Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Faculdade Messiânica
São Paulo
2019
Willames de Moura Cavalcante
São Paulo
2019
FICHA CATALOGRÁFICA
Willames de Moura Cavalcante
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
Prof.
Faculdade Messiânica
Prof.
Faculdade Messiânica
Dedico este trabalho a minha amada família, as
pessoas que me fazem todo dia lembrar da
existência de um Deus dentro de todos os
seres humanos.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus e ao Messias que é uno a Meishu-Sama por me darem
a dádiva da vida, a força e a permissão de concluir este trabalho. O vejo como o fim de uma
jornada de quase dez anos, quando me tornei membro da Igreja Messiânica e comecei a
entender a luz que sempre me guiou, sem eu saber, em todos os momentos de minha vida.
Meu amor e gratidão à minha esposa Millena, que em todos os momentos me inspira
a ser alguém melhor. Sua ajuda permeia todo este trabalho tanto materialmente como
espiritualmente. Obrigado por toda sua compreensão, seu amor, sua abnegação, e por me
passar tanta segurança, principalmente nos momentos finais deste processo. Vamos juntos!
Ao meu filho Noah (in memoriam), agradeço sua existência que me ensinou o valor da
entrega a Deus. Sempre que penso em você a imagem de Deus me vem, por isto tenho certeza
do quão bem hoje você está. À minha filha Melissa, muito obrigado pela sua compreensão,
mesmo com sua pouca idade, das ausências do papai. Seu sorriso e amor por mim são os meus
maiores combustíveis para perseverar na jornada do crescimento. Todo amor a você.
Minha imensa gratidão a meu avô José Humberto Gerbasi (in memoriam) que no fim
de sua missão me ensinou o valor de uma vida voltada para o próximo e para o ideal de um
mundo melhor. À minha avó Maria Analva, minha gratidão por ser a pioneira de todo este
caminho, com sua fé inabalável e grande sabedoria. Aos meus avós maternos, Zuca e
Marleide, todo meu amor e gratidão por serem parte integrante da minha criação, com todo
seu amplo amor e cuidados. Sem vocês eu não seria com certeza, nem parte do que eu sou.
Ao meu pai, meu Meishu-Sama vivo, agradeço pela permissão de ser seu filho, de
poder contar com suas palavras tão sábias e amorosas que sempre me fazem retornar ao
Paraíso dentro de mim, mesmo nos momentos mais difíceis de todo esse caminho até aqui.
À minha mãe, agradeço por todo seu empenho para que eu fosse um bom homem.
Agradeço fortemente toda sua seriedade e resiliência, que servem de exemplo para mim
todos os dias. Minha gratidão por me deixar partir, e, mesmo de longe, me acompanhar.
Minha gratidão também a todos os ministros, professores e amigos de fé que me
acompanharam e passaram por mim no processo desta formação. Em especial, agradeço aos
queridos ministros Fábio de Paula e Amadeus Valdrigue por todo suporte que me deram,
respectivamente na vida missionária e acadêmica.
“O Deus vivo só poderá aparecer quando
admitirmos que Ele está vivo e manifestando-
Se a cada instante. ”
(Yoiti Okada)
Resumo
O presente trabalho estuda a presença de Deus no juízo final, segundo a teologia da religião
messiânica, fundada por Mokiti Okada. O objetivo geral é contribuir com a formação de uma
teologia messiânica sistematizada e ecumênica. Tem como objetivo específico traçar um
roteiro sobre o assunto e ajudar na criação de uma identidade messiânica. Chega ao tema
principal do estudo, a escatologia messiânica, criando uma base doutrinária a partir de tópicos
como Deus, a antropologia, o mundo espiritual, Johrei, transição de eras, todos segundo a
visão de Okada. Usa de um pequeno paralelo com a escatologia cristã tornando o estudo um
pouco mais compreensível ao público que tem pouco ou nenhum contato com a doutrina de
Meishu-Sama. Utiliza métodos que respeitam o ecumenismo entre as diferentes vertentes da
doutrina okadiana e mostra visões diferentes destas. Utiliza fontes de textos desta doutrina,
que estão disponíveis em português, traduzidos pelas instituições religiosas e associações
voltadas aos estudos okadianos. Conclui com a conceituação do evento do juízo final e como
a localização do divino é importante para compreender e passar por este processo.
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................11
2. DISCUSSÃO BIBLIOGRÁFICA E APRESENTAÇÃO DOS MÉTODOS......................................................14
3. DEUS NA RELIGIÃO MESSIÂNICA ...................................................................................................18
4. ANTROPOLÓGIA TEOLÓGICA MESSIÂNICA .....................................................................................24
4.1. A CONSTITUIÇÃO ESPIRITUAL DO HOMEM .................................................................................24
4.1.1. PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO TRIPLA – PARTÍCULA DIVINA (ALMA), CONSCIÊNCIA E ESPÍRITO. .....24
4.1.2. SEGUNDA CONSTITUIÇÃO TRIPLA – ESPÍRITO PROTETOR PRIMORDIAL, ESPÍRITO PROTETOR
SECUNDÁRIO E ESPÍRITO PROTETOR GUARDIÃO. ..............................................................................26
4.2. A MISSÃO DO HOMEM ...............................................................................................................28
5. MUNDO ESPIRITUAL, JOHREI E A TRANSIÇÃO DE ERAS ..................................................................30
6. JUÍZO FINAL ..................................................................................................................................38
6.1. SINAIS DO FIM DO MUNDO ........................................................................................................39
6.2. O TESTEMUNHO E A TAREFA DOS MESSIÂNICOS PERANTE O FIM ...............................................40
6.3. O QUE CARACTERIZA O JUÍZO FINAL? .........................................................................................41
6.4. ARREPENDIMENTO E CONVERSÃO .............................................................................................44
7. A PRESENÇA DE DEUS, A VINDA DO MESSIAS E A CHEGADA O REINO DOS CÉUS NA TERRA ...........46
11
1. INTRODUÇÃO
Ao longo de três mil anos, a humanidade veio se afastando cada vez mais da
Lei da Natureza, que é a Lei do Universo, a Vontade de Deus, a Verdade. (...).
As graves consequências do desrespeito às leis naturais podem ser
verificadas na agricultura, na medicina, na educação, na saúde, na arte, no
meio ambiente, na política, na economia e em todos os demais campos da
atividade humana. Essa situação já chegou ao seu limite. Se continuar agindo
assim, é certo que o homem acabará destruindo o planeta e a si mesmo.
