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Por que deixei de ser aluno do ICLS e

minhas percepções sobre a finalidade do


instituto

Quem acompanha de perto as tendências internas dos movimentos que


surgiram na direita e no catolicismo brasileiro nos últimos 10 anos, deve ter
notado que iniciativas embrionárias até pouco tempo atrás hoje se disseminaram
em todo o país tendo o mais variado número de adeptos e se tornando pouco a
pouco uma grande força cultural e espiritual. Podemos notar isso nos institutos
católicos, nos empreendimentos culturais e nas figuras públicas que surgiram
nesse período e a rápida disseminação deles em uma grande força de formação
das massas. Esse fenômeno nos obriga a dar toda atenção aos direcionamentos
que as figuras públicas presentes nesse quadro tomam e o guiamento que elas
dão para seus seguidores, alunos e admiradores. Decisões tomadas por
pequenos grupos de intelectuais hoje terão consequências incalculáveis no
futuro desse novo movimento cultural e por sua vez no catolicismo nacional.

É munido dessa preocupação que – depois de ter relutado por muito tempo –
decidi escrever esse texto. Um dos agentes culturais mais relevantes no quadro
do catolicismo brasileiro é o Instituto Lux et Sapientia fundado pelos filhos do
professor Olavo de Carvalho: Tales de Carvalho e Luiz Gonzaga de Carvalho (o
Gugu). Eu fui aluno deles durante anos, fiz muitas aulas, conheci pessoalmente
os professores do instituto, fiz consultas particulares com o Gugu, participei de
alguns encontros presenciais e até hoje mantenho contato próximo com muitos
dos seus alunos. De maneira que meu contato com o ICLS não foi superficial e
as reflexões e observações que coloco nesse texto são fruto de pelo menos dois
anos de intensa meditação minha e de contato com bons sacerdotes católicos
que me ajudaram a refletir muitos ensinamentos que eu estava recebendo do
Instituto.

Antes de descer aos pontos centrais, eu preciso justificar duas coisas: a origem
das minhas percepções e a gravidade do problema. Tudo que vou escrever aqui
tem como origem minha análise pessoal do guiamento que eu estava recebendo
a partir das consultas particulares e do contato com as aulas do Gugu, mas
principalmente da consequência que essas aulas e consultas estavam tendo na
minha vida religiosa e na vida de inúmeras pessoas à minha volta que também
estavam tomando (ou tomaram) o mesmo rumo. Como o conteúdo do ICLS não
está organizado em livros e seus professores não desenvolvem suas ideias e
propostas de maneira muito formalizadas, isso me obriga a ater-me ao meu
testemunho pessoal e à observação da vida de outras pessoas que entraram em
contato com o instituto. Falo de dezenas de pessoas que conheço pessoalmente
e certamente existem centenas de outras na mesma situação.

Devo reconhecer também que há inúmeras exposições do Gugu sobre vocação


e formação pessoal que certamente são de grande ajuda para pessoas que
estão nas fases iniciais da vida adulta e da formação de uma família. Não se
pode descartar essas contribuições que isoladamente podem dar um rumo mais
ordenado para a vida de muita gente. Considerados em si mesmos, esse
guiamento é muito bom e louvável. Porém, o trabalho do Gugu e do ICLS não se
resume a isso e há outras facetas enquadradas nos trabalhos do instituto que
merecem ser expostas e questionadas.

Para quem não conhece de perto, o clima interno do ICLS é de uma veneração
à figura do Gugu e, em menor escala, à figura do Tales. De maneira que é muito
difícil levantar questionamentos mais horizontais aos seus ensinamentos dentro
dos grupos de alunos. Parece que dentro dessas esferas existe também “o
fenômeno da “proibição de perguntar”, que Eric Voegelin discerniu nas
ideologias de massa”- como aponta o professor Olavo no seu artigo As garras
da Esfinge (que irei mencionar mais adiante). Porém, dos alunos que notei um
certo estranhamento a respeito do guiamento das aulas e consultas do Gugu,
todos que abordei relataram a mesma percepção que eu estava tendo: estamos
nos afastando da Igreja Católica. O primeiro indício das consequências do
instituto é esta: muitas pessoas saindo da Igreja Católica e indo para a Igreja
ortodoxa, sendo que um punhado considerável (geralmente os mais próximos do
Gugu e do Tales) opta pela conversão ao islamismo. Eu sei que o próprio Tales
há uns 2 anos atrás escreveu no seu Facebook que só se sabia de 2 conversões
ao islã de alunos do instituto, mas hoje eu sei que há mais gente convertida pelo
contato próximo ao Tales, inclusive conheço pessoalmente alguns, e há muitos
outros considerando uma conversão mesmo sem contato tão próximo. De
qualquer forma, mesmo que fossem pouquíssimas pessoas, a conversão de uns
poucos ao islã e o abandono de outros tantos da Igreja já são motivos
suficientes para um cuidado mais minucioso e uma análise mais atenciosa a
respeito do ambiente do ICLS e da condução pedagógica de seus professores.

Se há afastamento da Igreja (que é obrigatoriamente um afastamento da pessoa


de Jesus Cristo), torna-se dever alertar aos que estão envolvidos no meio –
especialmente quando não há clareza de intenções, de nomenclatura, de
guiamento espiritual e o território é repleto de ambiguidades e insinuações como
é o caso das aulas do ICLS.

