Você está na página 1de 122

FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
RESPONDA

1.0 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

deuses (Zeus, Hera, Dionísio, Apolo, Ares, Atenas, dentre


Introdução outros), além de semideuses (Teseu, Hercules, Perseu, dentre
outros). Relatando a vida desses deuses e semideuses, eles
criaram uma rica mitologia, isto é, um conjunto de lendas
A palavra filosofia é oriunda da Grécia antiga. Ela e crenças que, de modo simbólico, forneciam explicações
é composta de outras duas palavras, philo (amizade) para a realidade Universal. A mitologia grega é formada
e sophía (sabedoria). Portanto, filosofia significa por um grande número de relatos e lendas fantásticas que,
"amizade pela sabedoria". Assim, filosofia indica a ao longo do tempo, serviram de inspiração para diversos
disposição de quem estima o saber. artistas.

As fontes literárias e arqueológicas para o estudo


VIDEOAULA

da mitologia grega
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
A Arqueologia tem produzido uma quantidade
imensa de testemunhos sobre a religião e a mitologia
"A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados grega antiga, a começar pelas inscrições em santuários
e espantados com a realidade, insatisfeitos com as e em outros lugares de culto, que nos permitem ter
explicações que a tradição dera, começaram a fazer uma noção da devoção na religião olímpica em seu
perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que cotidiano. Os restos dos templos gregos mostram-nos
o mundo e os seres humanos, os acontecimentos naturais a onipresença da mitologia entre os gregos. O templo
e as coisas da natureza, os acontecimentos humanos e as de Apolo em Delfos, em uma paisagem montanhosa
ações dos seres humanos podem ser conhecidos pela razão fabulosa, ainda hoje impressiona o visitante. O
humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si omphalós, ou umbigo, de mármore decorado, cópia
mesma". romana do original grego, encontra-se no Museu de
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2013, p. 32. Delfos, e nos dá uma sensação muito direta do “umbigo
do mundo”. Há, ainda, belíssimas representações na
O PENSAMENTO MÍTICO estatuária antiga, assim como nas moedas, nos vasos
gregos pintados e até mesmo nas paredes romanas
Um olha atento à história da filosofia no Ocidente, mostra- que reproduziam quadros mitológicos gregos. Um
nos que o pensamentos filosófico surge, entre os gregos, em simples sarcófago podia mostrar imagens vívidas,
uma região e século bem definidos: a região da Jônia, no como no caso de Neoptólemo, filho de Aquiles, que
século VI a.C. Entretanto, a pergunta que se faz é: Como os apedreja Plixena, filha do rei de Tróia. Personagens
gregos faziam para entender o mundo à sua volta antes mitológicos como os centauros ganham vida nos
do nascimento da filosofia? A resposta é simples, antes relevos e pinturas antigas reveladas pela Arqueologia.
da filosofia, os gregos recorriam aos mitos para explicar a
origem de todas as coisas. Sendo assim, o mito constituiu um As fontes arqueológicas fornecem muitas
modelo de referência que lhe permitiu situar, compreender e informações independentes das obras literárias. O
julgar os acontecimentos a seu redor. Em suma, um homem famoso cavalo de Tróia, usado para esconder os
da civilização grega, no período anterior ao século VI a.C., guerreiros gregos como um falso presente para os
geralmente recorria às histórias explicativas, como por troianos, não aparece na Ilíada, apenas na Odisseia é
exemplo, o mito da criação do Universo apresentado pelo mencionado, mas aparece em muitas representações
poeta Hesíodo: antigas, como em vasos arcaicos de cerâmica. O
namoro de Marte (Ares) e Vênus (Afrodite), retratado
"[...] primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo em uma parede da cidade romana de Pompéia,
seio, de todos sede irresvalável sempre dos imortais que têm reproduz um quadro grego que mostra bem o caráter
a cabeça no Olimpo nevado, e Tártaro nevoento no fundo antropomorfo dos deuses gregos, assim como a morte
do chão de amplas vias, e Eros: o mais belo entre os Deuses de Penteu é retratada com emoção, ou como o saque
imortais. [...]. Do Caos Érebos e Noite negra nasceram. As de Tróia aparece algo real (para os antigos, o mito era
Noite aliás Éter e Dia nasceram [...] Terra primeiro pariu igual uma história verdadeira). Hermes, o deus de tantas
a si mesma Céu constelado [...]." facetas masculinas, é às vezes apresentado como um
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. São Paulo: Iluminuras, 2011. p. 109 jovenzinho.
FUNARI, Pedro Paulo A. As fontes literárias e arqueológicas para
Os gregos acreditavam que a Terra fosse chata e o estudo da mitologia grega. Disponível em: https://revistacult.
uol.com.br/home/as-fontes-literarias-e-arqueologicas-para-o-
redonda e que seu país ocupava o centro da Terra, sendo estudo-da-mitologia-grega/
seu ponto central, por sua vez, o Monte Olimpo, residência
dos deuses. Por falar em Olimpo, os gregos cultuavam vários

1
1.0 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 01

Narciso era um belo rapaz, filho do deus Céfiso e da ninfa


Liríope. Por ocasião de seu nascimento, seus pais consultaram
o oráculo Tirésias para saber qual seria o destino do menino.
A resposta foi que ele teria uma longa vida, se nunca visse
a própria face. Muitas moças e ninfas apaixonaram-se
por Narciso, quando ele chegou à idade adulta. Porém, o
belo jovem não se interessava por nenhuma delas. A ninfa
Eco, uma das mais apaixonadas, não se conformou com a
indiferença de Narciso e afastou-se amargurada para um
lugar deserto, onde definhou até que somente restaram
dela os gemidos. As moças desprezadas pediram aos
deuses para vingá-las. Nêmesis apiedou-se delas e induziu
Narciso, depois de uma caçada num dia muito quente, a
debruçar-se numa fonte para beber água. Descuidando-se
de tudo o mais, ele permaneceu imóvel na contemplação
ininterrupta de sua face refletida e assim morreu. No próprio
Hades ele tentava ver nas águas do Estige as feições pelas
quais se apaixonara. Fonte: https://goo.gl/gbJqTG
(http://tempo-de-ler.blogspot.com)
A PASSAGEM DO PENSAMENTO MÍTICO PARA O
Toda narrativa mítica veicula uma espécie de lição de ordem PENSAMENTO FILOSÓFICO
moral, comportamental, podendo mesmo estabelecer
algum tipo de censura ou coerção, no âmbito das relações Os diferentes povos da antiguidade desenvolveram
de convívio interpessoal, familiar ou social. Concorre concepções próprias acerca da natureza e, portanto,
produziram maneiras diferentes para explicar os fenômenos
para a dimensão trágica do mito narcísico a ocorrência
e processos naturais. Entretanto, os gregos foram os
descomedida do traço de sua personalidade literária, responsáveis pelo surgimento da filosofia. Podemos
identificado como considerar que o pensamento filosófico grego nasceu da
insatisfação com as explicações do real fundamentadas no
A Egoísmo, por não querer ver a beleza de mais ninguém. pensamento mítico. Em consonância com esta constatação,
B Vaidade, já que não conseguia parar de se admirar. o pensador alemão Werner Jaeger defendeu que "devemos
C Orgulho, pois todos o consideravam muito bonito. considerar a história da filosofia grega como um processo
D Parcialidade, porque não conseguia admitir os próprios de progressiva racionalização do mundo presente no mito".
defeitos.
E Altruísmo, visto que usava sua beleza para ajudar as A expressão “milagre grego” significa que a filosofia
mulheres. surgiu de modo original e espontâneo na Grécia
graças à genialidade do povo helênico.
O pensamento mítico consiste em uma forma pela
qual um povo explica aspectos essenciais da realidade Então, a filosofia é fruto do que se convencionou chamar
em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da de “milagre grego”? Não, pois, segundo o filósofo alemão
natureza e dos processos naturais e as origens deste Friedrich Nietzsche, "Nada é mais tolo do que atribuir aos
povo, bem como seus valores básicos. [...]. O próprio gregos uma cultura autóctone: pelo contrário, eles sorveram
termo mythos significa um tipo bastante especial de toda a cultura viva de outros povos e, se foram tão longe,
discurso, o discurso ficcional ou imaginário, sendo por é precisamente porque sabiam retomar a lança onde um
vezes até mesmo sinônimo de "mentira". outro povo a abandonou, para arremessá-la mais longe".
Mas, sabendo que não aconteceu o "milagre grego",
como eles desenvolveram a filosofia? Quais as condições
[...] o pensamento mítico pressupõe a adesão, a aceitação materiais, isto é, econômicas, sociais, políticas e históricas
dos indivíduos, na medida em que constitui as formas de que permitiram o surgimento da filosofia?
sua experiência do real. O mito não se justifica, não se
fundamenta, portanto, nem se presta ao questionamento, Para responder aos questionamentos, apontaremos
à crítica ou à correção. as principais condições históricas para o surgimento da
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a
Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 20. filosofia na Grécia antiga.

2
1.0 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

Primeiro, vamos compreender o que era o mundo grego: propiciou o desenvolvimento das artes, novas formas
políticas, bem como novas visões de mundo.
Começaremos analisando o mundo grego, pois as • A política: a política grega foi marcada pelo discurso
dificuldades impostas pelo relevo grego contribuíram racional, ou seja, os gregos estavam habituados a
significativamente para que esse povo se lançasse ao Mar. fomentar, de maneira racional, nos espaços públicos
Essa afirmação pode ser notada no mapa do mundo grego a fim de encontrar as melhores alternativas para suas
abaixo. cidades. Sendo assim, esses discursos corroboraram,
de maneira salutar, para que os gregos passassem a
questionar explicações míticas e/ou rasas.

Como percebemos através dos pontos anteriores, não


houve um "milagre grego", mas os gregos aproveitaram
situações históricas para romper com as explicações
mitológicas e buscaram na physis (natureza) explicações
para os eventos naturais.

O melhor meio de se aproximar da filosofia é fazer


perguntas filosóficas:

Como o mundo foi criado? Será que existe uma


vontade ou um sentido por detrás do que ocorre? Há
vida depois da morte? Como podemos responder a
https://pin.it/QeoYM7F
estas perguntas? E, principalmente: como devemos
viver?
Conforme percebemos no mapa acima, na Grécia antiga,
entre os séculos VIII e VI a.C., o crescimento demográfico e
Essas perguntas têm sido feitas pelas pessoas de
a escassez de terras contribuíram para que os gregos se
todas as épocas. Não conhecemos nenhuma cultura
deslocassem para outras regiões do Mar Mediterrâneo e
que não se tenha perguntado quem é o ser humano e
fundassem colônias.
de onde veio o mundo.
Essas colônias acabaram se tornando importantes
Basicamente, não há muitas perguntas filosóficas
entrepostos comerciais, ou seja, ponto de encontro de
para se fazer. Já fizemos algumas das mais importantes.
caravanas provenientes de diferentes regiões do Oriente.
Mas a história nos mostra diferentes respostas para
Além disso, assumindo um caráter cosmopolita, acredita-
cada uma dessas perguntas que estamos fazendo.
se que nessas colônias conviviam harmoniosamente GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da
diferentes culturas. Esta peculiaridade corroborou para Filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 24-25.
o enfraquecimento dos mitos, uma vez que cada povo
apresentava de acordo com sua tradição uma explicação
mítica diferente para explicar os mesmos fenômenos
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

naturais.

Segundo, vamos ver as condições históricas da Grécia QUESTÃO 02


que propiciaram o surgimento da filosofia:
(UCS) “Um pequeno passo para um homem, um salto
• Viagens marítimas: o relevo e o solo em boa parte do gigantesco para a humanidade”
território grego não eram favoráveis ao cultivo agrícola, (ARMSTRONG)
porém estas cidades contavam com excelentes
portos naturais, o que possibilitou o desenvolvimento A chegada do homem à Lua, com o sucesso da missão
das viagens marítimas. Essas viagens propiciaram o Apollo 11, completou 50 anos em 2019. O aniversário da
desencantamento do mundo e a desmistificação da primeira aterrissagem tripulada ao satélite natural ocorreu
natureza (os navegantes perceberam que os mitos não em um momento de crescente interesse em torno do
procediam). assunto. Atualmente, existem diversos projetos para repetir
• Escrita alfabética: o mito era transmitido por meio da a façanha dos anos 1960, como é o caso do programa
oralidade, este fato justificou a existência de inúmeras Artemis, da NASA, que pode sair do papel em 2024. Outros
versões acerca do mesmo mito. A invenção da escrita países também têm planos de levar astronautas à Lua, além
possibilitou a constatação de inconsistências e de corporações interessadas em viabilizar a exploração
contradições nas explicações míticas. comercial e turística do satélite no futuro.
• Invenção do calendário: o calendário possibilitou o Disponível em: https://www.dn.pt/ciencia/interior/um-pequeno-passo-
entendimento e delineamento das estações do ano, para-um-homem-um-salto-gigantesco-para-a humanidade-1312455.html.
Acesso em: 16 set. 2019. (Parcial e adaptado.)
ou seja, o domínio do tempo. Desta feita, os gregos
deixaram de recorrer às explicações mitológicas e/ou
Nesse sentido, a(s) questão(ões) abordarão o eixo temático
aos deuses para explicar eventos da natureza, como por
“Os 50 anos da chegada do homem à Lua”.
exemplo, identificar períodos mais chuvosos.
• Surgimento da vida urbana: o surgimento de novas
Uma das questões abordadas pelo filósofo Ludwig
classes sociais decorrentes do comércio marítimo
Wittgenstein, sobre os limites da linguagem, é que cada ser

3
1.0 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

humano experimenta as sensações do mundo de um modo resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio
peculiar, pois, segundo ele, toda experiência é particular. nem pouco; que quererá ele então significar declarando-
Nesse contexto, como, e em que medida, a descrição das me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque
experiências e sensações pessoais pode ser compreendida isso lhe é impossível”. Por longo tempo fiquei nessa incerteza
pelos outros? Essa questão me veio à mente quando eu saí sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me
há pouco do trabalho e deparei-me com uma Lua cheia por uma investigação, que passo a expor.
absurdamente brilhante, vislumbrada ao fundo de uma árvore (PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores.
Vol. II. São Paulo: Victor Civita, 1972, p. 14.)
plantada no pomar de uma das casas da vizinhança. Parei
para observar a luz prateada entre os galhos e entendi que,
O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar
por mais que eu me esforce ao escolher as palavras, nunca
o modo como se estabelece, entre os gregos, a passagem do
serei capaz de descrever, de modo plenamente inteligível,
mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada:
para outras pessoas, toda a profundidade de sentimentos
que me ocorrem ao ver a Lua cheia brilhando em uma noite
calma atrás de uma grande árvore que o inverno desfolhou.
A pela transição de um tipo de conhecimento racional para
um conhecimento centrado na fabulação.
Diante de certas sensações, as palavras ficam pequenas.
Disponível em: http://marcioalmeidajr.blogspot.com/2009/07/filosofia-da- B pela dedicação dos filósofos em resolver as incertezas
lua-cheia.html. Acesso em: 15 set. 2019. (Parcial e adaptado.) por meio da razão.
C pela aceitação passiva do que era afirmado pela
A partir da leitura do texto acima e de seus conhecimentos divindade.
sobre Filosofia, assinale a alternativa correta. D por um acento cada vez maior do valor conferido ao
discurso de cunho religioso.
A O conhecimento mitológico foi a primeira tentativa de E pelo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo
explicação do mundo feita pelo homem, ainda que Sócrates, inclusive, condenado por isso.
de maneira fantasiosa. Nesse sentido, o mito é uma
representação coletiva, transmitida por meio de várias
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

gerações e que relata uma explicação do mundo. Um


exemplo disso é a mitologia grega que atribui uma
divindade à Lua. QUESTÃO 04
B O conhecimento filosófico é essencialmente introspectivo
e tem relação com experiências e sensações particulares. (UPE) Sobre o Mito no mundo atual, considere o texto a seguir:
A Filosofia busca a verdade das coisas através da
subjetividade e da sensibilidade, que são fundamentais
para a tentativa de explicar, através de palavras, os
sentimentos que ocorrem diante de determinadas
situações ou imagens como, por exemplo, a da Lua cheia.
C O filósofo São Tomás de Aquino afirmava que existiam
certas verdades que a razão humana, por ser imperfeita,
não conseguiria atingir. Para explicitar tais limitações,
Aquino desenvolveu reflexões acerca do intelecto
humano, dividindo-o em dois: o supralunar, que receberia
influência da Lua; e o sublunar, que seria influenciado
pelos elementos terra, fogo, água e ar.
D As observações aristotélicas produziram conhecimentos
relacionados à natureza. Considerado o primeiro biólogo, Os meios de comunicação (televisão, jornais, etc.) utilizam
Aristóteles estabeleceu a diferença entre as plantas, que a palavra Mito com um significado diferente, quando se
para ele seriam dotadas de sensações; e os animais, que referem a artistas, que, num determinado momento, ganham
teriam sensações e vontades. O homem ocuparia lugar destaque por causa de um filme ou música de sucesso.
de destaque entre os animais, pois, além de sensações Mas, mesmo nesse caso, os “Mitos” do mundo artístico são
e vontades, possuiria a razão, mas essa seria insuficiente assim chamados, porque atribuímos a eles qualidades que
para explicar certas sensações, como a que acontece ao consideramos dignas de um deus.
observar a Lua cheia. CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. 2002, p. 23.
E O filósofo Francis Bacon afirmava que o pensamento
escolástico valia-se de erros de linguagem aplicados às Assim, é CORRETO afirmar que no mundo atual
experiências empíricas que impediam o conhecimento
verdadeiro. Como o significado das palavras é impreciso, A o Mito narra as habilidades divinas, transmitidas aos
haveria um espaço para afirmações comprometidas homens pelos deuses.
pela própria linguagem, como na tentativa de descrever B o Mito retrata tanto a significância quanto a primeira
a Lua cheia brilhando. atribuição de sentido ao mundo.
C o Mito tem importância pelo fato de ser a primeira forma
de dar significado ao mundo.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

D o Mito na totalidade do real, não apresenta mais


abrangência nem o distintivo existencial que havia na
QUESTÃO 03 sua origem, isto é, no Mito primitivo.
E o Mito possibilita ao homem lutar e viver criticamente
(UFPR) Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir contra tudo o que lhe é adverso.
assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto pôs na

4
1.0 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 05

(UEL) Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra


de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São
Paulo: Iluminuras, 1995. p.91.

Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia


dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e Aiyê, que
seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem
de Olorum, o deus supremo, o orixá Oduduá veio à Terra
trazendo uma cabaça com ingredientes especiais, entre
eles a terra escura que jogaria sobre o oceano para garantir
morada e sustento aos homens.
“A Criação do Mundo”. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em: <http://super. Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido
abril.com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>. Acesso em: 1 abr. 2014. para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa,
porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em
No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade
forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Yin e da pessoa do narrador.
Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia, 1996, p. 28).
e Yang são escuridão e luz, feminino e masculino, frio e calor,
seco e molhado. Sobre esse aspecto do conhecimento mitológico, é
PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado CORRETO afirmar que
por Nilesh Mistry. Trad. de Felipe Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22.

A a função do mito é obscura, e o discurso a ele referente,


Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a
pronunciado pela autoridade, está fundado na realidade
passagem do mito para o logos na filosofia, considere as
e não explica a existência.
afirmativas a seguir.
B o mito retrata um tipo de compreensão não significativa,
possibilitando ao homem viver e lutar contra tudo o que
I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo,
lhe é contraditório.
dos seres e das coisas são genealogias que concebem
C na narrativa mitológica, proferida para os ouvintes, está
o nascimento ordenado dos seres; são discursos que
presente o puro delírio da fantasia e a confiabilidade na
buscam o princípio que causa e ordena tudo que existe.
pessoa do narrador.
II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso
D a narrativa do mito é baseada na lógica da abstração e
que afirmam ter ocorrido em um passado remoto e
deixa, à margem, o desejo de dominação do mundo.
impreciso, em geral grandes feitos apresentados como
E o mito revela alguma coisa que é aceita sem contestação
fundamento e começo da história de dada comunidade.
nem questionamento. Trata-se, portanto, de uma primeira
III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em
narrativa que atribui sentido ao mundo.
certa medida, um modo de expressar determinadas
verdades que fogem ao raciocínio, sendo, com
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

frequência, algo mais do que uma opinião provável ao


exprimir o vir-a-ser.
IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é QUESTÃO 07
reduzido a um conto fictício desprovido de qualquer
correspondência com algum tipo de acontecimento, em
(UPE) A mente humana é naturalmente inquiridora: quer
que inexiste relação entre o real e o narrado.
conhecer as razões das coisas; basta ver uma criança
fazendo perguntas aos pais. Mas às mesmas perguntas
Assinale a alternativa correta.
podem ser dadas diversas respostas: míticas, científicas,
filosóficas.
A Somente as afirmativas I e II são corretas. MONDIN, Batista. Curso de filosofia. São Paulo: Paulus, 1981. (Adaptado)
B Somente as afirmativas I e IV são corretas.
C Somente as afirmativas III e IV são corretas. O pensamento mítico na atualidade reflete-se naquelas
D Somente as afirmativas I, II e III são corretas. respostas que estão repletas de explicações valorativas
E Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. sobre a personalidade do super-herói, a exaltação do
cientificismo, valorando o ‘desejo desenfreado’ e dando
ORIENTADA primazia ao poder midiático. Sendo assim, assinale a
RESOLUÇÃO

alternativa CORRETA.
QUESTÃO 06
A A verdadeira função do mito, na atualidade, é orientar a
ação humana.
(UPE) Sobre o conhecimento mitológico, atente ao texto a B O papel atual do mito é dar sentido ao mundo humano.
seguir:

5
1.0 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

C O pensamento mítico, no mundo atual, identifica-se como


uma resistência às invenções científicas e tecnológicas. GABARITO
D Nos dias atuais, a função fabuladora presente nos
contos e nas estórias populares remetem aos valores QUESTÕES ORIENTADAS
arquetípicos.
E O mito, na atualidade, promove o desenvolvimento do 01 B 02 A 03 B
homem no seu cotidiano, pela eficácia na linguagem das
formas ideológicas. 04 D 05 D 06 E

07 E

Acertos Erros Rendimento %

TOTAL DE ACERTOS
Total Total
17 Rendimento %
Questões Acertos

6
FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
2. ANTIGA RESPONDA

2.1 PRÉ-SOCRÁTICOS

Introdução Cosmogonia: explicação mitológica acerca da


origem do universo.
Como vimos anteriormente, algumas cidades-
Cosmologia: explicação racional acerca da origem
Estados gregas, como por exemplo, Mileto,
do universo.
gradativamente foram se constituindo como
regiões cosmopolitas, pois eram marcadas por um
pluralismo cultural, uma vez que, recebiam pessoas
Os primeiros filósofos, ao se voltarem para a physis,
de diferentes regiões. Esse pluralismo contribuiu para
procuraram explicar os fenômenos da natureza puramente
a relativização dos mitos, fato este, que transformou
por suas causas naturais e essa nova postura contribuiu
essas regiões em campos férteis para o surgimento
para que o discurso pautado em elementos mágico ou
da filosofia. Isto porque, em uma sociedade
religioso (cosmogonia) fosse substituído pela noção do
dedicada às práticas comerciais e aos interesses
logos, termo grego cujo sentido remete à ideia de análise
pragmáticos, as tradições míticas e religiosas
racional da natureza (cosmologia).
perdem progressivamente sua importância.
A filosofia pré-socrática se desenvolveu inicialmente nas
cidades da Jônia, Magna Grécia e Abdera. Nestas cidades
surgiram escolas que se notabilizaram pelas perspectivas
VIDEOAULA

cosmológicas dos seus pensadores.


OS PRÉ-SOCRATICOS

A explicação causal possui, entretanto, um


A filosofia pré-socrática, surgiu na Grécia por volta do caráter regressivo. Ou seja, explicamos sempre
século VI a.C. O grego foi o primeiro a tentar explicar o mundo uma coisa por outra e há assim a possibilidade
sem recorrer a formulações míticas, em outras palavras, a de se ir buscando uma causa anterior, mais básica,
Grécia é o berço do pensamento Ocidental, pois foi lá que até o infinito. [...]. Isso, contudo, invalidaria o próprio
os indivíduos souberam encarar a natureza - a physis - pela sentido da explicação, pois, mais uma vez, a
primeira vez como objeto em si. explicação levaria ao inexplicável, a um mistério,
portanto, tal como no pensamento mítico. [...]. Para
A filosofia grega parece iniciar-se com uma noção evitar que isso aconteça, surge a necessidade de
desarmônica, a saber, com a proposição de que a água se estabelecer uma causa primeira, um princípio, ou
seria o primórdio e o ventre materno de todas as coisas: é conjunto de princípios, que sirva de ponto de partida
realmente necessário deter-se neste ponto e proceder com para todo o processo racional. É aí que encontramos
seriedade? Sim, e por três motivos: primeiramente, porque a a noção de arqué.
sentença profere algo acerca do primórdio das coisas, em MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-
socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 25.
segundo lugar porque ela faz sem imagem ou fabulação
e, finalmente, porque, nela, ainda que apenas em forma
embrionária, obteve-se o pensamento: tudo é um.
NIETZSCHE, Friedrich. A filosofia na era trágica dos gregos.
AS PRINCIPAIS ESCOLAS PRÉ-SOCRÁTICAS FORAM:
Conforme visto em Nietzsche, a natureza foi o primeiro
objeto de contemplação dos pré-socráticos, uma vez 1. Escola Jônica: caracterizada pelo interesse pela physis.
que eles buscavam nela a explicação para os fenômenos Escola representada por Tales de Mileto, Anaximandro
naturais. Provavelmente por isso esses pensadores foram de Mileto, Anaxímenes de Mileto e Heráclito de Éfeso.
chamados por Aristóteles de fisiólogos, ou seja, estudiosos 2. Escola Italiana: caracterizada pelo interesse pelo
da physis (natureza). abstrato. Escola representada por Pitágoras de Samos.
3. Escola Eleática: assim como a italiana, essa escola é
Vale ressaltar que o modelo de explicação adotado por caracterizada pelo pensamento abstrato, representada
eles era baseado na causalidade, pois, segundo eles, os
por Parmênides de Eleia.
fenômenos naturais estariam interligados uns aos outros em
4. Escola Pluralista: caracterizada pela combinação de
termos de causa e efeito. Esse modelo de explicação causal
colocou os filósofos naturalistas frente a um limite crucial: elementos de diferentes escolas e defesa do mundo
Qual elemento teria originado todas as coisas? Buscando como algo múltiplo e dinâmico, representada por
responder a essas indagações, os primeiros filósofos Demócrito de Abdera.
formularam a noção de arché, ou seja, a causa primeira, o
princípio básico de tudo, matéria primordial.

1
2. ANTIGA | 2.1 PRÉ-SOCRÁTICOS

ESCOLA JÔNICA Anaxímenes identificou a ar como sendo a matéria


primordial, ou seja, a arché da physis. Entretanto, vale
• Tales de Mileto: água ressaltar que o "ar" enquanto physis, não é o ar que vemos,
mas o princípio do qual o ar de nossa vida e de nossa
experiência provem.

Para ele, respirar seria o primeiro ato de um ser vivo e


também o último antes de morrer, por isso o ar é o princípio
vital. Outrossim, ele defendia que o mundo era um ser vivo
que respirava e, portanto, que recebia do sopro originário a
unidade que o manteria.

Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento


originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que
outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar
Fonte: Domínio Público
se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os ventos
são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar
Tales foi considerado o primeiro filósofo da história, pois foi por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-
o primeiro a formular uma explicação da realidade natural a se em água. A água, quando mais condensada,
partir dela mesma, ou seja, sem nenhuma referência mítica. transforma-se em terra, e quando condensada ao
máximo possível, transforma- se em pedras.
A teoria de Tales aponta a água como matéria primordial, BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006
pois, segundo ele, a água apresenta-se sob as mais
variadas formas e em todos os estados em que vemos os
corpos da natureza: líquido, sólido e gasoso, ela passa de
• Heráclito de Éfeso: fogo
um estado a outro, mas mantém sua identidade consigo
mesma. Para Tales, a água é "a alma motora do cosmos", ou
seja, do Universo.

• Anaximandro de Mileto: ápeiron

Fonte: Domínio Público

Heráclito ficou conhecido como "o obscuro" devido à


dificuldade de interpretar seus pensamentos. Ele foi um
Fonte: Domínio Público
importante "mobilista", isto é, acreditava que a realidade
natural se caracteriza pelo movimento. Segundo ele, "não
Anaximandro foi discípulo de Tales de Mileto, entretanto, podemos entrar duas vezes no mesmo rio: suas águas não
divergindo do seu mestre, ele propõe que a physis seria são nunca as mesmas e nós não somos nunca os mesmos".
o ápeiron, ou seja, a physis é o ilimitado, indefinido e
indeterminado, o que não sendo nenhuma das coisas Heráclito defendia o fogo como matéria primordial, pelo
(úmido, seco, quente, frio) dá origem a todas elas. menos enquanto chama, energia que queima e ao queimar
transforma todas as coisas. Essa analogia reforça o caráter
Aventurando-se no campo da astronomia, ele propôs que dinâmico da realidade presente no pensamento deste
a Terra permanece imóvel, ocupando o centro do Universo filósofo.
e por equilíbrio interno de suas partes seria impossibilitada
de mover-se. ESCOLA ITALIANA

• Anaxímenes de Mileto: ar • Pitágoras de Samos: número

Fonte: Domínio Público


Fonte: Domínio Público

2
2. ANTIGA | 2.1 PRÉ-SOCRÁTICOS

Pitágoras fundou uma escola fi losófi ca de caráter


semirreligioso. Para este pensador, o número seria a Zenão e o paradoxo de Aquiles
matéria primordial, ou seja, a arché da physis. Pitágoras
chegou a essa conclusão ao comparar o Universo O paradoxo de Zenão é conhecido como paradoxo
harmonizado com uma música e sua proporcionalidade. da dicotomia. Ele procura interpretar o movimento de
um ponto A a um ponto B como uma sequência infinita
Dessa forma, para ele, a natureza numérica do cosmos
de movimentos: antes de se chegar ao ponto B é preciso
(Universo Ordenado) está presente em todas as coisas. chegar ao ponto C tal que AC = CB (figura 1) ; mas, antes
de se chegar a C, é preciso chegar ao ponto D tal que
Pitágoras também defendia a metempsicose, isto é, a AD = DC ; e assim por diante, indefinidamente.
imortalidade da alma, sendo a matemática fundamental
para o aperfeiçoamento e elevação espiritual do
indivíduo.
Figura 1

"[...] é muito provável que Pitágoras tivesse A conclusão de Zenão é que o movimento é
percebido que os sons produzidos pela lira obedeciam impossível, pois sequer se iniciará.
a princípios e regras para formar os acordes e para
criara a concordância entre os sons discordantes, isto
é, os sons da lira seguem regras de harmonia que se
traduzem em expressões numéricas (as proporções). O paradoxo de Aquiles refere-se a uma
Ora, se o som é, na verdade, número, por que toda corrida entre o rápido Aquiles e a morosa
tartaruga que está se posicionando na frente
a realidade - enquanto harmonia ou concordância
(digamos, no ponto A1 da figura 2, enquanto Aquiles
dos discordantes como o seco e úmido, o quente e o se posiciona em A).
frio, o bom e o mau, o justo e o injusto, o masculino
e o feminino - não seria um sistema ordenado de
proporções e, portanto, número?"
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002. p. 68-69.

ESCOLA ELIÁTICA

• Parmênides de Eleia: ser

https://www.shutterstock.com/

O paradoxo está na conclusão de que Aquiles


nunca alcançará a tartaruga. De fato, segundo
o raciocínio de Zenão, quando Aquiles chegar ao
ponto A1, a tartaruga já estará em A2; e quando
Aquiles chegar ao ponto A2, a tartaruga já estará em
A3; e assim p

Fonte: Domínio Público ESCOLA PLURALISTA

Parmênides acreditava que a realidade não tinha nada • Demócrito de Abdera: átomo
a ver com o mundo vivenciado por alguém e que somente
pela razão, não pelos sentidos, era possível chegar à
verdade.

Para ele, o movimento não passa de algo aparente, uma


ilusão. Por isso, ele defendia a necessidade de buscarmos,
por meio do pensamento, examinar aquilo que permanece,
ou seja, compreender que "o ser é e o não ser não é", pois
aquilo que é não pode não ser.

Fonte: Domínio Público

3
2. ANTIGA | 2.1 PRÉ-SOCRÁTICOS

Demócrito propôs que o átomo seria a matéria primordial B Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de
da physis. Para ele, todo objeto físico é feito de átomos e no que havia alguma substância básica, uma causa oculta,
vazio, que se organizavam em diferentes formas a partir de que estava por trás de todas as transformações na
processos de atração e repulsão. natureza e, a partir da observação, buscavam descobrir
leis naturais que fossem eternas.
Por serem pensadores materialistas, não invocavam C Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas
nenhuma força externa aos átomos (matéria) para explicar de pensamento por volta do século VI a.C. partiram da
a origem do movimento e do devir. ideia unânime de que a água era o princípio original do
mundo por sua enorme capacidade de transformação.
D A filosofia da natureza nascente adotou a imagem
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

homérica do mundo e reforçou o antropomorfismo do


mundo dos deuses em detrimento de uma explicação
QUESTÃO 01 natural e regular acerca dos primeiros princípios que
originam todas as coisas.
(UEL) "Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o E Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes
primeiro a afirmar a existência de um princípio originário e Heráclito, há um princípio originário único denominado
único, causa de todas as coisas que existem, sustentando o ilimitado, que é a reprodução da aparência sensível
que esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima que os olhos humanos podem observar no nascimento e
podendo com boa dose de razão ser qualificada como a na degeneração das coisas.
primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar
civilização ocidental." ORIENTADA
(REALE, Giovanni. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média. São RESOLUÇÃO
Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)
QUESTÃO 03
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros
filósofos foram os chamados pré-socráticos. De acordo
(IFRN) A questão acerca do conhecimento tem sido uma
com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal
das principais temáticas da filosofia ao longo da história. As
problema por eles investigado.
posições divergentes sobre esse assunto tem demonstrado
que os pensadores, de modo geral, admitem discutir o
A A ética, enquanto investigação racional do agir humano. conhecimento a partir das suas próprias perspectivas
B A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte. histórico-sociais. Tendo em vista a pertinência do tema
C A epistemologia, como avaliação dos procedimentos para a filosofia, pode-se afirmar que
científicos.
D A cosmologia, como investigação acerca da origem e da A o conhecimento advém do interesse dos pensadores
ordem do mundo.
pré-socráticos em investigar a realidade.
E A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua B a filosofia moderna corresponde ao período mais favorável
legislação.
para a discussão dos aspectos do conhecimento.
C a perspectiva dos sofistas encerra qualquer pretensão
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

de se conter o conhecimento verdadeiro.


D o conhecimento, como desvelamento da verdade, refere-
QUESTÃO 02 se ao caráter não aberto de certas escolas filosóficas
antigas.
(UEL) De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

o que existe tem que ter um começo. Portanto, em algum


momento, o universo também tinha de ter surgido a partir
de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse QUESTÃO 04
surgido de alguma outra coisa, então essa outra coisa
também devia ter surgido de alguma outra coisa algum
dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de (UNESP) Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom
lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de de "vidência", privilégio que tiveram de pagar pelo preço
ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível.
da qual tudo é feito? A grande questão para os primeiros O deus que os inspira mostra-lhes, em uma espécie de
filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que os revelação, as realidades que escapam ao olhar humano. Sua
instigava era saber como a água podia se transformar em visão particular age sobre as partes do tempo inacessíveis às
peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se transformar
criaturas mortais: o que aconteceu outrora, o que ainda não é.
em árvores frondosas ou flores multicoloridas. (Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, 1990. Adaptado.)
Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.43-44.
O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento outros aspectos,
da filosofia, assinale a alternativa correta.
A o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela
A Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos transmissão oral das tradições, dos mitos e da memória.
e as transformações da natureza e porque a vida é como B a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos
é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável períodos de seca ou de infertilidade da terra.
as histórias contadas acerca do mundo dos deuses. C o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a

4
2. ANTIGA | 2.1 PRÉ-SOCRÁTICOS

difusão dos cultos aos deuses da tradição clássica. B a concepção dialética do pensamento heraclitiano,
D a forma como a história era escrita e lida entre os povos segundo a qual o movimento é uma ilusão dos sentidos.
da península balcânica. C a concepção heraclitiana da realidade, segundo a qual
E o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o a multiplicidade dos fenômenos subjaz uma realidade
isolamento e a autonomia em que viviam. única.
D o pensamento religioso de Heráclito, segundo o qual a
morte é a libertação da alma.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 05 ORIENTADA

RESOLUÇÃO
(UEL) No livro Através do espelho e o que Alice encontrou
QUESTÃO 07
por lá, a Rainha Vermelha diz uma frase enigmática: "Pois
aqui, como vê, você tem de correr o mais que pode para (UFU) Desde Tales de Mileto, as explicações sobre o
continuar no mesmo lugar.” cosmos são realizadas por meio de argumentos, razões
(CARROL, L. Através do espelho e o que Alice encontrou por lá. Rio de plausíveis para que o processo desencadeado pela physis
Janeiro: Zahar, 2009. p.186.)
se comporte de determinada maneira. Tais argumentos
são confrontados por outros filósofos e, progressivamente,
Já na Grécia antiga, Zenão de Eleia enunciara uma tese
as concepções tornam-se cada vez mais elaboradas.
também enigmática, segundo a qual o movimento é ilusório,
Dessa forma, o pensamento filosófico que emerge nesse
pois "numa corrida, o corredor mais rápido jamais consegue
movimento distancia-se do pensamento mítico, entre outras
ultrapassar o mais lento, visto o perseguidor ter de primeiro
razões, por que:
atingir o ponto de onde partiu o perseguido, de tal forma
que o mais lento deve manter sempre a dianteira."
(ARISTÓTELES. Física. Z 9, 239 b 14. In: KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD,
A Inaugura o primado da transformação permanente pela
M. Os Pré-socráticos. 4.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994, interferência contínua dos deuses na criação do cosmos;
p.284.) B Busca uma physis arcaica e antropomórfica, que une o
homem ao cosmo sem sua estabilidade;
Com base no problema filosófico da ilusão do movimento C Apresenta uma visão de mundo com base racional
em Zenão de Eleia, é correto afirmar que seu argumento que pode ser repensada por meio de argumentação e
substituída;
A baseia-se na observação da natureza e de suas D Descreve uma cosmogonia inovadora racionalizada por
transformações, resultando, por essa razão, numa meio de ritos simbólicos criados pela ação do homem;
explicação naturalista pautada pelos sentidos. E As narrativas mágico-religiosas são substituídas por
B confunde a ordem das coisas materiais (sensível) e outra linguagem mágico-simbólica para representar o
a ordem do ser (inteligível), pois avalia o sensível por sagrado.
condições que lhe são estranhas.
C ilustra a problematização da crença numa verdadeira
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

existência do mundo sensível, à qual se chegaria pelos


sentidos.
D mostra que o corredor mais rápido ultrapassará QUESTÃO 08
inevitavelmente o corredor mais lento, pois isso nos
apontam as evidências dos sentidos. (UNCISAL) O período pré-socrático é o ponto inicial
E pressupõe a noção de continuidade entre os instantes, das reflexões filosóficas. Suas discussões se prendem a
contida no pressuposto da aceleração do movimento Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio
entre os corredores. eterno e imutável que se encontra na origem da natureza e
de suas transformações) ponto crucial de toda formulação
ORIENTADA filosófica. Em tal contexto, Leucipo e Demócrito afirmam ser
RESOLUÇÃO

a realidade percebida pelos sentidos ilusória. Eles defendem


que os sentidos apenas capturam uma realidade superficial,
QUESTÃO 06
mutável e transitória que acreditamos ser verdadeira.
Mesmo que os sentidos apreendam "as mutações das
(UFU) Considere o seguinte texto do filósofo Heráclito (século coisas, no fundo, os elementos primordiais que constituem
VI a.C.). essa realidade jamais se alteram." Assim, a realidade é uma
coisa e o real outra.
“Para as almas, morrer é transformar-se em água; para a
água, morrer é transformar-se em terra. Da terra, contudo, Para Leucipo e Demócrito a physis é composta
forma-se a água e da água, a alma"
Heráclito. Fragmentos, extraído de: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de
A pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio.
Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. Tradução do autor.
B pela água.
C pelo fogo.
Em relação ao excerto acima, podemos afirmar que ele
D pelo ilimitado.
ilustra
E pelos átomos.
A a concepção heraclitiana que valoriza a importância do
movimento na descrição da realidade.

5
2. ANTIGA | 2.1 PRÉ-SOCRÁTICOS

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

GABARITO
QUESTÃO 09 QUESTÕES ORIENTADAS

(UEG) A influência de Sócrates na filosofia grega foi tão 01 D 02 B 03 A


marcante que dividiu a sua história em períodos: período
pré-socrático, período socrático e período pós-socrático. O 04 A 05 C 06 A
período pré-socrático é visto como uma época de formação 07 C 08 E 09 A
da filosofia grega, na qual predominavam os problemas
cosmológicos. Ele se desenvolveu em cidades da Jônia e 10 D
da Magna Grécia. Grandes escolas filosóficas surgem nesse
período e muitos pensadores se destacam. Acertos Erros Rendimento %

Entre eles, um jônico, que ficou conhecido como pai da TOTAL DE ACERTOS
filosofia. Seu nome é:
Total Total
21 Rendimento %
A Tales de Mileto. Questões Acertos
B Leucipo de Abdera.
C Sócrates de Atenas.
D Parmênides de Eléia.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 10

(UEAP) ...que é e que não é possível que não seja,/ é a


vereda da Persuasão (porque acompanha a Verdade); o
outro diz que não é e que é preciso que não seja,/ eu te digo
que esta é uma vereda em que nada se pode aprender. De
fato, não poderias conhecer o que não é, porque tal não é
fatível./ nem poderia expressá-lo.
(Nicola, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia. Editora Globo, 2005.)

O texto anterior expressa o pensamento de qual filósofo?

A Aristóteles, que estabelecia a distinção entre o mundo


sensível e o inteligível.
B Heráclito de Éfeso, que afirmava a unidade entre
pensamento e realidade.
C Tales de Mileto, que afirmava ser a água o princípio de
todas as coisas.
D Parmênides de Eleia, que afirmava a imutabilidade de
todas as coisas e a unidade entre ser e pensar, ser e
conhecimento.
E Protágoras, que afirmava que o homem é a medida de
todas as coisas, que o ser é e o não ser não é.

6
FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
2. ANTIGA RESPONDA

2.2 CLÁSSICA

Introdução dúvida, a cidade precisa de guerreiros belos e bons,


mas precisa, antes de tudo e acima de tudo, de bons
cidadãos. Para a democracia, a areté aristocrática é
inaceitável, pois fundada nos privilégios do sangue e
das linhagens. Para formá-lo, uma nova paideía com
uma nova areté tornara-se necessária. ”
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002. p. 156-157.

VIDEOAULA
OS SOFISTAS

O termo “sofista” vem do grego sophos, que significa


sábios. Os sofistas, em geral, não eram atenienses, mas
oriundos das colônias gregas da Jônia e Magna Grécia.
Além disso, defendia o humanismo e o relativismo, o que
“Escola de Atenas”: pintura renascentista do
contribuiu para que fossem duramente criticados por
italiano Rafael Sanzio, foi pintada entre 1509 e 1510
Sócrates e seus seguidores.
sob encomenda do Vaticano.
Os sofistas eram especialistas em retórica e oratória,
O século V a.C. foi marcante para os gregos,
costumavam percorrer as cidades-Estados fornecendo
em especial, para os atenienses. Nesse período,
seus ensinamentos, sua técnica, por isso, acabaram se
ocorreram transformações nas esferas cultural,
destacando na formação educacional, principalmente a
intelectual e política. Isso porque as antigas
dos atenienses (Paideia), pois propiciavam uma preparação
perspectivas religiosas e aristocráticas já não
para a atuação na vida política.
atendiam mais as necessidades dos gregos
O sofista Protágoras de Abdera

Impulsionados pelo ideal democrático e visando


satisfazer as novas demandas e expectativas sociais é
que gradativamente fora desenvolvido um novo modelo
educacional com o intuito de preparar o cidadão para
a vida política, em especial, para o debate público em
espaços como a Ágora.

Neste novo modelo de organização do poder político,


os cidadãos não podiam deixar de expressar habilidades
ligadas ao discurso, ou seja, falar bem em público era um
pré-requisito para o exercício da cidadania.
Fonte: Domínio Público

Essa nova demanda social contribuiu para o surgimento A obra mais conhecida de Protágoras é “Sobre a verdade”
da figura dos sofistas, ou seja, de educadores voltados ao e seu fragmento mais conhecido é “O homem é a medida de
ensino da retórica. todas as coisas, das que são como são e das que não são
como não são”. Esse fragmento sintetiza duas ideias do seu
pensamento, o humanismo e o relativismo.
“A paideía era a educação como formação cultural
completa e sua finalidade era a realização, em cada Segundo Protágoras, as coisas são como nos parecem
um, da areté, a excelência das qualidades físicas e ser, como se mostram à nossa percepção sensorial. Dessa
psíquicas para o perfeito cumprimento dos valores da forma, percebe-se uma aproximação de Protágoras com os
sociedade. [...] Ora, numa sociedade urbana, comercial, mobilistas e um afastamento da visão eleática de verdade
artesanal e democrática como Atenas, a antiga única e imutável. Dessa forma, a realidade estaria em
areté já não fazia sentido, perdera seu lugar [...]. sem constante transformação, de acordo com a variação do
discurso proferido pelos homens.

1
2. ANTIGA | 2.2 CLÁSSICA

Sócrates costumava utilizar os espaços públicos para


ORIENTADA
RESOLUÇÃO

expor seus pensamentos e suas ideias. Ele chamava a


atenção dos jovens atenienses para o fato de estarem
QUESTÃO 01 distante da prática de uma verdadeira democracia.
Exatamente por isso foi acusado de não ser religioso e de
Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os seus corromper a juventude.
amigos presumiam que a justiça era algo real e importante.
Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas Sócrates acreditava que, para se tornar sábio, o indivíduo
acreditavam no certo e no errado apenas por terem sido deve ser capaz de compreender a si mesmo. Isso ficou
ensinadas a obedecer às regras da sua sociedade. No
evidenciado na frase “uma vida sem reflexão não vale a
entanto, essas regras não passavam de invenções humanas.
RACHELS. J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009. pena ser vivida” que é atribuída a ele.

O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo O exercício filosófico de Sócrates tinha como base o
A República, de Platão, sustentava que a correlação entre diálogo e este era dividido em duas etapas. Na primeira,
justiça e ética é resultado de chamada por ele de ironia, atitude dissimulado pela qual
levava o interlocutor a expor suas opiniões acerca de
A determinações biológicas impregnadas na natureza
determinados temas. Nessa fase, Sócrates procurava falhas
humana.
B verdades objetivas com fundamento anterior aos nos discursos de seus interlocutores.
interesses sociais.
C mandamentos divinos inquestionáveis legados das Na segunda etapa, maiêutica, ele tentava levar o
tradições antigas. interlocutor a elaborar suas próprias ideias, a buscar em si,
D convenções sociais resultantes de interesses humanos por meio de um processo reflexivo, as verdades existentes
contingentes. na alma (consciência). Desse modo, ele exerceria uma ação
E sentimentos experimentados diante de determinadas de parteiro da alma, ajudando, assim, a extrair dela os
atitudes humanas. saberes.

A condenação de Sócrates
“O sentido dos acontecimentos é o efeito do
discurso proferido pelo homem sobre estes mesmos
acontecimentos. Tudo se reduz, então, às significações
produzidas pela linguagem. Poderíamos dizer que,
para os sofistas, a verdade de hoje poderá ser a mentira
de amanhã, caso o discurso proferido anteriormente
fosse substituído por outro. Para os sofistas, tudo é
convenção, podendo essas convenções produzidas
pelo homem no seio da cultura variar, por meio de seus
discursos, de uma cultura para outra.”
TOURINHO, Carlos D. C. Saber-fazer filosofia: da antiguidade à
Idade Média. São Paulo: Ideias e Letras, 2010. p. 65.

Fonte: Domínio Público

Alguns atenienses indignados com as provocações


VIDEOAULA

SÓCRATES de Sócrates nas assembleias e espaços públicos e,


entendendo que elas os colocavam em situação vexatória,
acusaram-no de induzir os jovens a se comportar de maneira
imprópria. Além disso, também alegavam o seu desrespeito
em relação aos deuses atenienses.

Sócrates foi levado a julgamento e condenado à morte


por envenenamento. Entretanto, ele não pediu clemência.
Além disso, ele não reconheceu a autoridade dos que
o julgavam. Apesar de existir uma possibilidade caso
Sócrates confessasse culpa, ele optou por sua filosofia e,
consequentemente, pela sua morte.

Neste momento, fomos apanhados, eu, que sou um velho


Fonte: Domínio Público vagaroso, pela mais lenta das duas, e os meus acusadores,
ágeis e velozes, pela mais ligeira, a malvadez. Agora, vamos
Tudo o que sabemos sobre o pensamento e a vida de partir; eu, condenado por vós à morte; eles, condenados
Sócrates é oriundo dos textos e comentários dos seus pela verdade a seu pecado e a seu crime. Eu aceito a pena
discípulos, pois ele não deixou nada escrito. Sócrates viveu imposta; eles igualmente.
Platão. Defesa de Sócrates. IN: Apologia de Sócrates. São Paulo : Nova
em Atenas entre os séculos V a.C. e VI a.C.. Cultural, 1987, p. 56.

2
2. ANTIGA | 2.2 CLÁSSICA

O MITO DA CAVERNA
“Um exemplo seria a conversa dele com
Eutidemo. Sócrates perguntou-lhe se ser enganador O Mito da Caverna é um diálogo entre Sócrates e Glauco,
correspondia a ser imoral. ‘É claro que sim’, respondeu irmão de Platão. Nele, Sócrates apresenta um mundo em
Eutidemo, o que parecia uma obviedade. ‘Mas e se que as pessoas estão acorrentadas observando ilusões
como se fossem a realidade.
um amigo estimado estivesse muito triste e quisesse
se matar, e você roubasse-lhe a faca? Não seria este
Sócrates continua sua ilustração e diz que um dos
um ato enganador?’, perguntou Sócrates. ‘Sim, com prisioneiros foi libertado e, ao voltar e contar para os demais,
toda a certeza’ ‘Mas fazer isso não seria moral em ele foi rechaçado, pois os demais prisioneiros ofuscados
vez de imoral? Trata-se de uma coisa boa, não ruim pela luz optaram por permanecer no mundo das sombras.
– embora seja um ato enganador’, disse Sócrates.
‘Sim’, respondeu Eutidemo, que a essa altura já havia O homem que se liberta é como o filósofo: ele vê além
metido os pés pelas mãos. Sócrates, ao usar um contra das aparências. As pessoas comuns não têm muita noção
exemplo, mostrou que o comentário geral de Eutidemo da realidade porque se contem em olhar o que está diante
de que ser enganador é imoral não se aplica a todas delas em vez de refletir profundamente sobre as coisas.
as situações. Eutidemo não percebera isso antes. Contudo, as aparências são enganosas. O que veem são
WARBURTON, N. Uma breve história da filosofia. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 2. sombras, não a realidade.
WARBURTON, N. Uma breve história da filosofia. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 6.

Conforme apontado por Warburton, Platão defendia que


o prisioneiro que saiu da caverna foi o filósofo, pois entendeu
VIDEOAULA

PLATÃO que o conhecimento adquirido pelos sentidos não seria real,


mas uma doxa (opinião) e, portanto, precisaria buscar por
meio da razão a episteme (conhecimento verdadeiro).

Fonte: Domínio Público

Platão nasceu em 429 a.C., portanto, viveu o período final


do chamado “século de ouro” da cultura grega, sobretudo
a cultura de sua cidade natal, Atenas, o grande centro
intelectual das várias cidades gregas.

Sua filosofia foi escrita em diálogos e abordava temas


variados como arte, teatro, ética, conhecimento e política.

Platão notabilizou-se na antiguidade por unir as


concepções ontológicas dos pré-socráticos, Heráclito
(mobilista) e Parmênides (imobilista), em sua “Teoria das
Formas”.

Segundo a teoria das ideias, existiam dois mundos, o


inteligível e o sensível. O mundo sensível seria o mundo
visível, ou seja, feita de imagens e sons (mutável, imperfeito
e transitório), já o mundo inteligível seria o mundo abstrato,
conceitual e, portanto, daria sentido e existência ao mundo
visível (imutável, perfeito e eterno).

3
2. ANTIGA | 2.2 CLÁSSICA

POLÍTICA METAFÍSICA

No livro A República, Platão descreve uma sociedade Aristóteles acreditava que o mundo era feito de
perfeita. Nela, os filósofos ocupariam o posto mais alto da substâncias que podiam ser tanto forma quanto matéria ou
sociedade e, também, governariam os cidadãos. Abaixo ambos e que a inteligibilidade estava presente em todas as
estavam os soldados, cuja finalidade era defender o país. coisas e em todos os seres. Sendo assim, para ele, a matéria
é o princípio de individualização e a forma a maneira como,
Na base da sociedade, estariam os trabalhadores.
em cada indivíduo, a matéria se organiza.

Aristóteles propõe ainda quatro distinções adicionais


“[...] Teoria da Reminiscência. De acordo com acerca do “ser”, em seu livro “Metafísica”: Essência e
esta teoria, a alma – ainda desencarnada em um Acidente; Necessidade e Contingência; Ato e Potência;
estágio anterior – foi capaz de percorrer os céus em Causas do Ser.
contemplação das Ideias eternas. Ao cair na terra para
nascer em forma humana, consumou-se, então, um I. Essência e Acidente:
esquecimento temporário dessa contemplação. Ainda
assim, traços de memória permanecem no espírito, e A essência é aquilo que faz uma coisa ser o que é. Já o
tal contemplação poderia, segundo esta teoria, ser acidente, refere-se às mudanças sofridas pelo ser sem
relembrada (anamnêsis) por uma análise adequada e que isso afete sua natureza essencial. Exemplo: Sócrates
pelo questionamento dos dados da experiência. Para é um ser humano, o que designa sua essência, Sócrates
Platão, ‘aprender é relembrar’”. é calvo, a calvície não altera a natureza essencial de
TOURINHO, Carlos D. C. Saber-fazer filosofia: da antiguidade à Sócrates.
Idade Média. São Paulo: Ideias e Letras, 2010. p. 89-90.
II. Necessidade e Acidente:

Necessidade seria a essencial, pois sem elas as coisas


VIDEOAULA

não seriam o que são, ou seja, as características


ARISTÓTELES essenciais são necessárias. Contingentes são
características não essenciais do ser, ou seja, os
acidentes.

III. Ato e Potencia:

Ato é a forma do que a substancia expressa, mediante


uma dada organização da matéria, naquele exato
momento. Potência diz respeito ao conjunto de formas
possíveis que a coisa poderá atualizar, ainda que não
tenha até o presente momento atualizado. Exemplo: Uma
semente é semente em ato e uma árvore em potencial.
Já a árvore é arvore em ato e lenha em potencial.

Semente
Fonte: Domínio Público

Aristóteles nasceu na Macedônia em 384 a.C., estudou


com Platão e foi preceptor de Alexandre, o Grande.

Apesar de ter sido discípulo de Platão, Aristóteles rejeitou


a “Teoria das Formas” desenvolvida pelo seu mestre, pois
acreditava que a maneira de entender qualquer categoria
geral era examinando seus exemplares particulares. Árvore
Aristóteles é considerado fundador da Lógica Clássica.
Para ele, a lógica nos capacita a descobrir erros e
estabelecer verdades. Ele foi o formulador do Silogismo.
Desta forma, por estabelecer as regras do raciocínio correto,
a lógica serve de orientação para as demais ciências.

Silogismo: é um tipo de raciocino em que


a conclusão pode ser deduzida com base em
premissas e suposições específicas.
IV. Quatro causas dos seres:

Ex.: a) Causa material: explica do que algo é feito;


b) Causa formal: explica qual forma algo assume;
Todas as pessoas gregas são humanas c) Causa eficiente: explica o processo de como algo vem
Todos os humanos são mortais a ser;
Logo, todos os gregos são mortais. d) Causa final: explica o propósito a que algo serve.

4
2. ANTIGA | 2.2 CLÁSSICA

POLÍTICA Aristóteles acreditava que a felicidade (eudaimonia) era


o bem supremo e o fim perseguido por todos. Sendo assim,
a virtude seria o meio utilizado pelas pessoas para atingir
a felicidade. E a virtude exige simultaneamente escolha e
hábito.

Para ele, uma escolha virtuosa seria o meio-termo entre


dois eixos. Entretanto, para que um indivíduo atinja um
nível elevado de virtude seria necessário um ambiente
adequado, o que exige um governo adequado. Portanto,
para esse pensador, ética e política andariam lado a lado
Animal Político Não alimente. Fonte: LAERTE. Classificados. São Paulo: Devir,
2001. p. 25 e seriam ferramentas para atingir a felicidade/bem comum.