A filosofia de Mokiti Okada tem o objetivo de despertar a humanidade,
alertando-a para a triste realidade em que se encontra.
Como poderia Deus, o Senhor da Criação, fazer progredir a cultura no mundo e deixar
que sua criação chegasse ao ponto do risco de se destruir, através do desrespeito às leis
naturais, e acompanhar isso de forma passiva? Esta pergunta encontra ressonância nos
escritos de Meishu-Sama e nos traz outro questionamento: se Deus existe, qual seu papel em
meio a este cenário escatológico?
Okada explica que chegará o tempo da transformação do mal em bem, através da luz
de Deus e da vinda do “advento do Reino dos Ceús” assim como a teologia cristã argumenta.
Este período histórico de julgamento também pode ser chamado de “transição da era da noite
para a era do dia”, onde tudo que é impuro virá à tona para ser purificado pela graça divina.
Os distúrbios elencados na “filosofia da salvação” são o sinal disso. Tornando-se claro este
mundo por ocasião da chamada era do dia, o fundador (IMMB, 2017a, p.67) explica que
demonstra o seu protagonismo frente ao juízo final e como a criação de uma relação do ser
humano com Ele, segundo a teologia messiânica, é necessária para criação de um novo
mundo. A compreensão deste ponto tem sido motivo de certa divergência nas teologias do
mundo messiânico. Um exemplo disso é a teologia proposta por Kyoshu-Sama, líder espiritual
da IMM, onde a criação desta “relação com Deus” tem sido bastante explorada. Várias
vertentes atualmente não a reconhecem como autêntica e até dizem que o próprio líder
espiritual se afastou com suas propostas teológicas dos ensinamentos de Meishu-Sama. O
presente trabalho não visa entrar nas questões, ainda bastante atuais, dessa cisão religiosa,
mas fará uso de citações e pontos explanados pelo líder espiritual, por achar que, junto com
todos os outros matériais pesquisados, eles ajudarão a explicar o papel da luz do divino no
grande julgamento.
Um ponto implícito aqui, e que também será discutido ao longo do trabalho, é a
diferenciação da luz de Deus e da doutrina religiosa em si. As duas não são a mesma coisa,
mas as duas podem conduzir o ser humano de uma para a outra. Este fato reafirma a
importância da sistematização doutrinária para ajudar na apresentação da teologia okadiana
para a humanidade. Este trabalho tem pretenção de auxiliar neste ponto. Para a boa
explicação disso e da própria temática escatológica será necessário conceituar a visão
messiânica de diversos aspectos, além dos já citados acima, como por exemplo Deus, a
constituição espiritual do ser humano, o mundo espiritual, entre outros temas, afim de
chegarmos ao principal com certa fundamentação teórica.
14
Em primeiro lugar, optamos neste trabalho por, ao nos referirmos a doutrina criada
por Meishu-Sama, não o fazermos para exclusivamente uma das diferentes vertentes que a
seguem. Isso acontece porque existem diferentes seguimentos messiânicos em todo o mundo
e em especial no Brasil, onde este estudo está sendo feito. Aqui, nossa pesquisa encontrou
onze pessoas jurídicas diferentes que são seguidoras da filosofia okadiana, a saber: Sekai
Hikari Kyodan, Templo Mundo de Miroku, Comunidade messiânica universal, Seimei Kyo,
Shinji Shumei Kai, Tenseishibikai, Templo Arte do Johrei, Templo Luz do Oriente, Toho no
Hikari - MOA, Igreja Messiânica Mundial do Brasil (IMMB) e Igreja Mundial do Messias.
Respeitando esta pluralidade, vamos nos referir a doutrina okadiana, por termos como
religião messiânica, teologia okadiana, entre outras formas que façam este trabalho dialogar
de forma ecumênica com as diferentes instituições, ajudando na formação de um possível
futuro diálogo inter-religioso delas com outras fés. Este ponto segue a ideia apresentada por
Andréa Tomita (2016, p. 260):
Com todos esses pormenores, fica explícito que a metodologia neste trabalho será
essencialmente bibliográfica, descritiva e documental.
Quanto a preocupação com o caráter ecumênico da mensagem, citado anteriormente,
esta nasce da própria interpretação dos ensinamentos de Meishu-Sama, que era bastante
cuidadoso com a possibilidade de conflitos entre ramificações. Sobre isso, Okada (IMMB,
2017b, p. 37) fala em um artigo:
das escrituras sagradas. Embora haja alguma lógica em dizer que justamente
a dificuldade de interpretá-las é o seu atrativo, acredito que, no sentido de
salvar a humanidade, tudo deveria ser de fácil compreensão.
Vemos então que, para o fundador, esta dificuldade de interpretação tem que ser
sanada, visando o maior diálogo para salvação da humanidade. Vislumbramos ainda que esta
é mais uma contribuição que a sistematização da teologia messiânica pode dar para a criação
de uma teologia ecumênica, como a proposta pelo teólogo Yves Congar, citada por Moraes
(2007, p. 186):
No caso da teologia okadiana, reiteramos que esta sistematização ainda não existe, e,
portanto, as respostas messiânicas aos questionamentos sociais poderão ser desencontradas,
não revelando uma certa uniformidade que dê ensejo a uma forma messiânica de ver o
mundo.
Em específico, a membresia, como citado anteriormente, cárece de saber de forma
mais detalhada sobre como Okada formula sua percepção de juízo final e como toda
humanidade conseguirá passar por ela. Os modelos de práxis dados ainda são muito voltados
para dentro da própria igreja/instituição, dotados de grande proselitismo, por mais que se
intencionem ser universais. Neste sentido, se contrapõem a própria preocupação do fundador
que, vê-se, era realmente voltada a toda humanidade. Tudo isso justifica a demanda da
implementação de uma teologia sistemática, que ajude pedagogicamente, e o recorte
escatológico, subárea proposta por este trabalho, faz parte disso.
18
Conceituar Deus inspira grandes cuidados. Por ser a maior manifestação do que se
pode chamar de Sagrado, aquilo que “manifesta-se sempre como uma realidade inteiramente
diferente das realidades ‘naturais’ (ELIADE, 1992) ”, Yoichi Okada, quarto líder da IMM,
quando em orientações vai tocar no assunto, tentando de certa forma lhe explicar em
determinado contexto, sempre emprega expressões como “com profundo respeito e temor a
Deus”. Este cuidado talvez venha de uma compreensão de que por mais que o ser humano se
esforce para explicar Deus e sua revelação, por usar de formas materiais, não vai conseguir
exprimir toda a sua complexidade.
