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RESUMO DO LIVRO “JOÃO CALVINO, 500 ANOS”

COSTA, Hermisten Maia Pereira da. João Calvino, 500 anos. São Paulo:

Editora Cultura Cristã, 2009.

Hermisten Maia Pereira da Costa é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil,

professor na Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e no

Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição. Graduado em Pedagogia pela

Universidade Presbiteriana Mackenzie, em Filosofia pela Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais e em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul; mestrado

e doutorado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Possui

vasta experiência em história, especialmente história da reforma e João Calvino. Entre

suas publicações, destacam-se Inspiração e Inerrância das Escrituras: uma perspectiva

reformada, e Raízes da Teologia Contemporânea pela Editora Cultura Cristã; Calvino

de A a Z pela Editora Vida; e Fundamentos da Teologia Reformada pela Editora Mundo

Cristão; além de centenas de artigos publicados.

A presente obra é um epítome sistematizado da vida e obra de João Calvino, um

dos maiores expoentes da Reforma Protestante e maior nome da teologia reformada.

Nela o autor registra os eventos mais importantes da vida do grande reformador e

sintetiza sua vasta obra como escritor e pensador cristão.

Para situar Calvino na história, o autor dedica o primeiro capítulo a mostrar o

contexto em que se dá a reforma protestante, bem como a natureza do movimento. Foi

um período marcado pela pobreza moral da igreja, especialmente do clero, e pela


efervescência do Renascentismo e do Humanismo. Costa destaca a Reforma como

movimento religioso e teológico, ambiente no qual Calvino se enquadra como pensador,

que em sua prática apenas almejava um cristianismo mais simples, uma espiritualidade

mais sadia e uma igreja mais pura. Ele ressalta ainda o papel das Escrituras na reforma.

Como movimento cristão a Reforma era um retorno aos ensinamentos bíblicos da

liberdade da graça, abandonados e caçados pela Igreja Católica no decorrer dos anos.

O capítulo dois relata o surgimento de Calvino como reformador. Nascido de

uma família humilde que em virtude de suas boas relações e benefícios da igreja,

conseguiu dar aos filhos uma educação de alto nível. O reformador tem a oportunidade

de estudar nas melhores escolas da época, e recebe formação nas áreas de filosofia,

teologia, direito e arte. Não há muito que dizer de sua conversão. Sua vida, como afirma

o autor, “não foi marcada por um comportamento dissoluto e imoral” (COSTA, 2009,

p33). Citando Schaf, Costa diz que sua conversão “foi uma transformação do

Romanismo para o Protestantismo, da superstição papal para a fé evangélica, do

tradicionalismo escolástico para a simplicidade bíblica”.

O Renascimento tomava conta do contexto filosófico do momento e propunha a

independência intelectual do ser humano, renegando o vínculo da igreja e da tradição.

Este foi um período do despertar do saber, da valorização da arte e do pensamento. Ao

mesmo tempo desponta-se o Humanismo, propondo a valorização do homem e

redefinindo o propósito da existência. Calvino, uma vez inserido neste contexto, é

marcado por ambos. Ele conseguiu absorver o que havia de bom no Renascimento e no

Humanismo e usou isso em seu favor. Como “genuíno humanista” desenvolveu

profundo interesse pelo ser humano (p. 55). Isto influenciou principalmente seu método

literário e didático.
A segunda parte do livro é dedicada especialmente ao pensamento e vida prática

de João Calvino. No capítulo três o autor aborda o método hermenêutico de Calvino

destacando sua crença inegociável na suficiência das Escrituras em sua fé e prática

pastoral. Calvino era o que se pode chamar de „homem da Bíblia‟ devido ao seu apego

às Escrituras. Como intérprete Calvino “conseguiu seguir um caminho por vezes

diferente, buscando nas próprias Escrituras, o sentido específico do texto” (p. 66). Para

ele a Escritura interpreta a própria Escritura. Costa destaca também a visão que Calvino

tinha da origem divina e humana da Bíblia e sua alegação em consonância com os ideais

da Reforma de que a Bíblia tem autoridade intrínseca e é suficiente para a vivência

cristã diante dos desafios e tendências místicas da época. Sua hermenêutica era o

principal pilar da Reforma e de seu pensamento. Para ele a Bíblia rege tanto o

pensamento quanto a prática e a vivência humana.

