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CENTRO UNIVERSITÁRIO – CATÓLICA DE SANTA CATARINA

CURSO DE TEOLOGIA
CARLOS ALBERTO BENTO

O AMOR DE CRISTO NO TRÍDUO PASCAL

JOINVILLE
2020
CARLOS ALBERTO BENTO

O AMOR DE CRISTO NO TRÍDUO PASCAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Teologia, do
Centro
Universitário – Católica de Santa Catarina,
como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel.
Orientador: Prof. Dr. André Phillipe Pereira.

JOINVILLE
2020
CARLOS ALBERTO BENTO

O AMOR DE CRISTO NO TRÍDUO PASCAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Teologia, do
Centro
Universitário – Católica de Santa Catarina,
como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel. Orientador: Prof. Dr. André Phillipe
Pereira

AVALIADORES

_________________________________
Orientador: Prof. Dr. André Phillipe Pereira
Centro Universitário – Católica de Santa Catarina

__________________________________
Profa. Leitora: Profa. Dra. Glaci Gurgacz
Centro Universitário – Católica de Santa Catarina

Joinville, 26 de novembro de 2020.


FICHA CATALOGRÁFICA
(Catalogado na fonte pela Biblioteca Centro Universitário Católica de Joinville)
Carla Maria Rodrigues de Souza CRB- -14/1640
À minha esposa e filhos, pais e irmãos,
pelo apoio e pela compreensão nas horas de
ausência, para bem cumprir esta etapa
inspirada por Deus.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus pelo dom da vida, por ter me chamado a servir e pela
inspiração para realizar o curso de teologia e sustentar-me com seu amor nas dificuldades que
surgiram ao longo da caminhada.
Agradeço à Maria, Mãe de Deus, pela sua maternal presença e permanente auxílio.
Agradeço a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica que pelo Santo Batismo me uniu
a Cristo e me conservou unido a Ele através dos sacramentos da penitência, eucaristia e do
matrimônio!
À minha esposa, Michele, que acolheu o meu desejo e apoiou-me para realizar o
curso. Aos meus filhos, Bianca e Rafael, pela compreensão em dividir o tempo com meus
estudos.
Aos meus pais, que, com seu amor, compreensão, apoio e conselhos, incentivaram-me
durante toda essa jornada.
Aos familiares e amigos que, além do apoio dado desde o início da faculdade,
entenderam com carinho quando me afastei não por querer, mas pelo comprometimento com
que tratei os estudos.
Aos professores e mestres, cada um da sua maneira, passaram-me seus conhecimentos,
especialmente quando me apoiaram nos períodos de dificuldades de ordem pessoal e familiar.
À Professora Glaci Gurgacz que, com toda a sua dedicação, conduziu-nos na
elaboração deste trabalho acadêmico.
Aos colegas do Curso de Teologia, pelas partilhas, pelas escutas, pelo aprendizado e
carinho.
À minha comunidade, São Pedro Apóstolo, pela compreensão nas ausências para a
dedicação aos estudos.
E, por fim, ao professor orientador, que sabiamente conduziu-me neste trabalho e
permitiu meu crescimento no conhecimento da fé Católica.
O alegre anúncio que a fé nos dá é
precisamente este: Deus, na sua bondade, veio
ao encontro do homem. Realizou, de uma vez
para sempre, a reconciliação da humanidade
consigo mesmo, perdoando as culpas e criando
em Cristo um homem novo, puro e santo.

Papa João Paulo II, 1983.


RESUMO

O Santo tríduo Pascal é o ápice do Ano Litúrgico. Em cada dia celebrado fazemos a memória
da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. As celebrações revelam o amor
e a solidariedade de Deus pela humanidade. Na quinta-feira Santa, Jesus nos deu o
Diviníssimo Sacramento do amor, ou seja, a Eucaristia. Esse amor foi revelado na sua paixão
e morte violenta de Cruz na Sexta-feira Santa, após ser rejeitado, entregue pelos homens e se
entregar livremente. A morte, porém, não foi a última palavra, no terceiro dia Ele ressuscitou,
revelando que o amor tudo pode, porque Deus é Amor. Assim, o objetivo deste trabalho
acadêmico é analisar a manifestação do amor de Deus nos eventos do Sagrado Tríduo Pascal.
A metodologia utilizada para a realização deste estudo foi uma pesquisa bibliográfica em
livros de autores renomados, documentos da Igreja, catequese e documentos dos Papas.
Quanto à abordagem, trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo. Concluiu-se que “Deus é
Amor” (1Jo 4,16) e o Sagrado Tríduo Pascal apresenta esse Amor.

Palavras-chave: Amor. Eucaristia. Sacerdote ministerial. Cruz. Ressurreição.


ABSTRACT

The Holy Pascal triduum is the culmination of the Liturgical Year. On each celebrated day we
remember the passion, death and resurrection of Our Lord Jesus Christ. Celebrations reveal
God's love and solidarity for humanity. On Holy Thursday Jesus he gave us the Divine
Sacrament of love, that is, the Eucharist. This love was revealed in his passion and violent
death of Cross on Good Friday, after being rejected, delivered by men and giving himself
freely. Death, however, was not the last word, on the third day He rose, revealing that love
can do anything, because God is Love. Thus, the objective of this academic work is to analyze
the manifestation of God's love in the events of the Holy Easter Triduum. The methodology
used for the accomplishment of this study was a bibliographic search in books, documents of
the Church, catechesis and documents of the Popes. As for the approach, it is a qualitative
research. It was concluded that “God is Love” (1Jo 4,16), and the Holy Pascal triduum
presents this Love.

Keywords: Love. Eucharist. Ministerial priest. Cross. Resurrection.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

1Cor - Primeira Carta aos Coríntios


1Pe - Primeira Carta de Pedro
1Jo - Primeira Carta de São João
At - Atos dos Apóstolos
Ap - Livro do Apocalipse
CaIC - Catecismo da Igreja Católica
CPAS - Carta de proclamação do Ano Sacerdotal – 2009
EE - Ecclesia de Eucharistia
Ex - Livro do Êxodo
Ez - Livro do profeta Ezequiel
Fl - Carta aos Filipenses
Gl - Carta aos Gálatas
Gn - Livro do Genesis
Hb - Carta aos Hebreus
Is - Livro do profeta Isaias
IGMR - Instrução Geral do Missal Romano
Jo - Evangelho de João
Lc - Evangelho de Lucas
LG - Constituição Dogmática Lumen Gentium
Mc - Evangelho de Marcos
MD - Carta Encíclica Mediator Dei
Mt - Evangelho de Mateus
PDV - Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores Dabo Vobis
PO - Decreto Presbyterorum Ordinis
Rm - Carta aos Romanos
SCa - Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis
Sl - Livro dos Salmos
SNP - Carta Encíclica Sacerdotii Nostri Primordia
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 11
2 O AMOR DE CRISTO NO SERVIÇO À HUMANIDADE POR MEIO DA
EUCARISTIA E DO SACERDOTE ........................................................................ 13
2.1 INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA: DEMONSTRAÇÃO DA PRESENÇA
AMOROSA DE JESUS PARA COM O SER HUMANO............................................. 13
2.2 JESUS INSTITUI O SACERDÓCIO MINISTERIAL ................................................. 18
2.3 A EUCARISTIA E O SACERDÓCIO: VERDAEIRAMENTE UM SERVIÇO
AMOROSO DO SALVADOR A HUMANIDADE ..................................................... 24
3 O AMOR DE CRISTO NA SUA PAIXÃO E MORTE ........................................... 32
3.1 JESUS É ENTREGUE POR JUDAS ISCARIOTES, PELO SINÉDRIO E POR
PILATOS ................................................................................................................... 32
3.2 A ENTREGA DO FILHO, DO PAI E A ENTREGA CONJUNTA DO PAI E DO FILHO
................................................................................................................................... 39
3.3 O AMOR DE CRISTO NA SUA CRUCIFICAÇÃO .................................................... 44
4 O AMOR DE CRISTO EM SUA RESSURREIÇÃO .............................................. 53
4.1 O AMOR-SALVADOR DESCEU À MORADA DOS MORTOS. ............................... 53
4.2 JESUS RESSUCITOU VERDADEIRAMENTE ......................................................... 56
4.3 RECONHECERAM-NO NO SACRAMENTO DO AMOR ........................................ 64
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 73
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 76
11

1 INTRODUÇÃO

O evangelista João não hesita em afirmar: “Deus é Amor” (1Jo 4,16). Ele revela que:
“Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que todo o que n'Ele
crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16). Jesus Cristo, o Verbo encarnado,
entregando-se à morte de cruz por amor e solidariedade a humanidade, destruiu a nossa morte
e ressuscitando deu-nos a vida.
Diante desse mistério de amor, a “Igreja considera seu dever celebrar, em
determinados dias do ano, a memória sagrada da obra de salvação do seu divino Esposo”.
(SACROSANCTUM CONCILIUM (SC), 1963, n. 102). Assim, durante o ano litúrgico,
celebra-se o Sagrado Tríduo Pascal da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Essa magnitude do mistério celebrado nem sempre é bem compreendido e
experienciado pela comunidade dos fiéis católicos. O fruto dessa incompreensão é não
reconhecer a manifestação do amor de Deus em cada celebração do Santo Tríduo. Diante
desse contexto, formulou-se a seguinte questão de pesquisa: Como Jesus manifesta seu amor
no Tríduo Pascal?
A relevância do trabalho habita no fato de que a explicitação do evento salvífico
celebrado no Tríduo Pascal possibilita que “os fiéis participem nela consciente, ativa e
frutuosamente”. (SC, 1963, n.11). Outra justificativa a esta reflexão deve-se, ainda, que toda
produção sobre o tema, proporciona subsídios para a formação dos catequistas de iniciação à
vida Cristã. Neste sentido, espera-se, que esta pesquisa possa ser uma fonte.
O desenvolvimento pauta-se na pesquisa bibliográfica, que “é o estudo sistematizado
desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais e redes eletrônicas”.
(VERGARA, 2005, p. 48). Documentos Conciliares da Igreja, especialmente do Vaticano II,
os pronunciamentos, documentos e catequeses dos Papas João Paulo II, Bento XVI e
Francisco, contribuíram sensivelmente para aprofundar a pesquisa. Os livros litúrgicos,
Catecismo da Igreja Católica e renomados teólogos auxiliaram a fundamentar as abordagens
propostas. Durante a pesquisa, priorizou-se os Evangelhos e leituras recomendadas pela Igreja
para a liturgia do Sagrado Tríduo Pascal.
Iniciou-se abordando sobre o amor de Cristo na instituição da Eucaristia, antes de se
entregar a morte de Cruz e terminou com Jesus sendo reconhecido, após a ressurreição, pelos
discípulos de Emaús na fração do pão, ou seja, na Eucaristia o Sacramento do amor-Presença.
Um itinerário de intensa e profunda manifestação de amor de Deus pela Humanidade.
12

O objetivo geral deste trabalho é analisar a manifestação do amor de Deus nas


celebrações do Sagrado Tríduo Pascal. Para atingi-lo, foram formulados os seguintes
objetivos específicos: aprofundar o Amor de Cristo à humanidade na Eucaristia e no
Sacerdote Ministerial; demonstrar o Amor de Cristo em sua paixão e morte de cruz; refletir
sobre o Amor de Cristo em sua extraordinária ressurreição.
Esta pesquisa foi estruturada em três capítulos, além deste introdutório. Iniciou-se
fazendo uma abordagem sobre a manifestação do amor de Deus na quinta-feira Santa, onde se
aprofundou o amor de Cristo no serviço a humanidade por meio da Eucaristia e do
Sacerdócio. Na sequência, com base na sexta-feira Santa, buscou-se demonstrar o amor de
Cristo na sua paixão e morte. Em seguida, com base na Liturgia da Vigília Pascal e o
Domingo da Páscoa, refletiu-se sobre o amor de Cristo em sua ressurreição. E, por fim, são
apresentadas as considerações sobre o presente trabalho.
13

2 O AMOR DE CRISTO NO SERVIÇO À HUMANIDADE POR MEIO DA


EUCARISTIA E DO SACERDOTE

O Concílio Vaticano II afirmou que o sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a


vida cristã” (LUMEN GENTIUM (LG), 1964, n. 11), e “na santíssima Eucaristia está contido
todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá
aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo”.
(PRESBYTERORUM ORDINIS (PO), 1965, n. 5). O concílio também assegura que é pela
Eucaristia que “vive e cresce a Igreja” (LG, 1964, n. 26). É o sacramento essencial do
cristianismo e, por isso, João Paulo II afirma que: “a Igreja vive da Eucaristia” (ECCLESIA
DE EUCHARISTIA (EE), 2003 n. 1).

2.1 INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA: DEMONSTRAÇÃO DA PRESENÇA AMOROSA


DE JESUS PARA COM O SER HUMANO

Diante dessa magnitude de amor para a Igreja, nesta seção, será feita uma abordagem
sobre a instituição do augustíssimo Sacramento da Eucaristia. Para isso, atentar-se-á às fontes
neotestamentárias que relatam o desejo de Jesus de celebrar a última ceia com seus discípulos,
iniciando sua paixão, morte e ressurreição, ou seja, a doação da própria vida para nos salvar.
Na última ceia, no pão e no vinho, Jesus antecipa sua morte, realizando a sua
autodoação sacramental, instituindo memorial da sua Páscoa. De tal modo, Jesus instituiu a
Eucaristia na última ceia, ou seja, na última refeição, que celebrou com seus apóstolos em
Jerusalém “na noite que foi entregue” (1Cor 11,23).
As fontes que narram esse evento são: Mateus 26,26-291, Marcos 14,22-242, Lucas
22,14-203 e na primeira carta aos Coríntios, como escreve o Apóstolo Paulo:

1
Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é
meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lhe, dizendo: Bebei dele todos, porque isto é meu
sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados. Digo-vos:
doravante não beberei mais desse fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no Reino de meu
Pai.
2
Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de o benzer, partiu-o e deu-lhe, dizendo: Tomai, isto é o meu
corpo. Em seguida, tomou o cálice, deu graças e apresentou-lhe, e todos dele beberam. E disse-lhes: Isto é o meu
sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos.
3
Chegada que foi a hora, Jesus pôs-se à mesa, e com ele os apóstolos. Disse-lhes: Tenho desejado ardentemente
comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer. Pois vos digo: não tornarei a comê-la, até que ela se cumpra no
Reino de Deus. Pegando o cálice, deu graças e disse: Tomai este cálice e distribuí-o entre vós. Pois vos digo: já
não tornarei a beber do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus. Tomou em seguida o pão e depois de ter
dado graças, partiu-o e deu-lhe, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.
14

Com efeito, eu mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na noite em que foi
entregue, o Senhor Jesus tomou o pão 24 e, depois dedar graças, partiu-o e disse:
‘Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim’. 25 Do mesmo
modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova Aliança
em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim’. 26
Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte
do Senhor até que ele venha (1Cor 11,23-26).

O evangelista Lucas destaca, em sua narrativa sobre a Ceia, que Jesus desejou
“ardentemente” comer a páscoa com os seus Apóstolos (Lc 22,15). No entendimento do Papa
Bento XVI (2011), na homilia na Santa Missa da Ceia do Senhor, o desejo de Jesus é o desejo
amoroso de Deus.

No desejo de Jesus, podemos reconhecer o desejo do próprio Deus: o seu amor pelos
homens, pela sua criação, um amor em expectativa. O amor que espera o momento
da união, o amor que quer atrair os homens a si, para assim realizar também o desejo
da própria criação: esta, de fato, aguarda a manifestação dos filhos de Deus (BENTO
XVI, 21 abr. 2011).

Como se vê, é o desejo de Jesus de manifestar a profundidade de seu amor pela


humanidade, São Lourenço Justiniano assim percebe:

Como se nosso amante Redentor tivesse dito: ó homens, sabei que esta noite, na qual
se dará início à minha paixão, é o tempo pelo qual mais suspirei durante toda a
minha vida, porque agora com meus sofrimentos e com minha acerba morte vos
farei compreender quanto eu vos amo e assim vos obrigarei a amar-me da maneira
mais eficaz que me é possível (LIGÓRIO, 2012, p. 13).

Ao ler as narrativas neotestamentárias sobre a instituição da Eucaristia, observam-se


semelhanças e diferenças nos textos, mas a análise literária, comparação dos textos não é
objeto deste trabalho. Cabe, entretanto, ressaltar semelhanças importantes e fundamentais
como: na ceia Jesus fez gestos sobre o pão e o vinho, isto é, tomou, partiu, deu graças,
distribuiu; “e pronunciou palavras de bênção ritual sobre eles, relacionando o pão com seu
corpo entregue e o vinho com seu sangue derramado e, além disso, com a (nova) aliança; nos
quatros relatos há palavras de alcance escatológicos” (ALDAZÁBAL, 2012, p. 59).
Os textos da instituição relatam que Jesus usou pão e vinho na ceia. Para Harrington
(2014), os atos e as palavras de Jesus com o Pão e o vinho antecipam e interpretam sua morte
eminente. “O que acontece ao pão acontece ao corpo de Jesus e o que acontece à taça de
vinho acontecerá com Seu sangue” (HARRINGTON, 2014, p. 41).