ORIENTADA

RESOLUÇÃO
Para Aristóteles, “o homem é um animal político”, ou seja,
a política nasceu de uma necessidade natural do homem
que é inclinado por sua natureza à vida em comunidade. QUESTÃO 02
Desta forma, para ele, a ideia de viver em sociedade é uma
condição essencial para o homem.
(UECE) Leia atentamente os trechos a seguir, que são
fragmentos das análises de Platão e Aristóteles sobre os
Aristóteles entendia que a política tinha por finalidade
sistemas de governo – suas opiniões sobre a democracia:
o “bem comum” e os governantes deveriam possuir
qualidades excepcionais. Sendo assim, para ele, o bom
“A democracia se divide em várias espécies. Nas cidades
governante seria aquele que governava para todos e não
que se tornaram maiores ela exibe a igualdade absoluta, a
para uma minoria privilegiada socialmente nem para uma
lei coloca os pobres no mesmo nível que os ricos e pretende
maioria marcada pela exclusão e pela exploração.
que uns não tenham mais direitos do que os outros. O
Estado cai no domínio da multidão indigente. Tal gentalha
Pensando assim, ele apontou três formas justas de
desconhece que a lei governa, mas onde as leis não têm
governo:
força pululam os demagogos”.
ARISTÓTELES. A política. Trad. Roberto L. F. São Paulo: Martins Fontes, 1998. .

Monarquia Governo de uma só pessoa “A passagem da democracia para a tirania não se fará da
mesma forma que a da oligarquia para a democracia? Do
Aristocracia Governo de um grupo de pessoas. desejo insaciável de riquezas? De tão-somente ganhar
dinheiro, proveio a ruína da oligarquia. E o que destruiu a
democracia, não foi a avidez do bem que ela a si mesma
Politeia Governo de todos.
propusera? Qual foi o bem a que ela se propôs? – A
liberdade. Da extrema liberdade nasce a mais completa e
ÉTICA selvagem servidão”.
PLATÃO: as grandes obras. A república. Livro VIII. Tradução Carlos A. Nunes,
Maria L. Souza, A. M. Santos. Edição do Kindle, 2019. Adaptado.

Considerando o trecho acima, e o pensamento político dos


dois filósofos da antiguidade, atente para o que se diz a seguir
e assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso.

( ) Para Platão, a melhor forma de governança era a


aristocracia, na qual os melhores, por serem mais
sábios, deveriam governar; entretanto, esta poderia se
corromper e tornar-se uma timocracia.
( ) Aristóteles considerava a monarquia a pior das formas
de governo. O governo de um só seria errado por
corromper a natureza política dos indivíduos, um desvio
para o governante.
( ) Diferente de Platão, Aristóteles entendia que a
democracia era a melhor forma de governo, desde
que não se corrompesse e se transformasse em uma
demagogia.
( ) Tanto Platão como Aristóteles buscaram estabelecer,
cada um a seu modo, os parâmetros de um bom e justo
governo. Nenhum deles, entretanto, tinha admiração
pela democracia, sobretudo em seu formato puro.

QUINO, J. S. L. Toda Mafalda: da primeira à última tira. São Paulo: Martins A sequência correta, de cima para baixo, é:
Fontes, 2003. p.217.

5
2. ANTIGA | 2.2 CLÁSSICA

A V, F, V, F. ( ) O silogismo não trata do conteúdo do que se afirma,


B V, F, F, V. mas permite se chegar a conclusões verdadeiras, desde
C F, V, F, V. que baseadas em princípios gerais verdadeiros.
D F, V, V, F.
A sequência correta, de cima para baixo, é:
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

A F, F, V, F.
QUESTÃO 03 B F, V, F, V.
C V, V, F, F.
(UNIOESTE) “Então, considera o que segue (...). O que me D V, F, V, V.
parece é que, se existe algo belo além do Belo em si, só
poderá ser belo por participar desse Belo em si. O mesmo
ORIENTADA

RESOLUÇÃO
admito de tudo mais. Admites essa espécie de causa?”
PLATÃO, Fédon, 100 c. Belém: Ed. UFPA, 2011.
QUESTÃO 05
Sobre o excerto acima, considere as seguintes afirmações:
(UECE) Observe a seguinte frase atribuída a Otto Von
I. A hipótese platônica das Ideias (ou hipótese das Formas)
compreende a Ideia como causa do ser das coisas. Bismarck, estadista e diplomata alemão do século XIX:
II. “Participação” é o modo pelo qual a Ideia dá causa às coisas.
III. O Belo corresponde à Forma; a coisa bela é a Ideia. “Os tolos dizem que aprendem com os seus próprios erros;
IV. A teoria ou hipótese das Ideias distingue entre eu prefiro aprender com os erros dos outros”.
entidades supratemporais que são em si mesmas,
frente a entidades que não são por si mesmas e estão Tendo como base a definição estabelecida por Aristóteles,
submetidas ao devir. As primeiras são causa do ser das em sua Metafísica, sobre os graduais níveis de conhecimento
últimas.
(sentidos, memória, experiência e ciência), é correto dizer
que a frase acima, proferida pelo líder Prussiano, da
Sobre as afirmações acima, assinale a alternativa CORRETA.
República de Weimar, representa
A Somente uma está incorreta.
B Somente uma está correta. A a demonstração do conhecimento que é dado pelos
C Duas estão corretas e duas estão incorretas. sentidos, pois Bismarck revela ter sensibilidade para
D Todas estão corretas. perceber como agir a partir dos erros alheios.
E Todas estão incorretas. B o conhecimento propiciado pela memória quando o
líder alemão demonstra decidir suas ações a partir da
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

lembrança do que fizeram de errado os seus interlocutores.


C o conhecimento da experiência de um político de anos
QUESTÃO 04 de atuação, que jamais agiu sem aguardar a ação de
seus opositores.
(UECE) “O silogismo é uma locução em que uma vez certas D um saber no nível da ciência, mais precisamente, de
suposições sejam feitas, alguma coisa distinta delas se segue uma das ciências práticas, a política: um saber de
necessariamente devido à mera presença das suposições caráter universal, obtido a partir das várias experiências
como tais. Por ‘devido à mera presença das suposições como singulares.
tais’ entendo que é por causa delas que resulta a conclusão,
e por isso quero dizer que não há necessidade de qualquer
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

termo adicional para tornar a conclusão necessária”


ARISTÓTELES. Órganon: Categorias, Da interpretação, Analíticos anteriores,
Analíticos posteriores, Tópicos, Refutações sofísticas. Bauru, SP: EDIPRO, 2010, p. 111.
QUESTÃO 06
Considerando o enunciado acima, constante no livro I dos
Analíticos anteriores, atente para o que se afirma a seguir, e (UNIOESTE) Leia os dois trechos a seguir.
assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso.
“(...) a imaginação é algo diverso tanto da percepção sensível
( ) Trata-se da definição de silogismo, termo filosófico com quanto do raciocínio (...) imaginação será o movimento
o qual Aristóteles designou a conclusão deduzida de
que ocorre pela atividade da percepção sensível. (...) E
premissas, a argumentação lógica perfeita.
porque [as imagens produzidas passivamente a partir
( ) Expõe as bases do argumento indutivo com três
proposições declarativas (duas premissas e uma da percepção sensível] perduram e são semelhantes às
conclusão) que se conectam de tal modo que, a partir percepções sensíveis, os animais fazem muitas coisas com
de premissas, é possível induzir uma conclusão. elas: (...) como os homens, por terem o intelecto algumas
( ) Expressa a importância dada por Aristóteles à correção vezes obscurecido pela doença ou pelo sono.”
lógica do raciocínio empregado na construção do ARISTÓTELES, De Anima. Trad.: Maria Cecília Gomes dos Reis. São Paulo:
conhecimento do Ser das coisas.

6
2. ANTIGA | 2.2 CLÁSSICA

“(...) em geral, a palavra imagem está cheia de confusão


na obra dos psicólogos: veem-se imagens, reproduzem- GABARITO
se imagens, guardam-se imagens na memória. A imagem
é tudo, exceto um produto direto da imaginação. Na obra QUESTÕES ORIENTADAS
de Bergson Matéria e Memória, em que a noção de imagem
tem uma grande extensão, uma única referência (p. 198) é 01 D 02 B 03 A
dedicada à imaginação produtora. Essa produção fica 04 D 05 D 06 C
sendo então uma atividade de liberdade menor, que quase
não tem relação com os grandes atos livres, trazidos à Acertos Erros Rendimento %
luz pela filosofia bergsoniana. (...) Propomos, ao contrário,
que se considere a imaginação como um poder maior da TOTAL DE ACERTOS
natureza humana. Certamente não adianta nada dizer
Total Total
que a imaginação é a faculdade de produzir imagens. 19 Rendimento %
Questões Acertos
Mas essa tautologia tem ao menos o interesse de deter as
assimilações das imagens às lembranças.”
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Trad.: A.C. Leal; Lídia Leal.
Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1984.

Segundo os trechos de Aristóteles e de Bachelard, acima, é


CORRETO dizer que:

A Aristóteles e Bachelard coincidem na avaliação da


imaginação passiva e na avaliação da imaginação
produtiva.
B Aristóteles afirma que os seres humanos se valem da
imaginação somente quando privados da intelecção.
Essa mesma tese é partilhada, mais de dois mil anos
depois, por Bachelard, que critica a subordinação
da imaginação à memória, como era frequente para
a psicologia de sua época e observado mesmo em
Bergson.
C em Aristóteles, a imaginação é uma mudança provocada
pela percepção sensível de algo, mas essa mudança
não é ainda o raciocínio. Somente aquele que dorme ou
está doente recorre à imaginação para compreender a
realidade. Gaston Bachelard, contrariamente, advoga
uma imaginação produtiva, de poder tão grande quanto
a memória ou quanto a razão na natureza humana.
D no passado clássico grego, a imaginação era objeto
de defesa dos filósofos, pois as divindades eram todas
imaginárias; por isso Aristóteles, para denunciar esse
traço, estuda a imaginação ao lado da percepção
(dependendo dela) e do raciocínio (menor que ele).
A razão, assim, supera o mito. Já o pensador francês
contemporâneo Gaston Bachelard põe a imaginação
produtiva acima de todas as faculdades humanas e,
com isso, abre as portas a um novo misticismo religioso.
E as teses de Aristóteles e de Bachelard divergem quanto
à imaginação passiva, dependente da percepção
e subordinada à razão, mas convergem quanto à
imaginação produtiva, autônoma em relação à
percepção sensível.

7
FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
2. ANTIGA RESPONDA

2.3 HELENISMO

Introdução “A alma é corpórea, composta de partículas


sutis, difusa por toda a estrutura corporal [...].
Contexto histórico logo que se dissolve inteiramente o corpo, a
alma se dissipa, e disseminada perde sua força e os
O período helênico constitui o último dos períodos seus movimentos, de tal modo que também ela se
da filosofia na Antiguidade. Em meados do século torna insensível”.
EPICURO. Antologia de textos. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
IV a.C., Alexandre, o Grande, assumiu o trono
macedônico e iniciou um processo expansionista
Paradoxo de Epicuro: o problema do mal e da
sem precedentes, pelo qual formou um vasto império
existência de Deus
que incluía a Grécia, o Egito, a Pérsia e a Índia.
Deus é onisciente, onipotente e todo-bondoso. Se
O contato com as culturas orientais corroborou
Deus não sabia que Adão e Eva iam desobedecê-
o surgimento da Cultura Helenística, que era
lo, trazendo, assim, todo o mal e todo sofrimento
constituída da fusão de elementos da cultura grega
para o mundo, então, não era onisciente; se sabia,
e das culturas orientais. Esse processo contribuiu
mas não pôde evitar, não era onipotente; se sabia,
para a passagem da noção de coletividade para
podia evitar, e mesmo assim não o fez, então, ele
a de individualização, no que tange à aquisição de
permitiu que o mal e o sofrimento viessem a existir,
uma vida feliz.
ele assim o quis, o que contradiz sua toda-bondade.
O que diz o Paradoxo de Epicuro é que a existência
de um Deus onisciente, onipotente e todo-bondoso
é incompatível com a existência do mal. Se Deus
VIDEOAULA

existe, então, não deveria existir o mal e o sofrimento.


EPICURISMO Mas o mal e o sofrimento existem, portanto, Deus não
existe.
https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-religiao-e-
teologia/3556224
A escola epicurista foi fundada em Atenas por Epicuro.
Ela também é conhecida como filosofia de jardim, pois seus
membros costumavam reunir-se em um jardim. Os epicuristas,
assim como os estoicos, postulavam como princípio básico
VIDEOAULA

a felicidade, obtida pela ataraxia (tranquilidade da alma), CINISMO


porém, para eles, ela seria alcançada por meio do prazer,
ou seja, eles acreditavam que a austeridade e moderação
seriam fundamentais para atingir a felicidade. A escola cínica foi fundada por Antístenes. A palavra
cinismo vem do grego kynos, que significa cão. Os cínicos
defendiam total desapego aos bens materiais, pois, para
VIDEOAULA

eles, a felicidade era um estado de tranquilidade da alma


ESTOICISMO (ataraxia).

Diógenes de Sínope, o cínico mais famoso, questionava


os valores e as convenções sociais de forma radical e
A escola estoica foi fundada em Atenas por Zenão. A escola procurava levar uma vida estritamente alinhada aos
recebeu esse nome porque os seus membros costumavam princípios que considerava moralmente corretos.
reunir-se próximo a pórticos pintados (stoápoikilé). Vale
ressaltar que, para os estoicos, a felicidade consiste na
tranquilidade da alma, isto é, na ataraxia*. O barril e a esmola
* ausência de perturbação e/ou imperturbabilidade da alma.
Zombavam de Diógenes. Além de morar
Segundo os estoicos, o homem deveria resignar-se a num barril, volta e meia ele era visto pedindo
aceitar os acontecimentos predeterminados, entretanto, esmolas às estátuas. Cegas por serem estátuas,
eram duplamente cegas porque não tinham olhos
isso não se traduz em inação. Devemos agir de acordo com
- uma das características da estatuária grega. Pela
os preceitos éticos e fazer o que julgamos correto, ou seja, forma é que se penetrava na alma das estátuas, não
devemos aceitar as consequências de nossa ação e o curso pelos olhos. Perguntaram a Diógenes porque pedia
inevitável dos acontecimentos.

1
2. ANTIGA | 2.3 HELENISMO

os outros a sair dela é o diálogo filosófico, e as maneiras


desajeitadas e insólitas do filósofo são compreensíveis, pois
esmola às estátuas inanimadas, de olhos vazios.
quem contemplou a unidade da verdade já não sabe lidar
Ele respondia que estava se habituando à recusa.
habilmente com a multiplicidade das opiniões nem mover-
Pedindo a quem não o via nem o sentia, ele nem
se com engenho no interior das aparências e ilusões. Os
ficava aborrecido pelo fato de não ser atendido.
anos despendidos na criação do instrumento para sair da
caverna são o esforço da alma para libertar-se. Conhecer
É mais ou menos uma imagem que pode ser usada
é, pois, um ato de libertação e de iluminação. A Paideia
para definir as relações entre a sociedade e o poder.
filosófica é uma conversão da alma voltando-se do sensível
Tal como as estátuas gregas, o poder tem os olhos
para o inteligível. Essa educação não ensina coisas nem nos
vazados, só olha para dentro de si mesmo, de seus
dá a visão, mas ensina a ver, orienta o olhar, pois a alma, por
interesses de continuidade e de mais poder.
sua natureza, possui em si mesma a capacidade para ver.
Chauí, M. Introdução à história da filosofia. São Paulo: Companhia das
A sociedade, em linhas gerais, não chega a morar Letras, 2002.
num barril. Uma pequena minoria mora em coisa
mais substancial. A maioria mora em espaços um De acordo com o texto, pode-se afirmar que:
pouco maiores do que um barril. E há gente que nem
consegue um barril para morar, fica mesmo embaixo A o conhecimento filosófico pressupõe o acesso ao mundo
da ponte ou por cima das calçadas. sensível.
B a dialética é um instrumento de alienação.
Morando em coisa melhor, igual ou pior do que C o texto pode ser interpretado como uma crítica a todos
um barril, a sociedade tem necessidade de pedir, aqueles que, procurando a verdade, seguem seus
não exatamente esmolas ao poder, mas medidas de sentidos.
segurança, emprego, saúde e educação. [...]. D a unidade da verdade coincide com a multiplicidade de
CONY, Carlos H. O barril e a esmola. Folha de S.Paulo, 5 de Janeiro
opiniões.
de 2000.
E conhecer equivale a entregar-se às paixões.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO
VIDEOAULA

CETICISMO QUESTÃO 02

(UFU) Considere o seguinte trecho:


A escola cética surgiu a partir das ideias de Pirro. Para
ele, para sermos felizes, devemos nos libertar dos desejos e “No diálogo Mênon, Platão faz Sócrates sustentar que a
não nos importar com a maneira como as coisas se revelam. virtude não pode ser ensinada, consistindo-se em algo
Dessa forma, nada afetará nosso estado de espírito, que que trazemos conosco desde o nascimento, defendendo
será de tranquilidade interior (ataraxia). uma concepção, segundo a qual temos em nós um
conhecimento inato que se encontra obscurecido desde
Por isso, seus seguidores propunham que as pessoas que a alma encarnou-se no corpo. O papel da filosofia é
adotassem a suspensão do juízo (postura filosófica da fazer-nos recordar deste conhecimento”
afasia), ou seja, abstenção de fazer qualquer julgamento, já MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge
que a busca de uma verdade plena era inútil. Zahar Editora, 2000. p. 31.

Afasia: abstenção consciente de qualquer juízo, originada Nesse trecho, o autor descreve o que ficou conhecido como:
pelo reconhecimento da ignorância a respeito de tudo que
transcenda as possibilidades cognitivas do ser humano. A a teoria das ideias de Platão.
B a doutrina da reminiscência de Platão.
C a ironia socrática.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

D a dialética platônica.

QUESTÃO 01
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

(VUNESP) A caverna (...) é o mundo sensível onde vivemos. O QUESTÃO 03


fogo que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz
verdadeira (do Bem e das ideias) sobre o mundo sensível.
Somos os prisioneiros. As sombras são as coisas sensíveis, (UNIOESTE) Segundo a conhecida alegoria da caverna, que
que tomamos pelas verdadeiras, e as imagens ou sombras aparece no Livro VII da República, de Platão, há prisioneiros,
dessas sombras, criadas por artefatos fabricadores voltados para uma parede em que são projetadas as
de ilusões. Os grilhões são nossos preconceitos, nossa sombras de objetos que eles não podem ver. Esses
confiança em nossos sentidos, nossas paixões e opiniões. prisioneiros representam a humanidade em seu estágio de
O instrumento que quebra os grilhões e permite a escalada mais baixo saber acerca da realidade e de si mesmos: a doxa,
do muro é a dialética. O prisioneiro curioso que escapa ou “opinião”. Um desses prisioneiros é libertado à força, num
é o filósofo. A luz que ele vê é a luz plena do ser, isto é, o processo que ele quer evitar e que lhe causa dor e enormes
Bem, que ilumina o mundo inteligível como o Sol ilumina dificuldades de visão (conhecimento). Gradativamente, ele
o mundo sensível. O retorno à caverna para convidar é conduzido para fora da caverna, a um estágio em que

2
2. ANTIGA | 2.3 HELENISMO

pode ver as coisas em si mesmas, isto é, os fundamentos


eternos de tudo o quê, antes, ele via somente mediante GABARITO
sombras. Esses fundamentos são as Formas. Para além das
Formas, brilha o Sol, que representa a Forma das Formas,
o Bem, fonte essencial de todo ser e de todo conhecer e
QUESTÕES ORIENTADAS
unicamente acessível mediante intuição direta.
01 C 02 B 03 E
Com base nisso, responda a seguinte questão: se chegamos
04 B
ao conhecimento das Formas mediante a dialética, que
é o estabelecimento de fundamentos que possibilitam
Acertos Erros Rendimento %
o conhecimento das coisas particulares (sombras), é
CORRETO dizer:
TOTAL DE ACERTOS
A para Platão, a dialética é o conhecimento imediato
(doxa) dos objetos particulares. Total Total
09 Rendimento %
B o Bem é um objeto particular, que pode ser conhecido Questões Acertos
sensivelmente, de modo imediato e indolor, por todos os
seres humanos.
C as Formas são somente suposições teóricas, sem
realidade nelas mesmas.
D a dialética, que não é o último estágio do ser e do
conhecer, permite chegar, mediante um processo difícil,
que exige esforço, às coisas em si mesmas (Formas).
E a dialética, último estágio do ser e do conhecer, permite
chegar, mediante um processo difícil, ao conhecimento
do Bem.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 04

(UEL) Eis com efeito em que consiste o proceder corretamente


nos caminhos do amor ou por outro se deixar conduzir: em
começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo, subir
sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para
dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos
para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências
até que das ciências acabe naquela ciência, que de nada
mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que
em si é belo.
(PLATÃO. Banquete, 211 c-d. José Cavalcante de Souza. São Paulo: Abril
Cultural, 1972. (Os Pensadores) p. 48).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia de


Platão, é correto afirmar que:

A a compreensão da beleza se dá a partir da observação


de um indivíduo belo, no qual percebemos o belo em si.
B a percepção do belo no mundo indica seus vários graus
que visam a uma dimensão transcendente da beleza em si.
C a compreensão do que é belo se dá subitamente,
quando partimos dele para compreender os belos ofícios
e ciências.
D a observação de corpos, atividades e conhecimentos
permite distinguir quais deles são belos ou feios em si.
E a participação do mundo sensível no mundo inteligível
possibilita a apreensão da beleza em si.

3
FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
RESPONDA

3.0 MEDIEVAL

Introdução
A filosofia produzida ao longo da Idade Média está
estritamente vinculada à expansão do Cristianismo e
à queda do Império Romano do Ocidente no século
V. Neste período, os padres apologistas procuraram
conciliar a filosofia grega e os ensinamentos
cristãos. Esses padres foram fundamentais para a
evangelização das classes mais cultas e contribuíram
para que o Cristianismo se tornasse a religião oficial
de Roma. https://rumoasantidade.com.br/12-ensinamentos-santo-agostinho-sobre-pecado/

Agostinho trouxe para o Cristianismo suas concepções


maniqueístas, céticas e neoplatônicas. Dessa forma, contribuiu
significativamente para a consolidação do Cristianismo.
VIDEOAULA

RELAÇÃO DE FÉ E RAZÃO,
ORIGEM DO MAL E TEMPO

A QUESTÃO DO MAL

Segundo Agostinho, o mal é o estado em que o homem


A filosofia cristã foi dividida em duas fases, se afasta de Deus, de seus preceitos, de seu amor. Sendo
patrística, cujo principal filósofo foi Santo Agostinho, assim, o mal não é uma criação divina.
e a escolástica, cujo principal filósofo foi São Tomás
de Aquino.
VIDEOAULA

A TEORIA DA ILUMINAÇÃO
E CIDADE DE DEUS

PATRÍSTICA Segundo Agostinho, a mente humana, que é mutável e


falível, alcança uma verdade eterna e, portanto, infalível, por
meio da iluminação divina. Sendo assim, o conhecimento não
pode ser derivado inteiramente da apreensão sensível ou da
A patrística vem do latim “pater” que significa padre.
experiência concreta, necessitando de um elemento prévio
Sendo assim, esse foi um período da história ocidental
que sirva de ponto de partida para o processo do conhecer.
marcado pelo desenvolvimento de uma filosofia produzida
por padres.
Portanto, ele defendia que a mente humana possui uma
centelha do intelecto divino, uma vez que o homem foi
Eles foram os responsáveis pela estruturação teológica
criado à imagem e semelhança de Deus.
do Cristianismo, exercendo, assim, papel importantíssimo
na expansão e consolidação do mesmo, pois, inspirados na
filosofia greco-romana, tentaram munir a fé de argumentos
racionais, ou seja, buscaram a conciliação entre a fé e o Sobre isso, Agostinho escreveu:
pensamento pagão.
Não é verdade que estão ainda cheios
de velhice espiritual aqueles que nos dizem:
VIDEOAULA

“Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se


SANTO AGOSTINHO estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por
que não ficou sempre assim no decurso dos séculos,
abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu
em Deus um novo movimento, uma vontade nova
INTRODUÇÃO para dar o ser a criaturas que nunca antes criara,
como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele
Santo Agostinho nasceu em Tagaste, na África, filho de aparece uma vontade que antes não existia?”
pai pagão e mãe cristã, ele recebeu uma boa formação e AGOSTINHO. Confissões, São Paulo: Abril Cultural, 1984.
acabou se destacando como orador e político romano.

1
3.0 MEDIEVAL

C serviu como argumento antiteológico, mobilizado contra


A perspectiva da eternidade o pensamento escolástico.
D é fundamentada no argumento metafísico da primazia
Na primeira parte do livro XI das Confissões, da substância imaterial.
Santo Agostinho procura esclarecimento E é acompanhada de pressupostos relativistas no campo
na Verdade eterna o que seria a eternidade, e um da ética e da moralidade.
dos modos de obtê-lo é ler as escrituras sagradas.
A eternidade é, então, identificada com o sempre
ORIENTADA

RESOLUÇÃO
presente Princípio (Gênesis 1,1), o Verbo de Deus,
Mediador misericordioso, Verdade, Sabedoria,
Criador de tudo e luz que brilha no íntimo do homem, QUESTÃO 02
falando-lhe intimamente. Trata-se, portanto, de
um atributo divino: o eterno presente, no qual Deus
produz e sustenta todas as coisas. (IFPB) Considerando as reflexões de Santo Agostinho sobre
o livre-arbítrio, assinale a alternativa CORRETA:
Ora, para pensar o tempo, surge a seguinte
questão: se o princípio eterno é anterior às criaturas A Ser livre é deliberar com autonomia, respeitando as leis
(pois as fez), a eternidade seria anterior ao tempo? humanas, que são a expressão fiel das leis divinas.
Sim e não. Não, se imaginarmos que a eternidade B Ser livre é um ato de fé, a razão não desempenha papel
existia cronologicamente antes de o tempo ter fundamental no exercício do livre-arbítrio.
sido criado. Essa resposta é descabida, pois reduz C A vontade não governa o homem e a fé é suficiente para
a eternidade ao curso do tempo e, temporizada, assegurar o livre-arbítrio.
deixa de ser eternidade. Mas, sim, se aceitarmos que D O livre-arbítrio deve orientar-se segundo a razão divina,
há uma anterioridade causal da eternidade divina, ou seja, de acordo com os preceitos da lei eterna, o que
porque ela cria do nada todas as criaturas (inclusive
não se faz sem que o homem mergulhe em si mesmo para
o tempo).
se conhecer.
Assim, a existência do tempo (e de todas as E Ser livre independe da iluminação divina e o intelecto
criaturas) depende da eternidade. A eternidade, humano é suficiente para se autodeterminar.
então, oferece um parâmetro inequívoco para
pensar o tempo. Ou seja, para Agostinho, a
meditação sobre o tempo parte do contato humano
com a eternidade. O parâmetro do processo de ESCOLÁSTICA
investigação é a Verdade eterna, que sempre
ilumina a interioridade do homem. Ao mesmo tempo,
a eternidade é descoberta em contraposição ao O crescimento dos núcleos urbanos e o enriquecimento
tempo; ela é o que o tempo não é. da sociedade contribuíram para que a demanda por
AYOUB, Cristiane Negreiros Abbud. O tempo espelho da alma.
Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/o-tempo-
educação aumentasse, tanto no sentido eclesiástico,
espelho-da-alma/ visando à formação de uma elite religiosa para combater
os hereges, quanto no civil, relacionada às necessidades do
governo e da administração pública.

ORIENTADA Por volta do século VIII, o imperador Carlos Magno


RESOLUÇÃO

organizou o ensino e fundou diversas escolas ligadas às


instituições cristãs. O desenvolvimento dessas escolas
QUESTÃO 01 contribuiu para o surgimento das primeiras universidades.
Esse período ficou conhecido como “escolástica”, palavra
(UNESP) Não posso dizer o que a alma é com expressões derivada do termo escola.
materiais, e posso afirmar que não tem qualquer tipo de
dimensão, não é longa ou larga, ou dotada de força física,
VIDEOAULA

e não tem coisa alguma que entre na composição dos


corpos, como medida e tamanho. Se lhe parece que a alma SÃO TOMÁS DE AQUINO
poderia ser um nada, porque não apresenta dimensões do
corpo, entenderá que justamente por isso ela deve ser tida
em maior consideração, pois é superior às coisas materiais
INTRODUÇÃO
exatamente por isso, porque não é matéria. É certo que
uma árvore é menos significativa que a noção de justiça.
Diria que a justiça não é coisa real, mas um nada? Por
conseguinte, se a justiça não tem dimensões materiais, nem
por isso dizemos que é nada. E a alma ainda parece ser
nada por não ter extensão material?
Santo Agostinho. Sobre a potencialidade da alma, 2015. Adaptado.

No texto de Santo Agostinho, a prova da existência da alma

A desempenha um papel primordialmente retórico,


desprovido de pretensões objetivas.
B antecipa o empirismo moderno, ao valorizar a experiência
https://universodafilosofia.com/2018/01/felicidade-para-sao-tomas-de-aquino/
como origem das ideias.

2
3.0 MEDIEVAL

Verdades conhecidas pela fé VIRTUDES CARDEAIS

Ética
Deus A B C D O mundo
Tomás de Aquino criou um sistema ético com base
Verdades conhecidas pela razão natural no trabalho de Aristóteles, esse fato é evidenciado na
perspectiva de virtude presente na concepção ética de
Tomás de Aquino nasceu em Nápoles, pertenceu à ambos. Entretanto, diferente de Aristóteles, que defendeu
Ordem Dominicana e buscou, nas concepções aristotélicas,
o meio-termo como caminho para uma vida ética, Aquino
fundamentação para sua filosofia.
defendia as virtudes cardeais (justiça, prudência, coragem
Tomás de Aquino colocou fé e razão juntas, pois ele e temperança) e delas derivam todas as outras.
acreditava que o conhecimento poderia ser alcançado por
meio da fé ou por meio da razão. Segundo Aquino, o objetivo maior da ética é propiciar a
bem-aventurança eterna que é alcançada na união com
DIÁLOGO ENTRE FÉ E RAZÃO Deus depois da vida.

Tomás de Aquino sempre creu firmemente no acordo de A “Idade Média” que nunca existiu
fundo de todas as formas e expressões da razão e da fé cristã.
Pesquisador infatigável, nunca desprezou o pensamento Uma série de fatores estão convergindo para que
dos que dele divergiam, pelo contrário, procura elencá-los os brasileiros superem uma ideia errônea acerca da
todos, examina-los, dá-lhes respostas. Basta consultar a Idade Média. A periodização da história ocidental em
sua metodologia na Suma de teologia. Ali, ele cita Platão,
antiga, média e moderna idade é fruto dos preconceitos
Aristóteles, árabes, judeus e, naturalmente, a Sagrada
Escritura, os Santos Padres, os Concílios e outras autoridades do alemão Christoph Keller no final do século XVII, que
da época. Crê que toda a verdade de todas as filosofias e atribuiu à Idade Média a pecha de “idade das trevas”.
de todas as sabedorias só pode ter uma procedência: Deus Após mil anos de esterilidade cultural, toda a criatividade
Criador. Étienne Gilson insiste em dizer que Santo Tomás é foi creditada à Renascença do século XV. Ora, nenhuma
teólogo. Ele faz filosofia a serviço da sua fé. pessoa medianamente informada pensa mais assim,
simplesmente porque nunca existiu essa Idade Média
Para ele, entretanto, não existe dupla verdade, uma da única e irreparavelmente arruinada, puro intervalo entre os
fé e outra da razão. A verdade jamais pode contradizer a humanismos antigos e renascentistas. Até quem já teve a
verdade. Mas existem dois modos diferentes de conhecer: oportunidade de ler best sellers, como os de Umberto Eco,
a razão aceita a verdade por causa de sua evidência sabem disso. Alguns deles, em versão cinematográfica,
intrínseca; a fé aceita a verdade por causa da autoridade de tornaram-se sucessos de bilheteria. A história do Ocidente
Deus revelante. Filosofia e Teologia são ciências diferentes,
é um único processo, uma continuidade marcada por
mas não são conflitantes, como se quis apregoar durante
muitos séculos, sem que tal polêmica nos trouxesse qualquer sucessivos redescobrimentos dos valores da Antiguidade. Até
forma de benefício. Até há muito pouco tempo, prevaleceu hoje, estamos fazendo redescobrimentos da Antiguidade.
a separação daquilo que Santo Tomás quis unir: a razão Cada geração descobre algo de novo na herança deixada
humana foi se emancipando, cada vez mais, da teologia pelos gregos, pelos romanos, pelos árabes e pelos judeus.
e a fé foi buscar asilo no obscurantismo, na emoção, no Tivemos renascimentos nos séculos VII e VIII, no século XII e
misticismo e em diversas formas de irracionalismo, moléstia, no século XIII.
aliás, contra a qual nenhum cristão ainda pode se considerar
vacinado. O que parece surgir, somente nos séculos XVII e XVIII, são
ZAMAGNA, Domingos. O cativeiro libertador. Disponível em: https://
valores aos quais costumamos dar o nome de modernos
revistacult.uol.com.br/home/o-cativeiro-libertador/
(espírito crítico, espírito científico, subjetivismo religioso,
individualismo, sentido de democracia, busca da liberdade,
VIDEOAULA

desenvolvimento técnico, etc.). Quando os estudamos


PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS mais profundamente, vemos que a maior parte deles não
E VIRTUDES CARDEAIS surgiu na Idade Moderna; surgiu muito tempo antes dos
tempos modernos. Já nos séculos XII ou XIII, podemos
observar manifestações muito claras desses fenômenos.
A principal obra filosófica de Tomás de Aquino é a “Suma
Numa palavra: os tempos modernos não se opõem aos
Teológica”. Nela, ele apresenta “as cinco vias” pelas quais
tempos medievais, pois buscam os mesmo valores, apenas
estabelece as provas da existência de Deus.
acelerando a evolução que já vinha se processando nos
séculos anteriores.
1. Argumento do Motor Imóvel: para que o movimento ZAMAGNA, Domingos. O cativeiro libertador. Disponível em: https://
exista, é necessário que haja um primeiro motor que revistacult.uol.com.br/home/o-cativeiro-libertador/
mova sem ser movido.
2. Argumento da Primeira Causa: as causas da existência
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

devem supor uma causa primeira eficiente.


3. Argumento da Contingência: os seres contingentes só
existem porque existe um ser necessário. QUESTÃO 03
4. Argumento do Grau: Deus é o grau mais elevado de
perfeição. Desde que tenhamos compreendido o significado da
5. Argumento Teleológico: toma como ponto de partida a palavra “Deus”, sabemos, de imediato, que Deus existe.
ordem do mundo, dada como fim intencional. Com efeito, essa palavra designa uma coisa de tal ordem
que não podemos conceber nada que lhe seja maior. Ora,

3
3.0 MEDIEVAL

o que existe na realidade e no pensamento é maior do A Escolástica:


que o que existe apenas no pensamento. Donde se segue
que o objeto designado pela palavra “Deus”, que existe no A teve em Santo Agostinho seu maior expoente e era
pensamento, desde que se entenda essa palavra, também teocêntrica;
existe na realidade. Por conseguinte, a existência de Deus B teve em Alberto Magno seu maior expoente e refutava o
é evidente. teocentrismo, pregando o antropocentrismo;
TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. Rio de Janeiro: Loyola, 2002. C teve em Tomás de Aquino seu principal expoente e foi
uma tentativa de harmonizar a razão com a fé;
O texto apresenta uma elaboração teórica de Tomás de D considerava que a razão podia proporcionar uma visão
Aquino caracterizada por completa e unificada da natureza ou da sociedade;
E pregava o recurso racional da força, sendo este mais
A reiterar a ortodoxia religiosa contra os heréticos. importante do que o exercício da virtude ou da fé.
B sustentar racionalmente doutrina alicerçada na fé.
C explicar as virtudes teologais pela demonstração.
ORIENTADA

RESOLUÇÃO
D flexibilizar a interpretação oficial dos textos sagrados.
E justificar pragmaticamente crença livre de dogmas.
QUESTÃO 07
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

(UFU) A teologia natural, segundo Tomás de Aquino (1225-


QUESTÃO 04 1274), é uma parte da filosofia, é a parte que ele elaborou
mais profundamente em sua obra e na qual ele se manifesta
como um gênio verdadeiramente original. Se se trata de
(IFPB) A partir da filosofia de Tomás de Aquino, assinale a física, de fisiologia ou dos meteoros, Tomás é simplesmente
opção CORRETA:
aluno de Aristóteles, mas se se trata de Deus, da origem das
A O ato moral de escolha do bem e de repúdio do mal coisas e de seu retorno ao Criador, Tomás é ele mesmo. Ele
consiste num exercício de fé, pois a razão não seria capaz sabe, pela fé, para que limite se dirige, contudo só progride
de tal discernimento. graças aos recursos da razão.
GILSON, Etienne. A Filosofia na Idade Média, São Paulo: Martins Fontes,
B A lei natural é irracional, fruto da atividade contemplativa, 1995, p. 657.
insuficiente para regular a conduta humana.
C A liberdade é conquista da fé, podendo ser negligenciada
pela razão nas diversas situações éticas. De acordo com o texto acima, é correto afirmar que
D O governo de si para o homem será guiar-se por princípios
puramente reflexivos, sem considerar a experiência A a obra de Tomás de Aquino é uma mera repetição da
prática. obra de Aristóteles.
E A atividade ética consiste em, por meio da razão prática, B Tomás parte da revelação divina (Bíblia) para entender a
discernir o mal do bem e executar o escolhido mediante natureza das coisas.
a vontade.. C as verdades reveladas não podem de forma alguma ser
compreendidas pela razão humana.
ORIENTADA D é necessário procurar a concordância entre razão e fé,
RESOLUÇÃO

apesar da distinção entre ambas.


QUESTÃO 05
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

(ESPM) Seu principal objetivo era demonstrar, por um


raciocínio lógico formal, a autenticidade dos dogmas QUESTÃO 08
cristãos. A filosofia devia desempenhar um papel auxiliar na
realização deste objetivo. Por isso a tese de que a filosofia (UFF) A grande contribuição de Tomás de Aquino para a
está a serviço da teologia.
Antonio Carlos Wolkmer – Introdução à História do Pensamento Político vida intelectual foi a de valorizar a inteligência humana e
sua capacidade de alcançar a verdade por meio da razão
O texto deve ser relacionado com: natural, inclusive a respeito de certas questões da religião.
Discorrendo sobre a “possibilidade de descobrir a verdade
A a filosofia epicurista; divina”, ele diz que há duas modalidades de verdade acerca
B a filosofia escolástica; de Deus. A primeira refere-se a verdades da revelação que
C a filosofia iluminista; a razão humana não consegue alcançar, por exemplo,
D o socialismo; entender como é possível Deus ser uno e trino. A segunda
E o positivismo. modalidade é composta de verdades que a razão pode
atingir, por exemplo, que Deus existe.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

A partir dessa citação, indique a afirmativa que melhor


QUESTÃO 06 expressa o pensamento de Tomás de Aquino.

A A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade.


(ESPM) No século XIII, surgiu a Escolástica, corrente filosófica B O ser humano só alcança o conhecimento graças à
que, a partir de então, dominou o pensamento medieval. revelação da verdade que Deus lhe concede.
Rubim Santos Leão de Aquino. História das Sociedades: das Comunidades
Primitivas às Sociedades Medievais C Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcançar
certas verdades por seus meios naturais.

4
3.0 MEDIEVAL

D A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades acerca


de Deus. GABARITO
E Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser humano
nada pode conhecer d’Ele. QUESTÕES ORIENTADAS

01 D 02 D 03 B

04 E 05 B 06 C

07 D 08 C

Acertos Erros Rendimento %

TOTAL DE ACERTOS
Total Total
15 Rendimento %
Questões Acertos

5
FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
4. MODERNA RESPONDA

4.1 RENASCIMENTO, HUMANISMO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

Durante o Renascimento, difundiu-se a busca por


Introdução explicações racionais para os fenômenos naturais, ou seja,
os indivíduos não mais recorreriam à fé, mas teriam na razão
o pilar do pensamento e da aquisição de respostas. Desta
A principal característica da filosofia moderna é forma, percebe-se que a Renascença negou a ideia de que
a passagem do Renascimento para o humanismo, a Igreja e a Bíblia seriam suficientes para responder a todos
uma valorização incondicional da racionalidade os questionamentos humanos.
revelada pelo ceticismo, a descoberta de instâncias
metafísicas onde o ser humano independe da razão, O período convencionalmente conhecido como
como Deus, para descobrir sua inteligência. “moderno” vai do século XVII ao século XIX, tendo se iniciado
com a filosofia revolucionária e inovadora de pensadores
como Bacon e Descartes, considerados como os fundadores
da modernidade por alguns teóricos. Quatro fatores
VIDEOAULA

RENASCIMENTO: COPÉRNICO E contribuíram para o desenvolvimento da filosofia moderna:


GALILEU GALILEI o humanismo renascentista do século XIV, a descoberta do
Novo Mundo no século XV, a Reforma Protestante do século
XVI e a Revolução Científica do século XVII.
O Renascimento foi um amplo movimento iniciado na
Itália no século XIV. Esse movimento recebeu tal nome
VIDEOAULA

porque foi inspirado nos valores da cultura greco-romana


e tinha como principais características o Antropocentrismo HUMANISMO
(o homem como centro de todas as coisas); o Racionalismo
(o homem como ser racional que interage com o mundo e
que pode organizar a sociedade); o Humanismo (o humano O Humanismo surgiu na Itália por volta do século XIV e
e seu entorno passaram a ser o centro das preocupações expandiu-se rapidamente pelo continente europeu. Ele
na modernidade); e o Individualismo (a individualidade das contribuiu para o surgimento de um movimento artístico,
pessoas começou a ser valorizada). científico e cultural conhecido como Renascimento. Foi Giorgio
Vasari quem deu o nome ao movimento para designar a
retomada do estilo clássico em oposição à arte do final do
período medieval. Desta forma, entende-se que o Humanismo
rompeu com a visão teocêntrica do medievo, valorizando o
interesse pelo homem considerado em si mesmo.

O conceito de modernidade está sempre


relacionado para nós ao “novo”, àquilo que
rompe com a tradição. Trata-se, portanto, de
um conceito associado quase sempre a um sentido
positivo de mudança, transformação e progresso.
Não é à toa que, no discurso político, frequentemente
encontramos esse termo, quando falamos, por
exemplo, em um projeto de “modernização” do país.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-
socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p.141.

As transformações ocorridas com o advento da


modernidade também foram estendidas às concepções
políticas, isto é, as novas teorias políticas formuladas após
o Renascimento romperam drasticamente com as teorias
tradicionalmente defendidas durante a Idade Média.

As teorias políticas oriundas da modernidade eram


baseadas na secularização do poder, ou seja, na separação
entre os poderes temporais e espirituais. Em outras palavras,
foi evidenciada uma tendência à laicização da sociedade.

1
4. MODERNA | 4.1 RENASCIMENTO, HUMANISMO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

MICHEL DE MONTAIGNE
ORIENTADA

RESOLUÇÃO
QUESTÃO 01

(UNESP) Os homens, diz um antigo ditado grego,


atormentam-se com a ideia que têm das coisas e não com
as coisas em si. Seria um grande passo, em alívio da nossa
miserável condição, se se provasse que isso é uma verdade
absoluta. Pois se o mal só tem acesso em nós porque
julgamos que o seja, parece que estaria em nosso poder
http://obviousmag.org/pari_passu/2017/montaigne-dos-canibais.html não o levarmos a sério ou o colocarmos a nosso serviço.
Por que atribuir à doença, à indigência, ao desprezo um
Michel de Montaigne nasceu na França em 1533 e foi gosto ácido e mau se o podemos modificar? Pois o destino
considerado o pensador mais importante da segunda apenas suscita o incidente; a nós é que cabe determinar a
geração de humanistas. Vindo de família importante,
qualidade de seus efeitos.
Montaigne tornou-se prefeito, entretanto o maior legado Michel de Montaigne. Ensaios. 2000. (Adaptado)
deste filósofo foi, sem sombra de dúvidas, o seu livro
“Ensaios”. Nesta obra, ele explicita a influência oriunda dos
céticos antigos. De acordo com o filósofo, a diferença entre o bem e o mal

Outro ponto relevante abordado em seu livro “Ensaios” A representa uma oposição de natureza metafísica, que
foi a questão moral, pois, para ele, a moral cristã não seria não está sujeita a relativismos existenciais.
superior aos valores estabelecidos pelos povos indígenas.
Ainda segundo ele, “chamamos de bárbaro aquilo que não
B relaciona-se com uma esfera sagrada cujo conhecimento
faz parte de nossos costumes”. é autorizado somente a sacerdotes religiosos.
C resulta da queda humana de um estado original de bem-
Montaigne defendeu a necessidade da adoção de uma aventurança e harmonia geral do Universo.
atitude de tolerância religiosa no momento em que a França D depende do conhecimento do mundo como realidade
se encontrava dividida entre católicos e protestantes
em si mesma, independente dos julgamentos humanos.
em guerra. Essa postura de Montaigne ficou conhecida
como fideísmo moderado, pois, não havendo argumentos E depende sobretudo da qualidade valorativa
racionais para a defesa de uma ou da outra, a fé era o que estabelecida por cada indivíduo diante de sua vida.
deveria prevalecer, uma vez que a fé não necessitaria de
defesa racional ou de argumentos a seu favor, por ser uma
experiência do indivíduo, e é nisso que se apoia.
REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
Fideísmo: doutrina teológica que, desprezando a
razão, preconiza a existência de verdades absolutas
fundamentadas na revelação e na fé. A Revolução Científica, ou copernicana, como ficou
conhecida, teve início no século XVI com a publicação do
livro “Sobre a revolução das órbitas celestes”, de Nicolau
Copérnico. Nesta obra, Copérnico desconstrói a teoria
Mortes e perseguições marcaram as geocêntrica defendida pela Igreja e fundamentada em
reformas religiosas que abalaram a Europa princípios aristotélicos e ptolomaicos de que a Terra era
durante o século XVI. A Reforma Protestante imóvel e estaria no centro do Universo. Segundo Copérnico,
contra a Igreja Católica e a Contrarreforma
– movimento mais ou menos equivalente, mas na o Sol estaria no centro do Universo e a Terra girava em torno
direção contrária – dividiram antigos aliados e dele. Surgia a teoria heliocêntrica.
tiveram repercussões sociais e políticas. Na França,
o avanço do calvinismo gerou o mais sangrento
desses conflitos: o Massacre de São Bartolomeu. As
fontes históricas diferem quanto ao número exato
de mortes (há relatos de 3 mil a 70 mil), mas o certo
é que, na noite de 24 de agosto de 1572, milhares
de protestantes foram executados por ordem de
Catarina de Médici, [...] mãe de Carlos IX. Catarina
temia a influência crescente dos protestantes,
chamados pelos católicos de huguenotes [...]. Entre
eles estava Gaspar de Coligny, conselheiro do rei
Carlos IX. Os católicos tentaram matar Coligny,
mas falharam. Com medo de retaliação, Catarina
ordenou o massacre.
Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/
acervo/noite-de-sao-bartolomeu.phtml. (Adaptado)

2
4. MODERNA | 4.1 RENASCIMENTO, HUMANISMO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

revertida à prisão domiciliar até o final de sua vida.


A Revolução científica moderna tem seu
ponto de partida na obra de Nicolau Copérnico, Método matemático-experimental:
Sobre a revolução dos orbes celestes (1543), em
que este defende matematicamente [...] um Segundo Galileu, “A natureza é um livro aberto escrito em
modelo de cosmo em que o Sol é o centro (sistema linguagem geométrica; para compreendê-la é necessário
heliocêntrico), e a Terra apenas mais um astro
girando em torno do Sol, rompendo deste modo com apenas aprender a ler esta linguagem”. Esse fragmento
o sistema geocêntrico formulado no século II por comprova que ele vislumbrava uma nova ciência baseada
Cláudio Ptolomeu em que a Terra se encontra imóvel na descrição matemática dos fenômenos naturais.
no lugar central do Universo [...]. Desta forma, por meio da observação, experimentação
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-
socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, p.154. e linguagem matemática, a ciência moderna surgia com
Galileu.

GALILEU GALILEI ISAAC NEWTON

Representação do físico Galileu Galilei - Domínio Público/ Creative


Commons/ Wikimedia Commons
Isaac Newton nasceu em Woolsthorpe, Inglaterra, no
Galileu nasceu em 1564 na cidade italiana de Pisa. Em ano de 1642. Físico e matemático, Newton tornou-se um
suas investigações, buscou confirmar a teoria heliocêntrica dos maiores cientistas da humanidade. Sua principal obra,
de Copérnico e, pelo seu comprometimento com a Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, é considerada
experimentação e comprovação de teorias, Galileu é até hoje uma das maiores referências para a ciência mundial.
considerado um dos fundadores da física moderna. Nesse livro, ele mostrou, matematicamente, que um corpo
parado ou em movimento tende a ficar assim se não houver
Críticas à Física Aristotélica: outra força que interfira. Com a Lei da Gravitação Universal,
Newton provou que todos os corpos do Universo, seja a Lua
Galileu criticou três aspectos da física aristotélica: a
ou uma maçã, obedecem à mesma força de atração.
queda dos corpos, o movimento dos corpos e a natureza
dos astros celestes. Aristóteles dizia que os corpos mais
pesados cairiam mais rapidamente que os mais leves, ao Teorias sobre a luz
passo que, para Galileu, corpos de massas distintas tendem
a cair com a mesma velocidade.

Ainda segundo Galileu, outro equívoco aristotélico foi o


de pensar que, para um corpo permanecer em movimento,
seria necessária outra força o impulsionando continuamente.
Galileu comprovou que, a menos que este corpo seja
interrompido, ele tende a permanecer em movimento.

Por fim, Aristóteles defendia que os astros eram


constituídos de essência cristalina e, portanto, suas
superfícies seriam uniformes. Galileu, porém, após o
aperfeiçoamento do telescópio, constatou que a superfície
dos astros seria irregular.
Em 1665, com seu famoso prisma de vidro, Newton provou
O problema com a Igreja: que a luz branca é composta por todas as cores, bem como o
fenômeno da refração, que explica como a luz é transmitida
Galileu escreveu uma obra intitulada “Diálogos”, na qual de um meio para outro. Com essas descobertas, Newton
discutiu acerca das teorias heliocêntricas e geocêntricas. criou um telescópio refrator que criava imagens nove vezes
Porém, a obra não foi bem recebida pela Igreja, em especial maiores que os telescópios da época. A lição que fica das
pelo papa Urbano VIII. Em 1633, Galileu foi condenado pelo descobertas de Newton sobre a luz é: “se eu vi mais longe,
Tribunal do Santo Ofício e, para não ser queimado como foi por estar de pé sobre ombros de gigantes”.
herege, renunciou publicamente às suas teses. Sua pena foi

3
4. MODERNA | 4.1 RENASCIMENTO, HUMANISMO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

C Copérnico, Kepler e Galileu foram perseguidos pela


Lei da Gravitação Universal Igreja Católica do período Moderno, por representarem
o questionamento dos ideais medievais sobre a
No período em que cursava faculdade em organização do céu e da Terra e sobre a onipresença
Cambridge, a Peste Negra assolou a Inglaterra divina. O conceito de órbitas circulares para o movimento
e matou um décimo da população. Por 18 meses, a dos planetas em torno do Sol, em que a distância entre
universidade ficou fechada, e Newton voltou para o planeta e o Sol é variável durante o movimento, foi
casa. Um belo dia, sentado à sombra de uma macieira abandonado por Kepler.
(cujas descendentes ainda existem!), viu uma maçã D A Revolução Científica da época Moderna, incentivada
cair no chão — ou na sua cabeça, a história vai do pela Igreja Católica, propõe a manutenção
gosto do freguês — e formulou a Lei da Gravitação do antropocentrismo medieval, associado aos
Universal, que explica a força da gravidade. conhecimentos empíricos para a leitura e representação
do mundo natural. O conceito de órbitas circulares para
Segundo ela, “dois corpos atraem-se com o movimento dos planetas em torno do Sol, em que a
força proporcional às suas massas e inversamente distância entre o planeta e o Sol permanece constante
proporcional ao quadrado da distância que separa durante o movimento, foi abandonado por Kepler.
seus centros de gravidade”. Com essa descoberta,
Newton eliminou a dependência da ação divina e deu

VIDEOAULA
início à ciência moderna. Como diria o cientista em um
ensinamento que vale para a vida: “nenhuma grande THOMAS MORUS: UTOPIA
descoberta foi feita jamais sem um palpite ousado”.
MARASCIULO, MARILIA. O que você pode aprender com as
descobertas de Isaac Newton. Revista Galileu, Jan/2019.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 02

(UNICAMP) Antes de Copérnico, Kepler e Galileu, os


cosmólogos elaboravam sistemas que representavam os
corpos celestes por meio de esferas encaixadas umas nas
outras, propostas e desenvolvidas por Eudoxo e Aristóteles, https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_More
de modo a distinguir os mundos celeste e terrestre. É
nesse contexto, caracterizado pela tese de que o cosmo Thomas Morus nasceu na Inglaterra em 1478, obteve
é composto de dois mundos distintos (céu e Terra), e pelo relativo sucesso no meio político e chegou a ocupar uma
axioma platônico, que deve ser entendido o conteúdo da vaga na Câmara dos Comuns. Proeminente no mundo
carta de Kepler (1604). Ele apresenta uma etapa do processo político, Morus tornou-se Chanceler da Inglaterra durante o
de rompimento com essa distinção e com o axioma reinado de Henrique VIII, mas deixou o cargo em 1532 após
platônico. Na carta, Kepler apresenta os procedimentos para
um desentendimento com o rei, o que acabou resultando
obter as duas primeiras leis dos movimentos planetários. A
importância disso é tão grande que a segunda lei aparece em sua morte.
antes da primeira, e a lei das áreas só se torna operante
numa órbita elíptica, não podendo ser aplicada às órbitas A principal obra literária de Morus é conhecida como
circulares sem produzir discrepâncias com relação aos Utopia, na qual ele fala de uma ilha imaginária. Nela, ele
dados observacionais de Tycho Brahe. apresenta o que seria uma sociedade ideal, em que todos
Adaptado de Claudemir Roque Tossato, Os primórdios da primeira lei dos os males desapareceriam. Trata-se de um dos textos mais
movimentos planetários na carta de 14 de dezembro de 1604 de Kepler a
conhecidos do pensamento humanista.
Mästlin. Scientiae Studia, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 199-201, jun. 2003.

Considerando o contexto histórico descrito e as leis físicas Vale ressaltar que na Ilha de Utopia não havia propriedade
apresentadas por Kepler, assinale a alternativa correta. privada, todos os indivíduos eram iguais, não existia divisão
do trabalho, este seria realizado apenas durante seis horas,
A Copérnico, Kepler e Galileu fazem parte da chamada não haveria avidez por dinheiro nem uma única religião.
Revolução Científica, que rompe com leituras Esses elementos levam-nos a acreditar que Morus estava
especulativas do Universo, baseadas em premissas criticando a Inglaterra quinhentista.
aristotélicas e tomistas, e propõe análises empiristas
do mundo natural. O conceito de órbitas circulares para
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

o movimento dos planetas em torno do Sol, em que a


distância entre o planeta e o Sol permanece constante
durante o movimento, foi abandonado por Kepler. QUESTÃO 03
B A Revolução Científica da época Moderna propõe a
ruptura com o ideal divino, sendo, por isso, combatida
pela Igreja Católica, que defendia a orquestração divina (UFPR) Considere o excerto abaixo sobre o livro Utopia, do
sobre o mundo humano e natural. O conceito de órbitas escritor inglês Thomas Morus (1478-1535), lançado entre 1516
circulares para o movimento dos planetas em torno do e 1518: […] Em sua obra Utopia, Morus descreve a vida numa
Sol, em que a distância entre o planeta e o Sol é variável ilha em formato de lua crescente, na qual tudo é dividido
durante o movimento, foi abandonado por Kepler. de maneira equânime entre as pessoas, onde não existe

4
4. MODERNA | 4.1 RENASCIMENTO, HUMANISMO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

injustiça e violência e se vive confortavelmente. […] na ilha


de Utopia, o problema da exclusão social, tema candente O Elogio da loucura, tratado escrito por
de seu tempo, […] seria resolvido de uma vez por todas. E de Erasmo em 1509, reflete as ideias humanistas
que maneira? Pela aplicação de todos ao trabalho […]”. que começavam a se espalhar pela
LOPES, M. A. Uma História da ideia de utopia: o real e o imaginário no
Europa nos primeiros anos da Renascença,
pensamento político de Thomas Morus. História: Questões & Debates,
Curitiba, n. 40, 2004, p. 141-142. desempenhando um papel importante na Reforma.
É uma sátira espirituosa sobre a corrupção e as
disputas doutrinárias da Igreja Católica. No entanto,
A partir do trecho acima e dos conhecimentos sobre o início tem também uma mensagem séria, afirmando que
da Idade Moderna (1453-1789), é correto afirmar que a obra a loucura – como Erasmo chamou a ignorância
de Morus pertenceu ao: ingênua – é parte essencial do ser humano, sendo
o que essencialmente nos traz a maior felicidade e
o contentamento. Ele foi adiante para afirmar que
A Iluminismo europeu e foi publicada no contexto do o conhecimento, por outro lado, pode ser um fardo
absolutismo inglês, em que o clero católico possuía e levar a complicações passíveis de contribuir para
privilégios, terras e metais preciosos, ao contrário da uma morte opressiva.
maioria da população. O Livro da Filosofia. São Paulo: Globo, 2011, p. 97. (Adaptado).