Calvino percebia das Escrituras o Espírito Santo como instrutor da Palavra de

Deus. A Bíblia e o Espírito são inseparáveis. E na visão do reformador as Escrituras é

Deus se acomodando ao contexto humano como o objetivo de se dar a conhecer. Ele

não sentia necessidade de explicar tudo das Escrituras, mas de ensinar tudo o que as

Escrituras ensinavam. A teologia para João Calvino é um comentário da Escritura e a

Carta de Paulo aos Romanos é a chama para se interpretar toda ela. Costa salienta seu

compromisso com a brevidade e com a clareza na interpretação. Calvino se destacou

tanto nesta área, que Torrance o chama de “exegeta da Reforma e pai da teologia e

exposição bíblica moderna” (p.100).

Como humanista que era (não adepto do humanismo secular), Calvino tinha um

alto conceito do homem na criação. Este era o centro da natureza criada. Isso não era

um problema na teologia de Calvino, visto que ao mesmo tempo ele via Deus como o

centro de todo universo e único objeto de adoração humana. Na sua visão o

conhecimento verdadeiro de Deus leva a adoração verdadeira. Deus exerce seu governo
por meio da palavra e por isso os líderes tem o desafio de manterem o compromisso

com a verdade. Como pensador piedoso Calvino entrelaça a interpretação bíblica à

oração, a qual ele chama de “um dever compulsório de todos os dias e de todos os

momentos de nossa vida” (p. 123).

Costa termina este capítulo fazendo uma série de considerações relembrando que

não havia lugar para excentricidades na teologia de Calvino; o compromisso do

reformador de olhar para o texto bíblico buscando compreender seu sentido, seu

contexto e suas circunstâncias; mostrando o quanto na visão de Calvino a alegoria tão

característica de Santo Agostinho era danosa para a teologia; e reforçando que todo

conhecimento deveria ser usado para a glória de Deus.

O capítulo quatro é uma análise da visão de Calvino a respeito da doutrina da

eleição. Reconhecendo que há questões difíceis nas Escrituras, ele destaque que essa

doutrina é muito conhecida, mas pouco defendida em seu significado. A eleição é

amplamente ensinada nas Escrituras. Calvino evitava o uso da lógica filosófica na

explanação da doutrina da predestinação recorrendo constantemente ao material bíblico.

O autor nesse ponto faz uma clara apresentação da visão de Calvino sobre a eleição no

Velho Testamento e no também no Novo, buscando conhecer o sentido gramatical da

palavra e seu uso geral e teológico. É a partir disso que Calvino constrói seu

pensamento a respeito da doutrina.

Biblicamente a doutrina da eleição pressupõe a depravação humana, a livre

soberania de Deus e o plano divino de salvar. Deus é o autor da eleição. Ele escolhe sem

nenhuma influência externa, sendo a eleição um ato soberano, eterno e imutável de

Deus, realizado em Cristo, de forma totalmente graciosa sem impor condições. Esta

eleição é irresistível, pessoal e justa, sendo Deus perfeitamente justo em condenar os

não eleitos e em demostrar bondade para aqueles que são alvos de sua eleição. Ela é
recebida pela fé, sendo a eleição a causa essencial e a fé a causa instrumental da

salvação. O propósito da eleição é a adoção. Somos chamados para sermos filhos de

Deus, em santidade, para o Seu serviço com o fim de glorifica-lo para sempre. O autor

mostra que Calvino tinha uma grande preocupação com nossa atitude com a doutrina.

Cita: “a eleição não é reconhecida simplesmente pela nossa posição doutrinária ou por

nossos discursos teológicos, mas pelo nosso testemunho” (p. 170).

Costa finaliza o capítulo falando da igreja como resultado de sua obra e

propósito no qual Ele é glorificado e fazendo breves considerações a respeito da

doutrina da eleição. Salienta o caráter passional da rejeição da doutrina que muitas

vezes não é baseado no exercício de pesquisa bíblica, mas no raciocínio humano. Ao

mesmo tempo o fato de cristãos reformados partirem da visão de que Deus é soberano

na eleição provê consolo aos que assim creem, pois a aplicação dela não fica a mercê da

vontade humana. Ele comenta que é o maior problema é a atitude do homem de

reconhecer algumas e negar outras virtudes de Deus de forma passional.