Do mesmo modo, tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue,
que é derramado por vós.
15

Em sua homilia na Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, Papa Bento XVI (23 jun.
2011) explicita que “nas palavras de Jesus: isto é o meu corpo, que é entregue por vós; isto é o
meu sangue, derramado por vós. Jesus antecipa o acontecimento do calvário. Por amor, Ele
aceita toda a paixão, com a sua dificuldade e a sua violência, até à morte de cruz”.
O Conselho Episcopal Latino - Americano - CELAM4 entende que as palavras de
Cristo sobre o Pão e o vinho “têm um profundo sentido de autodoação sacramental: depois de
sua morte, em sua nova maneira de existência gloriosa, o modo de encontro e comunhão com
sua comunidade serão o pão e o vinho, que são seu corpo e seu sangue” (CELAM, 2005, p.
124).
Para os sinóticos, a última ceia deu-se “no primeiro dia dos Ázimos” (Mt 26,17), a
festa dos Ázimos chamada Páscoa. “A Páscoa era celebrada desde o pôr-do-sol, que indicava
o início o mês de Nisã 5. A ceia pascal era acompanhada de pão sem fermento (ázimo 6)”.
(KARRIS, 2011, p. 294). Ao coincidir a última ceia de Jesus com a Páscoa dos Judeus, os
sinóticos, “querem dar a entender que a Eucaristia cristã é a nova ceia pascal”
(ALDAZÁBAL, 2012, p. 71).
Buyst (2003) explicita que a festa anual da Páscoa do povo judeu tem relação com a
saída do Egito, ou seja, a libertação da escravidão desse povo, uma festa associada com a
imolação dos cordeiros, conforme narra o Livro do êxodo no capitulo 12, e descreve como
memorial: Por isso, o Senhor ordena: “Este dia será para vós um memorial, e o celebrareis
como uma festa para o Senhor; nas vossas gerações a festejareis; é um decreto perpétuo”. (Ex
12,14).
Segundo o Papa Bento XVI, na exortação apostólica sobre a Eucaristia:

Era memória do passado, mas ao mesmo tempo também memória profética, ou seja,
anúncio duma libertação futura; de fato, o povo experimentara que aquela libertação
não tinha sido definitiva, pois a sua história ainda estava demasiadamente marcada
pela escravidão e pelo pecado. O memorial da antiga libertação abria-se, assim, à
súplica e ao anseio por uma salvação mais profunda, radical, universal e definitiva
(SACRAMENTUM CARITATIS (SCa), 2007, n.10).

4
É um organismo de comunhão, reflexão, colaboração e serviço como sinal e instrumento de afeto colegial em
perfeita comunhão com a Igreja universal e com sua cabeça visível, o Romano Pontífice. Foi criado em 1955.
Como organismo de serviço, o CELAM deve ser, acima de tudo, animação e auxílio à reflexão e ação pastoral da
Igreja na América Latina e no Caribe. O CELAM presta serviços de contato, comunhão, formação, pesquisa e
reflexão às 22 Conferências Episcopais localizadas do México a Cabo Horn, incluindo o Caribe e as Antilhas
(CELAM, 21 jun. 2020).
5
O primeiro mês do calendário judaico é o mês de Nisã, quando se celebra a Páscoa. Diferentemente do
Gregoriano, é baseado no movimento lunar, onde a cada lua nova temos um novo mês.
6
Do latim azymu, e tal como do grego azdumos, significa sem fermento. O pão que os judeus empregavam para
a celebração da Páscoa (festas dos ázimos). E a liturgia romana ocidental para e Eucaristia: pão sem fermento,
sem levedura (ALDAZÁBAL, 2013, p. 48).
16

Deste modo, a obra da “redenção dos homens e da glorificação perfeita de Deus,


prefigurada pelas suas grandes obras no povo da Antiga Aliança, realizou-a Cristo Senhor,
principalmente pelo mistério pascal”, é o que afirma o Concílio Vaticano II na Constituição
Conciliar sobre a Sagrada Liturgia, n. 5.
Ao contrário dos outros Evangelhos, São João não se detém a narrar a instituição da
Eucaristia, “já evocada por Jesus no longo discurso de Cafarnaum (Jo 6, 26-65), mas demora-
se no gesto de lava-pés” (PAPA JOÃO PAULO II, 2000, p. 11).
Aldazábal corrobora com a análise do Papa João Paulo II, segundo o qual o
evangelista João, “embora não narre diretamente as palavras e os gestos eucarísticos da ceia,
apresenta-nos em seu capitulo 6 o discurso do pão da vida, no 13 o lava-pés” (ALDAZÁBAL
2012, p. 53).
São João descreve o episódio do lava-pés assim:

Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora depassar deste
mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o
fim. 2Durante a ceia, quando já o diabo colocara no coração" de Judas
Iscariotes, filho de Simão, o projeto de entregá-lo, 3sabendo que o Pai tudo
colocara em suas mãos e que ele viera de Deus e a Deus voltava, 4levanta-se da
mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. 5Depois coloca
água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a
toalha com que estava cingido. 6Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz:
"Senhor, tu, lavar-me os pés?!" 7Respondeu-lhe Jesus: "O que faço, não
compreendes agora, mas o compreenderás mais tarde".8Disselhe Pedro: "Jamais
me lavarás os pés!" Jesus respondeu-lhe: "Se eu não te lavar, não terás parte
comigo".9Simão Pedro lhe disse: "Senhor, não apenas meus pés, mas também
as mãos e a cabeça".10Jesus lhe disse: "Quem se banhou não tem necessidade
de se lavar, porque está inteiramente puro. Vós também estais puros, mas não
todos".11Ele sabia, com efeito, quem o entregaria; por isso, disse: "Nem todos
estais puros".12Depois que lhes lavou os pés, retomou o seu manto, voltou à
mesa e lhes disse:"Compreendeis o que vos fiz?13Vós me chamais de Mestre e
Senhor e dizeis bem, poiseu o sou.14Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos
lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. 15Dei-vos o
exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais. 16Em verdade, em
verdade, vos digo: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado
maior do quem o enviou (Jo 13,1-16).

É a “Páscoa-passagem de Jesus deste mundo para o Pai. Nessa cena dramática Jesus,
servo do Pai, torna-se servo da humanidade. Sua hora chegou e Ele ama os amigos até o
extremo”. (FLANAGAN, 2014, p. 127).
Para Bortolini (2018, p. 128), “essa hora se caracteriza pelo amor, ‘amou-os até o fim’
(Jo 13,1), ou seja, até as últimas consequências do gesto de amar, até afirmar na cruz ‘tudo
está realizado’ (Jo 19,30)”.
17

Na narrativa do episódio do lava-pés, vemos que está carregada de situações,


personagens (um traidor7), diálogos, gestos e ações. A cena narrada é merecedora de um
grande desenvolvimento acerca de cada versículo. Aqui cabe destacar a humildade e o serviço
de Jesus. Por amor, mesmo sendo “Senhor e Mestre” (Jo 1,13) lava os pés dos discípulos e,
assim, da humanidade.
A função de lavar os pés era confiada a um criado, portanto, “executá-la implicava
uma situação de inferioridade” (LÉON-DUFOUR, 1996, p. 22). Lavar os pés dos hóspedes
que chegavam de viagem das estradas empoeiradas era sinal de hospitalidade, e poderia ser
realizada pelos filhos, esposa, “mas geralmente era confiada a um escravo” (KONINGS,
2005, p. 258).
No evento, Jesus tira o manto, significando seu despojamento de “todo privilégio ou
posição social. Ele se esvazia completamente, e se põe a fazer o que faziam os escravos”.
(BORTOLINI, 2018. p. 130). É nessa condição que lava os pés dos discípulos.
Nesse gesto de despojamento e serviço de Jesus, em sua homilia na Missa “In Coena
Domini”, o Papa Bento XVI revela que:

Lava os pés sujos dos discípulos e torna-os assim capazes de aceder ao banquete
divino para o qual Ele os convida. As purificações cultuais e exteriores, que
purificam o homem ritualmente, deixando-o, contudo, tal como ele é, são
substituídas pelo banho novo: Ele torna-nos puros mediante a sua palavra e o seu
amor, mediante o dom de si mesmo (BENTO XVI, 20 mar. 2008).

O lava-pés de Jesus terminará na cruz, na entrega da vida por amor. “Seu serviço será
completo quando der a vida totalmente” (BORTOLINI, 2018, p. 130). Tudo o Pai entregou ao
Filho, “para que o Filho pudesse trazer salvação a eles, morrendo por eles e, assim, mostrando
seu amor”. (PERKINS, 2011, p. 792). Desse modo, “deixa aparecer o esvaziamento de Deus
em nosso agir. O ato de amor de Jesus – o lava-pés é a doação da própria vida – é único e
incomparável, um ato de Deus” (KONINGS, 2005, p. 260).
Assim, o Cristo que entrega a Eucaristia, o faz entregando Seu Corpo e derramando
Seu Sangue por nós. Tão sublime gesto de amor e serviço de Cristo aos seus discípulos e a
humanidade, é materializado permanecendo na Eucaristia, como confirma o Catecismo da
Igreja Católica (CaIC):

7
Judas Iscariotes: escolhido por Jesus para se um dos Doze. Judas nas listas dos apóstolos, foi colocado em
último lugar (Mt 10,4; Mc 3,19; Lc 6,16). Os Evangelhos apenas registram sua negociação com o sinédrio (Mt
26, 14-16), a sua atitude na última ceia (Mt 26,25; Jo 13, 2) e identificam-no na noite, ao saudar Jesus com o
beijo da traição. Aquele que entregou Jesus (ZILLES, 1996, p. 31).
18

Para deixar-lhes uma garantia deste amor, para nunca se afastar dos seus e para fazê-
los participantes de sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memória de sua morte e
de sua ressurreição, e ordenou a seus apóstolos que a celebrassem até a sua volta
(CaIC, n. 1337).

Deste modo, na última Ceia, Cristo instituiu o Sacramento do seu Corpo e do seu
Sangue, o Memorial8 do seu Sacrifício Pascal, pondo-se no lugar dos sacrifícios antigos,
conferindo-nos a Salvação, o pleno serviço de amor a humanidade.
Na última ceia que instituiu a Eucaristia, ao mesmo tempo, instituiu o sacerdócio
ministerial, de modo que as duas instituições estão intimamente ligadas.

Existe um ‘vínculo intrínseco’ entre a Eucaristia e o sacramento da Ordem, deduz-se


das próprias palavras de Jesus no Cenáculo: Fazei isto em memória de Mim (Lc 22,
19). De fato, na vigília da sua morte, Ele instituiu a Eucaristia e ao mesmo tempo
fundou o sacerdócio da Nova Aliança (SCa, 2007, n. 23).

Nesse vínculo do sacramento da Ordem com a Eucaristia, na próxima seção, faz-se


uma abordagem sobre a instituição do sacerdócio da Nova Aliança, que age ‘in persona
Christi’, para cumprir o mandamento de celebrar a Eucaristia e dar continuidade à missão do
próprio Cristo.

2.2 JESUS INSTITUI O SACERDÓCIO MINISTERIAL

Discorrido sobre a instituição da Sagrada Eucaristia, que, segundo o Concílio Vaticano


II, é a “fonte e centro de toda a vida cristã” (LG, 1964, n. 11), e pela qual “vive e cresce a
Igreja”. (LG, 1964, n. 26). Nesta seção, desenvolveremos a pesquisa sobre a instituição do
sacerdócio ministerial Católico. Como veremos, ela tem vínculo com a instituição da Sagrada
Eucaristia, por Nosso Senhor, na última ceia.
Por meio dos documentos, Encíclica Mediator Dei (MD) de 1947, Carta Encíclica
Sacerdotii Nostri Primordia (SNP) de 1959, Decreto Presbyterorum Ordinis (PO) de 1965,
Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis (PDV) de 1992 e o Catecismo da Igreja Católica,
objetiva-se afirmar que o Sacerdócio Ministerial foi instituído por Cristo como um
prolongamento de Seu ministério, e perceber que Ele confiou aos apóstolos como sucessores a

8
O nome memorial (em hebraicozikkaron, em grego anamnesis) foi o primeiro adotado pelas comunidades
cristãs para definir a Eucaristia. O mandamento de Jesus; "Fazei isto em memória de mim" O memorial não é
entendido pela Igreja como uma mera recordação subjetiva ou um aniversário. Ele é uma recordação eficaz, uma
celebração que atualiza o que recorda: ou seja, é um "sacramento do acontecimento passado. (ALDAZÁBAL,
2013, p. 222).
19

missão de operar em Seu lugar (in persona Christi), para apascentar os fiéis e celebrar os
sacramentos da nova aliança.
O Novo Testamento é o ponto de partida, sobretudo as passagens que narram a cena da
última ceia em que Jesus pronuncia: “Fazei isto em memória de Mim”. (Lc 22, 19). Deste
modo, com estas palavras, entende a Igreja que o Cristo entregou aos seus Apóstolos e aos
sucessores o ministério, como um encargo específico, instituindo o sacerdócio ministerial.
Assim o Papa João Paulo II, referindo-se às palavras e aos gestos de Jesus na última
ceia com os Apóstolos, afirma que:

É a eles que Jesus entrega a ação que acaba de realizar transformando o pão no seu
corpo e o vinho no seu sangue, ação na qual Ele Se apresenta como Sacerdote e
Vítima. Cristo quer que daí em diante esta sua ação se torne sacramentalmente
também ação da Igreja pela mão dos Sacerdotes. Ao dizer “fazei isto”, Ele não só
indica a ação, mas também o sujeito chamado a realizá-la, ou seja, institui o
sacerdote ministerial, que, assim, se torna um dos elementos constitutivos da mesma
Igreja (JOÃO PAULO II, 2000, p. 17).

A Igreja, por meio do Concílio de Trento (Sessão 23ª, Cap. 1. 15 jul. 1563), anuncia
que recebeu por instituição do Senhor no Novo Testamento o santo sacrifício da Eucaristia.
Para isto, Cristo instituiu os apóstolos e seu sucessores novos sacerdotes, dando-lhes “o poder
de consagrar, oferecer e administrar seu corpo e sangue, assim como de perdoar e reter os
pecados, o demonstram as cartas sagradas e sempre o ensinou a tradição da Igreja Católica”.
(DENZINGER, 2006, p. 451).
O Concílio Vaticano II distingue o sacerdócio comum dos fiéis do sacerdócio
ministerial, e afirma que: “Com efeito, o sacerdote ministerial, pelo seu poder sagrado, forma
e conduz o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico fazendo às vezes de Cristo e
oferece-o a Deus em nome de todo o povo”. (LG, 1964, n. 10).
A Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores Dabo Vobis, explicita que:

Através do sacerdócio ministerial, a Igreja toma consciência, na fé, de não vir de si


mesma, mas da graça de Cristo no Espírito Santo. Os apóstolos e seus sucessores,
como detentores de uma autoridade que lhes vem de Cristo Cabeça e Pastor, são
colocados - juntamente com o seu ministério - perante a Igreja como prolongamento
visível e sinal sacramental de Cristo no seu próprio estar diante da Igreja e do
mundo (PDV, 1992, n 16).

A respeito do prolongamento ministerial de Cristo no sacerdote, “deve-se dizer


também que a graça ministerial é graça para o serviço de Cristo cabeça, isto é, graça destinada
20

a representar Cristo como a única Cabeça do corpo da Igreja, como único Senhor, como único
que preside a comunidade”. (BOROBIO, 2009, p. 407).
O Papa Pio XII salienta que o ministro ordenado pela consagração sacerdotal,
“assemelha-se ao sumo Sacerdote e tem o poder de agir em virtude e na pessoa do próprio
Cristo; por isso, com sua ação sacerdotal, de certo modo, "empresta a Cristo a sua língua, e
lhe oferece a sua mão” (MD, 1947, n.62).
Na homilia da Santa Missa Crismal, o Papa Bento XVI (13 abr. 2006), afirma que
somente Jesus pode dizer: Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue. “O mistério do sacerdócio
da Igreja encontra-se no fato de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento,
podemos falar com o seu Eu: in persona Christi”.
O excerto a seguir ajuda-nos a clarear o entendimento sobre “in persona Christi”:

Não quer dizer que o ministro substitua ou suplante ou faça as vezes de Cristo. Quer
dizer na realidade, que na Igreja não há outro ministro senão Cristo. A medida e o
modelo de todo ministério é Cristo. Todo outro ministério funda-se em Cristo e é
continuação histórica eclesial do ministério de Cristo, ao qual remete e que torna
presente (BOROBIO, 2009, p. 408).

O fundamento do sacerdote ministerial é Jesus Cristo, como bem esclarece a Carta aos
Hebreus. Sendo o Cristo enviado pelo Pai (Jo 17,3), obediente até a morte de cruz (Fl 2,8),
exerce o seu sacerdócio expiando o pecado da humanidade. De fato, Cristo, na sua paixão e
morte de cruz, foi confirmado como ‘sumo sacerdote’ (Hb 5,10), que “com o próprio sangue”
(Hb 9,12), “se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha” (Hb 9,14), “um único e
perfeito sacrifício pelos pecados” (Hb 10,12-13).
Desse modo, a Igreja afirma que, em Cristo, cumprem-se as prefigurações:

Todas as prefigurações do sacerdócio da antiga aliança encontram seu cumprimento


em Cristo Jesus, ‘único mediador entre Deus e os homens’ (l Tm 2,5). Melquisedec,
‘sacerdote do Deus Altíssimo’ (Gn 14,18), é considerado pela Tradição cristã como
uma prefiguração do sacerdócio de Cristo, único ‘sumo sacerdote segundo a ordem
de Melquisedec’ (Hb 5,10; 6,20), ‘santo, inocente, imaculado’ (Hb 7,16), que ‘com
uma única oferenda levou à perfeição, e para sempre, os que ele santifica’ (Hb
10,14), isto é, pelo único sacrifício de sua Cruz (CaIC, n. 1544).

O exercício do ministério sacerdotal da Nova aliança, iniciado por Cristo, realiza-se


pelo Sacramento da Ordem. O catecismo define que:

A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos Apóstolos
continua a ser exercida na Igreja, até ao fim dos tempos: é, portanto, o sacramento
21

do ministério apostólico. E compreende três graus: o episcopado, o presbiterado e o


diaconato9 (CaIC, n. 1536).

