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Anderson Ximendes
São Paulo - SP
2022
Anderson Ximendes do Espírito Santo
Trabalho de Conclusão de
curso apresentado como
requisito final no curso de
Bacharel em Teologia da
Faculdade Teológica Batista de
São Paulo.
São Paulo - SP
2022
Espírito Santo, Anderson Ximendes dos
A origem do cristianismo e seu desenvolvimento histórico-sócio-cultural
no primeiro século. / Anderson Ximendes do Espírito Santo. – São Paulo :
Faculdade Teológica Batista, 2022.
45 p.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência para a
conclusão do Curso de Bacharel em Teologia
Orientador: Emmanuel Roberto Leal de Athayde
CDD 270.1
FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________
Professor: Dr. Emmanuel Athayde – Orientador
_____________________________________________________________
Professor Dr. – Leitor
São Paulo - SP
2022
DEDICATÓRIA
A minha querida esposa, pela compreensão e tolerância nas horas de ausência que
precisei ter para me dedicar aos estudos.
Ao querido irmão que me apoiou financeiramente, saiba que você foi provisão de
Deus no momento que eu mais precisei, ainda não sei quem você é, mais
certamente estará em minhas orações enquanto eu viver.
Aos meus amigos, meus pastores, Pérsio Luís Morais e Rafael de Donato, pessoas
as quais tenho como referência em minha vida.
À minha mais nova Igreja, PIB-Ferraz, e ao Pr. Alexandre Rubens por receber minha
família em seu rebanho.
“Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo,
tome diariamente a sua cruz e siga-me.”
Introdução..................................................................................................................07
1 – O contexto histórico-socio-cultural e político do oriente no primeiro
século.........................................................................................................................09
1.1. – O período grego e o helenismo (331 a 167 a.C) .................................................09
1.2. – O surgimento do Império Romano na Macedônia e Grécia.................................12
1.3. – O período Romano como a Época do novo Testamento.....................................16
.... ... .... .
2 – A Origem do Cristianismo..................................................................................20
2.1 . – A passagem de Jesus pela história....................................................................20
2.2 . – Panorama da vida de Jesus e o cenário sócio-político e religioso......................23
2.3 . – O nascimento do Cristianismo...........................................................................27
3 – Aspectos do desenvolvimento histórico-social e político do cristianismo do
primeiro século.....................................................................................................31
3.1 . – A transformação da religião judaica a partir da fé em Cristo...............................31
3.2 . – Dois valores ressignificados da moral cristã primitiva........................................35
3.3 . – Possíveis aprofundamentos..............................................................................38
Considerações Finais................................................................................................41
Referências Bibliográficas........................................................................................42
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo expor uma possibilidade para a origem do
cristianismo e seu desenvolvimento histórico-social e religioso no primeiro século da
era cristã. Essa parte da história do oriente antigo é repleta de elementos significativos
que fizeram parte do cenário em que o cristianismo nasceu. A partir da influência do
helenismo, e as políticas de tolerância religiosa contribuíram para a difusão das mais
variadas religiões em todo o oriente que estava vivendo um período de conturbadas
incursões e dominações marcadas por imperadores ambiciosos. Na Palestina, ainda
no primeiro século, o judaísmo, movimento que pertenceu o judeu, Jesus de Nazaré
é plural e fragmentado. Levando isso em consideração, foi necessário fazer uma
abordagem histórica evidenciando fontes que atestam a historicidade de Jesus e
revelam em qual cenário político-religioso ele nasceu e quais fatores o fizeram ser o
ponto central do cristianismo. Dito isso, o tema definido foi “A origem do cristianismo
e seu desenvolvimento histórico-sócio-cultural no primeiro século”. Por fim, levando
em consideração a teoria de Gerd Theissen: a religião dos primeiros cristãos;
observamos que existiram alguns aspectos no judaísmo que foram fundamentais para
o nascimento e desenvolvimento do cristianismo no cenário do primeiro século da era
cristã.
1.TOGNINI, Enéias. O período interbíblico. 400 anos de silêncio profético – São Paulo: Hagnos,
2009p.83. “Período Greco-macedônio (359 a.C e 323 a.C). Aqui os medos-persas foram
conquistados por Alexandre, o Grande, da Macedônia, esse tempo de dominação do mundo antigo foi
chamado de Greco-macedônio.”
