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BASE PARA A EXPIAÇÃO LIMITADA

Antes de explicar o porquê de esta doutrina ser repulsiva, será benéfico analisar as razões pelas
quais muitos calvinistas pensam tão bem acerca dela e a promovem apaixonadamente. Mais uma
vez, o que é esta doutrina? É a doutrina que Deus intencionou a morte de Jesus na Cruz para ser
uma propiciação (sacrifício substitutivo, expiatório) apenas pelos pecados dos eleitos – aqueles que
Deus selecionou para salvar independente de quaisquer coisas que Ele veja neles ou acerca deles
(exceto Sua escolha deles para Sua glória e bom prazer).
Por que alguém acreditaria nisso? 
Proponentes da expiação limitada fazem uso de várias passagens bíblicas: João 10.15; 17.6 e
passagens semelhantes em João 10-17; Romanos 8.32; Efésios 5.25-27; Tito 2.14.
Calvinistas utilizam João 10.15 para suportar seu ensinamento: “Assim como o Pai me conhece a
mim, também eu conheço o Pai – e dou a minha vida pelas ovelhas”. Muitos outros versículos em
João dizem basicamente a mesma coisa – que Cristo deu a Sua vida por Suas Ovelhas (ex. Seus
discípulos e todos aqueles que viriam após eles).
Calvinistas também fazem uso de Romanos 8.32: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho
poupou, antes o entregou por todos nós – como nos não dará também com ele todas as coisas?”
Eles presumem que “todos nós” se refere aos eleitos.
Efésios 5.25-27 diz: “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a
si mesmo se entregou por ela, Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,
Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas
santa e irrepreensível”. Calvinistas acreditam que esta passagem, como muitas outras, refere-se
apenas à igreja como objeto do sacrifício purificador de Cristo.
Em Tito 2.14 está escrito: “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e
purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras”. Calvinistas acreditam que Paulo, o
autor da carta a Tito, parece restringir os benefícios salvíficos da morte de Cristo ao “povo seu”, que
eles equiparam aos eleitos.
Calvinistas presumem que tais versículos e outros como este ensinam que Cristo morreu apenas
por aqueles escolhidos por Deus para a salvação. Mas tais versículos não ensinam as crenças
calvinistas. Em nenhum lugar a Bíblia explicitamente ensina esta doutrina calvinista.
Calvinistas enxergam em tais passagens sua crença de que Cristo morreu apenas pela igreja, por
Seu povo, por Suas ovelhas. Estes versículos não dizem que Cristo também não morreu pelos
outros. E, como veremos, há muitas outras passagens que claramente ensinam que Cristo, de fato,
morreu por todos.
Há outra razão pela qual os calvinistas acreditam na expiação limitada. Se Cristo morreu igualmente
por todos, afirmam, então todos estão salvos. Argumentam que aqueles que acreditam na expiação
universal enfrentam duas opções inevitáveis, mas biblicamente insustentáveis: ou a morte de Cristo
salvou a todos ou não salvou a ninguém. Este argumento é, entretanto, falacioso. A expiação
universal não exige salvação universal; ela apenas postula a possibilidade de salvação universal.
É possível que os mesmos pecados sejam punidos duas vezes e é isso que torna o inferno tão
absolutamente trágico – ele é totalmente desnecessário. Deus pune com o inferno aqueles que
rejeitam a substituição de Seu Filho. Uma analogia ajudará a aclarar o que digo. Após a guerra do
Vietnã o presidente Jimmy Carter concedeu total anistia a todos os desertores do serviço militar que
fugiram para o Canadá e outros lugares. Por decreto presidencial eles estavam livres para retornar
ao lar. Alguns retornaram, outros não. O crime que haviam cometido já não era mais punível; mas
alguns se recusaram a tirar vantagem da anistia e puniram a si mesmos ficando longe de casa e
dos familiares. Os que crêem na expiação universal crêem que Deus permite aos pecadores
recusar o benefício da cruz de Cristo para que sofram a punição do inferno apesar do fato de a
punição ser totalmente desnecessária.
Talvez o motivo retoricamente mais poderoso a favor da expiação limitada seja o oferecido por John
Piper (e outros calvinistas que o precederam) que diz em Por Quem Jesus Cristo Morreu? que
aqueles que acreditam na expiação universal “devem dizer” que a morte de Cristo, de fato, não
salvou a ninguém, mas apenas deu as pessoas a oportunidade de salvarem a si mesmas. Esta é
uma argumentação falaciosa.
Arminianos (aqueles que seguem Jacob Arminius na rejeição da eleição incondicional, expiação
limitada e graça irresistível) acreditam que a morte de Cristo na cruz salva a todos que, pela fé, a
aceitam. A morte de Cristo assegura a salvação de tais – da mesma forma que ela assegura a
salvação dos eleitos no calvinismo. Ela garante que qualquer um que vier a Cristo em fé será salvo
por Sua morte. Isto não implica que eles salvam a si mesmos. Isso simplesmente significa que eles
aceitam a obra de Cristo em benefício deles.