Percepções iniciais

Antes de mais nada é importante dizer que esse afastamento da Igreja não se
dá porque o Gugu ou o Tales antagonizam abertamente o cristianismo. O Gugu,
como exímio professor de religiões comparadas, tem uma compreensão do
cristianismo e do catolicismo muito profunda. Seu conhecimento - considerado
em si mesmo - é admirável e sua capacidade de exposição é belíssima. No
contato inicial com suas aulas e consultas a sensação que temos é de um
aprofundamento muito intenso a respeito dos símbolos e das figuras (mas quase
nunca da doutrina) do catolicismo. É um movimento inebriante que parece
expandir sua compreensão simbólica e te coloca em um estado quase catártico
a respeito da riqueza da religião. Porém, como é possível existir sábios não
cristãos, pouco há pouco alguns princípios incutidos em suas aulas e consultas
vão arrefecendo nossa piedade católica popular, nosso apego aos sacramentos
vai se relativizando – sempre com justificativas requintadas – e a autoridade da
Igreja e da sua doutrina vai sendo minada. Nos sentimos tão extasiados pelo
conhecimento do Gugu e do Tales que desconsideramos os pontos mais
básicos da doutrina católica e começamos a ter uma visão mais “aberta” ao
mundo de outras religiões. E se essa abertura existe no plano metafísico, ela
pode existir também em nossas escolhas pessoais de maneira que uma saída
da Igreja Católica e uma conversão ao islã são considerados com movimentos
aceitáveis e até mesmo bons para os indivíduos. Quando menos se espera
estamos imersos em um relativismo highbrow, diferente do relativismo água com
açúcar presente na cultura de massas.

É importante ressaltar que esse afastamento da Igreja e dos seus Sacramentos


não significa que os fundadores do ICLS tenham como missão retirar as
pessoas da Igreja. Não acredito que eles creiam nisso interiormente e nem
mesmo que olhem para a Igreja de maneira demeritória. Porém, o fato é que a
conclusão que centenas dos seus alunos chegam é a de uma relativização do
catolicismo (alguns indo para o islã). E isso pode acontecer não por um
guiamento ostensivo, mas porque a crença dos professores não está em
harmonia com a doutrina da Igreja – de maneira que ao ensinar a espiritualidade
católica sem o respeito total aos limites do catolicismo é natural que o sujeito
desemboque em uma compreensão heterodoxa da sua própria religião.

Poderíamos argumentar que cabe ao aluno interpretar tudo que o Gugu e o


Tales falam de acordo com a doutrina da Igreja. Mas essa possibilidade não se
sustenta pois não há em nenhum momento um aviso de que o aluno deve fazer
isso e considerando que a maior parte dos alunos que se aproximam do ICLS
são pessoas em fase de formação e, portanto, despreparadas para filtrar e
ponderar o nível de influência dos seus professores, esse tipo de aviso e
consideração seria indispensável. Não só o aviso seria indispensável como a
recomendação de bons padres e das fontes da doutrina deveriam ser explícitas.

E aqui entramos em um ponto importante: o nível de influência dos professores


na vida dos alunos.

Professor vs. pai espiritual

O ICLS se propõe como um instituto onde se estuda cosmologia, religiões


comparadas, simbolismo e filosofia. Porém, na prática, as aulas do instituto
entram muito mais profundamente em aspectos de guiamento espiritual e
vocacional do que propriamente em filosofia e religiões comparadas. Junto das
aulas do instituto, muitos dos alunos fazem consultas pessoais com o Gugu para
receber direcionamento vocacional e religioso. Em si mesmo não há problema
nenhum nisso, as pessoas o procuram justamente porque veem nele uma
autoridade nos assuntos de espiritualidade.

Porém, é necessário um altíssimo nível de discernimento por parte dos alunos


para entender onde começa o professor e onde termina o pai espiritual. Como o
próprio Gugu não faz nenhum tipo de distinção e também não faz ressalva ao
entrar em nenhum assunto por mais pessoal que seja, é comum que sua
posição na vida de muitos seguidores seja realmente a de um diretor espiritual.
Eu mesmo conheci pessoalmente pessoas que não tomavam mais decisões
menores na vida sem consultar a opinião do Gugu. Sua influência na vida de
muitos alunos é equivalente a de um diretor espiritual. E isso é problemático
considerando que você não sabe qual a religião e qual direcionamento o Gugu
irá dar para sua vida pessoal. Claro, você pode confiar nele, aceitando esse
mistério e considerá-lo como um mestre das religiões comparadas capaz de dar
guiamento espiritual para qualquer pessoal de qualquer religião respeitando
inteiramente a doutrina interna da religião. Eu acho esse benefício da dúvida
extremamente exagerado especialmente se considerarmos que toda tentativa
para saber qual religião professada pelo Gugu é vista pelos alunos e professores
do ICLS como uma infantilidade ou uma inconveniência por parte da pessoa que
pergunta. Ora, não deveria ser nenhum escândalo saber a religião professada
por um indivíduo que se posiciona como diretor espiritual de centenas de
pessoas. Não há aqui nenhuma infantilidade e nenhum exagero. Você não
necessariamente precisa saber a religião dos seus professores, mas certamente
você precisa saber sobre seu pai espiritual.