2MARTIN. N, Dreher. Coleção História da Igreja, a Igreja no Império Romano. P. 10. “Helenismo –
Termo utilizado tradicionalmente para descrever o período histórico-cultural em que a civilização
Grega espalhava sua cultura, seus costumes, arte, filosofia e religião.”
influência social que o helenismo exerce no cenário em que o cristianismo vai dar seus
primeiros passos.
3TOGNINI, Enéias. O período interbíblico. 400 anos de silêncio profético – São Paulo: Hagnos,
2009p.86
4KLEIN, Carlos. Curso de História da Igreja. São Paulo: Fonte Editorial, 2007. p.25.
poder e tem grande ambição por domínio do território da Judeia. Buscando ainda
estabelecer o helenismo, dessa vez, por imposição logo encontra resistência por parte
dos Judeus. Epifânio foi um grande perseguidor dos judeus, logo quando assume o
trono da Síria proíbe a prática da religião judaica na Judeia e manda destruir os
manuscritos do Antigo Testamento. Ainda neste ano ele é responsável por construir
um altar para Zeus dentro do Templo de Jerusalém e sacrifica uma porca profanando5
assim o Templo.
Judas Macabeu e seus familiares lideraram uma rebelião contra Antíoco IV,
que ficou conhecida como Revolta dos Macabeus. O grupo, inicialmente
pequeno, conseguiu inesperadas vitórias e o movimento foi ganhando corpo.
Liderados por Judas, os Macabeus tomaram o Templo, retiraram os deuses
pagãos e construíram outro altar. Uma grande festa de reconsagração foi
realizada, dando início a um evento anual, até hoje celebrado pelos judeus,
chamado de Festa da Dedicação (Chanukah). (PUREZA, 2018, p.34).
5TOGNINI, Enéias. O período interbíblico. 400 anos de silêncio profético – São Paulo: Hagnos, 2009.
p.96.
1.2 – O SURGIMENTO DO IMPÉRIO ROMANO NA MACEDÔNIA E GRÉCIA
Em 202 a.C o estado Romano adota uma decisiva política de expansão que
mudaria a história de seu tempo, sobre esse período Bovo escreve:
Simão, da dinastia dos Hasmoneus é eleito como sumo sacerdote e rei, porém
o povo judeu ainda vivia tempos de fortes tensões religiosas e políticas. O resultado
dessas tenções é o surgimento de dois grupos, os Saduceus e os Fariseus. A respeito
destes Klein nos esclarece:
6
BOVO, Elisabete. A época do Império Romano. Espanha: Ed. Folio S.A. 2007. p.20.
A vida religiosa na Palestina estava dividida entre esses dois partidos que
tinham influência política e religiosa. Os fariseus, defendiam um movimento reformista,
que buscavam cumprir criteriosamente todas as leis de Moisés. Já sobre os saduceus
podemos dizer que era um partido de elite, onde os membros pertenciam a famílias
importantes da sua época, sobre estes grupos Dreher nos conta:
7BOVO, Elisabete. A época do Império Romano. Barcelona, Ed. Folio S.A. 2007. p.20-21.
Seu reinado foi marcado por vários projetos de construção financiados por tributos
estabelecidos no seu governo.
A situação religiosa do império romano era plural, por conta dessa tolerância
estabelecida pela política, o aspecto multicultural dos povos locais fizeram com que
diversas religiões fossem praticadas nesse período, acerca disso escreve Klein:
Essa mistura de cultos revela que o império romano é o palco das mais diversas
religiões pagãs com as quais os cristãos futuramente terão seus confrontos. Apesar
dessa diversidade de cultos a outros deuses, o sincretismo de alguma forma estava
preparando o caminho para uma crença monoteísta a partir das semelhanças e
unificação de algumas religiões não cristãs.
8GONZÁLEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo 2. Ed. – São Paulo: Vida Nova 2011. p.22. “O
sincretismo, que consiste na mistura indiscriminada de religiões, foi característica da bacia do
mediterrâneo a partir do século III a.C.
Dentro dessa diversidade, as classes cultas do império entendiam a religião
não mais como uma convicção pessoal, elas entendiam a religião como um dever de
todo cidadão. Dever esse que era executado com sacrifícios no templo fazendo com
que os deuses fossem vistos a partir de uma ordem política.
