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KHAÍRETE
Para aprender o grego antigo

LÍNGUA GREGA I

Atena escrevendo

Edvanda Bonavina da Rosa (Profa. Dra.)


FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS
UNESP – Araraquara

2015
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KHAIRETE. Para aprender o grego antigo


A GRÉCIA E SUA LÍNGUA
Edvanda Bonavina da Rosa - FCL/Araraquara -- UNESP

Localização da Grécia

O país que conhecemos por Grécia era chamado de ά Hellás, por seus habitantes e ainda
hoje o chamam de Elláda, e seu povo, que denominamos de grego, autodenomina-se éllenas, do
grego antigo , Hélenes. Os termos Grécia e gregos devem-se aos romanos, que, de uma
pequena comunidade de helenos chamados ί, Graioí, e do adjetivo ί, Graikoí, eles
criaram a denominação "Grécia" e "gregos", para todo o país falante da língua grega e para seus
habitantes.
A Grécia faz parte da comunidade europeia. É um país que se situa no sudeste do continente
europeu, no sul da península balcânica. Tem como países vizinhos a Bulgária, a Macedônia e a
Albânia e é circundada pelo mar; é banhada a oeste pelo mar Jônico, ao sul pelo mar Mediterrâneo
e a leste pelo mar Egeu. Nenhuma de suas cidades dista mais do que 150 km do mar, o que fez
dela um país de marinheiros, desde os tempos imemoriais.
Seu território é constituído por uma parte continental, pela península do Peloponeso e por
mais de 6000 ilhas e ilhéus. A parte continental é formada pela região da Tessália, da Beócia e da
Ática, onde se localiza a capital, a cidade de Atenas. A península do Peloponeso liga-se à Grécia
continental pelo Istmo de Corinto, que tem 5 km de largura. As regiões do Peloponeso são a
Argólida, onde se situa a cidade de Argos; a Lacônia, onde se situa Esparta e a Messênia. Dentre as
ilhas o mar Jônico, destaca-se Ítaca, pátria de Odisseu; no mar Egeu situam-se Delos, ilha onde
nasceram Apolo e sua irmã, a deusa Ártemis; Quios, pátria de Homero; Lesbos, onde viveu a
poetisa Safo; ao sul situa-se Creta, a maior ilha grega, onde se localiza o monte Ida, onde cresceu
Zeus e a cidade de Knossos, pátria do Minotauro.
A Grécia Antiga era formada pela Grécia continental (Grécia central), pela Península do
Peloponeso (Grécia peninsular), pelas ilhas do Mar Egeu (Grécia Insular), além das colônias na
costa da Ásia Menor e no sul da Península Itálica, e nesta última se formou a chamada Magna
Grécia.
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A língua grega
A língua grega é falada na Grécia, em Chipre e nas comunidades da diáspora. Esse grego que é
falado atualmente denomina-se grego moderno. Contudo, a língua estudada nas universidades é o
Grego Antigo, falado na Grécia entre os anos de 800 a 330 a.C. O Grego Antigo era composto de
vários dialetos, sendo os principais o ático, o jônico, o dórico, o eólico e o árcado-cipriota. No
período helenístico, usou-se um grego de comunicação universal, chamado koiné, ou "comum".
Neste grego é que foram escritos o Novo Testamento e a Vulgata, tradução grega do Velho
Testamento.
Os principais períodos da língua grega estão relacionados a seguir, mas todas as datas são um
tanto arbitrárias (cf. Joseph 1987, 1992):
1) Grego micênico: 1500-1100 a. C. (textos 1400-1200 a. C.)
2) Grego arcaico (incluindo Homero e Hesíodo): 800-600 a. C.
3) Grego clássico: 600-300 a. C.
4) Grego helenístico (incluindo grego do Novo Testamento): koiné - 300 a.C.-300 d.C.
5) Grego Oriental: 300-1600
a) Grego bizantino: 300-1100
b) Grego Medieval: 1100-1600
6) Grego moderno: 1600 até o presente

O povo grego formou-se pela miscigenação de invasores vindos do norte com povos
autóctones que habitavam o continente, a península e as ilhas desde tempos imemoriais, chamados
pelasgos, que falavam uma língua que foi denominada proto-grego. Encontram-se resquícios dela no
grego posterior. A chegada de povos provenientes da região dos Balcãs, a noroeste da Europa,
chamados de indo-europeus, fez surgir o povo grego e também com sua chegada desenvolveram-
se os dialetos que formaram a língua grega.
A língua falada por tais invasores foi denominada de indo-europeu, que é, contudo, uma
língua hipotética, que teria dado origem a línguas como o grego, o latim e o sânscrito, entre outras.
Os linguistas chegaram ao indo-europeu por meio de estudos comparativos de diversas línguas
ocidentais, tendo encontrado uma base comum para palavras e estruturas sintáticas. Observe o
quadro abaixo:

O indo-europeu
indoeuropeu * trejes Mark Damen, em seu estudo intitulado The Indo-
grego ῖ Europeans and Historical Linguistics1, afirma ser
latim tres evidente que estas palavras são cognatas,
inglês three especialmente quando são comparadas com a
espanhol tres palavra "três" em línguas não indo-europeias, como
italiano tre o turco (uc), o hebraico (shelosh), o malaio (Tiga) e o
francês trois chinês (san). Diz ainda que adicionar outras
alemão drei palavras indo-europeias básicas como mother / moeder /
sânscrito trayas mater e pai / pater / patir torna o exemplo esmagador.

Para os linguistas, todas essas línguas, que apresentam tantos cognatos, devem ter tido uma
origem comum, que denominaram de "indo-europeu".

1 http://www.usu.edu/markdamen/1320Hist&Civ/chapters/07IE.htm
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A mobilidade dos povos nesse período provocou invasões no território da península grega,
mas, segundo o pensamento mítico, a formação do povo grego deveu-se a um herói chamado
Helen, , cujo nome estendeu-se a todo o povo, chamado em sua homenagem, os helenos.
Vários escritores gregos antigos como Heródoto, Tucidides, Estrabão, Diodoro Sículo e Apolodoro,
entre outros, narram o mito da origem dos gregos.

O dilúvio e a origem dos gregos

Apolodoro, na obra Biblioteca, 7.1.4, narra um dilúvio e o ressurgimento da raça humana:


Prometeu moldou os homens da água e da terra e deu-lhes também o fogo, que, às ocultas de
Zeus, ele havia escondido em um talo de férula. Mas, quando Zeus soube disso, ordenou a Hefesto
que prendesse seu corpo ao Monte Cáucaso, que é uma montanha cita. Nela Prometeu foi pregado
e permaneceu preso por muitos anos. Todos os dias uma águia o atacava e devorava os lobos de
seu fígado, que crescia durante a noite. Essa foi a pena que Prometeu pagou pelo roubo do fogo até
que Hércules o libertou depois, como mostraremos quando falarmos sobre Héracles.
De Prometeu nasceu um filho, Deucalião. Este, reinando nas regiões da Ftia, desposou Pirra, a
filha de Epimeteu e de Pandora, a primeira mulher formada pelos deuses. E quando Zeus desejou
fazer desaparecer os homens da Idade do Bronze, Deucalião, a conselho de Prometeu, construiu
uma arca e tendo aí colocado provisões, nela embarcou com Pirra.
Então Zeus, derramando fortes chuvas do céu inundou a maior parte da Grécia, de modo a
destruir todos os homens, exceto alguns poucos que fugiram para as montanhas altas da
redondeza. Foi então que as montanhas de Tessália se separaram, e que todo o restante fora do
Istmo e do Peloponeso ficou submerso.
Mas Deucalião, flutuando na arca sobre o mar durante nove dias e muitas noites, deslocou-se
para Parnasso, e aí, quando a chuva cessou, ele desembarcou e fez sacrifícios a Zeus, o deus do
Escape. E Zeus enviou Hermes até ele e lhe permitiu escolher o que ele desejava, e ele escolheu
criar os homens. E sob as ordens de Zeus, ele apanhou pedras e atirou-as acima de sua cabeça. As
pedras que Deucalião atirou tornaram-se homens, e as pedras atiradas por Pirra tornaram-se
mulheres. Por isso as pessoas eram metaforicamente chamadas de laas, "uma pedra" (do grego:
laos)
E Deucalião teve filhos com Pirra: primeiro Hellen, cujo pai alguns dizem que era Zeus; e
depois Anfictião, que reinou na Ática após Crânao e terceiro Protogenia uma filha, que se tornou a
mãe de Aetlio, gerado de Zeus.
Hellen desposou a ninfa Orseide e gerou Doro, Xuto e Eolo. Aqueles que foram chamados gregos,
Hellen denominou "helenos" por causa de si mesmo e dividiu o país entre os seus filhos.
Xuto recebeu o Peloponeso e gerou Aqueu e Íon de Creusa, filha de Erecteu; deles os aqueus e
jônios derivam seus nomes. Doro recebeu o país do Peloponeso e chamou os colonos "dórios"
devido a si mesmo. Eolo reinou sobre as regiões da Tessália e nomeou seus habitantes de eólios.
Ele casou-se com Enarete, filha de Deímaco, e gerou sete filhos ...

