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1.

RAÍZES DA TEOLOGIA REFORMADA

Aula 2

1.2 Transição para o mundo moderno


— Via Moderna X Via Antiqua (João Duns Scotus e Guilherme de Occam)
— Misticismo
— Renascimento (retorno às fontes)
— Humanismo e Erasmo de Roterdã

1.2 TRANSIÇÃO PARA O MUNDO MODERNO

1.2.1 Via Moderna X Via Antiqua

Via Antiqua — ênfase tomista na busca de explicações racionais para a fé / A fé sendo


esclarecida pela razão.

Via Moderna — a desvinculação entre fé e razão / não é mais vista como imprescindível
a compreensão da fé pela razão.

a) João Duns Scotus (1265-1308)


— franciscano
— lecionou em Oxford, Cambridge e Paris (Doutor Sutil — estilo difícil, lançando mão de
distinções sutis em seus argumentos)
— afastou-se do aristotelismo de Aquino, retornando para Agostinho para abordar
questões que o agostinianismo tradicional não resolvera para o intelecto humano.
— defensor da imaculada concepção de Maria (em oposição a Aquino, que argumentava
ser Maria pecadora como qualquer outro) porque Cristo precisava de um ventre puro.
— Corrente Realista: a realidade está num plano mais elevado e inacessível. Só se
encontra em entidades universais ou abstratas (no debate entre tomismo e
agostinianismo, voltava-se para a ênfase de Agostinho: o conhecimento verdadeiro
consiste na presença de ideias eternas em nossa mente, como a herança platônica
afirmava, e isso leva a aceitarmos que o objeto próprio do intelecto humano é Deus).
— parte do pressuposto de que a necessidade de provas racionais acerca da existência
de Deus confina Deus ao âmbito da natureza, e não como ser sobrenatural (acima da
natureza).
— Os dogmas da fé não são demonstráveis racionalmente: devem ser aceitos apenas
pela fé e à luz da autoridade da igreja.

b) Guilherme de Occam (1280-1349)


— franciscano e aluno de Duns Scotus
— opõe-se à ideia da infabilidade papal
— excomungado por suas opiniões
— corrente nominalista: a realidade não está nos conceitos universais, ou abstratos, mas
na substância ou coisas concretas. Os conceitos universais não têm existência objetiva e
são apenas ordenações mentais (opondo-se à estrutura mental platônica que coloca o
mundo das ideias perfeitas em contraposição ao mundo real — impedindo que se chegue
ao conhecimento real da verdade). Para os nominalistas (de numena, ou “a coisa em si”),
a realidade não habita nos conceitos universais, e sim nas experiências particulares. Os
conceitos abstratos devem ser evitados , pois não explicam por si mesmos a natureza das
coisas (“Navalha de Occam” — conceito em que a melhor explicação de algo se dá
quando as hipóteses são simplificadas a ponto de se chegar ao âmago essencial de cada
ideia).
— as doutrinas teológicas não podem ser provadas pela razão (concordando aqui com
Scotus ao se opor ao tomismo)

1.2.2 Misticismo
a) No século XV falava-se em chegar ao conhecimento de Deus por três vias:
— teologia natural (a razão, por si, chegando a Deus)
— teologia dogmática (credos e ensino da Igreja a partir das Escrituras)
— teologia mística (experiência particular com Deus por contemplação ou êxtase)

b) Meister Eckhart (século XV), dominicano, ensinava a união com Deus por meio de
centelhas da alma (restantes da imago Dei anterior à queda).

c) A grande questão era que a experiência com Deus, se reduzida à alma individual,
descredencia todo o sistema sacramental (via instituição eclesiástica) e coletivo (as
missas) da Igreja. Dispensava, assim, a mediação sacerdotal do clero.

1.2.3 Renascimento
— Movimento cultural (originado na Itália do século XV) de retorno aos padrões artísticos
da Antiguidade Clássica, em que se deu relevância aos atributos humanos.
— Eclodiu em várias áreas do conhecimento humano, deixando um legado de artistas e
pensadores: na literatura (Dante, Shakespeare, Cervantes, Camões), nas artes plásticas
(Leonardo da Vince, Michelangelo, Rafael Sanzio) e nas ciências (Copérnico e Galileu
Galilei)

1.2.4 Humanismo e Erasmo de Roterdã


— Surge no meio da intelectualidade erudita da Europa nos séculos XV e XVI: o ser
humano passa a ser a preocupação central do conhecimento (deslocando o foco da
teologia para a antropologia).
— Enfatizou a busca da compreensão do ser humano por meio do retorno às artes e
fontes antigas (como o Renascimento já requeria).
— Emerge assim a figura de Erasmo de Roterdã (1469-1536).

Erasmo de Roterdã
— O intelectual: monge agostiniano, lecionou na França, Inglaterra e Suíça.
— O crítico: escreveu Elogio da Loucura, em que fazia críticas ao clero católico (diálogo
do papa Júlio II e Pedro, querendo entrar no Paraíso)
— O autor: entre seus escritos, encontra-se a tradução do Novo Testamento (1516), em
colunas (do grego e latim) e notas exegéticas. Esse trabalho aproximou-o de Lutero e da
Reforma.
— Afasta-se de Lutero na questão da liberdade humana: o conceito luterano de
predestinação, negando o livre-arbítrio, foi rejeitado pelo humanismo de Erasmo.

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