A maior autoridade política da época era sem dúvida o rei, Herodes ocupava
essa posição, conhecido como “o Grande”, foi responsável por alguns aspectos
positivos, Tognini afirma:
Herodes fez todo o possível para introduzir o helenismo no país. Com esse
propósito, fez construir templos em honra a Roma e a Augusto em Samaria e
Cesareia. Porém, quando se atreveu a colocar uma águia de ouro na entrada
do Templo, os judeus se sublevaram e Herodes teve que recorrer a violência.
(GONZÁLEZ, 2011, p.19.).
10 Mateus 2.1-28
11 Mateus 2,22-23
Figura 1 – Esquema simplificado da dinastia Herodiana12
12 BLOMBERG, Craig l. Introdução aos Evangelhos: Uma pesquisa sobre os 4 evangelhos. São
Paulo: Vida Nova, 2009. p.36.
13Lucas 3.1
14Marcos 6.14-29 e Lucas 13:31-33;23-6-12
O mundo grego-romano no tempo de Jesus Cristo apresentava um
vigoroso fluxo religioso. O século I tem sido considerado como um período de
“crise de consciência”. Antigas visões de mundo e ideologias tornavam-se
cada vez mais antiquadas. Novos cultos proliferavam. (BLOMBERG, 2009,
p.45).
Contudo, o que podemos considerar até aqui é que todo esse conjunto de
elementos fazem parte do pano de fundo contextual do primeiro século. A história da
sociedade nessa época é marcada pela helenização inicialmente propagada por
Alexandre e seus sucessores inaugurando assim o período grego-macedônio.
Pode-se notar então que no primeiro século, diante de todo esse contexto a
sociedade experimentará o nascimento de mais um segmento religioso, o cristianismo
a partir da figura de Jesus de Nazaré e sua peregrinação na história, temas esses que
trataremos no próximo capítulo.
2 – A ORIGEM DO CRISTIANISMO
Certo disso, encontramos alguns trechos dos evangelhos sinóticos que atestam
a passagem de Jesus na história, observaremos isso através dessa figura:
16CROSSAN, John Dominic & Reed Jonathan: Em busca de Jesus, debaixo das pedras, atrás dos
textos. Td. Jaci Maraschin. São Paulo: Paulinas, 2007. P.19-20.
todas as referências textuais que os escritores dos evangelhos sinóticos deixaram em
seus registros, ou pela questão da pesquisa arqueológica que evidenciou diversos
registros relacionados ao período em que Jesus viveu, agora no próximo bloco
faremos um breve relato a respeito de como foi a vida de Jesus a partir de um
panorama contextual histórico até o surgimento do cristianismo no primeiro século.
Para que se possa falar a respeito da vida de Jesus, precisamos iniciar a partir
do período da história em que ocorreu o nascimento de Jesus de Nazaré, Eusébio
nos esclarece:
Corria, pois o ano 42 do reinado de Augusto e o vigésimo oitavo desde a
submissão do Egito e da morte de Antonio e de Cleópatra (com a qual se
extinguiu a dinastia egípcia dos Ptolomeus), quando nosso Salvador e Senhor
Jesus Cristo nasceu em Belém da Judeia, conforme as profecias a seu
respeito, nos tempos do primeiro recenseamento, e sendo Quirino
governador da Síria. (EUSÉBIO, 2005, p.27).
17 Mateus 2.1-28
18 Mateus 2,22-23
19 Mateus 1.28-25 e Lucas 1.26-38
Salvação.”20 Encontramos poucos escritos a respeito da infância e juventude de
Jesus. Os autores dos Evangelhos sinóticos pouco se atem a relatar esse período da
vida de Jesus, o que sabemos é que depois desse episódio, Jesus aparece
anunciando sua mensagem21por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas e pregando
as boas novas do Reino, operando sinais e maravilhas entre o povo.
A partir dessas declarações, já podemos ter uma ideia de como era o mundo
em que viveu Jesus, logo no início da sua peregrinação, não demora, ele recruta um
colegiado de discípulos sendo eles, Simão Pedro, André, Tiago filho de Zebedeu,
João, Felipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus o publicano, Tiago, Tadeu, Simão o Zelote e
Judas o que traiu22.
É importante destacar aqui, que alguns dos discípulos que Jesus recrutou
pertenciam a segmentos diferentes do judaísmo23 que era diversificado e plural, como
já falamos, o contexto sócio-político religioso de Jesus era fragmentado e as opções
religiosas eram divididas.
