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FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO

A ORIGEM DO CRISTIANISMO E SEU DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO-SÓCIO-


CULTURAL NO PRIMEIRO SÉCULO.

Anderson Ximendes

São Paulo - SP
2022
Anderson Ximendes do Espírito Santo

A ORIGEM DO CRISTIANISMO E SEU DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO-SÓCIO-


CULTURAL NO PRIMEIRO SÉCULO.

Trabalho de Conclusão de
curso apresentado como
requisito final no curso de
Bacharel em Teologia da
Faculdade Teológica Batista de
São Paulo.

Orientador: Profa. Dr.


Emmanuel Athayde.

São Paulo - SP
2022
Espírito Santo, Anderson Ximendes dos
A origem do cristianismo e seu desenvolvimento histórico-sócio-cultural
no primeiro século. / Anderson Ximendes do Espírito Santo. – São Paulo :
Faculdade Teológica Batista, 2022.
45 p.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência para a
conclusão do Curso de Bacharel em Teologia
Orientador: Emmanuel Roberto Leal de Athayde

1 Igreja cristã – História – Primeiro século 2 Cristianismo –


Desenvolvimento-histórico-sócio-cultural. I. Título. II. Athayde, Emmanuel
Roberto Leal de.

CDD 270.1
FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO

Anderson Ximendes do Espírito Santo

A ORIGEM DO CRISTIANISMO E SEU DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO-SÓCIO-


CULTURAL NO PRIMEIRO SÉCULO

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________
Professor: Dr. Emmanuel Athayde – Orientador

_____________________________________________________________
Professor Dr. – Leitor

São Paulo - SP
2022
DEDICATÓRIA

A meu Pai, Senhor Deus,

por seu imenso amor, por sua infinita graça e misericórdia.

Aos meus familiares, Maria do Rosario e Roseane,

que sempre me instruíram no caminho do evangelho, e


foram responsáveis por me tornar quem eu sou.

A minha amada esposa Alessandra,

a qual tem sido uma companheira em minha vida.


Agradeço de coração:

Ao Eterno Deus, pela oportunidade, força e apoio.

A minha querida esposa, pela compreensão e tolerância nas horas de ausência que
precisei ter para me dedicar aos estudos.

Ao referido Professor: Dr. Emmanuel Athayde, meu orientador, por contribuir na


construção dessa pesquisa, e também por sua paciência nas ocasiões de
orientação.

Ao querido irmão que me apoiou financeiramente, saiba que você foi provisão de
Deus no momento que eu mais precisei, ainda não sei quem você é, mais
certamente estará em minhas orações enquanto eu viver.

Aos meus amigos, meus pastores, Pérsio Luís Morais e Rafael de Donato, pessoas
as quais tenho como referência em minha vida.

À minha mais nova Igreja, PIB-Ferraz, e ao Pr. Alexandre Rubens por receber minha
família em seu rebanho.
“Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo,
tome diariamente a sua cruz e siga-me.”

Jesus, o Cristo de Deus.


SUMÁRIO

Introdução..................................................................................................................07
1 – O contexto histórico-socio-cultural e político do oriente no primeiro
século.........................................................................................................................09
1.1. – O período grego e o helenismo (331 a 167 a.C) .................................................09
1.2. – O surgimento do Império Romano na Macedônia e Grécia.................................12
1.3. – O período Romano como a Época do novo Testamento.....................................16
.... ... .... .

2 – A Origem do Cristianismo..................................................................................20
2.1 . – A passagem de Jesus pela história....................................................................20
2.2 . – Panorama da vida de Jesus e o cenário sócio-político e religioso......................23
2.3 . – O nascimento do Cristianismo...........................................................................27
3 – Aspectos do desenvolvimento histórico-social e político do cristianismo do
primeiro século.....................................................................................................31
3.1 . – A transformação da religião judaica a partir da fé em Cristo...............................31
3.2 . – Dois valores ressignificados da moral cristã primitiva........................................35
3.3 . – Possíveis aprofundamentos..............................................................................38
Considerações Finais................................................................................................41
Referências Bibliográficas........................................................................................42
RESUMO

Este trabalho teve como objetivo expor uma possibilidade para a origem do
cristianismo e seu desenvolvimento histórico-social e religioso no primeiro século da
era cristã. Essa parte da história do oriente antigo é repleta de elementos significativos
que fizeram parte do cenário em que o cristianismo nasceu. A partir da influência do
helenismo, e as políticas de tolerância religiosa contribuíram para a difusão das mais
variadas religiões em todo o oriente que estava vivendo um período de conturbadas
incursões e dominações marcadas por imperadores ambiciosos. Na Palestina, ainda
no primeiro século, o judaísmo, movimento que pertenceu o judeu, Jesus de Nazaré
é plural e fragmentado. Levando isso em consideração, foi necessário fazer uma
abordagem histórica evidenciando fontes que atestam a historicidade de Jesus e
revelam em qual cenário político-religioso ele nasceu e quais fatores o fizeram ser o
ponto central do cristianismo. Dito isso, o tema definido foi “A origem do cristianismo
e seu desenvolvimento histórico-sócio-cultural no primeiro século”. Por fim, levando
em consideração a teoria de Gerd Theissen: a religião dos primeiros cristãos;
observamos que existiram alguns aspectos no judaísmo que foram fundamentais para
o nascimento e desenvolvimento do cristianismo no cenário do primeiro século da era
cristã.

Palavras-Chave: Cristianismo, Origem, Primeiro Século, Judaísmo.


INTRODUÇÃO

Sabemos que o cristianismo emergiu na história como produto do


desenvolvimento histórico. Isso nos faz entender que não necessariamente houve um
surgimento de uma vez por todas, mas diversos acontecimentos contribuíram para
esse evento.

O presente trabalho visa expor uma possibilidade para origem do cristianismo


e seu desenvolvimento histórico-socio religioso no primeiro século da era cristã. Esse
período da história foi marcado por uma onda de segmentos religiosos oriundos de
um mundo judaico fragmentado em uma sociedade de cultura helênica greco-romana,
cenário esse onde encontraremos aspectos que impulsionaram o nascimento do
cristianismo primitivo.

Ao abordar esses aspectos, somos direcionados para história de Jesus de


Nazaré, e por conta disso faremos um breve relato a respeito da historicidade de
Jesus, utilizando como fonte primaria os relatos de Flávio Josefo historiador judeu, e
como fonte secundaria os evangelhos sinóticos e uma terceira fonte arqueológica
moderna para evidenciar o aparecimento de Jesus na história. E com isso iremos
compreender quais os elementos presentes em seu tempo e em seus ensinamentos
que contribuíram para o nascimento do cristianismo.

Lavando em consideração a teoria de Gerd Theissen: a religião dos primeiros


cristãos, faremos um breve panorama sobre a vida de Jesus a fim de observar
aspectos levantados por ele sobre elementos que foram fundamentais para o
nascimento do cristianismo dentro do cenário do primeiro século da era cristã.

Essa abordagem nos levará a perceber que, no advento da origem do


cristianismo, houveram alguns componentes do judaísmo que ganharam um
ressignificado levando em consideração a expansão de significado que Jesus faz
desses componentes. Essa ideia tem impacto direto na moral do cristianismo primitivo
e possivelmente foi mais um aspecto que colaborou para o desenvolvimento do
cristianismo primitivo na esfera social do primeiro século.

Não pretendo nesse trabalho apresentar a pesquisa moderna a respeito do


Jesus histórico, mesmo que ao visitar os autores que contribuíram para o
desenvolvimento dessa pesquisa me introduziram a esse cenário de pesquisa
histórica moderna a respeito da historicidade de Jesus, esse tema eu sugiro em meu
tópico sobre possíveis aprofundamentos que podem ser explorados a partir desse
tema.

O que de fato é nosso objetivo, está diretamente ligado as seguintes questões:


como podemos compreender a origem do cristianismo e seu desenvolvimento
histórico-socio religioso no primeiro século? e para responder isso seguiremos o
seguinte caminho, em primeiro lugar iremos contextualizar o primeiro século da era
cristã e perceber o papel que o helenismo e Roma exerceram, uma vez que fazem
parte da cultura do cenário que remete ao nascimento do cristianismo. Logo a partir
da história de Jesus observaremos quais elementos foram essenciais para o
nascimento desse segmento religioso.

E por fim, faremos um breve relato sobre o desenvolvimento histórico-social e


religioso do cristianismo, iniciando pela transformação do judaísmo a partir da
ressignificação de dois elementos presentes nesse segmento.
1 - O CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL-CULTURAL E POLÍTICO DO
ORIENTE NO PRIMEIRO SÉCULO

Para uma compreensão esclarecedora sobre a origem do cristianismo no


primeiro século, precisamos observar o contexto em que o mundo antigo foi
construído. Isso nos leva ao tempo em que a Macedônia dominou os medos-persas e
inaugurou um período na história chamado “Período Greco-macedônio1”. Neste
capítulo abordaremos os desdobramentos desse período bem como o cenário em que
os Gregos e sua cultura influenciaram essa parte da história do mundo antigo.

