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Prosseguindo Para Obter O Prêmio

R. E. Neighbor

O apóstolo Paulo queria alcançar algo que nem todos os santos alcançarão. “Para, de
algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos” (Fp 3:11), escreveu. Paulo queria
alcançar o ekanastasis eknekron, que, traduzido literalmente, é a ressurreição para fora,
de entre os mortos.

Trata-se de uma afirmação que, até onde se sabe, não se encontra em nenhum outro
lugar das Escrituras, e subentendemos que se refere a uma ressurreição superior.

Ele, certamente, não almejava simplesmente alcançar a ressurreição dentre os mortos,


pois desta ele já tinha plena segurança. Na verdade, só ressuscitar-se dos mortos, não é
alcançar nada de especial. É para todos os crentes, quer a busquem ou não. Procurar
alcançar a ressurreição é pura insensatez, pois ela está assegurada pela promessa
infalível de Deus.

Jó podia dizer sem vacilar: “Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha
carne verei a Deus” (Jó 19:26). Da mesma forma sabemos que o Senhor “descerá dos
céus com um brado…e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro” (I Ts 4:16). Paulo
sabia disto tão bem quanto Jó e nós o sabemos. E daí? Simplesmente isto: Paulo não
poderia ter em mente a ressurreição da morte que ele sabia que era sua pela firme
promessa de Deus.

A fim de compreendermos o significado pleno desta extraordinária expressão,


precisamos estudar várias passagens com cuidado.

Devemos deter-nos por um momento e considerar a palavra “alcançar.” Em muitas


passagens bíblicas encontramos este desejo de “realização,” ou termos paralelos
expressos de várias maneiras. Aqui vão algumas delas:

I Coríntios 9:24-27: “Um só leva o prêmio.” “Correi de tal maneira que o alcanceis.”

“Assim corro também eu…assim luto.” “Para que…não venha eu mesmo a ser
desqualificado.”
II Coríntios 5:9-10:

“Nos esforçamos para que…possamos ser aceitos por Ele.”

“Importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo.”

“Para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.”

I Coríntios 3:10-15:

“Cada um veja como edifica.”

“Manifesta se tornará a obra de cada um.”

“Salvo, todavia, como que através do fogo.”

Colossenses 3:24:

“Recebereis do Senhor a recompensa da herança.”

“A Cristo, o Senhor, é que estais servindo.”

II Timóteo 4:5-8:

“Sê sóbrio…suporta as aflições…faze o trabalho.”

“Combati o bom combate.”

“Já agora a coroa da justiça me está guardada.”

“E não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.”

Hebreus 3:12,14; 4:1:

“Tende cuidado, irmãos, jamais…”

“Temos nos tornado participantes de Cristo se…”

“Temamos, portanto…”

II Pedro 1:5,10,11:

“Reunindo toda a vossa diligência, associai…”


“Confirmar a vossa vocação e eleição.”

“Pois, desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada…”

Apocalipse 3:5:

“O vencedor será…”

As passagens acima, e muitas outras, nos mostram que há espaço para que cada crente
ambicione, alcançar algo mais do que aqueles que estão na esfera da graça pura.
Observe também que todas as oito passagens listadas acima expressam coisas que só
serão nossas se as alcançarmos; todas parecem indicar o dia da ressurreição dos santos
e as recompensas a serem atribuídas no trono de julgamento de Cristo.

Devemos nos deter um pouco na ideia de uma “ressurreição superior.” A fim de


compreendermos o sentido mais profundo destas palavras, observemos algumas outras
expressões desta mesma parte das Escrituras:

1) Em Filipenses 3:11 nos é desvendada pela primeira vez a seriedade das palavras: “Para
que, de algum modo, eu possa alcançar a ressurreição dentre os mortos.” A ênfase deve
ser colocada na primeira frase: “Para que, de algum modo, eu possa alcançar.” Paulo
considerou todas as coisas como perda por causa de Cristo, sim, ele sofreu a perda de
todas as coisas, e as sofreu com alegria.

Depois definiu sua ambição de conhecer a Cristo, e o poder de Sua ressurreição, e a


comunhão com Seus sofrimentos, procurando se conformar com Cristo na Sua morte,
tudo isto incluído nas palavras “para que, de algum modo.” Portanto, não havia distância
que Paulo não estivesse pronto a percorrer de boa vontade, a fim de que pudesse
alcançar a “ressurreição superior.”

2) Em Filipenses 3:12 Paulo disse: “Não que eu já tenha alcançado.” Não havia segurança
na mente de Paulo, nenhuma segurança de que tivesse alcançado. Ele sabia em quem
tinha crido. Sabia que estava salvo e que subiria aos céus na vinda de Cristo. Sabia que
tinha a vida eterna, e que herdaria junto com todos os santos em luz. Entretanto, não
sabia, e nenhum de nós sabe, qual será a nossa parte no trono de julgamento de Cristo.
Ele sabia que Deus faria um julgamento justo das obras de cada crente, e no entanto,
disse: “Não que eu já tenha alcançado.”
3) Em Filipenses 3:12 Paulo continua: “Mas prossigo para conquistar.” Paulo era como a
corça que anseia pelas águas. Infelizmente, lamentavelmente, quão poucos cristãos têm
tal anseio, e muito menos prosseguem para conquistar! Deus perdoe os cristãos
indolentes por sua insensatez!

