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FICHAMENTO PONTUAL DA OBRA

TEOLOGIA POLÍTICA DE MERIO SCATTOLA

Pedro Henrique Lourenço Guimarães1*

O Autor: Professor de História das Doutrinas Políticas na Faculdade de Letras


da Universidade de Pádua.

A Obra: Buscando retomar e contribuir originalmente para os debates entorno


das relações entre política e religião, Merio Scattola lança mão de uma análise
histórica do léxico Teologia Política desde sua concepção inicial na
Antiguidade, perpassando pelas contribuições tardo-medievais da concepção
cristã ao tema e suas vicissitudes na idade moderna. E buscando contrapor-se
aos teóricos contemporêneos, como Carl Schimtt, Scattola expõe os usos,
sentidos e apropriações do termo na contemporaneidade. Resulta desse
percurso — além da sumidade analítica no trato do tema — um primoroso
método de pesquisa, claramente exposto, em História
Conceitual/Intelectual/das Ideias.

Introdução:

- Premissa: Buscando justificar e delimitar o objetivo e especifidade de sua


pesquisa Scattola irá esmiuçar as diferentes formas de se compreender o
conceito de Teologia Política.

- Há três possíveis formas de se conceituar Teologia Política:


1. Pondo em relação os dois termos que compõe o conceito, podemos
evidenciar algumas interpretações possíveis dos termos a depender da

1
Universidade Federal Fluminense.
*E-mail: Pedro_guimaraes@id.uff.br
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prevalência de seus significados. Se prevalece o primeiro termo (Teologia), se


produz uma “política da teologia”; concepção essa onde uma determinada
concepção religiosa e teológica aspira uma absorção total da política, uma
Hierocracia. Nesse caso, podemos dizer que uma classe sacerdotal ascende
como detentora do mais alto nível de poder político. Ex: O Regime dos Aiatolás
Iranianos ou o governo do Império Bizantino. Esse ainda não é o horizonte
conceitual de análise do autor.

2. Em segundo lugar, pode-se ter os dois termos (Teologia e Política) como


tendo o mesmo peso. Dessa perspectiva entende-se que há possibilidade de
uma reflexão sobre o núcleo teológico da política e sobre seu significado
filosófico-político.
2.1 É presumível nessa conceituação que a teologia possa propiciar um núcleo
para reflexão política. O prisma analítico de Scattola se esboça na tomada
dessa definição conceitual.

3. Elevando-se o predomínio do segundo termo (Política) nessa terceira


conceituação temos uma “política teológica”. Remete-se à uma orientação para
elaboração de tratados baseados em uma perspectiva teológica que guiam a
prática política. Diretamente, desdobra-se na política a fazer uso dos valores
teológicos. Resulta desse entendimento, por exemplo, a elaboração de uma
teologia civil.

- Método
Expondo as ferramentas metodológicas, Scattola exemplifica três diferentes
categorias de análise de um termo: A – Sentido Amplo: Noções generalistas e
de senso comum. B – Sentido Próprio Restrito: A constituição e uso delimitado
de um conceito. C – Sentido Específico: Análise lexical de um conceito.

A: Não possuí valor analítico: ém demasiado amplo os resultads dessa forma


de análise, não permite produzir um conhecimento sobre experiências
históricas específicas. Ex. Tomar a teologia como um dado em todas as
sociedades ou a política com algo inerente a todas as organizações sociais.
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B: O uso específico de um conceito determinad historicamente possuí valor de


análise, embora não considere a estrita noção lexical.
C: Compreende a estrita análise lexical dos conceitos, considerandos como
particularidades históricas de determinadas culturas a produção e os sentidos
dos termos. Logo, só considera como manifestação de Teologia Política
apenas os fenômenos que estritamente carregal esse lexico de origem greco-
latina. Aqui se esboça o estrito campo de análise de Scattola.

Capítulo I

Parte 1 (Origem do Conceito)

- Premissa: Partindo da antiguidade à contemporaneidade Scattola buscará


demonstrar quando a noção de Teologia Política se transforma em um conceito
utilizado na Filosofia Política.
- Valor metodológico: Como fazer uma análise lexical da perspectiva da
História Conceitual.
- Scattola rastreia a primeira menção a termo Teologia Política na Civitate Dei
de Agostinho de Hipona. E busca encontrar os rescaldos dessa definição
retomada e apropriada por Agostinho.
1. Scevola, jurista romana, pressupõe que há três categorias de desus
instituídos no mundo greco-romano: Os deuses dos poetas (Mitos), dos
Filósofos (Physis, Estudo da natureza, Indagação sobre a essência humana e
universal) e dos Políticos (Usos cìvicos de valores religiosos, Normas públicas
de culto aos deuses).
2. Essa perspectiva é transformada por Marcos Terêncio Varrão em sua obra
“Antiguidades Religiosas”, onde autor irá propor a existência de três tipos de
teologias na tradição greco-romana: A teologia grega Mítica (Lendária in
Roma), Física (Natura In Roma) e Política (Civilis In Roma)

