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COSTA, Hermisten Maia Pereira da. João Calvino, 500 anos. São Paulo:
que em sua prática apenas almejava um cristianismo mais simples, uma espiritualidade
mais sadia e uma igreja mais pura. Ele ressalta ainda o papel das Escrituras na reforma.
liberdade da graça, abandonados e caçados pela Igreja Católica no decorrer dos anos.
uma família humilde que em virtude de suas boas relações e benefícios da igreja,
conseguiu dar aos filhos uma educação de alto nível. O reformador tem a oportunidade
de estudar nas melhores escolas da época, e recebe formação nas áreas de filosofia,
teologia, direito e arte. Não há muito que dizer de sua conversão. Sua vida, como afirma
o autor, “não foi marcada por um comportamento dissoluto e imoral” (COSTA, 2009,
p33). Citando Schaf, Costa diz que sua conversão “foi uma transformação do
marcado por ambos. Ele conseguiu absorver o que havia de bom no Renascimento e no
profundo interesse pelo ser humano (p. 55). Isto influenciou principalmente seu método
literário e didático.
A segunda parte do livro é dedicada especialmente ao pensamento e vida prática
pastoral. Calvino era o que se pode chamar de „homem da Bíblia‟ devido ao seu apego
diferente, buscando nas próprias Escrituras, o sentido específico do texto” (p. 66). Para
ele a Escritura interpreta a própria Escritura. Costa destaca também a visão que Calvino
tinha da origem divina e humana da Bíblia e sua alegação em consonância com os ideais
cristã diante dos desafios e tendências místicas da época. Sua hermenêutica era o
principal pilar da Reforma e de seu pensamento. Para ele a Bíblia rege tanto o
não sentia necessidade de explicar tudo das Escrituras, mas de ensinar tudo o que as
Carta de Paulo aos Romanos é a chama para se interpretar toda ela. Costa salienta seu
tanto nesta área, que Torrance o chama de “exegeta da Reforma e pai da teologia e
Como humanista que era (não adepto do humanismo secular), Calvino tinha um
alto conceito do homem na criação. Este era o centro da natureza criada. Isso não era
um problema na teologia de Calvino, visto que ao mesmo tempo ele via Deus como o
conhecimento verdadeiro de Deus leva a adoração verdadeira. Deus exerce seu governo
por meio da palavra e por isso os líderes tem o desafio de manterem o compromisso
oração, a qual ele chama de “um dever compulsório de todos os dias e de todos os
Costa termina este capítulo fazendo uma série de considerações relembrando que
reformador de olhar para o texto bíblico buscando compreender seu sentido, seu
característica de Santo Agostinho era danosa para a teologia; e reforçando que todo
eleição. Reconhecendo que há questões difíceis nas Escrituras, ele destaque que essa
O autor nesse ponto faz uma clara apresentação da visão de Calvino sobre a eleição no
palavra e seu uso geral e teológico. É a partir disso que Calvino constrói seu
soberania de Deus e o plano divino de salvar. Deus é o autor da eleição. Ele escolhe sem
Deus, realizado em Cristo, de forma totalmente graciosa sem impor condições. Esta
não eleitos e em demostrar bondade para aqueles que são alvos de sua eleição. Ela é
recebida pela fé, sendo a eleição a causa essencial e a fé a causa instrumental da
Deus, em santidade, para o Seu serviço com o fim de glorifica-lo para sempre. O autor
mostra que Calvino tinha uma grande preocupação com nossa atitude com a doutrina.
Cita: “a eleição não é reconhecida simplesmente pela nossa posição doutrinária ou por
mesmo tempo o fato de cristãos reformados partirem da visão de que Deus é soberano
na eleição provê consolo aos que assim creem, pois a aplicação dela não fica a mercê da
como imagem e semelhança de Deus. Ele começa por definir o que é o homem e
dignidade humana está no fato de ser “criado à imagem e semelhança de Deus” (p. 203).
O homem é criatura, parte da natureza criada, Deus é criador. Como criador ele se
revela ao homem e “o homem só pode conhecê-lo à luz de Deus e de Sua revelação” (p.
202).
Calvino é que o homem é um ser para ser respeitado na criação, não podendo ser
pois é Ele quem confere sentido à existência do homem. O humanismo sem Deus é
pretencioso, com Deus ele ajuda a colocar o homem de volta em seu lugar na criação.
Costa sumariza: “nossa verdadeira humanidade está em nossa reconciliação com Deus
sobre oração. Para ele a teologia está intimamente relacionada à vida prática. Teologia
não pode andar dissociada de piedade. Segundo o autor, Calvino falou pouco de sua
vida pessoal, mas a história o reconhece “como um dos homens mais influentes do
mundo ocidental” (p. 228), não só pelo seu pensamento, mas por sua coerência com a
vida prática. Falando sobre oração Calvino destaca a teologia dos Salmos como um
(p. 234).