E cabe com isso perguntar qual seria a inconveniência para os alunos do ICLS
se o Gugu fosse católico ou ortodoxo? Não haveria nenhum escândalo, eles não
perderiam alunos e todos interpretariam com muita naturalidade se assim o
fosse. Agora, não poderíamos dizer o mesmo caso ele professasse abertamente
ser um muçulmano como o seu irmão. Nesse caso certamente haveria uma
ruptura de muitos alunos, muitos outros deixariam de fazer consultas e teriam
um contato mais periférico e o próprio instituto seria mais marginalizado pois não
é recomendado a um cristão receber guiamento espiritual de um muçulmano. Ao
que podemos concluir que o mistério a respeito da religião professada pelo
Gugu no momento só se justifica caso ele seja muçulmano.
Cabe também outra pergunta: caso ele seja de fato muçulmano, qual seria a
justificativa para esconder isso? Não seria para dar maior liberdade de
guiamento aos católicos evitando seu “preconceito religioso” e com isso ter uma
influência mais profunda e ostensiva sobre os seguidores?

Como se pode ver, a relação entre aluno e professor vai muito além das
relações normais que temos com outros professores, inclusive com pessoas que
consideramos grandes mestres como o professor Olavo de Carvalho. Aqui
precisamos estabelecer alguns paralelos entre a postura do professor Olavo
comparando com a de seus filhos.

Pais e filhos

O professor Olavo de Carvalho é uma das maiores autoridades no campo da


filosofia, da política, da cultura e também da religião. Muitos não sabem mas o
mesmo escopo de temas abordados no ICLS também foram investigados e
aprofundados pelo Olavo no início da sua carreira. Isso posto, sua opinião
certamente deve ser considerada e respeita desses assuntos.

Porém, dentro da esfera do ICLS temos uma situação curiosa: todas posições
do Olavo que vão contra os ensinamentos dos seus filhos não só não podem ser
mencionadas como são constantemente vistas como uma posição menor de um
estudioso que não entendeu tão profundamente o fenômeno da religião quanto o
Tales e o Gugu. Ora, só porque Olavo não se posiciona como diretor espiritual –
e não o faz de propósito – não quer dizer que sua compreensão a respeito da
religião seja inferior. A coisa fica ainda mais esquisita quando vemos
comentários do Tales dizendo que já bateu em um aluno que levantou objeções
citando seu pai – uma atitude até cômica para um muçulmano que tenta provar
que sua religião não tem ligação com a violência e o terrorismo.

Aqui entramos em alguns pontos de radical discordância entre Olavo e o que é


ensinado no ICLS:

1 – Olavo é um crítico ferrenho do islamismo tendo estudado e se aprofundado


na religião por muitos anos. Olavo insiste que não há um descompasso entre as
correntes islâmicas tradicionais e as vertentes modernas e terroristas. Tales e
Gugu se opõem a isso.

2 – Olavo enfatiza a importância primordial dos Sacramentos na vida espiritual,


especialmente a Eucaristia. No ICLS vemos uma tentativa de secundarizar os
Sacramentos em detrimento de outras práticas espirituais – eu já ouvi
pessoalmente e sei de outras pessoas que também ouviram o Gugu não
recomendar receber a Eucaristia com frequência mesmo com a pessoa estando
na condição básica estabelecida pela Igreja de não estar em pecado mortal.

3 – Entre os alunos do Olavo há inúmeras histórias de conversões para o


catolicismo. Muitos alunos eram ateus e se convertem à Igreja pelo testemunho
e pela influência do Olavo. Apesar de você ter alguns perfis assim no ICLS, a
maior parte dos seus alunos se aproxima do instituto já sendo católico e
procurando um aprofundamento da religião. Desses, são muitos os que deixam
de ser católicos e acabam indo para a Igreja Ortodoxa. Devemos considerar que
não eram católicos iniciantes, mas muitos eram pessoas procurando um
aprofundamento na sua religião.

Podemos entender perfeitamente a situação delicada que o Tales se encontra


como presidente do ICLS tendo seu pai emitindo opiniões tão contrárias ao que
ele ensina e acredita. Essa situação gera um desconforto tamanho que é
possível notar a irritação do Tales nos comentários do Facebook quando
qualquer pessoa levanta um questionamento citando seu pai. Nesses casos, o
Tales prontamente julga que estão tentando colocar pai contra filho e isso seria
uma tentativa de fomentar inimizade entre pai e filhos. Infelizmente sua situação
como presidente de um instituto e figura pública é realmente complicada e não
podemos deixar de ouvir o professor Olavo como um estudioso do islã e das
religiões comparadas. Para quem segue o Olavo e o ICLS esse problema
deveria ser colocado pelo menos como algo ambíguo que exige anos de estudo
para se chegar a alguma conclusão.