Parte 2 (Idade Média e Primeira Idade Moderna)

3. Não obstante, in tradicto cristã a existência de um único deus verdadeiro e


imutável — o que pressupõe um único conhecimento revelado de sua pessoa e
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obra in natura e no homem — não pode compreender outras formas de


teologia que não somente a teologia cristã. Aqui entra o contradicto de
Agostinho em desclassificar e condenar as teologias tripartidas da tradição
clássica.
4. A grande ruptura da tradição cristã se dá na crença na transcendência
professada pelo escopo de fé cristão. De uma perspectiva imanente passa-se a
uma transcendente, onde os deuses ou o deus não estão no mesmo plano dos
homens, tal como estão nas religiões greco-romanas. Estando para além do
humano e do mundo —no romper da imanência — não é possível ter três
conhecimentos distintos de deuses.
4.1 Aqui se dá os desmontes das diferentes formas de teologia, sobretudo da
cívica ligada aos deuses cultuados pelos citadinos.
5. Podemos dizer que a crítica de Agostinho ao conceito de teologia civil
provocou sua inutilização em se tratando de uso público. Agostinho, uma vez
respaldado nos pressupostos teológicos cristãos, adjetivou a teologia civil como
imoral e falsa, assim como qualquer outra forma teológica não cristã.
6. No tocante ao uso do termo Teologia Política na Idade Média nada é
encontrado sob esse termo ou com essa consciência de uso. Apesar de ser
uma “época embebida em Teologia Política” nada se fala ou se aborda do
léxico. Vide Kantorowicz e seu trabalho sobre a teologia política medieval
inglesa.
7. Adentrando à idade moderna, para citar um ícone do pensamento político do
período, Maquiavel trabalha com a perspectiva da Religião Civil, mas também
não aborda o léxico e tampouco demonstra consciência do uso da noção.
7.1 Assim procedeu-se — na falta de consciência conceitual — durante os
séculos XVI – XVII, embora o uso da fórmula lexical tenha sido impregada em
matérias administrativas.
7.2 O termo Theologico–Politicus foi utilizado na idade moderna como uma
fórmula da jurispridência; expressando-se assim uma relação jurídica entre os
âmbitos divino e humano.
7.3 Cabe ressaltar, igualmente, a contribuição da teologia protestante no
âmbito da reforma para a popularização do Termo Theologicus – Politicus na
jurisprudência para indica as competências jurídicas entre o senhor territorial e
o clero.
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Parte 3 (Século XVIII, Religião Civil e Revolução)

8. Na contemporaneidade, a partir do século XVIII, o conceito de religião civil


volta à tona nas concepções revolucionárias Americanas e Francesas.
8.1 Começa uma busca por uma nova religião civil para o cidadão que emerge
do iluminismo e se contrapõe ao “obscurantismo” imbuído de religião cristã e
tem a necessidade de ser independente de qualquer outra religião tracional.
8.2 O núcleo da religião civil do iluminismo é o Bem-Comum e o Progresso
da revolução.
8.3 Aqui surgem as primeiras experiências históricas de sacralização da
política mediante uma interpretação do ethos público e dos eventos
revolucionários. (Durante a revolução francesa criou-se e institucionalizou-se
uma religião civil ao arrepio da Revolução).

Parte 4 (A Teologia Civil Contemporânea)

9. Continuando os desenvolvimentos das experiências históricas de Teologia


Civil, no século XIX surge, em torno do debate sobre o fortalecimento dos
estados nacionais o debate sobre os nacionalismos como instrumentos do
sagrado na política.
9.1 Partindo desse pressuposto, já no século XX, em torno dos debates sobre o
conceito de Totalitarismo, elabora-se o conceito historiográfico de Religião
Política.
9.1 O conceito de Religião Política foi criado para interrpetar as caraterísticas
dos regimes de partido único surgidos de processos contra-revolucionários de
massas. As características seguem-se: 1: Uma concepção integralista e
dogmática da ideologia. 2: Santificação do Partido. 3: Culto do Líder. 4:
Doutrinação das Massas e Ritos e símbolos das liturgias do coletivo. (A
paternidade do conceito de Religião Política é atribuída à Eric Voegelin).

Parte 5 (A Teologia Política Contemporânea)


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10. Entre os debates sobre a religião política surge o conceito de Teologia


Política como léxico conceitual e instrumento de análise de fenômenos
teológicos e políticos. Parte então de uma reflexão histórico-filosófica que
busca refletir sobre a presença do ideáio teológico religioso nas representações
políticas ou, ainda, como determinadas organizações políticas possuem
aspectos inerentes à formas religiosas em simblismo e força coesiva em
termos sociais. Engendra-se um método específico de análise da origem de
teológica de inúmeros subtefírgios políticos, seja a retórica, o simbolismo, o
bojo de uma concepção idelógica etc...

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