Para Meishu-Sama, Deus se manifesta em todos os locais do mundo e para cada época
faz surgir as pessoas e as religiões necessárias, cada qual com sua missão (IMMB, 2017a, p.
13). Sua revelação então não vem de apenas um seguimento religioso, mas se complementa
na junção da maioria deles. Esta percepção se sustenta na própria conceituação de Deus de
Okada.
ela tem o mesmo sentido da vinda do Messias. Este evento teológico vem a acontecer com o
próprio Meishu-Sama em 1954, segundo o próprio fundador, no episódio que ficou conhecido
como “novo nascimento”.
Fala-se sobre a vinda do Messias, não? Pois o Messias nasceu. Não são
apenas palavras; é realidade mesmo. Eu próprio fiquei surpreso. E não se
trata de renascer, mas de nascer novamente. É esquisito nascer depois de
velho, mas o mais interessante é que minha pela ficou delicada como a pele
de um bebê e, além disso, como podem constatar surgiram-me estes cabelos
pretos. (...) Esse Messias tem a posição mais elevada na hierarquia do
mundo. No Ocidente, ele é considerado o Rei dos Reis. Assim minha vinda se
reveste da maior importância, pois, graças a ela, a humanidade será salva
(LUZ DO ORIENTE, 2005).
Nesta época Meishu-Sama estava muito debilitado devido à um derrame cerebral que
tivera. Mesmo assim, para celebrar o novo nascimento, foi realizada a “Cerimônia de
Comemoração Provisória da Vinda do Messias”, onde revelou aos membros os fatos que lhe
tinham acontecido e sobre o surgimento desta nova vida dentro dele.
A partir deste acontecimento, podemos afirmar que a concepção de “messianismo” da
religião messiânica é peculiar com certeza, mas a atual teologia do quarto líder espiritual
trouxe ainda mais elementos para esta singularidade, pois ela faz do novo nascimento o ponto
central de toda a doutrina, algo recente para o mundo messiânico e que se desdobrou numa
nova maneira de entender o que é Messias, que difere da maioria das vertentes okadianas.
Para entender como evoluiu a concepção de Messias em Meishu-Sama, vale voltar ao
que aconteceu após a morte do fundador, pois com ela muitas decisões foram tomadas para,
no entendimento da organização, proteger a “obra divina” sem entrar em conflito com a
sociedade que poderia olhar para as palavras do fundador sobre sua concepção de Deus com
desconfiança. É bem elucidativo um argumento da Toho no Hikari sobre esta época:
Este modo de ver Meishu-Sama apenas como fundador perante maior parte do
público, no Brasil, se refletiu no modo como os fiéis se dirigiam a ele, por exemplo, o
chamando de Mestre Meishu-Sama. Entretanto, com o começo da missão do quarto líder
espiritual, Kyoshu-Sama, Yoichi Okada, liderando os três grupos da IMM, iniciou-se um
processo de revisão da divindade de Meishu-Sama a seu pedido. Por registros de suas
palestras ao público podemos dizer que isto fica mais forte a partir de 2004, quando se
completaram 50 anos da “Cerimônia de Comemoração Provisória da Vinda do Messias”. A
partir deste momento, as orientações foram para que o fundador começasse a ser chamado
pelos fiéis de “Messias Meishu-Sama”.
Embasada nisto, Andréa Tomita (2016, p. 36) afirma que: “Na IMM, crê-se que o
fundador Meishu-Sama é o ‘messias’ da era atual e que cada messiânico – ao ministrar johrei
e salvar as pessoas – exerce o papel de um ‘pequeno’ messias”. Assim, nos dias atuais, no
Brasil, na maioria das vertentes entendesse que Meishu-Sama é o único e verdadeiro Messias.
Este ponto encontra apenas uma excessão, pelo menos oficialmente no Brasil, por causa da
recente cisão ocorrida no Japão entre a IMM e seu líder espiritual, na figura da recém-criada
em 2018, Igreja Mundial do Messias, que ainda se centraliza nas orientações do atual Kyoshu-
Sama, Yoichi Okada. Sobre sua visão atualizada de Messias, é bem simbólica e pedagógica a
saudação proferida por Masaaki Okada (OKADA, 2019), filho do atual líder e que está sendo
preparado para ser seu sucessor.
Eu acho que no passado, houve uma época em que dizíamos que Meishu-
Sama é o Messias do presente e Jesus Cristo era o Messias do passado. (...)
Mas, se isso for verdade, talvez daqui dois mil anos uma outra pessoa
chegará aqui e dirá que é o Messias.
Eu acho que não. Acho que Meishu-Sama é o Messias para sempre. Jesus
Cristo também é o Messias para sempre.
E não é só isso. Não são somente Meishu-Sama e Jesus Cristo. Kyoshu-Sama
está agora orientando que cada um de nós tem no seu interior uma alma de
Deus chamada Messias.
Como pode-se ver, a atual teologia do quarto líder coloca todos os seres humanos, não
apenas como ‘pequenos messias’, como Andréa Tomita citou anteriormente, mas sim como
Messias potenciais. Esta percepção vem do estudo da constituição do homem, segunda a
teologia okadiana, e de uma interpretação bastante abrangente sobre a presença de Deus
dentro do mesmo, que será vista no próximo item do trabalho.
23
Mesmo com todos estes pontos sobre a messianidade de Meishu-Sama e sua abertura
de forma mundial, e ainda com a citação de outros elementos ocidentais como anjos, santos,
etc, não podemos dizer que sua doutrina conseguiu se aprofundar mais na revelação do divino
no ocidente, por exemplo, explicando como é a constituição do Mundo espiritual ocidental,
apenas citando que ele é menos hierarquizado que o do oriente. Embora isto tenha
acontecido, o fundador deixou menção a uma fonte que segundo ele “Trata-se de uma obra
muita interessante, que pode ter grande validade para o conhecimento da vida no Mundo
Espiritual (IMMB, 2017b, p. 74) ”, o livro “Registros de pesquisas sobre o mundo espiritual”,
do Dr. Ward (1885-1949).