O quadro abaixo sintetiza a genealogia dos descendentes de Deucalião e Pirra, os progenitores da raça
grega, segundo Apolodoro:
Deucalião + Pirra

Helen + Orseide Anfictião Protogenia


Doro Xuto + Creusa Eolo


Diomedes Aqueu Íon


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Conforme esse relato mítico de Apolodoro, a cada descendente de Hellen corresponde um


povo de raça helênica, dando origem assim aos aqueus, eólios, jônios e dórios. Esses povos deram
origem à língua grega, mas com marcantes diferenças regionais, o que gerou a existência de
diferentes dialetos. Contudo, de acordo com informações de historiadores e arqueólogos, a
formação do povo grego deveu-se a invasões sucessivas de povos do centro da Europa, durante o
segundo milênio a.C.
Os Dialetos Gregos

Segundo uma tradicional teoria os indo-europeus não chegaram à Grécia de uma só vez.
Para os defensores dessa teoria, foram ondas sucessivas de tribos que vieram do Norte, por volta
de 2000 a.C., na seguinte sequência: mínios - aqueus - jônios - eólios - dórios.
Cada conjunto de tribo ao chegar conquistava e forçava os habitantes nativos (os pelasgos) à
emigração ou à assimilação, dando origem a agrupamentos populacionais que falavam uma
variante diferente do grego, um "dialeto". Por essa razão, a Grécia antiga transformou-se em uma
verdadeira colcha de retalhos de dialetos.
Mais recentemente, porém, minimiza-se a importância de ondas sucessivas de tribos como
explicação da diferenciação dialetal que existia em tempos históricos e procura explicar esta
situação por uma diferenciação dialetal ocorrida já em território grego. Dessa forma, o eólico e o
dórico não corresponderiam a ondas de tribos eólicas e dóricas que chegaram depois, mas a um
processo de diferenciação a partir das formas dialetais já existentes na Grécia.

Mapa dos dialetos da Grécia antiga2

Grupos dialetais:
1 - Jônico-ático - falado na Ásia; nas ilhas; na Eubéia. O ático seria o "jônico da Ática".
2- Arcado-cipriota - Arcádio; cipriota; panfílio .
3- Eólico - falado na Ásia (lésbio); tessálio; beócio.
4- Grupo ocidental (grego do noroeste e dórico)
a. Grego do Noroeste: focídeo (Delfos); lócrio; etólio e eleu.
b. Dórico: lacônio; argólido; coríntio ( Corinto, Siracusa); megárico; cretense; ródio; dórico
de Tera; cirenaico
Atenção: Não havia na Grécia antiga algo como uma língua nacional.
 Todos os dialetos são igualmente importantes do ponto de vista linguístico.

2 http://sempreletrado.blogspot.com.br/2011/10/sodedades-pre-helenicas-quem-eram-os.html
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O primeiro dialeto formado na Grécia pelos indo-europeus foi o micênico, usado pelos aqueus
que conquistaram o Peloponeso na Idade do Bronze Tardia, durante o fim do segundo milênio a.C.
Esse dialeto está associado à Civilização Micênica, pertencente aos povos que habitaram Micenas e
Argos e criaram uma cultura florescente, que registrou dados da administração palaciana numa
escrita chamada de Linear B. Graças às tabuletas onde foram feitos tais registros pode-se
reconstruir o dialeto micênico. Nesse período ocorreu a chamada de Guerra de Tróia, que
envolveu habitantes da Grécia e povos da Ásia Menor, por causa do rapto de uma rainha grega,
Helena.
No início da Idade do Ferro aconteceram migrações e alguns falantes do dialeto micênico
foram deslocados para Chipre, enquanto outros permaneceram no interior do Peloponeso, numa
região chamada Arcádia, dando origem ao dialeto árcado-cipriota.
O eólico, língua falada pelos indo-europeus pertencentes ao grupo dos eólios, dividia-se em
três subdialetos: um, lésbio, falado na ilha de Lesbos e na costa ocidental da Ásia Menor, ao norte
de Esmirna, enquanto os outros dois, o beócio e o tessálio, eram falados no nordeste da Grécia
continental, nas regiões da Beócia e da Tessália.
Com a invasão dos indo-europeus chamados dórios, o dialeto dórico espalhou-se de um local
hipotético no noroeste da Grécia até a costa do Peloponeso, e foi falado em locais tão diversos
quanto Esparta, Creta e o extremo sul da costa ocidental da Ásia Menor. O dórico tornou-se o
padrão para a poesia lírica grega, de autores como Píndaro.
O jônico era falado especialmente na costa oeste da Ásia Menor, inclusive em Esmirna e na
área ao sul da cidade. A Ilíada e a Odisseia de Homero foram escritas no grego homérico (também
conhecido como 'grego épico'), uma versão literária do grego jônico. Já o grego ático, um
subdialeto (ou um dialeto-irmão) do jônico, foi por diversos séculos a língua de Atenas, no qual
foram escritas as grandes obras da filosofia e da dramaturgia que ajudaram a tornar célebre esta
cidade. Devido a esta influência, o ático foi adotado na Macedônia pouco antes das conquistas de
Alexandre, o Grande; com a difusão do Helenismo, o ático tornou-se o dialeto padrão, que acabou
por evoluir e tornar-se o koiné.
Dentre os dialetos mencionados, estuda-se nas universidades inicialmente o grego ático, usado
na região de Atenas, o maior centro cultural da Grécia antiga.

Abaixo vê-se o quadro com a síntese dos principais dialetos da Grécia antiga:

Os principais dialetos gregos

micênico eólico ático-jônico grego ocidental

panfílio beócio ático jônico koiné dórico


cipriota eólico
tessálio
arcádio lésbio grego moderno fócio

A proeminência do dialeto ático

O dialeto ático desenvolveu-se do jônico e por isso apresentam grandes semelhanças,


pertencendo ao mesmo grupo dialetal jônico-ático. Era falado na região da Ática, onde se
localizava a cidade de Atenas. O dialeto ático se sobressaiu pela importância de sua região e de sua
época. Nos séculos V e IV a.C., Atenas tornou-se o principal centro cultural de toda a Grécia e, por
isso, o ático falado nesse período (500 a 300 a.C.) é tomado como ponto de partida para o estudo do
Grego antigo nas universidades.
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Esse dialeto é também chamado ático clássico ou simplesmente grego clássico. Entre todos
os dialetos gregos, o ático é aquele sobre o qual se tem maiores informações linguísticas, e também
o que foi usado por importantes autores, tanto em verso como em prosa, tanto na poesia, quanto
na filosofia, na historiografia quanto na oratória. Na poesia dramática ou teatro usava-se o verso e
destacaram-se os seguintes poetas: Ésquilo, Sófocles, Eurípides, Aristófanes e Menandro. Em
prosa, podemos citar na historiografia: Tucídides e Xenofonte; na filosofia: Platão e Aristóteles; na
oratória: Isócrates, Lísias, Demóstones, Ésquines, etc. Devido à importância desses autores e de
suas obras, até hoje se estuda o ático clássico. A partir desse dialeto, estudam-se os demais,
apresentando-se as diferenças em relação ao ático.

Os dialetos literários

Na Grécia existiam também os dialetos literários. Um dialeto, além de estar associado a


uma determinada região, podia estar associado a um determinado gênero literário,
independentemente do dialeto falado por seu autor. Como exemplos de uso de dialetos literários
na poesia lírica temos autores como Alceu, Safo, etc., que empregaram o dialeto eólico. A poesia
épica (Homero, Hesíodo, etc.) era composta em dialeto jônico, assim como a obra do historiador
Heródoto; a poesia de Arquíloco; a filosofia pré-socrática e os escritos médicos da escola de
Hipócrates.
Homero emprega uma linguagem poética dita "artificial", nunca falada em nenhum lugar
por falantes nativos, formada basicamente pelo dialeto jônico, mas na qual também são
encontrados elementos do eólico e até alguns poucos elementos do ático. Esse "dialeto homérico"
também foi utilizado pelos poetas líricos que compunham elegias e iambos e no período
helenístico pela "nova épica", como na poesia de Apolônio de Rodes.
O uso literário dos dialetos permitia um resultado bastante complexo nas obras literárias.
Nas tragédias, por exemplo, os diálogos eram escritos no dialeto ático, mas as partes corais eram
escritas em dialeto dórico, que tradicionalmente estava associado ao canto coral.