B Renascimento europeu e foi publicada no contexto


do republicanismo inglês, em que os parlamentares
possuíam terras, títulos de nobreza e isenção de impostos, ORIENTADA
RESOLUÇÃO
ao contrário da maioria da população.
C Arcadismo europeu e foi publicada no contexto do QUESTÃO 04
protecionismo inglês, em que o clero protestante possuía
terras, privilégios e perdão de dívidas, ao contrário da
(UNESP) Texto I
maioria da população.
D Humanismo europeu e foi publicada no contexto do
Nos últimos tempos, reservou-se (e, com isso, popularizou- se)
absolutismo inglês, em que a aristocracia possuía
o termo fake news para designar os relatos pretensamente
privilégios, terras e rendas, ao contrário da maioria da
factuais que inventam ou alteram os fatos que narram e que
população.
são disseminados, em larga escala, nas mídias sociais, por
E Romantismo europeu e foi publicada no contexto do
pessoas interessadas nos efeitos que eles poderiam produzir.
expansionismo inglês, em que a monarquia possuía Wilson S. Gomes e Tatiana Dourado. “Fake news, um fenômeno de
manufaturas, terras e ouro, ao contrário da maioria da comunicação política entre jornalismo, política e democracia”. Estudos em
população. Jornalismo e Mídia, no 2, vol. 16, 2019.

ERASMO DE ROTERDÃ Texto II

As vacinas foram os principais alvos de fake news entre


todas as publicações monitoradas pelo Ministério da Saúde
em 2018. Cerca de 90% dos focos de mentiras identificados
pelo órgão tinham como alvo a vacinação. Reconhecido
internacionalmente, o programa de imunização brasileiro viu
doenças como sarampo e poliomielite voltarem a ameaçar
o país em 2018 após os índices de cobertura vacinal caírem
em 2017.
Fabiana Cambricoli. “Ministério da Saúde identifica 185 focos de fake news
e reforça campanhas”. https://saude.estadao.com.br, 20.09.2018.

https://history.uol.com.br/hoje-na-historia/morre-o-filosofo-teologo-e-
humanista-erasmo-de-rotterdam Os textos tratam de uma prática que é contrária ao princípio
da fundamentação racional sustentado por Descartes, que
Erasmo de Roterdã nasceu na Holanda em 1466. Ele propôs a
buscou aplicar os princípios da moral estoica e epicurista no
campo da política; prova disso é sua obra “A educação de
A busca por um conhecimento seguro proveniente do ato
um jovem príncipe”, manual dedicado ao futuro imperador
Carlos V. de duvidar.
B construção da compreensão a partir da lógica dialética.
A obra mais famosa de Roterdã foi “Elogio da loucura”. C eliminação da subjetividade na produção do
Nela, este pensador questiona, em estilo profundamente conhecimento.
irônico, o racionalismo escolástico produzido no medievo D fundamentação das certezas a partir da experiência
com base nas concepções aristotélicas. Além disso, traz sensível.
à tona os males da humanidade, como a ingratidão, a E percepção da realidade por meio da associação entre
intolerância e a hipocrisia. fé e razão.

5
4. MODERNA | 4.1 RENASCIMENTO, HUMANISMO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

GABARITO

QUESTÕES ORIENTADAS

01 E 02 A 03 D

04 A

Acertos Erros Rendimento %

TOTAL DE ACERTOS
Total Total
15 Rendimento %
Questões Acertos

6
FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
4. MODERNA RESPONDA

4.2 TEORIAS POLÍTICAS

Maquiavel nasceu em Florença no ano de 1469. Ele


Introdução é considerado o pai da política moderna pela forma
inovadora de abordar o fato político. Maquiavel viveu
A palavra política vem do grego “politike” e em uma Península Itálica fragmentada e, por isso, sofria
significa a arte ou a ciência da cidade. A política constantes invasões de povos estrangeiros.
foi ganhando concepções diferentes desde o seu
surgimento na antiguidade. Durante o período Maquiavel desempenhou funções diplomáticas durante
clássico, o filósofo Platão defendeu a sofocracia* o governo de Girolamo Savonalora, um republicano.
como sendo a melhor forma de governo, uma vez Savonalora era um cristão idealista e fervoroso, além disso,
que, para ele, a democracia seria arriscada por ser era favorável ao desenvolvimento de um governo pacífico e
praticada por pessoas sem o compromisso com a
democrático. Por isso, para Maquiavel, este governo estaria
verdade.
*Sofocracia: governo dos sábios. Neste sistema, só poderá fadado ao fracasso, pois o ser humano é egoísta, covarde,
governar quem contemplou a ideia de Bem, o filósofo. simulador, volúvel e ambicioso. Dessa forma, um bom
governante deveria buscar ser temido pelos seus súditos,
mais do que buscar por uma justiça ideal.

ALGO A MAIS

Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado


que temido ou temido que amado. Responde-se que
Aristóteles, outro pensador clássico, afirmou que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é
“o homem é um animal político”. Entretanto, para ele, difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que
apesar do objetivo da política ser o de promover o
amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque
bem comum, ela poderia ser degenerada e, assim,
dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que
assumir formas deturpadas e, com isso, desviar-se
do seu propósito essencial. Ao longo da Idade Média são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos
e em parte da Idade Moderna, surgem teóricos que de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente
passam a defender o direito divino do rei governar. teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos,
O filósofo francês Jean Bodin, por exemplo, escreveu quando, como acima disse, o perigo está longe; mas
que os reis seriam “imagem de Deus na Terra”. quando ele chega, revoltam-se.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.

Ao longo da Idade Moderna foram surgindo novas


concepções políticas, nesse novo cenário destacaram-se: O ABANDONO DA ÉTICA CRISTÃ
Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, John Locke e Jean-
Jacques Rousseau. A ideia mais radical e característica de Maquiavel foi
sua rejeição da virtude cristã como uma boa diretriz a ser
seguida pelos líderes políticos (secularização da política).
VIDEOAULA

NICOLAU MAQUIAVEL Dessa forma, para ele, existia uma diferença primordial
entre “o que se vivia” e “como se dizia que se deveria viver”,
ou seja, a ação do príncipe deveria levar em consideração
apenas aspectos políticos.

VIRTÚ E FORTUNA

O príncipe deveria, segundo Maquiavel, agir com virtú


(virtudes), porém suas ações não poderiam ser guiadas pela
benevolência, mas pela força. Outrossim, a fortuna (acaso,
sorte, oportunidade) precisaria estar ao lado do governante.
Em síntese, Maquiavel defendia que o governante deveria
aproveitar as oportunidades para realizar as mudanças
necessárias e manter-se no poder.

1
4. MODERNA | 4.2 TEORIAS POLÍTICAS

VIDEOAULA
ALGO A MAIS
THOMAS HOBBES
Quem foram os Bórgias?

Foram uma das famílias mais poderosas do


Renascimento. Originária da Espanha, ela se
estabeleceu em Roma, sede da Igreja, a grande fonte
de poder do clã. Na Itália, eles acumularam fama,
fortuna e dezenas de escândalos. Os Bórgias têm uma
história sombria que, em meio a subornos, nepotismo,
sexo, assassinatos e outros pecados, elegeu três papas.
Dentre eles, destacou-se Rodrigo Bórgia, sobrinho de
Afonso (Papa Calisto III), foi ordenado diácono pelo
tio e seguiu carreira na Igreja. Político inteligente e
administrador habilidoso, acumulou riqueza e poder
sob o comando de quatro papas diferentes, até que,
em 1492, aos 61 anos, agarrou a oportunidade para si.
Em troca de votos no conclave (a eleição para o novo
papa), ofereceu bispados, terras, posições na Igreja e
quatro mulas repletas de prata aos colegas cardeais.
Assim, tornou-se Alexandre VI, o primeiro papa com
Hobbes nasceu na Inglaterra em 1588. Este filósofo era
amante e filhos reconhecidos. César Bórgia, com 18
um monarquista convicto, pois em tempos tumultuados,
anos, foi nomeado cardeal pelo pai (Papa Alexandre VI).
escreveu “Os elementos da lei natural e política”, nesta obra,
ele defendia a monarquia e, consequentemente, o rei Carlos
No cargo, oferecia jantares com mais de 50
I. Durante a Guerra Civil Inglesa, Hobbes exilou-se na França
prostitutas dançando nuas, segundo seu mestre
e, lá, ele escreveu seu livro mais famoso, “Leviatã”.
de cerimônias, Johannes Burchard. Por volta dos 22
anos, deixou a Igreja e se casou com a irmã do rei de
Vale ressaltar que, assim como Maquiavel, Hobbes
Navarra, tornando-se duque. Também foi príncipe de
defendia a monarquia absolutista como melhor sistema de
um território criado pelo pai, usando terras da Igreja.
governo, mas não aceitava a teoria do direito divino dos reis.
Em 1502, contratou Leonardo da Vinci como arquiteto
militar e engenheiro. César Bórgia inspirou Nicolau
O estado natural humano
Maquiavel a escreveu o livro “O Príncipe”.
ANJOS, Ismael. Quem foram os Bórgias? Revista Superinteressante,
Jul/2018. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/ Segundo Hobbes, o estado natural do homem seria um
quem-foram-os-borgias/ estado de “guerra de todos contra todos”, ou seja, como os
indivíduos no estado natural estaria sem governo, sem leis,
eles acabariam destruindo uns aos outros, esta perspectiva
hobbesiana foi sintetizada na frase “Homo homini lupus” (o
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

homem é o lobo do homem).

QUESTÃO 01 O CONTRATUALISMO COMO SOLUÇÃO

Hobbes fórmula uma teoria contratualista, pois, para


(BERNOULLI) Alexandre VI jamais fez ou pensou em outra ele, que a única maneira para estabelecer a paz seria
coisa senão em enganar os homens, e sempre encontrou por meio da reunião dos humanos para criar um contrato
meios para fazê-lo. Nunca existiu homem algum que social, ou seja, o medo, a violência, a necessidade natural
mostrasse maior eficácia ao afirmar – o que fazia com os de segurança e tranquilidade teriam levado os homens a
maiores juramentos – e ninguém cumpriu menos o que disse. renunciar aos direitos naturais. Dessa forma, através deste
No entanto, sempre conseguiu enganar à vontade, porque contrato, os indivíduos concordariam em submeter-se ao rei
conhecia bem este lado do mundo. (Leviatã).
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 84.

Na obra do pensador renascentista Maquiavel, são Desenhar Esquema abaixo


analisadas estratégias políticas de manutenção do poder.
Nesse sentido, o exemplo do papa Alexandre VI (1431-1503)
é utilizado para:

A criticar a interferência religiosa nas ações dos Estados,


defendendo a laicidade.
B destacar a imoralidade papal, instruindo que os príncipes
sigam outros caminhos.
C reforçar que a política deve se integrar à ética cristã,
questionando o líder católico.
D ensinar a importância de os príncipes serem maus,
excluindo o princípio de bondade.
E demonstrar que os governantes devem ser dissimuladores,
aparentando a moralidade.

2
4. MODERNA | 4.2 TEORIAS POLÍTICAS

O CONTRATUALISMO DE LOCKE
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

Segundo Locke, os homens abandonam o estado de


QUESTÃO 02 natureza porque não se sentem protegidos, pois estão
sempre sujeitos ao ataque de um poder maior. Na tentativa
(UENP) “Porque as leis de natureza (como a justiça, a de preservar sua liberdade e propriedade natural, os homens
equidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aos se juntam em sociedade e elaboram um contrato social,
outros o que queremos que nos façam) por si mesmas, na
que contém as regras para viverem juntos, com legislação
ausência do temor de algum poder capaz de levá-las a
ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, e jurisdição previstas para apenas um corpo político. Desta
as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a forma, entende-se que o único propósito do governo seria
vingança e coisas semelhantes. E os pactos sem a espada apoiar e promover o bem-estar de todos ao resguardar os
não passam de palavras, sem força para dar qualquer direitos naturais dos indivíduos.
segurança a ninguém. Portanto, apesar das leis de natureza
(que cada um respeita quando tem vontade de respeitá-las O governo tem, segundo Locke, a capacidade de
e quando pode fazê-lo com segurança), se não for instituído proteger os direitos de modo mais eficiente do que uma
um poder suficientemente grande para nossa segurança, pessoa sozinha. Porém, caso o governo não promova o bem-
cada um confiará, e poderá legitimamente confiar, apenas
estar de todos, ele deve ser substituído, direito de rebelião, e
em sua própria força e capacidade, como proteção contra
todos os outros.” é uma obrigação moral da comunidade se revoltar.
MALMESBURY, Thomas Hobbes de. Leviatã ou matéria, forma e poder de
um Estado eclesiástico e civil.
ALGO A MAIS
Sobre o pensamento de Hobbes, assinale a alternativa
incorreta:
Sem supor o domínio da propriedade de Adão
A O contrato social que dá origem ao Estado só é sobre o mundo inteiro, com exclusão de todos os
obedecido pela força e pelo temor. outros homens, coisa impossível de provar, nem supor
B Os homens, na sua condição natural, observam apenas originariamente a propriedade de qualquer pessoa,
as suas paixões naturais. mas supondo que o mundo foi dado aos filhos dos
C O contrato social que dá origem ao Estado pode ser homens em comum, como de fato foi, vemos como
desfeito quando o soberano desrespeita os direitos dos
súditos e age de forma parcial, visando a seus próprios o trabalho pode dar aos homens direitos diferentes
interesses. sobre várias partes dele para uso particular, não
D A concepção de homem natural de Hobbes é marcada cabendo nisso qualquer dúvida de direito nem lugar
por um profundo pessimismo antropológico. para discussão.
E A filosofia política hobbesiana é atomista. (LOCKE, John. Segundo Tratado Sobre o Governo. São Paulo: Martin Claret, 2011. p. 37.)
VIDEOAULA

A DIVISÃO DOS PODERES


JOHN LOCKE
Locke apresenta no livro “Dois tratados sobre o governo”
um modelo de governo caracterizado pela existência de
três poderes: Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder
Federativo. O Poder Legislativo competia ao Parlamento, isto
é, elaboração de leis. O Poder Executivo seria responsável
pela aplicação das leis e o Poder Federativo cuidaria das
relações internacionais do governo.

ALGO A MAIS

A tolerância para os defensores de opiniões opostas


acerca de temas religiosos está tão de acordo com o
Evangelho e com a razão que parece monstruoso que
os homens sejam cegos diante de uma luz tão clara.
Locke nasceu em 1632, na Inglaterra, em uma família Não condenarei aqui o orgulho e a ambição de uns,
puritana. Sua amizade com lorde Ashley rendeu-lhe bons a paixão a impiedade e o zelo descaridoso de outros.
frutos, pois foi convidado para redigir a constituição das
Estes defeitos não podem, talvez, ser erradicados dos
Carolinas, no Novo Mundo (América). Locke defendia como
melhor sistema de governo a Monarquia Parlamentarista, assuntos humanos, embora sejam tais que ninguém
por isso acabou se envolvendo em uma conspiração para gostaria que lhe fosse abertamente atribuídos; pois,
depor o rei Carlos II. O fracasso da operação o levou a quando alguém se encontra seduzido por eles, tenta
buscar asilo na Holanda. Lá, ele escreveu sou principal livro, arduamente despertar elogios ao disfarçá-los sob
“Ensaio sobre o entendimento humano”. cores ilusórias.

3
4. MODERNA | 4.2 TEORIAS POLÍTICAS

I. A concepção de liberdade do homem em sociedade de


Mas que uns não podem camuflar sua perseguição Locke elimina totalmente o direito de cada um de agir
e crueldade não cristãs com o pretexto de zelar pela conforme a sua vontade.
comunidade e pela obediência às leis; e que outros, II. A concepção de liberdade do homem em sociedade
em nome da religião, não devem solicitar permissão de Locke consiste em viver sob a restrição das leis
para a sua imoralidade e impunidade de seus delitos; promulgadas pelo poder legislativo.
numa palavra, ninguém pode impor-se a si mesmo III. A concepção de liberdade do homem em sociedade de
ou aos outros, quer como obediente súdito de seu Locke consiste em viver segundo uma regra permanente
príncipe, quer como sincero venerador de Deus: e comum que todos devem obedecer.
considero isso necessário sobretudo pra distinguir
entre as funções do governo civil e da religião, e para
É correto o que se afirma em:
demarcar as verdadeiras fronteiras entre a Igreja e a
comunidade. Se isso não for feito, não se pode pôr um
fim às controvérsias entre os que realmente têm, ou A I e II apenas.
pretendem ter, um profundo interesse pela salvação B I e III apenas.
as almas de um lado, e, por outro, pela segurança da C II e III apenas.
comunidade. D I, II e III.
Locke, John. Carta acerca da tolerância. São Paulo: Abril Cultural, 1992. p. 5.

VIDEOAULA
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 03

Posto que as qualidades que impressionam nossos sentidos


estão nas próprias coisas, é claro que as ideias produzidas
na mente entram pelos sentidos. O entendimento não tem
o poder de inventar ou formar uma única ideia simples
na mente que não tenha sido recebida pelos sentidos.
Gostaria que alguém tentasse imaginar um gosto que
jamais impressionou seu paladar, ou tentasse formar a ideia
de um aroma que nunca cheirou. Quando puder fazer isso,
concluirei também que um cego tem ideias das cores, e um
surdo, noções reais dos diversos sons.
John Locke. Ensaio acerca do entendimento humano, 1991. Adaptado.

De acordo com o filósofo, todo conhecimento origina-se:

A da reminiscência de ideias originalmente transcendentes.


B da combinação de ideias metafísicas e empíricas.
C de categorias a priori existentes na mente humana.
D da experiência com os objetos reais e empíricos.
E de uma relação dialética do espírito humano com o
Rousseau nasceu em 1712, na Suíça, foi um dos mais
mundo.
importantes pensadores franceses do séc. XVIII no campo
da política, da moral, da educação, influenciando os
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa. Durante a


Revolução Francesa, o governo revolucionário ordenou que
QUESTÃO 04 as cinzas de Rousseau fossem depositadas no Panteão de
Paris e que ele fosse lembrado como herói nacional.
(UECE) Leia atentamente o seguinte excerto:
O HOMEM NO ESTADO NATURAL
“A liberdade do homem em sociedade consiste em não estar
submetido a nenhum outro poder legislativo senão àquele
O ponto de partida da filosofia de Rousseau é a
estabelecido no corpo político mediante consentimento,
nem sob o domínio de qualquer vontade ou sob a restrição concepção de natureza humana representada pela famosa
de qualquer lei afora as que promulgar o poder legislativo, ideia segundo a qual “o homem nasce bom, a sociedade o
segundo o encargo a este confiado”. corrompe”, à qual se acrescentaria a ideia de que “o homem
LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. Martins Fontes, 1998, p. 401- nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado”.
402. Adaptado.
Porém, não é toda e qualquer sociedade que Rousseau
Considerando a definição de liberdade do homem em condena, mas sim aquela que acorrenta e aprisiona o
sociedade, de John Locke, atente para as seguintes homem, chegando a adotar como modelo de sociedade
afirmações: justa e virtuosa Roma republicana.

4
4. MODERNA | 4.2 TEORIAS POLÍTICAS

O CONTRATO SOCIAL Com base nos conhecimentos sobre sociedade civil,


propriedade e natureza humana no pensamento de
Para Rousseau, a única forma legitima de autoridade Rousseau, assinale a alternativa correta.
política é aquela em que todas as pessoas tenham
concordado em torno de um governo com o objetivo da
A A instauração da propriedade decorre de um ato legítimo
da sociedade civil, na medida em que busca atender às
preservação mútua através de um contrato social. Dessa
necessidades do homem em estado de natureza.
forma, para ele, a soberania política pertence ao conjunto B A instauração da propriedade e da sociedade civil cria
dos membros da sociedade, sendo o fundamento dessa uma ruptura radical do homem consigo mesmo e de
soberania a vontade geral. distanciamento da natureza.
C A fundação da sociedade civil é legitimada pela
racionalidade e pela universalidade do ato de
ALGO A MAIS instauração da propriedade privada.
D O sentimento mais primitivo do homem, que o leva a instituir
“A soberania não pode ser representada pela a propriedade, é o reconhecimento da necessidade da
mesma razão por que não pode ser alienada, consiste propriedade para garantir a subsistência.
essencialmente na vontade geral e a vontade E A sociedade civil e a propriedade são expressões da
absolutamente não se representa. (...). Os deputados perfectibilidade humana, ou seja, da sua capacidade de
do povo não são nem podem ser seus representantes; aperfeiçoamento.
não passam de comissários seus, nada podendo
concluir definitivamente. É nula toda lei que o povo
diretamente não ratificar; em absoluto, não é lei.”
(ROSSEAU, J.J. Do Contrato social, São Paulo, Abril Cultural, 1973, MONTESQUIEU
livro III, cap. XV, p. 108-109)

A DESIGUALDADE SOCIAL

Em seu estado natural, o homem é feliz, necessita de


pouco. Conforme as sociedades humanas se tornam mais
complexas surgem elementos como a propriedade privada
e a divisão do trabalho, amplificando assim, a exploração
dos pobres. Dessa forma, Rousseau aponta a propriedade
privada como causa da origem das desigualdades entre os
homens.

ALGO A MAIS Charles-Louis de Secondat, o barão de La Brède e


Montesquieu, nasceu em 1689, em Bordeaux, na França.
O primeiro que, ao cercar um terreno, teve a audácia Pertencente à nobreza de Toga (comprou seu título).
de dizer é meu e encontrou gente bastante simples para Apesar de suas origens aristocráticas, Montesquieu foi
acreditar nele foi o verdadeiro fundador da sociedade constantemente citado na Revolução Francesa, apontado
civil. Quantos crimes, guerras e assassinatos, quantas por Marat como o “homem do século”. Sua principal obra, O
misérias e horrores teria poupado ao gênero humano Espírito das Leis, é considerada um clássico da ciência
aquele que arrancando as estacas e cobrindo o fosso, política.
tivesse gritado a seus semelhantes: “não escutem esse
Montesquieu rejeitou a ideia de que liberdade significaria
impostor! Estarão perdidos se esquecerem que os
ausência de restrições:
frutos são de todos e a terra é de ninguém!”.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos
da desigualdade entre os homens. Porto Alegre: LePM, 2013. p. 80. É verdade que nas democracias o povo parece fazer o
que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-
se ter sempre presente em mente o que é independência e
o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que


elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros
QUESTÃO 05 também teriam tal poder.
MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997

(UEL) Leia o texto a seguir. O ESPÍRITO DAS LEIS

Por que só o homem é suscetível de tornar-se imbecil? [...] O Para Montesquieu, existem dois tipos de leis. As leis
naturais, feitas por Deus, regem a natureza, são perfeitas
verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que,
e indiscutíveis. As leis instituídas pelo homem, chamadas
tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e
“leis positivas”, seriam apenas uma modalidade da Lei. Ao
encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. contrário das leis naturais, as leis positivas são feitas por
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da
desigualdade entre os homens. Trad. Lourdes Santos Machado, 3. ed. São homens imperfeitos, sujeitos à ignorância e ao erro. Dessa
Paulo: Abril Cultural, 1983. pp. 243; 259. forma, assim como as leis de Deus, as leis dos homens
deveriam buscar expressar as necessidades dos povos.

5
4. MODERNA | 4.2 TEORIAS POLÍTICAS

Montesquieu formulou a separação e distinção entre Adam Smith nasceu em 1723, na cidade escocesa de
os poderes Executivo (declara paz ou guerra, envia Kirkcaldy. Aos 14 anos Smith foi para a Universidade de
embaixadores e estabelece segurança), Legislativo (que Glasgow, onde fascinou-se pelas ideias do professor
produz, corrige e revoga leis) e Judiciário (pune crimes e Francis Hutcheson, aprendendo Liberalismo Clássico, Direito
julga querelas), os quais deveriam se autorregular. Em suas Natural e Economia Política.
palavras, “todo homem que tem o poder é tentado a abusar
dele”, de maneira que “é preciso que, pela disposição das Smith foi influenciado pelo pensamento do filósofo
coisas, o poder freie o poder”, evitando, assim, o despotismo. escocês David Hume. Para Hume, havia uma relação
entre a moral natural, baseada no impulso egoísta e
Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas no altruísmo. Sendo assim, mais do que a bondade,
de maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo o que levava o ser humano a agir corretamente era a
estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo sobrevivência. Curiosamente, isto era positivo, pois, ao
dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses
pensar em si mesmo, por várias vezes o indivíduo terminava
três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções
por beneficiar seu entorno.
públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos
indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo
e Judiciário, atuando de forma independente para a A RIQUEZA DAS NAÇÕES
efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se
uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes Adam Smith tomou notas durante mais de trinta anos
concomitantemente. sobre diversos temas e levou mais dez para elaborar sua
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo Abril Cultural, 1979
grande obra “Uma Investigação sobre a Natureza e as
Causas da Riqueza das Nações”. O trabalho ficaria mais
ALGO A MAIS conhecido como “Riqueza das Nações”.

Montesquieu hoje Para Smith, a economia se move pelo interesse privado


dos indivíduos:
No Brasil atual, a questão das relações entre os
três poderes está em evidência. O julgamento final “Todo indivíduo necessariamente trabalha no sentido de
do impeachment de Dilma Rousseff foi conduzido
fazer com que o rendimento anual da sociedade seja o maior
pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo
possível. Na verdade, ele geralmente não tem intenção de
Lewandowski (Poder Judiciário), e votado pelos
representantes do Senado (Poder Legislativo) para promover o interesse público, nem sabe o quanto o promove.
cassar o mandato da presidente da República (Poder Ao preferir dar sustento mais à atividade doméstica que à
Executivo). Esse episódio exemplifica bem como exterior, ele tem em vista apenas sua própria segurança; e,
funciona a estrutura da separação e do equilíbrio entre ao dirigir essa atividade de maneira que sua produção seja
os poderes idealizada por Montesquieu e que serve de maior valor possível, ele tem em vista apenas seu próprio
de base para os chamados estados democráticos de lucro, e neste caso, como em muitos outros, ele é guiado por
direito, modelo adotado pela maioria das Repúblicas uma mão invisível a promover um fim que não fazia parte
atualmente.
MONTESQUIEU, Revista Guia do Estudante, Ago/2017. Disponível em: de sua intenção. E o fato de este fim não fazer parte de
https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/montesquieu/ sua intenção nem sempre é o pior para a sociedade. Ao
buscar seu próprio interesse, frequentemente ele promove
o da sociedade de maneira mais eficiente do que quando
realmente tem a intenção de promovê-lo.”
ADAM SMITH
MÃO INVISÍVEL

A metáfora da mão invisível se tornaria a figura mais


famosa da economia e o lema do liberalismo econômico.
Adam Smith a utiliza para explicar que a “mão invisível” leva
os seres humanos preferirem consumir produtos da indústria
nacional e não da estrangeira. O conceito de “mão invisível”
será utilizado para explicar as leis de mercado e o ajuste
entre a oferta e procura:

“O indivíduo, ao preferir dar apoio à indústria de seu país,


mais do que à estrangeira, se propõe unicamente buscar
sua própria segurança (...) em este como em muitos outros
casos, uma mão invisível o leva a fomentar uma atividade
que não entrava nos seus propósitos”.

6
4. MODERNA | 4.2 TEORIAS POLÍTICAS

DIVISÃO DO TRABALHO
GABARITO

QUESTÕES ORIENTADAS

01 E 02 C 03 D

04 C 05 B

Acertos Erros Rendimento %

TOTAL DE ACERTOS
Total Total
17 Rendimento %
Questões Acertos
Adam Smith defendia que o trabalho deveria ser
realizado por etapas, a fim de cada trabalhador fosse se
aperfeiçoando e melhorando seu empenho ao longo da
produção. Igualmente, transpôs essa ideia para as nações,
afirmando que cada uma deveria se especializar em
fabricar apenas certos produtos com o objetivo de vendê-
los no mercado. Isso criaria uma mão de obra qualificada e
um conhecimento técnico difícil de superar.

7
FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
4. MODERNA RESPONDA

4.3 EMPIRISTAS E RACIONALISTAS

O empirismo surgiu no séc. XVI e obteve notório destaque


Introdução na Inglaterra. Os principais filósofos empiristas foram: Francis
Bacon, John Locke e David Hume.
Na epistemologia, os filósofos examinam a
natureza, as origens e os limites do conhecimento.
Ao longo da modernidade ocorreu um embate EMPIRISTA: FRANCIS BACON
antagônico entre racionalistas e empiristas.
Segundo os racionalistas, os seres humanos contam
com conceitos inatos, ou seja, o conhecimento é
adquirido a priori.

Fonte: https://goo.gl/1um1nc

Bacon nasceu na Inglaterra em 1561. Foi um dos principais


Já para os empiristas, o conhecimento deriva filósofos renascentistas. Bacon teve uma vida bastante
da experiência sensorial, ou seja, o conhecimento é agitada, em 1584, foi eleito para o Parlamento, chegando
produzido a posteriori. ao cargo mais alto do governo inglês, lorde chanceler.
Entretanto, acusado de receber propina, Bacon foi proibido
de ocupar cargos políticos.

“Saber é poder”, diz Bacon, sobre a possibilidade de


EMPIRISTAS realizar previsões acerca dos fenômenos naturais apenas
por compreendermos as leis que explicam o funcionamento
da natureza.

A OPOSIÇÃO A ARISTÓTELES

Em sua principal obra, “Novum organum”, Bacon faz uma


defesa do método experimental em oposição à ciência
especulativa da antiguidade. Ainda nesta obra, ele criticou
a dedução aristotélica, pois, segundo ele, a indução seria o
caminho mais seguro para produzirmos um conhecimento
científico.

OS QUATRO ÍDOLOS

Assim com Descartes, Bacon procurou eliminar as


ilusões e superstições do seu pensamento, surgem, então,
os ídolos. Para ele, os ídolos bloqueiam a mente humana,
impossibilitando assim, que os indivíduos alcancem um
Aristóteles, filósofo grego, disse que “nada está no conhecimento claro e verdadeiro.
intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”.
Sendo assim, todo conhecimento seria gerado a partir das Ídolos da tribo
percepções sensoriais. A palavra empirismo deriva do grego
“empeiria”, cujo significado é experiência, isto é, aquilo que São as falsas noções derivadas da natureza humana
é originado a partir dos sentidos. comum a todos nós.

1
4. MODERNA | 4.3 EMPIRISTAS E RACIONALISTAS

Ídolos da caverna C Francis Bacon defendia um empirismo de caráter


essencialmente contemplativo com submissão parcial da
São as interpretações surgidas como resultado da experiência ao pensar especulativo.
posição e viés individuais. D a filosofia de Francis Bacon reafirmou a importância
da metafísica aristotélica como ponto máximo do
Ídolos do foro ou mercado conhecimento puramente contemplador da verdade.
São resultado das relações entre os homens, da
comunicação e do discurso.
EMPIRISTA: JOHN LOCKE
Ídolos do teatro

São derivados das doutrinas filosóficas e cientificas que


figuram mundos fictícios e teatrais.

ALGO A MAIS

Nosso método, contudo, é tão fácil de ser


apresentado quanto difícil de se aplicar. Consiste
no estabelecer os graus de certeza, determinar o
alcance exato dos sentidos e rejeitar, na maior parte
dos casos, o labor da mente, calcado muito de perto
sobre aqueles, abrindo e promovendo, assim, a nova e
certa via da mente, que, de resto, provém das próprias
percepções sensíveis.
Bacon, Francis. Novum Organum. Santos: Editora Nova Acrópole, 2002. p.6
Locke nasceu na Inglaterra em 1632. Empirista clássico,
Locke rejeitou a teoria do inatismo, pois, para ele, não
sabemos nada ao nascer, “tabula rasa” (página em branco).
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

Segundo Locke, todas as nossas representações


acerca do real são oriundas de percepções sensíveis, não
QUESTÃO 01 havendo outra fonte para o conhecimento. Dessa forma, o
conhecimento não seria inato, mas resultaria da maneira
(UECE) Leia atentamente o trecho a seguir, que é um como organizamos os dados que nos vêm da sensibilidade
fragmento do pensamento de Francis Bacon a respeito do por meio da experiência.
processo de conhecimento e da relação entre conhecimento
contemplativo e conhecimento prático: No livro “Ensaios sobre o entendimento humano”, Locke
defendeu que a experiência produziria ideias simples
“Efetivamente construímos no intelecto humano um modelo e, estas, tornam-se ideias complexas, surgindo assim
verdadeiro do mundo, tal qual foi descoberto e não segundo o conhecimento. Além disso, ele divide as ideias em
o capricho da razão de fulano ou beltrano. Porém, isso não qualidades primárias (não podem ser separadas da matéria
é possível levar a efeito, sem uma prévia e diligentíssima e estão presentes não importa se as pessoas vê ou não)
dissecção e anatomia do mundo. Por isso, decidimos correr e qualidades secundárias ( são separadas da matéria e
com todas essas imagens ineptas e simiescas que a fantasia percebidas apenas quando a matéria é observada).
humana infundiu nos vários sistemas filosóficos. Saibam os
homens como já antes dissemos a imensa distância que
separa os ídolos da mente humana das ideias da mente ALGO A MAIS
divina. Aqueles, de fato, nada mais são que abstrações
arbitrárias; estas, ao contrário, são as verdadeiras marcas O livro I do Ensaio de Locke é dedicado à crítica
do Criador sobre as criaturas, gravadas e determinadas do inatismo defendido por Cudworth. Locke procura
sobre a matéria, através de linhas exatas e delicadas. Por demonstrar que o inatismo é uma doutrina do
conseguinte, as coisas em si mesmas, neste gênero, são preconceito, levando diretamente ao dogmatismo
verdade e utilidade, e as obras devem ser estimadas mais individual. Se os princípios fossem verdadeiramente
como garantia da verdade que pelas comodidades que inatos, constituiriam uma certeza irredutível, sem
propiciam à vida humana”. nenhum outro fundamento a não ser a afirmação do
BACON, Francis. Novum Organum ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação
da Natureza. Domínio público (http://br.egroups.com/group/acropolis/) indivíduo. Critica ainda o inatismo, afirmando que os
princípios chamados inatos deveriam encontrar-se
Levando em consideração o trecho acima e o pensamento em todos os indivíduos, como aspectos constantes
de Francis Bacon, é correto afirmar que: e universais. Mas isso, entretanto, não ocorre.
Examinando-se os indivíduos — diz Locke —, verifica-
A a concepção baconiana de mundo está ligada à se que apenas uns poucos conhecem, por exemplo,
corrente racionalista que associa a ideia divina revelada os princípios de identidade e contradição lógicas. Da
ao processo de descoberta da verdade. mesma forma, nem todos conheceriam os princípios
B Bacon defendia um modo de pensar mais atento às da vida prática, como “age com relação aos outros
coisas, imune aos ídolos construídos pela mente humana como gostarias que agissem com relação a ti”.
LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo:
quando destituída de um método de abordagem do real. Abril Cultural, 1999. p.9

2
4. MODERNA | 4.3 EMPIRISTAS E RACIONALISTAS

Hume nasceu na Escócia em 1711. O mais radical dos


ORIENTADA
RESOLUÇÃO

empiristas, defendia que todo conhecimento é produzido


exclusivamente por meio dos sentidos, esta postura radical
QUESTÃO 02 ficou conhecida como “questão de fato”*.
*Questão de fato: uma questão que precisa ser experienciada e que não
pode ser atingida pelo instinto ou pela razão.
(UNICAMP) A maneira pela qual adquirimos qualquer
conhecimento constitui suficiente prova de que não é inato.
LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Segundo Hume, a percepção sensorial seria considerada
Cultural, 1988, p.13. como critério de validade das ideias e, quanto mais
próximas da percepção que a originou, mais nítidas e fortes
O empirismo, corrente filosófica da qual Locke fazia parte: seriam. Sendo assim, as imagens abstratas teriam menor
força e nitidez.
A afirma que o conhecimento não é inato, pois sua
aquisição deriva da experiência. PRINCÍPIO ASSOCIATIVO
B é uma forma de ceticismo, pois nega que os
conhecimentos possam ser obtidos.
Os conhecimentos, no entendimento de Hume, associam
C aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao negar a
existência de ideias inatas. as ideias por meio de princípios, criando novas ideias. Em
D defende que as ideias estão presentes na razão desde o decorrência, o homem apresenta conclusões sobre os
nascimento. fatos no mundo. No entanto, a função da imaginação é
primordial no processo da criação de conhecimentos para
os seres humanos.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 03 Pela experiência vemos que, quando uma


determinada impressão esteve Presente na mente,
(UFPR) Ampliando suas investigações para além de suas ela ali reaparece sob a forma de uma ideia [...]. A
capacidades, e deixando seus pensamentos vagarem em Faculdade pela qual repetimos nossas impressões
profundezas, a tal ponto de lhes faltar apoio seguro para da primeira maneira se chama memória, e a outra
o pé, não é de admirar que os homens levantem questões imaginação.
e multipliquem disputas acerca de assuntos insolúveis, (HUME, 2009, p. 33)
servindo apenas para prolongar e aumentar suas dúvidas,
e para confirmá-los ao fim num perfeito ceticismo.
(LOCKE. Ensaio acerca do entendimento humano. Trad. Anoar Aiex. Segundo Hume, as impressões que se tem são impressões
Coleção Os Pensadores, vol. XVIII. São Paulo: Victor Civita, 1973, introdução, simples e destas derivam as ideias simples. Destas, são
p. 147.)
produzidas por associação as ideias complexas. Sendo
assim, as ideias complexas surgem por semelhança,
Considerando a passagem acima e a obra de que foi contiguidade no tempo e no espaço e causa e efeito.
extraída, segundo Locke, os homens tornam-se céticos
porque:
Para mim, parece-me apenas três princípios de
A são capazes de obter apenas um conhecimento provável conexão entres as ideias, a saber: semelhança,
acerca das coisas. contiguidade no espaço e tempo e causa e efeito.
B não limitam suas investigações ao que é possível (HUME, 1998, p.30)
conhecer.
C dependem da experiência sensível para conhecer, sendo
essa experiência enganosa. Os três tipos de associações de ideias:
D não são capazes de encontrar um apoio seguro para os
seus pensamentos. Semelhança
E encontram prazer na mera disputa.
Unir as ideias por meio de características.
VIDEOAULA

Ex.: Uma pintura leva naturalmente os nossos


EMPIRISTA: DAVID HUME pensamentos para o original.

Contiguidade (espacial e temporal)

Liga uma ideia a outra pela proximidade no tempo e no


espaço.

Ex.: A menção de um aposento num edifício introduz uma


inquirição ou discurso a respeito de outro.

Causalidade (causa e efeito)

Une as ideias através de sucessões repetidas, criando


assim uma conexão entre as ideias.

Ex.: Se pensarmos em uma ferida, dificilmente abstemos-


nos de refletir sobre a dor que se lhe segue.

3
4. MODERNA | 4.3 EMPIRISTAS E RACIONALISTAS

A As noções de causa e efeito fazem parte da realidade e


por isso os fenômenos do mundo são explicados através
da indicação da causa.
B A presença do efeito revela a causa nele envolvida, o que
garante a explicação de determinado acontecimento.
C A causa e o efeito são noções que se baseiam na
experiência e, por meio dela, são apreendidas.
D A causa e o efeito são conhecidos objetivamente pela
mente e não por hábitos formados pela percepção do
mundo.
E A causa e o efeito proporcionam, necessariamente,
explicações válidas sobre determinados fatos e
O CETICISMO DE HUME acontecimentos.

Hume dizia que se todo conhecimento produzido pelo


homem provem de impressões sensíveis e essas impressões
são variáveis o que temos como resultado seria na verdade RACIONALISTAS
apenas a regularidade, repetição, costume e hábito do fato
observado. Sendo assim, jamais teríamos um conhecimento
definitivo e universal sobre algo. Dessa forma, como a Durante o século XVII, a confiança no poder da razão no
ciência baseia-se na indução, ela também não produz um processo de conhecimento chega a seu auge no contexto
conhecimento irrefutável. da filosofia, a qual a ciência ainda se mantinha vinculada.
Por isso, a produção filosófica desta época costuma ser
denominada de racionalismo.
O costume é, pois, o grande guia da vida humana. É
o único princípio que torna útil nossa experiência e nos
faz esperar no futuro, uma série de eventos semelhantes
VIDEOAULA

àqueles que apareceram no passado. Sem a RACIONALISTA: RENÉ DESCARTES


influência do costume, ignoraríamos completamente
toda questão de fato que está fora do alcance dos
dados imediatos da memória e dos sentidos. Nunca
saberíamos como ajustar os meios em função dos fins,
nem como empregar nossas faculdades naturais para
a produção de um efeito. Seria o fim de toda ou quase
toda especulação.
(HUME, 2009, p.63)

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 04

(UEL) Leia o texto a seguir.

Podemos definir uma causa como um objeto, seguido de


outro, tal que todos os objetos semelhantes ao primeiro
são seguidos por objetos semelhantes ao segundo. Ou, em Descartes nasceu em 1596, na França. Decepcionado
outras palavras, tal que, se o primeiro objeto não existisse, com a formação tominista-aristótelica que recebera no
o segundo jamais teria existido. O aparecimento de uma colégio jesuíta, decidiu buscar a ciência por conta própria,
causa sempre conduz a mente, por uma transição habitual, esforçando-se por decifrar o “grande livro do mundo”.
à ideia do efeito; disso também temos experiência.
A DÚVIDA METÓDICA
Em conformidade com essa experiência, podemos,
portanto, formular uma outra definição de causa e chamá- Descartes não gostava de acreditar em nada sem antes
la um objeto seguido de outro, e cujo aparecimento sempre examinar por que acreditava naquilo, exatamente por isso
conduz o pensamento àquele outro. Mas, não temos ideia ele desenvolveu a dúvida metódica. A dúvida metódica é
dessa conexão, nem sequer uma noção distinta do que é simples: Não devemos aceitar nada como verdadeiro se
que desejamos saber quando tentamos concebê-las. houver a mínima possibilidade de que não o seja. Havendo
Adaptado de: HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano e
sobre os princípios da moral. Seção VII, 29. Trad. José Oscar de Almeida
qualquer indício de dúvida, o saber deve ser rejeitado. Os
Marques. São Paulo: UNESP, 2004. p. 115. principais causadores de equívocos nas interpretações
para Descartes seriam: os sentidos (não podemos confiar
Com base no texto e nos conhecimentos acerca das noções em nossos sentidos), os sonhos (verificar se não estamos
de causa e efeito em David Hume, assinale a alternativa sonhando) e o gênio maligno (seria capaz de me enganar,
correta. fazendo com que acreditasse em coisas falsas).

4
4. MODERNA | 4.3 EMPIRISTAS E RACIONALISTAS

Análise
ALGO A MAIS
Dividir as dificuldades em partes iguais para facilitar a
Mas há algum, não sei qual, enganador mui compreensão.
poderoso e mui ardiloso que emprega toda a sua
indústria em enganar-me sempre. Não há, pois, dúvida Síntese
alguma de que sou, se ele me engana; e, por mais
que me engane, não poderá jamais fazer com que eu Reordenar o pensamento dos problemas mais simples
nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De para os mais complexos.
sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter
examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre Enumeração
enfim concluir e ter constante que esta proposição, eu
sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas Realizar verificações completas a fim de verificar
as vezes que a enuncio ou que a conceba em meu problemas que não foram percebidos nas etapas anteriores.
espírito.
DESCARTES, René. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 92.
ORIENTADA

RESOLUÇÃO
O cogito ergo sum (penso, logo existo) foi a primeira QUESTÃO 05
certeza alcançada por Descartes, pois, para ele, quando o
indivíduo pensa, sabe que existe. Segundo ele, esta verdade (UNESP) Mas eu me persuadi de que nada existia no mundo,
era irrefutável. Dessa forma, nosso pensamento e nossa que não havia nenhum céu, nenhuma terra, espíritos alguns,
existência seriam um ponto de partida inquestionável, uma nem corpos alguns; me persuadi também, portanto, de que
certeza a partir da qual Descartes poderia edificar seu eu não existia? Certamente não, eu existia, sem dúvida, se
método filosófico. é que eu me persuadi ou, apenas, pensei alguma coisa.
Mas há algum, não sei qual, enganador mui poderoso e mui
O DUALISMO CARTESIANO ardiloso que emprega toda a sua indústria em enganar-me
sempre. Não há pois dúvida alguma de que sou, se ele me
engana; e, por mais que me engane, não poderá jamais
fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma
coisa. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de
ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre
enfim concluir e ter por constante que esta proposição,
penso, logo sou, é necessariamente verdadeira, todas as
vezes que a enuncio […].
(René Descartes. Meditações, 1973.)

Segundo o texto, um dos pontos iniciais do método de


Descartes que o levou ao cogito (“penso, logo sou”) foi:

A a análise das partes.


B a síntese das partes analisadas.
C o prevalecimento da alma sobre o raciocínio.
D o reconhecimento de um Deus enganador.
E a arte da persuasão grega.
VIDEOAULA

O dualismo cartesiano trata-se da ideia de que nossa


mente é separada do corpo e interage com ele. É um
RACIONALISTA: BARUCH SPINOZA
dualismo porque a dois tipos de coisa: a mente e o corpo.
Desta forma, segundo Descartes, o ser humano seria
constituído das substâncias pensante (res cogitans) e
extensa (res extensa).

O MÉTODO CARTESIANO

Descartes aponta no livro “Discurso do método”, o


caminho para alcançar um conhecimentoL verdadeiro. Para
ele, o indivíduo precisa seguir quatro regras básicas.

Evidência

Só aceitar como verdadeiro o que temos absoluta clareza


e distinção.

5
4. MODERNA | 4.3 EMPIRISTAS E RACIONALISTAS

Spinoza nasceu em 1632, na cidade de Amsterdã. O poder teológico-político é violento, porque


Oriundo de uma família judia de portugueses, ele foi
expulso da Sinagoga em 1656 por defender o panteísmo*, A submete os homens a leis supostamente transcendentes
isto é, para ele, “Deus sive natura” (Deus ou Natureza, essas ao negar-lhes a imanência de suas próprias ações.
duas palavras referem-se à mesma coisa). Nota-se uma B retira dos homens a esperança de que suas ações
perspectiva de Deus imanente à realidade em oposição ao tenham como causa e fim a transcendência divina.
Deus transcendente da tradição religiosa. C transforma a linguagem e o pensamento dos homens em
*Panteísmo: doutrina filosófica que defende a identificação total entre formas de libertação de corpos e espíritos.
Deus e o universo, concebidos como uma única realidade integrada.
D recusa aos usos e costumes o papel de fundamento
O CONHECIMENTO transcendente das ações políticas e leis civis dos homens.

Spinoza acreditava que nada acontecia por acaso, isto

VIDEOAULA
é, acreditava que tanto o mundo quanto o nosso lugar nele RACIONALISTA:
tinha uma lógica estrutural subjacente que poderia ser GOTTFRIED WILHELM LEIBNIZ
revelado pela razão. Desta forma, ele entendia que havia um
propósito e um princípio para todas as coisas. O racionalista
Spinoza não aceitava o experimento e a observação como
ferramentas seguras para aquisição da verdade, mas sim,
a razão.

Para este pensador, quando uma pessoa tem uma ideia


adequada, ela a conquista de modo organizado e racional
e esse pensamento tem uma compreensão real da essência
das coisas. Sendo assim, um indivíduo jamais poderia ter
uma ideia adequada apenas pela experiência sensorial.

A ÉTICA

Spinoza era determinista, então, para ele, o livre-arbítrio


não passava de uma ilusão. Dessa forma, ele encontrou no
conhecimento um caminho para a ética, pois as acepções
tradicionais de “bem” e “mal” e de “vício” e “virtude” seriam
estabelecidas em relação à natureza humana e ao que lhe
é útil. “Entendo por bom aquilo que sabemos com certeza Leibniz nasceu em 1646, na cidade de Leipzig. Apesar de
que nos é útil. Já por mal entendemos aquilo que sabemos
com certeza que nos impede de possuir o bem”. ser racionalista, ele criticou as concepções filosóficas de
Descartes e Spinoza. Sobre a dúvida cartesiana, Leibniz
sustentava que era necessário considerar os graus de
ALGO A MAIS aceitação ou discordância que cada afirmação poderia
produzir, ou seja, ao invés de duvidar que tudo possa ser
A filosofia de Espinosa é uma ética da alegria, incerto, deve-se examinar suas razões. Desta forma, para
da felicidade, do contentamento intelectual e da
ele, “nada está no intelecto que não tenha estado antes nos
liberdade individual e política.
CHAUÍ, Marilena. Espinosa, uma filosofia da liberdade. São Paulo: sentidos, exceto o próprio intelecto”.
Moderna, 2006. p. 49.

O CONHECIMENTO

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

Segundo Leibniz, o conhecimento é produzido a priori,


“tout est déja connu” (tudo já é conhecido). Entretanto,
QUESTÃO 06 Leibniz ressalta a necessidade de distinguir as verdades
da razão (necessárias e, portanto, não podem ser negadas
(UECE) Sobre a questão da liberdade em Spinoza, a filósofa sem autocontradição) das verdades de fato (contingentes
brasileira Marilena Chauí afirma o seguinte: e, portanto, dependem das experiências sensoriais). Desta
forma, entende-se que as verdades da razão são inatas,
“[...] o poder teológico-político é duplamente violento. Em a priori e antecedem a experiência.
primeiro lugar, porque pretende roubar dos homens a origem
de suas ações sociais e políticas, colocando-as como TEORIA DAS MÔNADAS
cumprimento a mandamentos transcendentes de uma
vontade divina incompreensível ou secreta, fundamento
da ‘razão de Estado’. Em segundo, porque as leis divinas As mônadas eram elementos que formavam o universo.
reveladas, postas como leis políticas ou civis, impedem Eram partículas individuais, eternas, que não interagiam
o exercício da liberdade, pois não regulam apenas usos entre si, regidas pelas próprias leis e tinham uma harmonia
e costumes, mas também a linguagem e o pensamento, preestabelecida que se refletia em todo o universo. Para
procurando dominar não só os corpos, mas também os ele, esta ordem constitui o “melhor dos mundos possíveis”,
espíritos”. já que consiste na concretização de uma dentre várias
CHAUÍ, Marilena. Espinosa, uma subversão filosófica. Revista CULT, 14 de março
de 2010. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/baruch-espinosa/. possibilidades de ordenação e relação entre as mônadas.

6
4. MODERNA | 4.3 EMPIRISTAS E RACIONALISTAS

GABARITO

QUESTÕES ORIENTADAS

01 B 02 A 03 B

04 C 05 D 06 A

Acertos Erros Rendimento %

TOTAL DE ACERTOS
Total Total
21 Rendimento %
Questões Acertos

7
FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
4. MODERNA RESPONDA

4.4 ILUMINISMO

Introdução Uma vez que se tomou consciência deste estado


de coisas, não é mais possível pensar em retorno,
compromisso ou conciliação. É preciso escolher entre a
liberdade e as cadeias, entre a lucidez da consciência
e a obscuridade das paixões, entre ciência e fé. E a
escolha, evidentemente, não é problemática para
o homem dos tempos novos, o homem das luzes. Ele
renunciará sem reservas ao socorro vindo do alto,
encontrará ele próprio seu caminho para a verdade e
não pensará possuir esta verdade que ele não obteve
e experimentou em virtude de suas próprias forças.
CASSIRER, E. La Philosophie des Lumières. Paris: Gallimard, 1966. p.
153-154.

O Iluminismo ou Século das Luzes foi uma O Iluminismo foi um movimento contrário a toda autoridade
movimento que surgiu na Europa, na segunda que não esteja submetida à razão e a experiência, que não
metade do séc. XVIII. Este movimento marcou possa justificar-se racionalmente. Desta feita, entende-se
que os filósofos iluministas começaram a desafiar a tradição
profundas transformações na produção artística,
e o pensamento preestabelecido dos gregos antigos, o que
filosófica, política, literária e jurídica. abriu as portas para uma nova forma de questionamento
filosófico baseado no conhecimento humano e na razão.

Para os iluministas, o pensamento deve ser autônomo,


Os pensadores iluministas defendiam que “todos os não tutelado. Desta forma, o homem atinge o que Kant
homens são dotados de uma espécie de luz natural, chamou de “maioridade”, isto é, a possibilidade de pensar
racionalidade”. Portanto, afirmavam a possibilidade da por si mesmo, de maneira independente. Sobre isto, Kant
ocorrência de um progresso racional da humanidade. Por escreveu:
isso, durante o iluminismo, os filósofos buscaram descobrir a
verdade sobre a natureza, o conhecimento e a humanidade
Esclarecimento (Aufklärung) é a saída
e assumiram esse desafio percorrendo diferentes caminhos. do homem de sua menoridade, da qual
ele próprio é culpado. A menoridade é a
incapacidade de fazer uso de seu entendimento
ALGO A MAIS sem a direção de outro indivíduo. O homem é o
próprio culpado dessa menoridade se a causa dela
A religião e os iluministas não se encontra na falta de entendimento, mas
na falta de decisão e coragem de servir-se de si
mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude (Ouse
Qual é o traço mais característico do século do saber)! Tem coragem de fazer uso de teu próprio
iluminismo? Nada parece mais fácil de responder, entendimento, tal é o lema do esclarecimento.
conforme a ideia tradicional que temos do assunto: a KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? IN: Textos
Seletos. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 103.
atitude crítica e cética em relação à religião, essa é a
essência mesma da filosofia do iluminismo [...].
Outro filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, descreveu
Extirpar toda crença absolutamente, quaisquer o Iluminismo como órganon (instrumento) que pode libertar
que sejam os argumentos em que se apoie ou a forma o indivíduo e fazê-lo construtor de um mundo racional
histórica que assuma parece ser definitivamente o e, sobretudo, humano. Entretanto, deve-se ressaltar que
o iluminismo não se refere ao racionalismo como teoria
único meio de libertar o homem dos preconceitos e da
epistemológica, mas sim, a característica universal dos
servidão e de abrir-lhe a via da verdadeira felicidade seres humanos a partir de sua capacidade de pensar poder
[...]. se liberta dos grilhões da ignorância.

1
4. MODERNA | 4.4 ILUMINISMO

que caracterizam a história humana até então, seriam


ALGO A MAIS substituídas por uma republica mundial, da qual todos os
homens seriam cidadãos.
A noção de progresso da humanidade é assim
característica desse tipo de concepção. Em A VISÃO MORAL
contrapartida, devem ser igualmente identificados os
elementos que impedem tal progresso, que se opõem Kant era um deontologista*, ou seja, ele acreditava
à razão. Dentre esses elementos encontra-se a religião, firmemente que uma ação seria definida como moral ou
na medida em que subordina o homem a crenças imoral com base no motivo por trás dela (em oposição aos
irracionais e a uma autoridade, a Igreja, baseada consequencialistas, que julgam a moralidade de uma ação
na submissão e nas superstições. O pensamento com base em suas consequências).
iluminista é assim fortemente laico e secular e até *A deontologia é um tratado dos deveres e da moral. É uma teoria sobre
as escolhas dos indivíduos, o que é moralmente necessário e serve para
mesmo, em alguns casos, abertamente anticlerical. nortear o que realmente deve ser feito.
MARCONDES, D. Iniciação à História da filosofia: dos pré-socráticos
a Wittgenstain. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 207.
Para Kant, uma vez que temos a habilidade de deliberar e
dar razões para uma ação, o julgamento moral deve avaliar
as razões pelas quais uma ação foi tomada. Desta forma,
VIDEOAULA

agir erroneamente é violar as regras criadas por nossa


IMMANUEL KANT própria razão pessoal ou criar regras que não podem ser
vistas consistentemente como leis universais. Sobre isto,
Kant escreveu:

O imperativo categórico é, portanto, só um


único, que é este: age apenas segundo uma
máxima tal que possas ao mesmo tempo
querer que ela se torne lei universal.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa:
Edições 70, 1995. p. 59.