Theissen (2009, p.60), explica que a constituição desse círculo dos Doze, é uma
ação político-simbólica, uma ação contra a situação do Israel local, que abrigava
20PUREZA, Rafael. Jesus, entre a história e a fé. Brasília: Editora 371, 2018. p.52
21
Mateus 4:23
22
Mateus 10.2-4
23
GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Ed. Vida, 2005. “Simão – é um dos
apóstolos conhecidos de Jesus, Zelote, refere-se ao partido político nacionalista que existia no
judaísmo, naquela época”. Pg.611.
tradições primitivas de oposição, como o caso do grupo que vivia ao sul de Jericó, às
margens do Mar Morto, os essênios ascéticos que cultuavam a Deus em um estrito e
sagrado recolhimento acreditando que um dia eles seriam responsáveis pela
conversão do resto do povo judeu ao verdadeiro judaísmo, praticado apenas por eles,
que eram seguidores do Mestre de Justiça. Os essênios eram apenas mais fragmento
do mundo judaico plural existente à época. Para ilustrar esse cenário, podemos
observar as diversas opções religiosas a partir do quadro de Blomberg:
Jesus inicia sua jornada junto com o colegiado de discípulos, no primeiro século
dentro de um mundo judaico, grego-romano onde diferentes frentes defendiam suas
ideologias e seus valores éticos e morais dentro da sua opção religiosa. a partir dessa
herança helênica, a sociedade do primeiro século vive essa difusão de pensamentos
24
BLOMBERG, Craig l. Introdução aos Evangelhos: Uma pesquisa sobre os 4 evangelhos. São
Paulo: Vida Nova, 2009. p.58.
entre tantas opções religiosas fazendo com que o século primeiro passe a ser
conhecido como um período de crise de consciência. (BLOMBERG, 2009, p.45).
Para que fique claro, como essa difusão de pensamentos era presente no mundo
judaico, podemos observar a figura abaixo onde ilustra essa divisão de ideias:
Ainda falando do contexto religioso que remonta o cenário histórico onde Jesus
viveu, as religiões helenísticas praticadas nesse tempo também difundiram suas
correntes de pensamento no mundo grego-romano.
25
BÍBLIA. Nova Versão Internacional – São Paulo: Ed. Vida, 2003. P.1656.
filosofia, entendendo que a vida terrena é cheia de sofrimento e impermanência, e
enquanto a pessoa não elevar sua consciência para além do mundo físico, sua alma
estará aprisionada na escuridão do mundo físico exterior, mundo esse chamado de
mundo da mente. Acreditando que o ser humano não é essencialmente produto do
mundo material e que este pode alcançar um status de gnose, como potencial
salvação do indivíduo. (HOELLER, 2005, pgs. 31-34).
Ainda para Theissen (2009, p.43), Jesus viveu, agiu e pensou como um judeu
de seu tempo, particularmente ele pertenceu a duas religiões. Ao judaísmo, religião
essa que estava ligada diretamente a seu coração, e ao cristianismo, uma vez que ele
se torna figura referencial depois de sua morte, certamente por conta da hermenêutica
que seus seguidores judeus deram a sua pessoa no desenvolvimento da cristologia,
exploraremos mais essa questão hermenêutica no final dessa pesquisa.
O elemento mito não é outra coisa senão o monoteísmo judaico, uma vez que
Deus será aqui o único e absoluto Deus, responsável pela salvação de todo Israel e
toda a criação. A proclamação desse domínio é a dramatização mitológica do primeiro
mandamento, sendo que em vez de um êxodo do Egito, existiria um êxodo das
relações presentes em seu cenário atual, Jesus está participando desse mito junto
com os demais judeus presentes de seu tempo tratando do Reinado de Deus sem
precisar explicar esse conceito para os judeus presentes. (THEISSEN, 2009, p.44).
26 THEISSEN, Gerd. A religião dos primeiros Cristãos: uma teoria do cristianismo primitivo. Tradução
de Paulo F. Valério. São Paulo: Paulinas, 2009. “Mito – São narrativas provenientes de um tempo
decisivo para o mundo, com portadores de ações sobrenaturais que levam à estabilidade uma
situação instável. Eles se desenrolam num mundo próprio, com estruturas de pensamentos que se
distinguem de nosso mundo cotidiano”.