Apesar dos elogios feitos no passado a respeito do trabalho de religiões


comparadas do Gugu, vemos uma postura muito diferente do Olavo frente ao
estudo desses temas hoje em dia constantemente insistindo que não faz sentido
criar paralelos entre as religiões – intuo que sua recomendação seja justamente
por saber do risco de confusão e heresia no estudo desse tema por gente
despreparada (lembrando que o despreparado dificilmente está consciente do
seu despreparo e costuma deixar seu orgulho e arrogância fazerem ele pensar
que é capaz de entrar nesses temas sem sucumbir à confusão). O estudante
que, entrando sem o devido preparo nesse tema, sente-se rapidamente perdido
e precisando de guiamento. Como a esfera temática é altamente complexa, o
sujeito dificilmente irá encontrar guiamento em sacerdotes e religiosos próximos
a ele, fazendo com que a única autoridade capaz de retirá-lo desse imbróglio
seja justamente aqueles que o colocaram lá: alunos e professores do ICLS.

Dois pesos e duas medidas

Tanto o tema das religiões comparadas quanto a discussão entre islamismo


tradicional vs. islamismo terrorista são assuntos altamente complexos que
exigiram de qualquer aluno uma grande ponderação e paciência antes de
chegar a qualquer conclusão formal. Ainda mais se considerarmos o território
onde os grandes expoentes dessa discussão são um pai e seus filhos.

Mas essa ponderação e esse cuidado são inexistentes no ambiente do ICLS. Na


verdade, meu relato pessoal é de uma assustadora aceitação que os alunos tem
das opiniões dos professores, especialmente do Tales, a respeito do islamismo
e das religiões comparadas. Pessoas que adentraram nesse assunto há poucos
meses já consideram integralmente a cartilha pró-islâmica mesmo sendo (por
quanto tempo não sabemos) católicos praticantes. As opiniões do Tales são
inquestionavelmente assimiladas pelos seus seguidores sem que eles façam
qualquer tipo de análise. Esse foi um dos principais motivos do meu afastamento
inicial, quando reparei que ao se tratar de catolicismo e de islamismo
constantemente se usam dois pesos e duas medidas. Alguns exemplos:

1 – Impera no ICLS a compreensão dicotômica entre ocidente vs. oriente sendo


o ocidente rechaçado constantemente e o oriente sempre visto como uma tábua
de salvação para os pobres e ignorantes ocidentais. Esse ranço anti-ocidental –
que facilmente se torna em ranço anti-católico – parece ser uma influência do
perenialismo que vigora no ambiente do instituto. O problema dessa
compreensão perenialista precisaria ser abordado mais longamente em outro
texto, mas por descargo de consciência recomendo o texto ​“Why I’m a
Traditionalist” do Hajj Muhammad Legenhausen sobre o tema. Legenhausen é
muçulmano convertido e veio da escola perenialista, então fico na esperança de
ele ser lido com alguma simpatia pelos alunos do ICLS.

2 – Toda vez que se levanta uma objeção ao islamismo feita por um santo
católico como São Tomás de Aquino, os professores e alunos do ICLS justificam
que o santo não tinha compreensão suficiente sobre a religião. Porém, quando
um religioso católico tem alguma aproximação com a religião islâmica ele é
automaticamente visto com bons olhos como Tomas Merton e São João Paulo II
– pouco importa as ponderações que essas figuras tenham feito ao islamismo e
ao diálogo inter-religioso em outras ocasiões. Importa somente isso: quando a
visão é favorável ao islamismo, então ela é correta. Quando é uma ressalva ou
uma crítica elas não devem ser consideradas. A coisa é tão patente e descarada
que os mais ferrenhos alunos defensores da “sociedade e da cosmovisão
tradicional” são os primeiros a ceder às compreensões mais modernas e
ecumênicas do Concílio Vaticano II e dos movimentos de diálogo inter-religioso.
Quando convém, as tendências da modernidade – com sua cosmovisão
neutoniana, sua crise da ciência moderna, sua Igreja em apostasia, seu ateísmo
– são levadas em bom grado.

3 – De maneira geral, o ambiente do ICLS é conhecido por ser um local de


crítica à modernidade e às tendências modernas dentro da Igreja. Porém, como
a Igreja é objeto de constante especulação tanto por quem a ama quanto por
quem a odeia, a quantidade de material crítico sobre a suposta crise da Igreja é
muito maior do que a de qualquer outra religião. Acontece com frequência uma
crítica exagerada e injusta contra a Igreja e o cristianismo ocidental e uma
supervalorização romantizada do cristianismo oriental e do islamismo.

Antidoutrinarismo

Outro ponto que deriva dos dois pesos e duas medidas é a visão que grande
parte dos alunos do ICLS tem a respeito da doutrina católica. Incutida pelos
seus professores, há uma sugestão implícita de que a doutrina católica é um
elemento de menor importância caso você queira conhecer de fato a religião.
Para eles, a religião deve ser preferencialmente apreendida pelo convívio com
os santos daquela religião. E aqui temos um probleminha: de acordo com a
visão de seus professores, como a Igreja Católica está em crise e é muito difícil
encontrar santos vivos nela, você deve procurar a vertente da santidade na
Igreja Ortodoxa ou até mesmo no islã para conhecer de fato o que é santidade.
Compreensão consideravelmente sacana, não é mesmo?