O grego koiné e o grego moderno

No período helenístico (330 a.C-330 d.C), devido às conquistas de Alexandre, ocorreu a


difusão da cultura grega por toda a bacia do Mediterrâneo, dando origem a um novo dialeto que
teria por função ser uma espécie de língua internacional comum (gr. koiné) a todos. O dialeto koiné
foi nessa época como o inglês é atualmente.
Esse dialeto foi usado para a tradução das escrituras do Velho Testamento feita em
Alexandria por volta de 280 a.C. por um grupo de setenta eruditos judeus e, por isso essa tradução
recebe o nome tradicional de Septuaginta, setenta. Todos os livros do Novo Testamento, com
exceção de Mateus, foram escritos originalmente também nessa língua comum, o dialeto grego
koiné, justamente para que tivessem a maior divulgação possível.
A base da Koiné foi o ático, mas sem "aticismos", isto é, foram eliminados os traços dialetais muito
específicos, de modo a ser uma linguagem padrão de uso universal.
Esse é quadro geral do que chamamos de "Grego antigo", uma língua cujos registros
escritos vão desde o séc. XV a.C. (grego micênico) até o séc. VI d.C. Na Idade Média na Grécia
falava-se o Grego bizantino, uma vez que o novo centro político e cultural era agora Bizâncio, entre
os séculos V d.C. e XV, e que era uma espécie de continuação do koiné. No entanto um grande
número de textos, entre eles os dos Patriarcas da Igreja, isto é, os textos patrísticos, continuaram
usando o koiné como sua linguagem.
No século XVI, com a tomada de Constantinopla (ex-Bizâncio) pelos turcos em 1453, surge
o Grego pouco a pouco moderno, que é o falado até os dias de hoje na Grécia. O grego antigo e o
moderno apresentam características diferentes. Diferem na pronúncia, na ortografia, na gramática
e no vocabulário. No entanto, são também muito parecidas, já que uma se origina da outra.
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Grego antigo para quê?

Com fina ironia, que visa ao que de fato importa, a professora Dra. Daisi Malhadas, que
iniciou os estudos de grego na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, em Araraquara, quando
lhe perguntam "Pra que serve o grego?" responde: "Não serve para nada". À primeira vista, essa
resposta nos deixa perplexos. Então como, perde-se tempo - e dinheiro! - com algo que não serve
para coisa alguma? Mas seu esclarecimento é tranquilizador: "O que serve para alguma coisa, compra-
se nas lojas e supermercados, usa-se e depois que não serve mais, joga-se fora. Não é assim com a cultura".
De fato, o grego antigo suscita interesse até nossos dias por ter sido usado por autores como o
poeta épico Homero, o poeta didático Hesíodo, os poetas líricos, como Simônides e Safo, os
dramaturgos Ésquilo, Sófocles, Eurípides e Aristófanes, o médico Hipócrates, e os filósofos, como
Platão e Aristóteles, entre outros. Esses textos são fundamentais para nós, pois veiculam aspectos
fundamentais da cultura grega que, juntamente com a cultura judaico-cristã, a cultura latina e a
cultura da Idade Média constituem os pilares da civilização ocidental. O conhecimento da língua
em que tais textos foram escritos assegura o acesso às fontes sem a intermediação de tradutores,
ou, pelo menos, possibilita o confronto da tradução com o original, permitindo que sejam sanadas
possíveis dúvidas. Essa é a motivação principal para se estudar o Grego Antigo. Contudo, tal
estudo traz como acréscimo o aprofundamento na compreensão da Língua Portuguesa, por se
tratar de uma língua muito diferente, levando a maior consciência dos fenômenos linguísticos do
Português. Além disso, grande número de palavras de nossa língua é de origem grega ou são
palavras formadas a partir de radicais gregos, e, por essa razão, seu conhecimento aperfeiçoa o
domínio do léxico.

CÓDIGO DE LEIS DE GORTINA


(em escrita boustrophedon)
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KHAIRETE. Para aprender o grego antigo


AS CIVILIZAÇÕES DA GRÉCIA ANTIGA
E SEUS SISTEMAS DE ESCRITA

Os suportes para a escrita grega eram variados. Foram


usados diferentes materiais ao longo do tempo. Um
desses materiais era a tabuinha de madeira recoberta de
cera, chamada deltos. Tem-se também o papiro, ou bíblos,
e a prancha para escrever, o pínax. A escrita era também
grafada em pedra, como nos epitáfios, nos templos, nos
murais, bem como sobre argila, como nos vasos e outros
utensílios. Na época do surgimento da escrita, as letras
Cântaro beócio (450-425 a. C.) eram usadas na decoração da cerâmica, por ser novidade.

No período mais antigo, o grego era escrito da A escrita boustrophedon


direita para a esquerda, assim como a escrita
fenícia. No entanto, eventualmente, a sua direção
era alterada para boustrophedon φuκ ψξμσξλξθζ ζ-
virada-do-boi"), em que a direção da escrita
muda a cada linha. (Cf. Código de Leis de Gortina)
O boustrophedon foi um estágio intermediário,
e por volta do século 5 a.C. a direção da escrita
passou a ser da esquerda para a direita,
tornando-se o padrão no ocidente.

A maioria dos especialistas acredita que o alfabeto fenício foi adotado para a língua grega durante
o início do século 8 aC, talvez na ilha de Eubéia. As inscrições gregas fragmentárias mais antigas
conhecidas datam dessa época, 770-750 a.C., e elas contêm formas das letras fenícias de 800-750
a.C. Os mais antigos textos conhecidos até o momento são a inscrição Dipylon e o texto sobre a
chamada Copa de Nestor, ambos datados do final do século 8 a.C., inscrições cujo conteúdo é a
indicação de propriedade particular e de dedicação a um deus.
Inscrições do vaso Dypilon

Letras grafadas no vaso Dypilon:

Na escrita grega clássica:


ῦ ὀ ῶ ά ἀ ώ ί / ῷ ό ...
Tradução literal:
Quem de todos estes dançarinos agora dança mais delicadamente, para ele esta ...
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Do 8a ao 6 ° séculos, desenvolveram-se variantes locais do alfabeto. Tais variantes pertencem a


três grupos principais: o primeiro é o cretense; o outro compreende o eubeu e o ocidental e o
terceiro diz respeito ao jônico, ao ático e ao coríntio. A principal diferença entre eles está nos sinais
suplementares adicionados ao conjunto do núcleo fenício. Foram acrescentados, por exemplo ; ;
X E , inexistentes na escrita fenícia. O alfabeto jônico incluiu a última letra, .

Vaso de figuras negras com dupla inscrição do

alfabeto, mostrando as novas letras TX [ ] ,e

As variantes locais do alfabeto grego foram empregadas na Grécia antiga durante os períodos
clássicos arcaic s e iniciais, até que foram substituídos pelo clássico alfabeto de 24 letras que é o
padrão de hoje, por volta de 400 a.C. Todas as formas de alfabeto grego foram originalmente com
base no inventário compartilhado dos 22 símbolos do alfabeto fenício ,
O sistema conhecid como alfabeto grego, com 24 letras, foi originalmente a variante regional das
cidades jônicas da Ásia Menor . Ele foi adotado oficialmente em Atenas em 403 a.C, e na maior
parte do resto do mundo grego em meados do século 4 a.C .

A padronização do alfabeto grego

Em 403/2 a.C., após a derrota devastadora de Atenas na Guerra do Peloponeso e da restauração da


democracia, os atenienses decidiam abandonar o alfabeto ático antigo (alfabeto pré- euclidiano) e
introduzir uma variante padronizada do alfabeto jônico oriental, de acordo com a proposta do
arconte Euclides. Posteriormente, o mesmo alfabeto foi adotado na Beócia, na Macedônia, e no
decorrer do século IV substituiu todos os alfabetos locais em todo o mundo de língua grega,
tornando-se o alfabeto grego usado por todos.

History of the greek alphabet: http://en.wikipedia.org/wiki/History of the Greek alphabet Archaic


greek alphabets: http://en.wikipedia.org/wiki/Archaic Greek alphabets

Como a escrita grega teve antecedentes na Civilização cretense ou minoica, que empregou a escrita
Linear A e também na Civilização Micênica, que possuía uma escrita para fins palacianos,
denominada Linear B, é apresentado a seguir breve apontamento acerca dessas duas civilizações.
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A civilização minoica

A civilização que se desenvolveu em Creta,


denominada de Civilização cretense, é
também conhecida como Civilização
Minoica, devido a seu rei, chamado Minos
(cf. Minotauro)

A civilização minoica contava com sistema


administrativo, social, cultural, religioso e
esportivo bastante desenvolvido, há quatro
mil anos atrás

A arquitetura palaciana minoica

Abaixo, objetos encontrados em escavações em Cnossos


A cerâmica A pintura

Vasos para armazenar vinho, azeite ou Golfinhos pintados na técnica affresco3


água

Religião
A Senhora das serpentes

Jogos: pessoas saltando sobre um touro

3 Arte ou método de pintura mural que consiste em aplicar tintas diluídas em água sobre um revestimento
de argamassa ainda fresco, de modo a facilitar o embebimento da tinta (Dicionário Houaiss).
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A civilização Micênica

A Grécia micênica refere-se ao período da Grécia antiga entre 1600 a 1100 a.C. Esse nome deve-
se aos achados do sítio arqueológico de Micenas, na Argólida (Peloponeso, sul da Grécia). A
civilização micênica desenvolveu-se a partir da cultura dos aqueus e dos jônios, povos da raça
indo-europeia, que chegaram à região onde surge a Grécia, por volta do século XVI a.C. Esses
povos conquistadores assimilaram elementos da cultura cretense, dando origem, assim, à cultura
micênica.
A prosperidade dos micênicos devia-se à prática da conquista, sendo por isso uma civilização
marcada por uma aristocracia guerreira.
Por volta de 1400 a.C. os micênicos dominaram Creta e adotaram sua escrita, o Linear A,
para registrarem sua antiga forma de grego, na escrita que foi denominada Linear B.
O desaparecimento da Civilização micênica é comumente atribuído à invasão dórica, apesar de
teorias alternativas proporem como causa as catástrofes naturais e as mudanças climáticas. Neste
período começa o desenvolvimento da literatura grega antiga e do mito, incluindo os poemas
épicos de Homero, a Ilíada e a Odisséia. A Guerra de Troia pertence a esse período.