Podemos agora compreender muitas coisas relacionadas aos sofrimentos de Paulo por
Cristo, e muitas coisas em sua fiel persistência nas obras e frequentes viagens, que antes
pareciam estranhas para nós. Queremos ser francos com os nossos leitores: nós também
estamos porfiando cada vez mais, se é que podemos alcançar, o rol dos ekanastasis.
Admitimos que, se Paulo não pôde se vangloriar de tal conquista, muitíssimo menos nós
o podemos. Entretanto, podemos prosseguir para alcançá-la.

4) Em Filipenses 3:13 chegamos à consumação da grande ambição nesta expressão:


“Mas uma coisa faço.” Esta expressão mostra não apenas um desejo do apóstolo em
obter esta ressurreição superior, e sim mostra que era, para Paulo, um desejo supremo.
Alcançar a ressurreição superior era, para ele, “uma coisa” que ele buscava. As demais
coisas eram todas secundárias.

Não importa onde ele estava ou o que fazia, somente esta era vital. Somente ela era
superior. O mundo e todos os seus atrativos não significavam nada para ele. Ele não se
importava nem com a aprovação popular nem com o aplauso passageiro. Ele buscava a
Cristo do começo ao fim e o tempo todo. Todas as outras coisas ele colocava atrás de si,
e as esquecia.

5) Em Filipenses 3:14 há, ainda, uma palavra: “Prossigo.” Paulo estava, como um
corredor, distendendo cada nervo. Ele só via um objetivo, uma só meta e em direção a
ela é que prosseguia sua caminhada. Nada mais importava com respeito a sua vida.
Outros podem porfiar e se esforçar em busca de honra, fama, sabedoria ou riqueza. Ele
porfiava em busca de algo que estava à sua frente.

Quantos estão consumindo suas energias em ninharias, buscando coisas que duram
apenas um dia? Quantos colocam suas afeições nas coisas daqui debaixo? Eles ajuntam
tesouros na terra. Levam em conta as coisas que podem ser vistas. Amam o mundo e as
coisas que estão no mundo. Não foi assim com este poderoso e ardoroso evangelista.
Ele prosseguia em busca de coisas que estão à frente, coisas que têm vida, que duram,
que perduram mais que os séculos e brilham mais que o sol!

Precisamos estudar a palavra Ekanastasis à luz das outras palavras que a cercam. Em
primeiro lugar, Paulo nos diz: “Para ver se de alguma maneira posso chegar à
ressurreição dos mortos.” Depois diz: “…para alcançar aquilo para o que fui também
preso por Cristo Jesus.” Em seguida: “…avançando para as coisas que estão diante de
mim.” Mais uma vez, fala em prosseguir em direção ao “alvo, para o prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus.”

Todas estas coisas tinham a ver com a Segunda Vinda de Cristo, e com nossa presença
perante o trono de julgamento de Cristo. Todas elas eram possibilidades dadas por Deus
a todos os santos. Todas elas são agradáveis, porém nenhuma delas é pela graça. Isto é,
todas estas coisas específicas pertencem ao reino das recompensas. Elas deviam ser
dadas somente àqueles que as “alcançassem,” que as buscassem, aos que dissessem:
“Mas uma coisa faço.”

As recompensas dependem da fé que possuímos, das ações que fazemos ressurreição


superior é bem diferente. É algo a ser alcançado; portanto, é alguma coisa pela qual
devemos lutar e prosseguir com o espírito de “Mas uma coisa faço.” O Senhor não
deveria separar mesmo os santos fiéis daquela hoste de santos que viveram atrás das
coisas deste mundo? Enquanto houver um Deus no céu, Ele não será infiel ou injusto
para esquecer o trabalho e a obra de amor que os valentes têm mostrado em relação ao
Seu Nome. Nosso Deus nunca poderia permitir uma igualdade, uma mesma
“recompensa,” uma herança igual entre os crentes espirituais e os carnais nos dias porvir.

Vamos contar tudo como perda enquanto prosseguimos em conhecê-Lo e a comunhão


de Seus sofrimentos, sendo conformados à Sua morte, para que nós também
alcancemos o prêmio. Vamos dizer também com toda a sinceridade: “Mas uma coisa
faço.”

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Dedicação de Coração
Vamos refletir sobre a questão que Pedro levanta: “Havendo, pois, de perecer todas
estas coisas, que tipo de pessoas deveis ser” (2 Pe 3:11).

Nunca devemos nos esquecer do primeiro evento no céu, o tribunal de Cristo, visto ser
tão importante para nós no que diz respeito à eternidade. Enquanto isso, devemos nos
dedicar de todo coração ao Senhor todos os dias até que estejamos na Sua presença.
Não é uma questão de fazer bem, ou tão bem quanto a outras pessoas, ou mesmo tão
bem quanto a um determinado irmão ou irmã em nossa congregação. O Senhor só quer
saber se demos o melhor de nós, com a melhor motivação, por amor a Ele mesmo.

Graças a Deus, que todos nós receberemos elogios da Sua parte, mas ao mesmo tempo,
tomemos cuidado para que não sejamos salvos como que pelo fogo, desprovidos
totalmente de ouro, prata ou pedras preciosas para colocar aos pés do Senhor Jesus.

W. A. Peterson

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