Cabe salientar que apenas algumas pessoas são chamadas por Deus a desempenhar
essa especial missão, é o que se pode chamar de Vocação. Numa concepção espiritualista, "a
vocação consistiria num chamado direto e especial que Deus dirige individualmente às
pessoas” (GIORDANI, 1990, p. 29).
A ordenação ministerial do vocacionado acontece após um período de preparação, que
segue etapas segundo o Código de direito Canônico10 e as Instruções do Magistério. No rito
de ordenação presbiteral, riquíssimo em símbolos e orações, por meio da imposição das mãos
e da oração consecratória feita pelo do Bispo, que pede a Deus para o ordinando as graças do
Espírito Santo, requeridas para o seu ministério, estabelece-se, no presbítero, “um vínculo
ontológico específico que o une a Cristo, Sumo Sacerdote e Bom Pastor” (CONGEGAÇÃO
PARA O CLERO, 1994, p. 12). A ordenação imprime um “carácter sacramental indelével”
(CaIC, n. 1597).
Assim, os presbíteros, como cooperadores e ligados ao Bispo, “por virtude do
sacramento da Ordem, são consagrados, à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote, para
pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes
do Novo Testamento” (LG, 1964, n. 28).
O Decreto Presbyterorum Ordinis (1965) afirma que o primeiro dever dos presbíteros
é anunciar a todos o Evangelho de Deus, para realizar o mandato do Senhor: “Ide por todo o
mundo, pregai o Evangelho a todas as, criaturas” (Mc 16,15), pois “à fé vem pelo ouvido, o
ouvido, porém, pela palavra de Cristo”. (Rm 10,17). Por isso, os presbíteros são devedores de
todos, para comunicarem a todos a verdade do Evangelho. Assim, os presbíteros são
“ministros da palavra de Deus” (PO, 1965, n. 4).
Para o Papa João Paulo II, na condição de ministro da Palavra de Deus, o sacerdote:

[...] é consagrado e enviado a anunciar a todos o Evangelho do Reino, chamando


cada homem à obediência da fé e conduzindo os crentes a um conhecimento e
comunhão sempre mais profundos do mistério de Deus, revelado e comunicado a
nós em Cristo. [...] Por isso, o próprio sacerdote deve ser o primeiro a desenvolver
uma grande familiaridade pessoal com a Palavra de Deus (PDV, 1992, n. 26).

9
Relativamente aos diáconos, diz a Lumen Gentium: “Em grau inferior da hierarquia estão os diáconos, aos quais
foram impostas as mãos não em ordem ao sacerdócio, mas ao ministério”(LG, 1964, n. 29).
10
Cân. 1025 — § 1. Para alguém ser licitamente ordenado de presbítero ou de diácono, requer-se que, além das
provas realizadas nos termos do direito, possua, a juízo do Bispo próprio ou do Superior maior competente, as
devidas qualidades, não esteja incurso em nenhuma irregularidade ou impedimento, e tenha preenchido os
requisitos, em conformidade com os câns. 1033-1039; cân. 1050, no cân. 1051.
22

Na missão de apascentar os fiéis, os sacerdotes são chamados a cuidar que cada fiel
seja levado, no Espírito Santo, a cultivar a própria vocação segundo o Evangelho, a uma
caridade sincera e operosa. De modo particular, que os Presbíteros cuidem dos pobres e os
mais fracos, e que não esqueçam do zelo missionário, e que nunca sirvam a alguma ideologia,
mas, “como anunciadores do Evangelho e pastores da Igreja, trabalham pelo aumento
espiritual do corpo de Cristo” (PO, 1965, n. 6), deste modo exercem o ministério Pastoral.
Nessa mesma linha, o Papa Bento XVI dirigiu suas palavras aos sacerdotes.

Queridos sacerdotes, ‘apascentai o rebanho que Deus vos confiou, velando por ele,
não constrangidos, mas de boa vontade [...], como modelos do vosso rebanho’ (1 Pd
5, 2). Portanto, não tenhais medo de guiar para Cristo cada um dos irmãos que Ele
vos confiou, na certeza de que cada palavra e atitude, se vierem da obediência à
vontade de Deus, darão fruto (BENTO XVI, 26 maio 2010).

Deus unido aos seus colaboradores introduz os homens no Povo de Deus pelo
Batismo; pelo sacramento da Penitência, reconciliam os pecadores com Deus e com a Igreja;
com o óleo dos enfermos, aliviam os doentes; sobretudo com a celebração da missa, oferecem
sacramentalmente o Sacrifício de Cristo, como os verdadeiros “ministros dos Sacramentos da
nova aliança” (PO, 1965, n. 5).
Para exercer o ministério, aos sacerdotes, foi confiado um dom essencial, como bem
destaca o Papa Bento XVI:

Nenhum homem por si mesmo, a partir da sua própria força, pode pôr o outro em
contato com Deus. Uma parte essencial da graça do sacerdócio é o dom, a tarefa de
criar este contato. Isto realiza-se no anúncio da palavra de Deus, na qual a sua luz
vem ao nosso encontro. Realiza-se de um modo particularmente denso nos
Sacramento (PAPA BENTO XVI, 05 maio 2010).

Para bem realizar a tarefa de pôr em contato o povo com Deus, o sacerdote ministerial
encontra em São João Maria Vianney uma referência nessa missão, como bem descreve o
Papa Joao XXIII, em 1959 e 50 anos mais tarde o Papa Bento XVI. Assim, a carta encíclica
do Sumo Pontífice João XXIII faz referência a São João Maria Vianney, o ‘Cura D'Ars’, que
foi beatificado em 8 de janeiro de 1905.
A Carta Encíclica Sacerdotii Nostri Primordia (1959) descreve que o Santo era um
Padre admirável e que a Igreja o apresentou como modelo de ascese sacerdotal, de piedade e,
sobretudo de piedade eucarística, modelo enfim de zelo pastoral. Como afirma o Papa João
XIII, “mereceu na verdade ser proposto como exemplo aos pastores de almas e proclamado
seu celeste padroeiro” (SNP, 1959, n. 30).
23

O Papa Bento XVI (16 jun. 2009), na Carta de Proclamação do Ano Sacerdotal,
destaca que Cura D'Ars “ensinava os seus paroquianos sobretudo com o testemunho da vida.
Pelo seu exemplo os fiéis aprendiam a rezar detendo-se de bom grado diante do sacrário para
uma visita a Jesus Eucaristia”.
São João Maria Vianney era um incansável apóstolo do confessionário. João XIII
(1959) destaca que o Santo passava em média quinze horas no confessionário. Junto aos
confessores com delicadeza e fervor, “fazia a esperança renascer nos corações arrependidos!
Incansavelmente, tornava-se junto deles o ministro da misericórdia divina” (SNP, 1959, n.
55).
No seu ministério pastoral acrescenta Papa Bento XVI (2009), o Santo procurou de
todos os modos com a pregação e o conselho persuasivo, fazer os seus paroquianos
redescobrirem o significado e a beleza da penitência sacramental, apresentando-a como uma
exigência íntima da presença eucarística.
Pregador e catequista infatigável, o Cura D'Ars pregou até a sua morte. Nas Palavras
do Papa João XXIII, esse humilde padre tinha, com efeito, compreendido em alto grau a
dignidade e a grandeza do ministério da Palavra de Deus: “Nosso Senhor, que é a própria
Verdade - dizia ele - não faz menos caso da sua Palavra do que do seu corpo” (SNP, 1959, n.
50).
Para estes tempos, o Papa Francisco exorta, na sua Homilia na Santa Missa do Crisma
(28 mar. 2013), dirigindo-se aos sacerdotes, “sede pastores com o ‘cheiro das ovelhas’ que se
sinta este –, serem pastores no meio do seu rebanho e pescadores de homens”.
A partir dessas considerações sobre a instituição do Sacerdócio ministerial, tinha como
referência os documentos do magistério da Igreja e pronunciamentos dos Papas. Também com
o reconhecido testemunho de São João Maria Vianney percebe-se que, sem esse ministério, de
fato, a Igreja não poderia viver a fundamental obediência à ordem de Jesus: “pregai o
Evangelho a todas as criaturas” (Mc. 16,15) e “Fazei isto em minha memória” (Lc 22, 19), ou
seja, a ordem de anunciar o Evangelho e de renovar todos os dias o Sacrifício do Seu Corpo e
de Seu Sangue. Desse modo, o sacerdote ministerial está a serviço da Igreja para prolongar o
ministério de Cristo cabeça, apascentando e santificando o povo sacerdotal.
Dando continuidade à pesquisa, a seção seguinte será dedicada ao serviço de amor de
Cristo à humanidade na Eucaristia e no Sacerdote.
24

2.3 A EUCARISTIA E O SACERDÓCIO: VERDAEIRAMENTE UM SERVIÇO


AMOROSO DO SALVADOR A HUMANIDADE

Discorrido sobre a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio por nosso Senhor Jesus


Cristo, nesta seção aborda-se o serviço de amor de Cristo à humanidade por meio da
Eucaristia e do Sacerdócio ministerial Católico.
A Igreja faz memória das instituições nas celebrações da quinta-feira Santa. Assim, o
fiel é conduzido a mergulhar no memorial desse mistério de Amor. Trata-se de um amor-
sacrifício salvador, de ação de graça e de amor-presença; amor que, no pão e no vinho
transubstanciado no Corpo e no Sangue do salvador, alimenta e proporciona a íntima
comunhão. Esse mistério da fé realiza-se graças ao sacerdote ministerial.
Conforme o missal romano, os sacerdotes ministeriais celebram na quinta-feira a
Missa do Crisma11, na parte da manhã e a Missa vespertina da Ceia do Senhor,12 com a qual
se inicia o tríduo Pascal.
No geral, de acordo com o permitido segundo o contexto de cada igreja particular, pela
manhã, cada comunidade diocesana, em torno do Bispo, celebra a Missa Crismal na qual são
abençoados o Santo Crisma, o Óleo dos catecúmenos e o Óleo dos enfermos. Na homilia, o
Bispo exorta os presbíteros a serem fiéis aos seus cargos, convida-os e incentiva-os a
renovarem publicamente as promessas sacerdotais (MISSAL ROMANO, 2011).
Na Missa vespertina, os fiéis católicos reunem-se para a celebrar a Ceia do Senhor, na
qual Nosso Senhor Jesus Cristo, ao entregar-se à morte, deu a sua Igreja um novo e eterno
sacrificio, como banquete do seu amor, como inspira a oração do dia no rito inicial da missa
no missal romano.

11
Segundo a rubrica do missal romano (2011), a bênção do óleo dos enfermos e dos óleos dos catecúmenos e a
consagração do são feitas normalmente pelo bispo na Quinta-Feira da Semana Santa, na Missa própria, que deve
ser celebrada pela manhã. Se for difícil reunir o clero e o povo neste dia com o bispo, pode-se antecipar a
bênção, sempre, porém nas proximidades da Páscoa e com Missa própria. Esta Missa, que o bispo concelebra
com seu presbitério, seja como um sinal de comunhão dos presbíteros com o seu Bispo. Convém, portanto, que
todos os presbíteros, tanto quanto possível, participem dela, e nela comunguem sob as duas espécies. Para
exprimir a unidade do presbitério da diocese, sejam de várias regiões da diocese os presbíteros que concelebram
com o Bispo.
12
Conforme a rubrica do missal romano (2011): Na hora mais oportuna da tarde, seja celebrada a Missa da Ceia
do Senhor com plena participação de toda a comunidade local, desempenhando todos os sacerdotes e ministros
suas respectivas funções. Onde uma razão pastoral exigir, o Ordinário do lugar poderá permitir que se celebre a
tarde outra missa, em igrejas e oratórios públicos e semipúblicos. E, em caso de verdadeira necessidade, também
pela manhã, ou pela noite da quarta, mas somente onde não se possa absolutamente participar da Missa
vespertina.
25

A rubrica do missal romano recomenda que a homilia focalize os principais mistérios


celebrados na missa da ceia do Senhor, ou seja, a instituição da Eucaristia e do sacerdócio, e o
mandamento do Senhor sobre a caridade fraterna. Após a homilia, proceda-se o lava-pés, pelo
sacerdote, de homens escolhidos. Depois do rito da comunhão acontece a transladação do
Santíssimo Sacramento e o desnudamento do altar (MISSAL ROMANO, 2011).
Esse dia Santo “é a recordação do momento no qual, antes de entregar-se à morte,
Jesus confiou para sempre à sua Igreja o novo e eterno sacrifício, banquete nupcial do seu
amor, a fim de que esta o perpetuasse em sua memória” (AUGÉ, 2019, p. 165).
Nessa missa, a Igreja realiza a obediência a Cristo e ao Seu mandamento de “fazer isto
em memória de mim”. (1Cor 11,24). Essa obediência estende-se a todas as celebrações
Eucarísticas, nos dias feriais e de modo particular no domingo,13 durante todo o ano litúrgico.
Tal cumprimento é realizado pelos sacerdotes da nova aliança, que o fazem ‘in persona
Christ’.
Nessa dimensão, o Papa Francisco (05 fev. 2014) explica que a celebração Eucarística
é memorial, por isso, ela “não significa apenas uma recordação, uma simples lembrança, mas
quer dizer que cada vez que nós celebramos este Sacramento participamos no mistério da
paixão, morte e ressurreição de Cristo”.
Assim, a Eucaristia é o memorial sacrificial de Cristo. Não é recordação, e também
não é uma comemoração do evento salvífico, como bem desenvolve o Papa Pio XII:

Não é, pois, uma pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo,
mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no qual, imolando-se incruentamente, o
sumo Sacerdote faz aquilo que fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai,
vítima agradabilíssima (MD, 1947, n. 61).

Na realidade da Nova Aliança, a vítima é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do


mundo” (Jo. 1,29). Para o Papa João Paulo II, em sua homilia do dia 19 de abril de 1984, “o
mistério da Redenção, realizado na realidade do Cordeiro de Deus, deve permanecer como
Sacramento da Igreja: o sacramento do amor”.
Desse modo, o amor-sacrifício de Jesus permanece no Sacramento da Eucaristia, o
serviço de amor-salvador a todas as gerações. Por isso, o Pontífice afirma que:

13
Conforme a Carta Apostólica Dies Domini (1998) do Sumo Pontífice João Paulo II, o dia do Senhor — como
foi definido o domingo, desde os tempos apostólicos —, mereceu sempre, na história da Igreja, uma
consideração privilegiada devido à sua estreita conexão com o próprio núcleo do mistério cristão. O domingo, de
fato, recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo. É a Páscoa da semana, na qual se
celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o cumprimento n'Ele da primeira criação e o início da “nova
criação” (2 Cor 5,17).
26

Este sacrifício é tão decisivo para a salvação do gênero humano que Jesus Cristo
realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio para dele
participarmos como se tivéssemos estado presentes. Assim cada fiel pode tomar
parte nela, alimentando-se dos seus frutos inexauríveis (EE, 2003, n. 1).

A Igreja confirma esses dados da Fé, pois, na Eucaristia, Cristo dá aquele mesmo
corpo que entregou por nós na cruz, aquele mesmo sangue que derramou por muitos em
remissão dos pecados (Mt 26,28).
Com efeito, o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício,
ou seja:

É uma só e mesma vítima e Aquele que agora Se oferece pelo ministério dos
sacerdotes é o mesmo que outrora Se ofereceu a Si mesmo na cruz; só a maneira de
oferecer é que é diferente. [...] Se ofereceu outrora de modo cruento sobre o altar da
cruz, agora está contido e é imolado de modo incruento (CaIC, n. 1367).

No que tange à concepção da Eucaristia como sacrifício, o Papa Bento XVI ressalta
que é um sacrifício do amor, o amor que dá a vida pelos amigos como narra o evangelista (Jo
15, 13), ou seja, “é a doação que Jesus Cristo faz de Si mesmo, revelando-nos o amor infinito
de Deus por cada homem” (SCa, 2007, n.1).
Diante disso, uma questão-reflexão surge: Como não se render ao amor-sacrifício e
salvador de Jesus presente em cada Eucaristia celebrada, dado que, ao realizar a instituição da
Eucaristia, Ele quis garantir que todos pudessem participar do memorial da sua paixão, obter
os benefícios e contemplar Seu amor-doação de forma incruenta no pão e no vinho?
Logo, diante da plena manifestação de amor, é impossível não retribuir o amor. Por
isso, São Bernardo (2015, p. 8) afirma que aí se encontra a medida e o motivo por que
devemos amar a Deus, e assim sintetiza: "o motivo de nosso amor por Deus é o próprio Deus,
e que a medida desse amor é amar sem medida".
Nesse mistério de amor, a Eucaristia é também ação de graças e o louvor ao Pai, por
isso, o catecismo da Igreja afirma que:

A Eucaristia é um sacrifício de ação de graças ao Pai, uma bênção pela qual a Igreja
exprime o seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que
Ele fez mediante a criação, a redenção e a santificação. Eucaristia significa, antes de
mais, ‘ação de graças’ (CaIC, n. 1360).

Em sua catequese, o Papa Francisco assegura que Jesus realizou a suprema ação de
graças ao Pai na última ceia, o Deus Pai que não poupou o único Filho. Ressalta o Pontífice:
“Eis por que motivo o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é de Deus e ao mesmo
27

tempo do homem, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem” (PAPA
FRANCISCO, 05 fev. 2014).
Por essa razão, além do amor-sacrifício salvador de Jesus, Ele serve a humanidade na
mediação para que a Igreja possa oferecer a ação de Graças ao Pai, “por Cristo e com Cristo,
para ser aceite em Cristo”. (CaIC, n. 1361).
O amor-sacrifício salvador e de ação de graças de Cristo ao Pai, no Sacramento da
Eucaristia são também Amor-Presença. A presença real de Jesus no Sacramento é fruto da fé
católica na transubstanciação.
O Papa João Paulo II classificou essa doutrina como sempre válida e explica, na sua
carta encíclica, a definição segundo o Concílio de Trento:

Pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do


pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho
na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo
conveniente e apropriado, transubstanciação (EE, 2003, n. 6).