Conforme lido, para Kant, a moralidade não diz respeito


apenas ao que fazer, mas também a porque fazer. Aqueles
que fazem a coisa certa não o fazem só por causa do modo
como se sentem: a decisão precisa ser baseada na razão,
pois é ela que diz que é o nosso dever, independentemente
de como porventura nos sentiremos. Desta forma, o nosso
Kant nasceu em Königsberg, Prússia Oriental, em 1724. Foi dever moral é o nosso dever moral, quaisquer que sejam as
o principal pensador do Esclarecimento*. Kant foi fortemente consequências ou circunstâncias devemos agir segundo o
influenciado pelo pietismo (movimento que marcou uma nosso dever.
renovação do luteranismo).
*Esclarecimento: a saída do homem de sua menoridade, da qual ele
próprio é culpado. A NOVA REVOLUÇÃO COPERNICANA

Ele estudou na universidade local, da qual se tornou Kant vivenciou um período marcado pela dicotomia
professor e reitor. Homem de vida simples, não casou e, entre racionalistas e empiristas, entretanto, para ele, tanto
apesar da fama que adquiriu por conta das ideias filosóficas, os sentidos como a razão seriam fatores determinantes
nunca deixou sua cidade natal. no processo de conhecimento das coisas e, portanto, não
adotou nenhuma das duas posições epistemológicas. Isso
A VISÃO POLÍTICA porque, segundo ele, ambas apresentavam acertos e erros.
Desta forma, ele resolveu sintetiza-las com o intuito de obter
Kant acreditava que somente um Estado organizado em melhores resultados, surge então o criticismo.
bases republicanas poderia realizar o ideal iluminista de
progresso e aperfeiçoamento da espécie humana. Kant formulou a metáfora da revolução copernicana
para justificar, em relação ao conhecimento, que não é
Como os demais pensadores iluministas, Kant entendia o sujeito que se orienta pelo objeto (o real), como quis a
que a humanidade era capaz de se aperfeiçoar moralmente tradição, mas o objeto que é determinado pelo sujeito.
e de se tornar responsável por seu próprio destino, sem a Com este propósito, ele escreveu Crítica da Razão Pura,
necessidade da tutela dos reis, padres ou pastores. Porém, pois buscava investigar o modo pelo qual, na experiência
esse ideal só poderia se tornar num regime republicano, em do conhecimento, sujeito e objeto se relacionam e em que
que houvesse separação de poderes e em que o povo fosse condições esta relação pode ser considerada legitima.
o único soberano.
Segundo Kant, o conhecimento do objeto resulta da
Kant afirmou ainda que a liberdade era a meta final contribuição de duas faculdades de nossa mente, a
da história da humanidade e que estava próxima de se sensibilidade e o entendimento. A sensibilidade está
realizar. Idealizou um futuro em que a violência e a guerra, relacionada às intuições puras, são o tempo e o espaço.

2
4. MODERNA | 4.4 ILUMINISMO

Essas formas não existem como realidades em si mesmas,

VIDEOAULA
não sendo possível dizer que o espaço e o tempo têm
realidades fora do próprio ser humano, assim como JEREMY BENTHAM
outros objetos do mundo físico. O entendimento consiste
na capacidade do intelecto humano de julgar, são as
categorias. Estas ferramentas são utilizadas pelo ser
humano para pensar aquilo que foi experimentado, ou seja,
são as diversas formas que o ser humano tem para alcançar
o conhecimento sobre o mundo.

Sem sensibilidade, nenhum objeto nos seria


dado; sem o entendimento, nenhum seria
pensado. Pensamentos sem conteúdo são
vazios; intuições sem conceitos são cegos.
KANT, I. Críticas da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1994. p. 89.

As categorias, juntamente com as intuições puras,


constituem o sujeito transcendental. Para entender o Sujeito
Transcendental de Kant é preciso conhecer a distinção que Jeremy Bentham nasceu em Londres, em 1748.
ele faz entre fenômenos e númenos. Sendo o primeiro, as Bentham foi fortemente influenciado pelos trabalhos dos
realidades e as aparências interpretadas por nossa mente filósofos Hume e Hobbes. A partir das concepções destes
e, o segundo, as coisas que existem independentemente da pensadores, Bentham escreveu o livro “Uma introdução
interpretação de nossa mente. Ver esquema abaixo: aos princípios da moral e da legislação”. Neste texto, ele
estabeleceu o princípio da utilidade, segundo o qual uma
ação é aprovada quando tem a tendência de trazer e
oferecer a mais felicidade.

Sendo assim, o utilitarismo ou princípio da maior


felicidade, estaria fundamentado na ideia de que a coisa
certa a ser feita é exatamente a que iria produzir a maior
felicidade.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

CÁLCULO FELICÍFICO

QUESTÃO 01 Bentham afirmou que a felicidade é definida como


presença do prazer e ausência da dor. Sendo assim, para
Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro medir prazer e dor, ele verifica duração, intensidade e a
emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas probabilidade de originar outros prazeres. Em seguida, ele
vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer subtraia as unidades de dor que possam ser causadas pela
firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação ação. O resultado deste cálculo é o valor de felicidade da
de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante ação.
para perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao
dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que Sobre o cálculo felicífico, Bentham escreveu:
se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando
julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado
e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá. [...] o princípio da maior felicidade é aquele
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril que aprova ou desaprova qualquer ação,
Cultural, 1980.
segundo a tendência que tem a aumentar ou
diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse está
De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de
em jogo.
pagamento” representada no texto assegura que a ação BENTHAM, J. Uma investigação dos princípios da moral e da
seja: legislação. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 4.

A aceita por todos a partir da livre discussão participativa.


B garante que os efeitos das ações não destruam a Para Bentham, a felicidade comunitária é a soma das
possibilidade da vida futura na terra. felicidades individuais. Dessa forma, o princípio da utilidade
C opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa determina que a obrigação moral de desempenhar uma
valer como norma universal. ação baseia-se em fazer algo para produzir a maior
D materializa-se no entendimento de que os fins da ação quantidade de felicidade para o maior número de pessoas
humana podem justificar os meios. afetadas por essa ação. Sendo assim, quanto mais prazer
E permite que a ação individual produza a mais ampla uma ação ocasionar, mais útil ele será para a sociedade.
felicidade para as pessoas envolvidas.

3
4. MODERNA | 4.4 ILUMINISMO

O PANÓPTICO
Você não pode optar por pular na frente do bonde
Bentham acreditava que as ações sociais deveriam porque não é grande o suficiente para pará-lo. De um
ser avaliadas com base no bem-estar geral das pessoas ponto de vista utilitarista, o dilema é o mesmo – você
afetadas e que a punição dos criminosos efetivamente sacrifica uma vida para salvar cinco? – e a resposta
desencorajava os delitos porque fazia os indivíduos é sim.
compararem os benefícios de cometer um crime com a dor
envolvida na punição.

VIDEOAULA
JOHN STUART MILL

Bentham pertenceu a corrente filosófica que defendia


o pragmatismo, ou seja, corrente de ideias que prega a John Stuart Mill nasceu em Londres, em 1806. Aos vinte
validade doutrinal a partir do êxito alcançado pela mesma. anos e tornou-se um dos pensadores mais brilhantes de sua
Por isso, algumas ideias defendidas pelo Bentham tinham época.
aspectos práticos.
Mill foi um ativista contra a injustiça, também se tornou
Ele pensou em um projeto arquitetônico de uma prisão um dos primeiros feministas, chegando a ser preso por
fomentar o controle da natalidade.
construída em formato circular, o panóptico. Ele o descreveu
como “um moinho para transformar vagabundos em
Mill recebeu uma educação utilitarista, desde criança
honestos”. A ideia era simples, porém eficiente. A construção frequentou a casa de campo de Bentham, em Surrey.
deveria ter torre de observação colocada no centro, Entretanto, embora concordasse com Bentham em relação
assim os prisioneiros não saberiam o momento que seriam ao conceito de ação correta, ele divergia no que tange ao
observados e tenderiam a modificar sua atitude criminosa cálculo da felicidade.
para não sofrer novas punições.
FELICIDADE EM MILL

ALGO A MAIS Mill achava que podemos ter diferentes tipos de prazer
e alguns são muito melhores que outros, tão melhores
O dilema do trem que nenhuma quantidade do prazer inferior jamais será
equiparável à menor quantidade do prazer superior. Dessa
forma, ele não apresentou mecanismos visando calcular o
nível de felicidade.

PRINCÍPIO DO DANO

Segundo Mill, todo adulto deveria ser livre para viver como
quisesse, desde que ninguém seja prejudicado no processo.

Nas palavras do próprio Mill, o princípio do dano:

É o princípio de que o único fim para o qual


as pessoas têm justificação, individual ou
coletivamente, para interferir na liberdade de
O “dilema do trem” é um dos mais famosos ação de outro, é a autoproteção. É o princípio de
experimentos filosóficos. Um trem desgovernado que o único fim em função do qual o poder pode ser
ameaça matar cinco pessoas. Um homem muito corretamente exercido sobre qualquer membro de
pesado está sentado em uma parede em uma ponte uma comunidade civilizada, contra a sua vontade, é
que passa sobre a pista. Você pode parar o trem o de prevenir dano a outros.
empurrando-o da ponte para a pista em frente ao MILL, John Stuart. Sobre a Liberdade. Rio de Janeiro (RJ): Nova
trem. Ele vai morrer, mas os cinco serão salvos. Fronteira, 2011. p. 35.

4
4. MODERNA | 4.4 ILUMINISMO

ORIENTADA

RESOLUÇÃO
ALGO A MAIS

QUESTÃO 03
Uma área na qual Mill era particularmente radical
em sua época era o feminismo. Na Inglaterra do século
(UFSM) Os filósofos Ame Naess e George Sessions
XIX, as mulheres casadas não podiam ter propriedade
propuseram, em 1984, diversos princípios para uma ética
e tinham pouquíssima proteção contra a violência e ecológica profunda, entre os quais se encontra o seguinte:
o estupro pelos maridos. Mill defendeu em A sujeição
das mulheres (1869) que os sexos deveriam ser tratados O bem-estar e o florescimento da vida humana e não
igualmente, tanto no Direito quanto na sociedade humana na Terra têm valor em si mesmos. Esses valores são
independentes da utilidade do mundo não humano para
de modo geral. Algumas pessoas que o cercavam finalidades humanas.
diziam que as mulheres eram naturalmente inferiores
aos homens. Ele questionava como era possível Considere as seguintes afirmações:
afirmar isso quando as mulheres quase sempre
foram proibidas de atingir todo o seu potencial: elas I. A ética kantiana não se baseia no valor de utilidade das
ações.
eram mantidas afastadas da educação superior e II. “Valor intrínseco” é um sinônimo para “valor em si mesmo”.
de muitas profissões. Acima de tudo, Mill queria uma III. A ética utilitarista rejeita a concepção de que as ações
maior igualdade entre os sexos. O casamento deveria têm valor em si mesmas.
ser uma relação de amizade entre iguais, dizia ele.
WARBURTON, N. Uma breve história da filosofia. Porto Alegre: LePM, Está(ão) correta(s):
2015. p. 159.
A apenas I.
B apenas II.
ORIENTADA C apenas III.
RESOLUÇÃO

D apenas I e II.
E I, II e III.
QUESTÃO 02

(UNESP) Tradição de pensamento ético fundada pelos GABARITO


ingleses Jeremy Bhentam e John Stuart Mill, o utilitarismo
almeja muito simplesmente o bem comum, procurando QUESTÕES ORIENTADAS
eficiência: servirá aos propósitos morais a decisão que
diminuir o sofrimento ou aumentar a felicidade geral 01 E 02 D 03 B
da sociedade. No caso da situação dos povos nativos
Acertos Erros Rendimento %
brasileiros, já se destinou às reservas indígenas uma
extensão de terra equivalente a 13% do território nacional,
TOTAL DE ACERTOS
quase o dobro do espaço destinado à agricultura, de 7%.
Mas a mortalidade infantil entre a população indígena é Total Total
03 Rendimento %
o dobro da média nacional e, em algumas etnias, 90% dos Questões Acertos
integrantes dependem de cestas básicas para sobreviver.
Este é um ponto em que o cômputo utilitarista de prejuízos
e benefícios viria a calhar: a felicidade dos índios não é
proporcional à extensão de terra que lhes é dado ocupar.
(Veja, 25.10.2013. Adaptado.)

A aplicação sugerida da ética utilitarista para a população


indígena brasileira é baseada em:

A uma ética de fundamentos universalistas que deprecia


fatores conjunturais e históricos.
B critérios pragmáticos fundamentados em uma relação
entre custos e benefícios.
C princípios de natureza teológica que reconhecem o
direito inalienável do respeito à vida humana.
D uma análise dialética das condições econômicas
geradoras de desigualdades sociais.
E critérios antropológicos que enfatizam o respeito
absoluto às diferenças de natureza étnica.

5
FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
5. CONTEMPORÂNEA RESPONDA

5.1 FILOSOFIA NO SÉCULO XIX

A DIALÉTICA
Introdução
Como Kant, Hegel era um idealista, pois acreditava que a
mente tinha acesso apenas àquilo que o mundo parecia ser
Por influência dos filósofos iluministas, uma nova e que nunca perceberíamos completamente o que o mundo
geração de pensadores se formou, dando início à
é. Entretanto, ao contrário de Kant, Hegel defendia que as
Filosofia do Século XIX a qual buscou a combinação
entre a racionalidade do passado com um maior ideias eram sociais, isto é, eram moldadas pelas ideias de
senso emocional e orgânico. Na sequência veremos outras pessoas e esta consciência coletiva seria, para ele, o
os principais pensadores dessa época. espírito do mundo.

Nas palavras do próprio Hegel, o espírito do mundo seria:


VIDEOAULA

GEORG HEGEL Mas que é o Espírito? É o único Infinito


imutavelmente homogêneo – a Identidade
pura – que, em sua segunda fase, se separa de
si mesmo e faz desse segundo aspecto seu próprio
oposto polar, ou seja, como existência por si e em si
em contraste com o universal.
Hegel, G. A fenomenologia do espírito. São Paulo: Abril Cultural, 1974.

Segundo Hegel, o espírito se desenvolve pelo mesmo


tipo de padrão que uma ideia durante uma discussão, a
dialética. Primeiro, há uma ideia a respeito do mundo, que
Hegel nasceu em Stuttgart, na Alemanha, em 1770.
por uma falha inerente dá oportunidade ao surgimento da
Estudou filosofia e teologia na Universidade de Tübingen
e, posteriormente, tornou-se professor na Universidade de antítese. Essa tese e a antítese, por fim, reconciliam-se com
Berlim. Quando morreu, Hegel era o filósofo mais conhecido a criação da síntese e surge uma nova ideia composta dos
e admirado de sua época. elementos tanto da tese quanto da antítese.

Hegel entendia que a forma de pensar do homem seria


variável de acordo com o tempo. Assim, seria impossível
determinar uma verdade universal que fosse válida para
todos os homens em todas as gerações, ou seja, que
vigorasse independentemente do tempo e do espaço.
Sendo assim, para ele, “toda consciência é uma consciência
do seu tempo”. Desta feita, a história constitui ponto central
das ideias de Hegel.

Na História, o pensamento está subordinado O ESTADO


aos dados da realidade, que mais tarde servem
como guia e base para os historiadores. Por O Estado, segundo Hegel, consistia no grau máximo de
outro lado, afirma-se que a Filosofia produz agrupamento entre os diversos interesses contraditórios
suas ideias a partir da especulação, sem levar em dos indivíduos que o compõem. Desta forma, a família e a
conta os dados fornecidos. Se a Filosofia abordasse
a História com tais ideias, poder-se-ia sustentar que sociedade civil estariam situadas em um patamar inferior
ela ameaçaria a História como matéria-prima, não ao do Estado.
a deixando como é, mas moldando-a conforme
essas ideias, construindo-a, por assim dizer, a priori. Assim sendo, Hegel caracterizava o Estado como
Mas, como se supõe que a História compreenda os soberano, pois seria a instituição responsável por instaurar
acontecimentos e ações apenas pelo que são e
foram e que, quanto mais factual, mais verdadeira todo o corpo de leis que regula a vida social. Outrossim,
ela é, parece que o método da Filosofia estaria em para ele, não haveria liberdade sem lei, pois onde há lei,
contradição com a função da História. necessariamente há liberdade.
HEGEL, G. A razão na História: uma introdução geral à Filosofia da História.

1
5. CONTEMPORÂNEA | 5.1 FILOSOFIA NO SÉCULO XIX

Embora o trabalho filosófico de Schopenhauer aborde


ORIENTADA
RESOLUÇÃO

ampla variedade de assuntos, de modo geral, há sempre


o tema do pessimismo e a presença da dor inerente à
QUESTÃO 01 condição humana.

(UNESP) A genuína e própria filosofia começa no Ocidente. A DOUTRINA DO PESSIMISMO


Só no Ocidente se ergue a liberdade da autoconsciência.
No esplendor do Oriente desaparece o indivíduo; só no Ele criticou o otimismo nos trabalhos de Kant e Hegel,
Ocidente a luz se torna a lâmpada do pensamento que se que afirmavam que a sociedade e a razão determinam a
ilumina a si própria, criando por si o seu mundo. Que um povo moralidade de uma pessoa. Schopenhauer evidenciou
se reconheça livre, eis o que constitui o seu ser, o princípio que os indivíduos são motivados pelos próprios desejos ou
de toda a sua vida moral e civil. Temos a noção do nosso vontade de viver, que nunca estaria satisfeita. Sendo esta
ser essencial no sentido de que a liberdade pessoal é a o que guiaria a humanidade e, ao mesmo tempo, a causa
sua condição fundamental, e de que nós, por conseguinte, de todo os sofrimento da espécie humana. Isso porque o
não podemos ser escravos. O estar às ordens de outro não sofrimento seria resultado do fato de sempre querermos
constitui o nosso ser essencial, mas sim o não ser escravo. mais.
Assim, no Ocidente, estamos no terreno da verdadeira e
própria filosofia. Nas palavras do próprio Schopenhauer, o mundo como
(Hegel. Estética, 2000. Adaptado.) vontade seria:

De acordo com o texto de Hegel, a filosofia:


Devemos banir a obscura impressão
A visa ao estabelecimento de consciências servis e desse nada que discernimos atrás de toda
representações homogêneas. virtude e santidade como objetivo final e que
B é compatível com regimes políticos baseados na censura temos como as crianças temem a escuridão; não
e na opressão. devemos nem mesmo fugir disso como fazem os
C valoriza as paixões e os sentimentos em detrimento da índios, por meio dos mitos e palavras sem sentido,
racionalidade. tais como reabsorção em Brama ou Nirvana dos
D é inseparável da realização e expansão de potenciais de budistas. Devemos antes reconhecer livremente eu
razão e de liberdade. o que fica, depois da inteira abolição da vontade,
E fundamenta-se na inexistência de padrões universais de é para aqueles que estão ainda cheios de vontade,
julgamento. certamente nada; mas, inversamente, para aqueles
em que a vontade voltou e se negou a si mesma, este
nosso mundo, que é tão real, com todos os sóis e vias
VIDEOAULA

lácteas, não é nada.


ARTHUR SCHOPENHAUER SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representação. São
Paulo: Abril Cultural, 1974.

Ainda segundo Schopenhauer:

A vida da maioria não é nada mais que


uma batalha diária pela existência, com a
certeza da derrota final. Mas aquilo que os
faz continuar nessa tão árdua batalha não é tanto
o amor pela vida, mas o medo da morte, a qual,
apesar de tudo, encontra-se inevitável no fundo,
e pode a cada minuto sobrevir. A própria vida é
um mar cheio de escolhas e vórtices, dos quais o
homem procura escapar com a máxima prudência
e cuidado; embora sabendo, que quando também
conseguir, com tanto esforço e arte, deles fugir, por
causa disso justamente se aproxima com cada um
de seus passos e até para eles aponta em linha reta
o ele, para o total, inevitável e irreparável naufrágio:
Schopenhauer nasceu em Dantzig, Alemanha, em 1788.
a morte.
Estudou na Universidade de Göttingen e de Berlim. Em 1819, ANTISERI, D.; REALE, G. História da Filosofia: do romantismo ao
tornou-se professor da Universidade de Berlim. Entretanto, empiriocentrismo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 222..
os seus ataques a Hegel o tornaram impopular na Europa.

Avesso ao cristianismo, ele desenvolveu um notável A ESTÉTICA


interesse pelas religiões orientais, como budismo e
hinduísmo, agregando elementos dessas religiões à sua Segundo Schopenhauer, a estética separa o intelecto
filosofia. da vontade. Desta forma, se a vontade que guia os homens
está baseada no desejo, a arte, por sua vez, possibilita que

2
5. CONTEMPORÂNEA | 5.1 FILOSOFIA NO SÉCULO XIX

o individuo escape temporariamente das dores do mundo E realiza um elogio à fé religiosa e à espiritualidade em
porque a contemplação estética faz com que ele pare de detrimento da atração pelos bens materiais.
perceber o mundo somente como representação.

VIDEOAULA
A ÉTICA
KARL MARX
Schopenhauer, em sua teoria moral, identificou três
incentivos primários que direcionam a moralidade das
pessoas: o egoísmo (responsável por guiar as ações
humanas pelo interesse próprio e fazer com que as pessoas
desejem prazer e felicidade), a malícia (quando as escolhas
têm como intenção prejudicar outrem) e a compaixão
(quando se busca apenas o bem e não se age pelo senso
de obrigação ou pelo beneficio pessoal).

ALGO A MAIS

Quando era garoto, seu pai, um comerciante,


fez uma proposta ao filho, que tinha inclinações
acadêmicas: ele poderia se preparar para ingressar
na universidade ou viajar pela Europa com os pais Marx nasceu em Trier, na Alemanha, em uma família
e, então, ao regressar, iniciar o aprendizado para se judáica. Estudou direito na Universidade de Bonn e cursou
tornar um comerciante. O garoto escolheu viajar com seu doutorado na Universidade de Berlim, onde entrou em
a família e, ao longo dessa jornada, testemunhou contato com as ideias dos discípulos de Hegel.
diretamente o sofrimento terrível dos pobres no
continente. Essa experiência influenciaria fortemente Durante sua estadia em Paris, Marx trabalhou como
a visão de mundo pessimista que ele teria mais tarde editor dos Anuários franco-germânicos, principal órgão da
como filósofo. esquerda e entrou em contato com os socialistas franceses.
KLEINMAN, P. Tudo o que você precisa saber sobre a filosofia. São
Paulo: Gente, 2014. p. 159.
Entretanto, a pedido do governo prussiano, foi expulso da
França e estabeleceu-se provisoriamente em Bruxelas, na
Bélgica.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

MATERIALISMO HISTÓRICO

QUESTÃO 02

(UNESP) Nossa felicidade depende daquilo que somos, de


nossa individualidade; enquanto, na maior parte das vezes,
levamos em conta apenas a nossa sorte, apenas aquilo
que temos ou representamos. Pois, o que alguém é para si
mesmo, o que o acompanha na solidão e ninguém lhe pode
dar ou retirar, é manifestamente mais essencial para ele do
que tudo quanto puder possuir ou ser aos olhos dos outros.
Um homem espiritualmente rico, na mais absoluta solidão,
consegue se divertir primorosamente com seus próprios
pensamentos e fantasias, enquanto um obtuso, por mais
que mude continuamente de sociedades, espetáculos,
passeios e festas, não consegue afugentar o tédio que o
martiriza. Para Marx, as relações sociais são determinadas, ao
(Schopenhauer. Aforismos sobre a sabedoria de vida, 2015. Adaptado.)
longo da história, pelas dinâmicas de produção, uma vez
que diferentes produtos dependem de distintas relações de
Com base no texto, é correto afirmar que a ética de trabalho.
Schopenhauer:
Dessa forma, para ele, a cada época se desenvolveram
A corrobora os padrões hegemônicos de comportamento um modo de ação especializada do trabalhador e uma
da sociedade de consumo atual. maneira especifica de produzir, este fenômeno ficou
conhecido como modo de produção.
B valoriza o aprimoramento formativo do espírito como
campo mais relevante da vida humana.
Marx via a história como um padrão evolutivo de uma
C valoriza preferencialmente a simplicidade e a humildade, série de sistemas econômicos que conduzia à criação de
em vez do cultivo de qualidades intelectuais. diferentes sociedades e que trazia à tona ressentimentos
D prioriza a condição social e a riqueza material como as entre as classes.
determinações mais relevantes da vida humana.

3
5. CONTEMPORÂNEA | 5.1 FILOSOFIA NO SÉCULO XIX

LUTA DE CLASSES
ORIENTADA

RESOLUÇÃO
Para Marx, as classes sociais da sociedade capitalista
são definidas por sua relação com o mundo do trabalho, QUESTÃO 03
de um lado, estão os empresários (burguesia/proprietários
dos meios de produção), do outro estão os trabalhadores
(proletariado/vendem sua força de trabalho em toca de Ao contrário da filosofia alemã que desce do céu para a
salário). Entretanto, esta relação entre essas duas classes terra, trata-se aqui de subir da terra para o céu. [...], partimos
é conflituosa, na medida em que a sobrevivência de uma dos homens em sua atividade real; é a partir também de seu
depende da exploração da outra. processo de vida real que concebemos o desenvolvimento
dos reflexos e ecos ideológicos deste processo vital. [...] Não
A luta de classes marca o conflito entre a conservação têm história nem evolução; são os homens, ao contrário, que,
e a transformação. O desejo do capitalista de preservar ao desenvolverem sua produção material e suas relações
seus direitos de propriedade dos meios de produção e materiais, transformam com esta realidade que lhes é
de exploração do trabalho do operário é, por definição, própria o seu pensamento e os produtos desse pensamento.
antagônico ao anseio do trabalhador por jornadas menos Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que
duras de trabalho, maiores salários e participação nos
determina a consciência.
lucros, em caráter imediatista. (MARX, K. A ideologia alemã. In: Os clássicos da política. São Paulo: Ática,
2005, vol. II, p. 258-9).
MAIS-VALIA
Na base do pensamento de Marx está a ideia de que tudo
se encontra em constante processo de mudança. Nesse
sentido, ele defende que a(o):

A infraestrutura determina a superestrutura.


B consciência social é fruto de fatores históricos.
C superestrutura é determinada por aspectos históricos.
D infraestrutura é dissociada da produção material.
E consciência social é fruto da alienação do proletariado.

ALGO A MAIS

A revolução dos bichos

A mais-valia refere-se ao excedente do trabalho, isto é, a Então, camaradas, qual é a natureza desta nossa
fração de trabalho apropriada pelo capitalista. Para Marx, vida? Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável,
essa troca desigual gera um sobretrabalho (parcela de trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo
trabalho que não é remunerada) que, repetido incontáveis alimento necessário para continuar respirando, e os
vezes com diversos operários ao longo dos anos, torna-se o que podem trabalhar são exigidos até a última parcela
impulso do sistema de trabalho capitalista. de suas forças; no instante em que nossa utilidade
acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade.
IDEOLOGIA
Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é
De acordo com Marx, a ideologia é uma falsa consciência felicidade ou lazer, após completar um ano de vida.
do mundo. Nas palavras do próprio Marx, a ideologia seria: Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida do animal
é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade, nua
e crua.
A produção de ideias, de representações e
da consciência está em primeiro lugar direta e Será isso, apenas, a ordem natural das coisas?
intimamente ligada à atividade material e ao Será esta nossa terra tão pobre que não ofereça
comércio material dos homens; é a linguagem condições de vida decente aos seus habitantes?
da vida real. As representações, o pensamento, o Não, camaradas, mil vezes não! O solo da Inglaterra
comércio intelectual dos homens surge aqui como é fértil, o clima é bom, ela pode dar alimento em
emanação direta do seu comportamento material. O abundância a um número de animais muitíssimo
mesmo acontece com a produção intelectual quando maior do que o existente. Só esta nossa fazenda
esta se apresenta na linguagem das leis, política, comportaria uma dúzia de cavalos, umas vinte vacas,
moral, religião, metafísica, etc., de um povo. São os centenas de ovelhas --vivendo todos num conforto
homens que produzem as suas representações, as e com uma dignidade que, agora, estão além de
suas ideias, etc., mas os homens reais, atuantes e nossa imaginação. Por que, então, permanecemos
tais como foram condicionados por um determinado nesta miséria? Porque quase todo o produto do nosso
desenvolvimento das suas forças produtivas e do esforço nos é roubado pelos seres humanos. Eis aí,
modo de relações que lhe corresponde, incluindo camaradas, a resposta a todos os nossos problemas.
até as formas mais amplas que estas possam tomar. Resume-se em uma só palavra --Homem. O Homem é
A consciência nunca pode ser mais do que o Ser o nosso verdadeiro e único inimigo. Retire-se da cena
consciente e o Ser dos homens é o seu processo da o Homem e a causa principal da fome e da sobrecarga
de trabalho desaparecerá para sempre.
vida real.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia Alemã.

4
5. CONTEMPORÂNEA | 5.1 FILOSOFIA NO SÉCULO XIX

a apolínea e a dionisíaca. De acordo com ele, enquanto


E lembrai-vos, camaradas, jamais deixai fraquejar houve equilíbrio entre as duas forças, a arte prosperou e
vossa decisão. Nenhum argumento vos poderá estabeleceu o ponto mais alto da cultura grega. No entanto,
desviar. Fechai os ouvidos quando vos disserem que quando o apolíneo passou a preponderar, quando a razão
o Homem e os animais têm interesses comuns, que e a ordem subjulgaram os instintos e a paixão, quando a
a prosperidade de um é a prosperidade dos outros. compreensão do mundo tornou-se unilateral, a sociedade
É tudo mentira. O Homem não busca interesses que grega teria entrado em decadência.
não os dele próprio. Que haja entre nós, animais, uma
O NIILISMO
perfeita unidade, uma perfeita camaradagem na luta.
Todos os homens são inimigos, todos os animais são
Nietzsche afirmou que o papel da filosofia seria o de
camaradas. libertar o homem da tradição e, desta forma, contribuir para
que ele se encontrasse com o niilismo, ou seja, encontrar-se
Lembrai-vos também de que na luta contra o com valores que visassem a “afirmação da vida” e, assim,
Homem não devemos ser como ele. Mesmo quando o escapasse dos valores fundados na religião e/ou tradição
tenhais derrotado, evitai-lhe os vícios. Animal nenhum filosófica apolínea.
deve morar em casas, nem dormir em camas, nem usar
roupas, nem beber álcool, nem fumar, nem tocar em A MORAL DE REBANHO
dinheiro, nem comerciar. Todos os hábitos do Homem
são maus. E, principalmente, jamais um animal deverá Em A genealogia da moral, Nietzsche estabeleceu a
tiranizar outros animais. Fortes ou fracos, espertos ou gênese dos conceitos éticos tradicionais, revelando assim
simplórios, somos todos irmãos. Todos os animais são sua fraqueza e arbitrariedade, a moral de rebanho. Pois,
iguais. para ele, seria um erro imperdoável submeter-se a esta
ORWELL, G. A revolução dos bichos. São Paulo: Publifolha, 2003 moral, anulando assim sua vontade e reprimindo seus
(Adaptado). desejos.

Segundo Nietzsche, a moral cristã nada mais era do que a


pregação da renuncia à vida e do ascetismo. O cristianismo
VIDEOAULA

iria contra tudo o que é vital e digno no homem, opondo e


FRIEDRICH NIETZSCHE reprimindo sua natureza.

Nas palavras do próprio Nietzsche:

O cristianismo tomou o partido de tudo o


que é fraco, baixo, incapaz e transformou em
ideal a oposição aos instintos de conservação
da vida saudável; e até corrompeu a faculdade
daquelas naturezas intelectualmente poderosas,
ensinando que os valores superiores não passam de
pecados, desvios e tentações.
NIETZSCHE, F. O Anticristo. São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 40.

O ETERNO RETORNO

Nietzsche nasceu em Röcken, Alemanha, em 1844.


Quando tinha 4 anos seu pai, um pastor luterano, faleceu.
Nietzsche frequentou um dos melhores internatos da
Alemanha. Na juventude, foi bastante influenciado pelo
romantismo. Cursou filologia em Bonn e tornou-se professor
de filologia grega na Universidade da Basileia, Suíça.

ESPÍRITO APOLÍNEO X ESPÍRITO DIONISÍACO

Segundo Nietzsche, existem dois elementos fundamentais


e antagônicos: o espírito apolíneo que representa a ordem, O eterno retorno pode ser considerado a formula que
a harmonia e a razão e, o espírito dionisíaco, que representa sintetiza o pensamento de Nietzsche. Nele, o filosofo coloca-
o sentimento, a ação e a emoção. se em oposição ao platonismo e o cristianismo. Além disso,
ele rejeita o inteligível, afirmando que só este mundo é real.
Para Nietzsche, a tragédia grega teria surgido como Outrossim, para ele, não existem verdades necessárias e,
síntese de tendências artísticas que expressavam as duas muito menos, universais.
forças presentes no mundo, na vida e na sociedade grega:

5
5. CONTEMPORÂNEA | 5.1 FILOSOFIA NO SÉCULO XIX

Ainda segundo Nietzsche, devemos aceitar a vida como caminho haviam chegado a ela: que aspecto pacífico teria
ela é, e o eterno retorno consistiria num verdadeiro teste a história da humanidade!
pelo qual o homem deveria passar: a vida, revivida inúmeras (Nietzsche. Obras incompletas, 1991. Adaptado.)
vezes, não trazendo nada de novo, tudo ocorrendo na
mesma ordem e na mesma sucessão. Nesse excerto, Nietzsche:

O SUPER-HOMEM A defende o inatismo metafísico contra as teses empiristas


sobre o conhecimento.
B valoriza a posse da verdade absoluta como meio para a
O homem é corda estendida entre o
realização da paz.
animal e o Super-homem; uma corda sobre o
abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar, C defende a fé religiosa como alicerce para o pensamento
perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. crítico.
NIETZSCHE, F. Assim Falou Zaratustra. São Paulo: Hemus, 1979. D identifica a maturidade intelectual com a capacidade de
conhecer a verdade absoluta.
E valoriza uma postura crítica de autorreflexão, em
O racionalismo, com seus sistemas idealistas e oposição ao dogmatismo.
metafísicos, e o cristianismo, com sua moral de resignação,
haviam levado, segundo Nietzsche, à negação da vida e
dos princípios vitais. Nietzsche, ao exaltar a vida, resgata o GABARITO
que para ele seria a tendência ou elemento fundamental na
natureza humana: a vontade de potência.
QUESTÕES ORIENTADAS
O filósofo considerava o super-homem como a própria
01 A 02 E 03 A
expressão da vontade de poder, determinando a nova
ordem de valores. Um líder guerreiro, altamente disciplinado, 04 E
capaz de ser cruel quando suas conquistas o exigirem; este
Acertos Erros Rendimento %
é o perfil do super-homem de Nietzsche.
TOTAL DE ACERTOS
Nas palavras do próprio Nietzsche:
Total Total
04 Rendimento %
Questões Acertos
Somente agora dará à luz a montanha
do futuro humano. Deus morreu: agora nós
queremos que viva o super-homem.
NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Hemus,
1979. p. 218.

Esse super-homem, sobretudo, ama a vida e construirá o


sentido de sua existência na sua natureza, na sua vontade
de potência, apoiado não em um mundo celeste inexistente,
mas na Terra e nas coisas terrenas, em seu corpo e em seus
instintos.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 04

(UNESP) Convicção é a crença de estar na posse da


verdade absoluta. Essa crença pressupõe que há verdades
absolutas, que foram encontrados métodos perfeitos para
chegar a elas e que todo aquele que tem convicções se
serve desses métodos perfeitos. Esses três pressupostos
demonstram que o homem das convicções está na idade
da inocência, e é uma criança, por adulto que seja quanto
ao mais. Mas milênios viveram nesses pressupostos infantis,
e deles jorraram as mais poderosas fontes de força da
humanidade. Se, entretanto, todos aqueles que faziam
uma ideia tão alta de sua convicção houvessem dedicado
apenas metade de sua força para investigar por que

6
FILOSOFIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
5. CONTEMPORÂNEA RESPONDA

5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

As invenções que mais contribuíram para modificar o


Introdução cotidiano das pessoas foram aquelas associadas aos
transportes e aos meios de comunicação. Vale ressaltar que,
Em 1863, foi inaugurada, em Londres, a primeira a cada novo invento, vários outros, oriundos dos primeiros,
linha de metrô do mundo. Essa linha possuía uma surgiam e ganhavam aplicações comerciais.
extensão de 6,5km e permitiu ligar as Ruas Farringdon
e Paddington. Os buracos dos túneis tinham 10 Em meio às inovações tecnológicas, os hábitos de consumo
metros de largura e 6 de profundidade. Para facilitar da população trabalhadora dos grandes centros urbanos
o trabalho de escavação e diminuir os danos na também mudaram, acompanhando essas inovações. Isto
superfície, as trincheiras eram abertas seguindo a se deve em virtude da produção em massa e, da relativa
trajetória das ruas do centro da cidade.
melhora nas condições de vida da classe operária, levando
Apesar das dificuldades, a construção foi um assim, à difusão da produção de bens e da prestação de
sucesso, aproximadamente 40 mil passageiros serviços voltados ao lazer, surgindo então, a cultura de
utilizaram o novo sistema de transporte no primeiro massa.
dia.
A partir das inovações tecnológicas citadas, percebe-se
que a filosofia contemporânea pode ser vista como resultado
da crise do pensamento moderno no séc. XIX. Esse projeto
entrou em crise a partir das críticas de Hegel, que apontou
para a necessidade de levar em conta o processo histórico
na formação da consciência, e de Marx, que questionou os
pressupostos idealistas do movimento modernista.

A ESCOLA DE FRANKFURT

A Escola de Frankfurt foi constituída por um grupo


Durante o séc. XIX, ocorreram inúmeras descobertas
cientificas e inovações tecnológicas. Estas, por sua vez, de intelectuais que se reuniram em torno do Instituto de
mudaram drasticamente o cotidiano dos indivíduos. O Pesquisas Sociais. Os principais representantes da escola
desenvolvimento tecnológico gerou novas formas de ver o de Frankfurt foram Max Horkheimer, Theodor Adorno e
mundo e o homem. Além disso, reforçou nas pessoas uma fé Walter Benjamin. Numa fase posterior, destacou-se o
inabalável na ciência. Jürgen Habermas.

Considerada uma escola crítica de origem marxista, seus


membros procuraram desenvolver uma visão global e crítica
em relação à sociedade burguesa. Essa crítica foi baseada
no método dialético que, na visão do grupo, era o único
capaz de superar as contradições do mundo social.

A Escola de Frankfurt preocupou-se, sobretudo com o


contexto social e cultural do surgimento das teorias, valores
e visão de mundo da sociedade industrial avançada,
procurando assim atualizar e desenvolver a teoria marxista
enquanto teoria filosófica e sociológica.

1
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

ALGO A MAIS
EXISTENCIALISMO
Os pensadores da Escola de Frankfurt
procuraram desenvolver uma teoria crítica do
conhecimento e da sociedade inspirados na obra
do Marx e em suas raízes hegelianas, relacionando o
marxismo com a tradição crítica moderna. O principal
aspecto dessa crítica diz respeito à racionalidade
técnica e instrumental que teria dominado a
sociedade moderna com a Revolução Industrial.
Essa racionalidade instrumental acaba por ser
incorporada pela doutrina marxista ortodoxa e por
correntes filosóficas como o positivismo. Contra essa
tendência, dominante em nossa época, é necessário
desenvolver a razão emancipatória, com base na
crítica da dominação e em nome da comunicação e
do consenso entre indivíduos racionais e livres.
MARCONDES, D. Iniciação à história da filosofia: dos pré-
socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 239.

ORIENTADA “O Grito”, de Edvard Munch


RESOLUÇÃO

QUESTÃO 01 O termo existencialismo designa o conjunto de tendências


filosóficas que tem na existência humana o ponto de partida
e o objeto fundamental de suas reflexões.
(UECE) O conceito de “Indústria Cultural” foi utilizado pelos
teóricos da Escola de Frankfurt da primeira geração, na O existencialismo foi uma corrente filosófica desenvolvida
Alemanha, para tratar de como a produção cultural, nas no séc. XX, mas que foi fortemente influenciada por
sociedades modernas, foi industrializada, simplificada, pensadores anteriores, como Schopenhauer, Kierkegaard e
produzida para consumo das massas e transformada em Nietzsche.
produto a satisfazer a necessidade de prazeres imediatos.
Os jornais, as revistas, os folhetins, o cinema, o rádio e, por Os principais filósofos existencialistas foram Martin
fim, a televisão seriam os principais instrumentos de sua Heidegger e Jean-Paul Sartre.
disseminação.

Sobre a ação da Indústria Cultural vista nesta perspectiva, ALGO A MAIS


é correto afirmar que:
O homem é espírito. Mas o que é espírito? É
A se tornou forte instrumento de alienação das massas, o eu. Mas, nesse caso, o eu? O eu é uma relação, que
impossibilitando o desenvolvimento de um pensamento não se estabelece com qualquer coisa de alheio a si,
crítico e independente, por mercantilizar a cultura e mas consigo própria. Mais e melhor do que na relação
padronizá-la. propriamente dita, ele consiste no orientar-se dessa
B possibilitou a contestação da opressão ideológica relação para a própria interioridade. O eu não é a
sofrida pelas massas nas sociedades de consumo relação em si, mas sim o seu voltar-se sobre si própria,
capitalista, sempre muito elitistas e defensores de uma o conhecimento que ela tem de si própria depois de
cultura superior. estabelecida. O homem é a síntese de infinito e de
C se tornou diversificada, autêntica e voltada para a finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de
promoção de reflexões cuidadosas sobre a cidadania, necessidade, é, em suma, uma síntese. Uma síntese é
como cultura feita para o consumo das massas. a relação de dois termos. Sob este ponto de vista, o
D possibilitou a apropriação, por parte do trabalhador, eu não existe ainda.
da cultura de massa como instrumento de consciência KIERKEGAARD, Sören. O Desespero Humano (Doença até a morte).
Rio de Janeiro: Abril Cultural, 1988. p. 195.
política, auxiliando na propagação dos ideais e causas
comunistas e anarquistas.

2
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

VIDAS AUTÊNTICA E INAUTÊNTICA


VIDEOAULA

MARTIN HEIDEGGER Vida autêntica

O homem chama para si a responsabilidade, aceita sua


finitude e evita deixar-se levar pelas trivialidades cotidianas.

Vida inautêntica

O homem deixa-se levar pelo comodismo e/ou


conformismo, ocupando-se de projetos que mais cedo ou
mais tarde cessarão.

A ANGÚSTIA

Heidegger nasceu em Messkirch, na Alemanha, em


1889. Estudou filosofia e foi assistente de Edmund Husserl.
Heidegger tornou-se integrante do partido nazista em
1933. Este fato levou muitos a associarem seu pensamento
a uma forma de apoio ao nazismo. Ele foi eleito reitor da
Universidade de Friburgo, mas desligou-se do cargo por não
concordar com a demissão de professores que ascendiam
dos judeus.

Segundo o existencialismo de Heidegger, estar no mundo


é a condição definidora do ser humano, ele chamava isso
de Dasein, isto é, um ser que se autointerpreta. Dessa forma,
a autointerpretação é a existência.
Para Heidegger, a angústia traz consigo a experiência
Dasein quer dizer existência humana. do nada, o homem toma consciência da sua sujeição
constante à morte que, segundo ele, consiste na conquista
AS EXISTENCIAIS da totalidade. Entretanto, Heidegger afirmou que a atitude
de tomar consciência do sentido da morte provoca
Ao abordar o problema do ser, Heidegger apresenta angústia. Dessa forma, a angústia põe o homem diante da
os conceitos de ser-aí ou ser-no-mundo. Segundo esses impossibilidade de sua existência, portanto, diante do nada.
conceitos, o ser humano modifica a situação presente, Assim, esse sentimento leva o indivíduo a compreender sua
de acordo com suas pretensões; não se encontra preso a finitude.
nenhuma circunstância.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 02

Assumimos responsabilidades em excesso porque estamos


sempre procurando atender às expectativas alheias e
tememos que nos julguem negativamente se dissermos
“não”. Ficamos inseguros demais quando precisamos
fazer uma escolha, consultamos amigos e especialistas e,
muitas vezes, depois de finalmente tomarmos uma decisão,
criticamos e nos acusamos, achando que fazemos tudo
errado.
(RYAN, M. J. O poder da autoconfiança. Rio de Janeiro: Sextante, 2009, p. 12).
Segundo Heidegger, cada pessoa (ser aí) só pode ser
compreendida na sua relação com o mundo, ou seja, a Dasein é o termo principal na filosofia existencialista de
pessoa é um ser no mundo. Dessa forma, o indivíduo não é Martin Heidegger. Na sua obra Ser e tempo, Heidegger põe
uma consciência isolada nem antes um sujeito que conhece. a questão filosófica do ser. No excerto acima, identifica-se
uma consonância com o conceito de vida inautêntica, pois
Em suma, para ele, o homem não existe sem o mundo. o indivíduo:
Além disso, o ser humano não nasce pronto, ele vai se
formando na sua relação com o mundo e com as coisas A aceitou a impossibilidade da realização de escolhas
do mundo. Sendo assim, cada pessoa é um projeto que se fundamentadas na consciência humana.
realiza no mundo. B entendeu que a liberdade social é condicionada pela
própria natureza humana.

3
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

C reconheceu que sua liberdade natural é limitada pelas


trivialidades cotidianas. Nas palavras de Benjamin:
D negou seu projeto de vida ao realizar escolhas que
agradassem as demais pessoas.
“Em suma, o que é a aura? É uma figura singular,
E recusou abdicar da sua liberdade ao tomar decisões
fundamentadas nas opiniões de terceiros. composta de elementos espaciais e temporais: a
aparição única de uma coisa distante, por mais perto
que ela esteja. Observar, em repouso, numa tarde de
verão, uma cadeia de montanhas no horizonte, ou um
WALTER BENJAMIN
galho, que projeta sua sombra sobre nós, significa
respirar a aura dessas montanhas, desse galho. Graças
a essa definição, é fácil identificar os fatores sociais
específicos que condicionam o declínio atual da
aura. Ele deriva de duas circunstâncias, estreitamente
ligadas à crescente difusão e intensidade dos
movimentos de massas. Fazer as coisas ‘ficarem mais
próximas’ é uma preocupação tão apaixonada das
massas modernas como sua tendência a superar
o caráter único de todos os fatos através da sua
reprodutibilidade”.
BENJAMIN, W. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade
técnica”. In: Magia e Técnica, Arte e Política. Obras Escolhidas. São
Paulo: Brasiliense, 1985, p. 170.

Benjamin nasceu em Berlim, na Alemanha, em 1892.


Estudou na Universidade de Freiburg e, posteriormente,
integrou o Instituto de Pesquisa Social, Escola de Frankfurt. ALGO A MAIS
Em 1926, tornou-se amigo de Adorno e Horkheimer.
Benjamin exilou-se em Paris, após a ascensão do nazismo Elogio da dialética
na Alemanha. Entretanto, com a ocupação da França e
temendo ser capturado pela Gestapo, ele cometeu suicídio
em 1940. A injustiça vai por aí com passe firme.
Os tiranos se organizam para dez mil anos.
A PERDA DA AURA DA ARTE O poder assevera: Assim como é deve continuar
a ser.
Nenhuma voz senão a voz dos dominantes.
E nos mercados a espoliação fala alto: agora é
minha vez.
Já entre os súditos muitos dizem:
O que queremos, nunca alcançaremos,
Quem ainda está vivo, nunca diga: nunca!
O mais firme não é firme.
Assim como é não ficará.
Depois que os dominantes tiverem falado
Falarão os dominados.
Quem ousa dizer: nunca?
A quem se deve a duração da tirania? A nós.
A quem sua derrubada? Também a nós.
Quem será esmagado, que se levante!
Quem está perdido, que lute!
Para Benjamin, a arte dirigida às massas poderia ser Quem se apercebeu de sua situação, como
entendida como instrumento de politização, na medida poderá ser detido?
em que possibilita um processo de democratização da Os vencidos de hoje serão os vencedores de
cultura, ou seja, tornava o acesso a obras de arte um direito
amanhã.
universal, deixando de ser privilégio de uma elite.
De nunca sairá: ainda hoje.
BRECHT, Bertolt. O duplo compromisso de Bertolt Brecht. IN: CAMPOS,
Ainda segundo ele, a destruição da aura da arte ocorre Haroldo de. O arco-íris branco. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
por meio da reprodução técnica, ou seja, a reprodução
por meio de determinadas técnicas permite a criação de
objetos artísticos em série.

4
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

A RAZÃO INSTRUMENTAL
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

Segundo Horkheimer, a razão instrumental é apenas um


QUESTÃO 03 meio para alcançar fins determinados e controlados pelo
sistema. Sendo assim, a razão instrumental não pode se
(UNCISAL) opor às guerras mundiais ou aos campos de extermínios
nazistas.
TEXTO I
Razão instrumental é a capacidade de calcular
probabilidades e coordenar os meios adequados para se
atingir um fim; razão sem reflexão.

Nas palavras de Horkheimer

A crise da razão se manifesta na crise do indivíduo,


Disponível em: http://educacao.uol.com.br. Acesso em: 25 out. 2013. por meio da qual se desenvolveu. A ilusão acalentada
pela filosofia tradicional sobre o indivíduo e sobre
TEXTO II a razão – a ilusão da sua eternidade – está se
dissipando. O indivíduo outrora concebia a razão
Walter Benjamin defendia que o cinema poderia ser de como um instrumento do eu, exclusivamente. Hoje, ele
imenso valor para o indivíduo, no sentido material, porque experimenta o reverso dessa autodeificação.
HORKHEIMER, M. Eclipse da razão. São Paulo: Centauro, 2000, p.131.
seria um instrumento político e ideológico em benefício da
classe proletária quando esta estivesse pronta para assumir
a liderança política, pois ele lhe traria incríveis expectativas
na construção de uma nova história da camada popular.
Disponível em: http://www.infoescola.com. Acesso em: 25 out. 2013
EXTRUTURALISMO
Walter Benjamin concebia a viabilidade da reprodutibilidade
técnica das obras de arte para a democracia ideologizada
considerando a democratização cultural como uma forma de: Uma das principais origens do pensamento francês
contemporâneo encontra-se no estruturalismo, corrente de
A diminuição da autonomia do pensar e do agir do indivíduo pensamento formulada no início do séc. XX pelo linguista
na sociedade. suíço Ferdinand de Saussure.
B formação crítica e reflexiva e de desenvolvimento da
criatividade.
C construção da cultura de massa e da indústria cultural.
D formação cultural da sociedade capitalista.
E concepção contrária à teoria crítica e estética.

MAX HORKHEIMER

O estruturalismo se define por tomar a noção de


estrutura como central em seu desenvolvimento teórico e
metodológico. Sendo assim, para ele, uma estrutura é um
sistema, um conjunto de relações definidas por regras, um
todo organizado segundo princípios básicos, de tal forma
que os elementos que constituem esse todo só podem ser
entendidos como parte do todo.

O ambiente pós-moderno significa basicamente


isso: entre nós e o mundo estão os meios tecnológicos
Horkheimer nasceu na Alemanha, em 1895. Estudou de comunicação, ou seja, de simulação. Eles não
Filosofia e Psicologia na Universidade de Frankfurt, onde nos informam sobre o mundo; eles o refazem à sua
se tornou professor e diretor do Instituto de Pesquisa maneira, hiper-realizam o mundo, transformando-o
Social. Horkheimer dedicou-se ao estudo das instituições num espetáculo.
tradicionais da sociedade, como por exemplo, os sistemas SANTOS, J. F. O que é pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 2012, p.13-14.
políticos.

5
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

de uma realização individual. Por pseudoindividuação


entendemos o envolvimento da cultura de massas com
THEODOR ADORNO uma aparência de livre-escolha. A padronização musical
mantém os indivíduos enquadrados, por assim dizer,
escutando por eles. A pseudoindividuação, por sua vez, os
mantém enquadrados, fazendo-os esquecer que o que eles
escutam já é sempre escutado por eles, “pré-digerido”.
Theodor Adorno. “Sobre música popular”. In: Gabriel Cohn (org.). Theodor
Adorno, 1986. Adaptado.

Em termos filosóficos, a pseudoindividuação é um conceito...

A identificado com a autonomia do sujeito na relação com


a indústria cultural.
B que identifica o caráter aristocrático da cultura musical
na sociedade de massas.
C que expressa o controle disfarçado dos consumidores no
Adorno nasceu em Frankfurt, na Alemanha, em 1903. campo da cultura.
Estudou Filosofia e Música na Universidade de Frankfurt. D aplicável somente a indivíduos governados por regimes
Nesta instituição, ele trabalhou como instrutor até a políticos totalitários.
ocupação nazista. Foi cofundador do Instituto de Pesquisa E relacionado à autonomia estética dos produtores
Social de Frankfurt, ao lado de Horkheimer. Durante o musicais na relação com o mercado.
período nazista, ficou exilado nos Estados Unidos.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

A INDÚSTRIA CULTURAL
QUESTÃO 05

(UEL) “A indústria cultural não cessa de lograr seus


consumidores quanto àquilo que está continuamente a
lhes prometer. A promissória sobre o prazer, emitida pelo
enredo e pela encenação, é prorrogada indefinidamente:
maldosamente, a promessa a que afinal se reduz o
espetáculo significa que jamais chegaremos à coisa
mesma, que o convidado deve se contentar com a leitura
do cardápio. [...] Cada espetáculo da indústria cultural vem
mais uma vez aplicar e demonstrar de maneira inequívoca
a renúncia permanente que a civilização impõe às pessoas.
Adorno foi o criador da expressão indústria cultural. Ela
Oferecer-lhes algo e ao mesmo tempo privá-las disso é a
é utilizada para demonstrar a exploração comercial da
mesma coisa”.
cultura por meio dos veículos de comunicação modernos, (ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Trad.
como rádio e cinema. Em suas próprias palavras, de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 130-132.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre indústria


[...] a indústria cultural assumiu a herança civilizatória cultural em Adorno e Horkheimer, é correto afirmar:
da democracia de pioneiros e empresários, que
tampouco desenvolvera uma fineza de sentido para os A A indústria cultural limita-se a atender aos desejos que
desvios espirituais. Todos são livres para dançar e para surgem espontaneamente da massa de consumidores,
se divertir do mesmo modo que, desde a neutralização satisfazendo as aspirações conscientes de indivíduos
histórica da religião, são livres para entrar em qualquer autônomos e livres que escolhem o que querem.
uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha B A indústria cultural tem um desempenho pouco expressivo
da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, na produção dos desejos e necessidades dos indivíduos,
revela-se em todos os setores como a liberdade de mas ela é eficiente no sentido de que traz a satisfação
escolher o que é sempre a mesma coisa. destes desejos e necessidades.
ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento:
fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro; Zahar, 1985 C A indústria cultural planeja seus produtos determinando
o que os consumidores desejam de acordo com critérios
mercadológicos. Para atingir seus objetivos comerciais,
ela cria o desejo, mas, ao mesmo tempo, o indivíduo é
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

privado do acesso ao prazer e à satisfação prometidos.


D O entretenimento que veículos como o rádio, o cinema
QUESTÃO 04 e as revistas proporcionam ao público não pode ser
entendido como forma de exploração dos bens culturais,
(UNESP) Concentração e controle, em nossa cultura, já que a cultura está situada fora desses canais.
escondem-se em sua própria manifestação. Se não fossem E A produção em série de bens culturais padronizados
camuflados, provocariam resistências. Por isso, precisa permite que a obra de arte preserve a sua capacidade
ser mantida a ilusão e, em certa medida, até a realidade de ser o suporte de manifestação e realização do desejo:
a cada nova cópia, a crítica se renova.

6
VIDEOAULA
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

Nas palavras do Sartre


JEAN-PAUL SARTRE
A liberdade é o único fundamento dos valores e
nada, absolutamente nada, justificame ao adotar tal
ou tal valor, tal ou tal escala de valores. Enquanto ser
pelo qual os valores existem, eu sou injustificável. E
minha liberdade se angustia de ser o fundamento sem
fundamento dos valores.
Sartre, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia
fenomenológica. Petrópolis: Vozes, 2005. p. 76.

A má-fé seria justamente o ato de negar, conscientemente,


essa liberdade que, por ser ontológica, é inescapável. A
liberdade individual, entretanto, não é um incondicionado
em geral; está relacionada também à liberdade dos outros,
levando, assim, o filósofo a caracterizar a existência humana
Sartre nasceu em Paris, na França, em 1905. Estudou como conflito entre liberdades.
Filosofia na Escola Normal Superior. Lá, ele também
conheceu Simone de Beauvoir, filósofa que fora sua colega
de estudos e companheira de vida. ALGO A MAIS

Sartre condenou o colonialismo francês na Argélia e O existencialismo tem, assim, uma dimensão
opôs-se à Guerra do Vietnã. Durante a Segunda Guerra ética fundamental, pela maneira como elabora a
Mundial, Sartre foi capturado pelos alemães, sendo liberado questão da liberdade e da autenticidade como
nove meses depois. Por algum tempo sua produção literária elementos centrais da existência humana, do homem
foi marcada pelo engajamento político e pelo combate às como ser autoconsciente que cria a si mesmo. “Nós
injustiças. somos o que fazemos do que fazem de nós” é um dos
lemas centrais do pensamento de Sartre.
A EXISTÊNCIA PRECEDE A ESSÊNCIA MARCONDES, D. Iniciação à história da filosofia: dos pré-
socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p.264.