PORTAL DOS LEÕES (Micenas).


Em 1841, o arqueólogo grego Pittakis descobriu
o Portal dos Leões, na cidade de Micenas, no
Peloponeso.
Contudo, foi apenas em 1874, com as escavações
de Schliemann, que foram encontrados em
Micenas túmulos, esqueletos reais e artefatos
fúnebres notáveis. Tais objetos são do período
denominado Heládico Tardio I- II-III (mais ou
menos 1600 a 1050 a.C.).

A máscara de Agamenão

Um objeto que causou admiração foi uma


máscara mortuária, que Schiliemann
denominou "máscara de Agamenão", em
homenagem ao rei de Argos e de Micenas, que
liderou a Guerra contra Tróia.

Jóia encontrada em túmulo, em Micenas.


Encontra-se hoje no Museu arqueológico
Nacional de Atenas
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A ESCRITA LINEAR A E LINEAR B


1. A escrita Linear A (de Creta)
Em 1900, o arqueólogo Arthur Evans realizou
escavações em Knossos, na ilha de Creta. Encontrou aí
um complexo palaciano4 e artefatos que indicavam uma
civilização adiantada. Encontrou também 4000 tabletes
com caracteres desconhecidos, que constituía um
sistema de escrita, que ele denominou Linear A.
Essa escrita tinha fins administrativos e permanece
indecifrada.

A escrita hieroglífica minoica


Em Creta foram também encontrados registros escritos
numa escrita que foi denominada de escrita hieroglífica
minoica.
Tal escrita é assim chamada por causa do estilo
relativamente naturalista de seus caracteres, em
comparação com as formas mais "abstratas" do Linear A.
Muitos sinais são semelhantes a objetos naturais, como
Disco de Festo (lado A),
partes do corpo, plantas, animais, utensílios, armas, navios,
com escrita hieroglífica
minoica. bem como outros símbolos abstratos.

2. A escrita Linear B (de Micenas)

Em Micenas foram descobertos tabletes de argila,


marcados com uma escrita que foi denominada Linear
B, que era usada para registrar uma forma de grego
anterior aos poemas homéricos, mais ou menos 500 anos
antes de Homero. O Linear B era um silabário, em que
os signos individuais representam dois sons, uma
consoante e uma vogal, que inclui um número maior de
signos do que o alfabeto. O Linear B também era usado
para documentar transações administrativas.

O Linear B foi decifrado em 1952 por Michel Ventris5

Além dos sinais fonéticos, o Linear B


possuia vários logogramas, que
homem mulher roda jarro trigo tecido representam pessoas, animais, plantas e
objetos. Alguns dos logogramas são
pictóricos na aparência e não deixam
vinho bronze lã cevada azeite ouro
dúvidas sobre o que eles representam,
enquanto outros são mais icônicos ou
simbólicos.

4As ruínas encontradas pertencem à dinastia dos reis chamados Μξστψ , à φuζρ υκχωκσθκχξζ τ λζςτψτ
Minotauro.
5 Maiores informações em: Ferrara, Sílvia. Mycenaean Texts: The Linear B Tablets. BAKKER, Egbert J. A
companion to the Ancient Greek Language. Massachussets Wiley-Blackwell, 2010.
14

O período Clássico

Na sequência do desenvolvimento histórico da Grécia, tem-se inicialmente a civilização


minoica e depois o período micênico. Segue-se o período arcaico, que estabelece a transição entre
esses dois períodos e o período clássico.
Com a mudança socio-cultural desses períodos, o povo helênico conheceu uma modificação
também nos sistemas de governo. Inicialmente, o sistema era a monarquia hereditária, por direito
divino. Esta foi suplantada por um sistema chamado tirania, que, por sua vez, foi substituído pela
democracia, em pleno século V a.C.
O período clássico foi uma época de grande efervescência cultural, artística e científica na
Grécia. Seu polo irradiador era a cidade de Atenas, situada na região chamada Ática. A literatura
grega, com os gêneros épico, lírico, dramático; a filosofia; a historiografia, a medicina e as ciências
naturais tornaram-se o germe do desenvolvimento da civilização ocidental.

A acrópole de Atenas

Partenon (templo da deusa Atena)

O dialeto ático e a escrita grega

Havia na Grécia nesse período diferentes dialetos, sendo que, em Atenas, falava-se o dialeto de
toda a região da Ática. Devido à rica produção escrita em dialeto ático, essa é a modalidade do
grego estudado nas universidades.
O alfabeto usado para registro da língua grega desse período chamava-se phoinikeia grámmata,
alfabeto fenício, por ter sido adaptado a partir da escrita fenícia.
15

KHAIRETE. Para aprender o grego antigo

LIÇÃO 1 – INTRODUÇÃO AO ALFABETO GREGO

ὰἙ ὰ ά
O alfabeto grego

1. O alfabeto grego e sua origem.


Como já exposto, nos primórdios da cultura grega podem ser citadas a civilização minoica, que
se desenvolveu na ilha de Creta (de 3100 a 1100 a.C.) e a civilização micênica, no Peloponeso (1600
a 1100 a.C.), que desenvolveram um sistema de escrita linear, chamadas, respectivamente, Linear
A e Linear B. Posteriormente, os gregos aperfeiçoaram uma forma de escrita que deu origem ao
alfabeto ocidental, derivada da escrita dos fenícios.
Heródoto, na obra História, V, 58, explica a origem e a denominação das letras gregas,
chamadas inicialmente de phoinikeia grámmata, letras fenícias6

Os fenícios vindos com Cadmo, entre os quais estavam esses gefireus, introduziram numerosos
conhecimentos entre os helenos quando se estabeleceram em seu território — entre outros o
conhecimento do alfabeto, que os helenos, até onde vai o meu conhecimento, não possuíam
anteriormente; de início esse alfabeto era o mesmo usado pelos fenícios; depois, com o passar do tempo,
simultaneamente com a língua esses cadmeus mudaram também a forma das letras. As regiões
circunvizinhas eram habitadas em sua maior parte por helenos de raça iônia; eles adotaram os
caracteres aprendidos dos fenícios e passaram a usá-los com ligeiras modificações, e usando-os eles os
divulgaram, como era justo — pois os fenícios haviam sido os seus introdutores na Hélade — sob o
nome de "fenícios".

Segundo Heródoto, Cadmo teria ido para a Grécia por volta do ano 2000 a.C. Contudo, o
alfabeto fenício surge na Grécia por volta de 800 a. C.

A representação das vogais no alfabeto grego


Além de indicar a origem fenícia do alfabeto grego, o historiador esclarece também que ocorreu
uma adaptação na forma das letras. De fato, a maioria das letras do alfabeto fenício foram
usadas no alfabeto grego para representar os sons semelhantes que havia no grego, mas
algumas adaptações foram necessárias e a mais significativa delas foi a representação das
vogais.
A língua fenícia possuía uma série de consoantes guturais inexistentes na língua grega. Dessa
forma, as letras fenícias que representavam essas consoantes foram utilizadas pelos gregos para a
representação das vogais e, por isso, a escrita grega é considerada o primeiro alfabeto existente.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/History_of_the_Greek_alphabet

6 Outros autores gregos apresentam diferentes relatos acerca da origem do alfabeto grego. Cf. Higino
Fabulae, 277; Diodorus Siculus, Historical Library, 5.74.1; Plutarco, em sua obra On the malice of Herodotus,
entretanto, critica a opinião de Heródoto.
16

Algumas adaptações do fenício para o grego


Alfabetos As vogais gregas
Fenício Grego
Algumas letras que representavam sons da língua fenícia
inexistentes na língua grega foram empregadas para representar
vogais e semivogais:
1. [ ] letra fenícia que representava a vogal glotal āleph
após modificação em sua forma, foi usada para o alfa grego [Α ];
2. [ ] a letra he tornou-se o epsilon [ ];
3. [ ] a glotal heth foi usada para a vogal longa êta [ ];
4. o yodh [ ] foi usado para o iota [ Ι ];
5. [ O ] a faringal ayin passou a representar o ômicron [ o ];
6. [ ] o waw passou a representar o ípsilon [ ].

 Um dublê do waw [ Y ] foi utilizado para representar o digamma Ғ


ғ , φuκ ικψζυζχκθκu ιζ ρíσμuζ μχκμζ.
 Posteriormente, independentemente do fenício, os gregos
introduziram uma letra para representar o [ o ], a letra .