1.1 O PERÍODO GREGO E O HELENISMO (331 – 167 A.C)

A Macedônia foi um pequeno Estado vizinho da Grécia, os habitantes viviam


separados dos gregos. Essa pequena colônia é a cidade natal de Felipe, um perito
em arte militar e diplomacia, de boa educação e reputação. Responsável por organizar
um poderoso exército, ele foi também protagonista de importantes conquistas,
incluindo a Grécia em 338 a.C. Aos 47 anos de idade ele morre e seu sucessor
Alexandre Magno, inicia seu governo no Império Macedônio aos 20 anos de Idade.

Dando continuidade as ambições de seu pai, Alexandre se torna um dos


maiores conquistadores de seu tempo. Uma dessas conquistas foi Jerusalém,
lançando sobre ela seu propósito de unificação das línguas e raças, buscando o
progresso da ciência em prol do bem da humanidade. Seu maior desejo era ver um
mundo construído a partir desses propósitos. Esse período da história é
tradicionalmente conhecido como helenismo2. Aqui quero considerar um ponto de
partida na nossa pesquisa, a partir desse elemento cultural, em virtude da forte

1.TOGNINI, Enéias. O período interbíblico. 400 anos de silêncio profético – São Paulo: Hagnos,
2009p.83. “Período Greco-macedônio (359 a.C e 323 a.C). Aqui os medos-persas foram
conquistados por Alexandre, o Grande, da Macedônia, esse tempo de dominação do mundo antigo foi
chamado de Greco-macedônio.”
2MARTIN. N, Dreher. Coleção História da Igreja, a Igreja no Império Romano. P. 10. “Helenismo –
Termo utilizado tradicionalmente para descrever o período histórico-cultural em que a civilização
Grega espalhava sua cultura, seus costumes, arte, filosofia e religião.”
influência social que o helenismo exerce no cenário em que o cristianismo vai dar seus
primeiros passos.

Cada cidade que Alexandre “o Grande” dominava, lá estabelecia centros


humanistas responsáveis por helenizar o mundo a partir de sua cultura, sobre esse
tempo Martin Dreher declara;

A cultura da era de Alexandre Magno (356-323 a.C), quando língua,


costumes, utensílios, arte, literatura, filosofia e religião dos gregos se
espalharam por todo o Oriente, índia e regiões do Danúbio. As principais
características deste movimento foram a penetração e a mistura das
tradições dos diversos povos e culturas, sob a liderança da cultura grega.
(DREHER,1993, p.10)

Por conta da influência do helenismo no mundo antigo, a partir do domínio de


Alexandre Magno e o império grego sobre o Oriente, houve uma miscigenação de
cultura que impactou diretamente toda a sociedade conhecida da época. Alexandre
então busca expansão territorial afim de unificar o oriente. Sobre esse tempo Eneias
Tognini afirma:

Alexandre, adotou a política de expansionismo. Ao lado de sua ambição de


conquistas, de poder, somos obrigados a reconhecer que ele levou a cultura
e as artes gregas aos vencidos, obrigando-os, por esse meio, a aprenderem
o grego, língua em que os monumentos filosóficos, científicos, históricos e
literários estavam escritos. (TOGNINI, 2009, p.86).

A partir das ambições do imperador e suas políticas de expansionismo, fica


evidente o impacto sociocultural do helenismo no mundo antigo. Ainda Tognini (2009,
p.86) diz que “A cultura e a língua grega deram ao mundo certa uniformidade e
facilitaram o intercâmbio entre os povos”.

No campo da política, o regime era imperialista e o império estava dividido em


diversas províncias dirigidas por responsáveis de confiança do imperador e nomeadas
em cargos específicos como explica Dreher:

Administrativamente, o Império estava dividido em Províncias. Havia diversos


tipos: a) as Províncias imperiais, dirigidas por um Legatus August pro
praetore; b) as Províncias senatoriais, dirigidas por um procônsul; c) as
províncias especiais, dirigidas por um procurador. (DREHER,1993, p.10).

Alexandre Magno, o conquistador, foi responsável por todo esse movimento de


expansão na busca de helenizar o mundo antigo. Com esse propósito ele marca a sua
época como “O século de Alexandre”3.Ele era um jovem talentoso, bem preparado
para seu oficio em busca de alcançar seus objetivos estabelece ao menos 70 cidades
colônias sendo a principal Alexandria no Egito antigo.

O helenismo traz consigo a língua grega que passa a ser a língua da


comunicação, o grego koinê diálektos. Com esse advento, a filosofia grega ganha
grandes avanços, movimentos filosóficos nascem como os pré-socráticos séc VI a.C,
que por sua vez buscam explicar o mundo a partir da natureza. Agora o mundo greco-
romano serve de palco para a filosofia ocidental, Klein escreve:

A história da filosofia ocidental desenvolveu-se no mundo grego a partir dos


pré-socráticos, que inicialmente tentam explicar a natureza. No VI século a.C.
os filósofos Tales, Anaxímenes e Anaximandro, todos de Mileto, tentam
explicar o universo a partir de um elemento primordial, causa de todas as
coisas. (KLEIN, 2007, p.23).

Outros nomes importantes da filosofia como Heráclito de Éfeso V a.C, o próprio


Sócrates (370? / 399 a.C.), Platão 427-347 a.C seu discípulo e Aristóteles (384-322
a.C.), desenvolvem suas escolas de pensamento grego que se tornam famosas por
todo o mundo ocidental conhecido. O teólogo Tognini afirma “Alexandre fora educado
aos pés de Aristóteles...” (TOGNINI, 2009, p.84).”. Influenciado pelo aristotelismo e
suas próprias ambições imperiais como as políticas de expansionismo e incursões de
dominação territorial, Alexandre e o helenismo marcaram a sociedade, a história, a
cultura e a religião do seu tempo. Ele não deixou sucessores diretos e seus generais
travam guerras pelo poder após a sua morte. O resultado dessas guerras é um império
dividido e um longo período de batalhas sangrentas. Uma merece destaque, Bovo
escreve:

A história do povo judeu e da Palestina esteve estreitamente relacionada com


as vicissitudes das últimas monarquias helenísticas da Ásia Menor e seu
confronto com os romanos. A princípio, a Palestina foi anexada por Antíoco
III, que quis introduzir nela os costumes helenísticos. Isto desencadeou uma
revolta liderada por Judas Macabeu. (BOVO, 2007, p.20).

Essa revolta e os embates por domínio de território palestino duraram décadas,


até que em dezembro de 167 a.C, Antíoco IV4, conhecido como Epifânio assume o

3TOGNINI, Enéias. O período interbíblico. 400 anos de silêncio profético – São Paulo: Hagnos,
2009p.86

4KLEIN, Carlos. Curso de História da Igreja. São Paulo: Fonte Editorial, 2007. p.25.
poder e tem grande ambição por domínio do território da Judeia. Buscando ainda
estabelecer o helenismo, dessa vez, por imposição logo encontra resistência por parte
dos Judeus. Epifânio foi um grande perseguidor dos judeus, logo quando assume o
trono da Síria proíbe a prática da religião judaica na Judeia e manda destruir os
manuscritos do Antigo Testamento. Ainda neste ano ele é responsável por construir
um altar para Zeus dentro do Templo de Jerusalém e sacrifica uma porca profanando5
assim o Templo.

Em meio a esse governo de crueldade e perseguições religiosas, surge uma


liderança a partir de Judas Macabeu, como líder dos Macabeus. Esse período de
guerras dura aproximadamente 104 anos (167-63 a.C). Nesse tempo a história fica
marcada por perseguições, lutas, sacrifícios e alguns feitos que vale apena
destacarmos. Pureza diz:

Judas Macabeu e seus familiares lideraram uma rebelião contra Antíoco IV,
que ficou conhecida como Revolta dos Macabeus. O grupo, inicialmente
pequeno, conseguiu inesperadas vitórias e o movimento foi ganhando corpo.
Liderados por Judas, os Macabeus tomaram o Templo, retiraram os deuses
pagãos e construíram outro altar. Uma grande festa de reconsagração foi
realizada, dando início a um evento anual, até hoje celebrado pelos judeus,
chamado de Festa da Dedicação (Chanukah). (PUREZA, 2018, p.34).

Por algumas décadas os descendentes dos Macabeus governam o território da


Judeia reestabelecendo o judaísmo e vivendo um período de paz e prosperidade.

Contudo, fica evidente que houve um período de helenização do mundo


conhecido da parte dos gregos e expansão do seu conhecimento filosófico e toda sua
cultura nas regiões onde houve domínio grego. Todo esse cenário justifica o contexto
histórico-socio-cultural do segundo século que servirá de base para a entrada do
primeiro século a.C período esse em que vamos concentrar nossa pesquisa, agora
faremos um breve relato a respeito do surgimento do império romano na macedônia
e Grécia.