No quinto capítulo Costa se atém a explicar a visão de Calvino sobre o homem

como imagem e semelhança de Deus. Ele começa por definir o que é o homem e

comentando a visão do pós-modernismo, do humanismo e do iluminismo sobre o

homem. Em Calvino o homem é o centro da criação, “não a medida de todas as coisas”

(p. 201) como no humanismo. Deus é todo o referencial do homem na criação. A

dignidade humana está no fato de ser “criado à imagem e semelhança de Deus” (p. 203).

O homem é criatura, parte da natureza criada, Deus é criador. Como criador ele se

revela ao homem e “o homem só pode conhecê-lo à luz de Deus e de Sua revelação” (p.

202).

Os termos „imagem e semelhança‟ são sinônimos e falam da retidão e santidade

originais, da imortalidade, inteligência, razão e afeição presentes na natureza humana.


Com a queda cada um desses aspectos foi comprometido pelo pecado, especialmente a

capacidade de conhecer, tornando todo conhecimento nulo para a salvação. A salvação é

a restauração da imagem de Deus original no homem. As implicações dessa visão de

Calvino é que o homem é um ser para ser respeitado na criação, não podendo ser

violado, pois violá-lo seria violar a imagem do criador. A dignidade humana é

completamente restaurada nos eleitos.

O autor conclui ressaltando que as filosofias humanistas colocam o homem

como o centro em si mesmo, sem nenhuma referência em Deus e atribuem total

autonomia de vontade e de conhecimento. Só Deus pode restaurar a dignidade humana,

pois é Ele quem confere sentido à existência do homem. O humanismo sem Deus é

pretencioso, com Deus ele ajuda a colocar o homem de volta em seu lugar na criação.

Costa sumariza: “nossa verdadeira humanidade está em nossa reconciliação com Deus

em Cristo Jesus” (p. 223).

O capítulo seis trata da espiritualidade de João Calvino analisando suas ideias

sobre oração. Para ele a teologia está intimamente relacionada à vida prática. Teologia

não pode andar dissociada de piedade. Segundo o autor, Calvino falou pouco de sua

vida pessoal, mas a história o reconhece “como um dos homens mais influentes do

mundo ocidental” (p. 228), não só pelo seu pensamento, mas por sua coerência com a

vida prática. Falando sobre oração Calvino destaca a teologia dos Salmos como um

encorajamento à oração e afirma serem eles “uma expressão adequada da fé reformada”

(p. 234).

A busca da felicidade é um tema importante para Calvino, mas não uma busca

fora de Deus. Ele reconhece nas Escrituras que “quando a alma se encontra envolta em

desejos carnais, busca sua felicidade nas coisas desta terra” (p. 235). A oração não é

mero instrumento para se alcançar a felicidade. Ainda que ela seja entendida como meio
de buscar as bênçãos de Deus, essas bênçãos não podem ser dissociadas da principal, a

salvação. Afirma ele: “A legítima oração requer arrependimento” (p. 237). E Costa

completa esta ideia dizendo que “todas as bênçãos são decorrentes de nossa

reconciliação com Deus e dela fluem” (p. 237). Calvino descreve a oração como o ato

de „elevar-se‟. Orar é elevar a alma a Deus, e colocar-se “acima de si próprio” (p. 243).

A oração eficaz tem o Espírito Santo como autor e as promessas de Deus como

conteúdo. Oração é fé na providência divina. Calvino tem na Oração do Senhor o

modelo para a prática da oração. Ele afirma que ela contém tudo o que é lícito, benéfico

e necessário para um cristão pedir em suas orações. O reformador tinha grande zelo pela

prática da oração e Costa encerra o capítulo reforçando sua visão ao citá-lo: “A não ser

que estabeleçamos horas definidas para a oração, facilmente negligenciaremos a

prática” (p. 279).