Outras letras

Duas letras do alfabeto fenício que foram adaptadas para o grego


desapareceram posteriormente: o san [ M ] e o qoppa [ Q].

Os gregos introduziram em seu alfabeto consoantes novas, para


representar sons da língua grega inexistentes no fenício:
 - para representar o /ph / ; para o / kh / e para o / ps /.

Variantes locais do alfabeto grego


O alfabeto grego inicial não tinha as mesmas formas em todas as regiões da Grécia. Havia
basicamente três formas diferentes e a partir de 403/2 a.C. adotou-se o alfabeto jônico como
padrão. O alfabeto jônico inseriu êta [ ], khi [ ]; phi [ ]; o csi [ ] e omega [ ]
Sinais diacríticos [acentos agudo, grave e circunflexo)
Por volta do ano 200 a.C foi criado um sistema de sinais diacríticos, para indicar a acentuação
tonal das palavras gregas. Esse sistema também indicava a duração das vogais.
As letras maiúsculas e minúsculas
Durante toda a época antiga, o grego foi escrito apenas com letras maiúsculas. As minúsculas
se desenvolveram apenas a partir da metade do século IX.

Consultas efetuadas
http://www.ancientscripts.com/lineara.html
http://drupal.antibaro.gr/node/1844
http://www.ancientscripts.com/linearb.html
Cultura minoica: https://www.pinterest.com/sptheos/minoan/
Cultura micênica: http://flickrhivemind.net/Tags/mycenaean
Glossário do Linear B: http://www.explorecrete.com/archaeology/linearB.pdf
17

O alfabeto grego: maiúsculas e minúsculas

Os homens sempre tiveram a intenção de deixar o registro de suas experiências. Das


cavernas até as nuvens da informática, muita tentativa foi realizada. Na própria Grécia, nos
primórdios da escrita, só havia as maiúsculas, não existia acento ou espíritos, nem pontuação. As
palavras eram escritas todas juntas!

Observe o trecho abaixo, referente a uma tabuinha de ouro7, encontrada em Petélia (Itália).
Tratava-se de uma plaqueta de ouro que os iniciados nos mistérios órficos levavam consigo
quando mortos, para serem "reconhecidos" no Hades como iniciados e, assim, admitidos entre
outros iniciados8.

Temos acima a foto da tabuinha e a reprodução escrita do trecho nela existente. Pode-se
observar a sequência de maiúsculas, palavras todas juntas, etc. Desse texto, destaco um trecho que
se encontra no final da sexta linha e começo da sétima, onde se pode (com dificuldade) ler:

Α Α Ι Ι Α Ι
MASSOURAÇADOSDEUSES
Em grego ático, em escrita minúscula, seria:
ὐ ά [ἰ] [ ] έ ὐ ά
... mas sou raça dos deuses...

Só mais tarde, no período helenístico (III século a.C.), Aristófanes de Bizâncio introduziu
os sinais diacríticos, como a pontuação e os espíritos, que se tornaram padrão na Idade Média,
visando a uniformizar a divergência gradativa que se estabelecia entre a pronúncia e a escrita, bem
como para auxiliar os estrangeiros a escreverem ou lerem o grego. Essa nova grafia foi a que
prevaleceu.
A escrita capital (isto é, maiúscula) existiu até o século IX e X d. C., quando foi substituída
pelas letras minúsculas.
As maiúsculas continuaram a ser usadas apenas no início de frases e dos nomes próprios,
de cidades ou nos adjetivos pátrios.

7 http://www.heavenlyascents.com/2009/06/18/instructions-for-the-netherworld-the-orphic- gold-tablets/ e
http://www.theosophy-nw.org/theosnw/world/med/me-gfk.htm
8 Para saber mais, consultar EDMONDS, Radicliffe G. Orphic Gold Tablets and grek religion. Cambridge:
Cambridge University Press, 2011.
18

O DESENHO DAS LETRAS GREGAS MINÚSCULAS

1. ἄ - Siga as setas e desenhe as letras gregas minúsculas.


Obseerve que há letras que excedem para baixo da linha.
alfa beta gamma delta épsilon dzeta

êta theta iota kappa lambda mü

nü ksi ômicron pi rhô sigma

tau ípsilon fi (phi) khi psi ômega


19

O desenho das letras

2. ἄ – Observe o quadro acima e escreva 5 vezes cada letra do alfabeto grego.

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ἐ ὼ ὸ ὶ ὸ Ὦ, ὁ ῶ ὶὁ ,
ἡἀ ὴ ὶ ὸ έ .

Eu (sou) o alfa e o ômega, o primeiro e o último,


o princípio e o fim. (Apocalipse, 22.13)
20

KHAIRETE. Para aprender o grego antigo


LIÇÃO 2 – O ALFABETO GREGO
E A ESCRITA DO GREGO CLÁSSICO
O alfabeto grego
No período clássico, o alfabeto grego possuía 17 consoantes e 7 vogais; ao todo, 24 letras.
Letra Nome Pronúncia e transliteração* Exemplos
1. ἄ alfa [a] a ἀ ά imortal
2. ῆ beta [b] b ύ rei
3. ά gama [ g ] lê-se: "gue" g ά casamento
4. έ delta [d] d ό tição
5. ό épsilon [ ê ] breve fechado e ἐ ί azeitona
6. ῆ dzeta [ dz ] z ύ Zeus
7. ἦ êta [ e ] longo aberto /éé/ ê ἤ continente
8. ῆ teta [ th ] th inglês: thin th ά mar
9. ἰῶ iota [i] i ἰό flecha
10. ά kappa [k] k ά purificação
11. ά lambda [l] l ώ flanco
12. ῦ mü [m] m ά adivinho
13. ῦ nü [n] n ῦ navio
14. ῖ ksi [ cs ] Como "fixo" ks έ estrangeiro
15. ὂ ό omicron [ ô ] breve fechado o nome
16. ῖ pi [p] p ή pai
17. ῥῶ rô [r] r ῥώ força
18. ῖ sigma [ s ] (suave = ss) s ῖ sinal; limite
19. ῦ tau [t] t ά túmulo
20. ὒ ό ípsilon [ ü ] francês; alemão y/ü ύ senha
21. ῖ fi [ ph ]/f ph/f ά remédio
22. ῖ khi [ kh ] gutural aspirada kh ά recompensa
23. ῖ psi [ps ] ps ή alma; vida
24. ὦ έ ômega [ o ] longo aberto óó o ὦ ombro

* Transliteração9 O é passar de um tipo de escrita (grego) para outro (latino).


É usada com a intenção de reproduzir a palavra grega, sem usar os caracteres gregos. Exemplos:
Transliteração Tradução
Ἡ ῆ Heraklēs Héracles
ή kephalē cabeça
ή phonē som; voz

9 As normas de transliteração usadas na Revista Classica, da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, estão
disponíveis em: http://revista.classica.org.br/index.php/classica/article/view/123/113 (para baixar em pdf).
21

Classificação dos sons da língua grega (consoantes, vogais e semivogais)

I – As vogais

[a] [b] [g] [d] 1. Só longas: e


ē  e longo aberto. Cf. belo
ō  o longo aberto. Cf. bola
alfa beta gama delta

2. Só breves: e o
ĕ  e breve fechado. Cf. medo
ŏ  o fechado. Cf. bolo
[ê] [ dz ] [ éé ] [ th ]
3. Longas ou breves
épsilon dzeta êta teta
Atenção para a vogal

1º - tem som de /ü/ Cf. francês menu.


2º - Nos ditongos [ ] e [ ] o som é igual ao do
[i] [k] [l] [m] português  /au/ e /eu/.
3º - Exceção: [ ] pronuncia-se /u/
iota kapa lambda mü

II – As consoantes

1. São 11 as consoantes simples:


[n] [ ks ] [ô] [p]

nü ksi ômicron pi 2. São 3 os dífonos (uma letra, dois fonemas):


[ = dz ] - [ = ks ] - [ = os ]
3. São 3 as consoantes aspiradas:
/ [ = th] - [ = ph ] - [ = kh ]
Notas
[r] [s] [t] [ü/u]
1. é usado no início ou meio da palavra
rô sigma tau ípsilon
2. é usado no final da palavra
3. ωκς ψτς ικ μuκ , θτςτ κς μuκχχζ
[ ], [ ] e [ ] lê-se /ga/, /go/ e /gu/
[ ],[ ] lê-se /gue/ e /gui/
[ ph / f ] [ kh ] [ ps ] [ óó ] Mas em  o [ ] tem som nasal.
fi ki psi ômega Lê-se: /ng/, /nk/, /nkh/ e /nks/

As consoantes gregas

Além das consoantes simples, equivalentes ao som das nossas consoantes, a língua grega

possui também consoantes duplas, ou dífonos, que são uma única letra para representar dois sons

e também consoantes aspiradas, que eram emitidas acompanhadas de uma aspiração, que é

representada pela letra [ h ].


22

Ι. Consoantes simples. As consoantes simples são onze.