Essa fé na mudança de substância é uma condição que ultrapassa a compreensão


humana. Com efeito, “a Eucaristia é por excelência mistério da fé”. (SCa, 2007, n. 6). Assim,
para Igreja, no Santíssimo Sacramento da Eucaristia “estão contidos, verdadeira, real e
substancialmente, o corpo e o sangue, conjuntamente com a alma e a divindade de nosso
Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, Cristo completo”. (CaIC, n. 1374).
Nas espécies consagradas, a Eucaristia é amor-comunhão. Ao receber a Eucaristia, o
fiel é levado à íntima comunhão com Jesus e Dele recebe os benefícios desse Amor. De fato,
o Senhor apresenta-se como o Pão da Vida (Jo 6, 48) e afirma: "Quem come a Minha carne e
bebe o Meu sangue tem a vida eterna" (Jo. 6, 54), e “permanece em Mim e Eu nele”. (Jo 6,
56).
A manifestação do amor-comunhão é a iniciativa do próprio Deus. Assim, o Papa
Francisco (21 mar. 2018), em sua catequese, reflete que quando caminhamos rumo ao altar,
para receber a Comunhão, “na realidade é Cristo que vem ao nosso encontro para nos
assimilar a si. Há um encontro com Jesus!”.
Esse encontro com Cristo pode ser constante, pois aumenta na pessoa que comunga as
virtudes que nos aproximam de Deus, é o que ressalta São Pedro Juliano Eymard, fundador da
Congregação do Santíssimo Sacramento:

É pela Santa Comunhão que Jesus Cristo Nasce, Cresce e se aperfeiçoa em nós, e
seu grande desejo é que a recebamos e a recebamos com frequências. [...] Se nos
28

fosse dado conhecer os dons e as virtudes inerentes à Comunhão haveríamos


continuamente de suspirar por ela (EYMARD, 2002b, p. 10).

Segundo a fé católica, a presença eucarística do Senhor Jesus “começa no momento da


consagração e dura enquanto as espécies eucarísticas subsistirem” (CaIC, n. 1377). O
magistério recomenda a conservação da Eucaristia fora da missa, em local apropriado
segundo o direito canônico 14 e o livros litúrgicos, para administração do Viático, “levar a
sagrada Comunhão aos enfermos e para serem adoradas” (SAGRADA CONGREGAÇÃO
PARA O CULTO DIVINO, 2011, n. 5).
Para Eymard (2002a, p. 12), a adoração eucarística tem por objetivo “a Pessoa Divina
de Nosso Senhor Jesus Cristo, presente no Santíssimo Sacramento, que aí está vivo, desejando
ouvir-nos falar-lhe e falar-nos também”.
Uma declaração inspiradora de amor, fé e testemunho sobre a adoração a Jesus
Eucarístico encontramos em Joao Paulo II:

É bom demorar-se com Ele e, inclinado sobre o seu peito como o discípulo predileto
(Jo 13, 25), deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração. Se atualmente o
cristianismo se deve caracterizar sobretudo pela arte da oração, como não sentir de
novo a necessidade de permanecer longamente, em diálogo espiritual, adoração
silenciosa, atitude de amor, diante de Cristo presente no Santíssimo Sacramento?
Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela
força, consolação, apoio (EE, 2003, n, 25).

Esse Sacramento conduz à intimidade com o Senhor e proporciona a contemplação da


obra de salvação, revelando Seu Amor pela humanidade. Assim, o amor-doação de Jesus
impulsiona o fiel a se santificar, a testemunhar e servir como Ele fez. Deste modo, nesse
Sacramento, Jesus age na conversão pessoal e na transformação da sociedade.
Nessa realidade, na Eucaristia, Jesus faz de nós testemunhas da compaixão de Deus
por cada irmão e irmã, “nasce assim, o serviço da caridade para com o próximo” (Sca, 2007,
n. 88).
Na mesa da Eucaristia, nasce ainda a missão evangelizadora como bem explícita o
Papa João Paulo II (21 jun. 2000): “toda a Missa se conclui com o mandato missionário ‘ide’,
‘Ite, Missa est’, que convida os fiéis a levarem o anúncio do Senhor ressuscitado às famílias,
aos ambientes do trabalho e da sociedade, ao mundo inteiro”.
Toda a obra sacramental de amor que nos santifica, alimenta e salva, só é possível
graças ao sacerdote ministerial. De fato, em virtude da consagração que ele recebe pelo

14
Cãn .937-940
29

sacramento da ordem, “é enviado pelo Pai, através de Jesus Cristo, ao qual como Cabeça e
Pastor do seu povo é configurado, de modo especial, para viver e atuar, na força do Espírito
Santo, a serviço da Igreja e para a Salvação do mundo” (ORILO, 2019. p. 13).
Pela unção sacramental, “o sacerdote ministro é servo de Cristo presente na Igreja
mistério, comunhão e missão. Pelo fato de participar da 'unção' e da 'missão' de Cristo, ele
pode prolongar na Igreja a sua oração, a sua palavra, o seu sacrifício e a sua ação salvífica”.
(PDV, 1992, n.16).
No Santo Sacrifício da Missa, conforme a Instrução Geral do Missal Romano (IGMR),
durante a oração Eucarística, o momento central e culminante de toda a celebração, pelas
mãos e palavras do sacerdote ministerial, o pão e o vinho convertem-se no Corpo e Sangue de
Cristo. Desse modo “a hóstia imaculada, que vai ser recebida na Comunhão, opere a salvação
daqueles que dela vão participar”. (IGMR, n. 79).
O Sacerdote age ainda especialmente no Sacramento da penitência, que nos reconcilia
com Deus e com a Igreja. Nesse sacramento, quando o ele diz: “E Eu te absolvo dos teus
pecados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, ele realiza em nome de Jesus”.
(CaIC, n. 1441-1449).
O sacerdócio ministerial, portanto, fundamenta-se no “caráter impresso pelo
sacramento da ordem, que o configura a Cristo-Sacerdote, de modo a poder agir na pessoa de
Cristo Cabeça com a sagrada potestade de ser mediador da memória viva do amor, que dá a
vida (Eucaristia), e do amor que perdoa os pecados (Reconciliação)” (ORIOLO, 2019. p. 14).
Por isso, Cura D'Ars explicita que:

Se não tivéssemos o Sacramento da Ordem, não teríamos Nosso Senhor. Quem o


colocou no Tabernáculo? O padre. Quem foi que recebeu alma à entrada da vida? O
padre. Quem a prepara para comparecer perante Deus, lavando a alma pela última
vez no sangue de Jesus Cristo? O padre, Sempre o Padre (JOULIN, 1989, p.25).

Como “ministros da palavra de Deus” (PO, 1965, n. 4), e da ação pastoral (PO, 1965
n. 6), os padres servem alimentando espiritualmente e conduzindo o povo ao seguimento de
Jesus. Neste sentido, na seção anterior, apresentou-se o Cura D'Ars como um modelo e
referência, especialmente pelo seu testemunho pastoral.
Neste ano, o mundo vive uma crise de saúde mundial, uma pandemia atribuída ao
Coronavírus15. Tal peste tem tirado a vida de milhares de filhos de Deus e levado populações

15
Segundo o Ministério da Saúde, o Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O
novo agente do Coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China. Ele provoca a doença
chamada de Coronavírus (COVID-19) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).
30

ao isolamento social e à crise econômica em diversos países. O Amor-doação, que nasceu na


cruz e permaneceu na Eucaristia, também impulsiona o Padre a doar-se. Foi o que muitos
padres fizeram durante a pandemia do COVID-19, chegando à doação da própria vida. Eles e
os profissionais de saúde foram lembrados na homilia da Missa do Crisma deste ano pelo
Papa Francisco:

Os sacerdotes, que oferecem a vida pelo Senhor; os sacerdotes que são servos.
Nestes dias, aqui na Itália, morreram mais de sessenta, infectados ao prestar
cuidados aos doentes nos hospitais e também aos médicos, aos enfermeiros, às
enfermeiras... São ‘os santos de ao pé da porta’, sacerdotes que, servindo, deram a
vida (PAPA FRANCISCO, 9 abr. 2020).

Ao fim deste capítulo, no qual buscamos desenvolver sobre o amor de Cristo no


serviço à humanidade e na instituição da Eucaristia e do Sacerdote, chega-se a algumas
considerações.
Primeiramente, verifica-se que a Sagrada Escritura revelou o desejo ardente de Jesus
de comer aquela última ceia com os apóstolos e instituir a Eucaristia e o Sacerdócio. Revelou
o esvaziamento total de Deus, colocando-se a serviço da humanidade, trazendo a Salvação
pela sua paixão, morte de cruz e ressurreição.
Partindo das narrativas neotestamentárias e documentos sobre a instituição do
Sacerdócio ministerial, percebe-se que sem esse ministério, de fato, a Igreja não poderia
prolongar o ministério de Cristo cabeça apascentando e santificando o povo sacerdotal.
Ao olhar a singeleza do pão e do vinho transubstanciados pelas mãos do Sacerdote
ministerial, num primeiro momento, não se percebe a grandeza reveladora do amor-doação de
Deus. Mas, após desenvolver o trabalho, impacta-se pelo amor-sacrifício salvador de Jesus na
Eucarística. São Bernardo (2015) mostrou a que medida deve corresponder a esse amor: amar
sem medida.
A Eucaristia significa ação de Graças. Na nossa natureza, não poderíamos manifestar
diretamente ao Pai o justo louvor por suas obras. No entanto, no Sacramento ‘por’, ‘com’ e
‘em Cristo’, realiza-se o dever e salvação, como reza o prefácio do Santo Sacrifício da Missa.
Ao defrontar-se com o Amor-presença do Corpo e Sangue de Jesus nas espécies
consagradas, vê-se o Deus que caminha conosco, o pão da vida, aquele que se oferece à
intimidade, como testemunhou o Papa João Paulo II: “É bom demorar-se com Ele [...] deixar-
se tocar pelo amor infinito do seu coração” (EE, 2003, n, 25). O amor-doação de Deus, que
nasceu na cruz, permaneceu na Eucaristia, impulsiona o fiel leigo e o sacerdote ministerial à
santificação ao testemunhar e doar-se como Ele fez.
31

Seguramente, nesta pandemia do COVID-19, muitos fies leigos e sacerdotes estão


doando-se, alguns doando a própria vida, como bem lembrou o Papa Francisco em sua
Homilia. Eucaristia é amor. Sacerdócio ministerial é missão. Amor é serviço.
32

3 O AMOR DE CRISTO NA SUA PAIXÃO E MORTE

Jesus sofreu sua Paixão e Morte de Cruz para realizar o plano de Salvação do Pai.
Morreu na cruz condenado pela decisão das instâncias do poder religioso e civil que atuavam
em Jerusalém. A condenação teve como base a mensagem sobre o Reino de Deus.
O contexto histórico-teológico favoreceu que os discípulos reconhecessem, nas
realidades históricas, a realização do projeto de amor do Pai, manifestada pela entrega do
Filho que assumindo a condição humana. Viveu a entrega de si mesmo sem desviar da cruz, a
maior prova de obediência ao Pai e solidariedade aos seres humanos.
Deste modo, Jesus Cristo morreu por nossos pecados (Rm 4,25), assumindo nossa
morte. Assim, Cristo estabeleceu a nova e eterna aliança entre Deus e a Humanidade pelo seu
Sangue derramado na cruz.

3.1 JESUS É ENTREGUE POR JUDAS ISCARIOTES, PELO SINÉDRIO E POR PILATOS

No contexto histórico da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, o verbo entregar é um


fio condutor e revelador da ação humana na paixão e morte de Jesus. Nesta seção, será feita
uma abordagem histórico-teológico sobre as três entregas humanas: Judas Iscariotes16 entrega
Jesus ao Sinédrio; Sinédrio entrega Jesus à Pilatos; Pilatos entrega Jesus para a Cruz.
Tendo Jesus iniciado seu ministério, escolhido os Doze17 discípulos, anunciava a Boa
Nova. Ele “percorria toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do
Reino e curando toda e qualquer doença diversas ou enfermidades do povo” (Mt 4,23).
“Andou fazendo o bem”. (At 10,38).
Muitas atitudes e palavras de Jesus, entretanto, foram sinal de contradição para as
autoridades religiosas de Jerusalém. Aos olhos de muitos em Israel, “parece que Jesus procede
contra as instituições essenciais do Povo eleito: a submissão à Lei [...]; a centralidade do
templo de Jerusalém [...]; a fé no Deus único, cuja glória nenhum homem pode partilhar”.
(CaIC, n. 576).

16
Judas Iscariotes: “um homem de Queriot, uma cidade no sul da Judeia, uma interpretação que tornaria Judas o
único membro não galileu conhecido dos Doze. Outros interpretam o nome como refletindo sicarius, "homem do
punhal", um nome latino para um membro de um grupo judaico nacionalista relacionado aos zelotes” (BROWN,
et al. 2011, p. 1572).
17
Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos: Simão, a
quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho
de Alfeu; Simão, chamado Zelador; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor (Lc 6,13-
16).
33

Isso levou os chefes dos sacerdotes e dos anciãos a conspirarem contra Jesus, a fim de
prendê-lo e matá-lo. O evangelista Marcos registra as primeiras conspirações contra Jesus na
cena da cura do homem com a mão atrofiada. (Mc 3,6).
Para o Evangelista João (Jo 11,1-44), a ressurreição de Lázaro gerou desconforto e
preocupação aos chefes dos sacerdotes e fariseus, pois muitos Judeus creram em Jesus (Jo
11,45).

Se o deixarmos agir... todos crerão nele (Jo 11,48), dirão alarmados sumos
sacerdotes e fariseus a todo o Sinédrio, e não hesitarão em trair o seu Deus, desde
que mantenham intacto o poder deles: ‘Não temos outro rei senão César!’ (Jo
19,15). Aceitarão ser dominados a fim de poder continuar dominando (MAGGI,
2013, p.15).

Segundo Vasconcellos (2018), no desespero por manter os espaços de privilégio e o


poder, os seus e os de seus companheiros, o líder dos sacerdotes propõe matar Jesus. Ele
entende que é melhor morrer um para que se salvem os demais.
A morte de Jesus, portanto, “não aconteceu por acaso, mas é resultado de um plano de
morte dos líderes religiosos e políticos. Esse plano dá certo porque Judas, um dos que andam
com Jesus rompe o cerco, permitindo que ‘os de fora’ (Mc 4,11) executem seus projetos de
morte”. (BORTOLINI, 2006, p. 359).
Faltando dois dias para a Páscoa dos Judeus, os Evangelhos detalham as articulações
dos líderes religiosos, para alcançarem seu objetivo de prender e matar Jesus (Mt 26,1-5; Mc
14, 1-2; Lc 22,1-2). Mas “não durante a Festa, para não haver tumulto”. (Mc 14,1-2).
A oportunidade que os chefes dos sacerdotes buscavam consolidou-se quando Judas
Iscariotes procurou-os para entregar Jesus. O Evangelista Marcos detalha que os chefes dos
Sacerdotes, “ao ouvi-lo, alegraram-se e prometeram-lhe dar dinheiro”. (Mc 14,10-11, Lc 22,3-
6). O traidor negociou seu “Mestre e Senhor” (Jo 13,14), pela quantia de “trinta moedas de
prata”. (Mt 26,15). Esse valor era o preço que a lei fixava para a vida de um escravo (Ex
21,32).
Mas surge uma questão: Por que Judas entregaria o Mestre para os de fora? A questão
é objeto de várias hipóteses. O Papa Bento XVI lista algumas, sem descartar a
responsabilidade pessoal do discípulo.

Alguns recorrem ao fator da sua avidez de dinheiro; outros dão uma explicação de
ordem messiânica: Judas teria ficado desiludido ao ver que Jesus não inseria no seu
programa a libertação político-militar do seu próprio País. Na realidade os textos
evangélicos insistem sobre outro aspecto: João diz expressamente que ‘tendo já o
diabo metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que O entregasse’ (Jo
34

13,2); analogamente escreve Lucas: ‘Entrou satanás em Judas, chamado Iscariotes


que era do número dos Doze’ (Lc 22,3). Desta forma, vai-se além das motivações
históricas e explica-se a vicissitude com base na responsabilidade pessoal de Judas,
o qual cedeu miseravelmente a uma tentação do maligno (PAPA BENTO XVI, 18
out. 2006).

O drama da entrega de Jesus ao sinédrio toma forma quando os Doze estavam


reunidos com Jesus para a última ceia. Nessa ceia, no pão e no vinho, o Senhor antecipou sua
morte e realizou a sua autodoação sacramental, instituindo a Eucaristia e o Sacerdócio.
Durante a ceia, o próprio Jesus fez o anúncio da traição de um dos Doze, ficando o registro
nos quatros Evangelhos (Mt 26,20-25; Mc 14,18-21; Lc 22,21-23; Jo 13,21). Jesus sabia que
na mesa da Eucaristia tinha um traidor.

E quando ele estava sentado à mesa, comendo, Jesus disse: Em verdade vos digo:
que um de vocês que come comigo há de me entregar. Começaram a ficar tristes e a
dizer-lhes um ao outro: ‘Acaso sou eu?’ Ele, porém, disse-lhes: ‘Um dos Doze, que
põe a mão no mesmo prato comigo’. Porque, na verdade o Filho do Homem vai,
conforme está escrito a seu respeito. Mas, ai daquele homem por quem o Filho do
Homem for entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido (Mc 14,18-21).