No capítulo sete o autor mostra de forma clara e concisa qual era a visão de

Calvino a respeito do culto ao Senhor. Ele inicia o capítulo tratando do significado de

„liturgia‟ e desenvolvimento histórico da palavra, começando por significar serviço

prestado voluntariamente até chegar a ser aplicada a qualquer tipo de serviço. Esta

palavra é aplicada ao culto, pois este é entendido como um serviço a Deus. Calvino

analisa o culto na perspectiva puramente teocêntrica e insiste em que o homem não pode

determinar a maneira como quer adorar a Deus: “Deus ordenou como se deve ser

devidamente adorado e o modo como se deve preservar a liberdade espiritual que se

refere a Ele” (p. 292).

Calvino trata de cada aspecto do culto: os sacramentos são parte do culto santo e

“são sinais visíveis de uma realidade esperitual” (p. 298), são recursos pedagógicos para

a nossa fé. Os cânticos na visão do reformador “refletem a fé [...] e possuem conotação

de lembrete e estímulo espiritual” (p. 303). Ele reconhece o poder da música nas
emoções das pessoas e também o perigo do culto ser centrado nelas e não em Deus, mas

ainda assim defende o uso da música cantada na liturgia. Os cânticos na liturgia de

Calvino eram estritamente o cântico dos Salmos e sem o uso de instrumentos, vistos por

ele como recursos auxiliares para a fé imatura do Antigo Testamento. As orações,

apesar de sugeridas, eram espontâneas, diferentemente da liturgia católica. A palavra era

o elemento central do culto. Essa é uma característica marcante da reforma. Foram os

reformadores que colocaram o púlpito na frente e no centro dos locais de culto.

Calvino via o culto como profissão de fé, quando o povo de Deus podia declarar

suas convicções publicamente a Deus. Tinha um aspecto professional e didático ao

mesmo tempo. O culto público era visto como o de reforçar a unidade da fé da igreja.

Nele os cristãos eram instruídos, agraciados e edificados como corpo. Para ele as

marcas essenciais da igreja eram a verdadeira pregação da Palavra e a correta

administração dos sacramentos.

Costa finaliza o capítulo sete com considerações preciosas a respeito do culto. O

culto é dever de todo crente e deve ser prestado segundo Deus e não segundo o „senso

comum‟. Ele reflete nossa percepção da Palavra e nosso conhecimento de Deus. Sem

conhecimento verdadeiro é impossível adorá-lo verdadeiramente. Ele ressalta a íntima

ligação que deve haver entre teologia bíblica e adoração bíblica.

O capítulo oito é uma análise da importância da educação para a Reforma e para

Calvino. Historicamente a Reforma está associada à educação, a formação de escolas e

universidades, à alfabetização e à publicação e popularização da palavra escrita. Na

visão reformada “a educação [...] visava a preparar o ser humano para melhor servir a

Deus na sociedade” (p. 327). A fé, mesmo sendo um elemento sobrenatural, tem um

elemento racional. A fé explícita exige compreensão. Lutero via o ensino como

obrigatório. Na sua visão e dos demais reformadores a graça comum tinha implicações
culturais em todas as áreas da sociedade, e isso era feito realidade por meio da

educação.

Na academia de Genebra Calvino evidencia sua preocupação com a educação

reestruturando a estrutura do ensino e melhorando sua qualidade. O autor cita aqui

alguns reformadores que refletiam a mesma preocupação como o ensino. João Knox na

escócia e Comenius na Alemanha, este conhecido como o pai da didática moderna. Sua

visão de educação era populista. Sua principal máxima era “ensinar tudo para todos”. O

autor conclui destacando os principais princípios da didática de Comenius: o cuidado

em incutir a piedade na infância, as Escrituras como formadora da ética da vida e a

necessidade de sua leitura desde o princípio da vida, e as Escrituras como principal

elemento das escolas cristãs.

No capítulo nove Costa trata da ética social de Calvino e o trabalho é entendido

como “esforço físico e intelectual”. Ele começa mostrando visões histórico-filosóficas a

respeito do trabalho. Na idade média o trabalho era visto como algo degradante. Tomás

de Aquino o descrevia como „eticamente neutro‟. Com o passar do tempo o trabalho,

especialmente manual, começou a ser entendido como um castigo à humanidade e era

usado para os monges como punição e penitência. O trabalho intelectual era o

verdadeiro trabalho e digno de honra, tanto que havia dois termos para definir trabalho:

„opus’, que descrevia o trabalho criativo, e „labore’ para trabalho físico.