Para Sartre, o ser já é o que é, nada pode sobrevir ao


ser. Além do ser, só há o nada, que, por definição, não tem
existência. Segundo essa concepção, o ser é apresentado
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

como ser em si, ou seja, sem relações de qualquer natureza,


sem possibilidades ou sequer necessidades.
QUESTÃO 06
Segundo Sartre, o ideal da consciência é compreender
que o homem é o ser cuja existência precede a essência, O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente.
ou seja, que o homem não tem uma essência determinada. Declara ele que, se Deus não existe, há pelo menos um ser
no qual a existência precede a essência, um ser que existe
A LIBERDADE COMO MALDIÇÃO antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que
este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade
humana. Assim, não há natureza humana, visto que não há
Deus para conceber. O homem é, não apenas como ele se
concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe
depois da existência, como ele se deseja após este impulso
para a existência: o homem não é mais que o que ele faz.
Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo
homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total
responsabilidade de sua existência.
(SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril Cultural,
1978. p. 6).

Um dos conceitos fundamentais da filosofia existencialista


Para Sartre, a liberdade não pode mais ser condicionada sartriana é o de liberdade. Nesse trecho, Sartre apresenta:
por algum tipo de determinismo. A partir da assunção de
que não existe um Deus responsável por guiar nossas ações, A a responsabilidade como resultado direto da liberdade
a liberdade torna-se um incondicionado em relação ao humana.
mundo natural. Nesse sentido, Sartre afirma que o homem B a natureza humana como pilar da vida em sociedade.
não pode não ser livre, ou seja, a liberdade do homem C o existencialismo como corrente filosófica determinista.
tem caráter ontológico. O sentimento de angústia é, para D o homem como um ser inclinado a concretização de sua
esse autor, derivado da consciência dessa liberdade sem natureza.
amarras ontológicas. E a angustia como criação divina para punir o homem por
suas escolhas.

7
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

Segundo ele, se houvesse verdadeira justiça no mundo,


ORIENTADA
RESOLUÇÃO

nenhuma criança estaria faminta enquanto outras têm


tanto dinheiro que sequer sabem o que fazer com ele. Sendo
QUESTÃO 07 assim, para ele, justiça diz respeito a tratar as pessoas de
maneira razoável.
(UPE) Sobre a dimensão do homem na perspectiva
existencialista, considere o texto a seguir: O VÉU DA IGNORÂNCIA

O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é


definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois
será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim,
não há natureza humana, visto que não há Deus para a
conceber.
(SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. São Paulo: Abril
Cultural, 1973, p. 12).

O enfoque existencialista questiona o modo de ser do Rawls nos pede que nos imaginemos num estado
homem. Entende esse modo de ser como o modo de ser- consciente e inteligente antes do nascimento, mas
no-mundo. Na perspectiva existencialista, sobre o homem, sem nenhum conhecimento das circunstâncias em que
assinale a alternativa CORRETA. nasceríamos com o futuro envolto num véu da ignorância.
A pergunta que Rawls nos faz é em que tipo de sociedade
A É um projeto de ser. seria mais seguro nascer? A resposta é obvia, sem saber
B É um seguidor das escolhas dos outros. em qual situação financeira nasceríamos, tenderíamos a
C Na sua própria essencialidade e no trajeto de sua buscar desenvolver uma sociedade menos desigual.
liberdade, não tem escolha.
D Tem uma natureza concebida por Deus em sua essência. TEORIA DA JUSTIÇA
E É irresponsável por si próprio ao conceber seus atos.
Segundo Rawls, Justiça como equidade é o ato de
promover vantagens aos mais desfavorecidos e uma justa
igualdade de oportunidades.
JOHN RAWLS

Rawls nasceu em Baltimore, nos Estados Unidos, em


1921. Estudou nas universidades de Harvard e Cornell.
Rawls, desde pequeno, foi exposto às injustiças do mundo
moderno. Foi considerado por Bill Clinton “o maior filósofo
político do século XX”, por ter publicado sua obra intitulada
de “Uma teoria da Justiça”.

Sua teoria era baseada em dois princípios: liberdade e


igualdade. Ele acreditava que ambos seriam aceitos por
qualquer pessoa razoável. Outrossim, ele defendia que a
sociedade deveria ser organizada para dar oportunidades
e riquezas mais iguais aos desprovidos.

Exatamente por isso, Rawls considerava que as liberdades


básicas iguais

8
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

Foi influenciado pela filosofia de Nietzsche, que havia


Fornecem as condições políticas e sociais essenciais enfatizado o poder do inconsciente sobre a razão. Deleuze
para o adequado desenvolvimento e pleno exercício foi um pensador com vasta produção na filosofia, literatura,
das duas faculdades morais das pessoas livres e iguais. artes, cinematografia e psicanálise.
Segue-se disso que: primeiro, as liberdades políticas
iguais e a liberdade de pensamento permitem que os
cidadãos desenvolvam e exerçam essas faculdades
para julgar a justiça da estrutura básica da sociedade
e suas políticas sociais; e, segundo, a liberdade de
consciência e a liberdade de associação permitem que
os cidadãos desenvolvam e exerçam suas faculdades
morais para formar, rever e racionalmente procurar
realizar (individualmente ou, com mais frequência, em
associação com outros) suas concepções do bem.
RAWLS, John. Justiça como equidade. Uma reformulação. São
Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 64.

Para ele, a tarefa principal da filosofia seria a criação


permanente de conceitos que são necessários para a
ALGO A MAIS compreensão de problemas e, para tanto, não deveria
haver um único parâmetro que devesse guiar a filosofia,
Quando em 1971, John Rawls publicou "Uma nem valores eternos e absolutos que devessem ser o centro
teria da justiça" e propôs, desde então, a concepção de toda reflexão filosófica.
de “justiça como equidade”. Trata-se de uma
concepção segundo a qual os mais ponderados e O DESGASTE DAS INSTITUIÇÕES DISCIPLINARES
razoáveis princípios de justiça seriam estabelecidos
sobre a base contratual de um acordo comum Segundo Deleuze, as instituições disciplinadoras estão
entre sujeitos em condições formais de equidade. sendo desgastadas; nada mais é eterno e/ou terminal, os
Os princípios que aí configuram uma compreensão indivíduos sempre estão em busca de algo a mais, como por
liberal sobre bases fundamentalmente amplas de exemplo, o sistema prisional que hoje busca a aplicação de
justiça são articulados a partir da ideia de contrato penas alternativas, o que possibilita o cumprimento fora
social, pela qual as desigualdades reais de renda das prisões. Entretanto, para ele, essa liberdade aparente,
e riqueza seriam balizadas por princípios morais oriunda do desgaste, também permite que sejamos
razoáveis. controlados.
Oliveira, Cícero. Justiça e equidade em John Rawls. Cadernos de
Ética e Filosofia Política, n. 27, p.115
O CAPITALISMO E SUA ELASTICIDADE

Segundo Deleuze, o capitalismo é um sistema elástico,


pois sempre coloca seus limites adiante, como podemos
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

evidenciar no movimento hippie da década de 60, que foi


um movimento contestatório do capitalismo e, depois, foi
QUESTÃO 08 absorvido por ele, que passou a comercializar mercadorias
inspiradas neste movimento.
Para Rawls, a estrutura básica mais justa de uma sociedade
é aquela que alguém escolheria se não soubesse qual
viria a ser seu papel particular no sistema de cooperação
daquela sociedade.
LOVETT, F. Uma teoria da justiça, de John Rawls. Porto Alegre: Penso, 2013.

A teoria da justiça proposta pelo autor, conforme exposto no


texto, pressupõe assumir uma posição hipotética chamada
de:

A reino de Deus.
B mundo da utopia.
C véu da ignorância.
Ainda segundo Deleuze, pensamos e agimos como se
D estado de natureza.
fossemos livres, mas na verdade, somos controlados e
E cálculo da felicidade.
manipulados.

O ANTI-ÉDIPO
GILLES DELEUZE
O "anti-Édipo" é uma crítica ao complexo de Édipo da
teoria psicanalítica de Freud. Para eles, Deleuze e Guattari,
o complexo de Édipo de Freud é castrador da energia
Deleuze nasceu em Paris, na França, em 1925. Foi
original do ser humano, uma espécie de vontade de desejo,
professor nas Universidades de Sorbonne, Lyon e Vincennes.

9
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

para fazer uma aproximação com o conceito de vontade de D todas estão corretas.
potência, de Nietzsche. E todas estão incorretas.

VIDEOAULA
MICHEL FOUCAULT

Foucault nasceu em Poitiers, na França, em 1926. Estudou


Filosofia e Psicologia. Ele foi influenciado pela filosofia de
Nietzsche.

Na concepção de Freud, todo individuo teria de


reconhecer a sua falta ou culpa na infância, seu desejo
por um dos pais, a necessidade de transferir esse desejo
para um parceiro e assumir a posição de rival (pai ou
mãe). Exatamente por isso que, para Deleuze e Guattari, a
estrutura do complexo de Édipo lembra o pecado original, e Um dos principais pensadores da pós-modernidade,
os psicanalistas parecem ser os novos sacerdotes. Foucault centrou sua investigação em temas como
instituições sociais, sexualidade e poder.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

Foucault afirmava que as sociedades modernas


apresentavam uma nova organização do poder. Para ele,
QUESTÃO 09 o poder fragmentou-se em micropoderes e tornou-se muito
mais eficaz.
(UNIOESTE) “Só se pode entender o que é a filosofia, a que
ponto ela não é uma coisa abstrata – da mesma forma que DISCIPLINA PARA A SUBMISSÃO
um quadro ou uma obra musical não são absolutamente
abstratos –, só através da história da filosofia, com a Segundo Foucault, o crescimento do capitalismo se
condição de concebê-la corretamente. (...) Há uma coisa sustentou graças à disciplina, tipo de poder que se exerce
que me parece certa: um filósofo não é uma pessoa que sobre os corpos dos indivíduos. Para que esse poder pudesse
contempla e também não é alguém que reflete. Um filósofo obter êxito, foram criadas as instituições disciplinadoras,
é alguém que cria. Só que ele cria um tipo de coisa muito como fábricas, escolas, hospitais, quartéis, prisões, dentre
especial, ele cria conceitos. Os conceitos não nascem outras.
prontos, não andam pelo céu, não são estrelas, não são
contemplados. É preciso criá-los, fabricá-los em função
dos problemas que são constituídos, problemas que o
pensamento enfrenta e que têm um sentido. [Em suma,]
fazer filosofia é constituir problemas que têm um sentido e
criar os conceitos que nos fazem avançar na compreensão
e na solução dos problemas”.
Gilles Deleuze.

Sobre o excerto acima seguem as seguintes afirmações: Ainda segundo Foucault, a função da disciplina é produzir
corpos dóceis que possam ser moldados, configurados
I. Para Deleuze a tarefa do filósofo é criativa. segundo as necessidades sociais. Os corpos disciplinados
II. Conforme a concepção de Deleuze cabe à filosofia são corpos exercitados e submissos. Exatamente por
contemplar e refletir sobre os problemas que existem isso, Foucault acreditava que a docilização dos corpos
desde sempre e, para eles, encontrar conceitos que aumentava a força produtiva, ao passo que diminuía a força
verdadeira e definitivamente os solucionem. desses corpos em sentido político, tornando-os obedientes.
III. A filosofia é uma atividade criativa, assim como a arte,
no entanto o que ela cria são conceitos. BIOPODER: BEM-ESTAR SOCIAL
IV. Deleuze retira do filósofo o direito à reflexão sobre o
mundo ou sobre o que os outros filósofos pensaram. Segundo Foucault, o biopoder é o poder sobre a vida.
Sendo assim, para ele, o biopoder se exerce sobre os grupos
Dessas afirmações, de indivíduos docilizados que constituem a população. Ele
é a base do chamado Estado de bem-estar social, que se
A apenas uma está correta. preocupa em oferecer condições mínimas de vida digna
B apenas uma está incorreta. para toda a população. É por meio do biopoder que os
C duas estão corretas e duas estão incorretas. programas sociais são criados. Outrossim, Foucault defende

10
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

que o biopoder produz a sociedade da segurança, ou seja, A combater ações violentas na guerra entre as nações.
do controle populacional. B coagir e servir para refrear a agressividade humana.
C criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os
indivíduos de uma mesma nação.
D estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações
bélicas entre países inimigos.
E organizar as relações de poder na sociedade e entre os
Estados.

ORIENTADA

RESOLUÇÃO
QUESTÃO 11

(UECE) Observe a seguinte notícia: “O total de pessoas


encarceradas no Brasil chegou a 726.712 em junho de
O PANÓPTICO 2016. Em dezembro de 2014, era de 622.202. Houve um
crescimento de mais de 104 mil pessoas. Cerca de 40% são
presos provisórios, ou seja, ainda não possuem condenação
judicial. Mais da metade dessa população é de jovens de
18 a 29 anos e 64% são negros. [...] Os crimes relacionados
ao tráfico de drogas são os que mais levam as pessoas às
prisões, com 28% da população carcerária total. Somados,
roubos e furtos chegam a 37%. [...] Quanto à escolaridade,
75% da população prisional brasileira não chegaram ao
Ensino Médio. Menos de 1% dos presos tem graduação”.

As informações apresentadas na notícia acima podem ser


pensadas filosoficamente tomando-se por base
No panóptico, o detento se sente vigiado o tempo
todo. Sendo assim, o indivíduo torna-se o princípio de sua I. Foucault e sua teoria dos dispositivos disciplinares do
própria sujeição, ou seja, para Foucault, esse mecanismo de poder.
controle e disciplinamento é uma expressão de sujeição. II. Marx e sua teoria do Estado como instrumento da classe
dominante.
III. Maquiavel e sua teoria do poder do príncipe.
Nas palavras de Foucault IV. Aristóteles e seu conceito de justiça distributiva.

Induzir no detento um estado consciente Estão corretas somente as complementações contidas em


e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento automático do poder [...], enfim, que A I e II.
os detentos se encontrem presos numa situação de B II e III.
poder que eles mesmos são portadores. C III e IV.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, D I e IV.
2009. p. 191.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 12
QUESTÃO 10
O filósofo e teórico social Michel Foucault dedica sua obra
“Vigiar e punir” para o entendimento das formas de controle
A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas social: externas e internas. Segundo o autor, a construção
pelos primeiros pastores: a lei nasce das batalhas reais, das do sujeito dócil, útil e submisso à ordem estabelecida é
vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua data e possível apenas por meio de processos “disciplinadores”,
seus heróis de horror: a lei nasce das cidades incendiadas, nos quais o corpo e a mente do sujeito são moldados de
das terras devastadas; ela nasce com os famosos inocentes acordo com o que se pede no meio social. Para entender
que agonizam no dia que está amanhecendo. esse fenômeno, Foucault voltou-se para a observação de
FOUCAULT. M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In. Em defesa da sociedade.
São Paulo: Martins Fontes. 1999
instituições disciplinadoras, como a escola e os quartéis,
onde os indivíduos que ali permanecem vivem sob o controle
O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a da instituição.
política e a lei em relação ao poder e à organização social.
Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na Podemos concluir que, para Foucault, as instituições
organização das sociedades modernas é disciplinadoras teriam como finalidade

11
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

A estabelecer padrões normativos e controle social em


tempos de guerra civil.
B produzir corpos dóceis e sujeitados as regras vigentes na
sociedade.
C criar mecanismos que proporcionassem autonomia e
liberdade aos indivíduos.
D motivar a desobediência das normas sociais contrárias
aos desejos individuais.
E instituir controle rígido e aprisionar todos contrários ao
modelo de governo vigente.

Nas palavras do Habermas


JÜRGEN HABERMAS
“Uma moral racional se posiciona criticamente
em relação a todas as orientações da ação, sejam
elas naturais, autoevidentes, institucionalizadas
ou ancoradas em motivos através de padrões de
socialização. No momento em que uma alternativa
de ação e seu pano de fundo normativo são expostos
ao olhar crítico dessa moral, entra em cena a
problematização. A moral da razão é especializada
em questões de justiça e aborda em princípio tudo à
luz forte e restrita da universalidade.”
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e
validade.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 13
Habermas nasceu em Düsseldorf, na Alemanha, em 1929.
Estudou em Bonn e Marburgo. Entre 1956 e 1959, Habermas
trabalhou como assistente de Adorno, no Instituto de (UEL) Elaborada nos anos de 1980, em um contexto de
Pesquisa Social. preocupações com o meio ambiente e o risco nuclear, a Ética
do Discurso buscou reorientar as teorias deontológicas que
Habermas analisou o desenvolvimento da sociedade a antecederam. Um exemplo está contido no texto a seguir.
industrial, o capitalismo tardio e o estabelecimento de De maior gravidade são as consequências que um conceito
procedimentos de legitimação de relações éticas e restrito de moral comporta para as questões da ética do
sociais na contemporaneidade. Além disso, ele discute meio ambiente. O modelo antropocêntrico parece trazer
os pressupostos e condições da ação comunicativa nos uma espécie de cegueira às teorias do tipo kantiano, no
diferentes contextos do uso da linguagem. que diz respeito às questões da responsabilidade moral do
homem pelo seu meio ambiente.
(HABERMAS, Jürgen. Comentários à Ética do Discurso. Trad. de Gilda Lopes
TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA Encarnação. Lisboa: Instituto Piaget, 1999, p.212.)

Habermas formulou o conceito de razão comunicativa Com base no texto e nos conhecimentos sobre a Ética do
visando estabelecer um elo entre a razão teórica e a razão Discurso, é correto afirmar que a ética:
prática. Desse modo, a linguagem é vista como instrumento
para a compreensão dos homens em suas relações sociais. A abrange as ações isoladas das pessoas visando
adequar-se às mudanças climáticas e às catástrofes
A ÉTICA DISCURSIVA naturais.
B corresponde à maneira como o homem deseja construir e
Segundo Habermas, a ética discursiva é oriunda da realizar plenamente a sua existência no planeta.
relação entre os indivíduos e permite um posicionamento C compreende a atitude conservacionista que o sistema
crítico acerca dos ditames normativos da sociedade. Sendo econômico adota em relação ao ambiente.
assim, sua ética é baseada no diálogo e no consenso entre D implica a instrumentalização dos recursos tecnológicos
os sujeitos. em benefício da redução da poluição.
E refere-se à atitude de retorno do homem à vida natural,
Em suma, a ética discursiva é fundamentada na observando as leis da natureza e sua regularidade.
linguagem e na capacidade de entendimento entre
as pessoas na busca de uma ação democrática e não
autoritária, atentando-se aos valores normativos que foram
estabelecidos consensualmente.

12
5. CONTEMPORÂNEA | 5.2 FILOSOFIA NOS SÉCULOS XX E XXI

GABARITO

QUESTÕES ORIENTADAS

01 A 02 D 03 B

04 C 05 C 06 B

07 A 08 C 09 D

10 E 11 A 12 B

13 B

Acertos Erros Rendimento %

TOTAL DE ACERTOS
Total Total
13 Rendimento %
Questões Acertos

13
FILOSOFIA
FILOSOFIA - MÓDULO - 6 - TEMÁTICA EXERCÍCIO - ENEM

CAPÍTULO 6.0 TEMÁTICA

B EQUILÍBRIO IÔNICOS

02 00 00 00 00 12

QUESTÃO 01 QUESTÃO 03
(ENEM 2010 1ª APLICAÇÃO) A ética precisa ser compreendida (ENEM 2010 2ª APLICAÇÃO)
como um empreendimento coletivo a ser constantemente
retomado e rediscutido, porque é produto da relação interpessoal
e social. A ética supõe ainda que cada grupo social se organize
sentindo-se responsável por todos e que crie condições para o
exercício de um pensar e agir autônomos. A relação entre ética e
política é também uma questão de educação e luta pela soberania
dos povos. É necessária uma ética renovada, que se construa a
partir da natureza dos valores sociais para organizar também
uma nova prática política.
CORDI et al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2007 (adaptado).

O Século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos Nova Escola, no 226, out. 2009.
problemas oriundos de diferentes crises sociais, conflitos
ideológicos e contradições da realidade. Sob esse enfoque e a A tirinha mostra que o ser humano, na busca de atender suas
partir do texto, a ética pode ser compreendida como necessidades e de se aprimorar dos espaços,

A. mecanismo de criação de direitos humanos, porque é da A. sofreu desvantagens em relação a outras espécies, por
natureza do homem ser ético e virtuoso. utilizar os recursos naturais como forma de se apropriar dos
B. aceitação de valores universais implícitos numa sociedade diferentes espaços.
que busca dimensionar sua vinculação à outras sociedades. B. adotou a acomodação evolucionária como forma de
C. instrumento de garantia da cidadania, porque através dela sobrevivência ao se dar conta de suas deficiências impostas
os cidadãos passam a pensar e agir de acordo com valores pelo meio ambiente.
coletivos. C. levou vantagens em relação aos seres de menor estatura, por
D. meio para resolver os conflitos sociais no cenário da possuir um físico bastante desenvolvido, que lhe permitia
globalização, pois a partir do entendimento do que é muita agilidade.
efetivamente a ética, a política internacional se realiza. D. dispensou o uso da tecnologia por ter um organismo adaptável
E. parâmetro para assegurar o exercício político primando pelos aos diferentes tipos de meio ambiente.
interesses e ação privada dos cidadãos. E. utilizou o conhecimento e a técnica para criar equipamentos
que lhe permitiram compensar as suas limitações físicas.
QUESTÃO 02
QUESTÃO 04
(ENEM 2010 1ª APLICAÇÃO) Na ética contemporânea, o sujeito
não é mais um sujeito substancial, soberano e absolutamente
livre, nem um sujeito empírico puramente natural. Ele é (ENEM 2010 2ª APLICAÇÃO) A ética exige um governo que
simultaneamente os dois, na medida em que é um sujeito amplie a igualdade entre os cidadãos. Essa é a base da pátria. Sem
histórico-social. Assim, a ética adquire um dimensionamento ela, muitos indivíduos não se sentem “em casa”, experimentam-se
político, uma vez que a ação do sujeito não pode mais ser vista como estrangeiros em seu próprio lugar de nascimento.
e avaliada fora da relação social coletiva. Desse modo, a ética SILVA, R. R. Ética, defesa nacional, cooperação dos povos. OLIVEIRA, E. R (Org.)
se entrelaça, necessariamente, com a política, entendida esta Segurança & Defesa Nacional: da competição à cooperação regional. Sao Paulo:
como a área de avaliação dos valores que atravessam as relações Fundação Memorial da América Latina, 2007 (adaptado).
sociais e que interliga os indivíduos entre si.
SEVERINO. A. J. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992 (adaptado). Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação
política e integração de indivíduos em uma sociedade. De acordo
O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo de formação
com o texto, a ética corresponde a
da ética na sociedade contemporânea, ressalta

A. os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político- A. normas determinadas pelo governo, diferentes das leis
partidárias. estrangeiras.
B. a sistematização de valores desassociados da cultura. B. valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade.
C. o sentido coletivo e político das ações humanas individuais. C. proibição da interferência de estrangeiros em nossa pátria.
D. o valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos. D. preceitos normativos impostos pela coação das leis jurídicas.
E. o julgamento da ação ética pelos políticos eleitos E. transferência dos valores praticados em casa para a esfera
democraticamente. social.

1
FILOSOFIA - MÓDULO - 6 - TEMÁTICA

QUESTÃO 05 A. refletir sobre as relações entre o conhecimento da vida e os


valores éticos do homem.
(ENEM 2011 1ª APLICAÇÃO) O brasileiro tem noção clara dos B. relativizar, no caso da clonagem humana, o uso dos valores de
comportamentos éticos e morais adequados, mas vive sob o certo e errado, de bem e mal.
espectro da corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado C. legalizar, pelo uso das técnicas de clonagem, os processos de
dos padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria mais reprodução humana e animal.
com a Escandinávia do que com Bruzundanga (corrompida nação D. fundamentar técnica e economicamente as pesquisas sobre
fictícia de Lima Barreto). células-tronco para uso em seres humanos.
FRAGA, P. Ninguém é inocente. Folha de S. Paulo. 4 out. 2009 (adaptado). E. legitimar o predomínio da espécie humana sobre as demais
espécies animais no planeta.
O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente
o que é moral constitui uma ambiguidade inerente ao humano, QUESTÃO 08
porque as normas morais são
(ENEM 2014 3ª APLICAÇÃO) É importante não confundir
A. criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve moralidade — certo e errado — com lei. É claro que a moralidade
se submeter. e a lei muitas vezes coincidem. Por exemplo, roubar e matar é
B. cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a moralmente errado. Também é contra a lei. Mas a moralidade e a
observar as normas jurídicas. lei não precisam coincidir.
C. decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas. LAW, S. Os arquivos filosóficos. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
D. parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de
obrigação. Quando há discordância entre moralidade e legalidade na
E. amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir sociedade, ocorre a existência de
cumpri-las integralmente.
A. ações ilegais como sendo imorais.
QUESTÃO 06 B. leis injustas na sociedade.
C. uma legalidade laica.
(ENEM 2011 2ª APLICAÇÃO) “Não à liberdade para os inimigos D. leis fundadas em valores morais.
da liberdade”, dizia Saint-Just. Isso significa dizer: não à tolerância E. normas que opõem lei e justiça.
para os intolerantes.
Héritier, F. O eu, o outro e a tolerância. In: Héritier, F.; CHANGEUX, J. P. (orgs.). Uma ética QUESTÃO 09
para quantos? São Paulo: Edusc, 1999 (fragmento).
(ENEM 2014 3ª APLICAÇÃO) Quando um carpinteiro apanha
A contemporaneidade abriga conflitos éticos e políticos, dos um martelo, o martelo se torna, do ponto de vista do seu cérebro,
quais o racismo, a discriminação sexual e a intolerância religiosa parte da sua mão. Quando um soldado leva um binóculo aos
são exemplos históricos. Com base no texto, qual é a principal olhos, o seu cérebro vê através de um novo conjunto de lentes,
contribuição da Ética para a estruturação política da sociedade adaptando-se instantaneamente a um campo de visão muito
contemporânea? diferente. A nossa capacidade de nos fundirmos com todo tipo de
ferramenta a uma das qualidades que mais nos distingue como
A. Criar novas leis éticas com a finalidade de punir os sujeitos espécie.
racistas e intolerantes. CARR, N. O que a Internet está fazendo com os nossos cérebros: a geração superficial.
B. Instaurar um programa de reeducação ética fundado na
prevenção da violência e na restrição da liberdade. A ciência produz aparatos tecnológicos que se tomam uma
C. Propor modelos de conduta fundados na justiça, na liberdade extensão do ser humano. Quando um blogueiro utiliza a internet
e na diversidade humana. como veículo de informação crítico, o seu pensamento é
D. Revisar as leis e o sistema político como mecanismo de
adequação às novas demandas éticas. A. projeto individual de difícil repercussão coletiva, pois atinge
E. Instituir princípios éticos que correspondam ao interesse de um número limitado de pessoas.
cada grupo social. B. discurso meramente teórico, porque está desvinculado de
aspectos da realidade social.
C. expressão da sua própria consciência, mas com perda da
QUESTÃO 07 noção de pertencimento.
D. fenômeno que visa alcançar pontualmente determinado
(ENEM 2014 1ª APLICAÇÃO) Panayiotis Zavos “quebrou” o
público de modo planejado e específico.
último tabu da clonagem humana — transferiu embriões para
E. ação intelectual com efeitos sociais desencadeados através
o útero de mulheres, que os gerariam. Esse procedimento é
do reconhecimento na rede.
crime em inúmeros países. Aparentemente, o médico possuía
um laboratório secreto, no qual fazia seus experimentos. “Não
tenho nenhuma dúvida de que uma criança clonada irá aparecer QUESTÃO 10
em breve. Posso não ser eu o médico que irá criá-la, mas vai
acontecer”, declarou Zavos. “Se nos esforçarmos, podemos ter (ENEM 2016 3ª APLICAÇÃO) A atividade atualmente chamada
um bebê clonado daqui a um ano, ou dois, mas não sei se é o caso. de ciência tem se mostrado fator importante no desenvolvimento
Não sofremos pressão para entregar um bebê clonado ao mundo. da civilização liberal: serviu para eliminar crenças e práticas
Sofremos pressão para entregar um bebê clonado saudável ao supersticiosas, para afastar temores brotados da ignorância
mundo.” e para fornecer base intelectual de avaliação de costumes
CONNOR, S. Disponível em: www.independent.co.uk. Acesso em: 14 ago. 2012 . herdados e de normas tradicionais de conduta.
NAGEL, E. et al. Ciência: natureza e objetivo. São Paulo: Cultrix, 1975 (adaptado).

A clonagem humana é um importante assunto de reflexão no


campo da bioética que, entre outras questões, dedica-se a Quais características permitem conceber a ciência com os
aspectos críticos mencionados?

2
FILOSOFIA - MÓDULO - 6 - TEMÁTICA

A. Apresentar explicações em uma linguagem determinada e


isenta de erros.
B. Possuir proposições que são reconhecidas como
inquestionáveis e necessárias.
C. Ser fundamentada em um corpo de conhecimento
autoevidente e verdadeiro.
D. Estabelecer rigorosa correspondência entre princípios
explicativos e fatos observados.
E. Constituir-se como saber organizado ao permitir
classificações deduzidas da realidade.

QUESTÃO 11
(ENEM 2017 2ª APLICAÇÃO) A crítica é uma questão de
distância certa. O olhar hoje mais essencial, o olho mercantil
que penetra no coração das coisas, chama-se propaganda.
Esta arrasa o espaço livre da contemplação e aproxima tanto
as coisas, coloca-as tão debaixo do nariz quanto o automóvel
que sai da tela de cinema e cresce, gigantesco, tremeluzindo
em direção a nós. E, do mesmo modo que o cinema não oferece
móveis e fachadas a uma observação crítica completa, mas
dá apenas a sua espetacular, rígida e repentina proximidade,
também a propaganda autêntica transporta as coisas para
primeiro plano e tem um ritmo que corresponde ao de um bom
filme.
BENJAMIN, W. Rua de mão única: infância berlinense – 1900.

O texto apresenta um entendimento do filósofo Walter


Benjamin, segundo o qual a propaganda dificulta o
procedimento de análise crítica em virtude do(a)

A. caráter ilusório das imagens.


B. evolução constante da tecnologia.
C. aspecto efêmero dos acontecimentos.
D. conteúdo objetivo das informações.
E. natureza emancipadora das opiniões.

QUESTÃO 12
(ENEM 2018 2ª APLICAÇÃO) Uma criança com deficiência
mental deve ser mantida em casa ou mandada a uma instituição?
Um parente mais velho que costuma causar problemas deve
ser cuidado ou podemos pedir que vá embora? Um casamento
infeliz deve ser prolongado pelo bem das crianças?
MURDOCH, I. A soberania do bem. São Paulo: Unesp, 2013.

Os questionamentos apresentados no texto possuem uma


relevância filosófica à medida que problematizam conflitos que
estão nos domínios da

A. política e da esfera pública.


B. teologia e dos valores religiosos.
C. lógica e da validade dos raciocínios.
D. ética e dos padrões de comportamento.
E. epistemologia e dos limites do conhecimento.

GABARITO

01 C 02 C 03 E 04 B 05 A
06 C 07 B 08 B 09 E 10 D
11 A 12 D

3
SOCIOLOGIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
RESPONDA

1.0 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA E TEÓRICOS CLÁSSICOS

Diante deste cenário, o francês Auguste Comte (1798-


Introdução 1857), considerado o “Pai da Sociologia”, viveu os efeitos de
uma França pós-revolucionária e, por conta disso, entendia
a anarquia como um mal e que a sociedade deveria pautar-
Nascida no século XIX e com forte inspiração se em princípios como o de ordem. Comte, em seu Curso de
no Iluminismo, a Sociologia buscou compreender Filosofia Política, propôs a criação de uma nova ciência, a
e explicar uma Europa marcada por inúmeras qual chamou de “física social” - o nome Sociologia só viria
transformações sociais, políticas e econômicas que a ser empregado posteriormente. Seu grande objetivo foi
viriam a ser chamadas de Modernidade. Ao longo compreender as leis sobre o comportamento humano em
desse capítulo, discutiremos conceitos, pressupostos sociedade que permitiriam a intervenção sobre a realidade.
e visões de mundo para a compreensão do Inspirada nas bases filosóficos do Positivismo, como a
mundo moderno. Desde o século XV, a partir do crença na razão como promotora do progresso humano,
seu objetivo era não apenas de entender a realidade, mas
que chamamos de Renascimento, a Europa vem
reorganizá-la.
reconstruindo os seus alicerces. Ao resgatar os
valores da cultura clássica (Greco-Romana) como Criada aos moldes das ciências naturais, essa “nova
o humanismo e o antropocentrismo, uma nova ciência” deveria, a partir de princípios como observação
concepção da realidade paira sobre o velho mundo, e experimentação, formular metodologicamente princípios
colocando em cheque os antigos valores medievais. que permitissem a retomada do progresso. Nasce, assim, a
Lei dos Três Estados. De acordo com Comte, as sociedades
humanas se organizavam e podiam ser classificadas a partir
de três estágios evolutivos: o teológico, no qual a explicação
da realidade seria baseada em elementos sobrenaturais
VIDEOAULA

como os mitos, a religião e a magia; o metafísico que


NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA corresponderia a uma fase mais reflexiva e filosófica e
especialmente a metafísica, baseado na busca pela
causa primeira dos entes, e o positivo, no qual os estágios
Diante desse cenário, sopram assim os ventos do anteriores já haviam sido superados e a realidade passaria
racionalismo e do cientificismo que viriam a servir de a ser explicada a partir de princípios reais orientados pela
base para uma revolução intelectual que denominamos ciência. Essas leis seriam, portanto, universais, ou seja,
Iluminismo. A razão tornou-se um dos principais critérios válidas para a análise de toda a sociedade.
para a autonomia humana. Os ideais de mudança ditam
as regras desde então. As Revoluções inglesas, francesa
e americana modificaram completamente a organização “Em outros termos, o espírito humano, por sua
política e social e a Revolução Industrial transformou a natureza, emprega sucessivamente em cada uma
configuração demográfica e de produção da Europa, de suas investigações três métodos de filosofar,
permitindo o êxodo rural e o desenvolvimento do que cujo caráter é essencialmente diferente e mesmo
viríamos a chamar de capitalismo. Esse que passou a ser radicalmente oposto: primeiro, o método teológico, em
denominado de século das Luzes pode ser analisado a partir seguida, o método metafísico, e finalmente, o método
de cinco conceitos básicos: natureza, indivíduo, liberdade, positivo […].”
COMTE, Auguste. “Cours de philosophie positive”: première leçon. In:
felicidade e progresso. La science sociale, 1825, p. 125-126.
VIDEOAULA

AUGUSTO COMTE E O POSITIVISMO


VIDEOAULA

POSITIVISMO NO BRASIL

As ideias de Comte influenciaram e muito o contexto


histórico vivido no Brasil do século XIX, mais especificamente
no período da Primeira República. Os ideais positivistas
serviram de inspirações para figuras como, por exemplo,
o Marechal Deodoro da Fonseca, que em 1989 depôs o
imperador Dom Pedro II e tornou-se o primeiro presidente
da República Brasileira, incorporando valores como o da
ordem social para se alcançar o progresso. Essa influência
pode ser claramente percebida na nossa bandeira. Outros
grandes nomes da nossa história foram influenciados

1
1.0 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA E TEÓRICOS CLÁSSICOS

pelo positivismo, como Nísia Floresta, Euclides da Cunha, se, de fato, que os povos que não pertencem à “raça”
Marechal Cândido Rondon, entre tantos outros. branca são atrasados, infantilizados.
(Marc Ferro. A colonização explicada a todos, 2017.)

Considerando o texto e conhecimentos sobre a história


europeia do final do século XIX, pode-se concluir que

A as argumentações ideológicas procuravam legitimar


socialmente projetos expansionistas.
B as afirmações da antropologia científica refutavam os
artigos dos periódicos de grande circulação.
C as anexações de territórios estavam desvinculadas de
interesses econômicos dos Estados conquistadores.
Apesar de ter sido criada por Auguste Comte, a Sociologia
D as trocas culturais entre as nações eram vistas como a
só passou a ter um método de análise e um objeto bem comprovação da diversidade social da humanidade.
definido com o também francês Émile Durkheim, que, junto E as potências pretendiam fortalecer militarmente os povos
com os alemães Karl Marx e Max Weber, viriam a compor o dominados por meio da medicina tropical.
que conhecemos como Sociologia Clássica. Cada um ao
seu modo, cada clássico deu à sociologia aquilo que era
ORIENTADA

RESOLUÇÃO
necessário a uma ciência.
QUESTÃO 03
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

(UFPR) Considere o seguinte excerto:


QUESTÃO 01
O estudo objetivo e sistemático da sociedade e dos
(UNESP) Era esta uma das artérias principais da cidade e comportamentos humanos é um desenvolvimento
regurgitara de gente durante o dia todo. Mas, ao aproximar- relativamente recente, cujos primórdios datam de fins
se o anoitecer, a multidão engrossou e, quando as do século XVIII. Um desenvolvimento-chave foi o uso da
lâmpadas se acenderam, duas densas e contínuas ondas ciência para compreender o mundo – a ascensão de uma
de passantes desfilavam [...]. abordagem científica ocasionou uma mudança radical
na perspectiva e na sua compreensão. Uma após a outra,
Muitos dos passantes tinham um aspecto prazerosamente as explicações tradicionais e baseadas na religião foram
comercial e pareciam pensar apenas em abrir caminho suplantadas por tentativas de conhecimento racionais
através da turba. Traziam as sobrancelhas vincadas e e críticas. [...] O cenário que dá origem à sociologia foi
seus olhos moviam-se rapidamente; quando davam algum a série de mudanças radicais introduzidas pelas “duas
encontrão em outro passante, não mostravam sinais de grandes revoluções” da Europa dos séculos XVIII e XIX. [...]
impaciência; recompunham-se e continuavam, apressados, A ruptura com os modos de vida tradicionais desafiou os
seu caminho. pensadores a desenvolverem uma compreensão tanto do
(Contos de Edgar Allan Poe, 1986.) mundo social como do natural. Os pioneiros da sociologia
foram apanhados pelos acontecimentos que cercaram
O conto, originalmente publicado em 1840, apresenta um essas revoluções e tentaram compreender sua emergência
perfil das metrópoles do século XIX, destacando e consequências potenciais.
(GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 27-28.)
A a solidariedade entre os habitantes, o desenvolvimento
da cidadania e a força da indústria. Quais são as revoluções a que Anthony Giddens faz
B o declínio das atividades comerciais, os ruídos incessantes referência?
das ruas e a solidão dos habitantes.
C a conformação de uma nova sensibilidade, o arcaísmo A Revolução Russa e Revolução Chinesa.
tecnológico e a imobilidade dos habitantes. B Revolução dos Cravos e Revolução Francesa.
D o ordenamento do espaço urbano, o controle policial da C Revolução Industrial e Revolução Inglesa.
circulação e o crescimento do desemprego. D Revolução Francesa e Revolução Industrial.
E o crescimento populacional, a dinâmica da circulação E Revolução Proletária e Revolução Comunista.
urbana e a impessoalidade nas relações.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 04
QUESTÃO 02
(UPE) Texto I
(FGV) [...] no final do século XIX [...] discursos “científicos”
estabelecem, a partir de características físicas e culturais, Convicto de que a reorganização da sociedade exigiria a
uma classificação dos povos e uma desigualdade das elaboração de uma nova maneira de conhecer a realidade,
raças. [...] Mas são sobretudo as revistas de geografia e de Comte procurou estabelecer os princípios que deveriam
etnografia que influenciam os colonos, ao refletir sobre os nortear os conhecimentos humanos. Seu ponto de partida
melhores métodos para “civilizar nossos negros”. Considera- era a ciência e o avanço que ela vinha obtendo em todos

2
1.0 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA E TEÓRICOS CLÁSSICOS

os campos de investigação. (...) O advento da sociologia Primeiro docente a ocupar uma cátedra de sociologia
representava para Comte o coroamento da evolução do em uma universidade, Durkheim formulou a sua concepção
conhecimento científico, já constituído em várias áreas do sobre a sociologia, chamada de funcionalista, inspirada em
saber. modelos biológicos com aplicações sociais o levou a criar
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 44. a teoria dos fatos sociais, que dizem respeito a leis gerias
que explicariam a sociedade e que são gerais, exteriores
Texto II e coercitivos ao indivíduo. Segundo ele, a sociedade
funcionaria como uma espécie de organismo vivo, que
O conjunto da nova filosofia tenderá sempre a fazer de maneira geral, funciona como um todo coeso. A partir
sobressair, tanto na vida ativa como na especulativa, a de então, determinados elementos de coesão, como as
ligação de cada um a todos, sob uma série de aspectos instituições sociais, a justiça, determinam o modo como a
diversos, de modo a tornar involuntariamente familiar o sociedade se comporta. Durkheim defendia que a vida em
sentimento íntimo da solidariedade social, (...) Não somente sociedade tem o seu fundamento na própria sociedade e
a ativa busca do bem público será sempre privada, será não no indivíduo.
sempre representada como a maneira mais conveniente
de assegurar a felicidade privada; mas, por uma influência Na sua obra As Regras do Método Sociológico (1895),
(...) dos pendores generosos, se tornará a principal fonte da Durkheim sistematiza os principais fundamentos e
felicidade pessoal. instrumentos da pesquisa sociológica. Logo no seu primeiro
COMTE, August. Discurso sobre o espírito positivo. São Paulo: Escala, s/d, p. 74.
capítulo é definida a noção de fato social:
A Revolução Industrial e a Revolução Francesa
impulsionaram o surgimento da Sociologia como ciência "É fato social toda maneira de agir, fixa ou não,
voltada para compreender as novas relações entre as suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção
pessoas. Essas relações envolviam agora um complexo exterior; ou então ainda, que é geral na extensão
de hábitos e costumes e eram provocadas por causa da de uma sociedade dada, apresentando existência
maneira de se produzirem e se consumirem os excedentes própria, independente das manifestações individuais
na Europa do século XIX. Sobre esse período da Sociologia que possa ter."
e com base na concepção apresentada nos textos I e II, é DURKHEIM, E.As Regras do Método Sociológico. Tradução de
CORRETO afirmar que Margarida Garrido Esteves. In: DURKHEIM, E. Os pensadores. São
Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 87.

A a Sociologia foi chamada de física social e deveria utilizar


os métodos da filosofia teológica como instrumento de
compreensão da sociedade. Segundo Durkheim, os fatos sociais possuem
B as investigações sociológicas deveriam utilizar os características essenciais como a generalidade, afinal a
mesmos procedimentos das ciências naturais, ou seja, a sociedade deve ser vista a partir de um olhar coletivo, a
observação, a experimentação e a comparação. exterioridade, o que significa que o comportamento social
C o positivismo foi a corrente filosófica, que fundamentou não depende do próprio indivíduo, mas de algo que é
o surgimento da Sociologia como ciência da sociedade, exterior a ele – no caso a sociedade, e a coercitividade,
pois tinha uma visão metafísica das relações entre as pois eles são impostos pela sociedade e nos forçam a seguir
pessoas. determinados padrões de conduta. Além disso devemos
D o principal representante da Sociologia nesse período lembrar que os Fatos Sociais podem ser classificados
foi August Comte, que tinha uma visão positiva de entre normais, quando é considerado na média da
sociedade, ou seja, uma reflexão sobre a essência e o sociedade, e anormais (ou patológicos) quando é eventual
significado abstrato das relações sociais. ou extraordinário na vida cotidiana. Sendo a sociedade
E as ideias de Comte tinham como objetivo encontrar leis entendida como um organismo vivo, o fato social normal
universais para explicar as relações sociais, com base tem relação com um estado de saúde social, enquanto o
nos princípios de subjetividade e parcialidade, utilizados fato social patológico com um estado de doença.
pelas ciências da natureza.
Outro tema que devemos levar em consideração no
pensamento de Émile Durkheim é analisar o efeito em que
VIDEOAULA

as transformações sociais causam nos meios de integração


ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) dos indivíduos em sociedade. No caso da modernidade,
uma dessas transformações foi a divisão social do trabalho
e o processo de especialização das tarefas. Essa evolução
marcou o processo de mudança da solidariedade mecânica
para a solidariedade orgânica.

Nas sociedades de solidariedade mecânica, a vida


coletiva é baseada em uma espécie de “consciência
coletiva” que representam um conjunto de crenças e
sentimentos que são comuns aos membros de uma
mesma sociedade. Nesse modelo a diferenciação entre os
indivíduos é mínima. Já na solidariedade orgânica, a divisão
social do trabalho é uma de suas principais marcas. Essa
divisão transforma completamente as relações sociais.
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim Dessa forma, nas sociedades modernas, existe uma enorme

3
1.0 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA E TEÓRICOS CLÁSSICOS

diversidade social e autonomia individual o que acaba No conceito de solidariedade orgânica, proposto no texto,
enfraquecendo a consciência coletiva. a coesão social existe devido ao(à)

Podemos perceber que o processo de integração entre A divisão social do trabalho.


os indivíduos é um dos principais temas de análise do B semelhança entre os indivíduos.
sociólogo francês e dessa forma crises e conflitos também C vínculo de companheirismo familiar.
devem ser levados em consideração. Durkheim define como D independência nas relações individuais.
anomia o fenômeno social transitório no qual os órgãos E ordenamento das sociedades primitivas.
sociais ainda não estariam suficientemente integrados entre
si, prejudicando a coesão social e enfraquecendo os laços

VIDEOAULA
morais. Ao tratar dos problemas relacionados à integração
dos indivíduos na sociedade moderna, Émile Durkheim nos KARL MARX (1818-1883)
apresenta uma de suas principais obras O Suicídio (1897).
Segundo o autor, o comportamento de suicidar-se também
possui causas sociais e pode ser definido como “todo caso
de morte provocado direta ou indiretamente por um ato
positivo ou negativo realizado pela própria vítima e que
ela sabia que devia provocar esse resultado”. Ao analisar
diversos casos e taxas de suicídio, Durkheim distingue quatro
tipos de suicídio: egoísta, altruísta, anômico e fatalista.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 05
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d4/Karl_Marx_001.jpg

Eis portanto uma ordem de fatos que apresentam


Um dos criadores da teoria política do socialismo científico
características muito especiais: consistem em maneiras de
junto com Engels, Karl Marx pautou a sua teoria sociológica
agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, e que são
a partir do conceito de Materialismo Histórico Dialético,
dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses
ao analisar a estrutura da sociedade a partir de um ponto
fatos se impõem a ele. Por conseguinte, eles não poderiam se
de vista material (modos e meios de produção). Inspirado
confundir com os fenômenos orgânicos, já que consistem em
nos cenários de desigualdade e pobreza provocados pela
representações e em ações; nem com fenômenos psíquicos,
Revolução Industrial, Marx compreendia que todo o cenário
os quais só têm existência na consciência individual e por
de exploração era resultado da dominação de um grupo
meio dela. Esses fatos constituem, portanto, uma espécie
(classe) sobre a outra. Na sociedade capitalista, burgueses
nova, e é a eles que deve ser dada a qualificação de sociais.
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins explorariam os proletários. Segundo ele, toda a história
Fontes, 2007. (adaptado) humana é alicerçada sob uma estrutura de dominação e
conflito entre classes.
O conceito descrito foi formulado por Émile Durkheim com
o objetivo de
“a história de todas as sociedades até hoje
A valorizar os fenômenos que ocorrem na esfera individual. existentes é a história das lutas de classes.”
ENGELS, F.; MARX, K.; . Manifesto Comunista. Trad. Álvaro Pina.
B superar os métodos de investigação que consideram o Introdução e organização de Oswaldo Coggiola. São Paulo:
empirismo. Boitempo, 2002, p. 40.
C promover uma aproximação entre o pesquisador e o
objeto estudado.
D desenvolver uma análise capaz de identificar aspectos Segundo Marx, o estudo da sociedade tem seu
da coletividade. fundamento na economia (material) e é ela que condiciona
E estabelecer uma teoria fundamentada nos conflitos da toda a vida social. Além disso o fundamento da economia é o
sociedade capitalista. trabalho. Existiria, portanto, na sociedade toda uma estrutura
que impediria a classe explorada de se reconhecer como
ORIENTADA tal. Esse “véu” seria chamado de Ideologia. A sociedade
RESOLUÇÃO

funcionaria a partir de um intercâmbio entre forças materiais


(infraestrutura) e “espirituais” (superestrutura) que juntas
QUESTÃO 06 manteriam todo esse sistema de alienação. Diante disso, a
única maneira de romper com esse simulacro seria por meio
De fato, de um lado, cada um depende tanto mais da consciência de classes e com ela a revolução proletária.
estreitamente da solidariedade quanto mais dividido
for o trabalho nela e, de outro, a atividade de cada um As ideias da classe dominante são, em cada época, as
é tanto mais pessoal quanto mais for especializada. A
ideias dominantes; isto é, a classe que é a força material
individualidade do todo aumenta ao mesmo tempo que a
das partes; a sociedade torna-se mais capaz de se mover dominante da sociedade da sociedade é, ao mesmo
em conjunto, ao mesmo tempo em que cada um de seus tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à
elementos tem mais movimentos próprios. sua disposição os meios de produção material dispõe, ao
DURKHEIM, Émile. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 108. mesmo tempo, dos meios de produção espiritual, o que faz
com que a ela sejam submetidas, ao mesmo tempo e em

4
1.0 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA E TEÓRICOS CLÁSSICOS

média, às ideias daqueles aos quais faltam os meios de De acordo com a concepção materialista da história
produção espiritual. As ideias dominantes nada mais são do proposta por Karl Marx, as classes sociais se originam da
que a expressão ideal das relações materiais dominantes, divisão
as relações materiais dominantes concebidas como ideias;
portanto, a expressão das relações que tornam uma classe A entre governantes e governados.
a classe dominante, portanto, as ideias de sua dominação. B entre os sexos.
MARX, Karl. A ideologia alemã. 9a ed. São Paulo: Hucitec, 1993. C entre as gerações.
D do trabalho.
ORIENTADA E das riquezas.
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 07

VIDEOAULA
MAX WEBER (1864-1920)
(UEL) Assim como Darwin descobriu a lei do
desenvolvimento da natureza orgânica, Marx descobriu
a lei do desenvolvimento da história humana. A produção
dos meios imediatos de vida, materiais e, por conseguinte,
a correspondente fase de desenvolvimento econômico de
um povo ou de uma época é a base a partir da qual tem
se desenvolvido as instituições políticas, as concepções
jurídicas, as ideias artísticas. A descoberta da mais-valia
clareou estes problemas.
(Adaptado de: ENGELS, F. Discurso diante do túmulo de Marx. 1883.
Disponível em: <http://www.marxists.org/espanol/m-e/1880s/83-tumba.
htm>. Acesso em: 11 set. 2017.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção https://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber#/media/Ficheiro:Max_Weber,_1918.jpg


materialista da história,
Ao dedicar-se as mais diversas áreas de estudos, como
A existem leis gerais e invariáveis na história, que fazem a o Direito, a História, a Economia e a Filosofia, Weber rompeu
vida social retornar continuamente ao ponto de partida, com os princípios positivistas dos demais clássicos. Segundo
isto é, a uma forma idêntica de exploração do homem ele, a sociedade não deveria ser compreendida a partir de
sobre o homem. leis gerais e objetivas, como a estrutura das instituições ou
B a mais-valia, ou seja, uma maneira mais eficaz de os mesmo a economia, mas sim a partir dos sentidos subjetivos
proprietários lucrarem por meio da venda dos produtos empregados pelos indivíduos em suas respectivas ações.
acima de seus preços, é uma manifestação típica da O indivíduo é o elemento fundamental na explicação da
sociedade capitalista e do mundo moderno. realidade social. Dessa crença nasce o conceito de Ação
C o darwinismo social é a base da concepção materialista Social, que, de acordo com Weber, deveria ser o principal
da história na medida em que esta teoria demonstra objeto de estudo da sociologia.
cientificamente que somente os mais aptos podem
sobreviver e dominar, sendo os capitalistas um exemplo.
D a partir de intercâmbios na infraestrutura da vida “Ação Social significa uma ação que, quanto a seu
social, desenvolve-se um conjunto de relações que sentido visado pelo agente ou pelos agentes, se refere
passam a integrar o campo da superestrutura, com uma
ao comportamento de outros, orientando-se por este
interdependência necessária entre elas.
em seu curso.”
E a sociedade burguesa, por intensificar a exploração dos WEBER, Max. Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia
homens através do trabalho assalariado, constitui-se em Compreensiva. Vol 1. 3a Ed. Brasília: UNB, 1994.
forma de organização social menos desenvolvida que as
anteriores.
Segundo o sociólogo alemão, existiriam quatro tipos
ORIENTADA básicos ou puros de ação social: Ação social referente a
RESOLUÇÃO

fins; Ação social referente a valores; Ação social afetiva e


a Ação social tradicional. O sociólogo deveria, portanto,
QUESTÃO 08 observar os valores, as crenças e as ideias que inspiram os
indivíduos em suas ações. A partir de tal pressuposto Weber
(UNIOESTE) “I. Burgueses e proletários. A história de todas estabelece os princípios da Sociologia Compreensiva.
as sociedades até hoje existente é a história das lutas de
classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor Tendo por base da análise social o indivíduo, Weber
feudal e servo, mestre de corporação e companheiro, em propõe compreender qual a função lógica que organiza a
resumo, opressores e oprimidos, em constante oposição, estrutura da sociedade. Nesse contexto nasce o conceito
têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora de Tipo Ideal que funcionaria como uma espécie de
disfarçada; uma guerra que terminou sempre ou por uma instrumento de compreensão da realidade. A partir dos tipos
transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela ideais o cientista social deveria buscar compreender os
destruição das classes em conflito” elementos comuns ao contexto social estudado, eliminando
MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2010, p. 40. assim os particularismos, dando assim um aspecto objetivo
à sua análise. Segundo Weber:

5
1.0 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA E TEÓRICOS CLÁSSICOS

ORIENTADA

RESOLUÇÃO
“Obtém-se um tipo ideal mediante a acentuação
unilateral de um ou vários pontos de vista, e mediante o
encadeamento de grande quantidade de fenômenos QUESTÃO 09
isolados dados, difusos e discretos, que se podem
dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por Diante dessa minha afirmação expressa da continuidade
completo, e que se ordenam segundo pontos de intrínseca entre a ascese monástica extramundana
vista unilateralmente acentuados, a fim de formar um e a ascese profissional intramundana, espanta-me
quadro homogêneo de pensamento.” que Brentano alegue contra mim o fato de os monges
WEBER, Max. Sobre a teoria das ciências sociais. São Paulo: Moraes, 1991.
praticarem e recomendarem a ascese no trabalho! Todo
o seu excurso contra mim culmina nisso. Mas justamente
essa continuidade, como todos podem ver, é que é um
Outro tema fundamental para a compreensão da pressuposto fundamental de todo o meu ensaio: a Reforma
sociologia weberiana é o intenso processo de racionalização conduziu a ascese racional cristã e metódica de vida para
pelo qual passa a sociedade moderna que interfere fora dos mosteiros e as introduziu na vida profissional
tanto na mentalidade dos indivíduos como também na mundana.
construção do Estado. Weber denomina esse processo de WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo:
desencantamento do mundo. Dessa forma, o véu de mistério Companhia das Letras, 2004.
que cobria a realidade é retirado. O saber científico avança,
afastando-se de qualquer valor misterioso, transcendente, Como apresentado no texto, o desenvolvimento do
final, tudo pode ser dominado pelo cálculo, pela ciência. capitalismo para Weber está em conformidade com o
processo de

“Significa principalmente, portanto, que não há A propagação da Reforma como um elemento de


forças misteriosas incalculáveis, mas que podemos, afirmação do monoteísmo.
em princípio, dominar todas as coisas pelo cálculo. B transposição de valores e atitudes religiosas para o
Isto significa que o mundo foi desencantado. Já não mundo do trabalho.
precisamos recorrer aos meios mágicos para dominar C legitimação do labor como uma atividade oriunda da
ou implorar aos espíritos, como fazia o selvagem, para punição divina.
quem esses poderes misteriosos existiam. Os meios D papel do calvinismo na consolidação do capitalismo
técnicos e os cálculos realizam o serviço.” monopolista.
WEBER, M. A ciência como vocação: In: Ensaios de sociologia. 5 ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 1982. p. 154-183.
E defesa do protestantismo para a ampliação da crença
cristã.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

“deixa de ver a vida como algo dominado por forças


impessoais e divinas para enxergar a natureza e a QUESTÃO 10
sociedade como passíveis de completo domínio pelo
homem. Antes, eram os deuses que controlavam a vida
do homem. Agora é o homem, através da ciência e da [...] a finalidade e alvo último de qualquer ciência consiste
técnica, que “desdiviniza” a natureza e a sociedade e em ordenar toda a suma matéria de estudo em um sistema
passa a controlá-las.” de conceitos, cujo conteúdo deveria ser estabelecido e
SELL, C. E. Sociologia clássica. Itajaí: Edifurb, 2002. progressivamente aperfeiçoado mediante a observação
de regularidades empíricas, a construção de hipóteses e a
verificação das mesmas, até que, um dia, daqui nascesse
Diante do contexto de racionalização que marcou a uma ciência “perfeita” e, consequentemente, dedutiva.
modernidade, outro tema ganha enorme protagonismo na WEBER, Max. Sociologia. São Paulo: Ática, 1991. p. 121.

obra weberiana compilado na obra A Ética Protestante e


o Espírito do Capitalismo (1905) que busca investigar as O pensamento do autor acerca do desenvolvimento do
origens culturais do capitalismo moderno. Weber buscou conhecimento evidencia que a
compreender qual a relação existente entre a Reforma
Protestante e o desenvolvimento do capitalismo moderno. A formação de teorias científicas está dissociada dos
fenômenos sociais.
A obra Economia e Sociedade nos traz alguns dos B elaboração dos princípios científicos deve ser
mais importantes conceitos weberianos que é a noção desvinculada de métodos objetivos.
de política, poder e dominação. Por política entendemos C padronização da ação social constitui a finalidade da
como o conjunto de esforços feitos visando a participação metodologia científica.
do poder e poder é a capacidade de impor a própria D estruturação dos conceitos é ligada à construção de um
vontade dentro de uma relação social. A noção de poder tipo ideal investigativo.
está diretamente ligada ao conceito de dominação que E diversificação dos fenômenos sociais dificulta a criação
está diretamente relacionado à possibilidade de encontrar de uma ciência perfeita.
obediência a um determinado mandato. Segundo Weber,
existem três tipos puros de dominação: tradicional,
racional-legal e carismática.

