamação
Imperativos à Pregação
Ao escrever ao jovem pastor Timóteo, Paulo exorta: “prega a
palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende,
exorta com toda a longanimidade e doutrina.” (2Tm 4.2). Como
pastor, Timóteo não tinha a opção de não pregar, ou pregar
quando achasse oportuno. A sua missão era pregar a Palavra.
Essa missão era em todo o tempo – “quer seja oportuno, quer
não”. O pastor deve aproveitar todas as oportunidades para
pregar a Palavra, quer na igreja ou fora dela.
A pregação, segundo Paulo, tem como alvo “corrigir, repreender
e exortar”. Se por um lado a pregação chama os pecadores ao
arrependimento, ela também traz de volta ao caminho os
pecadores salvos
Paulo compreendia perfeitamente a ordem de pregar a Palavra
de Deus. Ele via isso como algo de muita responsabilidade. Nas
seguintes palavras, ele expressou o peso da sua obrigação: “Se
anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre
mim pesa essa obrigação [ἀνάγκη = necessidade]; porque ai de
mim se não pregar o evangelho!” (1Co 9.16).
Ainda sobre o imperativo de pregar a Palavra de Deus, Paulo
exorta Timóteo: “Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à
exortação, ao ensino.” (1Tm 4.12). Enquanto o aconselhamento
tem haver com o ensinamento particular (παρακλήσει), a
pregação tem haver com o ensinamento público,
congregacional, mais abrangente (αναγινωσκω – ler, conhecer
acuradamente).
A ideia da passagem é que o ministro, o pregador do evangelho,
o arauto de Cristo deve ser um fiel expositor público da Palavra
de Deus.
Essa é a tarefa para a qual ele foi vocacionado por Deus.
Essa é a mesma missão que Deus entregou aos seus servos do
passado, como aos profetas Isaías (6.9); Jeremias (1.17; 7.2),
Ezequiel (12.8) e Jonas (3.2).
Pregue Expositivamente
Há muitos métodos de pregação. Cada um tem o seu valor. Deus
pode usar (e tem usado!) vários métodos ao longo dos tempos
para edificar a sua igreja. Spurgeon, por exemplo, era um
pragador mais temático, entretanto, foi alguém muito usado por
Deus na sua época. Seus sermões são uma fonte de edificação
para a vida dos crentes (cf. Sermões do Ano de Avivamento).
Há muitas excelentes definições do que seja o sermão ou
pregação expositiva. Grandes escritores e pregadores deram
suas próprias definições. Haddon Robinson, por exemplo, disse
que “pregação expositiva é a comunicação de um conceito
bíblico derivado e transmitido através de um estudo histórico,
gramatical e literário de uma passagem em seu contexto.”
John Stott, em seu clássico livro Between Two Worlds (Entre dois
Mundos), afirma que “toda verdadeira pregação é pregação
expositiva.” Ele também diz que pregação expositiva “é a
manifestação da verdade registrada nas Escrituras, por isso, todo
sermão deve ser, de algum modo, expositivo.” Bryan Chapell
afirmou que “a pregação expositiva é descobrir e propagar o
significado preciso da Palavra”
Albert Mohler afirmou que “a pregação expositiva é a única
forma de pregação cristã autêntica, de modo que o cerne e o
âmago da pregação expositiva é ler a Palavra de Deus e, em
seguida, explicá-la às pessoas, de modo que a entendam.” Ele
ainda acrescenta que a “pregação expositiva é aquele estilo de
pregação cristã que tem como propósito central a
apresentação e a aplicação do texto da bíblico.”
Martin Lloyd-Jones disse o seguinte: “a minha posição é que um
sermão sempre deve ser expositivo.”
Portanto, podemos dizer que pregação expositiva é ler, explicar
e aplicar um texto das Escrituras. Nenhum outro modelo, por mais
piedoso e lógico que possa parecer, é tão capaz de trazer à tona
a verdade de um texto e aplicá-la à vida, como o faz a
pregação expositiva.
Pregue Experiencialmente
Não é muito simples de se definir o que é um sermão ou
pregação experiencial, dado ao fato de que o termo não é de
uso comum. Entretanto, uma excelente definição é dada pelo
pastor, escritor e expositor bíblico, Joel Beek, em seu livro Vivendo
para a Glória de Deus, uma Introdução à Fé Reformada: “A
palavra experiencial vem do latim experimentum e significa
“teste”. É derivada de experior, que significa “tentar, provar ou
colocar em teste”. Esse verbo também pode significar “achar ou
saber por experiência”, levando à palavra experientia, que
significa “conhecido por meio do experimento”. Portanto, uma
definição funcional de pregação experiencial pode ser:
pregação que busca explicar, com termos da verdade bíblica,
reformada, como as coisas devem ser, como elas realmente são
e o objetivo final da vida cristã. A pregação experiencial tem
como alvo aplicar a verdade de Deus a todo o âmbito da
experiência pessoal do crente, incluindo seu relacionamento
com a família, a igreja e o mundo ao seu redor. Em outras
palavras, ela aborda todo o âmbito do viver do cristão,
focalizando intensamente o seu bem-estar espiritual e a
maturidade do crente. Com a bênção do Espírito, a missão dessa
pregação é transformar o crente em tudo que ele é e faz, para
que se torne cada vez mais semelhante ao seu Salvador.”