RESPONDENDO AO CALVINISMO
É difícil resistir à impressão que calvinistas que acreditam na expiação limitada o fazem não por
motivos bíblicos claros, mas porque pensam que a Escritura permite e que a razão leva a tal. Não
há nada necessariamente errado com isso, mas, ao menos alguns calvinistas, tal como Piper, tem
criticado outros por fazerem o mesmo.3 Piper critica outros por supostamente abraçarem doutrinas
apenas porque a Escritura permite e que a lógica exige tal entendimento. Para muitos não-
calvinistas, entretanto, parece que é exatamente isso que os que acreditam na expiação limitada
fazem. Não tendo nenhuma passagem bíblica clara e inequívoca de suporte para esta doutrina, eles
a adotam por pensarem que a Bíblia permite tal entendimento e que o sistema calvinista da TULIP,
por questões lógicas, exige-a. Afinal de contas, se a eleição é incondicional e a graça é irresistível,
então parece que a expiação só poderia ser para os eleitos.
A Escritura contradiz a expiação limitada em João 3.16,17; Romanos 14.15; 2 Coríntios 5.18,19;
Colossenses 1.19,20; 1 Timóteo 2.5,6; 1 João 2.2. Todos conhecem João 3.16,17: “Porque Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna.Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que
condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele”. Geralmente os calvinistas dizem
que nestes versículos “mundo” refere-se a todos os tipos de pessoas e não todas as pessoas.
Entretanto, tal interpretação tornaria possível interpretar todos os lugares onde o Novo Testamento
relata que o “mundo” é pecaminoso e caído como significando apenas algumas pessoas – todos os
tipos – são pecadores e caídos. A interpretação calvinista de João 3.16,17 parece se encaixar na
descrição de Vernon Grounds da exegese falha utilizada para defender a expiação limitada.
1 João 2.2 é outra passagem que não podemos reconciliar com a expiação limitada: “E ele é a
propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o
mundo”. Esta passagem solapa completamente a interpretação calvinista de “mundo” em João
3.16,17, pois ela explicitamente afirma que Cristo morreu uma morte propiciatória não apenas para
os crentes, mas também para todos. Aqui “mundo” deve incluir não crentes, pois “nossos” refere-se
aos cristãos. Este versículo torna impossível dizer que a morte de Cristo beneficia a todos, só que
não da mesma maneira. (Piper diz que a morte de Cristo beneficia os não eleitos ao dar a eles
apenas bênçãos temporais). João diz clara e inequivocamente que o sacrifício propiciatório de
Cristo foi pelos pecados de todos – incluindo aqueles que não são crentes.
O que dizer de 2 Coríntios 5.18,19? “E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo
mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da
reconciliação”. Calvinistas, às vezes, argumentam que esta passagem suporta a expiação limitada.
Afinal de contas, se Deus estava em Cristo não imputando os pecados de todos contra eles, então
todos estão salvos. Portanto, eles dizem, a palavra “todos” deve significar apenas os eleitos. Mas
isso não é verdade. Quando Paulo diz que Deus estava reconciliando o mundo consigo mesmo,
não lhes imputando os seus pecados, o que Ele quis dizer é:caso se arrependerem e creiam. Em
outras palavras, a Expiação realmente reconciliou Deus com o mundo de maneira que Ele poderia
perdoar; a morte satisfez as exigências de justiça de sorte que a reconciliação é possível da parte
de Deus. Mas a morte permanece tendo de ser aceita pelos pecadores pela fé. Então se dá a plena
reconciliação.
Colossenses 1.19,20 diz: “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse,
E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo
mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus”. É impossível
interpretar “todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão no céu, como que se
referindo apenas aos eleitos. Esta passagem refuta a expiação limitada. 1 Timóteo 2.5,6 também
refuta: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O
qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”.
A única forma que uma pessoa que acredita na expiação limitada pode escapar da força desta
passagem é interpretar a palavra grega traduzida por “todos” como alguma coisa significando “todos
os tipos de pessoa”, mas essa não é uma interpretação permitida pelo uso comum da palavra na
literatura grega fora do Novo Testamento (ou em qualquer outro lugar no NT).
Muitas passagens claramente indicam que o sacrifício expiatório de Jesus foi para todos; que sua
punição substitutiva foi para todas as pessoas. Mas há duas passagens neotestamentárias
raramente discutidas que absolutamente cortam pela raiz a expiação limitada: Romanos 14.15 e 1
Coríntios 8.11. Nestes versículos Paulo inflexivelmente adverte aos cristãos para que não destruam
as pessoas por quem Cristo morreu. A tradução das palavras gregas “destruir” e “destruído” nestes
versículos não podem meramente significar prejudicar ou estragar. Paulo claramente está
advertindo as pessoas que é possível fazer com que as pessoas por quem Cristo morreu vão para o
inferno (fazendo com que tropecem e caiam ao exibir a liberdade de alguém de comer carne
sacrificada aos ídolos). Se a TULIP do calvinismo estiver correta, esta advertência é inútil, pois tal
coisa não pode acontecer. De acordo com o calvinismo, os eleitos, as pessoas por quem Cristo
morreu, não podem se perder.
O peso da Escritura claramente pesa contra a expiação limitada. As interpretações calvinistas
destas e outras passagens semelhantes lembram uma das placas do lado de fora de uma ferraria
referindo-se a suas obras artísticas com metais: “Fazemos todos os tipos de torcedura e
torneamento”. Entretanto, o problema com a expiação limitada vai além de poucos versículos que
os calvinistas não podem explicar sem distorcer os seus nítidos significados. O maior problema
atinge o cerne da doutrina da Deus. Quem é Deus e como Ele é?

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