5TOGNINI, Enéias. O período interbíblico. 400 anos de silêncio profético – São Paulo: Hagnos, 2009.
p.96.
1.2 – O SURGIMENTO DO IMPÉRIO ROMANO NA MACEDÔNIA E GRÉCIA

Na Europa e Ásia, o I e II século antes de Cristo é marcado pela rápida


ascensão de alguns estados que detém o poder econômico e militar de importantes
cidades nessas localidades. Neste cenário irão surgir grandes potências que serão
responsáveis por subjugar outros povos. No ocidente, o estado de Roma logo depois
de uma vitória na famosa batalha de Cartago, detém o poder e consegue governar
por meio século toda a região do mar Mediterrâneo.

Em 202 a.C o estado Romano adota uma decisiva política de expansão que
mudaria a história de seu tempo, sobre esse período Bovo escreve:

Logo ao terminar a Segunda Guerra púnica com a derrota de Cartago (202


a.C), o estado romano começou a aplicar uma decisiva política de expansão.
No norte da Itália, os povos celtas e as tribos Língures que haviam apoiado
Aníbal foram rapidamente submetidos e seus territórios foram fundadas
colônias de direito romano ou latino. (BOVO, 2007, p.12).

Foram aproximadamente 175 anos de incursões militares como essa e contra


as cidades vizinhas. Foi um período marcado por batalhas, guerras e grandes
conquistas territoriais por parte dos Romanos, entre elas Macedônia, Grécia e a
própria Ásia.

A partir dessas dominações, no segundo século antes de Cristo acontece o


episódio da revolta dos Macabeus6 como já falamos, episódio esse que foi apoiado
pelos romanos e nos anos seguintes, levando em conta o enfraquecimento da Síria a
Palestina torna-se independente.

Simão, da dinastia dos Hasmoneus é eleito como sumo sacerdote e rei, porém
o povo judeu ainda vivia tempos de fortes tensões religiosas e políticas. O resultado
dessas tenções é o surgimento de dois grupos, os Saduceus e os Fariseus. A respeito
destes Klein nos esclarece:

Com João Hircano, o Macabeu (135-105 a.C.), cristalizaram-se os dois


principais partidos religiosos do judaísmo; a) os saduceus – partido
aristocrático ao qual pertencia a maior parte dos sacerdotes e b) os fariseus
– que se tornaram ferrenhos defensores da lei, conforme interpretada pela
tradição. (KLEIN, 2007, p.25).

6
BOVO, Elisabete. A época do Império Romano. Espanha: Ed. Folio S.A. 2007. p.20.
A vida religiosa na Palestina estava dividida entre esses dois partidos que
tinham influência política e religiosa. Os fariseus, defendiam um movimento reformista,
que buscavam cumprir criteriosamente todas as leis de Moisés. Já sobre os saduceus
podemos dizer que era um partido de elite, onde os membros pertenciam a famílias
importantes da sua época, sobre estes grupos Dreher nos conta:

O partido mais importante sem dúvida, era o dos fariseus, um movimento


reformista, que desejava um cumprimento ao pé da letra da lei mosaica: a
Torá. Almejavam um “judaísmo decidido” Tinham grande influência no seio
da população. Os saduceus eram um partido elitista, sendo seus
representantes membros das camadas superiores da população.
(DREHER,1993, p.14).

Esses movimentos político-religioso teve certa divisão. Os fariseus,


conservadores e tradicionalistas no campo religioso se opuseram a qualquer tipo de
relação com os estrangeiros que estavam em sua terra, isso incluía os romanos, e os
saduceus partidários foram menos restritos a essa divisão que contribui para o embate
entre Aristóbulo e Hircarno, fariseu e saduceu que desejavam o trono. Com a morte
da Rainha Salomé Alexandra houve uma invasão em Jerusalém, BOVA escreve,

Esta divisão também se transladou para a dinastia dos hasmoneus e o


confronto entre os irmãos Aristóbulo e Hircano, o primeiro fariseu e o segundo
saduceu, pretendentes ao trono com a morte da mãe, rainha Salomé
Alexandra (BOVO, 2007, p.20).

Sob comando de Pompeu, o império romano invade Jerusalém, Pureza


descreve a invasão “Em 37 a.C., aproveitando-se de uma rebelião civil, Roma invadiu
definitivamente Jerusalém com onze legiões e seis mil cavaleiros”. (PUREZA, 2018,
p.34). Com essa intervenção, o poder romano se estabelece em Jerusalém, um
governador idumeu de nome Antípater é colocado como líder da política local e
também se estabelece um sumo sacerdote chamado Hircano II.

Com o apoio de César Augusto, foi permitida a reconstrução das muralhas de


Jerusalém, a fortificação de outras cidades dando ao judaísmo liberdade religiosa.
Herodes “o Grande”7até então procurador da Judeia, torna-se governador na
Judeia por um período de aproximadamente três décadas até o advento de Jesus.

7BOVO, Elisabete. A época do Império Romano. Barcelona, Ed. Folio S.A. 2007. p.20-21.
Seu reinado foi marcado por vários projetos de construção financiados por tributos
estabelecidos no seu governo.

No ano de 37 a.C, período em que Herodes, “o Grande”, reinava, com apoio do


povo romano, ele obteve o reconhecimento oficial da religião judaica, agora conhecida
como religio licita, religião essa oficialmente “tolerada” pelos romanos. O historiador
Dreher diz:

Nas cidades onde residiam no Império Romano, os judeus podiam manter


livremente suas tradições célticas. Participavam do comercio, da agricultura,
gozavam da cidadania romana e estavam inclusive dispensados do culto ao
imperador, da prestação do serviço militar no sábado etc. (DREHER,1993,
p.15).

A situação religiosa do império romano era plural, por conta dessa tolerância
estabelecida pela política, o aspecto multicultural dos povos locais fizeram com que
diversas religiões fossem praticadas nesse período, acerca disso escreve Klein:

A religião oficial não satisfazia as necessidades do povo, daí uma certa


invasão das religiões orientais, como o culto de Cibele, a Grande Mãe, que
chegou a Roma dois séculos antes de Cristo, considerada uma religião
primitiva de adoração da natureza. O culto de Isis e Serápis, com ênfase na
regeneração, entrou em Roma cerca de 80 a.C e o de Mitra passou a ser
importante em Roma apenas a partir do ano 100 da Era Cristã. (KLEIN,2007,
p.58).

A partir dessas observações podemos entender que havia uma mistura de


religiões praticadas no Oriente Médio, principalmente na Palestina. O historiador
Dreher diz que o sincretismo8 nesse período entra em ascensão: “no campo religioso,
fala-se aí de sincretismo. Houve também influencias do mundo do Oriente sobre a
cultura dos gregos, como não poderia deixado ocorrer. (DEHER, 1993, p.11)

Essa mistura de cultos revela que o império romano é o palco das mais diversas
religiões pagãs com as quais os cristãos futuramente terão seus confrontos. Apesar
dessa diversidade de cultos a outros deuses, o sincretismo de alguma forma estava
preparando o caminho para uma crença monoteísta a partir das semelhanças e
unificação de algumas religiões não cristãs.

8GONZÁLEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo 2. Ed. – São Paulo: Vida Nova 2011. p.22. “O
sincretismo, que consiste na mistura indiscriminada de religiões, foi característica da bacia do
mediterrâneo a partir do século III a.C.
Dentro dessa diversidade, as classes cultas do império entendiam a religião
não mais como uma convicção pessoal, elas entendiam a religião como um dever de
todo cidadão. Dever esse que era executado com sacrifícios no templo fazendo com
que os deuses fossem vistos a partir de uma ordem política.

A maior autoridade política da época era sem dúvida o rei, Herodes ocupava
essa posição, conhecido como “o Grande”, foi responsável por alguns aspectos
positivos, Tognini afirma:

Herodes, o grande, foi um administrador sem igual. Além da reconstrução de


Jerusalém e da remodelação do templo, ele construiu Samaria, com o nome
de Sebaste, e Cesareia do Mar. Fez uma estrada maravilhosa ligando
Sebaste a Cesareia. Parece que sua intenção era transferir a capital dos
judeus de Jerusalém para Sebaste. Construiu a Fortaleza de Maquero, onde
João Batista foi executado por um descendente de Herodes. Por toda a
Palestina, ele ergueu obras notáveis, até mesmo fora dos territórios de Israel
fez notáveis construções. (TOGNINI, 2009, p.140).

Como vimos, o Rei Herodes procurava construir e reconstruir as obras na


tentativa de ganhar a simpatia dos seus súditos. Entre essas construções está o
templo dedicado a Augusto, todo feito em mármore construído em Pánium, noroeste
da Galileia, vejamos o que González escreve:

Herodes fez todo o possível para introduzir o helenismo no país. Com esse
propósito, fez construir templos em honra a Roma e a Augusto em Samaria e
Cesareia. Porém, quando se atreveu a colocar uma águia de ouro na entrada
do Templo, os judeus se sublevaram e Herodes teve que recorrer a violência.
(GONZÁLEZ, 2011, p.19.).