A pregação experiencial não é outro modelo de pregação ou
diferente da pregação expositiva; ela é tão somente a pregação
que explica o texto levando-se em consideração os elementos
gramaticais, históricos e teológicos, e o aplica à vida dos crentes
em todos os aspectos da vida cristã. “O ensino experimental
reforça a necessidade de saber por experiência as grandes
verdades da Palavra de Deus.”
Paul Helm também definiu a pregação experiencial dizendo que
“a pregação deve prover direção e instrução aos cristãos em
termos de sua experiência real, de modo que não se deve lidar
com a congregação como se ela vivesse em um século
diferente.”
Robert Burns disse que a pregação experiencial é “o Cristianismo
traduzido para os lares dos homens e de seus negócios, de modo
que, a cristandade deve ser não somente conhecida,
compreendida e aceita, mas também sentida, apreciada e
aplicada praticamente.”
John Piper, por sua vez, também compreende que “toda a
pregação deve ser a exposição e a aplicação de textos
bíblicos.”
Pregação experiencial é muito mais do que dar aos ouvintes o
conhecimento técnico do texto, é demostrar na prática como se
vive aquilo.
Esse tipo de pregação experiencial, nos ensina que, a menos que
a nossa religião seja experiencial (prática), nós iremos padecer –
não porque a experiência em si possa salvar, mas porque o Cristo
que salva os pecadores deve ser experimentado pessoalmente
como fundamento da nossa esperança.
Alinhando, por conseguinte, as definições de pregação
expositiva e pregação experiencial, podemos afirmar que a
pregação expositiva só é pregação verdadeira quando ela
atinge o ponto da experiência, isto é, da aplicação prática. Por
outro lado, a pregação experiencial só é verdadeira quando
está fundamentada e plenamente solidificada na pregação
expositiva.
Pregação expositiva e experiencial são os dois lados da mesma
moeda, por assim dizer. De um lado está a exposição do texto, e
do outro lado está a aplicação do texto. Elas são os dois trilhos
da mesma linha, que caminham lado a lado até que no horizonte
se encontram perfeitamente. Um não subsiste sem o outro.
Dan Doriani, citando John Frame, diz que “a teologia é a
‘aplicação da Palavra de Deus a todas as áreas da vida das
pessoas’, a fim de satisfazer as necessidades espirituais e
promover a piedade e a saúde espiritual.”
Boa exegese é igual a boa aplicação. Aplicação sem exegese
não passa de inferências superficiais e subjetivas. Isso é pregação
expositiva experiencial.
Pregue Cristocentricamente
Entender o que é pregação Cristocêntrica é fundamental, uma
vez que ela é uma das características essenciais do sermão
experiencial. O distinto pregador e professor Bryan Chapell disse
que “pregação Cristocêntrica é centralizar a pessoa de Cristo em
toda a exposição bíblica. Pregação Teocêntrica é Cristo no
centro da pregação.”
Outro conhecido expoente cristão, Steve Lawson, afirmou que
pregação Cristocêntrica é aquela “pregação direcionada pela
Palavra, que exalta a Deus, que é centrada em Cristo e
fortalecida pelo Espírito.”
O renomado escritor Sidney Greidanus, autor de várias obras
nesta linha, definiu pregação Cristocêntrica da seguinte forma:
“pregar Cristo não é meramente mencionar o nome de Jesus ou
o Cristo no sermão. [Antes], pregar Cristo é proclamar alguma
faceta da pessoa, da obra ou do ensino de Jesus de Nazaré,
para que as pessoas possam crer nele, confiar nele, amá-lo e
obedecê-lo.”
O pregador galês, Stuart Olyott, afirmou: “Jesus é o assunto de
toda a Bíblia. [Se] um pregador abre a sua Bíblia e não prega a
Cristo com base na passagem que tem diante de si, esse
pregador não entendeu o Livro; e, se não o entendeu, não
deveria estar pregando! Onde Cristo não é pregado, ali não
existe pregação.” (ex. Spurgeon...)
Em seu comentário da Primeira Epístola aos Coríntios, Calvino
demonstrou claramente a sua compreensão acerca da
pregação Cristocêntrica: “Como Paulo pusera tantas vezes o
nome de Cristo em contraste com a orgulhosa sabedoria carnal,
assim ele planta a Cruz de Cristo bem no centro, a fim de
destronar toda a arrogância dessa sabedoria. Pois toda a
sabedoria dos crentes está concentrada na luz de Cristo. Não
devemos condenar nem rejeitar a eloquência, antes o seu alvo é
conclamar-nos de volta à simplicidade do evangelho e pôr em
relevo a pregação da Cruz e nada mais.”
Pregação Cristocêntrica, portanto, é colocar Cristo no centro da
mensagem, mostrando o seu amor e sua graça aos ouvintes.
Os grandes expositores do passado eram pregadores
Cristocêntricos, como Calvino, Knox, Spurgeon, Whitefield,
Edwards, Lloyd-Jones e tantos outros.
Deixar de apresentar Cristo em qualquer passagem da Escritura
é o mesmo que não compreender o seu objetivo principal, pois
toda a Bíblia aponta para Jesus Cristo.
Ele é a razão pela qual a Bíblia foi escrita. Sermões sem Cristo não
passam de meros discursos moralistas ensinando as pessoas a
viverem uma vida de “moral ilibada”.