6
1.0 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA E TEÓRICOS CLÁSSICOS

GABARITO

QUESTÕES ORIENTADAS

01 E 02 A 03 D

04 B 05 D 06 A

07 D 08 D 09 B

10 D

Acertos Erros Rendimento %

TOTAL DE ACERTOS
Total Total
10 Rendimento %
Questões Acertos

7
SOCIOLOGIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
RESPONDA

2.0 DIVERSIDADE CULTURAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

Introdução

VIDEOAULA
INSTITUIÇÕES SOCIAIS
Você já parou para imaginar o quanto a nossa
vida é determinada pela sociedade? A forma
como percebemos o mundo, a forma como nos O conceito de instituição social é amplamente
relacionamos com as pessoas, nossas opiniões, utilizado pela Sociologia e analisado por variadas escolas
nossas crenças, nossas formas de falar e de nos sociológicas. Entende-se por instituição social o conjunto
expressar são, em grande parte, condicionadas de regras e procedimentos padronizados, reconhecidos,
pelas pessoas com as quais convivemos. É claro que sancionados e aceitos pela sociedade, que possui um
esses padrões sociais são diferentes a depender do enorme valor social. Nada mais são do que os modos
grupo ao qual nos referimos. Todas as sociedades de pensar, de agir e de sentir que o indivíduo encontra
são regidas por regras, essas regras podem ser estabilidade.
mais rígidas ou flexíveis e podem ser alteradas com
o passar do tempo. Você pode perceber isso se
observar, por exemplo, o papel social da mulher ao São exemplos de instituições sociais: Família;
longo da história. Durante muito tempo, coube à Instituições de ensino; Instituição religiosa; Instituição
mulher apenas a participação na vida doméstica, jurídica; Instituição econômica; Instituição política.
pois assumia o papel de esposa e de mãe, mas, ao
longo dos anos, as mulheres foram conquistando
diariamente espaços da vida pública. Da mesma Quando abordamos essa noção de socialização,
forma, a percepção sobre a família, a educação, percebemos o quão complexo é esse processo, podendo
a política, a economia, por exemplo, também foi se manifestar de diferentes formas em diferentes indivíduos.
mudando com o passar do tempo. Basta você imaginar a sua sala de aula ou o seu grupo de
amigos. Obviamente vocês possuem algumas coisas em
comum, mas você já parou para perceber o quanto vocês
são diferentes? São exatamente essas diferenças que nos
tornam únicos, ou seja, formam a nossa identidade social.
VIDEOAULA

É a partir da relação com o “outro”, aquele que é diferente


INDIVÍDUO E SOCIEDADE a mim, que eu descubro a minha verdadeira identidade.

DEFINIÇÃO: PATRIMÔNIO
VIDEOAULA

Para que uma sociedade possa existir, todos os


indivíduos passam por um processo constante de troca e MATERIAL X IMATERIAL E
aprendizado que chamamos de socialização. Durante todo CULTURA POPULAR X ERUDITA
esse caminho, os indivíduos absorvem os valores sociais,
ou seja, incorporam todos os hábitos, regras e padrões
É muito comum no dia a dia ouvir das pessoas frases do
daquela sociedade na qual ele está inserido. Tal processo
tipo “isso não é cultura”, “esse tipo de música não é cultura”,
está dividido em duas etapas: a socialização primária
“Fulano não possui cultura”. Por muitas vezes entendemos
e a socialização secundária. Para compreendermos tal
cultura como posse, em que algumas pessoas a possui
processo, é importante destacar que ele ocorre durante
enquanto outras não. E você, como responderia a pergunta:
toda a nossa vida, do nascimento até o seu final. Chamamos
o que é cultura?
de socialização primária aquela constituída a partir dos
vínculos de afetividade, os quais ensinamos os valores mais
O senso comum costuma definir cultura como um conjunto
básicos, como o uso da língua, moral, comportamento,
de conhecimentos que foram acumulados por determinada
regras, etc. Nesse contexto, vale destacar a importância
sociedade, e, a partir dele, podemos diferenciá-la de
da família como uma instituição social fundamental. Já a
outros grupos sociais. É importante destacar que não existe
socialização secundária costuma ser classificada desde o
uma forma de hierarquização entre culturas. Ou seja, não
fim da infância até o fim da vida. Ela normalmente acontece
podemos afirmar que uma cultura é superior ou inferior à
junto a grupos sociais muito importantes na formação do
outra. Cada cultura deve ser entendida como o resultado de
indivíduo, como a escola, os amigos e o trabalho. Essa
diversos processos produzidos ao longo do tempo, levando
etapa é caracterizada por apresentar grupos sociais
em consideração suas particularidades.
mais diversificados (mais do que a família, por exemplo)
e por estabelecer relações mais formais. É importante
PATRIMÔNIO CULTURAL
destacar que essas definições podem sofrer alterações a
depender do contexto ao qual estamos inseridos. Ao longo
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
da nossa vida, os membros de uma sociedade se inserem
(Iphan) é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério
em diferentes grupos sociais, seja no aspecto primário ou
do Turismo, que responde pela preservação do Patrimônio
secundário.
Cultural Brasileiro. Cabe ao Iphan proteger e promover

1
2.0 DIVERSIDADE CULTURAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

os bens culturais do país, assegurando sua permanência e


usufruto para as gerações presentes e futuras.

A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216,


ampliou o conceito de patrimônio estabelecido pelo
Decreto-lei no 25, de 30 de novembro de 1937, substituindo
a nominação Patrimônio Histórico e Artístico por Patrimônio
Cultural Brasileiro. Essa alteração incorporou o conceito
de referência cultural e a definição dos bens passíveis
de reconhecimento, sobretudo os de caráter imaterial, à http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/218
nomenclatura mencionada. A Constituição estabelece,
ainda, a parceria entre o poder público e as comunidades Etnocentrismo e Relativismo
para a promoção e proteção do Patrimônio Cultural
Ao longo da história, diversas sociedades utilizaram
Brasileiro. No entanto, mantém a gestão do patrimônio e da
de aspectos da cultura para definir uma posição de
documentação relativa aos bens sob responsabilidade da superioridade para com outros grupos sociais. Por exemplo:
administração pública. quando um determinado grupo se entende como centro do
universo ou quando considera que seus comportamentos
Enquanto o Decreto de 1937 estabelece como patrimônio e valores são considerados mais corretos e adequados
“o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País e e, até mesmo, quando aqueles que são “diferentes” são
cuja conservação seja de interesse público, quer por sua considerados inferiores, bárbaros ou selvagens. Essa visão
vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer de mundo é denominada etnocentrismo. É importante
por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, ressaltar que o etnocentrismo não diz respeito apenas a
bibliográfico ou artístico”, o Artigo 216 da Constituição uma simples “visão” sobre o “outro”, mas sobre uma intenção
conceitua patrimônio cultural como sendo os bens “de de desvalorização daquilo que é considerado diferente. Já
natureza material e imaterial, tomados individualmente ou o relativismo compreende que não há nenhuma forma de
organização de conhecimento que coloque uma cultura
em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação,
como superior à outra. O que podemos perceber é que
à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade existem culturas complexas que devem ser compreendidas
brasileira”. dentro do seu próprio contexto social.

Nessa redefinição promovida pela Constituição, estão A concepção de relatividade cultural surgiu desta
as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; constatação da pluralidade humana: a percepção de
as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, que cada cultura possui características gerais, comuns
objetos, documentos, edificações e demais espaços com outras, entretanto, todas as culturas apresentam
destinados às manifestações artístico-culturais; os características que são especificamente suas e tais
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, peculiaridades tornam uma cultura diferente das outras.
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e Dessa forma, constituiu-se o conceito de relatividade
científico. cultural, baseado no seguinte pressuposto: “[...] os padrões
de certo e errado (valores) e dos usos e atividades (costumes)
são relativos à cultura da qual fazem parte. Na sua forma
O Iphan zela pelo cumprimento dos marcos legais,
extrema, esse conceito afirma que cada costume é válido
efetivando a gestão do Patrimônio Cultural Brasileiro e dos em termos de seu próprio ambiente cultural” (HOEBEL e
bens reconhecidos pela Organização das Nações Unidas FROST, 1999, p. 22). Reconhecer a diversidade das culturas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como nos ajuda a compreendê-las como são, não estabelecendo
Patrimônio da Humanidade. Pioneiro na preservação do hierarquias de valores culturais.
patrimônio na América Latina, o Instituto possui um vasto
conhecimento acumulado ao longo de décadas e tornou- Assim, “quando vemos que as verdades da vida são menos
se referência para instituições assemelhadas de países uma questão de posição: estamos relativizando. Quando o
de passado colonial, mantendo ativa a cooperação significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta,
internacional. mas no contexto em que acontece: estamos relativizando.
Quando compreendemos o “outro” nos seus próprios valores
Nesse contexto, o Iphan constrói, em parceria com os e não nos nossos: estamos relativizando. Enfim, relativizar é
ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido
governos estaduais, o Sistema Nacional do Patrimônio
um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação.
Cultural, com uma proposta de avanço disseminada Ver as coisas do mundo como a relação entre elas. Ver que
de maneira contínua para os estados e municípios a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado.
em três eixos: coordenação (definição de instância(s) Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em
coordenadora(s) para garantir ações articuladas e mais superiores e inferiores, ou em bem ou mal, mas vê -̂ la em sua
efetivas); regulação (conceituações comuns, princípios e dimensão de riqueza por ser diferença” (ROCHA, 1994, p. 20).
regras gerais de ação); e fomento (incentivos direcionados ASSIS, Cássia Lobão. Estudos contemporâneos de cultura. Campina
Grande: UEPB/UFRN, 2008. p.7-8.
principalmente para o fortalecimento institucional,
estruturação de sistema de informação de âmbito nacional,
fortalecer ações coordenadas em projetos específicos). CULTURA
Trabalhando com esses conceitos e visando facilitar o
acesso ao conhecimento dos bens nacionais, a gestão do Quando percebemos a noção de cultura como um
patrimônio é efetivada segundo as características de cada resultado do ser humano dentro de um determinado
grupo: Patrimônio Material, Patrimônio Imaterial, Patrimônio contexto social, podemos classificá-la a partir de diversos
Arqueológico e Patrimônio Mundial. critérios, entre eles, sua materialidade ou imaterialidade.
Por exemplo:

2
2.0 DIVERSIDADE CULTURAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

• Cultura Material: É todo o conjunto de bens concretos

VIDEOAULA
(tangíveis) de uma comunidade, como casas, prédios,
templos, igrejas, roupas, museus, quadros, objetos, ANTROPOLOGIA
móveis e equipamentos.

• Cultura Imaterial: É tudo aquilo que compõe a Entender o conceito de cultura é fundamental para a
vida cultural de uma sociedade, mas não possui compreensão das sociedades, por isso, ele é um importante
materialidade, como idioma, religiões, danças, músicas, objeto das chamadas ciências sociais, como por exemplo,
culinária, etc. a Antropologia, que nasceu da necessidade de se produzir
um conhecimento de cunho científico sobre o ser humano
Quando refletimos sobre a questão da cultura, é enquanto produtor de cultura.
fundamental compreendê-la dentro de um universo de
relações sociais. Essa complexidade pode nos ajudar
a compreender as diferenças no interior de uma dada “O pensar antropológico, o pensar sobre o aparente
sociedade, como status, poder e possíveis desigualdades. paradoxo de o homem ser um só, como ser - espécie
Dessa forma, podemos classificar culturas a partir da da natureza, e ao mesmo tempo ser múltiplo em
posição social de seus integrantes, como por exemplo, a suas expressões coletivas, a cultura; o pensar sobre
partir dos conceitos de: o diferente ser o mesmo; sobre suas potencialidades
reais e recônditas de cada cultura – é fruto desse
• Cultura Popular: produzida de forma orgânica em uma momento criativo do iluminismo.”
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia. São Paulo: Contexto, 2011.p.11-12.
dada sociedade e vivenciada fora das instituições
oficiais, de forma espontânea, sem a necessidade de
uma aprendizagem formal.
Cultura é um dos conceitos mais importantes das ciências
• Cultura Erudita: produzida geralmente para uma elite humanas e existem inúmeras definições para ela. A origem
e é submetida a padrões críticos que independem do da palavra cultura vem do latim colere, que nos remete à
público. ideia de cultivar, construir. Tal significado estaria próximo
da definição que apresentamos anteriormente, como algo
produzido por comunidades humanas ao longo da história.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

À medida que estabelecemos relações sociais com outras


pessoas, produzimos cultura.
QUESTÃO 01
“O significado mais simples desse termo afirma
(UNIOESTE) “A separação entre cultura popular e cultura que cultura abrange todas as realizações materiais
erudita, com a atribuição de maior valor à segunda, está e os aspectos espirituais de um povo. Ou seja, em
relacionada à divisão da sociedade em classes, ou seja, outras palavras, cultura é tudo aquilo produzido pela
é resultado e manifestação das diferenças sociais. Há, de humanidade, seja no plano concreto seja no plano
acordo com essa classificação, uma cultura identificada imaterial, desde artefatos e objetos até ideais e
com os segmentos populares e outra, superior, identificada crenças. Cultura é todo complexo de conhecimentos
com as elites” e toda habilidade humana empregada socialmente.
(TOMAZI, Nelson D., Sociologia para o ensino médio. São Paulo: Saraiva, Além disso, é também todo comportamento aprendido,
2010). de modo independente da questão biológica.”
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de
Sobre cultura erudita e cultura popular, é CORRETO afirmar: conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006.

A A chamada cultura popular abrangeria expressões


artísticas como a música clássica de padrão europeu, Ao longo do tempo, diversos antropólogos se dedicaram
as artes plásticas, esculturas e pinturas, o teatro e a ao estudo da cultura, produzindo, assim, diversas
literatura de cunho universal. interpretações. Um dos antropólogos mais conhecidos
B A chamada cultura erudita encontra expressão nos mitos viveu no século XIX. Trata-se do britânico Edward Tylor, que
e contos, danças, música – de sertaneja à cabocla – apresentava uma visão sobre a cultura muito próxima dos
artesanato rústico de cerâmica ou de madeira e pintura, ideais iluministas europeus. Segundo Tylor, cultura poderia
corresponde, enfim, à manifestação genuína do povo. ser definida como “um conjunto complexo que inclui o
C A chamada cultura erudita abrangeria expressões conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os
artísticas como a música clássica de padrão europeu, costumes e todas as produções dos homens em sociedade”.
as artes plásticas, esculturas e pinturas, o teatro e a
literatura de cunho universal. As ideias iluministas sobre a cultura baseavam-se
D A chamada cultura erudita inclui expressões urbanas na crença de que a noção de cultura estava alinhada
recentes, como os grafites, o hip-hop e os sincretismos ao conceito de progresso dos povos e que deveria ser
musicais oriundos do interior ou das grandes cidades, o vista a partir de um ponto de vista universal. Ou seja,
que demostra haver constante criação e recriação no possíveis diferenças que existissem entre as diferentes
universo cultural. culturas serviriam apenas para demonstrar o grau de
E O folclore é a mais alta expressão da cultura erudita. desenvolvimento de cada sociedade. Dessa forma, algumas
delas seriam mais “evoluídas”, enquanto outras, “atrasadas”.

3
2.0 DIVERSIDADE CULTURAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

Inspirado na psicanálise e na antropologia funcionalista


Tylor desejava provar a continuidade entre cultura de Malinowski, Lévi-Strauss acreditava que elementos
primitiva e cultura mais avançada. Contra os que inconscientes também poderiam operar no universo da
estabeleciam uma ruptura entre o homem selvagem cultura e serviriam como condicionantes da vida em
e pagão e o homem civilizado e monoteísta, ele se sociedade. Segundo ele, existiria uma espécie de substância
esforçava para demonstrar o elo essencial que os unia comum aos homens independentes da cultura ou grupo que
e a inevitável caminhada do selvagem em direção ao estes fizessem parte. As diferenças culturais que pudessem
civilizado. Entre primitivos e civilizados, não há uma existir serviriam como “adjetivos” qualificadores que não
diferença de natureza, mas simplesmente de grau de fariam com que se perdesse de vista a estrutura a que uma
avanço no caminho da cultura. Tylor combateu com determinada sociedade estivesse vinculada.
ardor a teoria da degenerescência dos primitivos,
inspirada por teólogos que não podiam imaginar Ao fazer isso, Lévi-Strauss emprega pela primeira vez,
que Deus tivesse criado seres tão “selvagens”, teoria de modo sistemático, seguindo o modelo da linguística,
que permitia não reconhecer, nos primitivos, seres técnicas e conceitos – desde o levantamento estatístico
humanos como os outros. Para ele, ao contrário, até os mais modernos instrumentos lógico-matemáticos –
todos os humanos eram totalmente seres de cultura, que os estudiosos anteriores haviam ignorado ou utilizado
e a contribuição de cada povo para o progresso era de modo muito limitado. Ele conseguiu demonstrar
digna de estima. concretamente que, além da extraordinária complexidade
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: Edusc, e variedade dos sistemas de parentesco existentes, certas
1999. p. 38.
relações e certas estruturas permanecem constantes,
embora sob formas diferentes.
ROTA, Ana Francesca. Estruturalismo e ciências humanas. In: ROVIGHI, Sofia
No final do século XVIII e no princípio do seguinte, o Vanni. História da filosofia contemporânea: do século XIX à neoescolástica.
termo germânico kultur era utilizado para simbolizar todos São Paulo: Loyola, 2004. p. 550.

os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a


palavra francesa civilization referia-se principalmente às É importante lembrar que a noção de cultura não pode ser
realizações materiais de um povo. Ambos os termos foram percebida como algo estático, mas como algo dinâmico. Da
sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) no vocábulo inglês mesma forma que as sociedades se transformam ao longo
culture, que “tomado em seu amplo sentido etnográfico é do tempo, os valores, práticas e significados que constituem
este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, essas sociedades também acompanham essas mudanças.
arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade Para observar essa transformação, basta você imaginar
ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma como inúmeros valores e práticas foram se transformando
sociedade”. Com esta definição, Tylor abrangia em uma em nossa sociedade. Por exemplo, há pouco mais de cem
só palavra todas as possibilidades de realização humana, anos, a escravidão era considerada uma prática comum e
além de marcar fortemente o caráter de aprendizado da aceita por inúmeras pessoas.
cultura em oposição à ideia de aquisição inata, transmitida
por mecanismos biológicos.
VIDEOAULA

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p.28 INDÚSTRIA CULTURAL

À medida que a Antropologia foi se desenvolvendo


enquanto ciência, diversas linhas de interpretação foram INTRODUÇÃO
surgindo, entre elas a visão particularista, representada
pelo alemão Franz Boas, a visão funcionalista, representada Cultura de massa e a indústria cultural
por Bronislaw Kasper Malinowski, e a visão estruturalista,
de Lévi-Strauss. Ao longo do século XX, percebemos um importante
desenvolvimento do modelo econômico que chamamos
O alemão Franz Boas propôs uma forma de interpretação de capitalismo, e esse fenômeno impactou completamente
das culturas de uma maneira bem diferente daquela os mais diversos setores da nossa sociedade, entre eles, o
percebida por Tylor. Enquanto o antropólogo britânico universo da cultura. Foi a partir dessa transformação que
mantinha uma perspectiva universal e evolucionista sobre nasceu, ao lado da cultura popular e erudita, a cultura de
as culturas, Boas compreendia que as culturas deveriam massa. Ela é o resultado da invasão dos produtos industriais
ser observadas de forma específica, também conhecida no universo da cultura. Nela, a cultura transforma-se em
como particularismo. Ele defendia uma linha antropológica objeto, em mercadoria. Segundo Edgar Morin, a cultura de
relativista. Para Boas não existe cultura, mas, sim, culturas, massas, que é pautada por interesses econômicos, opera
e cada uma delas deve ser compreendida dentro do seu na imposição de símbolos, de fácil universalização, que são
próprio contexto. descontextualizados de sua cultura de origem.

Para Malinowski só seria possível o entendimento dos “A cultura de massas recebe o seu duvidoso nome
complexos culturais dos povos se levarmos em consideração exatamente por conformar-se às necessidades de distração
o papel de cada elemento de cultura no conjunto e diversão de grupos de consumidores com um nível de
constituído. Cada cultura deveria ser compreendida de formação relativamente baixo, ao invés de, inversamente,
forma sistêmica. De acordo com ele, a cultura constitui formar o público mais amplo numa cultura intacta em sua
um tipo de integralidade em que vários elementos são substância”.
interdependentes. HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1984. p. 195.

4
2.0 DIVERSIDADE CULTURAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

ESCOLA DE FRANKFURT A Somente I e II são corretas.


B Somente I e III são corretas.
A cultura de massa tornou-se um importante produto da C Somente I, III e IV são corretas.
Indústria Cultural, conceito desenvolvido pelos integrantes D Somente II e IV são corretas.
do Instituto de Pesquisa Social, que ficou conhecido como E Todas as afirmativas são corretas.
Escola de Frankfurt e teve como alguns de seus mais icônicos
membros Theodor Adorno e Max Horkheimer. A Escola de

VIDEOAULA
Frankfurt teve um papel fundamental nesse fenômeno, ao ESTRATIFICAÇÃO E
denunciar o ato de alienar, que é típico da Indústria Cultural. DESIGUALDADE SOCIAL

A partir da Segunda Revolução Industrial, no século XIX,


e da predominância das regras do mercado capitalista, Vamos discutir um pouco sobre esse fenômeno, que é
as artes, a cultura e a mídia foram submetidas à ideologia uma realidade não só no Brasil, mas também em diversos
países do mundo. Vamos estudar diversas formas de
da indústria cultural. Ou seja, os produtos de criação da
desigualdade e estratificação social presentes nas
cultura dos homens foram submetidos à ideia de consumo, mais diversas sociedades. É muito comum acreditar que
como produtos fabricados em série. As obras de arte se desigualdades sociais ocorrem a partir de uma perspectiva
transformam em meras mercadorias, produtos de consumo, econômica. Em parte, isso é verdade, mas existem diversas
em que a maioria dos bens artísticos não é criada para a outras formas de diferenciar as pessoas, como por meio
contemplação, para a busca do belo, e sim para a obtenção de desigualdades de ordem étnico-racial, gênero, classe,
de lucros. [...] A indústria cultural massifica a cultura e as artes orientação sexual, idade, por exemplo. Essas desigualdades
para o consumo rápido no mercado da moda e na mídia. influenciam diretamente na forma como determinados
Massificar é banalizar as artes e a produção das ideias e, indivíduos convivem no seu meio social, assim como podem
também, vulgarizar os conhecimentos. possuir – ou não – acesso a direitos e recursos.
OLIVEIRA, Luís Fernandes de; COSTA, Ricardo César Rocha da. Sociologia
para jovens do século XXI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007. p. 157. Se o nosso objetivo é compreender o fenômeno das
desigualdades sociais, é importante estarmos atentos a três
conceitos fundamentais: a estrutura social, a mobilidade
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

social e a estratificação social.

QUESTÃO 02 A Estrutura Social é determinada pelo modo como uma


determinada sociedade se organiza em diversos aspectos,
como o econômico, cultural, social, político e histórico. Essa
(INTERBITS) A clivagem entre o popular e o erudito (e é uma grande ferramenta para a sociologia, na tentativa de
a ignorância de fundir o erudito com o bom) é apenas compreender uma determinada sociedade. Por exemplo,
parte dessa discussão. Esse tipo de pensamento, com se quisermos compreender a realidade social brasileira,
a reafirmação de símbolos para separar “nós” da plebe, é imprescindível analisar as estruturas sob as quais nossa
expressa mais preconceito de classe do que qualquer outra sociedade foi fundada, principalmente no nosso período
coisa. colonial. Se fizermos isso, algumas características vão
se destacar, como a escravidão, o patrimonialismo e
Nos grandes centros, o consumo da chamada cultura o patriarcalismo. Alguns desses elementos podem ser
regional tradicional ganhou espaço entre os mais ricos e percebidos nas pinturas do pintor e desenhista francês
formadores de opinião. Virou cult. É em cima dessa análise Jean-Baptiste Debret, que integrou a missão artística
que muitos querem resgatar, forçosamente, um passado francesa no Brasil.
“menos selvagem” em que a população de determinado
lugar consumia esse tipo de arte da qual também gostamos.
Sem se atentar que as coisas mudam, ou que a indústria
cultural tem seus processos – que fazem ricos empresários
que, ironicamente, bancam esses mesmos formadores de
opinião.
Blog do Sakamoto. 22 nov. 2012. Adaptado. Disponível em <http://
blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2012...intelectual/>. Acesso em 22
nov. 2012.

O texto retoma uma divisão muitas vezes apresentada entre


cultura popular e cultura erudita. Sobre esse tipo de relação,
assinale quais são as afirmativas corretas. “Aplicação do Castigo do Açoite”, Jean-Baptiste Debret

I. A divisão entre cultura erudita e popular é socialmente


construída.
II. A indústria cultural incide sobre essa divisão, muitas
vezes reforçando-a.
III. A identidade nacional é construída também a partir de
signos culturais tradicionais.
IV. Há um desejo por distinção social quando certas classes
procurar diferenciar seus objetos artísticos de outros
“menos nobres”.

Empregado do governo saindo a passeio», 1820, de Jean-Baptiste Debret

5
2.0 DIVERSIDADE CULTURAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

A expressão Estratificação diz respeito ao modo como SOCIEDADE ESTAMENTAL


uma determinada sociedade está dividida, isto é, como
cada camada social se sobrepõe à outra. É importante As formas de organização das sociedades em estamentos
lembrar que a estratificação está associada à organização podem ser percebidas ao longo da história nas mais diversas
histórica de uma determinada sociedade, ligada regiões do planeta, e o modelo mais conhecido predominou
diretamente à cultura de um determinado grupo. Existem na Europa medieval. Nela, podemos perceber, além de uma
diversas formas de estratificação social, mas no capítulo de forte influência do cristianismo, uma importante ligação
hoje iremos discutir três delas: as castas, os estamentos e com o modo de vida rural. Nessa sociedade, a posse da
as classes. Em cada uma delas, as desigualdades sociais terra era um dos principais elementos de diferenciação
assumiram diferentes formas. social. No modelo feudal europeu, a sociedade era dividida
principalmente em três partes, cada uma delas chamada de
Outro elemento fundamental é o conceito de Mobilidade estamento: o clero (membros da Igreja Católica), a nobreza
Social, que representa a possibilidade de um determinado (dirigentes políticos e guerreiros) e servos (camponeses). Na
indivíduo mudar a sua posição na hierarquia social. Os sociedade estamental, a mobilidade social era bastante
tipos de mobilidade social podem variar de acordo com a limitada devido ao seu caráter hierárquico. Se compararmos
organização de cada sociedade. com o modelo de castas, o sistema estamental é mais
“aberto”, pois, apesar de manter rígidos obstáculos, não
impede a mobilidade social.
VIDEOAULA

TIPOS DE ESTRATIFICAÇÃO

SOCIEDADE DE CASTAS

Apesar de ter existido em diferentes sociedades, como a


do Japão, o modelo de castas estruturou a vida de milhões
de pessoas na Índia. Elas se caracterizam por comunidades
fechadas que compartilham características hereditárias,
em que são imutáveis as condições políticas, econômicas
e as posições sociais. Isso significa que, na sociedade de
castas, não existe mobilidade social. No caso indiano, essa Fonte: Fonte: Wikimedia Commons
estrutura é definida a partir do elemento religioso, no caso
o hinduísmo, que controla a vida dos indivíduos a partir da SOCIEDADE DE CLASSES
percepção de vidas passadas. No caso, se você teve em
vida um bom comportamento, a tendência é que você seja Com a passagem da Idade Média para a Idade Moderna,
recompensado na próxima vida, caso contrário, se você não uma série de transformações ocorreu nos mais diversos
viver da maneira adequada, é possível que você renasça setores da sociedade. Inevitavelmente, isso modificou
em uma casta inferior. Oficialmente, o modelo de castas não a estrutura e organização das sociedades. Uma dessas
está mais em vigor na Índia desde a Constituição Indiana de mudanças deu brecha para o nascimento de um modelo
1950, mas ainda influencia diretamente a vida das pessoas. que viria a ser chamado de capitalista, que reorganizou a
distribuição de recursos e criou o que chamamos de classes
Existem milhares de subastas na Índia, mas é possível sociais. No modelo de classes, os fatores econômicos são
fazer uma leitura a partir das 4 principais delas: Brâmane, fundamentais para a organização da sociedade.
Xátrias, Vaixás e Sudras. Os dalits, como você pode ver na
imagem abaixo, também são conhecidos como párias ou Uma das principais características da sociedade de
intocáveis e representam um dos grupos mais discriminados. classes é a possibilidade de mobilidade social, que pode
ser vertical ou horizontal. No modelo vertical, o indivíduo
altera a sua classe social tanto de modo ascendente como
descendente. No modelo horizontal, a mobilidade social
pode ocorrer na mesma classe social.

Fonte: IBGE
Fonte: https://www.portalternurafm.com.br/noticias/nacional-e-
internacional/mesmo-com-proibicao-por-lei-sistema-de-castas-
continua-a-existir-na-india/57864

6
2.0 DIVERSIDADE CULTURAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

Sugestão de curta-metragem: Ilha das Flores (1989) outro, especialmente quando por qualquer circunstância
este outro é diferente de mim, é escutando-o. Assim,
quando ouvi que não deveria usar turbante, entre outros
símbolos culturais das mulheres negras, fui escutá-las. Acho
que isso é algo que precisamos resgatar com urgência.
Não responder a uma interdição com uma exclamação:
“Sim, eu posso!”. Mas com uma interrogação: “Por que eu
não deveria?”. As respostas categóricas, assim como as
certezas, nos mantêm no mesmo lugar. As perguntas nos
levam mais longe porque nos levam ao outro.
(...)
BRUM, Eliane. De uma branca para outra. El País. 20 de fevereiro de 2017.
Adaptado. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/20/
opinion/1487597060_574691.html>

Assinale a alternativa que apresenta o conceito sociológico


Um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade que melhor representa o desejo de compreensão do outro
de consumo. Acompanhando a trajetória de um simples apresentado pela autora:
tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta
escancara o processo de geração de riqueza e as A Etnocentrismo.
desigualdades que surgem no meio do caminho. B Antropocentrismo.
C Relativismo Cultural.
D Fato Social.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

E Relativismo Físico.

QUESTÃO 03
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

(UNISC) “O grupo do ‘eu’ faz, então, de sua visão a única


possível, ou mais discretamente se for o caso, a melhor, a
QUESTÃO 05
natural, a superior, a certa. O grupo do ‘outro’ fica, nessa
lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou (UEMA) (...) Uma opinião diversa da minha, um modo de
inteligível”. se comportar oposto ao meu, obriga-me a refletir. Eu
ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. 1. ed. São Paulo: me questiono o que enriquece minha maneira de ver, de
Brasiliense, 1984, p. 9. pensar e de agir. Enfim, o outro me faz progredir e ajuda-
me na construção de minha personalidade. Não se trata de
A citação explicita o fenômeno social denominado aceitar, sem refletir, os modismos ou de ser um cata-vento
etnocentrismo. Assinale entre as alternativas abaixo aquela girando aos quatro ventos. Trata-se, somente, de se abrir
que explica o conceito. ao mundo exterior, de ficar atento aos outros; ou seja, de
estar pronto a compreender, reagir, construir. O racismo
A O etnocentrismo demonstra como convivemos em somente será vencido quando nós soubermos dizer ao outro
harmonia com grupos e indivíduos que pertencem a uma um “muito obrigado”, tanto maior quanto maiores forem as
cultura diversa ou são reconhecidos como “diferentes” diferenças entre nós.
por não seguirem os padrões de comportamento JACQUARD, Albert. Todos semelhantes, todos diferentes. São Paulo:
socialmente aceitos na sociedade em que vivemos. Augustos, 1993.
B O etnocentrismo é uma visão de mundo (que pode
compreender ideias e ideologias) em que nosso próprio Os seres humanos se percebem na relação social com o
grupo é tomado como centro de referência e todos os outro e esse outro, dentro de um possível, nos leva a refletir
outros são pensados e avaliados através de nossos sobre o nosso modo de ser, de pensar e de agir. Na relação
valores, nossos modelos e nossas definições do que é a do eu – outro se constrói:
existência.
C O etnocentrismo é uma visão de mundo (que pode A idiolatricidade.
compreender ideias e ideologias) em que buscamos não B identidade.
julgar e não avaliar as diferenças e sim compreender as C igualdade.
especificidades culturais de cada grupo ou cultura. D idealidade.
D O etnocentrismo demonstra a luta de classe nas E idealismo.
sociedades capitalistas a partir da teoria marxista.
E O etnocentrismo é uma teoria que explica por que não ORIENTADA
RESOLUÇÃO

devemos interferir nas outras culturas.


QUESTÃO 06
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

(UEG) Leia os trechos da música a seguir.


QUESTÃO 04
3o do Plural
(INTERBITS) (...) Como para mim é mais difícil vestir a pele de Engenheiros do Hawaii
uma mulher negra, porque por ser branca eu tenho menos
elementos que me permitem alcançá-la, eu preciso fazer Corrida pra vender cigarro
mais esforço. Não porque sou bacana, mas por imperativo Cigarro pra vender remédio
ético. E a melhor forma que conheço para alcançar um Remédio pra curar a tosse

7
2.0 DIVERSIDADE CULTURAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

Tossir, cuspir, jogar pra fora Quinze minutos de fama


Depois descanse em paz
Corrida pra vender os carros O gênio da última hora
Pneu, cerveja e gasolina É o idiota do ano seguinte
Cabeça pra usar boné O último novo-rico
E professar a fé de quem patrocina É o mais novo pedinte
A melhor banda de todos os tempos da última semana
Eles querem te vender O melhor disco brasileiro de música americana
Eles querem te comprar O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado
Querem te matar (de rir) O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores
Querem te fazer chorar fracassos
Não importa a contradição
Quem são eles? O que importa é televisão
Quem eles pensam que são? Dizem que não há nada a que você não se acostume
Quem são eles? Cala a boca e aumenta o volume então
Quem eles pensam que são? As músicas mais pedidas
[...] Os discos que vendem mais
Satisfação garantida As novidades antigas
Obsolescência programada Nas páginas dos jornais
Eles ganham a corrida Um idiota em inglês
Antes mesmo da largada Se é idiota, é bem menos que nós
Um idiota em inglês
Eles querem te vender É bem melhor que eu e vocês
Eles querem te comprar A melhor banda de todos os tempos da última semana
Querem te matar (a sede) O melhor disco brasileiro de música americana
Eles querem te sedar O melhor disco dos últimos anos de sucesso do passado
O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores
Quem são eles? fracassos
Quem eles pensam que são? Não importa a contradição
Quem são eles? O que importa é televisão
Quem eles pensam que são? Dizem que não há nada a que você não se acostume
[...] Cala a boca e aumenta o volume então
Composição: Humberto Gessinger. Os bons meninos de hoje
Disponível em: https://www.letras.mus.br/engenheiros-do-hawaii/747530/. Eram os rebeldes da outra estação
Acesso em: 04 nov. 2020.
O ilustre desconhecido
É o novo ídolo do próximo verão.
Os trechos da música “3o do Plural”, da banda Engenheiros TITÃS. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/titas/40320>. Acesso em:
do Hawaii, exprimem uma crítica direta a um importante 21 mar. 2019.
tema da Sociologia, qual seja:
A mensagem transmitida pela música aponta para um dos
A “Modernidade e modernização”, ao expressar uma temas fundamentais da sociologia, que foi desenvolvido
crítica à velocidade com que as interações sociais são por vários pensadores, entre eles Theodor Adorno e Max
desenvolvidas na sociedade moderna. Horkheimer. Nesse sentido, a mensagem remete
B “Sociedade de consumo e consumismo”, ao expressar
uma crítica à publicidade das grandes empresas que A ao caráter passageiro dos produtos culturais elaborados
promove o consumo exacerbado. pela indústria cultural.
C “Ideologia”, ao expressar uma crítica ao uso de bonés de B à globalização do gosto musical a partir da popularização
patrocinadores ao invés da transmissão de mensagens da televisão nos anos 1970.
imparciais. C à influência da língua inglesa nas composições musicais
D “Urbanização e evolução das cidades”, ao expressar dos artistas brasileiros.
uma crítica à tecnologia presente em carros, pneus, D à modernização da produção musical a partir da
cerveja e gasolina. reestruturação produtiva.
E “Desigualdade social”, ao expressar uma crítica elitista E ao caráter competitivo das relações sociais na sociedade
por meio da pergunta “Quem eles pensam que são?”. moderna.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 07

(UEG) Leia a letra da música a seguir.

A melhor banda de todos os tempos da última semana

Quinze minutos de fama


Mais uns pros comerciais

8
2.0 DIVERSIDADE CULTURAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

GABARITO

QUESTÕES ORIENTADAS

01 C 02 E 03 B

04 C 05 B 06 B

07 A

Acertos Erros Rendimento %

TOTAL DE ACERTOS
Total Total
07 Rendimento %
Questões Acertos

9
SOCIOLOGIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
RESPONDA

3.0 TRABALHO E PRODUÇÃO

Introdução

VIDEOAULA
TRABALHO NA HISTÓRIA: PRÉ-
HISTÓRIA, IDADE ANTIGA E MEDIEVAL
Você consegue imaginar quantas profissões
fazem parte do seu cotidiano? Motoristas, médicos,
PRÉ-HISTÓRIA
professores, vendedores, garis, advogados,
enfermeiros e jornalistas são apenas algumas das Primeiros agrupamentos humanos
profissões que fazem parte do nosso dia a dia.
Ao longo da história e nos mais diversos espaços Como vimos, a ideia de trabalho está diretamente
da sociedade, presenciamos o ser humano relacionada à origem da humanidade. Pesquisas indicam
que, até por volta de 10.000 a.C., as primeiras comunidades
desenvolvendo uma série de atividades as quais se
humanas viviam da caça, da coleta e da pesca. Ao longo
relacionam com a natureza, criando ferramentas da história, indivíduos criaram os mais diversos meios ao
não apenas para conseguir produzir alimentos, mas se relacionarem entre si e com a própria natureza. Os
também para melhorar a sua condição de vida. primeiros grupos humanos eram nômades, ou seja, não
se estabeleciam em determinado território por muito
tempo. Nessas sociedades, o trabalho caracterizava-se
basicamente pela divisão sexual do trabalho (homens
e mulheres), em que os homens cuidavam da caça e da
VIDEOAULA

CONCEITO DE TRABALHO proteção do grupo e as mulheres se responsabilizavam pela


manutenção das moradias e pelo cuidado com os filhos.

IDADE ANTIGA
Podemos definir trabalho como um conjunto de
atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce Com o passar do tempo, o homem passou a dominar
novas técnicas que permitiram significativa transformação,
para atingir determinado fim. É uma atividade humana que
como o domínio do fogo, o desenvolvimento da agricultura
transforma a natureza, a sociedade e as relações entre e a domesticação de animais. As relações sociais passaram
os seres humanos, a fim de atender às suas necessidades a se tornar mais complexas e isso possibilitou a criação de
socialmente construídas. O conceito de trabalho é um excedente, além de permitir o surgimento do comércio e
fundamental para as ciências humanas. Refletir sobre ele é a divisão da sociedade em novos grupos.
colocá-lo em uma perspectiva social. É no conjunto dessas
atividades que o ser humano transforma a natureza e
transforma a si mesmo.

Se observarmos a nossa história, muito antes da invenção


do dinheiro ou da moeda, os seres humanos praticavam
um sistema, chamado de sistema de trocas, para atender
suas determinadas necessidades. Dentro desse mesmo
sistema, homens e mulheres dividiam as tarefas em torno do
trabalho. Esse modelo de divisão social do trabalho ainda
é praticado por diversas comunidades indígenas. Ao passo Fonte: https://www.sohistoria.com.br/
que as relações sociais foram se transformando, outras
formas de lidar com a economia foram se desenvolvendo, “Entre os indígenas não há classes sociais como a do
como por exemplo a agricultura, o comércio e a indústria. homem branco. Todos têm os mesmos direitos e recebem o
mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos
e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes
(...) o trabalho revela o modo como o homem lida com a
de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado,
natureza, o processo de produção pelo qual ele sustenta a
arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O
sua vida e, assim, põe a nu o modo de formação de suas trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma
relações sociais e das ideias que fluem destas. divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela
MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1983. p. 149-150.
comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo
ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca,
guerra e derrubada das árvores.”

1
3.0 TRABALHO E PRODUÇÃO

IDADE MÉDIA

Durante a idade média europeia, vigorou um modelo de


trabalho conhecido como regime de servidão. Este modelo
pode ser percebido também na Rússia czarista e no Japão.
Os servos – normalmente camponeses – prestavam serviços
e pagavam impostos aos senhores feudais – os donos da
terra – em troca do direito de uso das propriedades.

SOCIEDADES ESCRAVISTAS

O trabalho escravo existe nas sociedades humanas


desde a antiguidade. Mesopotâmia, Egito, Grécia e Roma
são alguns desses exemplos. Diferente do que percebemos
na história do Brasil, a escravidão na antiguidade podia
ocorrer por diferentes fatores, dentre eles, o pagamento de
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

dívidas ou mesmo quando os indivíduos eram capturados


em guerras. Esses indivíduos, que eram escravizados, eram
QUESTÃO 01
tratados como mercadorias e obrigados a exercer os mais
variados tipos de trabalho para os seus senhores. No mundo
antigo, existiam duas modalidades de trabalho “escravo”. (UPE) Observe a imagem a seguir:
No oriente prevalecia a escravidão coletiva, enquanto no
ocidente prevalecia o trabalho escravo.

O modelo escravista ganhou novamente destaque com


o processo de expansão colonial, praticado pela Europa a
partir do século XV. Além da mão de obra indígena, diversas
pessoas foram trazidas do continente africano para as
Américas, e o comércio de escravos se tornou um dos
negócios mais lucrativos da época. Infelizmente, o trabalho
escravo não ficou como uma triste herança do passado.
Podemos perceber, ainda hoje, no Brasil e no mundo,
diversas formas de trabalho análogas à escravidão, seja no
ambiente urbano ou no meio rural.

A Lei n. 10.803/2003 define trabalho escravo como:

“é crime reduzir alguém à condição análoga à de


escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou Baseando-se na imagem, a relação de produção
a jornadas exaustivas, quer sujeitando-o a condições apresentada é conhecida como:
degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer
A Capitalista.
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o
B Socialista.
empregador ou preposto”.
C Escravista.
D Feudalista.
E Primitivista.

2
3.0 TRABALHO E PRODUÇÃO

PRODUÇÃO ARTESANAL
VIDEOAULA

TRABALHO NA HISTÓRIA: IDADE As corporações de ofício foram um dos símbolos da


MODERNA E CONTEMPORÂNEA passagem da idade média para a idade moderna. Lá, os
artesãos, além de serem trabalhadores, eram também
donos dos meios de produção, e dessa forma, realizavam
SOCIEDADE CAPITALISTA todas as etapas da produção sozinhos. À medida que
as inovações tecnológicas foram surgindo, esse modelo
A sociedade capitalista foi marcada pela presença, passou a perder, cada vez mais, espaço.
cada vez mais, das máquinas nas relações de produção.
Tal modelo tem como fundamento o lucro, que, segundo MANUFATURA
inúmeros teóricos, é obtido a partir da exploração dos
trabalhadores. Neste modelo, o trabalho passou a ser À medida que transformações técnicas foram surgindo,
assalariado. Segundo Karl Marx, o salário que o trabalhador as máquinas passaram a ocupar mais espaço no universo
recebe não corresponde, em dinheiro, ao valor do seu do trabalho e, com elas, iniciou-se um importante processo
trabalho. Esse conceito é conhecido como mais – valia. de separação entre o trabalhador e o proprietário dos
meios de produção. A manufatura é exatamente a transição
entre o modelo artesanal e o modelo industrial. Nela, alguns
trabalhadores são donos das fábricas, enquanto outros são
contratados para atender as demandas de produção.

PRODUÇÃO INDUSTRIAL

O século XVIII foi marcado por diversas transformações


técnicas, como o vapor como alternativa energética,
máquinas mais sofisticadas e a maior divisão social do
trabalho. Aqui fica mais clara a divisão entre os “empresários”
e os trabalhadores que vendem a sua força de trabalho.
Nesse cenário, o trabalho -mercadoria- não é medido pela
riqueza que ele gera, mas pela relação de oferta e procura.
Foi exatamente esse o cenário explorado por Marx ao
denunciar a exploração do trabalho pelo capitalismo.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 02

(UECE) Karl Marx (1818-1883) é, para a Sociologia, um dos


mais importantes teóricos e analistas da história e do
funcionamento do modo social de produção capitalista.
Independentemente do fato de que Marx tenha vinculado
a explicação e compreensão do capitalismo a uma visão
do futuro (o porvir de uma “sociedade comunista”) e a
uma vontade de ação (a revolução socialista/proletária), é
inegável sua importância, ainda atualmente, para o debate
sobre as lógicas e as consequências sociais desse sistema
socioeconômico.

Na perspectiva teórica de Marx, que define o modo social


de produção capitalista, apresentam-se como principais
características:

A a propriedade privada dos meios sociais de produção;


a mão de obra detentora da força de trabalho e a
exploração do trabalho alheio com a extração da mais-
valia.
Analisar a questão do trabalho dentro do modelo B a ideologia dominante do livre comércio; o trabalhador
capitalista é associá-lo ao seu processo de mercantilização. assalariado e compra da força de trabalho, e a
Ao longo do desenvolvimento desse modelo, ocorreu um propriedade comunal e estatal dos meios sociais de
processo de dissociação entre os meios de produção e o produção.
trabalhador. Em outras palavras, o trabalhador passou C o trabalho explorado/alienado; o Estado considerado
a vender a sua força de trabalho para a indústria, como comitê dos capitalistas; a mercantilização da vida
transformando essa força, assim, em objeto. Esse processo e a consideração do trabalhador como detentor dos
esteve associado à transformação das seguintes formas de meios sociais de produção.
produção: D a existência de classes sociais antagônicas; a ideologia
dominante da revolução social proletária e a produção e
socialização de lucros e dividendos das empresas.

3
3.0 TRABALHO E PRODUÇÃO

Com base na charge e nas ideias de Zygmunt Bauman,


ORIENTADA
RESOLUÇÃO

pode-se afirmar que o fenômeno da globalização...

QUESTÃO 03 A seleciona povos, países e setores que serão inseridos no


processo, determinando a forma da inserção.
(UNESP) A crise de abastecimento de água em São Paulo B uniformiza todos os países e atinge a todos da mesma
se agravou significativamente a partir de 2002, quando a maneira, sem distinção de etnia, credo e ideologia.
empresa pública Sabesp passou a priorizar a obtenção C distribui igualmente entre povos e países os produtos
de lucro. Com essa alteração, a água deixou de ser advindos do desenvolvimento econômico e tecnológico.
considerada bem público e recurso essencial para a D transforma as nações em uma só, criando uma verdadeira
sociedade, abandonando-se o foco na universalização dos “aldeia global”, na qual todos os povos são iguais.
serviços de saneamento básico. Nesse mesmo caminho, E padroniza o mundo social, cultural, política e
seguiu uma diretriz estratégica de atender à expansão economicamente, reduzindo as desigualdades entre as
econômica, beneficiando-se com a lucratividade do
nações.
aumento do consumo, ignorando a suficiência de água
para atender a essa crescente demanda. Do ponto de
vista neoliberal, a crise hídrica oferece “grandes e novas ORIENTADA

RESOLUÇÃO
oportunidades” de negócios, tanto para obras como para
serviços, especialmente no setor de gestão das águas, uma
vez que se trata de um bem essencial de que todos são
QUESTÃO 05
obrigados a dispor a qualquer preço e custo.
Delmar Matteret al. “As obras e a crise de abastecimento”. www. (UNESP) “Eu tinha muito medo, estava sozinha, não tinha
diplomatique.org.br, 06.02.2015. Adaptado.
como não trabalhar. Ela não me deixava amamentar meu
No texto, o problema do abastecimento de água em São filho pela manhã, dizia que eu perderia tempo.” (Dora E. A.
Paulo é abordado sob o ponto de vista... Calle)

A da crise ética da sociedade e das questões relativas ao “Quando eu precisava sair da casa, sempre tinha que pedir
negligenciamento dos valores morais e espirituais. a chave. E nessa hora, a chave sempre sumia.” (Raul G. P.
B da defesa da necessidade de investimentos públicos Mendoza)
para a construção de novos reservatórios de água.
C dos efeitos positivos da racionalidade instrumental ao “A casa onde eu trabalhava tinha outros 14 bolivianos, que,
converter a natureza em objeto de dominação. assim como eu, queriam guardar dinheiro e voltar para nosso
D das tendências do sistema capitalista de transformar país. Mas não é bem assim que acontece.” (Alicia V. Balboa)
toda a realidade em mercadoria disponível no mercado. Bárbara Forte. “Tecendo sonhos”. https://noticias.bol.uol.com.br, 09.05.2019.
E das consequências do aumento da demanda ocasionado .
pela democratização do consumo da água.
Esses depoimentos retratam a realidade vivida por
imigrantes bolivianos que trabalharam no setor têxtil da
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

capital paulista.

QUESTÃO 04 Os depoimentos evidenciam:

(UEMA) “O sociólogo Zygmunt Bauman, em seu livro A a competitividade da Divisão Internacional do Trabalho.
Globalização: as consequências humanas, afirma que
B a relação de trabalho análoga à escravidão.
a ‘globalização‘ tem sido apresentada como o destino
irremediável do mundo, mas que, no fenômeno da C o processo de segregação estimulado pela xenofobia.
globalização, há mais coisas do que pode o olho apreender, D a flexibilização das leis trabalhistas.
pois o fenômeno da globalização tanto divide como une.” E o descompasso do trabalho formal com as mudanças da
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1999. (adaptado)
globalização.

Essa crítica do autor é, também, expressa em outras ORIENTADA


RESOLUÇÃO

linguagens, como na charge abaixo:


QUESTÃO 06

(UPE) O trabalho como dimensão das relações sociais sempre


existiu para satisfazer as necessidades da humanidade
por meio da interação dos indivíduos com a natureza. Ao
longo da história das sociedades, o trabalho teve o mesmo
valor para os diferentes grupos. Com a complexificação
das relações sociais, as características que diferenciam o
trabalho de uma sociedade para outra foram ficando mais
visíveis. Sobre isso, observe a imagem a seguir:

4
3.0 TRABALHO E PRODUÇÃO

larga escala só poderia ser lucrativa caso o consumo também


fosse massificado. Para tanto, ele desenvolveu um modelo
produtivo que barateava o custo de produção, a partir de
um modelo móvel, em uma linha de montagem em que os
trabalhadores que eram especializados em uma determinada
tarefa realizavam um trabalho repetitivo, enquanto o objeto a
ser produzido se deslocava ao longo de uma “esteira”.

Com base nas informações contidas na imagem e nas


características do trabalho na sociedade moderna, é
INCORRETO afirmar que: https://ensinarhistoria.com.br/tempos-modernos-ainda-tao-atual/ - Blog:
Ensinar História - Joelza Ester Domingues.
A a cooperação simples caracteriza um período de
transição entre o trabalho feudal e o trabalho nas Na linha de montagem, Carlitos realiza a repetitiva tarefa
sociedades modernas. de apertar parafusos. Cena de “Tempos Modernos” (1936).
B no processo de manufatura, a cooperação é do tipo
avançada, pois o produto final era o resultado de linha O modelo taylorista-fordista, pautado no consumo em
massa, foi um grande sucesso durante algumas décadas,
de montagem manual.
mas sofreu com algumas dificuldades, entre elas:
C a manufatura foi um processo importante para a inserção
da maquinofatura, pois o aumento da demanda social • A falta de flexibilidade na produção;
por produtos impulsionou a criação de máquinas; estas • Devido à rigidez do modelo, os trabalhadores possuíam
substituíram os muitos trabalhadores da manufatura. baixa autonomia e engajamento, restando para eles
D as máquinas, substituindo a mão de obra artesanal, apenas um trabalho repetitivo e alienante;
permitiram uma produção em larga escala. Isso tornou • Devido à produção massificada, o fordismo não
o trabalho, nas sociedades modernas, um fator de conseguia atender à demanda de “nichos” de consumo.
desigualdade social ainda maior entre os que tinham
condições de financiar o processo fabril e os operários
das máquinas, que só possuíam a força de trabalho.
E o trabalhador era livre, tinha uma jornada alta de trabalho
e ótimas condições sociais, com direitos trabalhistas e
civis que o tornavam um elemento importante para os
empresários financiadores das fábricas.
VIDEOAULA

MODELOS DE PRODUÇÃO:
TAYLORISMO E FORDISMO
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

TAYLORISMO
QUESTÃO 07
O modelo industrial instituiu a clara dissociação entre o
trabalhador e o proprietário dos meios de produção. Diante (FUVEST) Ao opor operários sob vigilância e operários
desse cenário, diversos intelectuais buscaram compreender a domicílio, a fábrica reduziu os seus custos sem se ver
os impactos das relações de trabalho em nossa sociedade. necessariamente obrigada a adotar uma tecnologia mais
Entre eles, Frederick Winslow Taylor, que entendia que eficaz. O argumento da superioridade tecnológica não é,
a divisão de tarefas no interior da fábrica poderia ser portanto, nem necessário nem suficiente para explicar o
analisada a partir do que ele chamou de gestão científica. advento e o êxito da fábrica.
A partir dela, seria possível descobrir novas formas mais Stephen Marglin. “Origens e funções do parcelamento das tarefas”. Revista
efetivas e racionais de produção. O modelo taylorista de Administração de Empresas, v.18, no 4. Rio de Janeiro, 1978, p.14.
.
representou um maior controle sobre os trabalhadores e,
como forma de estímulo, eles deveriam receber de acordo
com a produtividade. De acordo com o economista norte-americano, o triunfo da
organização econômica fabril deve ser compreendido...
FORDISMO
A por meio do maciço investimento na tecnologia das
Diante do enorme crescimento da produção, foi grandes máquinas, diminuindo os custos da produção.
necessário ampliar o mercado consumidor, e a solução para B pela capacidade de controlar e padronizar as diferentes
essa demanda foi proposta por Henry Ford, por meio de um etapas do processo produtivo, por meio da disciplina.
processo de massificação. Segundo Ford, a produção em C pelo processo de concentração de operários, que
estimulou a disputa por vagas e a diminuição dos salários.

5
3.0 TRABALHO E PRODUÇÃO

D através da substituição das formas artesanais das oficinas Nesse sentido, as características do fordismo e do
domésticas pela estrutura de guildas e corporações. taylorismo, no início do século XX, em novo ordenamento
E por meio de estratégias de gestão que incidiam na divisão social do trabalho, são, respectivamente,
do trabalho e na introdução de bônus por produtividade.
A especialização da administração e solidarismo,
ORIENTADA flexibilização, robótica.
RESOLUÇÃO

B automação, fragmentação e cooperação, manufatura,


rigidez do trabalho.
QUESTÃO 08
C mecanização, automação, precariedade do trabalho e
estabilidade no emprego, solidarismo.
(UPE) Observe a imagem a seguir: D impessoalidade das normas, flexibilização do trabalho,
robótica e controle das atividades, fluidez do trabalho.
E controle das atividades, mecanização e impessoalidade
das normas, rigidez do trabalho, especialização da
administração.