Mesmo utilizando a violência em algumas ocasiões, Herodes “o Grande” tem


seu reinado marcado por grandes trabalhos públicos. Cesareia ganha promoção a
categoria de capital da província e Jerusalém se torna a cidade que Jesus conheceria
em seu tempo. O templo em Jerusalém foi ampliado e reformado. Após a morte de
Herodes, seu reino foi dividido entre seus filhos, Herodes Antipas reinando sobre a
Galiléia e a Peréia. Felipe sobre o Noroeste da Palestina e Arquelau Recebe a Judeia,
a Iduméia e a Samaria. Arquelau é destituído do seu posto de governante no ano de
6 d.C. Substituído por Pôncio Pilatos em 26-36 d.C9este governava no contexto em
que o ministério de Jesus foi exposto ao mundo, época tratada como novo testamento
que ganhará destaque no próximo bloco desta pesquisa.

9 ROGERSON, John. Terras da Bíblia, Espanha:Ed. Folio S.A. 2004. p.39.


É nesse mundo onde o cristianismo ganha suas primeiras atuações, e o
Judaísmo era uma das muitas religiões que se praticava na época do novo
testamento. Eram tempos difíceis para os judeus, de alguma forma eles resistiam à
cultura da helenização e lutavam contra a dominação das políticas de Roma no
primeiro século.

Podemos concluir que ao observar o surgimento do período tido como grego-


macedônio e o aparecimento do helenismo como força de cultura da época
influenciaram todo esse contexto histórico-social, levando em consideração a grande
força de Roma como império, alguns fatos históricos marcaram os fundamentos
sociais, políticos e religiosos do Oriente Médio. As políticas de expansão e dominação
com o surgimento do Império, os acordos de tolerância religiosa e a prática da
religiosidade dos diversos segmentos religiosos junto da criação desses segmentos
servirão como base para a chegada de um período novo na história que os teóricos
chamam de Novo Testamento.

1.3 – O PERÍODO ROMANO COMO A ÉPOCA DO NOVO TESTAMENTO.

Esse período da história remete ao nascimento de Jesus de Nazaré, Eusébio


nos esclarece:

Corria pois o ano 42 do reinado de Augusto e o vigésimo oitavo desde a


submissão do Egito e da morte de Antonio e de Cleópatra (com a qual se
extinguiu a dinastia egípcia dos Ptolomeus), quando nosso Salvador e Senhor
Jesus Cristo nasceu em Belém da Judeia, conforme as profecias a seu
respeito, nos tempos do primeiro recenseamento, e sendo Quirino
governador da Síria. (EUSÉBIO, 2005, p.27).

Jesus nasce no fim do reinado de Herodes10, logo um anjo do Senhor se


manifesta em sonho a José e diz que ele deve fugir ao Egito a fim de preservar o
recém-nascido das mãos do Rei que orquestrava um decreto de morte as crianças de
sua idade. Depois que os pais de Jesus souberam da morte do tirano, retornam a
Galiléia11. Na ocasião de sua morte, em seu testamento Herodes concede seu reino
a seus três filhos Arquelau, Antipas e Filipe iniciando assim um período de dinastia
Herodiana explicada neste esquema de Blomberg:

10 Mateus 2.1-28
11 Mateus 2,22-23
Figura 1 – Esquema simplificado da dinastia Herodiana12

Depois da morte de Herodes, Arquelau promove medidas opressivas contra os


judeus, e como resposta a essas medidas os judeus enviam uma declaração a Roma
a fim de recorrer sobre as decisões do testamento de Herodes. A decisão de Augusto
foi repartir as terras, entregando Judéia e Samaria a Arquelau, Galiléia e Peréia a
Antipas e Felipe fica com as províncias ao norte do mar da Galiléia13. O reinado de
Antipas na Galiléia é marcado pela reconstrução da cidade de Séforis e edificação de
Tiberíades e Antipas foi o Herodes que aparece em vários pontos da vida de Jesus14.

Em 6 d.C, Arquelau é banido da Judéia e Roma passa a designar uma série de


governadores e procuradores para o sul de Israel a fim de preservar a ligação e
controle direto com o império. Assim então ocupa esse oficio Pôncio Pilatos de 26-36
d.C, tempos contemporâneos ao advento de Jesus.

Contudo, o cenário em que remete a contemporaneidade de Jesus é o


novo testamento, e nele se desenha sobre o regime do Império Romano, em um
ambiente religioso plural. Se faz necessário destacar aqui, o contexto religioso que o
mundo grego-romano estava vivendo no tempo de Jesus Cristo. No século primeiro
da era cristã pode-se encontrar uma vasta mistura de crenças e diversos movimentos
religiosos conforme Blomberg destaca:

12 BLOMBERG, Craig l. Introdução aos Evangelhos: Uma pesquisa sobre os 4 evangelhos. São
Paulo: Vida Nova, 2009. p.36.
13Lucas 3.1
14Marcos 6.14-29 e Lucas 13:31-33;23-6-12
O mundo grego-romano no tempo de Jesus Cristo apresentava um
vigoroso fluxo religioso. O século I tem sido considerado como um período de
“crise de consciência”. Antigas visões de mundo e ideologias tornavam-se
cada vez mais antiquadas. Novos cultos proliferavam. (BLOMBERG, 2009,
p.45).

Esse governo é tolerante as questões religiosas e por conta disso podemos


encontrar diversos segmentos religiosos praticando seus ritos, inclusive os judeus
exercendo sua religião nas sinagogas e no templo. Essa tolerância também permite a
prática de culto a outras religiões tidas como religiões de mistério evidenciando um
panorama de sincretismo religioso desempenhado principalmente pelos súditos e
soldados do exército de Roma.

Dentro de todo esse quadro encontraremos a partir do início do ministério


itinerante de Jesus e da sua proclamação uma possível inauguração da igreja cristã
do primeiro século a partir do cumprimento do ministério profético da figura de Jesus
o Cristo assunto esse que abordaremos no próximo capítulo.

Contudo, o que podemos considerar até aqui é que todo esse conjunto de
elementos fazem parte do pano de fundo contextual do primeiro século. A história da
sociedade nessa época é marcada pela helenização inicialmente propagada por
Alexandre e seus sucessores inaugurando assim o período grego-macedônio.

Alexandre e suas ambições de dominação e expansão marcham buscando


domínio territorial até o surgimento de Roma. O tempo do império Romano é
conhecido então por ser mais ambicioso que o período anterior. As dominações
chegam em território Palestino e o povo local experimenta uma mistura de cultura
greco-romana, helenizada, com uma pluralidade religiosa revelando o sincretismo na
esfera religiosa e âmbito social. É nesse cenário socio-político-religioso que as
narrativas do novo testamento acontecem.

Pode-se notar então que no primeiro século, diante de todo esse contexto a
sociedade experimentará o nascimento de mais um segmento religioso, o cristianismo
a partir da figura de Jesus de Nazaré e sua peregrinação na história, temas esses que
trataremos no próximo capítulo.
2 – A ORIGEM DO CRISTIANISMO

Em algum período do primeiro século houve o surgimento do cristianismo e da


igreja cristã. A reflexão sobre este tempo nos remete a um cenário da história onde o
judaísmo é variado, as religiões helenistas presentes no mundo greco-romano vão
experimentar uma diversidade de novos cultos entre combinações de crenças e
comportamentos oriundos das mais diferentes religiões. É aqui, nesse contexto, que
vai surgir o cristianismo e a igreja cristã a partir da figura de Jesus. Neste capítulo
faremos um breve relato a respeito da historicidade de Jesus de Nazaré e sua
passagem pela história como protagonista do cristianismo.

2.1– A PASSAGEM DE JESUS PELA HISTÓRIA.

Gerrard Theissen (2002, p.21), fala de um universo de pesquisa sobre a


historicidade de Jesus a partir de alguns estudos modernos sobre a história a respeito
da figura do Jesus Histórico e sua passagem para o cristo da fé. Não trataremos neste
tópico a respeito dessa questão, o que faremos aqui é uma breve observação sobre
algumas fontes históricas que evidenciam a passagem de Jesus na história do
primeiro século.

Iniciaremos com o historiador Flávio Josefo:

Nesse mesmo tempo, apareceu Jesus, que era um homem sábio, se é


que podemos considerá-lo simplesmente um homem, tão admiráveis eram
suas obras. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade
e foi seguido não somente por muito judeus, mas também por muitos gentios.
Ele era o Cristo. Os mais ilustres dentre os de nossa nação acusaram-no
perante Pilatos, e este ordenou que o crucificassem. (JOSEFO, 2008, p.31).

Esse relato traz informações evidentes não só atestando a historicidade de


Jesus, mas, relatando fatos que condizem com os escritos que encontramos nos
evangelhos sinóticos como é o caso da sua condenação e morte.
Para Theissen (2002, p.20), quanto mais uma fonte histórica se aproxima do
seu conteúdo, mais ela tem valor, por conta disso se faz importante determinar a idade
da fonte a fim de esclarecer a proximidade histórica dela. Com isso, abre-se a
possibilidade de considerar a proximidade dos evangelhos sinóticos com o Jesus
Histórico, uma vez que atribui-se a autoria destes escritos aos apóstolos; os
evangelhos de Mateus e João provem dos apóstolos de Jesus que são testemunhas
oculares dele, os evangelhos de Lucas e Marcos vem dos discípulos de apóstolos,
pessoas que tiveram acesso diretamente a relatos de testemunhas oculares, Marcos
é atribuído a João Marcos, Lucas a Lucas o acompanhante de Paulo, e o evangelho
de João, a um discípulo e presbítero de Jesus que leva esse nome. (THEINSSEI,
2002, p.38).