27
THEISSEN, Gerd. A religião dos primeiros Cristãos: uma teoria do cristianismo primitivo. Tradução
de Paulo F. Valério. São Paulo: Paulinas, 2009. “Cultura de Sinais, a saber uma linguagem cultural de
sinais. Com isso se diz respeito à o ser da religião.” P.13
superação de uma crise como a elevação de Jesus à categoria singular
divina. (THEISSEN, 2009, p. 69).
28
THEISSEN, Gerd. A religião dos primeiros Cristãos: uma teoria do cristianismo primitivo. Tradução
de Paulo F. Valério. São Paulo: Paulinas, 2009. P.70.
Outro desenvolvimento que podemos encontrar nessa transição de judaísmo
para o cristianismo a partir da fé em Cristo, é a ressignificação de aspectos
relacionados a elementos presentes tanto no judaísmo quanto no cristianismo.
O primeiro elemento que abordaremos é o Batismo, nos evangelhos sinóticos
podemos encontrar esse ato exercido por João Batista, Taylor (2010, p.52) vai dizer
que “o batismo de João era um processo de iniciação para entrar no grupo dos que
se julgavam o povo digno de se encontrar com Deus”.
A ressignificação desse elemento do judaísmo se dá a partir da figura de Jesus,
o próprio Taylor vai trazer a seguinte abordagem:
O novo sentido introduzido pelo batismo de Jesus leva essa realidade
do pecador a seu último significado: o pecador é comparado a um morto.
(TAYLOR, 2010, p.54).
Ele explica, que o batismo a princípio executado por João tem a pretensão de
trazer novamente o pecador de volta a fidelidade à aliança, já o novo sentido do
batismo em Jesus, é proposto a partir de um novo sentido, traz consigo um elemento
essencial de purificação.
Outro elemento que passa por transformação em seu significado é a Eucaristia
em detrimento da páscoa judaica, nesse rito rabínico presente nos textos da Lei de
Moises.29 Ao observar aspectos da última ceia realizada por Jesus antes da sua morte
nos relatos dos evangelhos sinóticos, parece que Jesus celebrou a páscoa com os
discípulos à noite, na véspera da sua morte. Nas narrativas do novo testamento,
parece-nos evidenciar que a última ceia foi realmente uma expressão do rito judaico
pascal com um novo significado.
A partir dessa ideia, faremos uma breve comparação nos textos que relatam
esse ato a fim de encontrar quais são os elementos de desenvolvimento e
ressignificação desse rito a partir do advento de Jesus celebrando-o, a observação
dessa tabela de Taylor vai nos esclarecer quais são os elementos que estão sendo
ressignificados no momento desse ato:
29 Êxodo 12.1-14
Figura 5 e 6 – As diversas etapas em que ocorreram a celebração da refeição
pascal (última Ceia)30
30
TAYLOR, Justin. As origens do cristianismo; [tradução Barbara Theoto Lambert]. São Paulo:
Paulinas, 2010, pgs. 60-61
Taylor (2009, p.61-62), explica que a ressignificação que se faz a partir da
análise desses textos tem a ver com alusão que se dá à Aliança e ao sangue a partir
da comparação de Mateus 26:29. O aparecimento de expressões como “sangue da
Aliança” e “nova aliança” como podemos ver na tabela, estão se referindo a mesma
aliança que nesse ato tem um ressignificado, ou seja, não existe um abandono da
aliança de Moises e a sua relação com a Lei, e sim uma renovação desta.
Sendo assim ele conclui que por traz desses relatos a respeito da última ceia,
existe na verdade a tradição litúrgica que faz parte da páscoa e ganham significados
a partir da reinterpretação que serviu como transição de uma nova hermenêutica que
se fez desse rito por parte dos seguidores de Jesus. Outro desenvolvimento que
podemos observar está relacionado a uma moral conservadora social que será
introduzida a partir do cristianismo primitivo para os indivíduos na sociedade local,
falaremos mais sobre isso no próximo item.
Levítico 19:18 – “Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém
do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o
Senhor”. (NVI)
31 VERNES, Geza. Jesus e o mundo do judaísmo. São Paulo: Ed. Loyola, 1996. Pgs 12-15
Aqui, trata-se do indivíduo próximo que por alguma ocasião pode aparecer
como inimigo por conta de alguma situação local, o mandamento é claro ao dizer que
se deve amar ao próximo como a si mesmo.