A busca da felicidade é um tema importante para Calvino, mas não uma busca
fora de Deus. Ele reconhece nas Escrituras que “quando a alma se encontra envolta em
desejos carnais, busca sua felicidade nas coisas desta terra” (p. 235). A oração não é
mero instrumento para se alcançar a felicidade. Ainda que ela seja entendida como meio
de buscar as bênçãos de Deus, essas bênçãos não podem ser dissociadas da principal, a
salvação. Afirma ele: “A legítima oração requer arrependimento” (p. 237). E Costa
completa esta ideia dizendo que “todas as bênçãos são decorrentes de nossa
reconciliação com Deus e dela fluem” (p. 237). Calvino descreve a oração como o ato
de „elevar-se‟. Orar é elevar a alma a Deus, e colocar-se “acima de si próprio” (p. 243).
A oração eficaz tem o Espírito Santo como autor e as promessas de Deus como
modelo para a prática da oração. Ele afirma que ela contém tudo o que é lícito, benéfico
e necessário para um cristão pedir em suas orações. O reformador tinha grande zelo pela
prática da oração e Costa encerra o capítulo reforçando sua visão ao citá-lo: “A não ser
No capítulo sete o autor mostra de forma clara e concisa qual era a visão de
prestado voluntariamente até chegar a ser aplicada a qualquer tipo de serviço. Esta
palavra é aplicada ao culto, pois este é entendido como um serviço a Deus. Calvino
analisa o culto na perspectiva puramente teocêntrica e insiste em que o homem não pode
determinar a maneira como quer adorar a Deus: “Deus ordenou como se deve ser
Calvino trata de cada aspecto do culto: os sacramentos são parte do culto santo e
“são sinais visíveis de uma realidade esperitual” (p. 298), são recursos pedagógicos para
de lembrete e estímulo espiritual” (p. 303). Ele reconhece o poder da música nas
emoções das pessoas e também o perigo do culto ser centrado nelas e não em Deus, mas
Calvino eram estritamente o cântico dos Salmos e sem o uso de instrumentos, vistos por
Calvino via o culto como profissão de fé, quando o povo de Deus podia declarar
mesmo tempo. O culto público era visto como o de reforçar a unidade da fé da igreja.
Nele os cristãos eram instruídos, agraciados e edificados como corpo. Para ele as
culto é dever de todo crente e deve ser prestado segundo Deus e não segundo o „senso
comum‟. Ele reflete nossa percepção da Palavra e nosso conhecimento de Deus. Sem
visão reformada “a educação [...] visava a preparar o ser humano para melhor servir a
Deus na sociedade” (p. 327). A fé, mesmo sendo um elemento sobrenatural, tem um
obrigatório. Na sua visão e dos demais reformadores a graça comum tinha implicações
culturais em todas as áreas da sociedade, e isso era feito realidade por meio da
educação.
alguns reformadores que refletiam a mesma preocupação como o ensino. João Knox na
escócia e Comenius na Alemanha, este conhecido como o pai da didática moderna. Sua
visão de educação era populista. Sua principal máxima era “ensinar tudo para todos”. O
respeito do trabalho. Na idade média o trabalho era visto como algo degradante. Tomás
verdadeiro trabalho e digno de honra, tanto que havia dois termos para definir trabalho:
ou nojento que não seja verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus”
(p. 350). A crítica de Calvino era com o ganho ilícito. Para ele o trabalho é uma bênção,
o ganho ilícito é iniquidade. O homem é mordomo dos bens de Deus e pode retirar
dignamente desses bens para a sua sobrevivência. “Qualquer meio de ganhar a vida que
O autor termina o capítulo mais uma vez fazendo suas considerações do assunto.
a visão bíblica do trabalho. Foi Deus quem criou o trabalho, por isso ele é digno.
Infelizmente o conceito moderno mantem a dignidade do trabalho, mas não como meio
ciência. Para ele a razão tem relação com a fé. Enquanto “a fé muda a percepção [...] o
olhar do indivíduo e sua percepção podem contribuir para a mudança do real” (p. 368).
compromisso da ciência é aprender o real, mas ela tem limites não podendo escolher o
real ideal. Ela trabalha com o que existe. A fé extrapola a ciência. Há aspectos da fé que
Ele é por isso acusado de não aceitar, por exemplo, o pensamento de Nicolau Copérnico
natureza como obra do criador e condenava o estudo da natureza sem considerar o seu
filosófica. A ciência pode ser boa se ela tiver como guia as Escrituras, dizia ele: “a
ciência dirigida pela fé nos aproxima de Deus” (p. 393). O autor conclui afirmando que
colocar isso em evidência. Calvino tinha uma preocupação nobre de não deixar nada
tomar o lugar de Deus e de não sair dos limites da Escritura em sua interpretação. O
autor destaca aqui que o Calvinismo como sistema teológico “é a forma mais
teocêntrica de ver, interpretar e atuar na História” (p. 395). Deus é o dono soberano da
transforma pela mudança da realidade. O autor fecha a sua obra refletindo a grande
Calvino como ele foi originado, sem floreios e sem modificações. „João Calvino, 500
anos’ é com certeza um grande ganho do cristão reformado brasileiro, visto sua
coordenação apurada dos fatos e abrangência das principais ideias e ideais daquele que