Certo disso, encontramos alguns trechos dos evangelhos sinóticos que atestam
a passagem de Jesus na história, observaremos isso através dessa figura:

Figura 2 – Passagens sobre o nascimento, morte e ressureição de Jesus


a partir dos evangelhos sinóticos.15

Utilizando-se da fonte dos evangelhos sinóticos, que datam em sua maioria o


primeiro século, estes, que foram escritos pelas testemunhas oculares de Jesus e
pelos discípulos que tiveram contato diretamente com ele. Podemos claramente
perceber que os quatro autores, destacaram de diferentes percepções, os momentos
mais significativos da vida de Jesus na história, seja no nascimento, morte ou
ressureição.

Uma sugestão importante que precisamos acrescentar a respeito do


testemunho da testemunha ocular registrada nos evangelhos sinóticos, é a

15 BÍBLIA. Nova Versão Internacional – São Paulo: Ed. Vida, 2003.


recuperação do sentido no qual esses evangelhos são testemunho, podemos
considerar as palavras de Richard Bauckham;

Os evangelhos entendidos como testemunhos são meios inteiramente


apropriados de acesso à realidade histórica de Jesus. (BAUKHAM, 2011,
p.18).

A partir dessas perspectivas, levaremos em conta a passagem de Jesus dentro do


cenário histórico do primeiro século.

Outra evidência, essa mais moderna, a respeito da passagem de Jesus dentro


da história, é revelada por Dominic Crossan no cenário arqueológico ele diz;

As dez principais descobertas arqueológicas abrangem objetos


particulares e lugares gerais. As primeiras quatro referem-se a objetos
específicos - com ligações diretas ou indiretas com textos dos
evangelhos embora contenham importantes aspectos de seus mundos
contemporâneos. (CROSSAN, 2007, p.19).

Ele sugere escavações arqueológicas relacionadas com Jesus, são dez,


conforme a lista:

1- Ossuário de Tiago, irmão de Jesus


2- Ossuário do sumo sacerdote José Caifás
3- Inscrição do prefeito Pôncio Pilatos
4- Esqueleto de Yehochanan crucificado
5- Lago de Tiberíades: casa de Pedro e Barco Galileu
6- Cesareia de Jerusalém: cidades de Herodes Antipas
7- Séforis e Tiberíades: cidades de Herodes Antipas
8- Massada e Qumrã: monumentos da resistência judaica
9- Gamla e Jodefá: cidades judaicas na Galiléia do primeiro século
10- Vasos de pedra e piscina com degraus: religião judaica.

Ele explica que essas são as dez mais importantes descobertas


arqueológicas16 exegéticas sobre Jesus evidenciando também sua passagem na
história. Todas essas considerações nos revelam que de fato Jesus passou pela
história, seja através dos dados históricos fornecidos por Flávio Josefo, ou seja por

16CROSSAN, John Dominic & Reed Jonathan: Em busca de Jesus, debaixo das pedras, atrás dos
textos. Td. Jaci Maraschin. São Paulo: Paulinas, 2007. P.19-20.
todas as referências textuais que os escritores dos evangelhos sinóticos deixaram em
seus registros, ou pela questão da pesquisa arqueológica que evidenciou diversos
registros relacionados ao período em que Jesus viveu, agora no próximo bloco
faremos um breve relato a respeito de como foi a vida de Jesus a partir de um
panorama contextual histórico até o surgimento do cristianismo no primeiro século.

2.2- PANORAMA DA VIDA DE JESUS E O CENÁRIO SÓCIO – POLÍTICO-


RELIGIOSO.

Para que se possa falar a respeito da vida de Jesus, precisamos iniciar a partir
do período da história em que ocorreu o nascimento de Jesus de Nazaré, Eusébio
nos esclarece:
Corria, pois o ano 42 do reinado de Augusto e o vigésimo oitavo desde a
submissão do Egito e da morte de Antonio e de Cleópatra (com a qual se
extinguiu a dinastia egípcia dos Ptolomeus), quando nosso Salvador e Senhor
Jesus Cristo nasceu em Belém da Judeia, conforme as profecias a seu
respeito, nos tempos do primeiro recenseamento, e sendo Quirino
governador da Síria. (EUSÉBIO, 2005, p.27).

Jesus nasce no fim do reinado de Herodes17, logo um anjo do Senhor se manifesta


em sonho a José e diz que ele deve fugir ao Egito a fim de preservar o recém-nascido
das mãos do Rei que orquestrava um decreto de morte as crianças de sua idade.
Depois que os pais de Jesus souberam da morte do tirano, retornam a Galiléia18.

O nascimento de Jesus foi um evento que marcou a história de sua época.


Mediante ao anúncio19 sobrenatural da parte do Senhor através do seu anjo esse
milagre aconteceu. Ainda que coberto de todo vislumbre do nascimento virginal, esse
episódio não ganha detalhes específicos nos Evangelhos canônicos, ao contrário
encontramos relatos de simplicidade sobre como foi esse desfecho.

Como pede a tradição, o menino Jesus é apresentado no templo em Jerusalém


no seu oitavo dia de vida e recebe o nome de Jesus que quer dizer “Javé (Senhor) é

17 Mateus 2.1-28
18 Mateus 2,22-23
19 Mateus 1.28-25 e Lucas 1.26-38
Salvação.”20 Encontramos poucos escritos a respeito da infância e juventude de
Jesus. Os autores dos Evangelhos sinóticos pouco se atem a relatar esse período da
vida de Jesus, o que sabemos é que depois desse episódio, Jesus aparece
anunciando sua mensagem21por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas e pregando
as boas novas do Reino, operando sinais e maravilhas entre o povo.

Na segunda década no século primeiro, em Roma, reinava o supremo Tibério,


Valério Grato e Pôncio Pilatos governavam a Judéia, José Caifás exercia o cargo de
sumo sacerdote dos judeus, em Jerusalém ocupava a presidência do Sinédrio e dirigia
os saduceus. Como lideres influentes do farisaísmo estavam Hilel e Shamai, vivos
ainda na ocasião em que Jesus exercia seu ministério, e no curso desse advento,
Gamaliel substitui Hilel. Há alguns quilômetros ao sul de Jerico, próximo ao Mar Morto,
os essênios cultuavam Deus em recolhimento sagrado, articulando a conversão do
restante dos judeus ao verdadeiro judaísmo, e vizinho do Egito, em Alexandria, Fílon
o filósofo, ocupava-se em contribuir para que o estilo de vida judeu se harmoniza-se
com a sabedoria da Grécia, objetivo esse que partia dos judeus civilizados da
diáspora. (VERMES, 1996, p.13).

A partir dessas declarações, já podemos ter uma ideia de como era o mundo
em que viveu Jesus, logo no início da sua peregrinação, não demora, ele recruta um
colegiado de discípulos sendo eles, Simão Pedro, André, Tiago filho de Zebedeu,
João, Felipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus o publicano, Tiago, Tadeu, Simão o Zelote e
Judas o que traiu22.

É importante destacar aqui, que alguns dos discípulos que Jesus recrutou
pertenciam a segmentos diferentes do judaísmo23 que era diversificado e plural, como
já falamos, o contexto sócio-político religioso de Jesus era fragmentado e as opções
religiosas eram divididas.

Theissen (2009, p.60), explica que a constituição desse círculo dos Doze, é uma
ação político-simbólica, uma ação contra a situação do Israel local, que abrigava

20PUREZA, Rafael. Jesus, entre a história e a fé. Brasília: Editora 371, 2018. p.52
21
Mateus 4:23
22
Mateus 10.2-4
23
GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Ed. Vida, 2005. “Simão – é um dos
apóstolos conhecidos de Jesus, Zelote, refere-se ao partido político nacionalista que existia no
judaísmo, naquela época”. Pg.611.
tradições primitivas de oposição, como o caso do grupo que vivia ao sul de Jericó, às
margens do Mar Morto, os essênios ascéticos que cultuavam a Deus em um estrito e
sagrado recolhimento acreditando que um dia eles seriam responsáveis pela
conversão do resto do povo judeu ao verdadeiro judaísmo, praticado apenas por eles,
que eram seguidores do Mestre de Justiça. Os essênios eram apenas mais fragmento
do mundo judaico plural existente à época. Para ilustrar esse cenário, podemos
observar as diversas opções religiosas a partir do quadro de Blomberg:

Figura 3 – A variedade de opções religiosas não cristãs do primeiro século24

Jesus inicia sua jornada junto com o colegiado de discípulos, no primeiro século
dentro de um mundo judaico, grego-romano onde diferentes frentes defendiam suas
ideologias e seus valores éticos e morais dentro da sua opção religiosa. a partir dessa
herança helênica, a sociedade do primeiro século vive essa difusão de pensamentos

24
BLOMBERG, Craig l. Introdução aos Evangelhos: Uma pesquisa sobre os 4 evangelhos. São
Paulo: Vida Nova, 2009. p.58.
entre tantas opções religiosas fazendo com que o século primeiro passe a ser
conhecido como um período de crise de consciência. (BLOMBERG, 2009, p.45).