Calvino contrariou essas ideias e descrevia o trabalho (de qualquer espécie)

como um cumprimento da vocação humana. Dizia ele: “Não há trabalho insignificante

ou nojento que não seja verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus”

(p. 350). A crítica de Calvino era com o ganho ilícito. Para ele o trabalho é uma bênção,

o ganho ilícito é iniquidade. O homem é mordomo dos bens de Deus e pode retirar
dignamente desses bens para a sua sobrevivência. “Qualquer meio de ganhar a vida que

afaste da sinceridade cristã é pecaminosa” (p. 362).

O autor termina o capítulo mais uma vez fazendo suas considerações do assunto.

Para ele o Protestantismo contribuiu para a maturidade do homem moderno e instaurou

a visão bíblica do trabalho. Foi Deus quem criou o trabalho, por isso ele é digno.

Infelizmente o conceito moderno mantem a dignidade do trabalho, mas não como meio

de servir a Deus. O trabalho é parte da essência do homem como ser criativo.

O último capítulo é dedicado a estudar a percepção de Calvino a respeito da

ciência. Para ele a razão tem relação com a fé. Enquanto “a fé muda a percepção [...] o

olhar do indivíduo e sua percepção podem contribuir para a mudança do real” (p. 368).

Existem diversos tipos de conhecimento: o científico, o empírico e o pístico. A função

da ciência é a verificação experimental, mas a ciência não pode esgotar a realidade. O

compromisso da ciência é aprender o real, mas ela tem limites não podendo escolher o

real ideal. Ela trabalha com o que existe. A fé extrapola a ciência. Há aspectos da fé que

a ciência não abarca.

Na perspectiva de Calvino a fé não deveria precisar da ciência e sim o contrário.

Ele é por isso acusado de não aceitar, por exemplo, o pensamento de Nicolau Copérnico

pois o considerava passível de crítica e objeções. Calvino é também acusado de não

entender as ideias de Copérnico, e segundo o autor não há indícios de que Calvino

estudou e citou qualquer pensamento de Copérnico em suas obras. Calvino via a

natureza como obra do criador e condenava o estudo da natureza sem considerar o seu

criador. Ele argumentava que o conhecimento humano é limitado e somente Deus é a

fonte de todo conhecimento. O reformador tinha uma grande preocupação de manter

ilesa a Palavra de Deus e enfatiza o cuidado com a adequação da teologia à ciência

filosófica. A ciência pode ser boa se ela tiver como guia as Escrituras, dizia ele: “a
ciência dirigida pela fé nos aproxima de Deus” (p. 393). O autor conclui afirmando que

a esperança do mundo não está na ciência e sim no povo da fé.

Costa conclui sua obra recapitulando os aspectos mais importantes da vida e

obra de Calvino. Destaca a intelectualidade de Calvino e sua humildade em nunca

colocar isso em evidência. Calvino tinha uma preocupação nobre de não deixar nada

tomar o lugar de Deus e de não sair dos limites da Escritura em sua interpretação. O

autor destaca aqui que o Calvinismo como sistema teológico “é a forma mais

teocêntrica de ver, interpretar e atuar na História” (p. 395). Deus é o dono soberano da

História. O Cristianismo na visão Calvinista não acomoda à cultura, mas molda e

transforma pela mudança da realidade. O autor fecha a sua obra refletindo a grande

contribuição de Calvino na formação do homem reformado.

Apesar de repetições de assuntos em alguns pontos do livro, esta obra é um

resumo coerente e cristalino da vida e obra de Calvino e de suas contribuições para a

formação não apenas da fé reformada, mas de conceitos presentes na sociedade secular

hoje. O autor demonstra uma grande preocupação em reproduzir o pensamento de

Calvino como ele foi originado, sem floreios e sem modificações. „João Calvino, 500

anos’ é com certeza um grande ganho do cristão reformado brasileiro, visto sua

coordenação apurada dos fatos e abrangência das principais ideias e ideais daquele que

foi o maior reformador da história e intérprete das Escrituras. Excelente leitura.

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