É possível notar esse ranço antidoutrinal em diversos conselhos e guiamentos


dados pelo Gugu. Um deles replicado pelos seus alunos é no episódio bíblico da
revelação dos 10 mandamentos. O argumento é o seguinte: se a doutrina
católica é assim tão infalível e importante, por que o próprio Moisés logo depois
de receber as tábuas da lei onde se ordena o mandamento de não matar reúne
a tribo de Levi e mata mais de 3 mil homens? Esse questionamento sugere a
dúvida de que se até os 10 mandamentos tem exceções então a doutrina
católica também deve ter suas nuances.

É claro que pode haver nuances de aplicação da doutrina, mas esse argumento
é altamente questionável por dois motivos: (1) antes da revelação dos 10
mandamentos, as Escrituras nos apresentam a revelação divina de uma longa
lista de regras de conduta e detalhes para a construção do templo onde em
muitas regras a pessoa era condenada a morte por descumprimento e (2)
Moisés reuniu a tribo de Levi para matar os infiéis exatamente porque eles não
estavam cumprindo os preceitos e mandamentos dados por Deus. Vemos que é
justamente o contrário: é pelo afrouxamento no respeito à doutrina que aquele
povo foi condenado.

Se o cristianismo é a própria realidade, e é de fato, então o respeito total a sua


doutrina é um dever de todo ser humano. Claro que a caricatura do jovem
brasileiro templário de apartamento defensor da sã-doutrina católica é algo
ridículo. Não falo aqui desses estereótipos, mas de um respeito filial e uma
atenção especial à doutrina da Igreja formada por Cristo.
O fato é que no ambiente do ICLS notamos uma constante relativização da
autoridade da Igreja. De novo, sem cair em relativismo de baixo nível, mas no
fim das contas levando sempre a conclusão relativista de que Deus pode te
salvar independente da sua religião, uma ideia totalmente anticatólica.

Esse afrouxamento do respeito à doutrina resulta numa das características mais


marcantes dos alunos do ICLS: o abandono da Igreja Católica.

Orientalismo romântico

Para um católico piedoso, a possibilidade de abandono da Igreja é algo


inconcebível e até mesmo assustador. Esse abandono não é algo um aluno do
ICLS fará da noite para o dia. Como comentei anteriormente, o contato inicial
com o instituto nos leva a crer que estamos aprofundando na fé. O afastamento
da Igreja acontece curiosamente para aqueles alunos que desejam se aproximar
mais dos professores do ICLS. Tudo indica que há um comportamento comum:
quanto mais próximo e mais aplicado é o aluno, maior a chance de ele
abandonar a Igreja.

Aqui é importante fazermos duas ressalvas. Sabe-se que existem bons padres
católicos e ortodoxos que circundam o ambiente do ICLS – muitas vezes a
presença deles é usada pelos professores para provar que o local é seguro para
os católicos. Eu mesmo conheço pessoalmente alguns deles. Mas isso pouco
importa já que dentro dos mais variados ambientes heterodoxos à fé sempre é
possível que existam sacerdotes, muitas vezes sendo usados como massa de
manobra pela sua atitude concedente e bondosa. Em minha experiência pessoal
sei de outros padres que notaram esses traços de afastamento da Igreja no
instituto e também optaram por se desvincular dele. A presença de padres, por
melhores que sejam, não invalida os problemas do instituto – inclusive desconfio
que esses sacerdotes não sabem desses problemas.

A segunda ressalva é que entendo perfeitamente as razões de muitos alunos do


ICLS ao se afastarem da Igreja Católica e irem para a Igreja ortodoxa. Alguns
deles são meus amigos e acompanhei esse processo com muita proximidade,
inclusive me compadecendo de seus sofrimentos e inquietações. Não olho para
essa mudança com nenhum tipo de rancor incontido ou desprezo. Entendo o
que se passa em seus corações e o que os atraiu para que tomassem essa
decisão. Seguirei considerando-os como amigos, mesmo não concordando e me
entristecendo com suas decisões.

Há evidentemente inúmeros santos, milagres e belezas na tradição cristã


ortodoxa. Isso é inquestionável. A questão de optar pela tradição ortodoxa tem
aqui pouco a ver com o assunto. O grande problema é a possibilidade dessa
conversão para a ortodoxia se dar pelas razões erradas e também o
enquadramento dessa decisão numa posterior conversão ao islã. Esse alerta é
motivo de atenção se considerarmos a exposição que o professor Olavo de
Carvalho faz no seu artigo As Garras da Esfinge. Descrevendo as conclusões
inevitáveis que um adepto da cosmovisão perenialista irá tomar, Olavo aponta
que o sujeito tem três opções para seu destino: “1. Largue tudo e converta-se ao
Islam. 2. Busque abrigo na Igreja Ortodoxa Russa, onde ainda há um resíduo de
esoterismo e cujos sacramentos, no fim das contas, são aceitos como válidos
pela Igreja Católica. 3. Filie-se à tariqa multiconfessional de F. Schuon, onde
você poderá praticar ritos iniciáticos islâmicos sem conversão formal e
mantendo-se a uma prudente distância dos muçulmanos exotéricos.”.