O sermão Cristocêntrico desafia as pessoa a abandonarem o
pecado, tendo Cristo como seu amigo gracioso que as ajudará
no longo e difícil processo de santificação.
Edmund Clowney disse muito bem: “devemos pregar Cristo como
o texto o apresenta, pois ele está presente em cada página da
Escritura.”
Os pregadores devem encorajar os seus ouvintes a olharem para
Cristo nas horas conturbadas da vida, pois só ele é capaz de dar
consolo e esperança.
O puritano Joel Beeke resumiu muito bem a questão: “Cristo tem
de ser o começo, o meio e o fim de todo o sermão. A pregação
tem de exaltar a Cristo, para despertar, justificar, santificar e
confortar os pecadores”.
Beeke ainda insiste no fato de que “o grande tema e contorno
governante da pregação experiencial é Jesus Cristo, pois ele é o
foco e o prisma supremos e o alvo da revelação de Deus.
Portanto, um verdadeiro pregador calvinista tem de ser decidido
a ‘nada saber... senão a Jesus Cristo e este crucificado’
(1Co2.2).”
William Perkins disse que “o âmago de toda pregação é ‘pregar
somente a Cristo, por Cristo, para o louvor de Cristo.’”
Cotton Mather disse: “Apresente tanto quanto você puder do
glorioso Cristo. Sim, que o lema de seu ministério seja este: Cristo
é tudo. Que outros apresentem no púlpito fábulas que surgem e
desaparecem. Especializemo-nos em pregar o nosso Senhor
Jesus Cristo.”
Bryan Chapell, ainda faz um alerta sobre a necessidade de se
tornar a pregação expositiva em pregação Cristocêntrica: “A
pregação teocêntrica inevitavelmente se torna Cristocêntrica,
não por que o sermão menciona com insistência o nome de
Jesus, ou arranca da memória algum acontecimento do seu
ministério terreno, antes, porque ele demonstra a realidade da
condição humana que requer solução divina. Pregação
teocêntrica é Cristo no centro do pregação. O foco sobre a
atividade redentora de Deus determina a fase para trabalho de
Cristo, alerta o coração humano para a sua necessidade, e/ou
expõe a natureza divina. Quando contemplamos Deus em
atividade, o ministério de Cristo inevitavelmente se manifesta (Jo
1.1-3; 14.7-10; Cl 1.15-20; Hb 1.1-3). O sermão se mantém
expositivo e cristocêntrico não devido ao salto imaginativo para
a Gólgota, mas porque ele situa o objetivo da passagem dentro
do alvo da obra redentora de Deus.”
Portanto, o pregador atento deve fugir da armadilha de tentar
encontrar Cristo em cada pedra de Israel ou em cada mínimo
detalhe do tabernáculo.
Pelo contrário, seu trabalho deve focar sempre com atenção a
história da redenção, vendo como Deus apresenta seu Filho Jesus
Cristo como a resposta aos problemas e anseios humanos.
Se conseguirmos nos lembrar de que Jesus é o criador do mundo,
o legislador da Lei hebraica, a rocha e a o maná do deserto, o
motivo dos cânticos do Saltério, o Messias prometido que
restauraria a sorte de Israel, o Deus-homem encarnado que
morreu na cruz para cumprir um propósito maior, então,
certamente nossas mensagens serão infinitamente mais ricas e
cheias de propósito. Jesus não é um apêndice no sermão, mas o
seu conteúdo por natureza.
Pregue Habilidosamente
Pregar sermões expositivos experienciais requer algumas
habilidades importantes.
Em primeiro lugar, pregue sequencialmente (lectio continua).
Calvino acreditava que expor versículo após versículo, capítulo
após capítulo e livro após livro era o significado de pregar todo o
“desígnio de Deus” (At 20.27).
Há muitas coisas boas em se pregar sequencialmente. 1. Faz o
pregador estudar profundamente cada passagem. 2. Força o
pregador a lidar com os textos originais e bons comentários. 3. Dá
a congregação uma visão detalhada do texto. 4. Evita a
tentação de pregar possíveis “sermões encomendados”. 5. Evita
que alguém o acuse de atingir pessoas por meio de seus sermões.
6. Evita a angustia semanal pela busca do texto a ser pregado no
domingo. 7. Encoraja o pregador a planejar suas exposições ao
longo de um ou mais anos. 8. Lida com temas delicados que
dificilmente seriam tratados numa pregação. 9. Economiza
tempo no estudo contextual. 10. Proporciona ao pregador a
bênção de produzir um rico material para o futuro, quer
devocional ou mais “teológico”, se ele for disciplinado em
escrevê-lo.
A despeito da grande bênção que é a exposição sequencial, é
importante ressaltar as seguintes observações: 1. Séries de
sermões podem e devem ser interrompidas, a qualquer
momento, para tratar de questões importantíssimas na igreja
local. 2. Cuidado para não fazer exposições muito longas, a tal
ponto de cansar o seu público (ex. Lloyd-Jones – expôs Romanos
por 13 anos). 3. Cuidado para não transformar a sua exposição
numa palestra. Lembre-se que pregação não é mera
informação, mas aplicação prática. Sermão sem aplicação é
como uma carta sem endereço. Cuidado para não parecer que
levou as “panelas para a mesa”. Estude o texto, escreva o
sermão e leve o mínimo de notas para o púlpito. Calvino fazia
exposições sem nenhuma anotação.