Neste livro, pode-se ver a visão ocidental dos temas tratados por Okada, até
endossando algo dito por ele: que no mundo espiritual existem diversas organizações
religiosas (IMMB, 2017b, pp. 83-84). Ver uma citação como esta por parte de Meishu-Sama
abre as possibilidades de interpretações e reintrerpretações dos ensinamentos messiânicos,
mais uma vez exaltando o seu lado inter-religioso. A reveleção de Deus e de quem Ele o é se
torna assim mais complexa e ao mesmo tempo mais aberta, pois não se fecha aos demais
credos existentes no mundo.
24
Nos próximos tópicos serão apresentados alguns dos principais pontos ligados ao ser
humano na doutrina okadiana, a saber: a constituição espiritual do homem e sua missão.
Cada vertente messiânica procura sua forma mais didática para explicar a constituição
do espírito humano. Um exemplo bastante elucidativo é o da IMMB que procura falar de três
círculos concêntricos:
IMMB (2014).
(...) no ser humano não existe apenas o espírito, pois se fosse assim, não seria
diferente dos seres inanimados. Além do espírito, ou melhor, dentro do
25
1
Sonen: Segundo o livro Alicerce do Paraíso (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2017a, p. 68) é uma “palavra
japonesa comumente traduzida como “pensamento”, a qual não se limita ao ato de pensar racionalmente. Seu
significado abrange o sentimento, a vontade e a razão.
2
Kototama: Seria o “espírito das palavras”. Segundo o livro de orações (Inori no Shiori) da IMM (SEKAI KYUSEI
KYO – IZUNOME, 2008, p. 115) o “espírito das palavras do Bem diminui as impurezas do Mundo Espiritual,
enquanto que o espírito das palavras pertencentes ao Mal as aumenta”. Além disso, o espírito das palavras do
Bem “ressoando na alma aumenta a sua luz e, com isso diminui as impurezas existentes na consciência”.
26
existem máculas na alma, enquanto outras vezes ele afirma que ela, por ser a partícula divina,
não pode ser nublada. Isso acontece porque o fundador falava de forma muito livre em suas
explanações, o que levava a explicar de forma ampla e as vezes restrita da constituição do ser
humano. A “alma que mácula” nos ensinamentos, na realidade, é a consciência. Sobre esses
temas, a fala de Yoiti Okada é muito elucidativa ao explicar o que é o Johrei e sua relação com
a purificação do espírito.
O espírito, último elemento desta primeira constituição tríplice, é a “capa” que envolve
a consciência e a partícula divina. Pode-se dizer que ele tem a mesma forma do corpo físico.
Ele também possui brilho, chamado de aura, que, dependendo do sentimento humano, brilha
ou se nubla, cresce ou diminui.
4.1.2. SEGUNDA CONSTITUIÇÃO TRIPLA – ESPÍRITO PROTETOR PRIMORDIAL, ESPÍRITO
PROTETOR SECUNDÁRIO E ESPÍRITO PROTETOR GUARDIÃO.
Aos dois ou três anos de idade, penetra no espírito humano a segunda alma: o espírito
protetor secundário. É uma consciência animal, responsável pelas vontades mundanas,
ligadas a matéria. Sua atuação é ligada ao instinto de sobrevivência, a comida, ao sexo, mas
se desregrada leva o ser humano a degeneração, através do mal. Por isso precisa ser
controlado pelos outros dois protetores. Quanto mais nuvens espirituais e quanto maior for o
sonen do ser humano para o mal, maior sua atuação o levando a infelicidade, pois este se aloja
no limite da consciência humana.
Entre a membresia messiânica há o erro de pensar que se deve “acabar” com o espírito
secundário, mas o pregado pelo fundador é o seu controle, o que mostra que sua existência é
importante para o ser humano, algo designado por Deus. Okada orienta sobre este ponto no
trecho abaixo:
Acima, fica clara a importância desta segunda alma para a manutenção da vida
humana. Para o homem ser feliz deve então apenas controla-la para que não domine sua
existência.
O último dos três espíritos a ser falado é o espírito protetor guardião. Ele é o espírito
de um antepassado de nível elevado que também tenta conduzir o ser humano ao bem,
repetindo a mensagem de Deus enviada pela alma. Para isso, tenta levar o ser humano para a
felicidade, o advertir sobre sua conduta lhe conduzindo para praticas virtuosas, proporcionar
graças e lhe prevenir, quando com força, sobre perigos possíveis.
O espírito protetor guardião e os outros dois, em síntese, são importantes peças para
a condução do homem a sua missão, tema do próximo tópico.
28
Na teologia okadiana, o homem pode ser descrito como representante de Deus e dos
seus antepassados no plano terrestre, que tem a missão de construir o Paraíso Terrestre, o
mundo isento de doença, pobreza e conflito. Este acontecimento escatológico é colocado por
Meishu-Sama como posterior ao juízo final, mas diferente deste, que acontece pela vontade
Deus, é dependente da força humana como instrumento do divino.
Mas, diferente do que se pode pensar quando se fala em construção, ela não se dará
apenas fora do ser humano, mas principalmente dentro do mesmo.
(...) o requisito básico que propomos para que o indivíduo tome parte na
“construção de um paraíso terrestre” – o lema da nossa religião – é que ele
se eleve e obtenha o direito de se tornar um residente do paraíso. Se o
número de tais indivíduos aumentar, um dia, um mundo paradisíaco se
materializará na Terra, pois o mundo é feito de indivíduos (MEISHU-SAMA,
2018ª).
Este trecho mais uma vez corrobora com a percepção da centralidade do ser humano
na construção do mundo ideal. Dentre todos os seres, segundo Okada, o homem é o único
que possui liberdade infinita outorgada por Deus. Por isso, sua vontade consciente de voltar
a Deus como centro de sua vida é tão importante, pois ao mudar seu livre pensamento e ações
de forma espontânea, ele começa a verdadeira construção de um novo mundo, através da
expansão da sua alma e da transformação dos antepassados e pessoas próximas que ela gera.
Podemos resumir então que o ser humano precisa se elevar, entregando sua
consciência a luz de Deus, para que sua partícula divina brilhe e dissolva as nuvens espirituais,
fazendo com que o espírito protetor secundário se retraia e perca força de influência sobre o
destino do homem, o que vai fazer com ele se torne mais suscetível às inspirações advindas
do primordial e transmitidas pelo protetor guardião, o que o tornará mais feliz.
Ainda sobre a importância da alma e a necessidade do homem se tornar um habitante
do paraíso, vale lembrar a centralidade que a teologia do quarto líder espiritual para o
assunto, ao afirmar que nossa alma tem o nome de “Messias” e que todos são essa existência
de modo potencial. Procurar ser um habitante do Paraíso é algo que, para o Kyoshu, redunda
em buscar ser Messias.