Algumas são pronunciadas de forma semelhante ao português, mas outras apresentam
diferenças, como será explicado abaixo.

Letra
Pronúncia [b] [g]1 [d] [k] [l] [m] [n] [p] [r]2 [s]3 [t]

Transliteração /b/ g
/ / /d/ /k/ /m/ /n/ /p/ /r/ /s/ /t/

Observações:

Letra
1. ,  lê-se /ga/, /go/ e /gu/ ά estômago; ό sêmen
[g] /  lê-se /gue/ e /gui/ ἀ έ rebanho ί torna-se
ἀ ά necessidade
[ ζσωκψ ικ τuωχζ μuωuχζρ , , , ωκς ψτς σζψζρ ἐ ύ perto
[ ] [ ] [ ] [ ]  lê-se: /ng/, /nk/, /nkh/ e /nks/ ἐ ώ nativo do país
2. a) No final ou no interior da palavra: ά /kithára/ cítara
[r] ζ θτσψτζσωκ ωκς ψτς vξηχζσωκ ψξςυρκψ ή /patér/ pai.
(cf. port. carinho).
b) No início das palavras - τ ψτς ιτ é vξηχζσωκ ῥό /rhópalon/ clava
(cf. port. romance). ῥί /rhís/ nariz
Usa-ψκ τ κψυíχξωτ χuικ ' ψτηχκ τ ῥ ] para ῥ ί /rheítron/ correnteza
marcar esse som vibrante inicial. Ῥ ί /Rhegíon/ Régio (cidade).
θ vτzκζιτ στ ξσωκχξτχ ιζ υζρζvχζ é
χκιuυρξθζιτ θλ. υτχω. θζχχξσντ ί /Tirrhenía/ Tirrenia
3. O som do sigma é suave ί relação ἴ saída
[s]  Como /ss/ em português. ῶ corpo
Grafia do sigma
[ ] usado no início ou no interior da palavra ή mistério
[ ] usado no final da palavra ἄ homem.

II. Consoantes duplas (dífonos): uma única letra representa um som complexo, formado por uma
consoante [ ; ; ] + s/z.
[ dz ] [ ks ] [ ps ]
ή busca έ estrangeiro ή voto
Ἀ ά Amazona ί espada ή almα
ύ Zeus ό arco; flecha έ Pélope

III. Consoantes aspiradas - são sons consonantais acompanhados de som gutural [h].
São pronunciadas com um leve sopro. Cf. inglês thing.

As consoantes aspiradas são três:


[ th ] [ ph ] [ kh ]
ά mar ά remédio ά abertura
ά morte ί feitiço ή fel; veneno
ό deus ή som; voz ί túnica
23

As vogais gregas

A grande modificação introduzida na escrita pelo alfabeto grego em relação aos sistemas de escrita
anteriores foi a grafia das vogais. O alfabeto grego tem sete vogais:

Os sons das vogais gregas são assim representados na transliteração:

ζ [ā / ᾰ ] κ[ĕ] κ[ē] i [ī / ĭ ] τ[ŏ] τ[ō] u [ū / ŭ ]


longa/breve breve longa longa/breve breve longa longa/breve

Classificação das vogais


De acordo com Allen,10 as vogais podem ser classificadas de acordo com:
a) quão longe para trás ou para frente elas são articuladas (i.e, se envolvem áreas da língua e do
palato mais para a frente ou mais para trás);
b) quão fechadas ou abertas elas são (i.e, se envolvem maior ou menor elevação da língua).
O mesmo autor apresenta um diagrama que esclarece sua análise das vogais:

Frontal Posterior

Algumas vezes, o arredondamento dos lábios é associado a uma vogal frontal e difundindo- se
como uma vogal posterior, como acontece com o u francês e o ü alemão: menu; Müller. Do mesmo
modo é pronunciado o u grego, em certos contextos fonéticos (no início das palavras e após
consoante, formando uma sílaba. Ex.: ύ , sono; ύ sinal).
As vogais gregas se distinguem não apenas pelo ponto de articulação (frontal/medial/posterior)
ou grau de abertura/fechamento da boca (aberta/fechada), mas também pela duração de sua
pronúncia.

Vogais longas, breves e "duvidosas".


De acordo com a duração da pronúncia, as vogais gregas podem ser só breves, só longas ou
longas e breves. A vogal breve dura apenas um tempo de pronúncia, enquanto a vogal longa
dura dois tempos. Desse modo, uma vogal breve como [ ] equivale a /e/, enquanto a vogal
longa [ ] equivale a /ee/.

A quantidade das vogais é representada na transliteração pelos seguintes sinais:


braquia [ ˘ ] Para a vogal breve (quando necessário).
_
macron [ ] Para vogal longa. Ex: ῆ . Translitera-se: bēta.

10
ALLEN, Sidney W. Vox Graeca. A guide to the pronunciation of classical greek.
Cambridge: The Cambridge University Press, 1968, p. 3-4.
24

Vogais iniciais aspiradas e não aspiradas


Colocação dos espíritos e dos acentos
Espírito  é o nome dado ao símbolo [ ᾿ ] ou [ ῾ ] que é colocado sobre as vogais iniciais, para
indicar se essa vogal inicial é aspirada ou não aspirada.

1. Espírito doce e espírito rude.


[ ᾿ ] - espírito doce marca a ausência de aspiração  ἀ ό [pronuncia-se adelphós] irmão;
[ ῾ ] - espírito rude indica aspiração  ὥ estação, hora.

Na vogal aspirada, um som gutural acompanha a pronúncia da vogal inicial. Cf. inglês horse.
A aspiração é representada na transliteração por um [h]. Ex: ἅ (pronuncia-se hámaksa) carro.

2. Transliteração do espírito rude


[ ῾ ] [h] - Na transliteração, o espírito rude é representado por um h.
Dessa forma, o termo grego ὕ , excesso, é transliterado por hýbris.
Isso explica nosso h inicial nas palavras provenientes do grego, como em hipnose, de ὕ
sono; hipótese de ὑ ό base; pressuposto.

3. Observações sobre o espírito rude


a) Vogal ípsilon [ ] inicial
Todo [ ] inicial recebe espírito rude: ὕ [hýdra] serpente; ὕ [hýle] floresta.
b) A consoante rô inicial
O [ ] inicial recebe espírito rude, para indicar que é um /r/ forte [rr].
Ex.: ῖ correnteza; Ῥ ά Radamante.

4. Colocação do espírito
Há diversas possibilidades de colocação do espírito, depende se a vogal for minúscula ou
maiúscula, ou ainda se se tratar de ditongos.
ἀ ί , imortalidade  o espírito é colocado sobre as vogais iniciais minúsculas;
Ἀ ή Ática  o espírito é escrito ao lado das maiúsculas
ἰ ί causa; ὐ ώ Europa  Nos ditongos, o espírito é grafado sobre a segunda vogal
ἀ ό águia; Hades  Quando o acento está na vogal inicial, trata-se de um hiato e
não de um ditongo

5. Espírito combinado com acento


Quando a vogal inicial recebe espírito e também acento, a forma será:
ἔ corça ἥ herói  minúscula: primeiro o espírito, depois o acento
Ártemis Ὕ Hilo  nas maiúsculas, acento e espírito vêm antes da vogal
ὦ ombro; Ὠ ombro  o acento se sobrepõe ao espírito sobre as minúsculas ou
antecedem as maiúsculas

II - Observações sobre a pronúncia da vogal ípsilon ( )


1. O [ ] possui som de ü/y no início da palavra ou quando forma sílaba após uma consoante:
a) ὕ : /hüle/ floresta
b) ή Pronúncia: /güné/ mulher; Ὄ Pronúncia: /Ólümpos/ Olimpo.
2. O [ ] possui som de /u/ no ditongo [ ]. Ex.: ῦ Pronúncia: /dulos/ escravo.
3. Nos ditongos [ ] [ ] o som o [ ] é semelhante ao som do u do português: /au/, /eu/.
25

Os ditongos
Há sete ditongos em grego, formados por vogais seguidas das semivogais [ ou ]
Ditongos com a semivogal Ditongos com a semivogal
Pronúncia Significado
/ai/ ί /kháirete/ Salve!( vós) /au/ ῦ /tauros/ touro
/ei/ ἰ ί /eimí/ eu sou /eu/ ί / Eleusis Elêusis
/oi/ ἶ /oínos/ vinho /u/ ὐ ό /uranós/. céu
/ui/ /u/ monotongo: duas letras/ um único som

O iota subscrito: [ ᾳ ῃ ῳ ]
O iota pode às vezes estar escrito sob alguma vogal longa (ᾳ, ῃ, ῳ). Esse é o iota subscrito. Pode
ser pronunciado ou não. Alan Daitz, que emprega a pronúncia restaurada do grego o pronuncia.
Ele é escrito sob as minúsculas e ao lado das maiúsculas: ᾠ ή e Ι ode, canto.
Proponho que o iota subscrito seja pronunciado, como forma de auxiliar a memorização.
Transliteração: o iota subscrito escreve-se após a vogal ao qual ele se subscreve.
Ex.: ῷ animal. Pronúncia dzoion e transliteração: dzōion.
Sinais de pontuação
A escrita grega antiga não possuía sinais de pontuação , nem separação de palavras e foram
desenvolvidos posteriormente, pelos gramáticos. Alguns coincidem com nossos sinais, outros não.
Verifique:
[ . ] ponto final [ ; ] ponto de interrogação
[ , ] vírgula [ · ] ponto e vírgula ou dois pontos ( : )
Trema [ ¨ ] - o trema indica um hiato, ou seja, as vogais juntas não formam um ditongo, mas são
pronunciadas separadamente: ἀϊ ή invisível.