Pela falta de formalidade do conteúdo do ICLS, é impossível sondar qual o nível


de influência que o perenialismo tem no pensamento dos seus professores, mas
o fato é que os livros dos escritores perenialistas estão presentes nas
bibliografias recomendadas nos cursos e, mais importante do que isso, é
possível estabelecer muitos paralelos entre a cosmovisão do Guennon e as
ideias apresentadas pelo Gugu. Eu não me preocuparia tanto com a gravidade
das conversões à igreja ortodoxa se eu mesmo não conhecesse pessoalmente
pessoas que tiveram exatamente esse mesmo caminho: eram católicos,
começaram a se desesperar com a situação da Igreja, converteram-se para a
igreja ortodoxa para procurar uma fonte viva de espiritualidade, também não
encontraram aquilo que esperavam e por último decidiram ir para o islã no
momento que tiveram maior proximidade com o Tales – que acompanhava o
processo desde o início. Ora, isso é receber guiamento islâmico desde o início
da sua formação religiosa para uma conversão posterior ao islamismo
exatamente como descrito por Olavo no seu artigo.

Eu mesmo considerei uma conversão para a igreja ortodoxa tendo frequentado


igrejas orientais por um tempo (sempre na procura de uma liturgia mais “limpa”).
Mas comecei a me deparar que esse movimento em direção às igrejas orientais
estava se dando por motivos altamente questionáveis – e nenhum desses
motivos diziam respeito aos pontos de divergência entre a doutrina e a
espiritualidade ortodoxa e católica. A maior parte dos casos, uma conversão à
igreja ortodoxa se dava por uma experiência de um catolicismo local
esteticamente e espiritualmente pobre. O indivíduo com uma experiência de vida
provinciana, que nunca teve uma ​experiência ​da universalidade da fé católica,
incluindo suas igrejas de matriz oriental, facilmente tem a impressão de que a
Igreja Católica perdeu sua tradição espiritual. Se levarmos em consideração a
experiência estética do catolicismo brasileiro, essa percepção é ainda mais
acentuada.
O ponto que me parece mais complexo nessa onda de conversões à igreja
ortodoxa não tem nada a ver com a conversão em si, mas as razões que a
motivaram e os desdobramentos possíveis dessa decisão. Quando um indivíduo
opta por sair da Igreja Católica por influência de um diretor espiritual ou de um
muçulmano, ele já substituiu a autoridade do Magistério da Igreja por outra
autoridade espiritual. Dado esse passo, abre-se um campo muito maior de
decisões que podem ser guiadas por esses diretores amortecendo inclusive uma
decisão mais radical de conversão ao islã. Ao ir para a igreja ortodoxa, o pobre
cidadão brasileiro e latino-americano, encontra-se isolado em uma cultura
apartada do seu ambiente mais familiar, com devoções diferentes, uma língua
diferente, uma liturgia diferente, com grupos sociais diferentes, etc. Há alguns
que atenuam essa conversão dizendo que ainda se trata de cristianismo e de
Igreja, porém o impacto psicológico e espiritual dessa decisão não foi
ponderado. Até porque curiosamente não há nada de tradicional em sair da
Igreja Católica e ir para a Igreja ortodoxa – portanto não há experiência
acumulada nessa situação. É preocupante ver jovens que defendiam a tradição
até pouco tempo atrás tomarem uma decisão tão revolucionária
desconsiderando que essa conversão não é comum na tradição da Igreja.

Com isso eles inevitavelmente desconsideram – e as vezes até desprezam -


todos os incontáveis benefícios que a Igreja Católica e o Ocidente trazem para
suas vidas: das leis do direito que sustenta as instituições, dos hospitais e todas
as instituições de caridade, da língua e da literatura, do próprio Evangelho e
acesso ao cristianismo, dos benefícios tecnológicos e materiais, da arte e da
cultura herdada. Todos esses são benefícios desfrutados por aqueles que
renegam a autoridade da Igreja e da cultura ocidental.
A pergunta que fica é: se uma pessoa renega tudo isso pela influência de um
professor, o que impediria ela de abraçar outra religião e outra cultura da noite
para o dia?

Além do mais, no ambiente do ICLS se fomenta constantemente que o Ocidente


perdeu suas tradições espirituais e que isso precisa ser resgatado no Oriente.
Além de me parecer outro traço da influência perenialista do instituto, quem
garante que o Gugu e o Tales são representantes legítimos dessas tradições
espirituais? Mesmo que essa dicotomia fosse verdade, os alunos do instituto são
levados a crer que seus professores são os únicos representantes autorizados
da tradição, substituindo novamente o Magistério da Igreja pelo magistério do
ICLS.

Testemunho

A aula mais conhecida e difundida do ICLS é a famosa “aula do pão”. Nessa


aula somos expostos ao cerne da proposta espiritual para os cristãos que
frequentam o ICLS. A exposição é longa e começa com o Gugu dando uma dura
em alguns católicos que tentaram difamá-lo com o bispo local. Na aula o aluno é
levado a um aprofundamento das práticas de devoção tendo o pão como
símbolo central.