VIDEOAULA
MODELOS DE PRODUÇÃO:
TOYOTISMO E VOLVISMO

TOYOTISMO

Foi diante desse cenário que, em meados da década de


1970, diversas empresas passaram a repensar seus modelos
produtivos e suas relações de consumo, apostando em um
avanço tecnológico, como na robótica e na microeletrônica,
e na maior liberdade os para trabalhadores. Esse seria um
grande passo para a Terceira Revolução Industrial. Foram
os japoneses que deram início a esse processo, chamado
Desde o início do século XX, o sistema capitalista reordenou Toyotismo, que se baseava em um modelo mais flexível
as relações de trabalho, por meio da organização da de produção, na redução de estoques e na produção sob
produção, o que possibilitou a acumulação do capital
demanda – just in time. O papel do trabalhador também
de forma flexível. Nesse contexto, o processo produtivo
mudou com o toyotismo. Nele, os funcionários passaram a
verticalizado, apresentado na imagem, denomina-se:
ser mais envolvidos no processo produtivo e a desempenhar
A Fordismo/taylorismo. diferentes e múltiplas tarefas.
B Toyotismo.
C Mercantilismo.
D Volvismo.
E Capitalismo manual.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 09

(UEMA) A etimologia do termo trabalho deriva do vocábulo


tripallium, que significa “instrumento de tortura”. O trabalho
foi associado à ideia de castigo, tortura, atividade penosa.
Ao longo do tempo, houve várias interpretações do sentido Essas transformações técnicas e sociais resultaram em um
de trabalho. No feudalismo, o trabalhador tinha uma visão modelo de sociedade que chamamos de globalizado. Nele,
total do produto. Com a consolidação da sociedade as relações de trabalho assumiram diferentes realidades.
industrial, o modelo fordista e o taylorista fragmentaram o Em um cenário de enorme fluxo de informações, capitais e
processo de produção, conforme imagem abaixo. produtos, de um lado temos uma pequena quantidade de
funcionários que, com seu alto salário, é capaz de gerenciar
esse modelo, marcado pela informatização e robótica, e do
outro lado, temos uma massa de trabalhadores que vive à
margem dessa realidade, que enfrenta difíceis condições
de trabalho, que luta contra o desemprego estrutural e que,
por muitas vezes, encontra, na informalidade, a alternativa
ao desemprego. Diversos autores costumam afirmar
que o modelo globalizado trouxe uma dura realidade
de precarização das relações trabalhistas, por meio da
flexibilização de direitos e de um intenso processo de
terceirização da mão-de-obra.

6
3.0 TRABALHO E PRODUÇÃO

“O importante é que a exclusão de uma parte intensifica a relação entre empresas que intermediam a demanda de
exploração de outra. Na maioria dos países, e certamente no trabalhadores cada vez mais informais, que abre espaço
Brasil, existe uma sobreoferta de trabalho desqualificado ou para uma grande discussão, afinal, da mesma forma que se
escassamente qualificado. A pressão do grande número de torna uma importante alternativa ao desemprego, também
excluídos conserva o padrão salarial desses trabalhadores escancara um grande processo de precarização da mão de
num nível baixo, limitado apenas pela legislação do salário obra, já que os trabalhadores passam a não estabelecer
mais vínculos empregatícios.
mínimo. [...] a crescente informalização das relações de
trabalho está agora golpeando também trabalhadores
qualificados e antigos empregados com grau universitário. As
longas jornadas de trabalho praticadas por trabalhadores
informais resultam em mais demissões e crescimento do
número de desempregados, avolumando as fileiras dos
trabalhadores informais. Não há dúvida de que a exclusão
alimenta a exploração e a exploração (particularmente do
trabalhador informal) alimenta a exclusão.”
SINGER, P. Globalização e desemprego: diagnósticos e alternativas. São
Paulo: Contexto, 1998. p. 34.

VOLVISMO

Outro importante modelo de produção foi o Volvismo,


que foi criado pelo engenheiro indiano Emti Chavanmco,
na década de 1960. Ele busca conciliar aspectos humanos
e tecnológicos nos sistemas de produção. Tal proposta é
baseada na flexibilidade da organização do trabalho, na
autonomia do trabalhador – com destaque para a sua
participação no processo de criação –, no bem-estar
Infoproletários: degradação real do trabalho virtual –
dos funcionários, na automação do sistema produtivo e
Ricardo Antunes e Ruy Braga. Editora Boitempo.
no investimento em aperfeiçoamento e treinamento dos
operários. Infoproletários evidencia a associação oculta entre o
uso de novas tecnologias e a imposição de condições de
trabalho do século XIX em um dos setores considerados como
VIDEOAULA

mais dinâmicos da economia moderna: o informacional. Ao


UBERIZAÇÃO DO TRABALHO contrário do que é prometido pelos entusiastas deste novo
segmento, os trabalhadores vivenciam uma tendência
crescente de alienação do trabalho em escala global.
Vivemos na era da informação. O avanço da tecnologia, A obra reúne uma série de ensaios que esquadrinham
principalmente no campo informacional, tem transformado diferentes aspectos da rotina e do modo de vida daqueles
que, apesar de frequentemente arruinarem suas vozes ao
os mais diversos setores da nossa vida e, entre eles,
transformá-las em poderosos instrumentos de acumulação
podemos destacar as relações de trabalho. Com o avanço de capital, raramente são ouvidos. A classe trabalhadora é
de política de flexibilização das relações de trabalho que retratada neste livro em duas representações polarizadas.
presenciamos nas últimas décadas e com a crescente De um lado, aparecem os operadores de telemarketing.
onda de desemprego vivenciada nos mais diversos países, Globalizados em sua relação social, totalizados em
o número de pessoas que recorre à informalidade como sua subordinação, monitorados em cada um de seus
alternativa de sobrevivência tem crescido a cada dia. É movimentos, punidos por cada infração às regras,
nesse contexto que nasce um fenômeno conhecido como resumem e simbolizam os novos trabalhadores atrelados
Uberização do trabalho, que prevê um modelo de relação ao resplandecente, porém inatingível, mundo do consumo.
trabalhista mais flexível, informal e estabelecido a partir de Sua imaginação é totalmente circunscrita e dirigida pelo
demandas. capitalismo. Já, em outro extremo, estão os aristocratas do
cibertrabalho, os programadores de software, gabando-
se e desfrutando sua autonomia enquanto se movem em
espiral pelo espaço e pelo tempo. Eles não são menos
“É natural que isso aconteça por conta prisioneiros da própria individualidade, intoxicados por
do cenário econômico, não só do Brasil, seu ilusório empreendedorismo. Segundo Michel Burawoy,
mas do mundo. Há um grande aumento na sociólogo que assina a orelha do livro, ‘a obra aponta para
automação e na inteligência artificial, que cuida a profunda transformação sofrida pela classe trabalhadora
das tarefas repetitivas. Isso faz com que aumente e o projeto de movimento internacional operário, ante os
uma demanda por um novo tipo de trabalho, onde parâmetros verificados por Karl Marx em seu tempo. Apenas
as próprias pessoas querem ter uma nova rotina, a articulação entre múltiplas identidades - de gênero, de
com autonomia nas tarefas e a possibilidade de nacionalidade, de raça, assim como de classe - forjadas em
optar por quando querem trabalhar” terrenos políticos que transcendam a produção imediata
Débora Gontijo, advogada trabalhista. Fonte: https:// lhes permitirá se rebelar contra o mercado e desafiar o
guiadoestudante.abril.com.br capital global - mas, mesmo assim, apenas em um grau
limitado e de uma forma fragmentária. Essa é certamente a
mensagem deste livro - que revela a experiência cotidiana
Esse fenômeno, conhecido também por “economia vivida por essa nova classe trabalhadora globalizada
compartilhada”, presente nos nossos dias, consolidou uma ligada aos serviços’.
Fonte: Amazon.

7
3.0 TRABALHO E PRODUÇÃO

SUGESTÃO DE FILME GABARITO

Tempos Modernos (1936) QUESTÕES ORIENTADAS

01 C 02 A 03 D

04 A 05 B 06 E

07 B 08 A 09 E

10 C

Acertos Erros Rendimento %

TOTAL DE ACERTOS
Total Total
10 Rendimento %
Questões Acertos

Um operário de uma linha de montagem, que


testou uma “máquina revolucionária” para evitar a
hora do almoço, é levado à loucura pela “monotonia
frenética” do seu trabalho. Após um longo período em
um sanatório, ele fica curado de sua crise nervosa, mas
desempregado. Ele deixa o hospital para começar
sua nova vida, mas encontra uma crise generalizada e
equivocadamente é preso como um agitador comunista,
que liderava uma marcha de operários em protesto.
Simultaneamente, uma jovem rouba comida para salvar
suas irmãs famintas, que ainda são bem garotas. Elas
não têm mãe e o pai delas está desempregado, mas o
pior ainda está por vir, pois ele é morto em um conflito. A
lei vai cuidar das órfãs, mas enquanto as menores são
levadas, a jovem consegue escapar.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 10

(FGV) Na década de 1970, o modelo de produção industrial


fordista mostrava-se incapaz de conter as contradições
inerentes ao capitalismo. Essa incapacidade pode ser resumida
em uma única palavra: rigidez. A recessão dos anos 70,
exacerbada pelos choques do petróleo, deu início a numerosos
processos que solaparam o modelo fordista e, em consequência,
seguiu-se um período de reestruturação econômica e de
reajustamento social e político – a acumulação flexível.
Adaptado de HARVEY, David. Condição pós-moderna.

Com relação às características do regime de acumulação


flexível, assinale a afirmação correta.

A Incentiva a criação de unidades fabris concentradas e


verticalizadas, aumentando o ritmo produtivo.
B Regulamenta as relações de trabalho mediante
negociações coletivas, garantindo a estabilidade do
emprego.
C Elimina a demarcação de tarefas, enfatizando a
corresponsabilidade dos trabalhadores no processo
produtivo.
D Estimula a produção em série, exigindo a formação de
grandes estoques de matérias-primas e de produtos finais.
E Possibilita a fabricação em massa de produtos
homogêneos, estimulando o consumo em grande escala
de bens duráveis.

8
SOCIOLOGIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
RESPONDA

4.0 PODER, ESTADO E POLÍTICA

Segundo o texto:
Introdução
A era considerado cidadão aquele que recusava a política,
que não participava dos assuntos públicos e só se
A Ciência Política é um dos mais importantes ocupava com a própria vida.
campos das Ciências Sociais. Nela buscamos analisar B havia uma lei que obrigava gregos a se envolverem com
e compreender as relações de poder existentes os assuntos coletivos, sob pena de terem seus direitos e
entre os Estados e entre eles e as suas respectivas sua liberdade cerceados.
sociedades. Foram os gregos, ainda na antiguidade, C aqueles que se envolviam com a política eram tão idiotas
que desenvolveram o conceito de política. Para quanto os que privilegiavam a vida privada, pois não
eles, o termo faz referência a organização das pólis, percebiam que a política é o campo de atuação dos
cidades-Estado gregas. O próprio filósofo grego corruptos.
Aristóteles que definiu o homem como um “animal D a liberdade estava intrinsecamente ligada à ideia de
político” (Zoon Politikon), ressaltando a natureza cidadania, pois só podia se considerar livre aquele que
humana e a sua interação com a pólis. participasse da condução coletiva dos assuntos da
cidade.
E os direitos e os deveres eram construídos coletivamente
pelos idiotas, enquanto os cidadãos viviam limitados ao
mundo privado.

Vale destacar que apesar do conceito de política ser


objeto de debate ainda na antiguidade, ainda não havia
naquele contexto uma “ciência política” propriamente
dita. Esta só deverá surgir entre os séculos XV e XVI com um
importante movimento da nossa história, conhecido como
Renascimento. Tal movimento transformou os mais diversos
campos da nossa sociedade, como a arte, cultura, música,
religião, economia, literatura, ciência e a política.
“não menos estranho seria fazer do homem feliz
um solitário, pois ninguém escolheria a posse do NICOLAU MAQUIAVEL
mundo inteiro sob a condição de viver só, já que o
homem é um ser político e está em sua natureza o Este último movimento teve como grande protagonista
viver em sociedade. Por isso, mesmo o homem bom o filósofo florentino Nicolau Maquiavel, considerado por
viverá em companhia de outros, visto possuir ele as muitos como o “pai da ciência política moderna”.
coisas que são boas por natureza”
Aristóteles, Ética a Nicômaco, 1973, IX, 9, 1169 b 18/20
De acordo com Maquiavel o fundamento final da política
deveria ser a conquista e a manutenção do poder e da
ordem pública. Suas principais teses foram escritas na obra O
ORIENTADA Príncipe, que definiu novos parâmetros para o entendimento
RESOLUÇÃO

da política. A partir de agora a noção de política deveria


estar afastada de ideias como ética e justiça, como
QUESTÃO 01 pregava Aristóteles e a tradição cristã medieval. Maquiavel
defendia que não haveria um fundamento anterior ou
(CPS) A palavra idiota tem sua origem no grego antigo exterior à política, como a noção de Deus ou de Natureza.
idiótes, que significava “homem privado da vida pública, Toda a cidade estaria dividida em dois grandes pilares em
que não vive a política, que não participa das coisas oposição: aqueles que possuem o poder e querem oprimir
públicas”. Enquanto o homem livre era aquele que
o povo e o povo que possui o desejo de não ser oprimido.
participava ativamente da polis, da vida em sociedade,
do público, porque vivia a política, o escravizado estava na Essa visão passou a ser conhecida como Realismo Político.
vida privada, vivia limitado ao mundo privado, era um idiota
porque não tinha acesso à vida política. THOMAS HOBBES

Nesse sentido, para os gregos, cidadania (o pertencimento Outro importante personagem fundamental para a
à cidade) dizia respeito àquele que vivia a política. Portanto, construção moderna da política foi o filósofo inglês Thomas
o cidadão construía os direitos e os deveres, enquanto o Hobbes. Como contratualista Hobbes acreditava que um
idiota estava à margem desse processo. “pacto social” era necessário para a manutenção da vida.
Disponível em: http://obviousmag.org/virasertao/2016/to-be-or-no-to-be-
Esse pacto passava necessariamente pela concentração
idiota.html. Acesso em: 05.10.2019. Adaptado.

1
4.0 PODER, ESTADO E POLÍTICA

de poder nas mãos do Estado – representado pela figura


bíblica do Leviatã. Nesse modelo o rei, em um regime O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se
absolutista, garantiria a ordem social. De acordo com o a ferros. O que se crê senhor dos demais não deixa de
pensamento hobbesiano, sem a figura do Estado restaria ser mais escravo do que eles. [...] A ordem social, porém,
ao homem apenas o seu estado natural. Nele, os homens é um direito sagrado que serve de base a todos os
movidos por interesses individuais seriam levados a um outros. [...] Haverá sempre uma grande diferença entre
estado de guerra constante de todos contra todos. subjugar uma multidão e reger uma sociedade. Sejam
homens isolados, quantos possam ser submetidos
sucessivamente a um só, e não verei nisso senão um
“É esta a geração daquele grande Leviatã ou, antes, senhor e escravos, de modo algum considerando-os
[...] daquele Deus mortal, ao qual devemos, abaixo do um povo e seu chefe. Trata-se, caso se queira, de uma
Deus imortal, a nossa paz e defesa. Pois, graças a agregação, mas não de uma associação; nela não
essa autoridade que lhe é dada por cada individuo existe bem público, nem corpo político.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo: Abril
na república, é lhe conferido o uso de tamanho poder Cultural, 1973. p. 28, 36. Coleção Os pensadores.
e força que o terror assim inspirado o torna capaz de
conformar as vontades de todos eles, no sentido da
paz, no seu próprio país, e da ajuda mútua contra os
MAX WEBER
inimigos estrangeiros”.
HOBBES, T. Leviatã: ou matéria, forma e poder de uma república
eclesiástica e civil. São Paulo: Martins Fontes: 2008. p. 147-148. Quando analisamos a relação entre Estado e sociedade
por meio da política, inevitavelmente passamos pela
discussão em torno do conceito de poder. O próprio Max
Weber afirmava que o poder se refere à imposição da
Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera própria vontade numa relação social, mesmo quando
condição de guerra que é a consequência necessária há resistência. Segundo o sociólogo alemão existem três
(conforme se mostrou) das paixões naturais dos formas de dominação legítima: a dominação tradicional, a
homens, quando não há um poder visível capaz de dominação carismática e a dominação racional-legal. Além
os manter em respeito, forçando-os, por medo do disso, existem diversas formas de se exercer o poder, como
castigo, ao cumprimento de seus pactos e ao respeito
o poder econômico, o poder ideológico e o poder político.
àquelas leis de natureza.
HOBBES, Thomas. Das causas, geração e definição de um Estado.
Leviatã. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural,1979. p. 103 Como vimos, ao longo da história, o Estado passou a
ser uma peça fundamental para o exercício do poder e em
cada contexto ele assumiu diversas formas. Por exemplo,
JOHN LOCKE os impérios da Antiguidade Oriental como o acadiano,
o assírio, o babilônico, o egípcio, o persa, na Antiguidade
Outro importante representante do contratualismo Ocidental tivemos as cidades-Estado gregas, o império
moderno foi John Locke ainda no século XVII, que diferente romano. Na Idade Média, tivemos o império bizantino e a
de Hobbes não defendeu nenhuma forma de absolutismo, formação dos estados nacionais europeus. Já na passagem
mas sim uma forma de poder que deveria se basear na
da modernidade para o mundo contemporâneo vimos o
defesa dos direitos naturais. Seriam esses direitos: vida,
liberdade, igualdade e propriedade privada. Se, pode desenvolvimento dos estados absolutistas e o nascimento
algum motivo, esses direitos fossem ameaçados, o por das potências imperialistas do século XIX. A partir desse
perderia toda a sua legitimidade. Dessa forma, o governo panorama, podemos observar abaixo algumas concepções
não deve restringir as liberdades e os direitos dos indivíduos, de Estado.
mas sim preservá-las.

A liberdade natural do homem deve estar livre de ESTADO ABSOLUTISTA


qualquer poder superior na terra e não depender
da vontade ou da autoridade legislativa do homem,
desconhecendo outra regra além da lei da natureza. O modelo de estado absolutista foi a primeira
A liberdade do homem na sociedade não deve estar manifestação histórica do Estado moderno. Suas principais
edificada sob qualquer poder legislativo exceto aquele características são a unidade territorial e a concentração
estabelecido por consentimento na comunidade civil. de poder nas mãos do rei (como o Leviatã de Thomas
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil. Petrópolis:
Vozes, 1994. p. 95 Hobbes). Esse modelo servia não apenas para sustentar
o poder do Estado, mas também para alimentar diversas
tradições históricas europeias, em especial na relação entre
JEAN-JACQUES ROUSSEU o poder secular e o poder religioso. Um ótimo exemplo para
justificar essa relação era a Teoria do Direito Divino dos Reis.
Considerado como o “pai espiritual da revolução
francesa”, também foi um importante teórico do
contratualismo. Acontece que, diferente de Hobbes, ele não Todo poder vem de Deus. Os governantes, pois,
entendia o estado de natureza humano como um ambiente agem como ministros de Deus e seus representantes
de guerra, de conflito, assim como discordava de Locke, na Terra. Resulta de tudo isso que a pessoa do rei é
que defendia a noção de propriedade privada como um sagrada e que atacá-lo é sacrilégio. O poder real é
direito natural. Rousseu acreditava que a sociedade civil absoluto. O príncipe não precisa dar conta de seus
que nasce da ruptura com o estado de natureza instaura a atos a ninguém.
Apud Coletânea de Documentos históricos para o 1o grau. São
desigualdade entre os homens e a partir dela uma série de Paulo: SE/CENP, 1978. p. 79.
mazelas sociais.

2
4.0 PODER, ESTADO E POLÍTICA

Da Idade Média aos tempos modernos, os reis eram pela primeira vez o posto de primeira-ministra.
considerados personagens sagrados. Os reis da França e
da Inglaterra “tocavam as escrófulas”, significando que
eles pretendiam, somente com o contato de suas mãos,
curar os doentes afeta- dos por essa moléstia. Ora, para
compreender o que foram as monarquias de outrora, não
basta analisar a organização administrativa, judiciária
e financeira que essas monarquias impuseram a seus
súditos, nem extrair dos grandes teóricos os conceitos
de absolutismo. É necessário penetrar as crenças que
floresceram em torno das casas principescas.
BLOCH. Marc. Os reis taumaturgos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p.
43-44.

ESTADO LIBERAL

Inspirado nos ideais iluministas, as ideias liberais nasceram


da luta contra o Estado Absolutista e serviram de base
para diversas revoluções ao longo da modernidade e da
contemporaneidade. Os princípios liberais estão alicerçados
nas ideias de soberania popular e a representação política. Com relação a tais circunstâncias, assinale a alternativa
Alguns de seus principais representantes são os filósofos correta:
John Locke, Charles-Louis de Secondat, mais conhecido
como o barão de Montesquieu, que elaborou a teoria dos A Nos países em que há o cargo de primeira(o) ministra(o),
três poderes e Jean-Jacques Rousseau. chefes de Estado e de governo se distinguem em suas
funções, e a representação do Estado é assumida por
A Inglaterra que, em meados do século XVII, dera à reis, rainhas ou presidentes.
literatura política o Leviata ,̃ a notável obra do individualista
B A Dinamarca é um país europeu e, embora figure entre os
autoritário que foi Thomas Hobbes, proporciona-lhe agora,
países nórdicos da Europa setentrional, não apresenta o
no fim do mesmo século, o Ensaio sobre o governo civil, devido
a John Locke, individualista liberal. A começar pelo Leviata ,̃ mesmo nível de desenvolvimento dos demais.
existem obras políticas mais poderosas que o Ensaio, mas C Em países nos quais as funções de chefiar o Estado e o
pode-se dizer que nenhuma teve influência tão profunda governo são atribuídas a distintas pessoas, cabe aos
e tão duradoura sobre o pensamento político. A obra de chefes de governo (primeiras-ministras, por exemplo),
Locke desfere no absolutismo os primeiros golpes sérios, se uma função mais cerimonial e simbólica.
não os mais furiosos, cabendo o mérito destes ao pastor D A Dinamarca, cujo território é também integrado pela
francês Jurieu, nas Cartas pastorais refutadas por Bossuet. Groenlândia, não faz parte da União Europeia porque
Tais golpes começam a abalar o edifício absolutista, possui moeda e sistema financeiro próprios.
abrindo-lhe extensas fissuras que serão ampliadas pelos E Com exceção da América do Sul, em todas as outras
demolidores do século seguinte. sub-regiões das Américas é possível ainda encontrar
CHEVALLIER; Jean-Jacques. As grandes obras políticas de Maquiavel a
nossos dias. Rio de Janeiro: Agir, 1999. p. 103. territórios dependentes de países europeus, como é o
caso do Alasca e da Groenlândia.
Quando na mesma pessoa, ou no mesmo corpo de
magistrados, o Poder Legislativo se junta ao Executivo,
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

desaparece a liberdade [...] Não há liberdade se o Poder


Judiciário não está separado do Legislativo e do Executivo
[...] Se o Judiciário se unisse com o Executivo, o juiz poderia QUESTÃO 03
ter a força de um opressor. E tudo estaria perdido se a
mesma pessoa ou o mesmo corpo de nobres, de notáveis,
(FAMERP) No livro Investigação sobre a natureza e a causa
ou de populares, exercesse os três poderes: o de fazer as
leis, o de ordenar a execução das resoluções públicas e o da riqueza das nações, publicado em 1776, Adam Smith
de julgar os crimes e os conflitos dos cidadãos. argumentou que um agente econômico, procurando o lucro,
MONTESQUIEU. Do espírito das leis (1748). movido pelo seu próprio interesse, acaba favorecendo a
sociedade como um todo. Esse ponto de vista é um dos
fundamentos:
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

A do liberalismo, que dispensou a regulamentação da


QUESTÃO 02 economia pelo Estado.
B do utilitarismo, que defendeu a produção especializada
(FUVEST) A imagem refere-se a uma série produzida de objetos de consumo.
por uma TV pública dinamarquesa entre 2010 e 2013 e C do corporativismo, que propôs a organização da
disponível desde 2020 em uma plataforma de streaming sociedade em grupos econômicos.
no Brasil. O nome da série faz referência à edificação onde D do socialismo, que expôs a contradição entre produção e
funcionam o Parlamento, o gabinete do primeiro-ministro e apropriação de riqueza.
a Suprema Corte da Dinamarca. A trama é uma ficção que E do mercantilismo, que elaborou princípios de
se desenvolve abordando o dia a dia da administração protecionismo econômico.
política do governo dinamarquês, após uma mulher assumir

3
4.0 PODER, ESTADO E POLÍTICA

deveria intervir na economia e mediar as relações sociais


ORIENTADA
RESOLUÇÃO

a fim de garantir o pleno emprego, estimar a produção e


consumo e desenvolver políticas assistencialistas.
QUESTÃO 04
Alguns dos princípios fundamentais desse modelo de
(UEL) Considerando as fronteiras entre religião e política, Estado era garantir direitos básicos como saúde, educação,
com base nos conhecimentos sobre Estado Moderno, trabalho, salário justo, previdência social, entre outros. Esse
assinale a alternativa correta. modelo começou a sofrer suas primeiras críticas durante da
década de 1960 quando a incompatibilidade dos gastos
A O caráter laico pressupõe a separação entre Estado e públicos resultou no aumento dos índices de desemprego
religião, garantindo que os valores e os dogmas religiosos e por uma forte recessão econômica que viria a culminar
não determinem as questões de Governo e de Estado. na crise do petróleo em 1973. Esse modelo de gestão ainda
B O Estado neoliberal define-se pela participação de é aplicado em alguns países europeus como Dinamarca,
líderes religiosos em partidos políticos e em cargos no
Suécia e Noruega.
Executivo e no Legislativo.
C A antiga e estreita relação entre Estado e religião
firma-se, institucionalmente, nos regimes democráticos
representativos, servindo como um instrumento de sua
consolidação. ESTADO NEOLIBERAL
D Na democracia, o aumento de líderes religiosos em
cargos do Legislativo permite que as leis aprovadas
sejam moralmente universais, pois são formuladas a Diante da crise do Estado de bem-estar social vimos
partir de princípios religiosos. emergir uma nova proposta de organização social
E Um dos aspectos centrais do Estado laico é a proibição, conhecido como neoliberalismo. Essa corrente que
na sociedade civil, de manifestações e práticas de acompanhava as transformações econômicas, sociais
diferentes grupos religiosos porque prejudicam a isenta
e culturais da globalização baseava-se nos princípios
participação cidadã.
da economia de mercado, comumente chamado de
capitalismo. Inspirado nos princípios do “estado mínimo” e
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

da “economia flexível” o estado neoliberal ganhava cada


vez mais força. Dois grandes ícones desse movimento foram
QUESTÃO 05 os governos de Margaret Thatcher, na Inglaterra, e de
Ronald Reagan, nos Estados Unidos.
(UEL) As reflexões liberais tenderam a acentuar, até o século
XIX, a compreensão de que o Estado era a expressão da
Razão. Nessa forma de compreensão liberal, é correto IDEOLOGIAS POLÍTICAS
afirmar que o Estado:

A deveria intervir na economia, uma vez que a liberdade


de negociar reconduziria a sociedade ao princípio do Quando analisamos o papel e a atuação de governantes
“homem como lobo do homem”, destacado por Rousseau. ao longo da história não podemos deixar de levar em
B atingiria seu maior grau de eficiência se comandado consideração os discursos construídos para legitimar esses
pelas classes industriais, em detrimento das demais cenários. De acordo com João Cardoso Rosas:
frações que compõem a burguesia, isto é, proprietários
de terra e comerciantes. Não existe ação política sem ideologia. A ideologia
C seria a instância a partir da qual as desigualdades formais politica não é algo opcional, uma coisa que podemos ter ou
entre os indivíduos se transformariam em igualdade real não, à qual podemos renunciar em nome do pragmatismo ou
entre os homens. da tecnocracia. Esse mesmo pragmatismo ou tecnocracia
D tenderia a desaparecer, na medida em que o sistema é sempre uma forma de ideologia não assumida. Aliás os
produtivo dividisse as riquezas produzidas pelas classes discursos que rejeitam explicitamente a ideologia são,
sociais, como expressão da Razão. não raro, os mais dogmáticos de todos, aqueles em que a
E representaria os interesses do conjunto da sociedade, ideologia está mais enquistada enquanto falsa consciência
pairando, portanto, acima das classes sociais e de suas da realidade. Dito isto, convém explicitar o que se
demandas específicas. entende aqui por ideologia política – só assim poderemos
compreender verdadeiramente sua inevitabilidade.
ROSAS, João C. F. As ideologias políticas contemporâneas. Coimbra:
Almedina, 2014
ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
(WELFARE STATE) O conceito de ideologia pode assumir diferentes
significados. Normalmente associado a um conjunto
de crenças e valores que orientam um determinado
O Estado de bem-estar social foi um modelo de gestão comportamento coletivo, mas também podemos destacar
adotado pelas principais potências liberais ao longo do a visão de Karl Marx, que entende a ideologia como uma
século XX diante de um grande contexto de crise social. falsa visão da realidade que serve para mascarar uma
Diante de um contexto marcado pela crise de 1929, inflação realidade de opressão e injustiças de uma classe sobre
e desemprego foram alguns dos motivos que fizeram emergir outra. Podemos citar como exemplo de ideologias políticas
esse modelo. Inspirado nas ideias do economista John o liberalismo – já citado anteriormente, o socialismo, o
Maynard Keynes, o welfare state defendia que o estado nacionalismo e o anarquismo.

4
4.0 PODER, ESTADO E POLÍTICA

LIBERALISMO NACIONALISMO

Como vimos, o pensamento liberal foi um dos grandes A ideologia nacionalista se desenvolveu ao longo do
símbolos da modernidade em contraste com uma sociedade século XIX, assim como o socialismo e o anarquismo, como
marcada pelo absolutismo. Inspirado em teóricos como uma crítica ao modelo liberal. Um dos seus pilares consistia
John Locke, os liberais defendiam a crença de que o Estado na defesa da preservação das diferenças históricas de
era necessário e que deveria se basear em um sistema de cada sociedade em nome das especificidades de cada
“freios e contrapesos” - checks and balances – para as cultura. Dessa forma, um dos princípios fundamentais
decisões políticas para que houvesse equilíbrio diante dos do nacionalismo é a supressão dos individualismos e do
conflitos sociais. coletivismo igualitário socialista e anarquista.

De acordo com essa ideologia era necessário resgatar


um passado grandioso e o pertencimento a uma
SOCIALISMO determinada coletividade por meio de traços culturais. A
partir da definição desde grupo cultural, o Estado deveria
garantir os interesses e a unidade de um povo. Ao longo do
O ideal socialista é resultado de uma série de século XX, duas correntes se tornaram os maiores símbolos
transformações sociais, econômicas e políticas da ideologia nacionalista, o Fascismo e o Nazismo.
provenientes da Revolução Industrial. Todo o impacto nas
relações de trabalho e no modo de viver urbano levantaram O fascismo, elaborado por Benito Mussolini defendia
questões acerca das desigualdades e injustiças sociais que o indivíduo não existiria senão dentro do próprio
e a possibilidade de uma sociedade igualitária. Diante Estado. Dessa forma, outra característica marcante desse
desse cenário surgiram algumas do socialismo, o socialismo movimento foi o corporativismo, que defendia a tese de que
utópico, pregado por personagens como Robert Owen, os interesses do Estado estariam acima dos interesses de
Charles Fourier, que objetivava convencer a sociedade quaisquer coletividades, combatendo assim a noção de
da necessidade de reduzir as desigualdades sociais por classes pregada pelos marxistas. De acordo com Mussolini
meio de ações pontuais de conscientização e o socialismo “nada deve haver acima do Estado, nada fora do Estado,
científico defendido por Karl Marx e Engels, que acreditavam nada contra o Estado.”
que a única forma de transformação social seria por meio
de uma revolução, e a partir dela alcançar uma nova ordem Enquanto o fascismo se desenvolvia em diversos países
social. europeus, outra vertente do nacionalismo ganhava muita
força na Alemanha, o Nazismo, idealizado por Adolf Hitler,
que tinha por objetivo resgatar a crença em uma identidade
alemã, forjou a noção de uma raça ariana superior as
ANARQUISMO demais.

Outra ideologia que nasceu da dura realidade da


REGIMES POLÍTICOS
Revolução Industrial foi que o Anarquismo se opunha tanto
o liberalismo como também ao coletivismo igualitário dos
socialistas. Uma das grandes diferenças entre o socialismo
e o anarquismo se encontra na crítica a ideia da “ditadura Como vimos, ao longo da história o Estado foi organizado
do proletariado” proposta pelos socialistas, afinal era o de diversas formas. Quando discutimos sobre regimes
próprio estado uma das principais formas de exploração e políticos precisamos analisar como se deu a relação entre
de desigualdade social. Os anarquistas acreditavam que o governantes e governados e essas mudanças assumiram
caminho deveria ser o fim do Estado e a criação de uma
diferentes perspectivas desde a antiguidade até os nossos
organização comunitária em que seria a própria sociedade
civil faria a gestão dos bens coletivos. dias.

Aristóteles, na obra Política, defendia a tese de que


Embora a compreensão popular de anarquismo haviam três formas básicas de governo: monarquia (governo
seja de um movimento violento antiestado, o de um só), aristocracia (governo dos melhores) e democracia
anarquismo é uma tradição muito mais sutil e delicada
(governo de muitos). O modelo monárquico que pode ser
do que a simples oposição ao poder governamental.
Os anarquistas se opõem à ideia de que o poder e definido como o Estado sendo dirigido conforme a vontade
a dominação são necessários para a sociedade e, de um indivíduo foi quem predominou na Europa até o século
por isso, defendem formas mais cooperativas e anti- XVIII. Em uma monarquia o cargo de chefe de Estado é
hierárquicas de organi- zação econômica, política e hereditário e vitalício. Diante das transformações ocorridas
social.
BROWN L., Susan. The politics of individualism: liberalism, liberal com as revoluções liberais, hoje as monarquias possuem
feminism and anarchism. Montreal/New York/ Londres: Black Rose como característica um poder limitado e constitucional,
Books, 1993. p. 106. Adaptado.
com importante participação do parlamento.

5
4.0 PODER, ESTADO E POLÍTICA

Já a República é, por essência, oposta a monarquia.


ORIENTADA

RESOLUÇÃO
Esse modelo se concretizou depois da Revolução Francesa
e tem por característica um governante eleito por períodos
QUESTÃO 06
determinados. Além disso, há na República a alternância de
poder, como também o princípio da igualdade entre todos
(UNESP) Observe a charge de Ziraldo, originalmente
os cidadãos. Vale destacar que existem casos de repúblicas publicada em 1968.
não democráticas, marcadas por regimes ditatoriais.

DEMOCRACIA E CIDADANIA

Assim como a noção de política, o conceito de


democracia - demokratia - nasce na Grécia Antiga, ainda
no século V a.C. a partir da união de dois vocábulos demos,
“povo” e kratos “poder”, e pode ser caracterizado pela
existência de um governo direto ou indireto da população
mediante eleições regulares. É importante destacar que o
conceito de “povo” pode variar de acordo com o contexto O diálogo entre o elefante e as cobras, associado à
decretação do Ato Institucional número 5, sugere:
em que estamos inseridos. Por exemplo, enquanto hoje a
constituição garante a todos a condição de cidadania, na A a alienação de parte expressiva da sociedade ante o
Grécia antiga a condição de cidadão era restrita a uma cenário político e a difusão de notícias falsas.
pequena parcela de indivíduos – homens gregos e livres. B a solidez das instituições políticas republicanas e a
disseminação do medo por traidores dos interesses
A maioria da população não era considerada cidadã.
nacionais.
Nela prevalecia a democracia direta, ou seja, as decisões C o contraste entre o esforço militar de corrigir os rumos do
eram tomadas por um grupo de cidadãos que pertenciam país e a desconfiança da sociedade civil.
à pólis. A democracia direta consiste na discussão, sem D o poder dos grupos sociais e políticos fortes e
intermediários, das principais questões de interesse comum. consolidados e a incerteza entre os setores populares.
E o distanciamento entre a sociedade e o regime político e
a dissolução das garantias e dos direitos democráticos.
O nosso modelo democrático é conhecido como
democracia representativa, que nasce com as revoluções
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

burguesas da Europa e tem como uma de suas bases a


soberania popular, que se efetiva pelo direito de voto. QUESTÃO 07
Outros elementos essenciais para esse tipo de sistema é a
liberdade de expressão e pensamento, o igualitarismo civil
(UNESP) Na história do Estado moderno, duas liberdades
e a separação dos poderes. são estreitamente ligadas e interconectadas, tanto que,
quando uma desaparece, também desaparece a outra.
Podemos estabelecer uma clara relação entre os Mais precisamente: sem liberdades civis, como a liberdade
princípios da democracia e o conceito de cidadania, de imprensa e de opinião, como a liberdade de associação
e de reunião, a participação popular no poder político é
que segundo o sociólogo Thomas H. Marshall pode ser
um engano; mas, sem participação popular no poder, as
estabelecida em três estágios. O primeiro deles é a conquista liberdades civis têm bem pouca probabilidade de durar.
dos direitos civis, que consiste nas liberdades individuais, (Norberto Bobbio. Igualdade e liberdade, 1997. Adaptado.)

como a possibilidade de pensar e de se expressar livremente,


O cenário retratado no texto gera uma prática política
na garantia de ir e vir e do acesso à propriedade privada. conceituada por Norberto Bobbio como democracia, na
O segundo estágio refere-se aos direitos políticos, que qual:
podem ser definidos como a possibilidade de participação
da sociedade civil nas diversas esferas de poder. O terceiro A o modelo político antigo é restaurado para a organização
da sociedade.
estágio corresponde aos direitos sociais, considerados
B são garantidas igualdades social e econômica à
essenciais para a construção de uma sociedade mais população.
justa. Eles estão alicerçados nos princípios de bem-estar C os cidadãos são geridos apenas por seu próprio sistema
como educação, saúde, lazer e moradia. Segundo o próprio de regras locais.
Marshall, cidadão é aquele que exercer de forma efetiva D apenas a elite participa ativamente das decisões
governamentais.
seus direitos civis, políticos e sociais.
E existem mecanismos para participação dos indivíduos no
poder estatal.

6
4.0 PODER, ESTADO E POLÍTICA

Você deve saber que todas as pessoas, independente de


ORIENTADA
RESOLUÇÃO

qualquer distinção são dotadas de direitos fundamentais


que deveriam permitir que cada indivíduo possa se
QUESTÃO 08 desenvolver plenamente. Esses direitos são, portanto,
universais e são chamados de direitos humanos.
(UNESP) Texto 1
Sem dúvidas você já deve ter ouvido falar na expressão
Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes “Direitos Humanos”. Concordamos que tratam de direitos
entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na naturais – e fundamentais, afinal são firmados no
lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes. Há ordenamento jurídico que conhecemos como constituição
infinitas carreiras diante de ti. [...] Nenhum [ofício] me parece - que são garantidos a todo e qualquer indivíduo e
mais útil e cabido que o de medalhão. [...] Tu, meu filho, se que devem ser universais, ou seja, devem ser aplicados
me não engano, pareces dotado da perfeita inópia mental, indiscriminadamente a todos, independentemente de sua
conveniente ao uso deste nobre ofício. [...] No entanto,
nação, cor da pele, gênero, idade, classe social ou mesmo
podendo acontecer que, com a idade, venhas a ser afligido
de algumas ideias próprias, urge aparelhar fortemente o posicionamento político.
espírito. [...] Em todo caso, não transcendas nunca os limites
de uma invejável vulgaridade.
(Machado de Assis. Teoria do medalhão. www.dominiopublico.gov.br.) Segundo a Organização das Nações Unidas
(ONU) os direitos humanos são “garantias jurídicas
Texto 2 universais que protegem indivíduos e grupos contra
ações ou omissões dos governos que atentem contra
De fato, existem medalhões em todos os domínios da a dignidade humana”.
vida social brasileira: na favela e no Congresso; na arte e https://www.politize.com.br/direitos-humanos-o-que-sao/
na política; na universidade e no futebol; entre policiais e
ladrões.
É importante destacar que apesar de já estabelecidos
São as pessoas que podem ser chamadas de “homens”, em nossa sociedade esses direitos foram construídos
“cobras”, “figuras”, “personagens” etc. [...] Medalhões historicamente e mudaram ao longo do tempo. Não se trata
são frequentemente figuras nacionais. [...] Ser o filho do
de um fim em si mesmos, mas um caminho para alcançarmos
Presidente, do Delegado, do Diretor conta como cartão de
visitas. uma sociedade mais justa e democrática.
(Roberto da Matta. Carnavais, malandros e heróis, 1983.)
Ao longo da história humana, diversas formas de
Tanto no texto do escritor Machado de Assis como no do ordenamento jurídico serviram para nortear as relações
antropólogo Roberto da Matta, a figura do medalhão: humanas. A primeira ideia de direitos humanos remete a
um passado longínquo, em meio ao império persa com
A corresponde a um fenômeno cultural recente e uma pequena peça de argila (cilindro) que continha os
desvinculado do clientelismo. princípios de Ciro – Ciro II foi o rei persa que depois de
B tem sua existência fundamentada em ideais liberais e conquistar a Babilônia em 539 a.C. libertou os escravos e
democráticos de cidadania. declarou liberdade religiosa e igualdade racial aquele
C consiste em um tipo social exclusivamente pertencente povo. Com o passar do tempo novas concepções jurídicas
às elites burguesas. foram surgindo como a noção de cidadania romana ou a
D apresenta sucesso social fundamentado na competência Lei das Doze Tábuas, assim como é importante destacar
acadêmica e intelectual. os filósofos cristãos medievais que desenvolveram a teoria
E ilustra o caráter fortemente hierarquizado e personalista do direito natural que parte do princípio segundo o qual o
da sociedade brasileira. homem já nasce com uma série de direitos incorporados a
ele, como por exemplo o direito à vida. A partir da noção de
direito natural – jusnaturalismo – que a noção de direitos
humanos se torna um “problema” político e filosófico,
DIREITOS principalmente intelectuais como o John Locke, Thomas
Hobbes e Jean Jaques Rousseau, que conhecemos como
filósofos contratualistas.
Um dos grandes desafios de qualquer pessoa que
busca realizar uma determinada análise social é a educar Foi durante a passagem da Idade Média para a Idade
o olhar. Muitas vezes estamos tão distraídos em nossa Moderna que esse conceito ganhou novos entornos, afinal,
própria bolha e imaginamos que todas as pessoas vivem vale lembrar que durante o medievo a noção de direitos
uma realidade igual a nossa. Em um simples passeio pelas civis foi praticamente inexistente, pois nele predominava um
ruas da sua cidade é possível perceber um duro retrato modelo de ordenamento social – sociedade estamental -
social: são crianças e adultos que dormem nas ruas ou em que deixava claro que os indivíduos não eram “iguais”. Um
condições precárias de moradia que passam fome, que grande marco de transformação jurídica foi o Bill of Rights
estão vulneráveis a qualquer tipo de violência, que não têm (Declaração de Direitos) que ocorreu na Inglaterra em 1689 e
acesso à educação e são, a cada dia, invisíveis aos nossos foi um importante marco de combate ao modelo jurídico do
olhos e aos olhos do Estado. Infelizmente esse processo absolutismo e defesa de um modelo de Estado Liberal. Esse
de exclusão social não ocorre apenas na sua cidade, ele contexto foi marcado por inúmeros conflitos como a Guerra
pode ser visto, em maior ou menor proporção, em todas as Civil e resultou na consolidação do modelo parlamentarista
cidades brasileiras. Mas afinal, por que isso acontece? E o que limitava os poderes do monarca.
mais importante, como mudar essa realidade?

7
4.0 PODER, ESTADO E POLÍTICA

Além da Inglaterra outro personagem fundamental Em 1979, o jurista tcheco-francês Karel Vasak, então
para a construção dos direitos foram os Estados Unidos da primeiro secretário geral do Instituto Internacional de
América com a sua Declaração de Independência (1776), Direitos Humanos, apresentou sua teoria geracional na
que serviu como um importante modelo para o processo de qual é possível distribuir os direitos humanos a partir de
independência de inúmeras colônias americanas, atestava determinados contextos históricos e em gerações:
direitos básicos como o direito à vida, à integridade, à
DIREITOS HUMANOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO
propriedade, ao tratamento igual e à defesa. Nela constava
que: Possuem como elemento principal a ideia de liberdade
individual, é associada ao contexto do final do século XVIII
como a Independência dos Estados Unidos e a Revolução
“todos os homens são criados iguais, dotados pelo Francesa e é expressa nos direitos civis e políticos.
seu Criador de certos direitos inalienáveis”.
Direitos Civis

Se estamos discutindo sobre as grandes revoluções Servem para proteger a integridade humana contra o
políticas modernas não podemos esquecer da Revolução abuso de poder do estado como por exemplo a liberdade
Francesa, fortemente inspirada por princípios iluministas e de expressão, proteção à vida etc.
liberais também buscava combater os elementos do Antigo
Regime como o Absolutismo, os privilégios da nobreza e do Direitos Políticos
clero, buscando garantir a todos os francesas a igualdade
de direitos. Foi nesse contexto que nasceu a Declaração Servem para assegurar a participação popular na
de Direitos do Homem e do Cidadão em 1789 que define administração do Estado, como o direito de votar e ser
ao longo dos seus dezessete artigos e um preâmbulo, os votado, como também o direito de participar de cargos
direitos individuais e coletivos do homem como universais. públicos.

Todos esses documentos são fundamentais se quisermos DIREITOS HUMANOS DE SEGUNDA GERAÇÃO
compreender a origem dos direitos humanos assim como
a Declaração Universal de Direitos Humanos, assinada Associados ao contexto pós Primeira Guerra Mundial e
pela ONU em 1948. Essa declaração, assim como a origem
ao surgimento do Estado de Bem-Estar Social, no qual o
da própria Organização das Nações Unidas, remete ao
Estado passa a garantir direitos de oportunidades iguais
contexto pós Segunda Guerra Mundial e todos os horrores
produzidos ao longo da primeira metade do século XX. a todos os cidadãos a partir de políticas públicas, por isso
Afinal, foi diante dos horrores provocados pelas guerras e são chamados de direitos fundamentais. Possuem como
pelos regimes totalitários que a própria noção de dignidade elemento principal a ideia de igualdade expressa nos
da pessoa humana foi colocada em xeque e inúmeros direitos sociais, econômicos e culturais.
direitos individuais foram violados.
Direitos Econômicos

“Nós os povos das Nações Unidas estamos Valorizam o trabalho humano e a livre iniciativa como
determinados a salvar as gerações futuras do flagelo a defesa do consumidor, livre concorrência e propriedade
da guerra, que por duas vezes na nossa vida trouxe privada.
incalculável sofrimento à Humanidade”.
Organização das Nações Unidas, 1945. Direitos Culturais

Visam a proteção, valorização e difusão da cultura


Foi buscando estratégias que evitassem novas tragédias nacional como a preservação do Patrimônio Cultural,
que 50 países se reuniram para elaborar um documento acesso à cultura e respeito à diversidade cultural.
que visava garantir a paz mundial e o respeito entre os
povos. Neste documento estariam listados os direitos No Brasil os direitos de segunda geração são expressos
fundamentais dos seres humanos. Liderados por Eleanor na nossa constituição federal de 1988 no artigo 6o:
Roosevelt, a Comissão de Direitos Humanos das Nações
Unidas lançou a Declaração, considerada a Carta Magna
dos direitos humanos que foi adotada pelas Nações Unidas “São direitos sociais a educação, a saúde, a
em 10 de dezembro de 1948. Hoje, 193 países são signatários alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
da ONU. Isso significa que eles devem garantir em seus lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
territórios os princípios então estabelecidos. É importante à maternidade e à infância, a assistência aos
ressaltar que apesar de ter a tarefa de garantir a aplicação desamparados, na forma desta Constituição.”
desses direitos a Organização das Nações Unidas não pode CF, art. 6
agir de forma regularizadora, ela pode no máximo agir
com recomendações para que os países a ela associados
possam cumprir. DIREITOS HUMANOS DE TERCEIRA GERAÇÃO

Datam dos anos 1960 e possuem como principal


“Todos os seres humanos nascem livres e iguais preocupação os direitos coletivos e difusos, não se
em dignidade e direitos. São dotados de razão e restringindo apenas ao indivíduo. Por isso são chamados
consciência e devem agir em relação uns aos outros de direitos transindividuais, como por exemplo o direito
com espírito de fraternidade.” ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; o direito
Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 1o. a autodeterminação dos povos; direito à paz; direito de
comunicação; direito da pessoa idosa; da criança e do
adolescente etc.

8
4.0 PODER, ESTADO E POLÍTICA

ORIENTADA ORIENTADA
RESOLUÇÃO

RESOLUÇÃO
QUESTÃO 09 QUESTÃO 11

(FMC) Em 1990, é criado um novo sistema de saúde no (UFU) “Depois de meses de tramitação, de intenso debate
Brasil através da Lei Orgânica da Saúde, no 8.080, que e de propostas de alteração, o projeto de lei que instituía
o 13o salário, de autoria do então deputado federal Aarão
fundou o SUS. Essa criação decorre do que está definido na
Steinbruch, entrou na pauta de votação da Câmara dos
Constituição Brasileira de 1988.
Deputados [...]. João Goulart, presidente da República na
época e ex-ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, sofreu
São princípios que norteiam a saúde no Brasil: pressões de empregadores e de sindicatos. De um lado, a
ameaça de greve caso o projeto não fosse aprovado; de
A Nacionalidade, integração, participação dos setores outro, previsões de que o benefício aumentaria a inflação
produtivos e científicos, igualdade e necessidade no país. Contudo, naquela noite de segunda-feira, às 21h,
B Universalidade, necessidade, organização centralizada, o texto do projeto foi aprovado em sua forma original e, em
participação social e urgência 13/7/1962, sancionado como a Lei 4.090/1962.”
13o salário: tudo que você precisa saber. Tribunal Superior do Trabalho.
C Localismo, regionalização, urgência, participação Disponível em: <https://www.tst.jus.br/13-salario > Acesso em: 6 jun. 2021.
seletiva e seleção de gravidade
D Localismo, descentralização, equidade, participação De acordo com o texto, o 13o salário é resultado de um
social e urgência processo social que possui como característica:
E Universalidade, integralidade, equidade,
descentralização e participação social
A a expansão de direitos trabalhistas e o protagonismo do
movimento dos trabalhadores.
B a conciliação de interesses entre o capital e os
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

trabalhadores a partir da expansão do ideário


socialdemocrata.
QUESTÃO 10 C a formação de partidos operários e a desregulamentação
do mercado de trabalho.
D a realização de greves e o controle dos meios de
(UERJ) O QUE É E O QUE QUER O ESTADO ISLÂMICO (EI)? produção pelos sindicatos.
O grupo estabeleceu um califado, uma forma de Estado
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

dirigido por um líder político e espiritual de acordo com a


lei islâmica, a sharia. O EI controla hoje um território que
engloba partes da Síria e do Iraque. QUESTÃO 12
Apesar de estar presente só nesses dois países, o grupo (UECE) Leia atentamente o seguinte enunciado:
prometeu “romper as fronteiras” do Líbano e da Jordânia
com o objetivo de “libertar a Palestina” e, para isso, tem “A Exclusão Social designa um processo de afastamento e
pedido o apoio de todo o mundo muçulmano, além de exigir privação de determinados indivíduos ou de grupos sociais
que todos jurem lealdade a seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi. em diversos âmbitos da estrutura da sociedade. Assim, as
Adaptado de bbc.com, novembro/2015. pessoas que possuem essa condição social sofrem diversos
preconceitos. Elas são marginalizadas pela sociedade e
GRUPO TERRORISTA JUDEU ATACA VILAREJOS PALESTINOS impedidas de exercer livremente seus direitos de cidadãos”.
E IGREJAS CRISTÃS Juliana Silveira. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exclusao-social/

A existência da nova rede terrorista conhecida como No que concerne à exclusão social, assinale a afirmação
Revolta, formada por jovens moradores de colônia judaica verdadeira.
da Cisjordânia, veio à tona há seis meses.
A A exclusão social atinge, em geral, as minorias étnicas,
O manifesto dos extremistas da Revolta sustenta que eles culturais e religiosas, afetando sobretudo populações
“buscam o colapso do Estado de Israel”, com seu governo indígenas, negros, idosos, pobres, população LGBT+,
democrático e seus tribunais, e a criação de um reino judeu dentre outros.
para substituí-lo, com as leis do judaísmo, expulsando quem B O fenômeno da exclusão social não tem relação com
não seguir esses preceitos. o da desigualdade social, porque são duas situações
Adaptado de O Globo, 07/02/2016. totalmente independentes, diferenciadas e não
relacionadas à geração de pobreza.
Os dois casos relatados nas reportagens são exemplos do C A desigualdade social no Brasil diminuiu radicalmente
movimento social de caráter político denominado: nos últimos anos, não havendo mais necessidade de
o Estado manter políticas afirmativas de inclusão das
A totalitarismo estatal populações socialmente vulneráveis no País.
B imperialismo econômico D A história humana sempre atestou a existência
C extremismo nacionalista da pobreza e, consequentemente, revela que as
D fundamentalismo religioso desigualdades sociais são um processo natural e
universal, independentemente de políticas públicas.

9
4.0 PODER, ESTADO E POLÍTICA

seja e de que título carregue: assassino, estuprador, menor


ORIENTADA
RESOLUÇÃO

infrator, policial, governador…

QUESTÃO 13 Não se milita pela impunidade, mas pelo respeito às


garantias mínimas estabelecidas em nossa Constituição,
(UERJ) por um sistema prisional mais ressocializador, por uma
polícia que transmita menos medo e mais segurança. Luta-
se também contra a impunidade daqueles que se julgam
acima da lei.
Adaptado de fundacaomargaridaalves.org.br, 06/09/2006.