ACENTUAÇÃO: Noções mínimas de acentuação grega


Entre os gregos no início não havia acentuação. Os acentos e os espíritos foram desenvolvidos
no século III a.C, pelo gramático Aristófanes de Bizâncio . Apenas no século II d.C. os espíritos
aparecem esporadicamente nos papiros, devido à divergência entre pronúncia e escrita, tornando-
se padronizados bem mais tarde, na Idade Média.
A prosódia da língua grega era tonal, comportando a elevação ou abaixamento do tom e seus
três acentos remetem a esse tipo de pronúncia.
A língua grega possuía os acentos: agudo ['], grave ['] e circunflexo [~].
1. Acento agudo [´] - significava elevação de voz na sílaba onde recaía.
Podia recair sobre uma das três últimas sílabas, desde que a última sílaba fosse breve.
Ex.: ἄ homem; ἡ έ dia; ά alimento.
2. Acento circunflexo [~] - significava elevação + abaixamento do tom na mesma sílaba.
Por essa razão só podia recair sobre sílaba que tivesse vogal longa ou ditongo.
Podia recair sobre uma das duas últimas sílabas e só recaía na antepenúltima se a última fosse
breve.
Ex.: Ἀ ᾶ Atena; ῶ Posidão; ῆ ilha; ὦ mocho, coruja; ῖ criança, filho.
mportante: sempre que a última sílaba for breve e a antepenúltima for longa acentuada,
o acento será circunflexo.
3. Acento grave [`] - Era, de fato, um "não acento": era apenas supressão da elevação do tom,
numa palavra que antes possuía acento agudo na final. Isso ocorria na sequência da frase, quando
após palavra com acento agudo na última sílaba seguia outra palavra também acentuada. Palavras
oxítonas como έ sim, de fato e ἀ ό irmão, na sequência da frase tornam-se: ί ὲ ἦ
ἀ ὸ Ὀ έ . Lino de fato era irmão de Orfeu.
26


Escreva em grego os nomes dos heróis que estão transliterados abaixo.
Nota: lembrar-se dos espíritos antes das vogais maiúsculas.

ho Akhilleús ντ Ηéπωōχ

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ho Odysseús ho Theseús

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ντ Μκσéρζτψ πζì νē Ηκρéσē

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https://www.britishmuseum.org/explore/online_tours/greece/the_myth_of_the_trojan_war
/menelaos_and_helen.aspx
27

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
/
a b g d e dz e t h i k l m n ks 0 p r s t y ph kh ps ô

Exercício: copiar, transliterar os substantivos abaixo e fazer exercício de leitura:

Cópia Transliteração Significado


1. ἡ ά a professora
2. ὁ ά o professor
3. ὁ ή o aluno
4. ἡ ί a aluna
5. ἱ ί os alunos
6. ἱ ί as alunas

Saudações:
Cópia Transliteração Significado
1. ί Salve (vós)!
2. ῖ ὶ ύ Salve tu!

Para estudar e aprender: O verbo ser / estar no indicativo presente:

Singular 1ª ἐ ώ ἰ eu sou eu estou


2ª ὺ ἶ tu és / você é tu estás / você é
3ª ὐ ό ἐ ele é ele está
3ª ὐ ή ἐ ela é ela está
3ª ὐ ό ἐ ξψψτ é ξψψτ κψωá
Plural 1ª ἠ ῖ ἐ nós somos nós estamos
2ª ὑ ῖ ἐ vós sois / vocês são vós estais / vocês estão
3ª ὐ ί ἰ eles são eles estão
3ª ὐ ί ἰ elas são elas estão
3ª ὐ ά ἰ κψψζψ θτξψζψ ψãτ κψψζψ θτξψζψ κψωãτ

Exercício: copiar as formas gregas e em seguida transliterá-las:

Cópia Transliteração
1. ἐ ὼ ἰ ί
2. ὺ ἶ
3. ἡ ῖ ἐ
4. ὑ ῖ ἐ
5. ὐ ό ἐ
6. ὐ ί ἰ
7. ὐ ή ἐ
8. ὐ ί ἰ
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Complete as frases a seguir com os substantivos apresentados acima:

1. ἐ ὼ ....................................................................... ἰ .

2. ὐ ὸ .................................................................... ἐ .

3. ὐ ὴ .................................................................... ἐ .

Para estudar e aprender: τ ξσιξθζωξvτ υχκψκσωκ ιτ vκχητ ζυχκσικχ

Singular 1ª ἐ ὼ ά eu ensino / eu estou ensinando


2ª ὺ ά tu ensinas / tu estás ensinando
3ª ὐ ό ά ele ensina / ele está ensinando
3ª ὐ ή ά ela ensina / ela está ensinando
3ª ὐ ό ά ξψψτ κσψξσζ / ξψψτ κψωá κσψξσζσιτ
Plural 1ª ἠ ῖ ά nós ensinamos / nós estamos ensinando
2ª ὑ ῖ ά vós ensinais / vós estais ensinando
3ª ὐ ί ά eles ensinam / eles estão ensinando
3ª ὐ ί ά elas ensinam / elas estão ensinando
3ª ὐ ά ά κψψζψ θτξψζψ κσψξσζς / κψψζψ θτξψζψ κψωãτ
ensinando

ἄ - Transliteração
Faça a transliteração das frases a seguir:

1. ἑώ · 5. Achei! (Arquimedes)

2. ά ῥ ῖ. 3. Tudo se move.

3. ἶ ὅ ὐ ὺ ἶ . 4. Só sei que nada sei.

Para estudar e aprender: o indicativo presente do verbo ζυχκσικχ

Singular 1ª ἐ ὼ ά eu aprendo / eu estou aprendendo


2ª ὺ ά tu aprendes / tu estás aprendendo
3ª ὐ ό ά ele aprende / ele está aprendendo
3ª ὐ ή ά ela aprende / ela está aprendendo
3ª ὐ ό ά ξψψτ ζυχκσικ / ξψψτ κψωá ζυχκσικσιτ
Plural 1ª ἠ ῖ ά nós aprendemos / nós estamos aprendendo
2ª ὑ ῖ ά vós aprendeis / vós estais aprendendo
3ª ὐ ί ά eles aprendem / eles estão aprendendo
3ª ὐ ί ά elas aprendem / elas estão aprendendo
3ª ὐ ά ά κψψζψ θτξψζψ ζυχκσικς / κψψζψ θτξψζψ
estão aprendendo
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Exercício: Copiar e traduzir:

Cópia: Tradução:
1. ἐ ὼ ά
2. ἐ ὼ ά
3. ἡ ῖ ά
4. ἡ ῖ ά
5. ἐ ὼ έ
6. ύ ὲἀ ύ
7. ὐ ὸ έ
8. ὐ ὴ ὲἀ ύ
Vocabulário: ά aprender / έ dizer; falar / ἀ ύ ouvir

Templo de Apolo em Delfos

Leitura: Os sete sábios gregos

Pausânias (115 - 180 d.C.) geógrafo e viajante grego, escreveu a obra Descrição da Grécia, onde se lê:
No frontão do templo de Delfos estão escritas máximas úteis para a vida dos homens, que
foram escritas por homens que os gregos dizem ser sábios. Esses eram: da Jônia, Tales de Mileto
e Bias de Priene; dos eólios de Lesbos, Pítaco de Mitilene; dos dórios da Ásia, Cleóbulo de
Lindos; o ateniense Solon e o espartano Quílon; o sétimo, Platão, filho de Ariston, ao invés de
Periandro, filho de Cipselo, declarou que era o queneu Misão, que habitava Quenas, vilarejo do
monte Eta. Esses sábios, então, foram a Delfos e dedicaram a Apolo as célebres máximas:
"Conhece-te a ti mesmo" e "Nada em excesso".
(Pausânias. Descrição da Grécia, 10.24.1)

Veja como se diz em grego: "Conhece-te a ti mesmo" e "Nada em excesso".


Exercício: Copie em grego e translitere:

ῶ ό . Conhece-te a ti mesmo.

ὲ ἄ . Nada em excesso.
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Leitura complementar: Os deuses gregos

Os gregos concebiam o universo como um cosmo


ordenado, em que cada ser ocupava uma posição
que lhe era própria, e isso constituía sua moira.
Homens e animais povoavam a terra, mas em seu
imaginário a terra e o universo todo eram povoados
também por deuses, monstros, semideuses e seres
híbridos, formados por uma parte animal e outra
parte humana.