Meus primeiros estranhamentos começaram precisamente com essa aula. Uma


das partes mais enfáticas da aula se refere à procura do “trigo limpo”. O trigo
limpo seria o elemento mais básico para o desenvolvimento do pão e somos
expostos a ideia de que esse trigo é a liturgia. Sem esse trigo limpo é impossível
desenvolver um bom pão, ou seja, sem uma liturgia limpa é impossível um
desenvolvimento espiritual. Gugu nos coloca diante da seguinte tarefa
imprescindível: encontrar boas liturgias e preferencialmente participar de mais
de uma delas procurando não criar muitos vínculos com os paroquianos locais
(os católicos de paróquia no geral são vistos com maus olhos pelos alunos do
ICLS que os veem como cristãos de baixo clero que não entendem os graus
elevados da religião).

Aqui já temos um sinal de ênfase desproporcional em um aspecto que não


exatamente o centro do catolicismo. A liturgia bem celebrada certamente é algo
importantíssimo, mas a liturgia é escrava da Eucaristia. É o Santíssimo
Sacramento o centro da vivência cristã e não a liturgia per se. Tamanha a
desproporcionalidade desse aconselhamento que foi a partir dele que notei
pessoas próximas a mim se afastando da Igreja por não encontrarem uma
liturgia suficientemente limpa. Cheios de escrúpulo, numa espécie de eugenia
litúrgica, os alunos acabam se desesperando por não encontrar uma liturgia
celebrada sem violão ou um padre que faça um bom sermão ou uma igreja com
arquitetura mais tradicional, etc – quem dirá a conjunção de todos esses fatores.
Lembre-se que estamos falando de catolicismo nacional, portanto a ênfase na
beleza da liturgia como algo imprescindível para o desenvolvimento espiritual é
algo catastrófico para almas despreparadas. Eu mesmo me vi em uma procura
desenfreada por liturgias mais “apropriadas” e foi nesse momento que comecei a
considerar frequentar as igrejas de rito oriental.

O que acontece na aula do pão é que sentimos uma expansão da compreensão


simbólica da religião ao mesmo tempo que somos esvaziados do seu centro
vivificante. Aspectos de prática devocional e preocupações de cunho litúrgico
são colocados em primeiro lugar na frente da frequência aos Sacramentos e à
ação da graça santificante que é um absoluto dom de Deus independente da
qualidade do padre e da liturgia celebrada.
Claro que a falta de uma nomenclatura clara – como se deveria esperar de um
professor de filosofia – e de uma indicação mais precisa sobre as fontes de
estudo e da doutrina e do magistério que sustentam a proposta espiritual da aula
contribuem para a confusão e a incompreensão de muitos alunos. Até que ponto
devemos nos importar com a liturgia ao invés de receber os Sacramentos? Até
que ponto é realmente impossível um desenvolvimento espiritual sem “liturgia
limpa”? O limite de uma liturgia aceitável seria somente o sacrilégio que a
própria Igreja condena? Seria o catolicismo realmente a religião que enfatiza a
liturgia em si mesma? O aluno é levado a crer que sem essa liturgia ele estará
fadado à pequenez espiritual para o resto da sua vida (grande mérito seria se
realmente abraçássemos sem frustração e desespero essa pequenez espiritual
e nos resignássemos humildemente ao amor de Deus).

Um ponto que foge à compreensão da aula é a de que o catolicismo não é no


fim das contas a religião do pão, mas a religião da carne. É a presença real de
Jesus Cristo na Eucaristia o nosso grande mérito imerecido. Se não creio que
essa Presença Real é capaz de suplantar toda minha mediocridade e a
mediocridade do mundo em torno, então não posso mais me chamar de católico
e estou me apartando dAquele que me sustenta e mantém. Toda elucubração
sobre o simbolismo do pão é muito bom, mas é a presença física de Nosso
Senhor na Eucaristia é a maior, mais garantida e muitas vezes a única fonte da
Graça santificante.

A preocupação com a falta de referências à carne ao invés do pão pode parecer


um mero preciosismo semântico, e certamente o seria não fosse o
estranhamento de vários alunos com que conversei – todos relatando o mesmo
escrúpulo desordenado e uma secundarização da ação da Graça na Eucaristia.
Sendo o catolicismo a religião da carne e não do pão, a compreensão mais
tradicional sobre a participação na missa diz respeito à ação da pessoa de Jesus
Cristo na alma humana e não necessariamente a respeito de uma técnica de
desenvolvimento espiritual. Vemos também na aula essa propensão a uma
suposta técnica tradicional que leva à santidade – uma espécie de mecanização
da Graça.

Essa secundarização da Eucaristia é um dos traços distintivos da pedagogia do


ICLS. Essa proposta tem justificativas variadas, incluindo a ideia de que as
pessoas que recebem a Eucaristia diariamente sem a devida consciência estão
se condenando – ideia que, de acordo com o professor Olavo, está presente na
teoria do Schuon sobre os sacramentos:

“A teoria de Schuon segundo o qual os Sacramentos cristãos


conservavam seu poder iniciático parecia atenuar um pouco a força do
argumento islamizante, mas na verdade não o fazia de maneira alguma.
Sem a devida instrução espiritual que só um “esoterismo vivente” poderia
lhe oferecer, o portador de uma iniciação virtual permanecia inconsciente
de tê-la recebido e não só ficava paralisado no meio da escalada
iniciática, mas se arriscava com isso sofrer toda sorte de distúrbios
espirituais e psíquicos. Só a espiritualidade sufi poderia salvar os católicos
de si mesmos.” - Aula 344 do Curso Online de Filosofia