A expressão analisada no texto tem como fundamento o


seguinte princípio iluminista:

A legítima defesa
B igualdade jurídica
C soberania popular
D liberdade individual

Para boa parte do mundo, a cidade nigeriana de Maiduguri


ORIENTADA
RESOLUÇÃO
é conhecida apenas como o local de origem do Boko
Haram, o grupo extremista que mata desenfreadamente e
trata mulheres e meninas como propriedades, obrigando- QUESTÃO 15
as a cozinhar, limpar, parir filhos e morrer, se necessário. Mas
existe outra Maiduguri totalmente diferente, que ajuda a (UFU) Em uma pesquisa acerca do deficit habitacional no
entender a batalha ideológica que está ocorrendo no norte Brasil, encontra-se a seguinte afirmação:
da Nigéria: trata-se de uma capital regional, reconhecida
por acolher pessoas de todas as crenças e etnias, uma No contexto da rápida urbanização nos países em
cidade universitária há muito conhecida por sua vida desenvolvimento, o deficit habitacional se constitui no
noturna e por sua energia, com uma juventude ousada e grande desafio para a gestão das cidades. [...] No Brasil,
muitas vezes liberal que oito anos de guerra parecem não em 2008, o deficit habitacional foi estimado em mais de
conseguir extinguir. 5,5milhões de unidades, do qual 83% é registrado em zonas
Adaptado de noticias.uol.com.br, 27/12/2017.
urbanas, afetando, principalmente, as famílias com renda
Grupos extremistas instauram guerras civis em diversas de até 3 salários mínimos, atingidas por 89,6% desse deficit.
PASTERNAK, Suzanna; BÓGUS, Lucia Maria Machado. Habitação de aluguel
sociedades contemporâneas, inclusive com ações no Brasil e em São Paulo. Caderno CRH, V.29, n.77, 2016.
terroristas como as realizadas pelo Boko Haram.
Políticas públicas que visam a atacar o problema do deficit
Com base na reportagem, a batalha ideológica na habitacional poderiam ser descritas como políticas de
cidade de Maiduguri está associada ao confronto entre as garantia de um direito:
seguintes ideias:
A social.
A identidade de raça – pluralismo político B político.
B liberdade de expressão – nacionalismo africano C civil.
C superioridade de classe – culturalismo ocidental D econômico.
D igualdade de gênero – fundamentalismo religioso

ORIENTADA GABARITO
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 14 QUESTÕES ORIENTADAS

01 D 02 A 03 A
(UERJ) “Direitos Humanos” é uma daquelas expressões que,
por sua amplitude, tem sido usada de várias maneiras e a 04 A 05 E 06 E
serviço de diversas ideologias. Cada um que queira definir
quais são os direitos, cada qual que queira estabelecer seu 07 E 08 E 09 E
padrão do “humano”. 10 D 11 A 12 A

No Brasil, por exemplo, a mídia relaciona a dita expressão 13 D 14 B 15 A


quase sempre com a questão policial, atribuindo-lhe um
sentido negativo de estímulo à impunidade. Essa imagem, Acertos Erros Rendimento
além de reducionista, por desprezar outras dimensões
como a dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (DESCs) TOTAL DE ACERTOS
e a dos Direitos de Solidariedade, é também falsa. No
particular da luta contra a tortura, o que se defende não é Total Total
15 Rendimento %
o “criminoso”, mas a pessoa, independentemente de quem Questões Acertos

10
SOCIOLOGIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
RESPONDA

5.0 MOVIMENTOS SOCIAIS

Um movimento social pode ser definido como um grupo


Introdução organizado que tem por finalidade a luta por alguma causa
social. Muitas vezes, esses movimentos representam grupos
excluídos, chamados por alguns intelectuais como minorias
Em nossas aulas, discutimos sobre alguns dos que diariamente batalham para ser vistos e ouvidos em meio
principais temas que permeiam as ciências humanas a uma sociedade que apenas garante direitos no corpo da
e, ao longo dessa jornada, percebemos que cada lei, como nos lembra o jornalista Gilberto Dimenstein, na
sociedade se organiza a partir de contextos obra cidadão de Papel.
específicos no que diz respeito a elementos de ordem
cultural, política, econômica etc. Diante dessas Os movimentos sociais podem estabelecer diversas
formas de organização, chama-nos a atenção o relações sociais com o Estado, como por exemplo relações
movimento de diversos indivíduos e grupos para de confronto, pois apesar de ser o responsável pela garantia
transformar ou preservar determinadas causas. Essa de direitos, é visto como adversário de determinados
luta foi, em inúmeros casos, o combustível de diversas movimentos sociais, ou mesmo de parceria quando o
transformações sociais. Nesse capítulo, discutiremos Estado é capaz de ouvir as demandas de determinados
a importância dos movimentos sociais ao longo da movimentos e contribuir na construção de uma sociedade
história e o seu papel fundamental na construção da cada vez mais democrática. Um bom exemplo desse
cidadania. segundo caso pode ser observado quando o Estado cria
campanhas de combate à discriminação e a formas de
violência, como a homofobia, o racismo etc.
Quando discutimos sobre a temática dos movimentos
sociais, devemos ter em mente que eles representam - com Se recorrermos à Históri, logo perceberemos que diversos
enorme protagonismo - um grande mecanismo de luta indivíduos lutaram em nome de determinadas causas,
por uma sociedade mais democrática e que permite voz a mas é importante destacar que para os estudos dos
diversos setores da sociedade. Podemos exemplificá-los nas
movimentos sociais, precisamos delimitar determinados
mais variadas áreas, como no meio ambiente, lutando por
um maior equilíbrio no uso de recursos naturais do planeta, espaços históricos. Nesse caso, o marco inicial para os
na causa animal, protegendo-os de quaisquer tipos de movimentos sociais no ocidente é a Revolução Francesa,
dano e abandono, no mundo do trabalho, a partir da luta que teve o seu estopim na “tomada da Bastilha”, em 14
por melhores condições de trabalho, na causa da terra e de julho de 1789. Nela tivemos uma gigantesca ruptura na
da moradia, lutando contra a má distribuição de terras que estrutura da sociedade medieval europeia. Outros grandes
ocorreu ao longo da nossa história e em defesa da milhares movimentos acompanharam essa onda de transformações,
de pessoas que hoje não possuem um teto e em questões como o Iluminismo, a ascensão da burguesia, as Revoluções
identitárias, como por exemplo questões étnicas e raciais, Inglesas, a Revolução Americana e a Revolução Industrial.
a causa indígena e temas relacionados ao gênero, como o Cada um desses eventos nos apresentou novos traços da
feminismo e o movimento LGBT. Uma das principais pautas sociedade contemporânea.
que permeia o debate dos movimentos sociais diz respeito
ao conceito de minoria. Um dos grandes pilares para a história dos movimentos
sociais foi a influência de Karl Marx e sua concepção da
realidade a partir do conflito entre classes: inaugurou, de
Segundo [Frans] Moonen, “na Sociologia o termo
certa forma, uma maneira sistêmica de analisar a realidade
minoria normalmente é um conceito puramente
quantitativo que se refere a um subgrupo de pessoas desse fenômeno.
que ocupa menos da metade da população total
e que dentro da sociedade ocupa uma posição Os movimentos sociais e as lutas dos trabalhadores
privilegiada , neutra ou marginal”. No aspecto encontraram na teoria de Marx um alicerce sólido para
antropológico, por sua vez, a ênfase é dada ao a realização de seus ideais. Durante os séculos XIX e
conteúdo qualitativo, referindo-se a subgrupos XX, socialistas e revolucionários procuraram aplicar e
marginalizados, ou seja, minimizados socialmente no desenvolver as teorias de Marx e Engels com o objetivo de
contexto nacional, podendo, inclusive, ser uma maioria pôr fim ao capitalismo e à exploração de uma maneira geral.
em termos quantitativos. Moonen observa ainda que [...] No entanto, com o desenvolvimento do capitalismo e sua
uma das primeiras definições nesse sentido foi a de L. forma imperialista, foi possível ao proletariado vivenciar
Wirth, sendo minoria “um grupo de pessoas que, por importantes movimentos, muitos dos quais vitoriosos, ao
causa de suas características físicas ou culturais, são
longo do século XX. O maior e mais influente de todos foi
isoladas das outras na sociedade em que vivem, por
um tratamento diferencial e desigual, e que por isso se a Revolução Bolchevique de 1917. A árvore do marxismo
consideram objetos de discriminação coletiva”. cresceu e seus galhos se desenvolveram em várias direções.
MONTEIRO, Adriana Carneiro. Minorias étnicas, linguísticas e religiosas. Muitos desses galhos produziram e produzem teorias
extremamente ricas e polêmicas, cujos resultados práticos

1
5.0 MOVIMENTOS SOCIAIS

puderam e podem ser observados. Vladimir Illich Lênin,


Antônio Gramsci, Georg Lukács, Rosa Luxemburgo, Trótski,
Marcuse, Walter Benjamin, Mao Tsé-tung são alguns desses MOVIMENTO FEMINISTA
galhos que se desenvolveram e continuam se entrelaçando
pelos movimentos, centros de pesquisa, universidades,
praças e partidos pelo mundo. O movimento feminista é um dos mais conhecidos
José Roberto Cabrera. In: LEMOS FILHO, Arnaldo et alii. Sociologia geral e
do Direito. 5. ed. Campinas: Alínea, 2012. movimentos sociais da contemporaneidade. O seu ponto
de partida está balizado na compreensão de que ao
longo da história humana, estabeleceu-se uma relação
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

assimétrica no que diz respeito às relações de gênero.


Dessa forma, as sociedades definiram diferentes posições
QUESTÃO 01 para homens e mulheres, que acabaram por privilegiar um
grupo em detrimento do outro. Esse modelo de organização
(UFU) “Depois de meses de tramitação, de intenso debate passou a ser conhecido como “machista” ou “patriarcal”.
e de propostas de alteração, o projeto de lei que instituía Esse “desnível” social não pode ser percebido apenas no
o 13o salário, de autoria do então deputado federal Aarão campo do discurso; por diversas vezes resultou também em
Steinbruch, entrou na pauta de votação da Câmara dos relações de violência.
Deputados [...]. João Goulart, presidente da República na
época e ex-ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, sofreu
pressões de empregadores e de sindicatos. De um lado, a
ameaça de greve caso o projeto não fosse aprovado; de
outro, previsões de que o benefício aumentaria a inflação
no país. Contudo, naquela noite de segunda-feira, às 21h,
o texto do projeto foi aprovado em sua forma original e, em
13/7/1962, sancionado como a Lei 4.090/1962.”
13o salário: tudo que você precisa saber. Tribunal Superior do Trabalho.
Disponível em: <https://www.tst.jus.br/13-salario > Acesso em: 6 jun. 2021.

De acordo com o texto, o 13o salário é resultado de um


https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2020/01/livro-destaca-a-
processo social que possui como característica: resistencia-feminista-em-tempos-de-neoliberalismo/

A a expansão de direitos trabalhistas e o protagonismo do Em diversos lugares do mundo o direito de igualdade foi
movimento dos trabalhadores. conquistado pelas mulheres com muito esforço ao enfrentar
B a conciliação de interesses entre o capital e os um modelo de sociedade conhecido como patriarcal.
trabalhadores a partir da expansão do ideário Nele, as mulheres eram consideradas propriedade de seus
socialdemocrata. pais, maridos ou quem quer que fosse o chefe da família.
C a formação de partidos operários e a desregulamentação Faltavam-lhes diversos direitos como à vida política,
do mercado de trabalho. educação, divórcio, livre acesso ao mercado de trabalho.
D a realização de greves e o controle dos meios de A historiografia nos mostra que já entre os séculos XV e XVIII
produção pelos sindicatos. podemos perceber diversas produções que denunciavam
a condição de opressão dessas mulheres. Agora devemos
ORIENTADA fazer uma ressalva: Apesar de a pauta estar presente
RESOLUÇÃO

há tanto tempo, ainda não podemos denominar essas


QUESTÃO 02 mulheres de feministas.

O início do movimento está ligado ao contexto da


(UECE) Os movimentos sociais revelam ações presentes nas Revolução Francesa (1789) e do iluminismo, no qual diversas
sociedades democráticas e são expressão da organização pessoas – homens e mulheres – lutavam por princípios
e luta da sociedade civil. Atuam coletivamente na afirmação como o de igualdade civil, que inexistia em uma sociedade
de direitos e na resistência à exclusão social. estamental, uma das marcas do Antigo Regime. Enquanto
os homens conquistavam esses direitos, as mulheres –
Considerando a afirmação acima, é correto dizer que os que também participaram do movimento revolucionário –
movimentos sociais: continuavam excluídas do processo e invisíveis no campo
jurídico. Um bom exemplo é o de Olímpia de Gouges (1748-
A foram criados pelo Estado como meio de colaborar 1793), símbolo do movimento feminista, que proclamou
com a administração dos governos e de suas propostas que as mulheres eram detentoras de direitos naturais
políticas. idênticos aos dos homens, e por isso deveriam participar da
B são importantes para a sociedade civil porque, por construção desses novos direitos.
meio deles, direitos de cidadania são conquistados e a
democracia é fortalecida. Esse período é chamado de primeira onda feminista,
C são exemplos de protestos que promovem a desordem marco inicial do movimento. Esse fenômeno se estende até
social e põem em risco os direitos e a cidadania as primeiras décadas do século XX e tinha como principal
conquistados historicamente pela sociedade. pauta a luta pelo direito político de votar e ser votado, com
D ao se constituírem, atuam aleatoriamente, sem foco nem as chamadas sufragistas. O movimento das sufragistas
direção, apenas movidos pela ideia da mobilização.

2
5.0 MOVIMENTOS SOCIAIS

começou na Inglaterra, que teve como grande expoente


ORIENTADA

RESOLUÇÃO
Emmeline Pankhurt (1858-1928), e logo se espalhou pelo
mundo. Se tomarmos como exemplo o Brasil, as mulheres
conquistam o direito ao voto em 24 de fevereiro de 1932 a QUESTÃO 03
partir do Código Eleitoral.
(UERJ) A origem operária do 8 de março
A segunda onda feminista ocorreu durante a segunda
metade do século XX e teve como um dos seus principais Para muitos, o 8 de março é apenas um dia para dar flores
eixos a sexualidade feminina. Temas como o prazer, a e fazer homenagens às mulheres. Mas, diferentemente
liberdade sexual, a saúde da mulher e o combate ao de outras datas comemorativas, esta não foi criada pelo
estupro passaram a ganhar cada vez mais destaque. É comércio. Oficializado pela Organização das Nações
importante compreender que esse momento coincide com Unidas em 1975, o chamado Dia Internacional da Mulher era
os agitados anos da década de 1960, que além da luta celebrado muito tempo antes, desde o início do século XX.
de diversos movimentos sociais como o hippie, negro, foi E se hoje a data é lembrada como um pedido de igualdade
marcado pelo que chamamos de revolução sexual, que de gênero e com protestos ao redor do mundo, no passado
serviu para ressignificar o conceito de sexo, antes visto nasceu principalmente de uma raiz trabalhista. Foram as
apenas como meio reprodutivo, passando a ser percebido mulheres das fábricas nos Estados Unidos e em alguns
como um meio para o prazer. Um dos grandes símbolos países da Europa que começaram uma campanha dentro
desse processo foi a invenção da pílula anticoncepcional. do movimento socialista para reivindicar seus direitos – as
Devido às transformações ocorridas na sociedade, grandes condições de trabalho delas eram ainda piores do que as
temas relacionados à vida doméstica passaram a integrar dos homens à época.
esse debate, como por exemplo a questão da violência e do
trabalho doméstico. Uma das maiores representantes desse Adaptado de bbc.com.
período foi a filósofa existencialista Simone de Beauvoir
(1908-1986), que colocou em xeque as definições biológicas Com base na reportagem, a criação do Dia Internacional
do que definiam a ideia de mulher e trouxe o debate para da Mulher tem origem nas manifestações sociais em defesa
o campo cultural, percebendo-as como uma construção de:
social. Imagino que você já deve ter ouvido a famosa frase:
“a mulher não nasce mulher, torna-se mulher” presente na A ampliação da cidadania
sua obra “O Segundo Sexo”. B expansão da liberdade
C promoção da diversidade
Outra personagem fundamental para a compreensão D valorização da pluralidade
da segunda onda do movimento feminista foi Betty Friedan
(1921-2006), que, entre outros textos, lançou “A mística
feminina” de 1963, que discutia sobre a insatisfação das
mulheres brancas norte-americanas com as suas respectivas MOVIMENTO NEGRO
expectativas sociais. Esse fenômeno desencadeou, entre
outros fatores, a famosa “queima de sutiãs”, que passou a
representar um grande marco para o movimento. Além do debate sobre gênero, outro grande tema em
relação à questão identitária parte do movimento negro e
A terceira onda feminista marcou a década de 1990, sua luta contra a discriminação racial. Esse tema parte de um
que ampliou o leque de temas debatidos até então. Entre dos capítulos mais tristes da nossa história: a escravidão. Ao
eles se destaca a questão da interseccionalidade do longo dos séculos, indivíduos negros foram transformados
movimento, que defende a necessidade de considerar em mercadoria e vendidos para atender a demanda de
outros padrões de opressão. Isso significa dizer que não um cruel processo colonizador. Um dos resultados desse
bastava olhar apenas para a “mulher”, mas também as processo foi uma onda de preconceito e discriminação
suas particularidades, como a questão racial, a classe, para com afrodescendentes em todo o planeta. A pauta do
orientação sexual, por exemplo. Isso acabou por agregar movimento negro vai além da garantia de direitos civis, mas
demandas que antes não recebiam a devida atenção. Uma também do reconhecimento, da valorização da sua cultura,
das maiores teóricas que representa esse momento é a da sua identidade.
filósofa Judith Butler (1956), que passou a problematizar o
conceito de gênero, ampliando-o como algo não binário e
fluido. Esse fenômeno passou a ser conhecido como teoria
Queer.

A literatura sobre o tema já fala em uma quarta onda


feminista a partir da década de 2010, e que recebeu uma
grande demanda a partir das redes sociais, denunciando
com muito mais força questões como o assédio e a violência
contra a mulher. Podemos destacar como um símbolo dessa
fase a ativista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie (1977),
que passou a discutir estereótipos sobre o feminismo e
a necessidade de luta que não se restringe apenas às https://querobolsa.com.br/revista/21-dados-para-entender-a-luta-do-
movimento-negro-no-brasil
mulheres, mas sim a toda a sociedade.

3
5.0 MOVIMENTOS SOCIAIS

Um dos capítulos mais importantes do movimento século XIX, como a origem do mal e do fraco desenvolvimento
negro ocorreu nos Estados Unidos, um país marcado pela do Brasil. Em contrapartida, o eurocentrismo e o ideal
escravidão, segregação e violência que até meados do de embranquecimento da população fizeram com que
século XX ainda mantinha uma legislação que impedia o governo desenvolvesse políticas de imigração que
o reconhecimento e a igualdade civil, política e social a incentivaram a vinda de grupos europeus. Num primeiro
cidadãos negros. A luta por igualdade foi longa e envolveu momento, italianos, alemães, portugueses, poloneses etc.
o movimento da população nas ruas e inúmeros casos nos receberam tratamento completamente diferente daquele
tribunais. Diversos personagens se destacaram no processo, recebido pelas pessoas que vieram por força da escravidão.
entre eles Rosa Parks, Malcom X e Martin Luther King. E também pelos que já estavam aqui e foram dizimados em
nome da ‘civilização’”.
"Eu sou um homem, e é todo o passado do mundo que (RODRIGUES, Rosiane. “Nós” do Brasil: estudos das relações étnico-raciais.
São Paulo: Moderna, 2012. p. 96-97).
preciso retomar. Cada vez que um homem fez triunfar a
dignidade do espírito, cada vez que um homem disse não
Ao associar o texto desse enunciado com a data de 20 de
a uma tentativa de escravização de seu semelhante, eu me
novembro, dia nacionalmente rememorado como o Dia da
senti solidário com sua atitude. Eu, homem de cor, quero
Consciência Negra, é correto afirmar que:
apenas uma coisa: que nunca mais haja escravização do
homem pelo homem".
FRANTZ FANON Pele negra, máscaras brancas. Salvador: UFBA, 2008 A essa data nos permite compreender como foi pacífica
e gradual a integração dos grupos de trabalhadores
africanos que chegaram ao Brasil a partir de 1500 e que
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

ajudaram a formar a sociedade brasileira.


B a data de 20 de novembro marca a luta e a resistência
QUESTÃO 04 dos povos africanos escravizados que foram trazidos
para o Brasil para servir como força de trabalho e que,
(UNISC) Em 25 de maio de 2020, George Floyd, cidadão indiscutivelmente, fazem parte de nossa história, mas
americano, negro, foi brutalmente asfixiado até a morte que durante muitos anos ficaram, oficialmente, à margem
pelo policial Derek Chauvin, não sem antes implorar do processo de construção da identidade brasileira.
para que isso não acontecesse. A ação, toda filmada e C comemora-se a data de chegada dos primeiros comboios
que imediatamente foi catapultada pelas redes sociais, mercantis lusos à América, trazendo trabalhadores
levantou uma enorme onda de protestos por todo o mundo, africanos escravizados, para sua inserção no sistema de
com manifestações pacíficas ou violentas que duraram exploração colonial português.
semanas. Infelizmente a morte de negros já controlados D o dia 20 de novembro ficou marcado como marco
em mãos das polícias no mundo não é uma eventualidade pela integração das culturas africana e portuguesa,
e é uma das mais tristes faces do racismo estrutural que originando a cultura brasileira. Esses elementos,
permeia grande parte da sociedade moderna. A onda de inicialmente diferentes, foram essenciais para as trocas
protestos desencadeada a partir do evento deu visibilidade culturais e a fundação da sociedade brasileira.
mais uma vez a uma mobilização que no caso americano já E influenciada pela política do Apartheid sul-africano, a
é reconhecida desde 2013 mas que ganha adeptos por todo sociedade brasileira passou os séculos iniciais após seu
mundo, indiferente de cor da pele, religião e nacionalidade. surgimento excluindo e segregando as minorias étnicas.
Após tentativas frustradas, o governo republicano
Este movimento, que enfrenta ações de racismo, em especial passou a desenvolver projetos de integração dos
às populações negras, é conhecido como: afrodescendentes ao mercado de trabalho, sendo a
data de 20 de novembro um marco comemorativo desse
A Vidas Negras Importam. projeto de integração.
B Luta pelos Direitos Civis.
C Movimento Zumbi dos Palmares.
D Movimento Negro Unificado. MOVIMENTO LGBTPQIA+
E Nenhuma das alternativas anteriores.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

Ao longo dos últimos capítulos, discutimos sobre diversos


temas que compõem o universo dos direitos e da luta pela
QUESTÃO 05 cidadania. Nesse sentido, percebemos que a cidadania
não pode ser compreendida como algo acabado ou
(UFMS) Leia atentamente o texto a seguir. estático, mas sim como algo que se encontra em constante
mudança. Para que a cidadania ocorra é necessário que
“Vamos refletir: no Brasil, africanos, indígenas e seus os seus personagens atuem incisivamente e, ao longo da
descendentes passaram três séculos e meio tendo sua força história, os movimentos sociais têm apresentado enorme
de trabalho escravizada e, apesar de serem os geradores protagonismo nesse contexto. Hoje, discutiremos sobre
de riquezas (financeiras e culturais), representavam uma um dos movimentos com maior protagonismo das últimas
ameaça à estabilidade política e econômica dos grupos décadas: o Movimento LGBTPQIA+, que é um movimento
abastados. Isso sem falar na desqualificação de suas civil que luta contra o preconceito, o ódio e a violência que
compreensões de mundo (culturas, religiões e expressões milhões de pessoas enfrentam diariamente.
artísticas). Esses mesmos indígenas, africanos e seus
descendentes foram tratados, pelas pseudociências do

4
5.0 MOVIMENTOS SOCIAIS

No Brasil o movimento LGBTQIA+ ganha maior destaque


a partir da década de 1970, em um importante contexto de
repressão social que é a ditadura civil-militar (1964-1985).
Sempre associado a uma cultura marginal, o movimento
ganhou maior destaque a partir de periódicos como os
jornais Lampião da Esquina e ChanacomChana, que
abordavam diversas temáticas, entre elas a violência
contra homossexuais. Um importante evento é associado
ao ChanacomChana, que era comercializado em um bar
chamado Ferro’s Bar, frequentado por mulheres lésbicas.
Certa vez, em 1983, os donos do local expulsaram as
https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/mais-de- mulheres de lá, o que causou uma importante reação em
280-candidatos-apoiam-a-causa-lgbt/
19 de agosto, quando inúmeros ativistas realizaram um ato
político, que ficou conhecido como o “Stonewall Brasileiro”,
Um dos grandes símbolos desse movimento é promover a
e devido a isso a data de 19 de agosto passou a ser
diversidade e, por isso, a própria sigla do movimento passou
reconhecido como o Dia do Orgulho Lésbico no estado de
por diversas transformações na tentativa de incluir cada vez
São Paulo.
mais pessoas. Diversas nomenclaturas já foram utilizadas.
Até os anos 80, foi utilizada apenas a expressão gay, mas
claramente não dava conta das diversidades de expressões
e identidade já conhecidas. Claramente a terminologia gay
não abrange toda a comunidade. Dessa forma, passou-se a
se referir à comunidade como LGBT, referindo-se a Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais ou Transgêneros.
Hoje a sigla mais abrangente é a LGBTQIA+, que engloba
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexo,
Assexual e o `+` que serve para abranger pessoas de outras
bandeiras e pluralidades.

Acontece que, para entender esse movimento, precisamos


viajar um pouco no tempo, mais especificamente para o
dia 28 de junho de 1969 em Stonewall Inn, Green Village,
Estados Unidos. Esse dia é considerado o grande marco de
início do movimento, quando um grupo de gays, lésbicas,
travestis e drag queens enfrentaram policiais, por conta
de uma forte política repressiva que promovia constantes
batidas humilhantes, e iniciaram uma rebelião que durou 6
dias e que mudaria para sempre a sua história. Esse episódio
ficou conhecido como Stonewall Riot e essa data passou a
ser considerada o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+.

Apesar de associarmos o início do movimento à


segunda metade do século XX, infelizmente os registros
de violência contra homossexuais datam de 1200 a.C. Já
no século XIII, percebemos o primeiro código penal contra
a homossexualidade ainda no império de Gengis Khan. Lá,
o crime de sodomia era punido com a pena de morte. No
mundo ocidental, as primeiras leis estavam associadas ao
contexto da inquisição como o Buggery Act (Inglaterra) em
1533 e o Código Penal de Portugal que continham os “Atos Fonte: Acervo: Grupo Arco-Íris; O Globo.
de Sodomia” e logo se espalharam por diversos países
como Espanha e França. Essa perseguição e violência se Outro importante contexto que marca a difícil trajetória do
seguiu ao longo dos séculos e podemos exemplificar esse movimento é o da década de 1980 e a epidemia do vírus HIV,
cenário a partir do avanço do Nazismo, que perseguiu que vitimou diversas pessoas e estigmatizou a comunidade,
diversas minorias como homossexuais, judeus, ciganos que era vista pelo senso comum como a portadora dessa
por exemplo. Nos campos de concentração, o triângulo doença. Não a toa a doença era conhecida como “câncer
rosa invertido era utilizado para representar homens gays (ou peste) gay”, batizado de grid (uma sigla em inglês para
enquanto o triângulo preto invertido se referia as mulheres imunodeficiência relacionada aos gays), e as consequências
lésbicas. Como podemos ver, mesmo e um recorte histórico desses preconceitos podem ser percebidas até os dias
muito próximo dos nossos dias, percebemos um cenário de atuais. O vírus já matou mais de 25 milhões de pessoas e
enorme dificuldade. Até os anos 60, a homossexualidade está presente em outras 40 milhões; alterou completamente
era ilegal em países como os Estados Unidos. Até mesmo o o comportamento da nossa sociedade. Aquela geração
contexto médico compreendia a homossexualidade como dos anos 60, marcada pela liberdade sexual precisou pisar
uma doença mental e alguns dos métodos de tratamento no freio e a revolução precisou dar lugar ao “sexo seguro”,
incluíam tortura, castração, lobotomia e estupros corretivos. principalmente entre os jovens.

5
5.0 MOVIMENTOS SOCIAIS

No trecho selecionado da encíclica, o papa estabelece:

A a relação entre a desigualdade social e a fragilidade do


equilíbrio ecológico planetário.
B o vínculo entre a responsabilidade humana no
aquecimento global e a elevação do nível do mar.
C a interdependência entre o desenvolvimento tecnológico
e o progresso material e moral.
D o papel da política internacional para o uso responsável
das fontes hídricas.
E a importância de preservar o bem comum, sobretudo a
The New York Times – 03/07/1981 – “Câncer raro visto em 41 homossexuais”. água potável.
Fonte: site Back2Stonewall.

ORIENTADA

RESOLUÇÃO
QUESTÃO 07

(UEA)

“Jornal Luta Democrática” – 10/1983 – “ Peste Gay é a epidemia do século”


e “Pânico entre os homossexuais”.
Fonte: blog Novidades online.

Como vimos a trajetória do movimento LGBTQIA+


é marcada por enorme luta. Uma luta diária contra o
preconceito, o ódio, a intolerância e a violência. E se
sonhamos com uma sociedade cada dia mais justa e livre,
essa luta precisa ser de todos.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 06 A questão colocada em debate pela charge é:

(FGV) Em junho de 2015, o Papa Francisco tornou pública a A o desenvolvimento que não pode ser alcançado com a
encíclica Laudato sí (Louvado sejas), na qual trata do meio presença de áreas verdes.
ambiente e da atual crise ecológica, conforme trecho a B a falta de materiais de proteção individual para as
seguir. pessoas próximas às caçambas.
C o caráter efêmero das construções civis que um dia serão
48. O ambiente humano e o ambiente natural degradam- destruídas.
se em conjunto; e não podemos enfrentar adequadamente D a situação precária dos trabalhadores ligados ao
a degradação ambiental, se não prestarmos atenção transporte de carga no Brasil.
às causas que têm a ver com a degradação humana e E o descarte irregular de lixo e os impactos ambientais e
social. De fato, a deterioração do meio ambiente e a da sociais implicados.
sociedade afetam de modo especial os mais frágeis do
planeta: “Tanto a experiência comum da vida quotidiana ORIENTADA
RESOLUÇÃO

como a investigação científica demonstram que os efeitos


mais graves de todas as agressões ambientais recaem QUESTÃO 08
sobre as pessoas mais pobres”. Por exemplo (...), a poluição
da água afeta particularmente os mais pobres que não têm
possibilidades de comprar água engarrafada, e a elevação (UFU) “Neste novo século, na América Latina, os indígenas
do nível do mar afeta principalmente as populações estão re-emergindo como a grande novidade no cenário
costeiras mais pobres que não têm para onde se transferir. das lutas e movimentos sociais na região. Sabe-se que a
O impacto dos desequilíbrios atuais manifesta-se também luta dos indígenas, de resistência à colonização europeia
na morte prematura de muitos pobres, nos conflitos gerados e branca, é secular. Na atualidade, o elemento novo é
pela falta de recursos e em muitos outros problemas que a forma e o caráter que essas lutas têm assumido – não
não têm espaço suficiente nas agendas mundiais. apenas de resistência, mas também de luta por direitos:
Apud http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/ reconhecimento de suas culturas e da própria existência,
papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html redistribuição de terras em territórios de seus ancestrais,
escolarização na própria língua, etc.”
Gohn, Maria da Glória. Abordagens teóricas no estudo dos movimentos
sociais na América Latina. Caderno CRH, Salvador. v. 21, n. 54, p. 439-455.
Set/Dez. 2008.

6
5.0 MOVIMENTOS SOCIAIS

De acordo com o texto, os movimentos indígenas


contemporâneos têm buscado: GABARITO

A justiça social e integração da sociedade indígena pela QUESTÕES ORIENTADAS


aculturação.
B retorno às tradições e defesa da miscigenação. 01 A 02 B 03 A
C reconhecimento identitário e valorização de seu modo de
vida. 04 A 05 B 06 A
D defesa da igualdade racial e diminuição da legitimidade
07 E 08 C 09 A
da autoridade estatal.
Acertos Erros Rendimento
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

TOTAL DE ACERTOS
QUESTÃO 09
Total Total
14 Rendimento %
Questões Acertos
(UECE) Atente para o enunciado a seguir:

“O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST – é um dos


mais importantes movimentos sociais do Brasil, tendo como
foco as questões do trabalhador do campo, principalmente
no tocante à luta pela reforma agrária brasileira”.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/mst.htm.

No que diz respeito ao conceito de “movimentos sociais”, é


correto afirmar que são:

A ações coletivas de segmentos socialmente organizados


que têm como objetivo alcançar mudanças sociais por
meio do embate político, dentro de uma determinada
sociedade e de um contexto específico.
B expressões individuais dos sujeitos em seus cotidianos na
busca de realização de seus desejos e sonhos a serem
alcançados no mercado de trabalho e no reconhecimento
de seus méritos pelo Estado.
C organizações governamentais com o objetivo de
mobilizar setores da população para fazerem valer os
direitos sociais e civis, tendo como referências o acesso a
serviços que reconheçam a plena cidadania.
D organizações de interesse público mantidas por meio
de fundos públicos com o objetivo de cooperar na
organização das instituições privadas da sociedade, em
parceria com os governos.

7
SOCIOLOGIA CONTEÚDO + ORIENTADAS

REVISE &
RESPONDA

6.0 SOCIOLOGIA BRASILEIRA

Introdução esse período, a elaboração da teoria social foi


desenvolvida por pensadores e mesmo por homens de
ação (políticos), sob a influência de ideias filosófico-
Quando iniciamos os nossos estudos sobre a
sociais europeias ou norte-americanas como, por
origem da Sociologia na Europa, percebemos
exemplo, o iluminismo francês, o ecletismo e Cousin,
que essa “nova ciência” nasceu da necessidade
o positivismo de Comte, o evolucionismo de Spencer
de compreensão social diante de uma série de
e Haeckel, o social-darwinismo americano de Sumner
transformações sociais que vinha ocorrendo
e Ward e o determinismo biológico de Lombroso. Sob
no continente nos últimos séculos. A Revolução
as influências desses autores, buscava-se equacionar
Científica, a Revolução Francesa e a Revolução
duas problemáticas centrais: a formação do Estado
Industrial foram apenas alguns dos exemplos dessas
nacional brasileiro, opondo liberais e autoritários, e a
mudanças que moldaram o mundo contemporâneo.
questão da identidade nacional, tendo como núcleo a
Acontece que a Sociologia não ficou restrita apenas
questão racial, opondo os que sustentavam uma visão
no velho continente, e um desses lugares onde
racista aos inspirados pelo relativismo étnico cultural.
floresceu a abordagem sociológica foi o Brasil. FILHO, Emno D. Liedke. A Sociologia no Brasil: história, teorias e
desafios. Sociologias, Porto Alegre, ano 7, n.14, p.376-437, jul/dez
Apesar de receber grande influência europeia, a 2005 (Fragmento)
sociologia brasileira buscou entender e responder
diversas questões que são próprias da realidade
brasileira, como por exemplo, de que forma o
VIDEOAULA

nosso passado colonial e escravista influenciou a


construção da nossa realidade social?
EUCLIDES DA CUNHA

Os primórdios do pensamento sociológico brasileiro Um dos principais personagens desse período foi Euclides
remetem ao século XIX, em um contexto marcado pela da Cunha (1866-1909), que marcou para sempre a história
abolição da escravidão – 1888, proclamação da República da literatura brasileira ao escrever Os Sertões (1902), obra
– 1889. Nesse cenário algumas questões começaram a que foi resultado da sua experiência como correspondente
ser formuladas, afinal, como integrar a população negra da Guerra de Canudos para o jornal O Estado de São Paulo.
à condição de cidadã? Apesar de ainda não existir Na obra, não lemos apenas terrível retrato da guerra, mas
propriamente enquanto “ciência”, nesse período nasceram podemos perceber um relato de percepções sociais que
algumas interpretações sobre a nossa realidade, muitas povoam o imaginário da população brasileira no período:
delas influenciadas pelo Iluminismo, pelo evolucionismo, a existência de “dois brasis” que podiam ser desenhados
pelo naturalismo, pelo positivismo e pelo darwinismo social. em uma clara relação de antagonismos; um Brasil moderno,
civilizado, que caminhava rumo ao progresso representado
pelo Sul e Sudeste em oposição ao Brasil velho, bruto
SOCIOLOGIA PRÉ-CIENTÍFICA e atrasado que tinha a pobreza como companheira,
representado pelas regiões Norte e Nordeste.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

Como vimos, o pensamento sociológico brasileiro não


nasce em um ambiente universitário como ocorreu na Europa.
As primeiras “interpretações sociais” brasileiras ocorreram QUESTÃO 01
por indivíduos que não possuíam formação em sociologia.
Estamos falando sobre médicos, jornalistas, advogados, (UECE) Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (1866-1909),
literatos, engenheiros, políticos que, em um contexto autor de Os Sertões – Campanha de Canudos (1902), é
fortemente influenciado por teorias raciais e deterministas seguramente um dos primeiros pensadores deste país que
desenvolveram diversas “teses” sobre o nosso país. foi capaz de entender o Brasil na sua substância específica
de grande diversidade genético-mestiça e conturbada
formação social. Os Sertões trata da “Campanha” do
O período dos pensadores sociais, também
exército brasileiro republicano contra o arraial de Canudos,
chamado por alguns autores de período pré-
ocorrida no sertão baiano, que durou de meados de 1896
científico, corresponde historicamente ao período que
a outubro de 1897. O livro é um clássico da Literatura e das
se estende das lutas pela independência das nações
Ciências Sociais e para além de uma interpretação da
latino-americanas até o início do século XX. Durante
formação social e cultural do Brasil, é um livro de denúncia
contra a então República brasileira: “A Campanha de

1
6.0 SOCIOLOGIA BRASILEIRA

Canudos foi, na significação integral da palavra, um crime. [...] No Brasil, podemos distinguir nitidamente, na
Denunciemo-lo”. evolução da Sociologia, dois períodos bem configurados
CUNHA, Euclides da. Os Sertões – Campanha de Canudos. São Paulo: Ática, 1998.
(1880-1930 e depois de 1940), com uma importante fase
intermediária de transições (1930-1940). No primeiro, é
Com base no exposto, assinale a afirmação verdadeira.
praticada por intelectuais não especializados, interessados
A A Guerra de Canudos, como demonstra Euclides da principalmente em formular princípios teóricos ou interpretar
Cunha em Os Sertões, foi uma luta entre monarquistas e de modo global a sociedade brasileira. Além disso, não
republicanos. se registra no seu ensino, nem a existência da pesquisa
B Em Os Sertões, Euclides da Cunha procura compreender empírica sobre aspectos delimitados da realidade presente.
a construção sociocultural brasileira e vinga a memória
de Canudos.
C Em Os Sertões, é provado que a mestiçagem do povo Depois de 1930, ela penetra no ensino secundário
brasileiro é uma das causas da perturbação social que e superior, começa a ser invocada como instrumento
formou o país. de análise social, dando lugar ao aparecimento de
D A Campanha de Canudos representou a justiça feita um número apreciável de cultores especializados,
pelo exército republicano contra os criminosos do sertão devendo-se notar que os primeiros brasileiros de
baiano. formação universitária adquirida no próprio país
formaram-se em 1936. O decênio de 1930, rico e
decisivo, pode ser considerado fase transitória para
o atual período que, iniciado mais ou menos em 1940,
SÍLVIO ROMERO corresponde à consolidação e generalização da
sociologia como disciplina universitária e atividade
socialmente reconhecida, assinalada por uma
Outro importante personagem fundamental para produção regular no campo da teoria, da pesquisa e
a construção da nossa ideia de Brasil foi o jornalista e da aplicação. [...]
CANDIDO, A. A Sociologia no Brasil. Tempo Social. V. 18, n.1, São
historiador sergipano Sílvio Romero (1851-1914), que fez
Paulo, 2006 [Fragmento]
parte da Academia Brasileira de Letras e defendeu entre
outras teses a questão da miscigenação. Segundo Romero,
não haveria uma raça que representasse a nação, todos
os brasileiros eram mestiços, seja mestiço no sangue,
VIDEOAULA

seja mestiço na cultura, afinal, ao longo da nossa história GILBERTO FREYRE


assimilamos diversas culturas como a europeia, a africana
e a indígena.

O pernambucano Gilberto Freyre (1900-1978) foi um dos


mais influentes intérpretes da realidade brasileira. Autor de
RAIMUNDO NINA RODRIGUES clássicos como “Casa Grande & Senzala” (1933), “Sobrados
e Mocambos” (1936) e “Nordeste” (1937), Freyre foi aluno
do antropólogo e alemão Franz Boas, o que influenciou
Outro personagem fundamental para entender esse consideravelmente na sua perspectiva sociológica. Uma
período da nossa sociologia foi o médico e antropólogo de suas maiores contribuições foi na inovação no modo de
maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1806-1906). Segundo
interpretar a questão racial, pois foi de encontro às ideias
ele existiam diferenças insuperáveis entre as raças no Brasil
e dessa forma, negros e indígenas seriam inferiores aos defendidas pelos evolucionistas.
brancos. A partir de uma postura inspirada no darwinismo
social, defendia que a mistura entre raças só poderia resultar Um dos elementos fundamentais do seu pensamento
em indivíduos degenerados, afinal, as características de um foi importância do período colonial para a formação da
determinado grupo racial definiriam comportamentos e nossa identidade. O modelo de colonização e povoamento
desejos dos indivíduos. brasileiro pautou-se na formação de pequenos núcleos
autossuficientes – as fazendas – que eram comandadas
por uma figura masculina – patriarcal. Aqui no Brasil,
NOVA GERAÇÃO DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA prevaleceu a miscigenação e esse processo favoreceu um
tipo de relação mais branda e harmônica entre as raças,
se comparada à experiência de outros países, como por
A partir da década de 1930, além do surgimento dos exemplo, os Estados Unidos da América. Essa ideia ficou
cursos superiores no Brasil veremos surgir uma nova geração conhecida como a “democracia racial”, conceito que foi
de intérpretes da nossa sociedade. Alguns grandes temas alvo de diversas críticas ao longo do tempo. Freyre observou
continuam em voga nesse debate, entre eles a questão o Brasil a partir de suas particularidades e concluiu que a
da identidade nacional, assim como a influência do nosso nossa sociedade estava pautada em uma relação de
passado colonial para a construção da nossa identidade dicotomia entre dois universos, a Casa Grande e a Senzala.
nacional.

2
6.0 SOCIOLOGIA BRASILEIRA

B a escravidão e o latifúndio da monocultura açucareira


Atente para o seguinte excerto: “A miscigenação lançaram distâncias sociais insuperáveis entre senhores
que largamente se praticou aqui corrigiu a distância e escravos.
social que de outro modo se teria conservado enorme C foram os homens negros, e não as mulheres negras, os
entre a casa-grande e a senzala. O que a monocultura principais responsáveis pela criação da democracia
latifundiária e escravocrata realizou no sentido de racial no Brasil.
aristocratização, extremando a sociedade brasileira D os negros e os brancos em conjunto, no período colonial,
em Senhores e escravos, com uma rala e insignificante constituíram uma vigorosa democracia social de governo
lambujem de gente livre sanduichada entre esses da sociedade.
dois extremos antagônicos, foi em grande parte
contrariado pelos efeitos sociais da miscigenação.

VIDEOAULA
A índia e a negra-mina a princípio, depois a mulata, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
a cabrocha, a quadrarona, a oitavona, tornando- E CAIO PRADO
se caseiras, concubinas e até esposas legítimas
dos senhores brancos, agiram poderosamente no
SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
sentido de democratização social do Brasil. Entre os
filhos mestiços, legítimos e mesmo ilegítimos, havidos
Nascido em São Paulo, o historiador e sociólogo Sérgio
delas pelos Senhores brancos, subdividiu-se parte
Buarque de Holanda (1902-1982) foi outro grande nome
considerável das grandes propriedades, quebrando-
do pensamento social brasileiro. Autor de clássicos como
se assim a força das sesmarias feudais e dos latifúndios
“Raízes do Brasil” (1936), “Monções” (1945) e “Visão do Paraíso”
do tamanho de reinos”.
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: formação da família (1959), viveu na Alemanha antes da ascensão do nazismo e
brasileira sob o regime patriarcal. 52 ed. São Paulo: Global, 2013. chegou inclusive a lecionar na Universidade de Munique.
Fortemente influenciado pelo sociólogo alemão Max Weber
e a sua sociologia compreensiva, também dedicou grande
ORIENTADA parte da sua análise ao processo de colonização do Brasil e
RESOLUÇÃO

sua influência na nossa economia e cultura.


QUESTÃO 02
Um dos grandes temas da sua teoria foi a relação público
x privada, herdada da colonização portuguesa. Dela
(UECE) Atente para o seguinte excerto: “A miscigenação
resultaram diversos comportamentos do brasileiro, como por
que largamente se praticou aqui corrigiu a distância social
exemplo a noção de pessoalidade e impessoalidade das
que de outro modo se teria conservado enorme entre a
relações, a aversão à formalidade. A partir desses temas –
casa-grande e a senzala. O que a monocultura latifundiária
e da influência weberiana – nasceu o tipo ideal de brasileiro,
e escravocrata realizou no sentido de aristocratização,
chamado de “homem cordial”. É importante destacar
extremando a sociedade brasileira em Senhores e escravos,
que, apesar de associarmos o conceito de cordialidade à
com uma rala e insignificante lambujem de gente livre
afetuosidade e generosidade, no pensamento de Sérgio
sanduichada entre esses dois extremos antagônicos, foi
Buarque de Holanda, essa noção assume outra perspectiva,
em grande parte contrariado pelos efeitos sociais da
o autor aplicou o termo a partir de sua raiz linguística. Em
miscigenação. A índia e a negra-mina a princípio, depois a
latim cordial – cordialis – significa “relativo ao coração”,
mulata, a cabrocha, a quadrarona, a oitavona, tornando-
afinal o brasileiro seria um povo movido pelas paixões, pela
se caseiras, concubinas e até esposas legítimas dos
passionalidade.
senhores brancos, agiram poderosamente no sentido de
democratização social do Brasil. Entre os filhos mestiços,
legítimos e mesmo ilegítimos, havidos delas pelos Senhores Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda
brancos, subdividiu-se parte considerável das grandes desenvolve uma ideia em torno da qual constrói sua
propriedades, quebrando-se assim a força das sesmarias interpretação sociológica: a do “homem cordial”.
feudais e dos latifúndios do tamanho de reinos”. Este seria o brasileiro típico, fruto da colonização
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: formação da família brasileira
sob o regime patriarcal. 52 ed. São Paulo: Global, 2013.
portuguesa e representante conceitual da nossa
sociedade. Acontece que, como a palavra “cordial”
O sociólogo brasileiro Gilberto Freyre aponta, na citação na linguagem comum tem o sentido de afável,
acima, a criação de uma “democracia racial” na história da afetuoso, a ideia do “homem cordial” ficou associada
relação entre senhores e escravos no Brasil escravocrata. à concepção do brasileiro como gentil, hospitaleiro,
Assim, mesmo que se possa criticar tal concepção, a pacífico. E Sérgio Buarque foi muito criticado por essa
perspectiva teórico-sociológica de Freyre afirma que: maneira de ver os brasileiros.
O’DONNEL, Júlia et al. Tempos Modernos, Tempos de Sociologia. Rio
A a miscigenação na história do Brasil foi positiva, pois de Janeiro: Editora do Brasil, 2018. p. 346-347.
aproximou a Casa-Grande e a Senzala ou senhores e
escravos.

3
6.0 SOCIOLOGIA BRASILEIRA

[...] é possível acompanhar, ao longo de nossa O dilema racial brasileiro [...] se caracteriza pela
história, o predomínio constante das vontades forma fragmentária, unilateral e incompleta com que
particulares que encontram seu ambiente próprio em [o regime de classes sociais] consegue abranger,
círculos fechados e pouco acessíveis a uma ordenação coordenar e regulamentar as relações raciais. Estas
impessoal. Dentre esses círculos, foi sem dúvida o não são totalmente absorvidas e neutralizadas,
da família aquele que exprimiu com mais força e desaparecendo atrás das relações de classes. Mas
desenvoltura em nossa sociedade [...]. E um dos efeitos sobrepõem-se a elas, mesmo onde e quando as
decisivos da supremacia incontes- tável, absorvente, contrariam, como se o sistema de ajustamentos e
do núcleo familiar – a esfera por excelência dos de controles sociais da sociedade de classes não
chamados “contatos primários” dos laços de sangue contivesse recursos para absorvê-las e regulá-las
e de coração – está em que as relações que se criam socialmente.
na vida doméstica sempre forneceram o modelo FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de
classes. São Paulo: Dominus Editora/ EDUSP, 1965. v. II, p. 391
obrigatório de qualquer composição social entre nós.
Isso ocorre mesmo onde as instituições democráticas,
fundadas em princípios neutros e abstratos, pretendem
assentar a sociedade em normas antiparticularistas. ORIENTADA

RESOLUÇÃO
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil, São Paulo: Companhia das Letras, 1995

QUESTÃO 03
Outro grande tema presente na obra de Sérgio Buarque
de Holanda, que viria a ser muito bem explorado pelo jurista (UEMA) Leia o fragmento abaixo.
e sociólogo Raymundo Faoro na obra “Os Donos do Poder”,
foi a questão do patrimonialismo. Esse conceito é utilizado “[...] Se a supressão do nexo colonial não se refletiu na
para discutir sobre a formação do Estado brasileiro que é condição de escravo nem afetou a natureza da escravidão
marcada pela confusão entre o público e o privado além do mercantil, ela alterou a situação econômica do senhor
personalismo que é muito bem representado no chamado
que deixou de sofrer o peso da ‘espoliação colonial‘ e
“jeitinho brasileiro”.
passou a contar, por conseguinte, com todas as vantagens
CAIO PRADO JR. da ‘espoliação escravista‘ que não fossem absorvidas
diretamente pelos mecanismos secularizados do comércio
O historiador paulista Caio Prado Jr. (1907-1990) foi um internacional”.
dos pioneiros no que diz respeito à interpretação marxista Fonte: FERNANDES, Florestan. Circuito Fechado: quatro ensaios sobre o
“poder institucional”. São Paulo: Globo, 2010.
da realidade brasileira. Autor de clássicos, como “Formação
do Brasil Contemporâneo” (1942), “História Econômica do
Brasil” (1945) e “Revolução Brasileira” (1966), propôs uma Baseando-se no fragmento de Florestan Fernandes, pode-
interpretação do Brasil, analisando o nosso passado colonial se afirmar que a independência do Brasil:
e as nossas especificidades. Segundo ele, o Brasil não
passou, assim como ocorreu na Europa, por uma mudança A dificultou o fortalecimento da economia nacional.
do feudalismo para o capitalismo, mas sim nasceu no interior B fortaleceu o setor econômico escravista nacional.
do capitalismo, de forma periférica a partir de uma relação C extinguiu o tráfico de pessoas escravizadas ao país.
de exploração do capital. D rompeu com a estrutura econômica baseada na
escravidão.
E aumentou a dependência brasileira aos interesses
VIDEOAULA

portugueses.
FLORESTAN FERNANDES
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

Influenciado por Caio Prado Jr, o paulistano Florestan


Fernandes (1920-1995) é considerado o patrono da QUESTÃO 04
sociologia brasileira. Um dos organizadores da Escola
de Sociologia da USP, junto a Octávio Ianni e Fernando (UDESC) Leia o trecho a seguir:
Henrique Cardoso, desenvolveu inúmeras pesquisas sobre
diversos temas e, entre eles, podemos destacar a questão “Não existe democracia racial efetiva, onde o intercâmbio
racial na sociedade brasileira a partir de uma lógica da entre indivíduos pertencentes a ‘raças’ distintas começa
“luta de classes”. e termina no plano da tolerância convencionalizada. Esta
pode satisfazer as exigências do bom-tom, de um discutível
Uma de suas principais obras foi o livro “A Integração do espírito cristão e da necessidade prática de ‘manter cada
Negro na Sociedade de Classes” (1978), no qual questiona um no seu lugar’. Contudo, ela não aproxima realmente
a tese de Gilberto Freyre no que ele chama de mito da os homens senão na base da mera coexistência no
democracia racial. Segundo Florestan Fernandes, mesmo mesmo espaço social e, onde isso chega a acontecer, da
após abolida a escravidão, a estrutura estabelecida durante convivência restritiva, regulada por um código que consagra
o período colonial e imperial do Brasil foram mantidas a desigualdade, disfarçando-a e justificando-a acima dos
e a integração daqueles indivíduos recém libertos não princípios de integração da ordem social democrática”.
acompanhou uma igualdade nas condições econômicas e Florestan Fernandes, 1960.
sociais.

4
6.0 SOCIOLOGIA BRASILEIRA

Florestan Fernandes se refere à ideia de “democracia racial” (Luiz Felipe de Alencastro. Entrevista a Mariluce Moura. “O
que, durante um período, foi considerada constitutiva da observador do Brasil no Atlântico Sul”. In: Revista Pesquisa
identidade nacional brasileira. Esta tese era caracterizada Fapesp, no 188, outubro de 2011.)
por:
A “despersonalização” e a “dessocialização” dos
A pressupor uma miscigenação harmoniosa entre os escravizados podem ser associadas, respectivamente,
diferentes grupos étnicos constitutivos da nação
brasileira. A ao fato de que os escravos eram identificados por
B apregoar que representantes de todos os grupos étnicos números marcados a ferro e à interdição do contato
deveriam ter representatividade política em âmbito entre os cativos e seus senhores.
legislativo. B à noção do escravo como mercadoria e ao fato de que os
C promover a denúncia de práticas racistas contra negros, africanos eram extraídos de sua comunidade de origem.
mulheres e indígenas. C à noção do escravo como tolerante ao trabalho
D reivindicar a instauração de processos e eventuais compulsório e ao fato de que ele era proibido de fazer
julgamentos dos responsáveis pelo processo de amizades ou constituir família.
favelização nas grandes capitais brasileiras, a partir de D ao fato de que os escravos eram etnologicamente
fins do século XIX. indistintos e à proibição de realização de festas e cultos.
E defender as candidaturas plurirraciais nos processos E à noção do escravo como desconhecedor do território
eleitorais, pós 1964. colonial e ao fato de que ele não era reconhecido como
brasileiro.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 05
QUESTÃO 06
(UNESP) Leia o texto e observe o mapa para responder à
questão a seguir. (UNICAMP) As feridas da discriminação racial se exibem
ao mais superficial olhar sobre a realidade social do país.
Nem existia Brasil no começo dessa história. Existiam o Peru Até 1950, a discriminação em empregos era uma prática
e o México, no contexto pré-colombiano, mas Argentina, corrente, sancionada pelas práticas sociais do país. Em
Brasil, Chile, Estados Unidos, Canadá, não. No que seria geral, os anúncios de vagas de trabalho eram publicados
o Brasil, havia gente no Norte, no Rio, depois no Sul, mas com a explícita advertência: “não se aceitam pessoas de
toda essa gente tinha pouca relação entre si até meados cor.” Mesmo após a Lei Afonso Arinos, de 1951, proibindo
do século XVIII. E há aí a questão da navegação marítima, categoricamente a discriminação racial, tudo continuou
torna-se importante aprender bem história marítima, que na mesma. Depois da lei, os anúncios se tornaram mais
é ligada à geografia. [...] Essa compreensão me deu muita sofisticados que antes, e passaram a requerer: “pessoas de
liberdade para ver as relações que Rio, Pernambuco e Bahia boa aparência”. Basta substituir “pessoas de boa aparência”
tinham com Luanda. Depois a Bahia tem muito mais relação por “branco” para se obter a verdadeira significação do
com o antigo Daomé, hoje Benin, na Costa da Mina. Isso eufemismo.
formava um todo, muito mais do que o Brasil ou a América (Adaptado de Abdias do Nascimento, O genocídio do negro brasileiro:
processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva, 2018, p. 97.)
portuguesa. [...]
A partir do excerto, é correto afirmar:
Nunca os missionários entraram na briga para saber se o
africano havia sido ilegalmente escravizado ou não, mas
a escravidão indígena foi embargada pelos missionários
A Apesar da Lei Afonso Arinos de 1951, o racismo que
existia há muitos anos no mercado de trabalho brasileiro
desde o começo, e isso também é um pouco interesse dos
permaneceu por meio de estratégias camufladas.
negreiros, ou seja, que a escravidão africana predomine.
[...] A escravização tem dois processos: o primeiro é a
B A Lei Afonso Arinos de 1951 possibilitou a eliminação do
racismo no mercado de trabalho do mundo da moda,
despersonalização, e o segundo é a dessocialização.
que exigia a boa aparência das pessoas brancas.
C Em 1951, o conceito de “pessoas de boa aparência”,
ditado pelo mundo da moda e reproduzido nos anúncios
de vagas de trabalho, privilegiava o asseio no vestir.
D O racismo foi eliminado das relações sociais brasileiras
somente na década de 1990, com a consolidação do
conjunto de leis da democracia racial.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 07

(UFPR) Considere o seguinte excerto:

Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda desenvolve


uma ideia em torno da qual constrói sua interpretação

5
6.0 SOCIOLOGIA BRASILEIRA

sociológica: a do “homem cordial”. Este seria o brasileiro A história da casa-grande é íntima de quase todo brasileiro:
típico, fruto da colonização portuguesa e representante de sua vida doméstica, conjugal, sob o patriarcalismo
conceitual da nossa sociedade. Acontece que, como a escravocrata e polígamo; da sua vida de menino. Nas
palavra “cordial” na linguagem comum tem o sentido de casas-grandes foi até hoje onde melhor se exprimiu o
afável, afetuoso, a ideia do “homem cordial” ficou associada caráter brasileiro, a nossa continuidade social.
à concepção do brasileiro como gentil, hospitaleiro, pacífico. Adaptado de Freyre, G. Casa-grande & senzala: formação da família
brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1995.
E Sérgio Buarque foi muito criticado por essa maneira de ver
os brasileiros.
(O’DONNEL, Júlia et al. Tempos Modernos, Tempos de Sociologia. Rio de Publicado em 1933, Casa-grande & senzala tornou-se
Janeiro: Editora do Brasil, 2018. p. 346-347.) livro de referência nas análises sobre patriarcalismo na
sociedade brasileira. Na letra da canção Morro velho,
A partir da reflexão acima, é correto afirmar que para Sérgio aspectos das relações patriarcais são abordados, entre eles
Buarque de Holanda a “cordialidade” designa: a “continuidade social”, presente na seguinte passagem:

A um comportamento cortês e civilizado. A No sertão da minha terra, / fazenda é o camarada que


B um símbolo da cultura brasileira que deveria ser ao chão se deu. (v. 1-2)
valorizado. B Orgulhoso camarada conta histórias pra moçada. (v. 14)
C o enaltecimento do caráter igualitário e impessoal das C Parte, tem os olhos tristes, / deixando o companheiro na
leis. estação distante. (v. 17-18)
D o personalismo e a aversão ao formalismo da burocracia. D Já tem nome de doutor / e agora na fazenda é quem vai
E um dos efeitos da urbanização e da industrialização do mandar. (v. 25-26)
Brasil.

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

QUESTÃO 08 GABARITO

QUESTÕES ORIENTADAS
(UERJ) Morro velho
01 A 02 B 03 A
No sertão da minha terra,
fazenda é o camarada que ao chão se deu. 04 A 05 B 06 A
Fez a obrigação com força,
parece até que tudo aquilo ali é seu. 07 E 08 C 09 A
Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho,
Acertos Erros Rendimento
lindo a crescer.
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada.
TOTAL DE ACERTOS
Filho do branco e do preto,
Total Total
correndo pela estrada atrás de passarinho. 16 Rendimento %
Questões Acertos
Pela plantação adentro,
crescendo os dois meninos, sempre pequeninos.
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha,
dá pro fundo ver.
Orgulhoso camarada conta histórias pra moçada.

Filho do sinhô vai embora,


tempo de estudos na cidade grande.
Parte, tem os olhos tristes,
deixando o companheiro na estação distante.
“Não me esqueça, amigo, eu vou voltar.”
Some longe o trenzinho ao deus-dará.

Quando volta já é outro,


trouxe até sinhá-mocinha para apresentar.
Linda como a luz da lua
que em lugar nenhum rebrilha como lá.
Já tem nome de doutor
e agora na fazenda é quem vai mandar.
E seu velho camarada
já não brinca, mas trabalha.
MILTON NASCIMENTO
Adaptado de miltonnascimento.com.br.

Você também pode gostar