Faça uso de boas e oportunas ilustrações. Elas dão mais vida e
brilho ao sermão. Jesus usava ilustrações com frequência,
especialmente em suas parábolas (Mt 6.26, 28; 7.24-27; 13.33; Lc
17.26-27). Use histórias da própria Bíblia o máximo possível.
Lembre-se também que há excelentes ilustrações nas biografias
de homens de Deus. Conte as histórias como se estivesse nelas.
Pregue Piedosamente
Seja um pregador comprometido com as Escrituras Sagradas.
Creia que elas são a Palavra de Deus inspirada, inerrante e
suficiente.
Mantenha uma vida devocional regular para sua edificação e
crescimento pessoal; e não com a finalidade de encontrar textos
para o sermão de domingo. Antes da Bíblia ser o seu instrumento
de trabalho, ela é o seu alimento diário.
Regue os seus sermões com oração. Não confie no seu
conhecimento, ou no seu manuscrito, muito menos na sua
memória, confie no poder do Espírito Santo. Só Ele pode
transformar pecadores.
Seja humilde ao receber as críticas. Considere de quem são, suas
motivações e o seu conteúdo. Mas também tome cuidado com
os “elogios na porta da igreja”!
Vocação e Aconselhamento
Imperativos ao Aconselhamento
• Desde os tempos apostólicos, o aconselhamento tem ocorrido na
Igreja como função natural da vida espiritual do corpo.
• O Novo Testamento afirma e ordena aos crentes que se exortem
mutuamente: “... pelo contrário, exortai-vos (παρακαλεῖτε da raíz
παρακαλεω) mutuamente cada dia...” (Hb 3.13).
• Escrevendo aos Colossenses, Paulo diz: “Habite, ricamente, em
vós a palavra de Cristo; instruí-vos (διδάσκοντες) e aconselhai-vos
(νουθετοῦντες, da raíz νουθεσια – “pôr na mente”) mutuamente
em toda a sabedoria (Palavra de Deus)...” (Cl 3.16).
• Essa palavra é que dá origem ao chamado “aconselhamento
noutético” – confrontação bíblica.
E também aos Tessalonicenses Paulo afirma: “consolai-vos
(παρακαλεω) uns aos outros...” (1Ts 4.18); “consolai-vos
(παρακαλεω) uns aos outros, e edificai-vos reciprocamente...” (1Ts
5.11).
Em seu último encontro com os Presbíteros da Igreja de Éfeso,
Paulo relembrou o seu ministério de aconselhamento naquele
lugar: “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos,
noite e dia, não cessei de admoestar (νουθετῶν), com lágrimas,
a cada um.” (At 20.31).
Portanto, todas essas instruções aplicam-se ao povo da Igreja –
não somente a uma “casta sacerdotal” de “especialistas”.
O aconselhamento bíblico é tanto uma tarefa do ministro quanto
de toda a igreja local.
Aconselhamento Integracionista
Em anos recentes, surgiu dentro da igreja cristã um forte e
bastante influente movimento que procura substituir o
aconselhamento bíblico pela “psicologia cristã”.
O chamado aconselhamento “integracionista” (bíblia +
psicologia) é uma mistura de versículos da Palavra de Deus e
ensinamentos de diversos pensadores da área, como Freud,
Rogers e Jung. O perigo deste tipo de aconselhamento é que ele
faz com que a igreja acabe encaminhando os crentes para os
“especialistas”, sem nenhum cuidado
Outro perigo é colocar de lado a suficiência das Escrituras para
a solução dos grandes humanos.
A pergunta que temos que responder sinceramente é: A Bíblia é
ou não suficiente?
Em contrapartida, tem havido um movimento muito forte em
todo o mundo pelo retorno às Escrituras como fonte e recurso
para o aconselhamento. Isso é chamado de aconselhamento
bíblico.
Vemos que a Bíblia é superior ao conhecimento humano (1Co
3.19). Ela é capaz de discernir o coração (Hb 4.12), coisa que
método nenhum pode fazer.
Além disso, o Espírito Santo também age nos corações
recuperando e regenerando (Ef 5.18-19) e que todos os tesouros
da sabedoria encontram-se no próprio Cristo (Cl 2.3).
A Bíblia é o único manual confiável para o verdadeiro estudo da
alma. Ela é tão exaustiva no diagnóstico e no tratamento de
cada questão espiritual que, aplicada pelo Espírito Santo no
cristão, Ela o torna semelhante a Jesus Cristo. A isto chamamos
de o processo da “santificação progressiva”. Esse é o alvo do
verdadeiro aconselhamento bíblico.
Os puritanos chamavam isso de a “obra da alma”. Nos seus dias,
o pastor era o responsável primeiro pela “cura das almas”. Seu
trabalho era à partir das Escrituras!
A Dinâmica do Aconselhamento
Aconselhamento não é apenas trabalho do Pastor ou do
Presbítero. Qualquer irmão ou irmã com conhecimento bíblico e
experiência cristã pode e deve aconselhar.
Aconselhamento é uma tarefa da igreja como um todo. “Exortai-
vos mutuamente...” Entretanto, o que se espera do pastor é que
seja ele o exemplo de conselheiro.
Aconselhamento não se faz apenas numa sala ou gabinete, com
horário agendado, como uma clínica terapêutica.