30
Passar pelo juízo final pressupõe a salvação eterna do espírito. Anjos (2016, p. 37)
explica que para entender como se processa isso na teologia messiânica é preciso conhecer a
visão de Meishu-Sama sobre o mundo espiritual.
O “que é o Mundo Espiritual? Em síntese, o Mundo Espiritual é o da vontade e do
pensamento3. (IMMB, 2008a, p. 66) ”. Esta descrição foge bastante do pensamento recorrente
de que o mundo espiritual seria o mundo dos mortos. Talvez isto aconteça, pois na teologia
messiânica o contrário é que é verdade: o mundo espiritual é o mundo dos vivos, da origem
da vida.
Meishu-Sama estabelece a existência de uma lei divina chamada “espírito precede a
matéria” onde é explicado que todos os acontecimentos do mundo material são reflexos do
que acontece no mundo do espírito. No homem, isto pode ser exemplificado pela precedência
do pensamento sobre a ação. Além desta, existe a lei “identidade espírito-matéria” que pode
ser explicada pela influência mutua que o espírito e a matéria do ser humano têm. Quando
surgem máculas no espírito humano, elas se revelam também na matéria através das
chamadas purificações, por doença, pobreza ou conflito por exemplo. O fundador explica que
“a situação do Mundo Espiritual influi diretamente no espírito e se reflete no corpo físico, de
modo que o destino do ser humano se origina no Mundo Espiritual. (IMMB, 2017a, p. 153) ”.
Então, como o mundo espiritual é o reino do sonen, a mudança deste, no âmbito humano, é
capaz de mudar o destino da humanidade como um todo e aumentar o seu nível espiritual.
Isso fica bem explícito no ensinamento “As três calamidades maiores e as três calamidades
menores” (IMMB, 2017a, p. 139) onde Okada fala:
3
Vontade e pensamento neste contexto seria o mesmo que sonen, palavra já explicada na nota 1.
31
É preciso também entender que a purificação, para a teologia okadiana, não é uma
coisa ruim, mas é parte do amor de Deus para que o ser humano possa ter cada dia uma vida
mais concorde com Sua vontade, e, portanto, mais feliz. Nesse sentido, a tempestade e as
inundações acima, por mais que tenham caráter aparentemente ruim, para Meishu-Sama elas
tem no fundo a luz de Deus. Isso não quer dizer que Deus quer o sofrimento do homem, mas
sim que o quer despertar para a realidade espiritual de tudo que ocorre na matéria.
Estas leis também demonstram o porquê de a influência dos antepassados existir no
ser humano.
Nós que vivemos atualmente, não somos seres surgidos do nada, sem
relação com nada. Na verdade, representamos a síntese de centenas ou
milhares de antepassados e existimos na extremidade desse elo. Somos,
portanto, seres intermediários de uma sequência infinita, formando uma
existência individualizada no tempo (IMMB, 2008a, p. 107).
Intermediário e Inferno, que por sua vez também são subdivididos em outros subplanos e
camadas. No mundo espiritual japonês, são 9 subplanos, com 20 camadas cada, totalizando
180, mais uma acima que seria a morada de Deus.
IMMB (2019)
Okada (IMMB, 2017a, p. 82-83) afirma que a diferença entre os planos se determina
pela luz e calor. No paraíso, mundo dos entes celestiais, eles são muito intensos, enquanto
que o inferno, mundo dos seres diabólicos, se caracteriza pela ausência deles, ou seja, pela
escuridão e frieza. Quanto ao plano intermediário, ele “situa-se entre os dois e equivale ao
Mundo Material. O fato de existirem pessoas felizes e infelizes no Mundo Material ocorre
porque elas estão em níveis condizentes com o Paraíso e o Inferno”. Mais uma vez vemos a
lei de identidade espírito-matéria exemplificada nos ensinamentos messiânicos. A camada em
que o espírito se encontra corresponde ao seu nível espiritual e reproduz no plano material
sua condição. Por isso, para ser cada vez mais feliz, os espíritos devem almejar subir de
camadas.
O espírito ao desencarnar tem, portanto, várias possibilidades de “morada”. De forma
simplificada, os que foram bons vão diretamente para o plano superior, os perversos vão para
o inferno e os espíritos que ainda não ganharam status de divino vão para o intermediário
aprimorar. Sobre este plano, que pode também ser entendido como provisório, há outros
pontos interessantes a serem citados.
33
(...) enquanto o corpo espiritual estiver nas camadas inferiores, é inútil apelar
para a inteligência e envidar esforços porque esta é a inexorável Lei Divina,
assim como é a Lei Espírito Precede a Matéria.
Por conseguinte, para que o ser humano alcance a felicidade é imprescindível
que ele purifique seu espírito a fim de torna-lo mais leve e busque
constantemente atingir as camadas superiores. Fora este, não existe
absolutamente outro método para alcançarmos a felicidade. E nisso reside o
profundo significado do Johrei (IMMB, 2017a, p. 152).
O Johrei então é então algo muito maior para a teologia okadiana do que a imposição
de mãos. Como seu princípio vem do elemento fogo, que com a chegada da chamada Era do
dia, assunto que será abordado mais profundamente nos parágrafos abaixo, vem ficando mais
forte no mundo espiritual e material, sua importância é enorme e baseia vários outros
conceitos da religião messiânica. Uma demonstração disto na evolução dos espíritos, através
da eliminação das máculas, está descrita por Meishu-Sama no trecho abaixo:
No ensinamento citado acima, que se chama “Transição da noite para o dia” é possível
ver que existe uma possível diferenciação entre método do Johrei (imposição de mãos) e o
princípio do Johrei. Este tema é abordado por Jung Mo Sung (2013) que fala: “É possível ver
claramente que ele faz uma distinção entre o princípio do Johrei, que está baseado na energia
espiritual que emana do corpo humano, e a concretização desse princípio através da
ministração do Johrei. ”. Com esta constatação, podemos compreender de forma mais
didática o Johrei de forma ampla, e como ele permeia todo o trabalho de evolução do espírito,
independentemente de sua conversão a religião messiânica ou não, ou do recebimento da
ministração do Johrei.