Para São Beda18 (apud AQUINO, 2019, p. 253), Jesus já havia falado antecipadamente
de Sua Paixão, “também o faz sobre o traidor, dando oportunidade de penitência, de modo
que este, quando compreendesse que o Senhor conhecia seus pensamentos, se arrependesse do
que fizera”. Na ceia pascal Jesus, ciente de sua missão, que “o Pai tudo pusera em suas mãos e
que Ele viera de Deus e a Deus voltava” (Jo 13,3), levantou-se da mesa para lavar os pés dos
discípulos (Jo 13,5). Entre eles estava Judas Iscariotes, aquele que o diabo pusera no coração
o “projeto” de entregar Jesus (Jo 13,2). Jesus “é a expressão tangível do amor de Deus que
não exclui ninguém do seu amor, nem mesmo o discípulo que dentro em breve o trairá,
entregando-o à morte” (MAGGI, 2013, p. 93).
Lavar os pés era rito de purificação dos Judeus. “Jesus mostra que, mesmo
purificando-se ritualmente, alguém pode continuar impuro. É o caso de Judas: lavados os pés,

18
Segundo o Site Vatican News (25 maio 2020), seu nascimento ocorreu entre os anos 672 e 673. Tornou-se
Diácono, aos 19 anos, e ordenado sacerdote aos 30. São Beda dedicou toda a sua existência ao estudo das
Escrituras Sagradas e ao ensino (semper aut discere aut docere aut scribere): seus únicos interesses eram
aprender, ensinar e escrever sempre; seus dias eram iluminados pela oração e o canto em coro [...] São Beda
Venerável faleceu em 26 de maio de 735, em Jarrow, onde foi sepultado. Seus restos mortais foram transferidos,
em 1022, para a catedral de Darham, por desejo de Eduardo, o Confessor, o penúltimo dos reis dos Anglo-saxões
e rei da Inglaterra. O título de "Venerável", que Beda recebeu já durante a sua vida, pela sua fama de santidade e
sabedoria, se difundiu rapidamente, tanto que o Conselho de Aquisgrana o descreveu como "Venerabilis et
modernis temporibus doctor admirabilis Beda" (Beda, Venerável e magnífico Doutor dos nossos tempos). Por
fim, o Papa Leão XIII o declarou, em 13 de novembro de 1899, Doutor da Igreja.
35

sua impureza permanece, porque aderiu ao diabo, o espírito antifraterno que leva à cobiça e
não à partilha e ao serviço”. (BORTOLINI, 2006, p. 95).
Para Flanagan (2014), Judas não está puro. Nessa hora, nesse início do conflito final,
ele nega sua parte com Jesus, recusa-se a crer no “Eu Sou” (Jo 13,19), passa para o poder de
satanás. O companheiro de mesa do Senhor abandona agora a Luz do mundo. Leva-se a crer
que o traidor teve a oportunidade de arrepender-se, de purificar-se e romper com o diabo
mantendo-se na luz. Entretanto, na última ceia, “tomando, então, o pedaço de pão, Judas saiu
imediatamente. Era noite” (Jo 13,30).
A noite não quer ser apenas “uma indicação cronológica, mas teológica. A noite é a
treva [...], se alguém caminha de noite ‘tropeça, porque a luz não está nele’ (Jo 11,10); a noite
é o espaço onde qualquer atividade é infrutífera (Jo 21,3), é o abismo que engole Judas depois
da traição (Jo 13,30)”. (MAGGI, 2013, p. 29).
O Papa Bento XVI recorda que:

Faz parte da Quinta-feira Santa também a noite escura do Monte das Oliveiras, nela
Se embrenhando Jesus com os seus discípulos; faz parte dela a solidão e o abandono
vivido por Jesus, que, rezando, vai ao encontro da escuridão da morte; faz parte dela
a traição de Judas e a prisão de Jesus, bem como a negação de Pedro; e ainda a
acusação diante do Sinédrio e a entrega aos pagãos, a Pilatos (PAPA BENTO XVI,
5 abr. 2012).

Depois da Ceia, Jesus e os outros discípulos foram para o monte das Oliveiras (Mc
14,26). No getsêmani19, Jesus sente angústia frente ao poder da morte. Caído por terra, ora ao
Pai: “E Dizia: Abba! Tudo é possível para ti: Afasta de mim este cálice; porém, não o que eu
quero, mas o que tu queres”. (Mc 14,36). Entretanto como narra o evangelista, “a hora
chegou! Eis que o filho do homem é entregue às mãos dos pecadores”. (Mc 14,41-42). Jesus
falou sempre da sua hora (Jo 2,4; 13,1), a hora do dom da sua vida por amor.
Logo que o Mestre anuncia a proximidade do traidor, chega “Judas, um dos Doze”.
(Mc 14, 43). Ele não chegou só, mas com “uma multidão trazendo espadas e paus, da parte
dos chefes do sacerdote, escribas e ancião” (Mc 14,43).
Para não prender a pessoa errada, “o seu traidor dera-lhes uma senha, dizendo: É
aquele que eu beijar. Tão logo chegou, aproximou-se de Jesus, disse: Rabi! E o beijou.” (Mc
14,44-46). Nesta hora, os que estavam com Jesus abandonaram-no (Mc 14,51). Esse gesto foi
“o sinal que Judas deu a eles usou a saudação tradicional dada ao mestre - um dispositivo que

19
Getsêmani: O lugar era um pequeno jardim do lado de fora da parte leste da cidade de Jerusalém, no Monte
das Oliveiras. O nome significa "prensa de azeite" (HARRINGTON, 2011, p. 123).
36

aumenta o horror da ação de Judas”. (HARRINGTON, 2011, p. 124). Assim, Judas entregou
Jesus ao Sinédrio20.
O Evangelista Marcos relata que tudo estava preparado na casa do sumo sacerdote,
para onde levaram Jesus, e onde os escribas e os anciãos estavam reunidos, para o julgamento
religioso (Mc 14,53-65). Marcos descreve, em seu evangelho, que os chefes dos sacerdotes e
todo o sinédrio procuravam um testemunho contra Jesus para matá-lo, mas nada encontravam,
“pois muitos davam falsos testemunhos, e os testemunhos não eram congruentes”. (Mc 14,55-
56).
A sentença de morte já estava decretada, cabia agora justificá-la de qualquer maneira,
mesmo lançando mão de expedientes contrários à Lei mosaica (Ex 20,16; Dt 5,20), como era
o caso do falso testemunho (VITÓRIO, 2019). Além disso, a não congruência dos
testemunhos feria o princípio jurídico judaico relacionado à necessidade de pelo menos “duas
testemunhas para um crime” (HARRINGTON, 2011, p. 125).
Uma das acusações levantadas durante o julgamento é que Jesus ameaçou “destruir o
templo de Jerusalém e erguer após três dias” (Mc 14,58). Sobre essa acusação, para São
Jerônimo, os acusadores estavam desvirtuando a verdade, “uma vez que o ‘Senhor, pois, tinha
falado do templo de seu Corpo’. Mas em suas mesmas palavras o caluniaram, para que pelo
acréscimo ou mudança de algumas coisas tornassem-se a calúnia como justa” (SÃO
JERÔNIMO apud AQUINO, 2018, p. 827).
Diante das acuações e interrogação do Sumo Sacerdote, Jesus ficou “calado e nada
respondeu”. (Mc 14,60). A resposta de Jesus foi o silêncio para os falsos testemunhos e
acusações infundadas. Entretanto, quando a verdade sobre Ele apareceu, Ele replica
(LINDEN, 2014).

O sumo sacerdote o interrogou de novo: ‘És tu o messias, o filho do Deus bendito?’


Jesus respondeu: Eu Sou. E vereis o filho do homem sentado à direita do Poderoso e
vindo com as nuvens do céu’. O sumo sacerdote, então, rasgando suas túnicas, disse:
‘Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia. Que vos
parece?’ E todos julgaram-no réu de morte (Mc 14,61-64).

A resposta de Jesus: Eu Sou, o coloca “no contexto da autorrevelação e teofania, esta


expressão deve aludir à fórmula de revelação do Antigo Testamento (Ex 3,14; Dt 32,39; Is

20
O Sinédrio era a mais alta corte judaica que julgava os criminosos, mas não tinha o poder de condenar à morte.
Esse poder os romanos reservaram para a sua corte. Era composto de setenta membros liderados pelo sumo
sacerdote. Ente os membros estavam: os anciãos, os fariseus que eram os homens da Lei que mantinham e
defendiam os privilégios dos poderosos e sacerdotes que eram o poder religioso (PEREIRA, 2015).
37

41,4; 43,10) aplicada a Iahweh, contribuindo, desta forma, para a mensagem cristológica do
texto como um todo” (HARRINGTON, 2011, p. 94).
Quando Jesus rompe o silêncio e afirma: Eu Sou, o narrador destaca a reação teatral do
sumo sacerdote que o interrogava. “Rasgar as vestes, num gesto de profunda indignação, e
acusar Jesus blasfemo, faz parte da estratégia dos inimigos decididos a eliminá-lo”.
(VITÓRIO, 2019, p. 269). O Sumo sacerdote imediatamente acusa-o de blasfêmia, e o
“julgaram-no réu de morte (Mc 14, 64), classificando-o como falso profeta”. (Mc 14,65). Pela
manhã, os chefes dos sacerdotes fizeram um conselho com os anciãos e os escribas e o
Sinédrio. “E manietando a Jesus, levaram-no a Pilatos”. (Mc 15,1).
São Jerônimo 21 destaca a “solicitude dos sacerdotes na prática do mal: permaneceram
toda a noite em vigília para cometer um homicídio, e entregaram-no atado a Pilatos. Tinham,
pois, o costume de entregar atado ao juiz aquele que condenavam a morte”. (SÃO
JERÔNIMO apud AQUINO, 2018, p. 835). Assim, o Sinédrio entregou Jesus a Pilatos22.
O julgamento político conduzido por Pilatos conta com a presença dos religiosos que
entregaram Jesus. Pilatos inicia o interrogatório:

És tu o rei dos Judeus? Respondendo, Ele disse: ‘Tu o dizes’. E os chefes dos
sacerdotes acusavam-no de muitas coisas. Pilatos interrogou de novo: ‘Nada
respondes? Vê de quanto te acusam! Jesus, porém, nada mais respondeu, de sorte
que Pilatos ficou impressionado (Mc 15,2-5).

O representante romano direciona sua pergunta no sentido político: “És tu o rei dos
Judeus? A pergunta de Pilatos é uma tradução política dos títulos Messias e Filho de Deus.
Ela mostra que a estratégia contra Jesus era ligá-lo a movimentos messiânico-políticos
daquele tempo e condená-lo como revolucionário”. (HARRINGTON, 2011, p. 126). Ao
responder: “Tu o dizes” (Mc 15,2), Jesus aceita o título a ele dado por Pilatos “o que equivale
a dizer ‘culpado’ à acusação de alta traição”. (LINDEN, 2014, p. 70).

21
Conforme o Site Acidigital (30 set. 19), São Jerônimo, tradutor da Bíblia ao latim, cuja festa se celebra neste
dia 30 de setembro. O nome Jerônimo significa “que tem um nome sagrado”. Este santo consagrou toda sua vida
ao estudo das Sagradas Escrituras e é considerado um dos melhores, se não o melhor, neste ofício. Nasceu na
Dalmácia (Iugoslávia) por volta do ano 340. [...] Por volta dos 40 anos, Jerônimo foi ordenado sacerdote. [...] A
Santa Igreja Católica reconheceu sempre São Jerônimo como um homem eleito por Deus para explicar e fazer
entender melhor a Bíblia. Por isso, foi nomeado patrono de todos os que no mundo se dedicam a fazer entender e
amar mais as Sagradas Escrituras. Morreu em 30 de setembro do ano 420, aos 80 anos.
22
O prefeito da Judeia mais conhecido foi Pôncio Pilatos (Lc 3,1). Uma inscrição dedicatória, descoberta em
Cesareia Marítima, em uma construção chamada de Tiberieum, erigida em honra ao imperador, atesta a presença
de Pilatos ali na época de Tibério. Ela lhe dá o título de praefectus Iudaeae [...]. Designado para o cargo por
Sejano, o conselheiro antijudeu de Tibério, Pilatos foi um governador arbitrário e severo que nunca se esforçou
para agradar aos judeus (FITZMYER, 2011, p. 1319).
38

Conforme Vitório (2019), diante dos romanos, os chefes dos sacerdotes voltam a
acusar Jesus, levantando falsos testemunhos de cunho político-social. Jesus, todavia, mantém-
se calado, como fizera na sessão noturna do Sinédrio. Pilatos ficou impressionado por esperar
uma reação do acusado que não veio.
O silêncio do Filho de Deus impressiona as autoridades. Para São Jerônimo, “Jesus
não quis responder coisa alguma para evitar que, desmanchando a acusação, fosse libertado
pelo governador, adiando-se o proveito da Cruz”. (SÃO JERÔNIMO apud AQUINO, 2018,
p. 841).
O processo civil contra Jesus caminha para o desfecho com a narração da pratica por
ocasião da Páscoa, quando um prisioneiro era libertado a pedido da multidão (Mc 15,6).
Pilatos apresentar-lhes Barrabás23, um prisioneiro que havia “cometido um homicídio” (Mc
15,7), e Jesus o “rei dos Judeus”. (Mc 15,9).
Barrabás era “um revolucionário e assassino, exatamente o tipo de pessoa que os
romanos mais deveriam temer”. (HARRINGTON, 2011, p. 126). Ele pode ter sido “um dos
zelotas; se for assim, suas atividades terroristas o teriam levado à prisão”. (STAMBAUGH;
BALCH, 1996, p. 19).
Pilatos sabia que os líderes religiosos do Judeus entregaram Jesus por inveja (Mc 15,
10). Para não deixarem de concluir seu intento, os chefes dos sacerdotes “incitavam o povo” a
pedirem que soltasse Barrabás. (Mc 15,11). E, por fim, “Pilatos perguntou-lhes de novo: Que
farei de Jesus, que diz ser o rei dos judeus? Eles gritaram de novo: Crucifica-o! Mas que mal
ele fez? Eles gritavam com mais veemência: Crucifica-o!” (Mc 15,12-14).
O relato indica que Pilatos estava pressionado a condenar Jesus. Então, para agradar a
multidão, soltou-lhes Barrabás, mandou açoitar Jesus e “entregou-o para que fosse
crucificado”. (Mc 15,15). Os açoites “infligidos como preparação para a crucificação eram
feitos com chicotes de couro contendo pedaços de osso ou de metal, aplicados à vítima
amarrada a um pilar”. (HARRINGTON, 2011, p. 126). Assim, Pilatos entregou Jesus para a
Cruz. Desse modo, as autoridades religiosas de Israel, com auxílio do traidor e dos poderes
instituídos, alcançaram seu intento de prender e condenar à morte Jesus. Para tal, não
titubearam em ferir as Leis Mosaicas e submeter-se ao poder político romano.
Na Cruz, Jesus dirá: “Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que estão fazendo” (Lc
23,34). Essa é a ordem do pensamento e do amor divino: rezar pelos inimigos (Mt 5,44).

23
Barrabás: O nome é uma transliteração do termo aramaico bar ’abbã’, "filho do pai" (HARRINGTON, 2011,
p. 126).
39

“Jesus na cruz continua a nos ensinar, que mesmo diante de toda a dor e todo o ódio,
independentemente de onde venha, nós devemos perdoar”. (BEDOR, 2019, p. 3).
A paixão do Senhor, no contexto histórico, tendo como fio condutor o verbo entregar
aconteceu: os líderes religiosos contaram com a traição de Judas, que entregou Jesus (com um
beijo) ao sinédrio; após julgamento religioso, o sinédrio entregou Jesus (amarrado) a Pilatos;
Pilatos após julgamento político entregou Jesus (açoitado) para ser crucificado. Em todos os
momentos, Jesus permaneceu fiel ao projeto de salvação do Pai.
No contexto da Paixão, no fio condutor do verbo entregar, encontram-se também as
entregas Trinitárias, ou seja, a do Filho, a do Pai e a entrega conjunta do Pai e do Filho, que
será abordada na próxima seção.

3.2 A ENTREGA DO FILHO, DO PAI E A ENTREGA CONJUNTA DO PAI E DO FILHO

O verbo entregar reflete o amor-salvador e a solidariedade da Santíssima Trindade pela


humanidade. Nesta seção, busca-se uma abordagem relacionada às entregas da Trindade, ou
seja, a entrega que o filho faz de Si Mesmo; a entrega que o Pai faz do unigênito; e a entrega
conjunta que Pai e Filho fazem do Espirito Santo.
O Evangelista João testemunha que: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo
1,14). Saiu de sua glória e assumiu a natureza humana, de modo que se despojou, “tomando a
forma de escravo, tornando semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um
homem”. (Fl 2,7-8). Assim, o amor-solidário aos seres humanos revelou-se plenamente à
humanidade na pessoa de Jesus. Jesus, entretanto, não deixou de ser Deus.

Recebendo a forma de servo, não perdeu a forma de Deus, na qual era igual ao Pai.
Portanto, revestido da forma de servo, não ficou privado da forma de Deus, pois,
tanto na forma de servo, como na forma de Deus, ele é o Filho Unigênito de Deus
Pai, igual ao Pai na forma de Deus, e mediador de Deus e dos homens, o homem
Cristo Jesus, na forma de servo (SANTO AGOSTINHO, 1994, p. 32).