Aconselhamento se faz em todo o tempo – numa conversa
informal, caminhando, num restaurante, num acampamento
(local ótimo), ao término do culto, por telefone, skype, whatsapp,
messenger, etc.
Comece e termine com oração, se possível. Peça a direção de
Deus para aquilo que for dito e ore ao final agradecendo, pela
fé, o agir de Deus naquela vida.
Ore especificamente pelo problema da pessoa, exaltando
sempre a soberania de Deus e rogando por graça abundante.
Se o aconselhamento for numa sala, e, portanto, mais formal,
procure anotar algumas coisas importantes que serão ditas, para
que a pessoa fique bem a vontade para falar.
A anotação irá lhe permitir retomar o assunto mais tarde sem
interromper o raciocínio da pessoa. Se não for formal, fique bem
atento para recapitular depois.
Por exemplo: “Você disse que num determinado momento da
sua vida teve algo que te entristeceu muito, seria possível me falar
um pouco mais sobre isso? O que exatamente aconteceu
naquele momento. Fique a vontade para contar. Não tenha
pressa, tenho o tempo necessário para lhe ouvir.”
Se você notar contradições, questione um pouco mais até
estabelecer a verdade.
Diga ao aconselhando que os conselhos que você vai fornecer
são da Palavra de Deus. Isso lhe dará mais crédito e confiança.
Não tenha pressa em ouvir. Muitas vezes pessoas querem apenas
desabafar – alguém pra ouvi-las.
Estabeleça um tempo razoável para o aconselhamento. Não
queira ouvir toda a história de uma senhora de 80 anos, com
problemas com os filhos, em apenas uma hora.
Particione o tempo e remarque outro momento para continuar a
ouvir a história. Cuidado para não deixar a conversa perder o
foco.
Esteja bem atento e olhando nos olhos do aconselhando. Isso
demonstra atenção e preocupação com a pessoa e com a
situação dela.
Cuidado para não fazer ou entrar em assuntos constrangedores.
Deixe a pessoa a vontade para responder segundo o seu querer.
Salvo se perceber alguma contradição.
Muitas vezes, é necessário descontruir o pensamento e refazê-lo
à luz da Palavra de Deus. Ex.: “veja bem, isso que você disse não
é exatamente assim. Vejamos o que a Bíblia fala sobre a
ansiedade... Note como Jesus enxerga a questão da ansiedade.
É bem diferente do que você estava imaginando, não é
mesmo?”
Cuidado para não ser pesado de mais nas palavras. Seja amável,
uma vez que aquela pessoa já está fragilizada por alguma coisa
que aconteceu. Ao mesmo tempo, seja firme em confrontar o
erro e o pecado. Se algo é pecado, então diga e trate como
pecado. Ex. Vício de cigarro ou droga não é vício, é um pecado
escravizador.
Vá construindo um pensamento com a pessoa. Jamais entre num
“ping-pong”. Ela fala e você rebate e vice-versa.
O papel do conselheiro é aconselhar e não entrar num debate
sem fim. A pessoa que vai a você buscar conselhos precisa
compreender que você é um instrumento de Deus e ela tem que
lhe ouvir.
Tenha anotado na sua Bíblia ou de cabeça algumas passagens-
chave no aconselhamento. Por exemplo: ansiedade, morte,
dinheiro, sexo, família, criação de filhos, perdão, pecado,
adultério, soberania de Deus, alegria, encorajamento e história
bíblicas que ilustrem o assunto. Isso vai lhe dar boa bagagem
para aconselhar prontamente.
o final, se for um aconselhamento formal, atribua uma tarefa. Ex.:
ler e meditar em tal passagem durante a semana. Escrever uma
lista de coisas que a separa de Deus. Ler ou assistir um filme sobre
determinado assunto. Orar dez minutos sobre aquilo. Anotar as
vitórias e derrotas, etc.
Se for informal, diga pra pessoa assim: “Vamos continuar esse
papo na semana que vem, daí você me conta como foi. Vou
ficar ‘ansioso’ para saber dos resultados, de como Deus agiu”.
Passados alguns dias você liga pra pessoa e puxa a conversa
sobre aquele assunto novamente.
Cuidado para não se envolver com o caso do aconselhando
achando que o problema é seu e é seu dever resolvê-lo. Cuidado
para não levar para casa o problema da pessoa.
Em casa, o máximo que se pode fazer é orar em secreto.
Cuidado com o envolvimento próximo com o aconselhando.
Mantenha o fator “distância”.
Jamais faça comentários de casos quando a pessoa envolvida
está presente. Ao citar um caso como exemplo não seja muito
específico e muito menos dê nomes. A não ser que você tenha
autorização expressa da pessoa para compartilhar aquela
situação. Caso contrário, o que foi dito entre vocês morre
exatamente ali.
Cuidado ao aconselhar mulheres, especialmente solteiras,
divorciadas, com problemas no casamento. Se possível, procure
ter alguém de confiança junto. Quem sabe sua esposa ou uma
mulher piedosa da igreja na sala ao lado. Jamais aconselhe
pessoas assim sozinho, onde quer que seja. “Aquele que pensa
estar em pé veja que não caia...”
Se a pessoa ignorar os seus conselhos, continue tendo
misericórdia, mas seja sincero e diga que não há mais o que ser
feito nesta circunstância.