Para que fique claro, como essa difusão de pensamentos era presente no mundo
judaico, podemos observar a figura abaixo onde ilustra essa divisão de ideias:

Figura 4 – As seitas judaicas contemporâneas a Jesus25

Ainda falando do contexto religioso que remonta o cenário histórico onde Jesus
viveu, as religiões helenísticas praticadas nesse tempo também difundiram suas
correntes de pensamento no mundo grego-romano.

O Gnosticismo foi uma corrente filosófica presente nesse período, seguindo


Stephan Hoeller;

Historicamente e geograficamente falando, o gnosticismo desenvolve-


se na mesma época e nos mesmos lugares do início do cristianismo com o
qual foi, e permaneceu, entrelaçado- Palestina, Síria, Samaria e Anatólia, e
posteriormente no Egito ptolomaico (HOELLER, 2005, p.102).

Ela explica, que o gnosticismo essencialmente está ligado a uma experiencia


espiritual especifica, centrada em uma espécie de visão e união da teologia com a

25
BÍBLIA. Nova Versão Internacional – São Paulo: Ed. Vida, 2003. P.1656.
filosofia, entendendo que a vida terrena é cheia de sofrimento e impermanência, e
enquanto a pessoa não elevar sua consciência para além do mundo físico, sua alma
estará aprisionada na escuridão do mundo físico exterior, mundo esse chamado de
mundo da mente. Acreditando que o ser humano não é essencialmente produto do
mundo material e que este pode alcançar um status de gnose, como potencial
salvação do indivíduo. (HOELLER, 2005, pgs. 31-34).

Já as religiões tidas como, de mistério também estavam presentes nesse cenário


como destaca Blomberg:

As chamadas religiões de mistério começaram a preencher cada vez


mais o vazio religioso de inúmeras pessoas, na vida helenística do século I.
Tal denominação abrange uma ampla variedade de organizações secretas e
cultos muitas vezes sem relação entre si. (BLOMBERG, 2009, p.51).

Em meio a todo esse panorama de multidiversidade no aspecto religioso,


podemos pensar que o mundo no qual a história de Jesus protagonizada, oferecia
uma serie de possibilidades e opções de tradições religiosas das mais variadas, aqui
esse mundo vai experimentar o nascimento do cristianismo tema esse que
abordaremos a seguir.

2.3– O NASCIMENTO DO CRISTIANISMO.

Se considerarmos o cristianismo como uma religião cristã primitiva, é possível


buscar a origem da religião dos primeiros cristãos, Theissen trabalha essa teoria
abordando alguns conceitos, e ao falar das convicções que estabeleceram a religião
dos primeiros cristãos ele diz:

Portanto, no âmbito de uma teoria da religião cristã primitiva, pode se


tornar compreensível como se chegou aquela crescente consciência de
certeza: os primeiros cristãos estavam profundamente convencidos da
superioridade de seu universo simbólico em relação a todos os outros
universos de convicções concorrentes. (THEISSEN, 2009, p. 410).

Essas convicções em Jesus acontecem tanto no recrutamento do seu


colegiado de discípulos quanto no desenvolvimento da sua peregrinação, morte e
ressureição, acontecimento esses que estão presentes na história do primeiro século
como já falamos.

Ainda para Theissen (2009, p.43), Jesus viveu, agiu e pensou como um judeu
de seu tempo, particularmente ele pertenceu a duas religiões. Ao judaísmo, religião
essa que estava ligada diretamente a seu coração, e ao cristianismo, uma vez que ele
se torna figura referencial depois de sua morte, certamente por conta da hermenêutica
que seus seguidores judeus deram a sua pessoa no desenvolvimento da cristologia,
exploraremos mais essa questão hermenêutica no final dessa pesquisa.

Nesse cenário de início do cristianismo os elementos história e mito26 estão


diretamente relacionados, e segundo Caroline Bezerra (2011, p.557) “Não é possível
tratar historicamente Jesus sem entender que Jesus viveu um mito judaico e nem
tratar do mito do Cristo sem entender que houvesse Jesus na história”.

O elemento mito não é outra coisa senão o monoteísmo judaico, uma vez que
Deus será aqui o único e absoluto Deus, responsável pela salvação de todo Israel e
toda a criação. A proclamação desse domínio é a dramatização mitológica do primeiro
mandamento, sendo que em vez de um êxodo do Egito, existiria um êxodo das
relações presentes em seu cenário atual, Jesus está participando desse mito junto
com os demais judeus presentes de seu tempo tratando do Reinado de Deus sem
precisar explicar esse conceito para os judeus presentes. (THEISSEN, 2009, p.44).

Com o anuncio do reino de Deus, Jesus revitalizou a cultura de sinais27e com


isso trouxe uma renovação para a religião judaica transformando essa religião à uma
divinização da pessoa de Jesus mediante a fé pós-pascal em Cristo, Theissen
defende essa tese fazendo essas considerações:

Nossa tese é: a exaltação de Jesus ao status divino só podia, portanto,


provocar uma redução cognitiva da dissonância porque ela correspondia a
uma dinâmica contida no monoteísmo judaico. No século VI a.C., a fé no um
só e único Deus foi forjada pela superação de uma experiencia analógica: a
elevação e Iahweh à condição de um só e único Deus foi igualmente a

26 THEISSEN, Gerd. A religião dos primeiros Cristãos: uma teoria do cristianismo primitivo. Tradução
de Paulo F. Valério. São Paulo: Paulinas, 2009. “Mito – São narrativas provenientes de um tempo
decisivo para o mundo, com portadores de ações sobrenaturais que levam à estabilidade uma
situação instável. Eles se desenrolam num mundo próprio, com estruturas de pensamentos que se
distinguem de nosso mundo cotidiano”.
27
THEISSEN, Gerd. A religião dos primeiros Cristãos: uma teoria do cristianismo primitivo. Tradução
de Paulo F. Valério. São Paulo: Paulinas, 2009. “Cultura de Sinais, a saber uma linguagem cultural de
sinais. Com isso se diz respeito à o ser da religião.” P.13
superação de uma crise como a elevação de Jesus à categoria singular
divina. (THEISSEN, 2009, p. 69).

Com isso, podemos identificar elementos que contribuíram para a formação da


religião dos primeiros cristãos. Sendo eles, o cumprimento da expectativa mitológica
e a revitalização da linguagem de sinais foram pressupostos importantes para a
divinização de Jesus e a transformação da cristologia após a hermenêutica que seus
seguidores fariam a partir da sua morte e ressureição.

Com outro olhar para a origem do cristianismo, encontramos a abordagem de


Haight:

Durante seu ministério, Jesus reuniu discípulos; ensinou-os; é provável


que os tenha enviado a pregar o reino de Deus que ele tinha anunciado. Este
é, por assim dizer, o ponto zero do cristianismo (HAIGHT, 2012, p.93).

A partir dessa percepção, na figura de Jesus e o desenvolvimento do seu


ministério, junto do estabelecimento do colégio dos doze, Haight atribui um ponto zero
que marca o início do cristianismo.

Outra abordagem esclarecendo o cenário em que o cristianismo aparece é a


de Justin Taylor:

O Cristianismo veio de um ambiente com uma cultura religiosa próxima


a dos essênios. Nesse ambiente, novos membros eram admitidos na
comunidade por um processo de iniciação que enfatizava abluções especiais.
A principal ação da comunidade, reservada estritamente aos iniciados, era
uma refeição sagrada na qual o pão e o vinho eram consumidos em porções
simbólicas. (TAYLOR, 2010, p.175).

Ele esclarece que o cristianismo vem de um ambiente com aspectos próximos


a cultura dos essênios, com alguns ritos de iniciação semelhantes como o Batismo e
a Eucaristia. Aqui já encontramos uma proximidade do cristianismo com relação aos
judeus essênios. O historiador Flávio Josefo fez a seguinte declaração a respeito dos
essênios:

Os essênios, a terceira seita, atribuem e entregam todas as coisas, sem


exceção, à providência de Deus. Creem que as almas são imortais, acham
que se deve fazer todo o possível para praticar a justiça e se contentam em
enviar as suas ofertas ao Templo, sem oferecer lá os sacrifícios, porque o
fazem em particular, com cerimônias ainda maiores. Os seus costumes são
irreprocháveis, e a sua única ocupação é cultivar a terra. Sua virtude é tão
admirável que supera em muito a dos gregos e de outras nações. (JOSEFO,
2008, p.831).
Entre todas essas atribuições, Josefo acredita que os essênios eram
conhecidos como uma seita do judaísmo, característica essa que também foi atribuída
ao cristianismo em seu estágio inicial mais logo reconsiderada uma vez que é dada
aos gentios a oportunidade de admissão como explica Taylor:

O elemento mais importante do cristianismo, que o distingue e, na verdade,


separa-o do judaísmo, é a admissão dos gentios, considerada cumprimento
das escrituras. É possível argumentar que a oportunidade dada aos gentios,
e até mesmo a instituição da comunhão entre eles e os primeiros discípulos
judeus de Jesus, foi o ato mais decisivo já realizado em toda a história da
Igreja. Sem ela, o cristianismo teria permanecido uma obscura seita judaica
(TAYLOR, 2010, p.15).