Nessa dimensão, para Libânio (2007), Jesus ao encarnar-se, continuou existindo como
Deus. Como Pessoa Divina, esvaziou-se de tal maneira de andar entre nós, assumindo a forma
humana até ser condenado à morte na cruz. “Aí está o mistério maior de Jesus, a extrema
humanidade subsistindo na condição divina, sem que nenhuma delas – humanidade e
divindade – sofresse detrimento”. (LIBÂNIO, 2007, p. 23).
Durante seu ministério, Jesus prediz sua paixão, morte e ressurreição por três vezes no
Evangelho de Marcos e cada predição são seguidas por uma incompreensão por parte dos
40

discípulos (Mc 8,32-33; 9,32-37; 10,35-45). Sabia o que o esperava em Jerusalém. Mesmo
assim, Jesus seguiu decidido para a cidade Santa. Lá foi entregue por Judas ao Sinédrio, que o
entregou a Pilatos para que o crucificasse.
Tavares (2007) classifica essa decisão de Jesus subir a Jerusalém como autoentrega.
Entende que “Jesus está convencido de que ninguém tira a vida do filho do Homem. É Ele
mesmo que entrega a própria vida, revelando assim uma atitude de obediência radical a Deus,
e ao mesmo tempo, de extrema solidariedade com os seres humanos”. (TAVARES, 2007, p.
25).
A autoentrega é reafirmada na última ceia. “Antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus
que chegara a sua hora de passar para deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que
estavam no mundo amou-os até o fim”. (Jo 13,1). Na ceia, Jesus lavou os pés dos discípulos e
instituiu a Eucaristia. Antecipou sua morte, entregando-Se já naquela hora aos seus discípulos.
Como afirma o Papa João Paulo II:

Só uma tal consciência explica o facto que Ele "tomou o pão e, depois de dar graças,
partiu-o e deu-lho, dizendo: 'Isto é o Meu corpo, que vai ser dado por vós’ (Lc 22,
19). E depois de cear, tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a Nova Aliança no
Meu sangue’, como narra Paulo (1 Cor 11, 25), [...]. Cristo, pronunciando estas
palavras no cenáculo, já fez a escolha (PAPA JOÃO PAULO II, 8 abr. 1982).

Depois da ceia, Jesus foi com os discípulos ao monte das Oliveiras. No getsémani, Jesus
orava ao Pai: “E dizia: Abba! Tudo é possível para ti: Afasta de mim este cálice; porém, não o
que eu quero, mas o que tu queres”. (Mc 14, 36).
Experimentando o drama da solidão e do medo, Jesus pede ao Pai para que afaste dele o
cálice da paixão. Pode-se compreender como Ele, com a sua alma humana, sente-se perante
essa realidade. Jesus estava próximo de abraçar a cruz com o peso do pecado da humanidade.
O Papa Bento XVI vai além e bem explicita:

Sente, com a morte, também todo o sofrimento da humanidade. Sente que tudo isto é
o cálice que deve beber, que se deve dar a si mesmo, aceitar o mal do mundo, tudo o
que é terrível, a repulsa de Deus, todo o pecado. E podemos compreender como
Jesus, com a sua alma humana, se sente aterrorizado perante esta realidade, que
sente em toda a sua crueldade: a minha vontade seria não beber o cálice, mas a
minha vontade está subordinada à tua vontade, à vontade de Deus, à vontade do Pai,
que é também a verdadeira vontade do Filho. E assim Jesus transforma, nesta
oração, a repulsa natural, a repulsa do cálice, da sua missão de morrer por nós;
transforma esta sua vontade natural em vontade de Deus, num “sim” à vontade de
Deus (PAPA BENTO XVI, 20 abr. 2011).
41

Nesse diálogo constante entre o Pai e o Filho, participa o Espírito Santo. Para o Papa
João Paulo II (3 maio 2000), “de fato, Cristo abriu plenamente o seu ser humano angustiado à
ação do Espírito Santo, e este deu-Lhe o impulso necessário para fazer da sua morte uma
perfeita oferenda ao Pai”. Nessa linha de reflexão, para Cantalamessa (24. mar. 2017) era “o
Espírito Santo que suscitava nele a oração e era o Espírito Santo que o incentivava a oferecer-
se ao Pai”.
Assim, o Espírito Santo impulsiona Jesus à cruz, para da Cruz Ele enviar o Paráclito.
Ele mesmo afirma aos Discípulos: “é de vosso interesse que eu parta, pois, se não for, o
Paráclito não vira a vós, mas se for enviá-lo-ei a vós”. (Jo 16,7). O “Espirito da verdade, que
vem do Pai”. (Jo 15,26). Quando, porém, “Ele vier, o Espírito da verdade, guiar-vos-á para
toda a verdade”. (Jo 16,12).
Então, movido pelo Espirito Santo, o Filho entregou-se ao sofrimento e à morte de Cruz
para realizar a perfeita reparação, que só Ele verdadeiro Deus e Homem podia realizar.

Este Filho da mesma natureza que o Pai sofre como homem. O seu sofrimento tem
dimensões humanas; e tem igualmente — únicas na história da humanidade — uma
profundidade e intensidade que, embora sendo humanas, podem ser também uma
profundidade e intensidade de sofrimento incomparáveis, pelo fato de o Homem que
sofre ser o próprio Filho unigénito em pessoa: ‘Deus de Deus’. Portanto, somente
Ele — o Filho unigénito — é capaz de abarcar a extensão do mal contida no pecado
do homem: em cada um dos pecados e no pecado ‘total’, segundo as dimensões da
existência histórica da humanidade na terra (SALVIFICI DOLORIS, 1984, n. 17).

Pregado na cruz, Jesus diz: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. (Lc 23,46). E,
“Inclinado a cabeça entregou seu Espírito”. (Jo 19,30). Ao compreender que sua vida seguiu
todo o processo e culminou em seu sacrifício, “faltava abraçar a última coisa para além da
cruz (sofrimento): a morte. [...], pois a entrega do espírito significa que nada mais tinha a se
fazer e que a morte agora poderia vir para terminar o sacrifício”. (BEDOR, 2019, p. 16).
A entrega que o filho faz de Si Mesmo é reflexo da entrega que o Pai Faz do Filho. Para
Taveres (2007), o mistério da encarnação pressupõe a parte de Deus aceitar, portanto, as
decisões dos humanos responsáveis pela condenação à morte do seu Filho unigênito. Assim, o
Pai enviou o Filho ao mundo sem reservas.
Quem se encarna é o enviado, a Palavra, “esse movimento que procede do Pai, é
dinamismo do Pai, amor ativo, expansão do Pai. A carne é a pessoa que vive e atua, é o
conjunto das capacidades de ação da pessoa”. (COMBLIN, 2009, p. 22). Desse modo, a ação
missionária do Pai é realizada pelo Filho. A missão é salvar.
42

A cruz revela a plenitude desse amor salvador de Deus. É no “mistério da Cruz que se
revela plenamente o poder irresistível da misericórdia do Pai Celeste. Para reconquistar o
amor da sua criatura, Ele aceitou pagar um preço elevadíssimo: o sangue do seu Filho
Unigênito”. (PAPA BENTO XVI, 21 nov. 2006).
São Paulo, na carta aos gálatas, afirma que não foi apenas o Pai que entregou Jesus,
mas Ele “amou e se entregou a si mesmo” (Gl 2,20), ou seja, Cristo não foi passivo no evento
da cruz, mas participou ativamente por amor e obediência a Deus. Nessa entrega amorosa do
Pai e Do Filho, age o Espírito Santo.
A Carta aos Hebreus diz que Cristo "movido pelo Espírito eterno, ofereceu a si mesmo
sem mácula a Deus”. (Hb 9,14). “Espírito eterno é outra maneira de dizer Espírito Santo,
como atesta uma variante antiga do texto. Isto significa que, como homem, Jesus recebeu do
Espírito Santo, que estava nele, o impulso para oferecer-se em sacrifício ao Pai e a força que o
sustentou durante a sua paixão”. (CANTALAMESSA, 24. mar. 2017).
Na cruz, o Espírito Santo age sustentando o sofrimento do Pai e do Filho.

A presença e ação do Espirito Santo no evento da morte de Jesus são interpretadas


como participação ativa no mistério pascal de cristo. É o espirito Santo, em primeiro
lugar, que faz com que Pai e Filho sejam capazes de suportar toda e qualquer
separação na mais perfeita experiência de comunhão (TAVERES, 2007 p. 30).

Deste modo, “a morte de Jesus é o núcleo fundamental de revelação enquanto é a


expressão mais profunda da "kenosis"24 de Deus e uma verdadeira manifestação trinitária”.
(ARENAS, 2001, p.119).
A entrega do Filho e do Pai estava consumada com a participação ativa do Espírito
Santo. Ao custo redentor da Cruz, cabe agora o cumprimento da promessa aos discípulos: O
envio do Paráclito (Jo 16,7), que vem do Pai (Jo 15,26), ou seja, a entrega conjunta que Pai e
Filho fazem do Espirito Santo.
O Evangelista João bem descreve a relação do Pai e do Filho que é a procedência do
Espírito Santo.

Assim, ‘o Espírito procede do Pai’ (Jo 15,26) e o Pai ‘dá’ o Espírito (Jo 14,16). O
Pai ‘envia-o’ Espírito em nome do Filho (Jo 14,26), o Espírito ‘dá testemunho’ do
Filho (Jo 15,26). O Filho pede ao Pai que envie o Espírito Consolador (Jo 14,16);
mas, além disso, afirma e promete, em relação com a sua ‘partida’ mediante a Cruz:
‘Quando eu for, vo-lo enviarei’ (Jo 16,7). Portanto, o Pai envia o Espírito Santo com
o poder da sua paternidade, como enviou o Filho (Jo 3,16s.,34; 6,57; 17,3. 18. 23);
mas, ao mesmo tempo, envia-o, com o poder da Redenção realizada por Cristo — e

24
do grego. kenõsis, significando (auto) “esvaziamento” (empregado em Fp 2.6,7) (FERGUSON, 2009, p.838)
43

neste sentido o Espírito Santo é enviado também pelo Filho: ‘enviar-vo-lo-ei’


(DOMINUM ET VIVIFICANTEM, 1986, n. 8).

“Antes do dia de Pentecostes em Jerusalém, estando reunidos os Apóstolos unânimes,


perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, com
Seus irmãos” (At. 1,14). Estava com o grupo dos Apóstolos a Mãe de Deus implorando, “com
as suas orações, o dom daquele Espírito, que já sobre si descera na anunciação”. (LG, 1964, n.
59).
O Atos dos Apóstolos apresenta a festa judaica de Pentecostes25 como cumprimento da
promessa.

Tendo-se completado o dia de pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar.


De repente, veio do céu um ruído como o agitar-se de um vendaval impetuoso, que
encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram-lhes, então, línguas de fogo,
que se repartiam e que pousavam sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do
Espirito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espirito lhes
concedia se exprimirem (At 2,1-4).

Para o evangelista Lucas, “a ressurreição de Jesus desemboca no Pentecostes (At 2,1-


11) e na subsequente pregação apostólica. Jesus disse aos discípulos que eles seriam
testemunhas (At 1,8)26 de sua morte e ressurreição. De fato, o discurso 27 de Pedro tem essa
característica”. (BORTOLINI, 2006, p. 116).
Seguindo esse pensamento, o Papa João Paulo II afirma que: “consumada a obra que o
Pai tinha confiado ao Filho sobre a terra (Jo 17,4), no dia do Pentecostes foi enviado o
Espírito Santo para santificar continuamente a Igreja, e, assim, os que viessem a acreditar
tivessem, mediante Cristo, acesso ao Pai num só Espírito (Ef 2,18)”. (DOMINUM ET
VIVIFICANTEM, 1986, n. 25).

25
“Sete semanas depois da festa dos pães ázimos (início da colheita da cevada) celebra-se a festa das (sete)
semana, como festa de ação de graças pela colheita do trigo. Por ser quinquagésimo - na antiguidade, o primeiro
e o último dia de um período de tempo eram contados como sendo um único dia - a festa foi chamada, também
Pentecostes (=o quinquagésimo dia), que passou à nossa língua (Tb 2,1). A festa das semanas era uma festa
alegre, como festividade de ação de graça, depois de um duro trabalho de colheita e celebrava-se no templo, com
diversos sacrifícios (Lv 23,15-21). Mais tarde, foi associada à recordação da conclusão da Aliança no Sinai e da
entrega do Decálogo a Moises, na mesma ocasião, convertendo-se, assim em festa de comemoração da história
da salvação de Israel”. (ADAM, 2019, p.7)
26
“mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda
a Judéia e Samaria e até os confins do mundo” (At 1,8).
27
“Pedro então, pondo-se de pé em companhia dos Onze, com voz forte lhes disse: Homens da Judéia e vós
todos que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e prestai atenção às minhas palavras. Estes homens não
estão embriagados, como vós pensais, visto não ser ainda a hora terceira do dia. Mas cumpre-se o que foi dito
pelo profeta Joel: Acontecerá nos últimos dias - é Deus quem fala -, que derramarei do meu Espírito sobre todo
ser vivo: profetizarão os vossos filhos e as vossas filhas” (At 2,14-17).
44

Os Evangelhos de Marcos e Mateus terminam precisamente enviando os apóstolos e


discípulos à missão de anunciar o Evangelho. “Ide, pois, fazei discípulos meus todos os
povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar
tudo quanto vos mandei. Eis que eu estou convosco, todos os dias, até o fim do mundo”. (Mt
28,19s). Marcos afirma que “os discípulos partiram e pregaram por toda parte” (Mc 16,2).
Assim, o evento da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, como bem testemunhou o evangelista,
evidencia a essência Deus: “Deus é amor!”. (1Jo 4,16).
Por amor, o verbo esvaziou-se, fez-se servo, anunciou a Boa Nova e entregou-se à
Cruz. Gesto de solidariedade aos seres humanos e profunda unidade-obediência ao Pai. Nos
momentos decisivos do Filho, em sua humanidade, para fazer a vontade do Pai, foi
impulsionado pelo Espírito Santo.
O Pai entrega seu Filho ao mundo, por amor e sem reservas, para reatar a amizade com
a humanidade. A entrega do Pai resultou na crucificação do Filho. Na cruz, o Espírito Santo
capacita o Pai e o Filho para suportar a perfeita separação-comunhão. Assim, no evento da
Cruz, a Trindade é ativa. As três pessoas agem na própria vontade. É iniciativa e permissão do
Pai, a livre obediência do Filho e a ação do Espírito Santo. Desse modo, a cruz revela a
kenosis trinitária.
Por amor, o Pai e o Filho entregam o Espírito Santo na festa de pentecostes. O impulso
que faltava aos apóstolos para darem continuidade a obra de Salvação. Assim, o envio do
Espírito Santo é o nascimento da Igreja, corpo de Cristo, para levar a Boa Nova. O sofrimento
e a morte de Jesus na cruz foram o preço para nossa salvação, tema que será abordado na
sequência da pesquisa.

3.3 O AMOR DE CRISTO NA SUA CRUCIFICAÇÃO

Deus é a origem de todas as coisas. É na beleza da criação que se manifesta a sua


onipotência de Pai que ama. O gesto criador de Deus traz ordem, incute harmonia e confere
beleza. O ápice da criação inteira é o homem e a mulher, o ser humano, feito à imagem e
semelhança de Deus. O único capaz de conhecer e de amar o seu Criador. Entretanto, no
contexto da tentação, no jardim do Éden, Adão e Eva sucumbem. Entregam-se à condição de
construir sozinhos o mundo, de não aceitar os limites de ser criaturas e de dependência do
amor criador de Deus. (PAPA BENTO XVI, 2013).
Adão e Eva “deveriam exercer o seu domínio sobre a terra (Gn 1,28), com sabedoria e
com amor. Mas eles, ao contrário, com o próprio pecado destruíram a harmonia existente,
45

pondo-se deliberadamente contra o desígnio do Criador”. (PAPA JOAO PAULO II, 1° jan.
1990).
O primeiro homem, desobediente, quebra o vínculo e fere a relação com seu criador. O
fruto dessa escolha é a morte, pois, “por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e,
pelo pecado a morte28, assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. (Rm
5,12).
Como consequência, a natureza humana ficou “ferida nas suas próprias forças
naturais, sujeita à ignorância, ao sofrimento e ao império da morte, e inclinada ao pecado”
(CaIC, n. 405). Desse modo, “toda a criação se tornou sujeita à caducidade e, desde então,
espera, de maneira misteriosa, ser libertada, também ela, para entrar na gloriosa liberdade dos
filhos de Deus (Rm 8, 21)”. (PAPA JOAO PAULO II, 1° jan. 1990).
O homem sozinho não pode sair desta situação, não pode redimir-se isoladamente. “As
justas relações só poderão ser reatadas, se Aquele do qual nos afastamos vier ao nosso
encontro e nos estender a mão com amor”. (PAPA BENTO XVI, 6 fev. 2013). Assim, a
salvação vem de Deus.

Só Deus é o Salvador: a convicção de que o homem não pode salvar-se mediante os


seus esforços humanos e de que toda a salvação vem de Deus, tinha sido inculcada
pela revelação do Antigo Testamento. Javé dizia ao seu povo: ‘Não há outro Deus
fora de Mim, Deus justo e salvador não existe, a não ser Eu’ (Is. 45, 21). Com tal
afirmação, contudo, Deus assegurava também que não abandonaria o homem ao
próprio destino (PAPA JOÃO PAULO II, 13 abr. 1983).

No Plano de amor do Pai, “quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu
Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos
tornar seus filhos adotivos”. (Gl 4,4-5). “Por amor de nós, homens, e para nossa salvação,
desceu dos céus e encarnou na Virgem Maria, por obra e graça do Espírito Santo” (LG, 1964,
n. 52).
Para o pleno cumprimento do Plano de amor, o Pai escolheu a augustíssima Virgem
Maria “em Cristo, antes da criação do mundo, para que fosse santa e imaculada na sua
presença, no amor, predestinando-a como primícias para a adoção filial por obra de Jesus
Cristo (Ef 1, 4-5)”. (PAPA JOÃO PAULO II, 8 dez. 2004).
O Filho, obra de Amor do Pai, “que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por
causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus”. (2 Cor 5, 21).

