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Calvino: “a piedade é o modo de glorificar a Deus” Envie para um amigo


Joel Beeke Nome
29 de Outubro de 2014 - Vida Cristã

As Institutas de João Calvino têm-lhe garantido o título Nome do“a preeminente sistematização da Ref
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Protestante”. Sua reputação de intelectual, entretanto, é frequentemente vista à parte do vital con
espiritual e pastoral, no qual ele desenvolveu sua teologia. Para Calvino, compreensão teológica e pie
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prática, verdade e utilidade, são inseparáveis. Antes de tudo, a teologia trata do conhecimen
conhecimento de Deus e de nós próprios –, mas não existe verdadeiro conhecimento onde não e
verdadeira piedade.

O conceito que Calvino tinha de piedade (pietas) está radicado no conhecimento de Deus e inclui atit
e ações que são direcionadas à adoração e serviço a Deus. Além disso, sua pietas inclui um gr
volume de temas correlatos, tais como piedade filial nas relações humanas, e respeito e amor para c
imagem de Deus nos seres humanos. A piedade de Calvino é evidente nas pessoas que reconhe
através da fé experiencial, que fomos aceitos em Cristo e enxertados em Seu corpo pela graça de D
Nesta “união mística”, o Senhor os reivindica como propriedade na vida e na morte. Tornam-se o pov
Deus e membros de Cristo pelo poder do Espírito Santo. Esta relação restaura sua alegria de comu
com Deus; ela recria suas vidas.

O propósito deste capítulo é mostrar que a piedade de Calvino é fundamentalmente bíblica, com ênfas
coração mais do que na mente. Cabeça e coração devem trabalhar juntos, mas o coração é
importante.[1] Após uma olhada introdutória na definição e alvo da piedade no pensamento de Ca
mostrarei como sua pietas afeta as dimensões teológica, eclesiástica e prática de seu pensamento.

Definição e importância da piedade

Pietas é um dos maiores temas da teologia de Calvino. Sua história é, no dizer de John T. McNeill,
piedade descrita por extenso”.[2] Ele é determinado em confinar a teologia dentro dos limites da piedad
Em seu prefácio dirigido ao rei Francisco I, Calvino diz que o propósito de escrever as Institutas
“unicamente transmitir certos rudimentos pelos quais os que são tocados com algum zelo pela re
fossem moldados à verdadeira piedade [pietas].”[4] Para Calvino, pietas designa a atitude corret
homem para com Deus.

Esta atitude inclui conhecimento genuíno, culto sincero, fé salvífica, temor filial, submissão no espíri
oração e amor reverente.[5] Conhecer quem e o que é Deus (teologia) é abraçar atitudes corretas
com Ele e fazer o que Ele quer (piedade). Em seu primeiro catecismo, Calvino escreve: “A verda
piedade consiste em um sincero sentimento que ama a Deus como Pai, enquanto O teme e O rever
como Senhor, abraça Sua justiça e teme ofendê-Lo mais que a morte.”[6] Nas Institutas, Calvino é
sucinto: “Chamo ‘piedade’ aquela reverência unida ao amor de Deus ao qual o conhecimento de
benefícios induz.”[7] Este amor e reverência para com Deus é um concomitante necessário a qua
conhecimento dEle e abarca toda a vida. No dizer de Calvino, “Toda a vida dos cristãos deve ser
espécie de prática da piedade.”[8] Ou, como afirma o subtítulo da primeira edição das Instit
“Abarcando quase toda a suma da piedade e tudo quanto é necessário saber da doutrina da salvação:

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obra mui digna de ser lida por todas as pessoas zelosas pela piedade.”[9]

Os comentários de Calvino também refletem a importância da pietas. Por exemplo, ele escreve
Timóteo 4.7,8: “Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas. Exercita-te, pessoalmente
piedade. Pois o exercício físico para pouco é proveito, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque t
promessa da vida que agora é e da que há de ser.”[10] Comentando 2 Pedro 1.3, ele diz: “Visto como,
seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade,
conhecimento completo daquele que nos chamou para sua própria glória e virtude.”[11]

O supremo alvo da piedade: soli deo gloria

O alvo da piedade, bem como de toda a vida cristã, é a glória de Deus – glória que esplende nos atrib
de Deus, na estrutura do mundo e na morte e ressurreição de Jesus Cristo.[12] Glorificar a Deus exce
salvação pessoal de cada pessoa realmente piedosa.[13] Calvino escreve assim ao Cardeal Sadoleto:
pertence à sã teologia confinar em demasia os pensamentos de um homem em si próprio, e não pôr d
dele, como motivo primário de sua existência, o zelo de magnificar a glória de Deus... Estou conven
pois, que ninguém há imbuído de genuína piedade, que não considere insípida aquela tão longa e ás
exortação ao zelo da vida celestial, zelo este que mantém um homem inteiramente devotado a si próp
que, mesmo por uma só expressão, não o eleve a santificar o nome de Deus.”[14]

O propósito da nossa criação é que Deus seja glorificado em nós, o alvo da piedade. E assim a aspir
dos regenerados é viver o resto de seus dias segundo o propósito de sua criação original.[15] O ho
piedoso, segundo Calvino, confessa: “Somos de Deus: vivamos, pois, para ele e morramos para
Somos de Deus: então que sua sabedoria e vontade governem todas as nossas ações. Somos de D
que todas as partes de nossa vida se empenhem concomitantemente em prol dele como nosso único
legítimo.”16

Deus redime, adota e santifica Seu povo para que Sua glória resplandeça neles e os livre de uma
busca egoísta.[17] Portanto, a mais profunda preocupação do homem piedoso é o próprio Deus e as c
de Deus – a Palavra de Deus, a autoridade de Deus, o evangelho de Deus, a verdade de Deus. Ele a
conhecer mais de Deus e a comunicar-se mais com Ele.