A pessoa tem que quer buscar a mudança, mesmo errando e
tendo recaídas. Mas se ela negar deliberadamente a mudança,
não resta mais nada a ser feito.
Ao tratar de um caso que não sabe como agir, primeiro ore,
estude a Bíblia e procure ajuda de alguém experiente. Não
pense que você vai saber tudo da noite para o dia.
Aconselhamento é experiência. A cada dia você aprende a
tratar os mais diversos casos. Seja humilde para reconhecer suas
limitações como conselheiro pecador.
Busque ser um exemplo em tudo, porque a partir daquele
momento do aconselhamento, o aconselhado passará a lhe
observar nas palavras, gestos, ações e omissões.
É um grande desafio ser conselheiro. Mas é muito gratificante ver
pessoas sendo transformadas pela graça de Cristo. Deus seja
louvado.
Vocação e Missão
Imperativos à Evangelização
O maior imperativo foi dado pelo próprio Senhor Jesus: “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (Mt 28.18-20);
“Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura”
(Mc 16.15); “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, com em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8).
Escrevendo ao jovem pastor Timóteo, Paulo o exorta sobre o
dever de anunciar o evangelho: “prega a palavra, insta, quer
seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a
longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2), e ainda: “Tu, porém, sê
sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de
um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério.” (2Tm 4.5).
Exemplos de Missionários
No Antigo Testamento encontramos o Senhor comissionando
Jonas para pregar o arrependimento para o ninivitas (Jn 1.1; 3.1-
3). Este foi o missionário bem sucedido que falhou.
Lemos, ainda, no livro do Profeta Isaías sobre a tarefa missionária
de Cristo: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o
Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados,
enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar
libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados” (Is
61.1).
Ainda em Isaías lemos aquele texto encorajador: “Que formosos
são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que
faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a
salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is 52.7; cf. citação
de Isaías em Rm 10.15).
O Senhor Jesus, durante todo o seu ministério, desenvolveu sua
tarefa missionária. Ele viajava de um lugar para o outro
apregoando o Reino de Deus (cf. Mc 1.14,-15; 2.2; Lc 4.42-44).
O principal ministério de Jesus era ensinar e anunciar as boas-
novas do Reino.
Enquanto fazia missões, Jesus treinava os seus discípulos para que
continuassem a sua obra (Lc 8.1).
O apóstolo Paulo foi outro exemplo inspirador de missionário.
Ele dedicou toda a sua vida e o seu ministério à gloriosa tarefa de
apresentar Cristo onde ele ainda não era conhecido (cf. Rm
15.20).
Paulo, segundo os eruditos, trabalhou como missionário por cerca
de 30 anos, fez três viagens missionárias, plantou várias igrejas,
deixou vários discípulos, formou liderança e escreveu várias
cartas preciosas.
O primeiro ato de Paulo após a sua conversão foi pregar o
evangelho (cf. At 9.20, 22, 28).
Paulo continuou pregando o evangelho por onde passava (cf. At
13.5; 13.46; 14.21-23; 18.5; 19.8).
A narrativa de Lucas sobre o ministério missional de Paulo termina
assim: “Por dois anos, permaneceu Paulo na sua própria casa,
que alugara, onde recebia todos que o procuravam, pregando
o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento
algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo.” (At
28.30).
Podemos afirmar que, de certo modo, Paulo fez missões locais
(entre os judeus de sua região), missões transculturais (entre os
gentios de diversas culturas) e missões “prisionais” (numa casa em
Roma).
Paulo era um apóstolo, um pregador do evangelho, um
doutrinador, um conselheiro, um pastor, mas também era um
missionário que entendia a urgência e a necessidade de
envolver-se com a obra missionária. Ele expressou bem esta
responsabilidade ao afirmar: “Se anuncio o evangelho, não
tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação;
porque ai de mim se não pregar o evangelho! (1Co 9.16).
Missões Transculturais
Quando falamos de missões transculturais, estamos falando da
obra de evangelização em culturas diferentes, tanto no Brasil,
quanto no exterior. É possível, também, nos envolvermos nesta
outra esfera de missões.
Primeiro, ore e leve a sua igreja a orar pelos missionários nos
campos. Mantenha uma agenda de oração.
Segundo, desafie a sua igreja a contribuir para missões. Convide
missionários para pregar em sua igreja e levante ofertas para ele.
Remeta ofertas mensais.
Desafie seus membros a visitarem um campo missionário por
alguns dias. Você pode promover uma viagem missionária. Com
certeza, a sua igreja nunca mais será a mesma depois dela. A
visão vai se abrir muito.
Terceiro, como pastor, se possível, visite um campo missionário, de
preferência uma realidade bastante diferente. Você pode
envolver a sua igreja nisto em oração e contribuição. Ela se
sentirá parte desta viagem missionária. Ao retornar, preste um
relatório detalhado ao Conselho e a igreja. Fale dos desafios e do
que Deus tem feito naquele lugar. Quem sabe, outros crentes
poderão ir com você no futuro.
Missões “Presbiteriais”
Além de pensarmos em missões locais, a nível de igreja, e missões
transculturais, podemos e devemos pensar também sobre
missões “presbiteriais”, a nível de concílio.
Muitas vezes, igrejas pequenas sentem o desejo de “alargar as
suas tendas”, mas não possuem recursos suficientes. Outras,
porém, que os possuem, lhes falta, infelizmente, a visão de reino.