28
O pecado separa o homem de Deus. Esta separação é a “morte”: morte espiritual e “eterna”, da qual a morte
física é sinal. (BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2002, p. 1974)
46

Deus tratou seu Filho, ‘por nós, como pecado’ (2Cor 5,21; Gl 3,13). E se ‘tratou
como pecado’ Aquele que era absolutamente isento de qualquer pecado, fê-lo para
revelar o amor que é sempre maior do que tudo o que é criado, o amor que é Ele
próprio, porque ‘Deus é amor’ (1Jo 4,8.16) (REDEMPTOR HOMINIS, 1979, n. 9).

Na realização da tarefa que o Pai lhe havia confiado, encontrou a oposição das
autoridades religiosas de Israel, que o consideravam falso profeta e blasfemo. Por isso, o
entregaram a Pilatos, para que o condenasse à morte.
O relato da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo João, inicia e termina num
jardim (Jo 18,1; Jo 19,41). “É uma alusão ao jardim do éden. Onde o ser humano não soube se
portar de forma humana autêntica, rejeitando a vida para escolher a morte, Jesus ensina o
modo de possuir a vida: dando-a gratuitamente em favor dos outros” (BORTOLINI, 2006, p.
99).
No jardim, Jesus ora ao Pai (Mc 14, 32-42). Vence a tentação entregando-se à vontade
de Deus, evento que contrapõe o acontecimento de Adão no éden.
Como afirma o apóstolo Paulo, se pela desobediência de um entrou a morte, “De modo
que, como pela obediência de um só, todos se tornarão justos” (Rm 5,18), pois, "onde, porém,
abundou o pecado, superabundou a graça" (Rm 5,20). “Assim como todos morrem em Adão,
assim também, em Cristo, todos serão vivificados...O primeiro homem, Adão, foi feito alma
vivente: o último Adão é um espírito vivificante (1Cor 15,22.45)”. (PAPA BENTO XVI, 3
dez. 2008).
Para o Papa João Paulo II, o novo Adão recapitulou29 a humanidade:

O ‘novo Adão’ revirou a condição humana (a ‘recirculatio’, como diz Santo Irineu):
Ele, ‘sendo de condição divina, não reteve avidamente ser igual a Deus, mas
despojou-se de si mesmo’. ‘(Fl 2,6-7). A Carta aos Hebreus enfatiza o mesmo
conceito. ‘Embora ele fosse um Filho, ele experimentou obediência com o que
sofreu’ (Hb 5,8). Mas é Ele mesmo que, na vida e na morte, de acordo com os
Evangelhos, se ofereceu ao Pai em plena obediência. ‘Não é o que eu quero, mas o
que você quer’ (Mc 14,36). ‘Pai, coloco meu espírito em suas mãos’ (Lc 23,46). São
Paulo resume tudo isso quando diz que o Filho de Deus fez o homem ‘se humilhou,
obedecendo até a morte e a morte na cruz’ (Filipenses 2,8) (PAPA JOÃO PAULO
II, 19 out. 1988).

A obediência ao Pai e a solidariedade à humanidade conduziram Jesus para a paixão e


morte. A hora chegou! (Mc 14,41). É a hora de ser levantado para atrair todos (Jo 12,32).

29
Para Santo Irineu de Lyon (2014, p. 20), esta é a doutrina da recapitulação: “A partir da expressão paulina
“recapitulação” (no grego, anakefalai, wsij: Ef 1,10; Rm 13,9), que significa resumir, mas com o sentido de
“levar à plenitude”, é o Cristo que leva à plenitude a obra da salvação, restaurando, renovando, reorganizando a
unidade do plano de Deus, tornando-se o ponto de harmonia do universo”.
47

Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, desse mesmo modo, é necessário que o
Filho do homem seja levantado (Jo 3,14). Levantaram-no pregado na Cruz.
Muitos textos do antigo testamento são espelho para o Novo Testamento. Entre eles,
destaca-se a passagem do livro de Isaias30 que “tem sido considerada uma profecia da paixão
de Jesus [...]” (COLLINS, 2001, p. 14). É “um poema de um servo de Deus que enfrenta
conscientemente a dor e a rejeição até a morte e acaba sendo glorificado por causa disso.
Lendo esse texto31, as primeiras comunidades cristãs perceberam que ele realizou-se
plenamente na Paixão de Jesus”. (BORTOLINI, 2006, p. 98).
Além de atentar aos detalhes da realização da Paixão, é necessário observar o aspecto
redentor do texto: “O Senhor fez recair sobre ele o pecado de todos nós” (Is 53,6). Para o
Papa João Paulo II, todo o pecado do homem, na sua extensão e profundidade, torna-se a
verdadeira causa do sofrimento do Redentor.

O Homem das dores da citada profecia é verdadeiramente aquele ‘cordeiro de Deus


que tira o pecado do mundo’. (Jo 1,29) Com o seu sofrimento, os pecados são
cancelados precisamente porque só ele, como Filho unigénito, podia tomá-los sobre
si, assumi-los com aquele amor para com o Pai que supera o mal de todos os
pecados; num certo sentido, ele aniquila este mal, no plano espiritual das relações
entre Deus e a humanidade, e enche o espaço criado com o bem (SALVIFICI
DOLORIS, 1984, n.17).

30
“O Profeta Isaias é aproximadamente da segunda metade do séc. VIII antes de Cristo” (COLLINS, 2001. p 12).
31
O texto é a Primeira Leitura da Liturgia da Sexta-feira Santa: “Ei-lo, o meu servo será bem-sucedido; sua
ascensão será ao mais alto grau. Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-lo – tão desfigurado ele estava, que
não parecia ser um homem ou ter aspecto humano –, do mesmo modo ele espalhará sua fama entre os povos.
Diante dele os reis se manterão em silêncio, vendo algo que nunca lhes foi narrado e conhecendo coisas que
jamais ouviram. Quem de nós deu crédito ao que ouvimos? E a quem foi dado reconhecer a força do Senhor?
Diante do Senhor ele cresceu como renovo de planta ou como raiz em terra seca. Não tinha beleza nem atrativo
para o olharmos, não tinha aparência que nos agradasse. Era desprezado como o último dos mortais, homem
coberto de dores, cheio de sofrimentos; passando por ele, tapávamos o rosto; tão desprezível era, não fazíamos
caso dele. A verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores; e nós
pensávamos fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado! Mas ele foi ferido por causa de nossos pecados,
esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço
da nossa cura. Todos nós vagávamos como ovelhas desgarradas, cada qual seguindo seu caminho; e o Senhor fez
recair sobre ele o pecado de todos nós. Foi maltratado, e submeteu-se, não abriu a boca; como cordeiro levado ao
matadouro ou como ovelha diante dos que a tosquiam, ele não abriu a boca. Foi atormentado pela angústia e foi
condenado. Quem se preocuparia com sua história de origem? Ele foi eliminado do mundo dos vivos; e por
causa do pecado do meu povo, foi golpeado até morrer. Deram-lhe sepultura entre ímpios, um túmulo entre os
ricos, porque ele não praticou o mal, nem se encontrou falsidade em suas palavras. O Senhor quis macerá-lo com
sofrimentos. Oferecendo sua vida em expiação, ele terá descendência duradoura, e fará cumprir com êxito a
vontade do Senhor. Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. Meu Servo, o Justo, fará
justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas. Por isso, compartilharei com ele multidões e ele
repartirá suas riquezas com os valentes seguidores, pois entregou o corpo à morte, sendo contado como um
malfeitor; ele, na verdade, resgatava o pecado de todos e intercedia em favor dos pecadores” (Is 52, 13-53,12).
48

Esse texto revela a profundidade do sofrimento causado pelo pecado e o preço pago
pela redenção de todos. Assim, a salvação custou o imensurável sofrimento do Filho
unigênito.
A carta os Hebreus é, no seu conjunto, uma alegoria, ou seja, uma linguagem
figurativa amplamente elaborada. Faz do culto do Antigo Testamento a imagem daquilo que
aconteceu em Cristo. Tudo o que havia de valioso no culto do Antigo Testamento nós o temos
num sentido pleno e superior em Jesus Cristo, sobretudo o sacrifício de reconciliação dos
judeus que precisava ser repetido. Com o sacrifício perfeito de Jesus, o temos plena e
duradouramente de uma vez para sempre (CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO
BRASIL - CRB, 1997).
Jesus, obediente à vontade de Deus, oferece-se para salvar a humanidade. “É graça a
esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizado uma
vez por todas” (Hb 10, 9-10). “De fato, com esta única oferenda, levou a perfeição, e para
sempre, os que santifica” (Hb 10, 14). A morte de Jesus foi a plena oferenda que salvou a
humanidade.
Paulo afirma que Jesus é o Sumo Sacerdote que nos convinha: “santo, inocente,
imaculado, separado dos pecadores, elevado mais alto do que os céus. Ele não precisa, como
os sumos sacerdotes, oferecer sacrifício a cada dia, primeiro pelos seus pecados, e depois pelo
povo. Ele já o fez uma vez por toda, oferecendo-se a si mesmo” (Hb 7,26-27). Como bem
argumenta o Apóstolo, Jesus “é sacerdote para sempre na ordem de Melquisedec” (Hb 7,17).
Desse modo, Jesus estabeleceu o seu Sacerdócio definitivo.
A carta ainda nos apresenta o cumprimento da nova aliança prometida diversas vezes
no Antigo Testamento através dos profetas. (Jr 31,31-34). Essa promessa cumpre-se por de
Jesus Cristo. Ele “é o mediador da nova aliança pois, “sua morte aconteceu para o resgate das
transcrições cometidas no regime da primeira aliança”. (Hb 9,15). Assim sendo, “ao falar de
nova aliança, tornou velha a primeira” (Hb 8,13).
Em cada Eucaristia celebrada, fazemos memória da aliança estabelecida pelo Sangue
de Cristo. Durante a oração Eucarística, o sacerdote ministerial, repetindo as palavras de Jesus
na Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, diz: Tomai, todos, e bebei; Este é o cálice do
meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos para
remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim (MISSAL ROMANO, 2011).
Assim, Jesus abriu o caminho de acesso a Deus. “Não o fez como faziam os sumos
sacerdotes da antiga aliança, que se apresentavam diante de Deus, no Santo dos Santos, com o
sangue das vítimas, mas entrando no céu, tendo derramado o próprio sangue para o perdão e
49

salvação da humanidade”. (BORTOLINI, 2006, p. 98). Desse modo, a salvação custou o


diviníssimo Sague do Filho unigênito e estabeleceu a nova e eterna aliança.
Na Igreja Católica, a Sexta-feira Santa é marcada pela Celebração 32 da Paixão do
Senhor. Conforme o Missal Romano (2011), a celebração é dividida em três partes: Liturgia
da Palavra, Adoração da Cruz e Comunhão.
Na Liturgia da Palavra, a narrativa da paixão é tirada do Evangelho de João (Jo 18,1–
19, 42). Trata-se de um longo texto que merece toda uma reflexão teológica. No texto, entre
outros aspectos, João faz a abordagem da temática: “Jesus o verdadeiro e único Rei”.
(BORTOLINI, 2006, p. 98). Cabe salientar que, ao longo deste capítulo, várias questões da
paixão foram abordadas e, seguramente, teria espaço para tantas mais. Aqui, destaca-se a
teologia Joanina do Cordeiro de Deus.

Como era preparação, os judeus, para que os corpos não ficassem na cruz durante o
sábado – porque esse sábado era grande dia! pediram a Pilatos que se lhes
quebrassem as pernas e fossem retirados. Vieram então os soldados e quebraram as
pernas ao primeiro, depois ao outro, que fora crucificado com ele. Chegando a Jesus
e vendo já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-
Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu dá testemunho
e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que diz a verdade, para que também vós
creiais, por isso aconteceu para que se cumprisse a escritura: Nenhum osso será
quebrado. E uma outra Escritura diz ainda: Olharão para aquele que traspassaram’
(Jo 19,31-37).

O texto apresenta a urgência em tirar os corpos da cruz, por isso quebrar as pernas
para apressar-lhes a morte, “surge do fato de ser uma tarde de sexta-feira, como o sábado
(também Páscoa para João) começando ao pôr-do-sol. Só restavam algumas horas para dar os
cuidados necessários aos corpos” (FLANAGAN, 2001, p. 135).
O evangelista João faz coincidir a morte de Jesus com o momento em que, no Templo,
eram preparados os cordeiros para a Páscoa judaica: “Como era preparação” (Jo 19,31).
Assim, Jesus, para João, é o cordeiro do qual não se quebrou nenhum osso 33 (Jo 19,36). Com
essa coincidência de eventos, “ele ressalta que o verdadeiro Cordeiro Pascal é o que foi
imolado na cruz, cujo sangue redime a humanidade, conferindo-lhe vida nova (não como o
sangue do cordeiro em Ex 12,7), e de cujo corpo a nova humanidade irá se nutrir”.
(BORTOLINI, 2006, p. 99).

32
Conforme o Missal Romano (2011): Celebração da Paixão: Na tarde da sexta-feira, pelas três horas, a não ser
que por razões pastorais aconselhem horas mais tardias (ou mais cedo), procede-se à celebração da Paixão do
Senhor, que consta de três partes: liturgia da Palavra, adoração da cruz e comunhão eucarística.
33
“um paralelo entre Jesus e o cordeiro pascal, então a regra contra quebrar os ossos do cordeiro seria sua origem
(Ex 12,10 LXX; 12,46; Nm 9,12)” (PERKINS, 2011, p. 810).
50

O leitor do Evangelho de João terá em mente a frase de João Batista: “Eis o Cordeiro
de Deus, que tira o pecado do mundo”. (Jo 1, 29). Jesus tira o pecado que desarmonizou a
relação do Homem com Deus.

Definindo Jesus como ‘cordeiro de Deus’, o Batista anuncia a chegada da nova


Páscoa, a libertação do povo da escravidão. O novo e definitivo êxodo que Jesus
realizará será o êxodo do ‘pecado do mundo’. Não se trata das culpas dos homens
(pecados), mas do pecado que precede a vinda de Jesus e oprime toda a humanidade
(MAGGI, 2013, p. 21).

Essa realidade é atualizada em cada Santa Missa realizada. No Rito da Comunhão,


conforme o Missal Romano (2011), o celebrante eleva a hóstia magna, e elevando-a, diz:
“Feliz os convidados para a Ceia do Senhor. Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo”.
Jesus “é o verdadeiro cordeiro pascal, que Se ofereceu espontaneamente a Si mesmo
em sacrifício por nós, realizando assim a nova e eterna aliança. A Eucaristia contém nela esta
novidade radical, que nos é oferecida em cada celebração” (Sca, 2007, n. 9).
Perto da Cruz do cordeiro, “permanecia de pé sua mãe” (Jo 19,25), a virgem Maria (Lc
1, 27). Ali, ela compreendeu o significado da profecia de Simeão 34 e sentiu a espada
traspassar sua alma.

Seu coração torna-se pequeno para abrigar tanta dor: a dor insuportável da morte de
Jesus na cruz! A inveja e a maldade mataram o seu filho. Ela se cala e sofre pela
injustiça cometida. Aí está o preço da absoluta fidelidade de ambos ao Pai: Jesus na
cruz, e ela suportando tudo de pé (LIMA, 2015, p. 12).

Mesmo diante da crueldade com seu Filho e da sua dor, Maria permanece próxima a
Cruz. A fidelidade de Maria ao Pai e amor ao filho rendem-lhe uma nova maternidade como
narra o Evangelista João: “Jesus, então, vendo a mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava,
disse à mãe: ‘Mulher eis teu filho! Depois disse ao discípulo: Eis tua mãe! E a partir dessa
hora, o discípulo a recebeu em sua casa”. (Jo 19,26-27).
Para o Papa João Paulo II (11 maio 1983), pedindo a Maria para tratar o discípulo
predileto como seu filho, “Jesus convida-a a aceitar o sacrifício da sua morte, e, como preço

34
Profecia de Simeão: Quando completaram os dias para a purificação deles, segundo a Lei de Moisés, levaram-
no afim de apresentá-lo ao Senhor (Lc 2,22). E havia em Jerusalém um homem chamado Simeão, que era justo e
piedoso; ele esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele. Fora-lhe revelado pelo Espírito
Santo que não veria a morte antes de ver o Cristo do Senhor. [...] Seu pai e sua mãe estavam admirados das
coisas que dele se diziam. (Lc 2,25-26); [...] Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino
foi posto para a queda e o soerguimento para muitos em Israel, e como sinal de contradições. E a ti, uma espada
transpassará tua alma (Lc 2,34-35).
51

de tal aceitação, convida-a a assumir uma nova maternidade [...] com a qual abrange todos
aqueles que deseja atrair a Si como discípulos, ou seja, todos os cristãos e todos os homens”.
Assim, Maria, a mãe do Redentor, torna-se nossa Mãe. Para o Concílio Vaticano II,
ela participou ativamente na obra de Salvação.

Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo,


padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a
sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a
vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça (LG, 1964, n. 61).