A Igreja Su no Hikari define sua prática de Johrei com uma explicação que junta estas
percepções de método e princípio do Johrei, através da prática e da conscientização da
35
O grande “transtorno” dito por Meishu-Sama é que com a intensificação da luz os seres
humanos vão passar por muitos sofrimentos purificadores, pela grande quantidade de nuvens
acumuladas. Para passar por isso da melhor forma, cabe a ele aprender o princípio do Johrei,
de que todos estes sofrimentos são ação de Deus e assim mudar sua percepção de mundo se
alinhando ao sonen da nova Era. Isto é estar de acordo com a Verdade, a Vontade Divina que
faz com que o ser humano seja instrumento da construção do Paraíso, que com o avanço da
nova era se torna mais fácil.
O trecho abaixo resume os pontos tratados anteriormente:
Durante a Era da Noite, o mal era ocultado pelas trevas, porque a Luz era
fraca. Agora, à medida que ingressamos na Era da Luz e que o fogo espiritual
se torna cada vez mais intenso, os métodos supressivos perderão sua
eficácia. Toda desonestidade, vício e outras atividades perversas serão
gradualmente reveladas, assim como todas as toxinas, dissolvidas e
eliminadas. Então, o mundo inteiro compreenderá que o único meio de
formar uma sociedade realmente feliz consiste em recorrer à Luz Divina para
a elevação espiritual e eliminação das condições negativas (IMMB, 2018).
Um último ponto a ser citado sobre o assunto é que a Nova Era já é uma realidade,
segundo a teologia messiânica. Para os messiânicos brasileiros isto não ficava muito claro por
causa da pouca quantidade, já citada na introdução do trabalho, de ensinamentos traduzidos
que traziam claramente esta temática. Neste sentido, a Escola da Espiritualidade trouxe nos
últimos tempos vários ensinamentos traduzidos em que Meishu-Sama fala sobre o fim da
transição e começo da Era do dia. Segue trecho exemplificando:
Meishu-Sama então estabelece que por volta de 1961 a fase de transição terminará e
o mundo entrará na Era do dia. Outro ponto importante do trecho acima é a citação do juízo
37
final, próximo item a ser discutido. Okada afirma que ele é “o momento em que essa mudança
(a transição) se apresentará concretamente”. Como isso se dará? O juízo final já aconteceu?
O fundador afirma que este processo acontecerá gradativamente, pois “se necessita de um
tempo de preparação e depois outro para a arrumação após a transição” (GUEDES, 2019b). Este
ponto nos leva ao tópico principal deste trabalho acadêmico.
38
6. JUÍZO FINAL
O julgamento comum e o juízo final não são a mesma coisa. Deus nos julga
sempre em nosso dia-a-dia – esse é o Seu julgamento comum, mas no Seu
Grande Julgamento, toda a humanidade será julgada. Deus decidirá Seu
veredito final no Grande Julgamento e separará o Bem do Mal (MEISHU-
SAMA, 2019d)
Okada então coloca o grande julgamento como um evento de enorme proporção e que
alcançará toda a humanidade. Há outro ponto importante. Na teologia cristã, em Apocalipse,
é colocado que, através do testemunho4 dos cristãos se luta para destruir o mal, pois “A lei do
pecado penetra na vida das pessoas, nas situações e nas estruturas da sociedade. Para fazer
o bem é preciso destruir a força do mal, emancipar-se dessa lei do pecado pessoal e coletivo.
(GORGULHO; ANDERSON, 1981, p. 147). ” Esta percepção se assemelha ao ponto da separação
do bem e do mal do trecho acima. Nos ensinamentos de Meishu-Sama é possível ver que esta
transição ocorre em vários âmbitos, do comunitário ao individual, e isto será melhor
detalhado mais à frente no trabalho.
Com relação a esta ligação com o cristianismo, o próprio Meishu-Sama se refere ao
Juízo Final como uma profecia de Jesus Cristo que remete a ideia de transição da era da noite
para a era do dia. Ele afirma que, por Cristo ser alguém tão sagrado, seguido por milhares de
pessoas, não há como sua previsão ser falsa e por isso os messiânicos, mesmo não sendo
cristãos, devem acreditar nela piamente.
É interessante perceber que comentários como esses colocam mais uma vez a religião
messiânica como aberta ao diálogo inter-religioso, inclusive, em alguns ensinamentos do
fundador, colocando com centralidade a revelação feita a Jesus Cristo, por exemplo.
4
Segundo o livro “Não tenham medo – Apocalipse”, de Gorgulho e Anderson (1981, pp. 110-111), “Pelo
testemunho dos cristãos, os perseguidores e todas as nações devem se colocar diante da alternativa decisiva:
ou aceitar o falso absoluto dos ídolos e dos poderes que escravizam e assim caminhar para a morte, ou então
aceitar a verdade de Cristo, convertendo-se e caminhando para a plenitude final da vida”. O testemunho faz
parte da missão profética dos cristãos para com o mundo a fim de auxiliar na salvação do maior número de
pessoas do fim no grande juízo divino.
39
Por esta posição de protagonismo de Cristo existir é que talvez seja muito importante
fazer tentativas de paralelos entre sua teologia e a de Okada em alguns pontos no assunto do
Juízo Final. Um destes tópicos é o de sinais do fim do mundo.
6.1. SINAIS DO FIM DO MUNDO
No Apocalipse, livro da bíblia que trata do juízo final, as quatro primeiras trombetas
são “sinais precursores do julgamento de Deus sobre a Cidade Santa (GORGULHO; ANDERSON,
1981, p. 102). ” Com eles, existem sinais que se espalham na terra, no mar, nas estrelas:
São sinais da intervenção divina na vida do seu povo. Mas também levam
consigo o último apelo de conversão. Pois a ruína de Jerusalém deverá ser
um sinal daquilo que Deus quer do povo que ele educara e preparara para os
novos tempos (GORGULHO; ANDERSON, 1981, p. 102).
Deus com seu grande amor não pode deixar que algo assim aconteça com sua criação e por
isso freia, através da Sua vontade, o instinto humano pela guerra e agora se revela através da
transição de eras. Além disso, por Jesus Cristo ter também ter profetizado a chegada do reino
dos céus, Okada afirma que apesar da existência do juízo final, haverá depois dele a
construção de um Paraíso na Terra, conduzido por Deus. Uma das tarefas do messiânicos é
testemunhar, através da sua prática de fé, estas realidades.
Na bíblia, com a iminência do grande julgamento, o povo de Deus recebe uma nova
missão profética. Direcionados para todas as nações, os “cristãos devem interiorizar a Palavra
e fazer gestos proféticos diante da comunidade (GORGULHO; ANDERSON, 1981, p. 110).”. O
testemunho, como já falado anteriormente, é parte da sua missão para a tentativa de salvação
do mundo.