A partir dessa compreensão os alunos acabam se sentindo cheios de escrúpulos


para comungar. Ouvi relatos de pessoas que deixaram de comungar e não
sabiam explicar exatamente o porquê – mesmo tendo cumprido os requisitos da
Igreja. Eu mesmo me senti assim por um tempo até identificar que a origem do
meu escrúpulo era um medo infundado de receber Jesus na Eucaristia por não
ser merecedor e digno daquilo – como se um dia eu pudesse ser merecedor do
Corpo de Cristo. É óbvio que eu não sou digno da Eucaristia, mas Ele veio para
os pobres e doentes como eu. É um grande erro – e talvez uma porta para
condenação - acreditar que temos que encontrar uma dignidade espiritual antes
de comungar.

Conclusão

Minha intenção com essa exposição é em primeiro lugar esclarecer para mim
mesmo o que percebi e as mudanças que notei em mim e nas pessoas à minha
volta quando estive envolvido com o ICLS. Depois de uns bons meses refletindo
sobre essas questões, achei necessário descrever o que estou percebendo para
outras pessoas. Não tenho intenção nenhuma de expor pecados pessoais ou
fazer falsas acusações – peço perdão caso tenha soado algo nesse sentido ou
caso eu tenha feito isso sem perceber. Gugu e Tales são figuras públicas com
uma influência profunda na vida de inúmeras pessoas, de maneira que seus
ensinamentos e exposições estão sujeitos a críticas e questionamentos. Esses
questionamentos preferencialmente devem vir de pessoas que ouviram suas
aulas, participaram dos ambientes do seu instituto, conviveram com seus alunos,
colocaram em prática seus ensinamentos, etc. Esse é exatamente o meu caso.

Alguém poderia argumentar que diante de uma Igreja em crise, de um


catolicismo sincrético, de uma incultura generalizada, de um ateísmo galopante
seria preciosismo demais se preocupar com um guiamento espiritual islâmico
em um instituto de médio porte no Brasil. Porém, como expliquei no início, as
consequências das discussões de um pequeno grupo de intelectuais têm um
grande impacto no destino de um país no longo prazo. Vimos isso acontecer no
Brasil com o trabalho do professor Olavo de Carvalho, de maneira que não é
preciosismo preocupar-se com o guiamento que seus filhos estão dando aos
seus alunos.
Tem sido uma tristeza muito grande ver tantas pessoas construindo uma visão
catastrófica e fatalista dos destinos da Igreja e do catolicismo. Usando inúmeros
argumentos sobre a crise do mundo ocidental, alunos e professores do ICLS
criaram uma imagem do Ocidente e da Igreja totalmente desproporcional. Muitos
incorrem nesse erro por não ter uma experiência real da beleza do catolicismo
ainda vivo hoje em dia em inúmeros mosteiros, paróquias, comunidades de vida
e instituições em todo o mundo. A vida provinciana, a baixeza cultural brasileira
e a falta de convívio com católicos realmente piedosos e virtuosos leva o recém
converso a uma situação ​sui generis:​ ele deseja se tornar mais católico, mas
seus professores e seu meio social o levam a crer que não há mais onde
procurar a não ser no oriente (e aqui o conceito de oriente é elástico o suficiente
para se cogitar inclusive a opção pelo islã). Parede por parede o aluno vai
construindo em volta de si um labirinto onde a única resposta final é o abandono
da Igreja.

As exposições que fiz aqui são as que julguei mais problemáticas, mas seria
possível destacar outros problemas no guiamento dado pelo Gugu e pelo Tales
aos católicos como: a proposta de formação de uma elite espiritual que
funcionaria como uma casta de sacerdotes capazes de ensinar os mistérios da
religião (seja ela qual for), a excessiva condução que os professores dão para a
vida pessoal e familiar dos seus alunos (e aqui devemos considerar por exemplo
os aconselhamentos sobre casamento dados pelo Tales aos católicos
considerando que ele tem mais de uma esposa), a ênfase em uma técnica para
ser santo que na prática acaba excluindo a ação da Graça, o evidente
gnosticismo que entende o desenvolvimento espiritual como o conhecimento da
religião ou o conhecimento dos atributos de Deus (algo consideravelmente
alheio à fé católica que prega o ápice do desenvolvimento espiritual como a
união esponsal da alma humana com Cristo. Deus é uma pessoa, o
conhecimento dos Seus atributos ajuda a alma no relacionamento com Ele e em
alguma medida a prepara para essa união esponsal, mas não a garante), a
lacuna biográfica dos professores onde não sabemos qual a origem dos seus
conhecimentos e da sua formação – algo imprescindível para se acompanhar
em um filósofo ou mestre espiritual (inclusive algo que o professor Olavo deixa
muito claro em suas aulas).

Minha esperança é que esse artigo ajude a esclarecer o estranhamento que


muitos estão tendo com o ICLS e que seus seguidores sejam mais claramente
alertados a respeito do ambiente e da pedagogia que estão inseridos.

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