Algumas igrejas estão tão fechadas em si mesmas que não
conseguem olhar para além de suas paredes, de seu coral e de
suas inúmeras programações mensais.
É justamente neste ponto que entra a figura do Presbitério. É
verdade, também, que para muitos falta a visão missionária.
Estão tão preocupados com as questões doutrinárias (o que não
é errado) ou políticas que se esquecem do essencial.
A Constituição da IPB, em seu artigo 70, h), falando sobre a
competência dos concílio diz: “determinar planos e medidas que
contribuam para o progresso...”, e ainda, no artigo 88, l), ao falar
especificamente sobre o Presbitério, diz: “estabelecer e manter
trabalhos de evangelização, dentro dos seus próprios limites, em
regiões não ocupadas por outros presbitérios ou missões
presbiterianas;”.
Portanto, a CIIPB é clara ao dizer que é função do Presbitério
propor e determinar planos de evangelização na sua região. Mas
como fazer isto?
Primeiro, é preciso que os pastores, presbíteros e conselhos
tenham esta visão. Mas é possível que ela possa nascer do desejo
de alguns pastores e presbíteros. Boas conversas, nos interregnos
das reuniões, regadas de oração, podem ajudar muito.
Segundo, fazer propostas ao presbitério, por meio de
documentos bem elaborados, é outro caminho para despertar o
concílio. Pode ser que o presbitério não abra um trabalho dele,
mas invista em algum.
Terceiro, algumas igrejas, duas ou três, podem se juntar numa
parceria missionária. Isto pode dar muitos frutos! Uma igreja pode
ajudar com recursos humanos e outras com recursos
econômicos.
Por fim, há muitas maneiras de se envolver o presbitério na ação
missionária. Seja como for, por iniciativa de uma igreja, de um
grupo de pastores ou do próprio presbitério, o importante é que
alguma ação neste sentido esteja acontecendo e produzindo
preciosos frutos para a glória de Deus e bênção do seu reino aqui
na terra.
Invista em Missões!!!
Vocação e Defesa do Rebanho
Um chamado Apologético
O pastor deve ser zeloso para com o seu rebanho. Ele deve zelar
pela vida espiritual de cada crente. Deus pedirá contas aos
pastores acerca disto.
Calvino disse que “o pastor deve ter duas vozes: uma para
apascentar o rebanho e outra para afugentar os lobos”.
Não poucas igrejas estão sofrendo com problemas graves,
porque, muitas vezes, seus pastores estão sendo negligentes em
defender o seu rebanho dos lobos internos e externos. Tais
pastores estão tão preocupados com o crescimento númerico
que se esquecem dos perigos que cercam e assolam o seu
rebanho. Portanto, a vocação pastoral está ligada diretamente
ao zelo/defesa da doutrina e da liturgia.
O Zelo na Doutrina
A Bíblia fala da sã doutriana como algo muito sério e inegociável.
Jesus ensinou sobre o perigo de falsos profetas: “Acautelai-vos
dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em
ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.” (Mt 7.15). E ainda:
“Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos
saduceus.”(Mt 16.6,12).
Na mesma linha, Paulo também exortou acerca dos falsos
ensinos: “Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus
obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!” (Fp 3.2).
Em sua despedida dos presbíteros de Éfeso, Paulo alertou: “Eu sei
que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos
vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós
mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para
arrastar os discípulos atrás deles.” (At 20.29-30).
O apóstolo Pedro também alerta: “Assim como, no meio do
povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós
falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias
destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que
os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.”
(2Pe 2.1)
Por fim, o apóstolo João afirma: “Amados, não deis crédito a
qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus,
porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.” (1Jo
4.1).
Deste modo, a recomendação de Paulo é muito importante:
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes
deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como
aos teus ouvintes.” (1Tm 4.16).
Diante de todos estes perigos, a Bíblia dá aos ministros do
evangelho uma série de exortações e alertas quanto ao zelo na
doutrina.
A Palavra de Deus jamais relega a doutrina à segundo plano,
muito pelo contrário, a doutrina é a vida da igreja.
A Igreja Primitiva via a doutrina apostólica como algo vital. Não
é sem razão que Lucas afirma que ela “perseverava na doutrina
dos apóstolos.” (At 4.42).
Por um lado, Paulo exortou Timóteo a que admoestasse certas
pessoas, a fim de que não ensinassem outra doutrina
(ἑτεροδιδασκαλεῖν). (1Tm 1.3). Por outro, que ele deveria pregar a
“boa doutrina” (καλῆς διδασκαλίας).
Ainda ao jovem pastor Timóteo, Paulo afirma: “prega a palavra,
insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta
com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em
que não suportarão a sã doutrina (ὑγιαινούσης διδασκαλίας =
“doutrina saudável”); pelo contrário, cercar-se-ão de mestres
segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira
nos ouvidos” (2Tm 4.2-3).
Portanto, o papel do ministro sério e zeloso, segundo Paulo, é ser:
“apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo
que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para
convencer os que o contradizem.” (Tt 1.9). E ainda mais: “Tu,
porém, fala o que convém à sã doutrina (ὑγιαινούσῃ διδασκαλίᾳ).”
(Tt 2.1).
Seja um ministro que ama e zela pela doutrina bíblica.
Não negocie a doutrina por nada, dinheiro, fama, amizade,
interesses pessoais, etc.