Meishu-Sama, no começo de sua missão, afirmava que se devia trabalhar o mais
“silenciosamente” possível, dando aos milagres o protagonismo na difusão da mensagem de
Deus. Este ponto trouxe a centralidade na prática do Johrei que a doutrina messiânica ainda
possui hoje em todo o mundo.
Porém, em certa altura do trabalho missionário de Okada, ele começou a rever sua
posição inicial, devido ao que definia como “grande proximidade com o Juízo Final”. Um
exemplo está no texto a seguir, que é uma transcrição de um trecho da palestra de Meishu-
Sama no Hibiya Public Hall, em Tóquio:
Além disso, Okada ainda estende esta missão para todos seus discípulos, colocando
que, por todos encarnarem a Vontade Divina, estão “repetidamente advertindo por meio da
palavra oral e escrita (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2017a, p. 112). ”.
41
5
Religião japonesa fundada por Nao Deguchi (1836-1918) em 1892.
6
Um dos livros sagrados da religião Oomoto.
42
Seria uma felicidade se o Paraíso Terrestre pudesse ser estabelecido sem que
nada precisasse ser mudado. Contudo, como se trata da construção de um
mundo novo, ideal, é indispensável que se faça uma prestação de contas do
velho mundo. É como na construção de uma nova casa, quando se fazem
necessárias a demolição da casa velha e a limpeza do terreno. Naturalmente,
existirão muitas coisas úteis da casa velha que serão poupadas.
Evidentemente, esta seleção será feita por Deus (IMMB, 2017a, p. 12).
(...) a purificação do espírito pelo fogo atribuída a Jesus Cristo só pode ter o
mesmo significado do Juízo Final, que está prestes a chegar. (...) aquilo que
estamos realizando atualmente – o método de purificar o espírito por meio
do espírito -, nada mais é que o batismo pelo fogo (IMMB, 2017a, p. 114).
É importante reiterar que essa transformação só atingirá o que é mal e não condiz com
a nova era. No seu zênite 7 a transição se tornará muito evidente e será caracterizada pelo
colapso total da cultura da era da noite em escala mundial (IMMB, 2017a, p. 121).
O seguinte trecho do ensinamento de Meishu-Sama (2019e) “Prefácio de Criação da
Civilização” resume os pontos acima explicados:
7
Segundo o dicionário aulete digital significa ponto ou grau mais elevado; apogeu; auge; culminância; pino.
43
Mas surge a questão: Meishu-Sama não explicou que o fim da transição ocorreria por
volta de 1961? Para responder isso levaremos em conta o aspecto antropológico do juízo final.
No ser humano o mal é caracterizado por sua consciência egoísta e apegada ao seu
próprio “eu” que não deixa a natureza divina livre para atuar. Portanto ela também é alvo do
juízo final e tem que passar pela “destruição, aproveitamento do que pode ser reaproveitado
e construção do novo”. O quarto líder espiritual, Kyoshu-Sama explica sobre sua percepção
deste ponto nos trechos abaixo:
Com relação ao termo “final” da expressão “Juízo Final”, creio que ele
simbolize a nossa autoconsciência.
Será que a expressão “Juízo Final” não é utilizada porque, de fato, o que será
julgado é a nossa consciência – que é a dimensão final da Criação? Como
responsáveis pela última dimensão da Criação, se reconhecermos que o
julgamento terminou e que, junto com todos os seres, fomos perdoados e
se, depois disso, retornarmos ao Paraíso – que é a dimensão inicial –
poderemos, verdadeiramente, encerrar o “Juízo Final” (KYOSHU-SAMA,
2019, p. 232).
Com esta postura, o homem impulsionou a cultura material, que também era
necessária para o plano Divino, mas ao mesmo tempo chegou a um beco sem saída,
exemplificado por Okada pela criação da energia atômica, que se usada para o mal pode
dizimar o próprio ser humano.
Para sair do inferno que ele próprio criou, o homem tem que perceber seus erros que
estão sendo iluminados pela nova era, se arrepender e se converter ao verdadeiro bem, como
acontece para o crescimento do espírito desencarnado no mundo espiritual. O reverendo
Nakahashi (2008) fala sobre a ligação do arrependimento com o juízo final:
inversão dessa ordem, já que o espírito tem importância muito maior que a
matéria.
Em outro texto, o reverendo fala com mais detalhes da ligação do arrependimento com
a criação do Reino dos Céus na Terra, o que dá ao homem a responsabilidade de finalizar a
prestação de contas, como mostramos anteriormente nas palavras de Kyoshu-Sama:
Após o arrependimento, é necessário se converter ao bem para não voltar a agir pela
força humana apenas e ter que prestar contas pelo seu mal. Mas conversão ao que? Meishu-
Sama não estabelece conversão a sua religião, como já ficou claro em seu caráter inter-
religioso, mas ao Deus Supremo. No homem ele se materializa na partícula divina.
Apesar de Deus – o Pai da vida – estar vivo dentro de nós, viemos ignorando-
O. Mundo das Trevas é o estado de espírito no qual não percebemos nossa
ignorância em fazer isto. Entendo por Mundo da Luz o estado de espírito no
qual nos damos conta dessa ignorância. O fato de perceber já não seria uma
demonstração de que um feixe de luz penetrou a escuridão de nossos
corações – chamada ignorância? Não estaria a luz iluminando as trevas
(KYOSHU-SAMA, 2019, p. 232)?
Meishu-Sama no recorte acima não afirma qual religião ou fé devem ser seguidas, mas
explica que o Todo-Poderoso, o Deus Supremo, não deve ser tirado de vista. Isso mostra que
por mais que existam níveis de religiões e divindades, como o fundamento delas é um só e
está dentro do ser humano, cabe a ele entrar em contato com o divino independentemente
da doutrina a que segue. Esta explicação é similar à de Okada que explica que “Não é a
doutrina, mas sim a Luz de Deus que transforma uma pessoa. (IMMB, 2018, p. 14) ”.
Do mundo espiritual, esta Luz é emanada pelo próprio Messias, o senhor da salvação.