Os deuses eram antropomórficos, com forma e


feições humanas, bem como dotados de paixões e
comportamentos próprios dos mortais, mas
distinguiam-se destes por serem imortais e
possuírem força e poder descomunais. Além disso,
Zeus, o porta-raios.
havia ainda forças não antropomórficas, benfazejas
ou malignas, que interferiam na vida dos homens.

Os seres do panteão helênico pertencem a diversas


categorias, que se distinguem por sua figurativização, por
seu campo de ação e por sua forma de atuação. Os
primeiros dentre eles são os chamados progonoi, ou seja, os
primeiros seres que surgiram, como Gaia, a terra; Urano, o
céu; Ponto, o mar; Nyx, a noite; Hemera, o dia, etc.

Ao lado:
Gaia segura Erictônio recém-nascido e o entrega a Atena

Outra categoria de seres existentes são o que os gregos denominavam daímon, que podia
manifestar-se como um espírito da natureza ou forças que afetam o corpo e a mente dos mortais.
Os daímones que agem como forças da natureza pertenciam a diversos grupos, como as Nymphai,
que administram os quatro elementos; as Náiades, que protegem a água fresca e as Dríades, que
cuidam das florestas; há também os Sátiros, que se ligam ao amor selvagem e os Tritões, que são
seres marinhos, etc. Podem ainda ser citados os daímones que agem diretamente sobre os humanos,
como Hypnos (o sono); Eros (o amor); Éris (a discórdia); Phóbos (o pavor); Thánatos (a morte), etc. A
força divina que atuou nas decisões de Sócrates era seu daímon, conforme ele próprio afirma em
sua defesa diante dos juízes, no tribunal que o condenou à morte. Quando descreve o surgimento
do universo e os seres primordiais, Hesíodo assim se refere a Eros, na Teogonia, v. 120-2:
, ά ἐ ἀ ά ῖ ,
ή , ά ὲ ῶ ά ᾽ἀ ώ
ά ἐ ή ό ὶἐ ί ή .
(...) Eros, o mais belo entre os deuses imortais,
que afrouxa os membros e que de todos os deuses e homens
subjuga no peito o espírito e o justo juízo.
31

Além dos prógonoi e dos daímones, havia também outra categoria de seres, os chamados theoí, os
deuses, que detinham o domínio das forças da natureza e que contribuíram para a difusão da
cultura entre os homens. Esses theoí também pertencem a diferentes grupos, dependendo de sua
localização no cosmo ou de sua forma de atuação. São eles os ouranioi, deuses celestes, como
Hélios, o sol; os Ánemoi, os ventos; Eos, a aurora, etc. Há os halioi, os deuses do mar, como as
Nereides, Triton, Glaukos, etc.; os deuses
chtonioi, do mundo subterrâneo, como
Hades, Perséfone, Hécate, etc. Havia
também os deuses georgikoi, protetores da
agricultura, como Pluto e Deméter, por
exemplo; os nomíoi eram os deuses pastoris,
como Pan e Aristeu; os pólikoi eram os
deuses da cidade, como Hestia, Eunomia,
etc.; os titanes, que eram em número de
doze, seis masculinos e seis femininos,
como Têmis, Crono, Prometeu, etc. Havia
ainda os apotheothenai, que eram os mortais
deificados, como Héracles e Asclépio, que
se tornou o deus da medicina.

O principal grupo de deuses ou theoí eram os olimpianos, que governavam o universo e


comandavam os deuses inferiores e os daímones. Eram eles: Zeus, Hera, Posidão, Demeter, Ártemis,
Apolo, Ares, Atena, Afrodite, Hefesto, Hermes, Dioniso e Héstia. Esses deuses eram também
conhecidos como Dodekatheon, ou Os doze deuses. Eram as principais divindades do panteão
helênico e residiam no topo do monte Olimpo. Os olímpicos se tornaram os deuses supremos
numa guerra em que Zeus liderou seus irmãos na vitória contra os Titãs.

Pertencem também ao conjunto dos imortais as constelações, que povoavam o céu noturno,
inclusive os signos do zodíaco, tal como Sagitário, que era o centauro Quíron; Gêmeos, que eram
os dois gêmeos Dióscuros, etc. Outra classe era formada por monstros, bestas e gigantes, como
Cérbero, os Centauros, a Esfinge, as Sereias, etc.

Por fim, podem ser citados os heróis semideuses, que eram adorados após sua morte como
deuses menores. Esse grupo inclui figuras como Aquiles; Teseu, Perseu e heroínas como Helena,
Alcmena e Baubo, bem como fundadores de cidades, como Erictônio (fundador de Atenas);
Cadmo (fundador de Tebas) e Pélope, que deu seu nome ao Peloponeso.

Os deuses e daímones, os heróis e os monstros da cultura grega estavam presentes no cotidiano


dos gregos não só por meio de sua religião ou de seus mitos, mas também faziam-se presentes por
meio da arte, representados pela pintura que decorava sua cerâmica, pela escultura, pela literatura
e pelas peças representadas em seus teatros. Pelo que nos restou de sua arte podemos conhecer a
forma que os gregos lhes atribuíam, observando sua arte figurativa e por meio de obras como a
Teogonia, de Hesíodo; a Ilíada e a Odisseia, de Homero, por sua poesia lírica e por suas peças
teatrais. Além disso, contamos ainda com os Hinos Homéricos; com a Biblioteca, de Apolodoro, o
primeiro compêndio de mitologia grega, e ainda a obra As metamorfoses, de Ovídio, que relata
inúmeras histórias sobre as figuras mitológicas greco- romanas.
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Exercício: Copiar/aprender os nomes gregos dos deuses

ἱ ὶ ὶ ἱ ί-------------------------- ---

ὁ ύ --------- ὁ ῶ -------- ὁ --------

ἡἭ -------- ἡἈ ᾶ -------- ἡἈ ί ------

ὁἈ ό ------ ὁ -------- ὁ ό ------

ἡ ή ------ ἡ -------- ὁἙ ῆ -------


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ἄ - Complete as lacunas com os nomes dos deuses que estão transliterados:

ἱ ώ ύ ί - Os doze deuses olimpianos

A Grécia antiga era politeísta. Havia um deus específico para os mais diversos aspectos da vida

humana e cósmica. Entretanto, havia um grupo de deuses que ficou conhecido como os doze deuses

olímpicos. Esses deuses variavam conforme os autores, mas os doze deuses canônicos, como se

conhece na poesia e na arte, eram:

Zeús Héra Poseidōn

Dēmētēr Athenâ Hestiá

Apóllōn Ártemis Árēs

Afrodítē Hefaistos Hermēs

Háides - - - - - - - - - - - - - - - - - θτσνκθξιτ σζ ωχζιξçãτ Δρκuψξζσζ θτςτ Ορτúωōσ

- - - - - - - - - - - - - - - - - , não era geralmente incluído entre os deuses olímpicos, porque o seu reino

era o submundo. Platão relacionou os Doze olímpicos com os doze meses, e isso significa que ele

considerou Ploúton um dos doze, uma vez que o último mês do ano era dedicado a ele e aos

espíritos dos mortos. Em seu diálogo filosófico Fedro, Platão alinha os Doze deuses com o Zodíaco

e exclui Hestiá de sua categoria.

Os Dodekatheoí - - - - - - - - - - - - - - - - - de Heródoto incluía Alfeiós - - - - - - - - - - - - - - - - - ,

Krónos - - - - - - - - - - - - - - - - -, Reía - - - - - - - - - - - - - - - - - e as Chárites - - - - - - - - - - - - - - - - - .

Heródoto menciona ainda que alguns incluíam Heraklēs - - - - - - - - - - - - - - - - - como um dos Doze.

Na ilha de Kós, Heraklēs e Diónysos - - - - - - - - - - - - - - - - - estão entre os Doze, mas e Ares e

Hefaistos não são. Para Píndaro e também na obra Biblioteca de Apolodoro e em Herodoro,

Heraklês não é um dos Doze Deuses, mas aquele que estabeleceu seu culto. Luciano (século II d.C.)

inclui Heraklēs e Asclepiós - - - - - - - - - - - - - - - - - como membros dos Doze, sem explicar quais

outros dois tiveramque sair para dar-lhes lugar.

Ηκηē - - - - - - - - - - - - - - - - -, Hélios - - - - - - - - - - - - - - - - -, Éχōψ - - - - - - - - - - - - - - - - - e

Persephóσē - - - - - - - - - - - - - - - - -, são outros deuses e deusas importantes que às vezes são

ξσθρuíιτψ στ μχuυτ ιτψ Γτzκ. Éχōψ é ςuξωζψ vκzκψ χκυχκψκσωζιτ ζτ ρζιτ ιτψ τuωχτψ ιτzκ,

κψυκθξζρςκσωκ ικ ψuζ ςãκ, “υνχτιíωē , ςζψ μκχζρςκσωκ σãτ é θτσωζιτ κσωχκ κles.

(Traduzido e adaptado do texto Twelve Olympians, disponível em: http


://en.wikipedia.org/wiki/T welve_Olympians. Acesso: 11/01/2013)

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