Mas, como glorificamos a Deus? Calvino escreve: “Deus já nos prescreveu um modo no qual Ele
glorificado por nós, a saber, a piedade, que consiste na obediência à Sua Palavra. Aquele que ex
estes limites não consegue honrar a Deus, mas, ao contrário, O desonra.”[18] Obediência à Palav
Deus significa buscar refúgio em Cristo para o perdão de nossos pecados, conhecê-Lo através de
Palavra, servi-Lo com um coração amoroso, realizar boas obras como gratidão por Sua bondade e ex
uma abnegação que chega ao ponto de amarmos nossos inimigos.[19] Esta resposta envolve uma
rendição a Deus mesmo, à Sua Palavra e à Sua vontade.[20]

Calvino declara: “Eu ofereço a Ti meu coração, ó Senhor, pronta e sinceramente.” Esta é a aspiraçã
todos quanto são realmente piedosos. Entretanto, esta aspiração só pode ser concretizada atravé
comunhão com Cristo e a participação nEle, pois fora de Cristo, mesmo a pessoa mais religiosa, vive
si mesma. Somente em Cristo, os pios podem viver como servos voluntários de seu Senhor, fiéis sold
de seu Comandante e obedientes filhos de seu Pai.[21]

Notas:

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1 - Serene Jones, Calvin and the Rhetoric of Piety (Louisville: Westminster/John Knox Press, 1
Infelizmente, Jones exagera o uso que Calvino fazia da retórica no serviço da piedade.
2 - Citado em John Hesselink, “The Development and Purpose of Calvin’s Institutes”, in Articles on C
and Calvinism, vol. 4, Influences upon Calvin and Discussion of the 1559 Institutes, ed. Richard C. Ga
(Nova York: Garland, 1992), 215-16.
3 - Ver Brian A. Gerrish, “Theology within the Limits of Piety Alone: Schleiermacher and Calvin’s Doctri
God” (1981), reimpresso em The Old Prestantism and the New (1982), cap. 12.
4 - Jonhn Calvin, Institutes of the Christian Religion [doravante, Inst.], ed. John T. McNeill e traduzid
Ford Lewis Battles (Filadélfia: Westminster Press, 1960), 1:9.
5 - Cf. Lucien Joseph Richard, The Spirituality of John Calvin (Atlanta: John Knox Press, 1974), 100
Sou-Young Lee, “Calvin’s Understanding of Pietas”, in Calvinus Sincerioris Religonis Vindex, ed.
Neuser & B.G. Armstrong (Kirksville, Mo.: Sixteenth Century Studies, 1997), 226-33; H.W. Simpson, “
in the Institutes of Calvin”, Reformational Tradition: A Rich Heritage and Lasting Vocation (Potchefstr
Potchefstroom University for Christian Higher Education, 1984), 179-91.
6 - John Calvin: Catechism 1538, editado e traduzido por Ford Lewis Battles (Pittsburgh: Pittsb
Theological Seminary), 2.
7 - Inst., Livro 1, capítulo 2, seção 1. Doravante se usará o formato 1.2.1. 8 Inst. 3.19.2.
8- Inst. 3.19.2.
9 - Institutes of the Christian Religion: 1536 Edition, trans. Ford Lewis Battles, rev. ed. (Grand Ra
Eerdmans, 1986). O título latino original reza: Christianæ religionis institution total fere pictatis summa
quidquid est in doctrina cognitu necessarium complectens omnibut pietatis studiosis lectu dignissimum
ac recens editum (Joannis Calvini opera selecta, ed. Peter Barht, W ilhelm Niesel, e Dora Scheuner, 5
[Munich: Chr. Kaiser, 1926-52], 1:19 [doravante, OS]. Desde 1539, os títulos passaram a ser simplesm
Institutio Christianæ Religionis, mas o “zelo pela piedade” continuou a ser uma grande meta da ob
Calvino. Ver Richard A. Muller, The Unaccommodated Calvin: Studies in the Foudation of a Theolo
Tradition (Nova York: Oxford University Press, 2000), 106-107.
10 - Calvin’s New Testament Commentaries, ed. David W. Torrance and Thomas F. Torrance, 12
(Grand Rapids: Eerdmans, 1959-72), The Second Epistle of Paul the Apostle to the Corinthians, an
Epistles to Rimothy, Titus and Philemon, trans. Thomas A. Smail (Grand Rapids: Eerdmans, 1964), 24
Doravante, Commentary [on text].
11 - Para as raízes da piedade de Calvino, ver W illiam J. Bouwsma, “The Sirituality of John Calvi
Christian Spirituality: High Middle Ages and Reformation, ed. Jill Raitt (Nova York: Crossroad, 1
318-33.
12 - Inst. 3.2.1; Calvin, Ioannis Calvini opera quæ supersunt omnia, ed. W illelm Baum, Edward Cun
Edward Reuss, Corpus Reformatorum, vols. 29-87 (Brunsvigæ: C.A. Schwetschke and Son, 1863-1
43:428, 47:316. Doravante, CO.
13 - CO 26:693.
14 - OS 1:363-64.
15 - CO 24:362.
16 - Inst. 3.7.1.
17 - CO 26:225; 29:5; 51:147.
18 - CO 49:51.
19 - CO 26:166, 33:185, 47:377-78, 49:245, 51:21.
20 - CO 6:9-10.
21 - CO 26:439-40.

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