Quanto a esta figura teológica, como já falado no capítulo 3, Meishu-Sama quando nasceu de
novo afirma que por ele ter vindo é que a humanidade seria salva. Esta percepção cria duas
vertentes para a importância deste evento: a primeira acredita que com a elevação espiritual
o espírito se liga ao Messias Meishu-Sama para a salvação, enquanto a segunda, ligada a
teologia proposta pelo Kyoshu atual, acredita que com o crescimento espiritual o próprio ser
humano vai nascer de novo como Messias e se tornar uno a Meishu-Sama. Serão então
“várias” vindas do Messias. As duas levam em conta a importância do Messias para a salvação
do juízo, como dito por Okada no seguinte trecho: “A propósito, também devemos pensar
que, para ficarmos absolutamente livres da destruição atômica, é necessário transformar o
mal em bem, conforme já explanei. E quem poderia ter poder para isso a não ser o próprio
Messias? (IMMB, 2017a, p. 76) ”.
Independentemente de qual posição, a teologia messiânica estabelece taxativamente
a posição do homem de senhor do fim do juízo final por meio da decisão de construir o Paraíso
Terrestre se tornando um ente celestial. Este ponto fica explícito no seguinte poema de
Meishu-Sama: “Quando todos os homens abrirem as portas dos seus corações, desaparecerão
as trevas que envolvem este mundo (POEMAS ... 2009, p. 8) ”.
O mundo formado por seres que controlam suas características animais e que se
deixam conduzir pela força divina e tornam-se divinos será o reino dos céus na terra. Okada
estabelece isso no trecho de ensinamento abaixo:
Com o reino dos céus estabelecido, as coisas da noite finalmente terão acabado e a
felicidade reinará para os homens, com Deus em evidência dentro deles. Estas afirmações
remetem a percepção de novo mundo do Apocalipse:
Eis a presença de Deus com os homens. Habitará com eles; eles serão o seu
Povo, e ele, Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos
olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem choro e nem dor. As
coisas antiga desapareceram (GORGULHO; ANDERSON, 1981, p. 193)!
49
Conclusões
Referência
ANJOS, Emilson Soares dos. A passagem: Liturgia messiânica: o rito da morte na IMM do Brasil
e do Japão. 2. ed. São Paulo: Fundação Mokiti Okada, 2016
BOFF, Leonardo. Igreja: carisma e poder – Ensaios de Eclesiologia Militante. 3. ed.
Petrópolis: Vozes, 1982.
ELIADE, Mircea. O SAGRADO E O PROFANO. São Paulo: Martins Fontes, 1992. Disponível
em: <http://gepai.yolasite.com/resources/O%20Sagrado%20E%20O%20Profano%20-%
20Mircea %20Eliade.pdf >. Acesso em: 14 nov. 2019.
GORGULHO, Frei G. S.; ANDERSON, Ana Flora. NÃO TENHAM MEDO!: Apocalipse. 3. ed. São
Paulo: Edições Paulinas, 1981.
%C3%A7%C3%A3o.%20Ela%20foi%20constru%C3%ADda%20a%20partir%20do%20ac%C3%B
Amulo%20de%20todas%20as%20experi%C3%AAncias>. Acesso em: 14 nov. 2019
LUZ do Oriente: volume 2: biografia de Mokiti Okada. São Paulo: Fundação Mokiti Okada,
2002. 276p., il. (algumas col.), 21 cm.
LUZ do Oriente: volume 3: biografia de Mokiti Okada. 2. ed. São Paulo: Fundação Mokiti
Okada, 2005. 284p., il. (algumas col.), 21 cm.
MEISHU-SAMA. Atuar em consonância com o cristianismo e difundir a Verdade
amplamente no Oriente. 2019b. Disponível em:<https://messias.org.br/material/meishu
sama /Atuar_em_Consonancia.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2019
MEISHU-SAMA. CAPÍTULO 3 – O MAL E OS ESPÍRITOS PROTETORES. 2019c. Disponível em:
<http://www.jinsai.org/pt-BR/ensinamentos/criacao-da-civilizacao/volume-1-a-nova-
civilizacao/capitulo-3-o-mal-e-os-espiritos-protetores/>. Acesso em: 14 nov. 2019
MEISHU-SAMA. Ensinamento de Meishu-Sama – 8/10/2018. 2018b. Disponível em:
<https://izunomekyouku.jp/pt-br/2018/10/08/ensinamento-do-culto-do-outono/>. Acesso
em: 14 nov. 2019.
MEISHU-SAMA. Salmos e Ensinamento de Meishu-Sama – Culto às Almas dos
Antepassados (3 e 4 de agosto de 2019). 2019d. Disponível em:
<https://izunomekyouku.jp/pt-br/2019/08/08/salmos-e-ensinamento-de-meishu-sama-
culto-as-almas-dos-antepassados-3-e-4-de-agosto-de-2019/>. Acesso em: 14 nov. 2019
MEISHU-SAMA. Salmos e Ensinamento de Meishu-Sama – Culto do Natalício de Meishu-
Sama (23/12/2018). 2018a. disponível em: <https://izunomekyouku.jp/pt-
br/2018/12/23/salmos-e-ensinamento-de-meishu-sama-culto-do-natalicio-de-meishu-
sama/>. Acesso em: 14 nov. 2019
MEISHU-SAMA. Salmos e Ensinamento de Meishu-Sama – Culto do Paraíso Terrestre (15 de
junho de 2019). 2019a. disponível em: <https://izunomekyouku.jp/pt-
br/2019/07/09/salmos-e-ensinamento-de-meishu-sama-culto-do-paraiso-terrestre-15-de-
junho-de-2019/>. Acesso em: 14 nov. 2019.
MEISHU-SAMA. Salmos e Ensinamento de Meishu-Sama – Culto Mensal de Gratidão
(1/9/2019). 2019e. Disponível em: <https://izunomekyouku.jp/pt-br/2019/09/02/salmos-e-
ensinamento-de-meishu-sama-culto-mensal-de-gratidao-1-9-2019/>. Acesso em: 14 nov.
2019.
MÓDULO 2: CONHECIMENTOS PRÉVIOS ESSENCIAIS - AULA 4: A ERA DO DIA JÁ CHEGOU? Escola
da Espiritualidade, 2019b.
MORAES, Eva. A Eclesiologia de Comunhão de Yves Congar e sua Relevância para a Igreja de
Hoje. In: Atualidade Teológica, PUCRIO, Ano XI, nº 26, (maio/agosto. 2007), Rio de Janeiro:
PUCRIO, 2007. p. 157-193.
NAKAHASHI, Minoru. Seguindo Meishu Sama. São Paulo: Lux Oriens Editora Ltda, 2008.
52