Contudo, podemos perceber que a origem do cristianismo pode ser


considerada a partir da teoria sobre a religião dos primeiros cristãos e seu
desenvolvimento se dá a medida em que a questão da expectativa mitológica judaica
é cumprida em Jesus, e a ressignificação da cultura de sinais que se desenvolve na
medida em que o anuncio do reinado de Deus é proclamado pela pessoa de Jesus
durante seu ministério. E sua transformação em divinização da figura do Cristo se
desenvolve a partir do olhar hermenêutico que seus seguidores fazem depois de sua
morte.

Trataremos neste próximo capítulo, um breve relato de como esse


desenvolvimento histórico-social e religioso se deu a partir de eventos importantes
que aconteceram nesse cenário de origem do cristianismo.

3 – ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO-SOCIAL DO


CRISTIANISMO NO PRIMEIRO SÉCULO
Já abordamos até aqui, o contexto histórico-socio-religioso que serviu de
cenário para a origem do cristianismo, introduzimos o mundo diversificado de religiões
que eram contemporâneas a origem do cristianismo bem como falamos também de
elementos que contribuíram para a origem da religião dos primeiros cristãos e
finalmente agora iremos fazer um breve relado dos aspectos que colaboraram para o
desenvolvimento do cristianismo no primeiro século nas esferas histórico-social e
religiosa.

3.1 A TRANSFORMAÇÃO DA RELIGIÃO JUDAICA A PARTIR DA FÉ EM CRISTO.

No capítulo anterior fizemos um breve comentário sobre a transformação


religiosa que o judaísmo do primeiro século experimentou a partir do advento da
origem do cristianismo, agora queremos resgatar esse tema, explorando alguns
aspectos fundamentais que contribuíram para essa transformação.
Para Theissen (2009, p.68), a transformação que o judaísmo experimentou a
partir da fé em Cristo pode ser explicada levando em consideração dois aspectos; a
começar pela experiência que abala o sistema vigente e a contar sobre o sistema
vigente que elabora essa experiência. O judaísmo como sistema de religião vigente
passou por essa transformação, a partir dessa experiencia do advento de Jesus e sua
crucifixão. Vejamos o relato de Teissen:
No que diz respeito a experiencia, a transformação do mundo judaico
de sinais é provocada por uma experiencia de dissonância. É a dissonância
entre o carisma de Jesus e sua crucifixão. Seu carisma despertara a
expectativa de que ele desempenharia um papel decisivo no acontecimento
escatológico entre Deus e as pessoas. (THEISSEN, 2009, p.68).

Esse papel escatológico era um elemento presente na dinâmica do


monoteísmo judaico, Theissen explica que essa dinâmica tem três aspectos que são
interligados:
Figura 5 – Os aspectos da dinâmica monoteísta interligados28

Os aspectos que formam essa dinâmica vão se repetir, na chamada dinâmica


cristológica do mundo primitivo, ele acredita que a experiencia de crise retratada pela
crucifixão de Jesus, as aparições pascais que permitiram transformar a derrota de
Jesus na cruz em uma vitória e o profundo rebaixamento levando em conta sua morte,
seriam equilibrados mediante a uma elevação que superasse esses eventos. E esse
elemento é encontrado na elevação do status de crucificado para o divino superando
o advento da cruz. (THEISSEM, 2009, p.70).

Esse sistema de crença e convicções a partir da dinâmica do monoteísmo


judaico por parte dos judeus era tido como superior a todos os outros sistemas. Essa
ideia foi fortalecida a partir da divinização de Jesus. Com a elevação da figura de
Jesus para o Cristo divino, inicia-se uma suplantação de concorrência que revela a
superioridade de Jesus sobre todas as demais figuras divinas cultuadas por outros
segmentos.
Dentro dessas percepções, podemos encontrar o desenvolvimento da ideia de
deificação de Jesus dentro do judaísmo presente quando se coloca Jesus como centro
do sistema religioso de sinais, troca-se a lógica de distanciamento de Deus, para a
ideia de: se Jesus se encontra junto a Deus, ele deve ser Deus. (THEISSEN, 2009,
p.67-68.).

28
THEISSEN, Gerd. A religião dos primeiros Cristãos: uma teoria do cristianismo primitivo. Tradução
de Paulo F. Valério. São Paulo: Paulinas, 2009. P.70.
Outro desenvolvimento que podemos encontrar nessa transição de judaísmo
para o cristianismo a partir da fé em Cristo, é a ressignificação de aspectos
relacionados a elementos presentes tanto no judaísmo quanto no cristianismo.
O primeiro elemento que abordaremos é o Batismo, nos evangelhos sinóticos
podemos encontrar esse ato exercido por João Batista, Taylor (2010, p.52) vai dizer
que “o batismo de João era um processo de iniciação para entrar no grupo dos que
se julgavam o povo digno de se encontrar com Deus”.
A ressignificação desse elemento do judaísmo se dá a partir da figura de Jesus,
o próprio Taylor vai trazer a seguinte abordagem:
O novo sentido introduzido pelo batismo de Jesus leva essa realidade
do pecador a seu último significado: o pecador é comparado a um morto.
(TAYLOR, 2010, p.54).

Ele explica, que o batismo a princípio executado por João tem a pretensão de
trazer novamente o pecador de volta a fidelidade à aliança, já o novo sentido do
batismo em Jesus, é proposto a partir de um novo sentido, traz consigo um elemento
essencial de purificação.
Outro elemento que passa por transformação em seu significado é a Eucaristia
em detrimento da páscoa judaica, nesse rito rabínico presente nos textos da Lei de
Moises.29 Ao observar aspectos da última ceia realizada por Jesus antes da sua morte
nos relatos dos evangelhos sinóticos, parece que Jesus celebrou a páscoa com os
discípulos à noite, na véspera da sua morte. Nas narrativas do novo testamento,
parece-nos evidenciar que a última ceia foi realmente uma expressão do rito judaico
pascal com um novo significado.
A partir dessa ideia, faremos uma breve comparação nos textos que relatam
esse ato a fim de encontrar quais são os elementos de desenvolvimento e
ressignificação desse rito a partir do advento de Jesus celebrando-o, a observação
dessa tabela de Taylor vai nos esclarecer quais são os elementos que estão sendo
ressignificados no momento desse ato:

29 Êxodo 12.1-14
Figura 5 e 6 – As diversas etapas em que ocorreram a celebração da refeição
pascal (última Ceia)30

30
TAYLOR, Justin. As origens do cristianismo; [tradução Barbara Theoto Lambert]. São Paulo:
Paulinas, 2010, pgs. 60-61
Taylor (2009, p.61-62), explica que a ressignificação que se faz a partir da
análise desses textos tem a ver com alusão que se dá à Aliança e ao sangue a partir
da comparação de Mateus 26:29. O aparecimento de expressões como “sangue da
Aliança” e “nova aliança” como podemos ver na tabela, estão se referindo a mesma
aliança que nesse ato tem um ressignificado, ou seja, não existe um abandono da
aliança de Moises e a sua relação com a Lei, e sim uma renovação desta.
Sendo assim ele conclui que por traz desses relatos a respeito da última ceia,
existe na verdade a tradição litúrgica que faz parte da páscoa e ganham significados
a partir da reinterpretação que serviu como transição de uma nova hermenêutica que
se fez desse rito por parte dos seguidores de Jesus. Outro desenvolvimento que
podemos observar está relacionado a uma moral conservadora social que será
introduzida a partir do cristianismo primitivo para os indivíduos na sociedade local,
falaremos mais sobre isso no próximo item.

3.2– DOIS VALOES RESSIGNIFICADOS DA MORAL CRISTÃ PRIMITIVA

O sentido de relação social que o cristianismo primitivo traz, destaca dois


valores fundamentais que ganham visibilidade no desenvolvimento da moral cristã
primitiva. Esses valores serão observados no comentário de Theissen:
O cristianismo primitivo introduz no mundo pagão dois valores oriundos
da tradição judaica, os quais, dessa forma, são novos: o amor ao próximo e
a humildade (ou a renuncia ao status). Ao lado de uma acomodação aos
valores e norma do mundo pagão (com pretensão de superioridade), surge,
por conseguinte, a consciência de uma antinomia em relação a ele.
(THEISSEN, 2009, pg. 98)

Observaremos em primeiro o amor ao próximo como dimensão fundamental de


relação social. Na tradição judaica, o amor ao próximo já estava presente nos escritos
do antigo testamento (Aqui precisamos aqui relembrar o fato de que Jesus era judeu
e foi criado nessa tradição)31, a saber no conjunto das leis, vejamos o texto:

 Levítico 19:18 – “Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém
do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o
Senhor”. (NVI)

31 VERNES, Geza. Jesus e o mundo do judaísmo. São Paulo: Ed. Loyola, 1996. Pgs 12-15
Aqui, trata-se do indivíduo próximo que por alguma ocasião pode aparecer
como inimigo por conta de alguma situação local, o mandamento é claro ao dizer que
se deve amar ao próximo como a si mesmo.
Particularmente, no cristianismo primitivo existe uma expansão da
compreensão desse mandamento, Theissen explica:

A novidade está em que o duplo mandamento do amor a Deus e ao


próximo é colocado no centro e descrito expressamente como o maior
mandamento. Ele já existia antes de Jesus, não, porém, numa posição tão
central. Com isso, ele se expande-conforme “tendencias” que já encontramos
no antigo testamento. (THEISSEN, 2009, pg.100).