Particularmente, no cristianismo primitivo existe uma expansão da
compreensão desse mandamento, Theissen explica:
Ainda Theissen (2009, p.108) trabalha a ideia de outro valor que passa pelo
desenvolvimento e se torna fundamental na moral cristã primitiva, é a questão da
humildade, observemos as declarações de Jesus:
32
Mateus 5.43-45
33
Mateus 5.44
Lucas 14:11- “Pois todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha
será exaltado”;
Lucas 18:14 – “Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa
justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado e quem se
humilha será exaltado.”;
Mateus 23:12 – “Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado,
e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”;
Percebe-se que existe uma clara mudança de posição com relação ao auto
rebaixamento buscando a elevação do próximo. Essa humildade cristã primitiva
também pode ser enxergada no aspecto de renúncia, vejamos os textos:
Marcos 10:43 e 44 – “Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem
quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser
ser o primeiro deverá ser o último”;
Marcos 9:35– “Assentando-se, Jesus chamou os Doze e disse: “se
alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos”;
Mateus 23:11 – “O maior entre vocês deverá ser servo”.
Esse ressignificado do amor ao próximo e da humildade cristã, estão de alguma
forma interligados, e particularmente é uma característica nova, trata-se de uma
mudança de posição encontrada no Cristo. (THEISSEN, 2009, pg.109).
Considerando o ressignificado desses valores como elementos que
contribuíram para o desenvolvimento do cristianismo primitivo, os indivíduos que
participam dessa experiência, certamente tem um convívio social diferente dos demais
seguidores de outros movimentos religiosos, particularmente esses valores
ressignificados só estavam presentes na moral cristã e foram plenamente praticados
por Jesus e transmitidos através de seu comportamento e de suas mensagens
inspirando os seus seguidores a agirem em acordo com seus ensinamentos.
Nos últimos dois itens, concentramos nossos esforços para fazer um breve
relato sobre o desenvolvimento histórico-socio- cultural do cristianismo primitivo a
partir de alguns aspectos que impulsionaram esse avanço. O primeiro deles foi a
transformação da religião judaica a partir da fé em Cristo Jesus, isso vem a acontecer
quando elementos presentes na religião judaica ganham um ressignificado no
cristianismo, como foi o caso do batismo e ceia. A medida em que essa transformação
vai modificando esse sistema religioso influenciando na expansão da compreensão
de mandamentos a partir da hermenêutica apresentada por Jesus quando ressignifica
alguns pilares importantes para o cristianismo, sendo eles o amor ao próximo e o auto
rebaixamento através da humildade, agora neste último tópico, iremos fazer um
pequeno apontamento para pesquisas futuras a respeito desses temas.
34
THEISSEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus histórico: um manual. São Paulo: Loyola, 2002. P.30
Com todo esse panorama sobre a história da pesquisa a respeito da vida de
Jesus que remonta um período de estudo moderno que se soma mais de 200 anos,
certamente tem um profundo aproveitamento que se pode extrair do objeto Jesus
histórico, tema esse que me deparei ao pesquisar sobre meu tema: a origem do
cristianismo e seu desenvolvimento histórico-socio-cultural do primeiro século.
Contudo, agora faremos as considerações finais desta pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BOVO, Elisabete. A época do Império Romano. Barcelona, Ed. Folio S.A. 2007.
CROSSAN, John Dominic & Reed Jonathan: Em busca de Jesus, debaixo das pedras,
atrás dos textos. Td. Jaci Maraschin. São Paulo: Paulinas, 2007.
GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Ed. Vida, 2005.
GONZÁLEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo 2. Ed. – São Paulo: Vida Nova
2011.
HAIGHT, Roger. A comunidade cristã na história vol.1. São Paulo: Paulinas, 2012.
HURLBUT, J. Lyman. História da Igreja cristã. São Paulo: Ed. Vida, 2007.
JOSEFO, Flávio, História dos hebreus De Abraão à queda de Jerusalém. Td. Vicente
Pedroso, P.O. Judson Canto, Kleber Cruz e Reginaldo de Souza. Rio de Janeiro: Ed.
CPAD, 14° Ed, 2008.
KLEIN, Carlos. Curso de História da Igreja. São Paulo: Fonte Editorial, 2007.
PUREZA, Rafael. Jesus, entre a história e a fé. Brasília: Editora 371, 2018.
TOGNINI, Enéias. O período interbíblico. 400 anos de silêncio profético – São Paulo:
Hagnos, 2009.
VERNES, Geza. Jesus e o mundo do judaísmo. São Paulo: Ed. Loyola, 1996.