Seja apegado ao melhor sistema doutrinário já produzido na
história reformada – A Confissão de Fé e seus Catecismos.
Mantenha este material diante dos seus olhos e na cátedra da
sua igreja. Seja um ministro Confessional.
Zelo na Liturgia
Outro grande perigo do ministério é relegar a liturgia a segundo
plano. Isto é, abrir mão para que outros tomem conta dela. Eis
um enorme perigo!
Muitos pastores não conseguem ver a liturgia como algo
extremamente sério, mas simplesmente como mais um elemento
presente na vida da igreja.
Sobre isto, vejamos alguns princípios.
Negativamente:
Egocentricidade (1Co 3.6-9)
O pastor não deve jamais ser ou estar no centro da igreja. Sua
posição é de servo e não de senhor.
Ele não precisa e não deve estar envolvido em cada reunião na
igreja. Embora, deva estar atento a tudo!
O pastor deve aprender a dividir o fardo e não ser um
centralizador de tudo e de todos.
Pastores que são egocêntricos não formam liderança, não
“descobrem” dons e talentos, não preparam a igreja para o dia
da sua saída. Quando ele deixa a igreja, ela perece porque não
sabe como fazer.
Seja um pastor colaborador, não um centralizador e autoritário.
Positivamente:
Integridade (Tt 2.7-8)
A ideia de integridade (no grego ἀφθορίαν, incorruptível, reto,
justo) é alguém que não tem nada que deponha contra ele. De
fato, a postura do ministro diante da sua congregação deve ser
de integridade total.
Sobre o caráter espiritual, moral ou pessoal do pastor não pode
pairar nenhuma ponta de dúvida, sequer. Isto não quer dizer que
o pastor não tenha falhas. Todos cometem erros no ministério.
Mas de qualquer modo, a vida do pastor deve ser irrepreensível
como servo de Deus, pregador, conselheiro, conciliar, amigo e
assim por diante. Seja um pastor íntegro em todo seu
procedimento.
Seriedade (Tt 2.7b-8)
O pastor deve ser sério em seu procedimento. Os crentes devem
ver o seu pastor como alguém de respeito.
É evidente que isto não elimina o uso do “bom” humor, isto é,
aquele humor que alegra o ambiente sem depreciá-lo ou
vulgarizá-lo.
Há momentos que requerem do pastor apenas a seridade. Por
exemplo, um velório, ofício fúnebre, pregação solene,
celebração da Ceia do Senhor, momentos de sofrimento de
alguém e coisas assim.
De outro lado, há momentos de seriedade, nos quais um bom
humor fica apropriado. Ele quebra o gelo do momento e
aproxima as pessoas. Por exemplo, uma palestra sobre
casamento, criação de filhos, acampamentos, confraternização,
etc.
Hospitalidade
Como já temos enfatizado, o pastor deve ser hospitaleiro
(φιλοξενος = amigo de estranho).
Quando um pastor chega numa igreja, naturalmente, todas as
pessoas serão estranhas, tanto para ele quanto para a sua
família. Deste modo, com muito cuidado, é preciso abrir as portas
do seu lar para receber as pessoas, a fim de conhecê-las e se dar
a conhecer.
Você pode demonstrar hospitalidade de forma sistemática. Crie
uma agenda de famílias para tomar um café em sua casa.
Comece com os líderes e prossiga.
As pessoas precisam ver como você age na sua casa,
especialmente com a sua família. Além de aproximar as pessoas,
a sua maneira de viver e agir será um excelente espelho para o
seu rebanho.
Responsabilidade (Rm 12.7)
O pastor deve ser alguém extremamente responsável para com
as coisas de Deus.
Ele deve ser responsável quanto ao preparo dos seus sermões,
estudos e aulas semanais. Quanto ao preparo da mensagem do
boletim ou todo ele. Quanto à agenda de visitação, para que
nenhum irmão fique desassistido. Quanto às reuniões do
Conselho, preparando a pauta com antecedência. Quanto às
reuniões do presbitério, para não faltar por qualquer motivo.
Quanto à agenda de convites para pregar. Quanto à agenda
pessoal.
Umas das coisas que uma igreja mais nota num pastor é a sua
responsabilidade. Nenhuma igreja confia e se sente confortável
com um pastor que trata as coisas de Deus com
irresponsabilidade.
Aplicações
Seja um pastor que mantém uma postura condizente com o
ofício que desempenha.
Desde as suas ações, passando por suas palavras e vestes,
demonstre integridade e reverência (Tt 2.7-8). Em alguns casos, é
melhor “pecar” pelo exagero do que pela falta de seriedade.
Procure ser conhecido como um profeta de Deus e não como
um palhaço, animador de culto.
Encare as coisas de Deus com a máxima seriedade possível, sem
deixar de ser alegre, carinhoso e bem humorado.
Manter uma postura séria no ministério só produz bons frutos para
o pastor e para a igreja.
O ministério não é para “meninos”, mas para verdadeiros homens
vocacionados que o veem como algo sério, reverente e glorioso.
Não brinque de ser pastor. Deus cobrará de você cada palavra
dita, cada conselho transmitido, cada gesto praticado.
Lembre-se que a recompensa por servir a Deus com integridade
virá do Senhor Jesus, naquele Dia (1Pe 5.1-4).
Vocação e Família Pastoral