Portanto, com essa expansão da compreensão a respeito desse mandamento,


Jesus vai ensinar seus discípulos, ressignificando isso, agora o amor ao próximo
passa a ser também o amor ao meu inimigo32. Não para por aí, a compreensão ganha
mais desenvolvimento quando fica claro, que agora, na moral cristã esse mandamento
não é mais dirigido ao um único indivíduo, mais sim ao coletivo no plural. Amai os
vossos inimigos.33

Ainda Theissen (2009, p.108) trabalha a ideia de outro valor que passa pelo
desenvolvimento e se torna fundamental na moral cristã primitiva, é a questão da
humildade, observemos as declarações de Jesus:

 Marcos 10:31 - “Contudo, muitos primeiros serão os últimos, e os últimos


serão primeiros”;
 Mateus 19:30 - “Contudo, muitos primeiros serão últimos, e muitos
últimos serão primeiros”;
 Mateus 20:16 – “Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros
serão os últimos”;
 Lucas 13:30 – “De fato, há últimos que serão primeiros, e primeiros que
serão últimos”;
Ele também contribui revelando que status de humildade é alcançado na
relação de conexão intima sobre humilhação em detrimento da elevação, observemos
os textos:

32
Mateus 5.43-45
33
Mateus 5.44
 Lucas 14:11- “Pois todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha
será exaltado”;
 Lucas 18:14 – “Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa
justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado e quem se
humilha será exaltado.”;
 Mateus 23:12 – “Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado,
e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”;
Percebe-se que existe uma clara mudança de posição com relação ao auto
rebaixamento buscando a elevação do próximo. Essa humildade cristã primitiva
também pode ser enxergada no aspecto de renúncia, vejamos os textos:
 Marcos 10:43 e 44 – “Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem
quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser
ser o primeiro deverá ser o último”;
 Marcos 9:35– “Assentando-se, Jesus chamou os Doze e disse: “se
alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos”;
 Mateus 23:11 – “O maior entre vocês deverá ser servo”.
Esse ressignificado do amor ao próximo e da humildade cristã, estão de alguma
forma interligados, e particularmente é uma característica nova, trata-se de uma
mudança de posição encontrada no Cristo. (THEISSEN, 2009, pg.109).
Considerando o ressignificado desses valores como elementos que
contribuíram para o desenvolvimento do cristianismo primitivo, os indivíduos que
participam dessa experiência, certamente tem um convívio social diferente dos demais
seguidores de outros movimentos religiosos, particularmente esses valores
ressignificados só estavam presentes na moral cristã e foram plenamente praticados
por Jesus e transmitidos através de seu comportamento e de suas mensagens
inspirando os seus seguidores a agirem em acordo com seus ensinamentos.
Nos últimos dois itens, concentramos nossos esforços para fazer um breve
relato sobre o desenvolvimento histórico-socio- cultural do cristianismo primitivo a
partir de alguns aspectos que impulsionaram esse avanço. O primeiro deles foi a
transformação da religião judaica a partir da fé em Cristo Jesus, isso vem a acontecer
quando elementos presentes na religião judaica ganham um ressignificado no
cristianismo, como foi o caso do batismo e ceia. A medida em que essa transformação
vai modificando esse sistema religioso influenciando na expansão da compreensão
de mandamentos a partir da hermenêutica apresentada por Jesus quando ressignifica
alguns pilares importantes para o cristianismo, sendo eles o amor ao próximo e o auto
rebaixamento através da humildade, agora neste último tópico, iremos fazer um
pequeno apontamento para pesquisas futuras a respeito desses temas.

3.3– POSSÍVEIS APROFUNDAMENTOS

Em primeiro lugar, dentro desse universo de pesquisa a respeito da origem do


cristianismo, me deparei com o tema Jesus histórico. Entendo que esse tema merece
aprofundamento, Gerrard Theissen (2002, pgs, 21-27), nos conta que essa pesquisa
passou por cinco fases importantes. A primeira fase foi destacada pelo professor de
línguas orientais de Hamburgo, H.S Reimarus (1694-1768), que foi pioneiro no ponto
de partida metodológico abordando uma distinção entre a pregação de Jesus e a fé
dos apóstolos no Cristo. A segunda fase trata-se do otimismo da pesquisa liberal sobre
a vida de Jesus. O representante exemplar dessa escola é Heinrich Julius Holtzmann
(1832-1910).
A base de sua metodologia sobre Jesus histórico era a exploração da crítica-
literária das fontes mais antigas. Esperava-se através desse método uma renovação
da fé cristã deixando para traz o dogma da cristologia.
Em uma terceira fase é trabalhado o colapso da pesquisa sobre a vida de
Jesus, onde a ideia era demonstrar que cada imagem de Jesus na teologia liberal
revelava uma estrutura de personalidade que valia como ideal ético a ser alcançado.
Essa escola marca a virada do século XX inicialmente pela publicação do livro história
e investigação da vida de Jesus de A. Schwetzer.
Em uma quarta onda da pesquisa, nasce uma nova pergunta sobre o Jesus
histórico. Desenvolvida pelos discípulos do teólogo Bultmann, partindo da ideia de
levantar a investigação sobre qual seria fundamento da exaltação da cruz e
ressureição de Jesus, questionando se haveria alguma base para esses fatos na
pregação pré-pascal de Jesus.
E por último, a “thinrd quest”, ainda uma nova pergunta sobre o Jesus histórico,
agora baseando no interesse teológico de fundamentar a identidade cristã ao separar
ela do judaísmo e também separar ela das heresias cristãs primitivas. Theissen
elabora um quadro geral sobre a história da pesquisa sobre a vida de Jesus, vejamos
o quadro:

Figura 7 – Quadro geral: a história da pesquisa sobre a vida de Jesus34

34
THEISSEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus histórico: um manual. São Paulo: Loyola, 2002. P.30
Com todo esse panorama sobre a história da pesquisa a respeito da vida de
Jesus que remonta um período de estudo moderno que se soma mais de 200 anos,
certamente tem um profundo aproveitamento que se pode extrair do objeto Jesus
histórico, tema esse que me deparei ao pesquisar sobre meu tema: a origem do
cristianismo e seu desenvolvimento histórico-socio-cultural do primeiro século.
Contudo, agora faremos as considerações finais desta pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, para uma clara compreensão sobre a origem do cristianismo no


primeiro século, é necessário perceber em que contexto o mundo antigo estava
inserido. Quando visitamos a história do século primeiro, encontramos nosso ponto
de partida, a herança da cultura grega, o helenismo, cultura essa presente nos tempos
em que o cristianismo dava seus primeiros passos.
As políticas públicas do império Romano permitiram com que a pratica da
religiosidade dos inúmeros segmentos religiosos fossem aceitos e praticados nesse
contexto.
O império romano a princípio aparece dando início ao período em que
chamamos de greco-romano, tempo esses que receberiam todo o desfecho do novo
testamento a partir da entrada de Jesus na construção histórica desse estagio.
A partir do advento de Jesus evidenciado não só pela fonte histórica, mais os
escritos sinóticos e a arqueologia, podemos perceber que de fato jesus passou na
história teve a sua peregrinação na Palestina dentro do primeiro século da era cristã,
portanto, encontramos o cenário em que o cristianismo nasce.
Nesse tempo, existiram diversos segmentos religiosos que estavam
intrinsicamente ligados as religiões presentes nesse cenário.
Theissen vai trabalhar essa ideia com sua teoria intitulada religião dos primeiros
discípulos, explicando que a origem do cristianismo se dá a partir do cumprimento da
expectativa mitológica e a revitalização da linguagem de sinais promovida pelo
advento de Jesus na história de seu tempo.
Certo disso, com o cristianismo já em curso no primeiro século, nosso último
capítulo fez um breve relato de como esse cristianismo primitivo se desenvolveu nas
esferas histórica-socio-cultural. Basicamente esse desenvolvimento tem origem na
hermenêutica que se dá a medida em que Jesus traz um novo sentido para elementos
presentes no judaísmo, Eucaristia e Batismo.
Jesus também ressignifica, valores do judaísmo que são importantes para o
cristianismo. O amor ao próximo e a humildade cristã. Nesse último bloco da pesquisa,
levantei pontos de aprofundamento que eu julgo ser importante para a extensão da
minha pesquisa que não foram contempladas aqui por conta da delimitação do meu
objeto de pesquisa.
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