Maria viu um dos soldados trespassar o lado de Jesus com uma lança, “e logo saiu
sangue e água” (Jo 19,34): “a água para purificação e o sangue para redenção”. (MILÃO,
1996, p. 80).
O evangelista relata: tudo está “consumado” (Jo 19,30). Isso significa que “cumpridas
estão a obra que Jesus veio fazer, a vontade do Pai, as Escrituras, a salvação da Humanidade”.
(FLANAGAN, 2001, p. 135).
Algumas considerações emergem ao desenvolver este capítulo, a maior delas é a
certeza de sermos amados incondicionalmente por Deus. A cruz deixou evidente a plenitude
desse amor. O Papa Bento XVI sabiamente sintetizou:

O amor apaixonado de Deus pelo seu povo — pelo homem — é ao mesmo tempo
um amor que perdoa. E é tão grande, que chega a virar Deus contra Si próprio, o seu
amor contra a sua justiça. Nisto, o cristão vê já esboçar-se veladamente o mistério da
Cruz: Deus ama tanto o homem que, tendo-Se feito Ele próprio homem, segue-o até
à morte e, deste modo, reconcilia justiça e amor (DEUS CARITAS EST, 2005, n.10).

No contexto histórico-teológico da paixão, deparamo-nos com situações em que os


homens, para alcançar seu intento, ferem normas legais, corrompem, levantam falso
testemunho. Diante de tudo isso, o Cristo segue com a ciência da sua missão. Ao final revela
sua plena misericórdia: “Pai perdoa-lhes” (Lc 23,34).
O amor do Deus Uno e Trino pela humanidade toma forma plena na história pela
encarnação do Verbo de Deus. O Pai ama e quer reatar, estabelecer harmonia, com a criação;
para isso, entrega o Filho unigênito. O Filho ama o Pai e por amor à humanidade entrega-se
ao sofrimento e à morte de Cruz. O Espírito Santo, que é o amor do Pai e do Filho, age para
que Pai e Filho realizem seu plano de amor-salvador. Para nos dar a conhecer esse mistério de
amor, o Pai e o Filho entregam-nos o Espírito Santo. Assim, a paixão e morte de Cruz de
Jesus evidenciam a medida do amor-salvador do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
52

Como bem narra o evangelista na plenitude dos tempos, o Pai entrega o Filho ao
mundo para salvar. O Filho unigênito obediente justifica e recapitula a humanidade. Sua
obediência para salvar custou o imensurável sofrimento previsto pelo profeta Isaias. Toda a
vida de Jesus foi uma oferta de amor ao Pai. Na cruz, Ele faz-se a perfeita oferenda e
estabelece o sacerdócio definitivo.
Na Páscoa dos Judeus, Jesus Cristo torna-se nossa a Páscoa definitiva, o êxodo do
pecado. Desse modo, o sague do “Cordeiro de Deus” estabeleceu a nova e eterna aliança. Pelo
seu sacrifício, fomos purificados e redimidos não por merecimentos ou virtudes humanas, mas
porque só Ele, como Filho unigênito, podia realizá-lo. Morrendo na Cruz, ele assumiu nossa
morte.
A virgem Maria foi a escolhida para ser a Mae do redentor. A Mãe do Amor confiou e
serviu a Deus-Pai, gerando e servindo o Deus-Filho. Maria foi modelo de obediência e serviço
ao plano de Deus. Ela, por Cristo Senhor, é nossa Mãe na ordem da Graça.
Assim, ao longo da pesquisa, foi-se agregando conhecimento, informações, conceitos
e interpretações sobre o evento da paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pouquíssimo
está aqui pela magnitude e oportunidade de pesquisa. Entretanto, no pouquíssimo, revela-se
plenamente o amor de Jesus Cristo na sua paixão e crucificação para nossa salvação. Tudo
isso ratifica que “Deus é amor!” (1Jo 4,16).
53

4 O AMOR DE CRISTO EM SUA RESSURREIÇÃO

Depois de vivenciar a celebração da instituição da Eucaristia, do Sacerdócio e o lava-


pés na quinta-feira Santa, fazer memória da paixão e morte do Senhor na sexta-feira, a Igreja
aguarda ansiosamente a proclamação da Páscoa na Vigília Pascal, que é celebrada depois o
pôr do sol. É a noite de alegria verdadeira que une de novo o céu à terra inteira (MISSAL
ROMANO, 2011). Uma vez Jesus morrendo, destruiu a morte, e, ressurgindo, deu-nos a vida.

4.1 O AMOR-SALVADOR DESCEU À MORADA DOS MORTOS.

Antes de celebrar a vitória de Jesus sobre a morte, é preciso passar pelo Sábado Santo.
Nesse dia, a Igreja “unindo-se espiritualmente à Maria, permanece em oração junto do
sepulcro, onde o corpo do Filho de Deus jaz inerte como numa condição de repouso depois da
obra criadora da redenção, realizada com a sua morte (Hb 4, 1-13)” (PAPA BENTO XVI, 12
abr. 2006). É o dia “em que a liturgia silencia, o dia do grande silêncio, e os cristãos são
convidados a guardar um recolhimento interior, [...] para se prepararem melhor para a Vigília
Pascal” (PAPA BENTO XVI, 4 abr. 2007).
O Filho muito amado de Deus não só desceu do céu à terra e assumiu a nossa carne
para viver a nossa vida, mas também morreu a nossa morte, por amor e obediência ao plano
de salvação do Pai. A morte de Nosso Senhor e Salvador foi pela Cruz, um sinal de escândalo
para os Judeus e loucura para os pagãos (1Cor 1,23).
Depois da deposição de Jesus morto da cruz, os Evangelhos sinóticos revelam que
José de Arimateia foi procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. “Pilatos cedeu-o. José
tomou o corpo, envolveu-o num lençol branco e o depositou num sepulcro novo, que tinha
mandado talhar para si na rocha. Depois rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro” (Mt
27,57-60).
No Símbolo Apostólico, a Igreja professa que Cristo “foi crucificado, morto e
sepultado, desceu aos infernos”. (DENZINGER, 2006, p. 27). Nesta seção do trabalho,
objetiva-se desenvolver sobre o amor-salvador que desceu à morada dos mortos para resgatar
os cativos que lá se encontravam.
Confessar que Jesus desceu aos infernos, “não é descrever a odisseia de sua alma com
um espírito de curiosidade sobre o além. Também não é especular sobre a condição das almas
mortas é relatar uma atividade de Cristo que é salvífica” (BARREIRO, 2003, p. 39).
54

Para morada dos mortos, “os gregos davam o nome Hades ou Tártaro, os judeus Sheol
e os latinos Infernos. [...]. Essas expressões são tentativas para explicar ou materializar o que,
na verdade, é uma realidade espiritual, isto é, dado de fé”. (CARVALHO; GIRON, 2017, p.
35).
Segundo a antropologia hebraica, “depois que o ser humano expira, [...] a alma vai
para o sheol, situado nas profundezas da terra (Is 14,9-15), onde continua existindo como uma
sombra errante. Para lá descem todos os que morrem (Gn 37,35; 1Sm 2,6), tanto os bons
como os maus (Sl 89,49; Ez 32,17-32)”. (BARREIRO, 2003, p. 38).
Nessa mesma linha, o Papa João Paulo II (11 jan. 1989), em sua catequese, esclarece
que: “a expressão ‘inferno’ não significa inferno, o estado de condenação, mas sim a morada
dos mortos, que em hebraico se dizia sheol e em grego hades (At 2,31)”.
Existem textos35, no Novo Testamento, que relacionam a descida de Cristo ao lugar
dos mortos e dão base para esse artigo da Fé. Cabe destacar a primeira carta de Pedro, onde
afirma: “Cristo morreu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, a fim de vos conduzir a
Deus. Morto na Carne foi vivificado pelo espírito, no qual foi também pregar aos espíritos em
prisão” (1Pe 3,18-20). Na Primeira Carta de Pedro, lemos ainda: “o Evangelho foi pregado
também aos mortos; para que, embora sejam condenados em sua humanidade de carne, vivam
segundo Deus quanto ao espírito” (1Pe 4,6).
Sobre esses textos petrinos, o Papa João Paulo II (11 jan. 1989) reconhece que não são
fáceis de interpretar, mas destacam o aspecto da descida de Cristo à região dos mortos, “como
a última fase da missão do Messias: fase ‘condensada’ [...], mas imensamente ampla em seu
real significado de extensão [...], alcançando aqueles que, nos dias da morte e sepultamento de
Cristo, já estavam no reino dos mortos".
O Catecismo da Igreja Católica ajuda-nos a entrar no sagrado mistério da descida de
Jesus à mansão dos mortos e explicita que: “Jesus conheceu a morte, como todos os homens,
e foi ter com eles à morada dos mortos. Porém, desceu lá como salvador proclamando a Boa-
Nova aos espíritos que ali estavam prisioneiros” (CaIC, n. 632).
Para o Papa João Paulo II (11 jan. 1989), “nisto o poder salvador é manifestado e
realizado na morte sacrificial de Cristo, o operador da redenção com respeito a todos os
homens, também daqueles que morreram antes de sua vinda e sua ‘descida ao inferno’, mas
que foram alcançados por sua graça justificadora”. Desse modo, percebe-se a extensão da
obra do amor-salvador do Pai realizada pelo filho. Por isso, para Barreiro (2003, p. 33), “a

35
Alguns textos: 1Pdr 3,19 s; 4,6; Ef 4,9; Rom 10,7; Mt 12,40, At 2,27. 31.
55

descida de Cristo aos infernos mostra que a salvação operada pela sua Páscoa atinge o
universo inteiro: os anjos no céu, os homens na terra e os que jazem nas sombras e na
incomunicação da morte”.
O livro do Apocalipse revela que Jesus Cristo é o vencedor da morte e tem "as chaves
da morte e do hades". (Ap 1,17-18). Para Balthasar (2018, p. 20), Cristo “tem essas chaves
porque ele mesmo esteve morto e no Xeol, mas, para além disso, porque carregou a morte de
todos em si e, por essa razão, tem o poder sobre o reino dos mortos como um todo”.
A cruz e a radicalidade do amor de Cristo pelo gênero humano são a chave que abre as
portas da morte. Este amor é mais forte que a morte, de modo que Cristo desceu aos infernos
e abriu as portas da morte (PAPA BENTO XVI, 2007).
Uma homilia antiga, que está no ofício das leituras da liturgia das horas do Sábado
Santo, reflete sobre a ação amorosa e salvadora de Deus. Assim como retrata a parábola, o
Pastor foi atrás da ovelha perdida até encontrá-la, e quando a encontra, coloca-a alegremente
nos ombros e vai para casa (Lc 15,3-7). Jesus não esqueceu de Adão e todos que estavam na
mansão dos mortos. Como bem desenvolve a homilia, o sono de Cristo arrancou Adão do
sono da morte:

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande
silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a
terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e
acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão
dos mortos. Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha
perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da
morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos
sofrimentos. O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da
cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os
demais, batendo no peito e cheio de admiração: ‘O meu Senhor está no meio de
nós’. E Cristo respondeu a Adão: ‘E com teu espírito’. E tomando-o pela mão, disse:
‘Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará. Eu sou o
teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de
ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e
aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-
vos!’[...] Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva
surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu
sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava
dirigida contra ti. Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do
paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso, mas num trono celeste. O inimigo
afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto
de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te
adorem como Deus, embora não sejas Deus. Está preparado o trono dos querubins,
prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete,
as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os
bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade (LITURGIA DAS
HORAS, 1995, p, 439).
56

O Amor com que Deus, nosso Pai e nosso criador, ama-nos foi revelado na vida, na
morte e na decida de Jesus Cristo a região dos mortos. “É como um amor que vence todas as
formas 'diabólicas' de relação, isto é, todas as 'divisões', inclusive as duas mais destruidoras e
terríveis: o pecado e a morte”. (BARREIRO, 2003, p. 40).
Essa compreensão é assinalada na primeira Carta aos Coríntios: “A morte foi
absorvida na vitória. Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão? O
aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei; Graças se rendam a Deus, que nos
dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo!” (1Cor 15,54-57).
Portanto, “com Jesus, o que foi que mudou sobre a morte? Nada e tudo! Nada para a
razão, tudo para a fé. Não mudou a necessidade de entrar na tumba, mas foi dada a
oportunidade de sair dela”. (CANTALAMESSA, 24 mar. 2017). Na Tumba, é semeado o
corpo corruptível, desprezível, fraco e psíquico, mas ressuscita o corpo incorruptível,
reluzente de glória, cheio de força e espiritual (1Cor. 15,42-44).
Nesta seção do trabalho, percebe-se que a força do amor-salvador de Deus alcançou
todos os homens em todos os tempos e lugares. Depois que rolou a grande pedra à entrada do
sepulcro de Jesus, Ele com seu amor-salvador desceu à mansão dos mortos. A sua morte
vergonhosa da Cruz, sua solidariedade à humanidade e a obediência ao Pai, alcançaram os
que estavam aprisionados nos infernos.
O amor incondicional resgatou Adão, o desobediente, e o colocou num trono celeste.
“Jesus, envolvido num lençol e depositado no sepulcro, esperai que, rolada a pedra, o silêncio
da morte seja quebrado pelo júbilo do aleluia perene” (PAPA JOÃO PAULO II, 2004, Via
Sacra).
Com efeito, o anoitecer do sábado está chegando e com ele chegarão os sons dos sinos
e os cânticos de alegria pela proclamação da Páscoa e a gloriosa Ressurreição de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Sobre a Ressurreição, é que se busca desenvolver na sequência da
pesquisa.

4.2 JESUS RESSUCITOU VERDADEIRAMENTE

Ao raiar do dia, as mulheres depararam-se com a pedra removida e o túmulo vazio


onde José de Arimatéia tinha colocado o corpo de Jesus. Algo muito grandioso, extraordinário
e que perpassa a capacidade humana está acontecendo. O grande e basilar mistério da fé
fundamenta-se em: Jesus Ressuscitou verdadeiramente (Lc 24,34).
57

Nesta seção, a pesquisa busca desenvolver sobre a Ressurreição de Nosso Senhor


Jesus Cristo, tendo como base referencial os evangelhos da liturgia da Vigília Pascal e do
Domingo da Páscoa.
A Vigília Pascal insere-nos no terceiro dia do tríduo pascal. A rubrica do Missal
Romano (2011) recomenda que a Vigília Pascal, mãe de todas as vigílias, seja celebrada após
o anoitecer do sábado e sempre termine antes da aurora de domingo. Na primeira parte da
vigília, realiza-se a bênção do fogo e a preparação do Círio Pascal fora da igreja, seguidos da
procissão do círio dentro da igreja com as luzes apagadas, e a proclamação da Páscoa.
O círio pascal em destaque, com sua chama, torna-se o centro da atenção da
comunidade reunida. “Essa atenção é expressa pelo cântico entusiasta de exultação
(Exultet36). Convoca toda a terra e a Igreja inteira para louvar e bendizer a noite que ofereceu
o cenário para o fato extraordinário da Ressurreição. Coisa nunca vista e nunca ouvida!”
(PEREIRA, 2015, p, 25).
A segunda parte dessa celebração é a Liturgia da palavra, para qual propõem-se nove
leituras: sete do Antigo Testamento e duas do Novo (Epístola e Evangelho). Após a oração e o
responsório da última leitura do Antigo Testamento, acendem-se as velas do altar e o
sacerdote entoa o hino Glória a Deus nas alturas, que todos cantam, enquanto se tocam os
sinos, colocam-se as flores e as toalhas, segundo o costume do lugar. De pé, toda a assembleia
reunida, canta o Aleluia e ouve o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Após o
Evangelho, faz-se a homilia e procede-se à liturgia batismal. A quarta parte da Santa Vigília é
a liturgia Eucarística e a sequência da Santa Missa (MISSAL ROMANO, 2011).
O Evangelho proclamado na liturgia da Vigília Pascal é de acordo com o ano litúrgico
vigente e tem como base os Sinóticos, sendo para o ano A o evangelho de Mt 28,1-10; Ano B:
Mc 16,1-737; Ano C: Lc 24,1-1238. Para a Santa Missa do domingo da Páscoa, a liturgia

36
‘Exsultet’, em língua portuguesa, significa ‘alegre-se’. É a primeira palavra do hino de louvor ao círio:
Exsultet iam angelica turba colorum” (DERETTI, 2019, p. 47)
37
Passado o sábado, Maria de Magdalena e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ir ungir o
corpo. De madrugada, no primeiro dia da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do sol. E diziam entre si:
“Quem rola a pedra da entrada do túmulo para nós?” E erguendo os olhos, viram a que a pedra já fora removida.
Ora, a pedra era muito grande. Tendo entrado no túmulo, elas viram um jovem sentado à direita, vestido com
uma túnica branca, e ficaram cheias de espanto. Ele, porém, lhes disse: “não vos espantais! Procurais Jesus de
Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde o puseram. Mas ide dizer aos seus
discípulos e a Pedro que Ele vos precede na Galileia. Lá o vereis como vos tinha dito.” Elas saíram e fugiram do
túmulo, pois um temor e um estupor se apossaram delas e nada contaram a ninguém, pois tinham medo...
38
No primeiro dia da semana, muito cedo ainda, elas foram ao sepulcro, levando os aromas que tinham
preparado. Encontram a pedra do túmulo removida, mas ao entrar, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. E
aconteceu que, estando perplexas com isso, dois homens se postaram diante delas, com veste fulgurante. Cheias
de medo, inclinaram o rosto para o chão; eles, porém, disseram: “por que procurais entre os mortos aquele que
vive? Ele não está aqui; ressuscitou. Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia: ‘é preciso
que o filho do Homem seja entregue as mãos dos pecadores, seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia’”. E
58

reserva o texto do Evangelista João (Jo 20,1-9)39.

Após o sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria
vieram ver o sepulcro. E eis que houve grande terremoto: Pois o Anjo do Senhor,
descendo do céu e aproximando-se, removeu a pedra e sentou-se sobre ela o seu
aspecto era como o do relâmpago e sua roupa, alva como a neve. Os guardas
tremeram de medo dele e ficaram como mortos. Mas o anjo, dirigindo-se às
mulheres, disse-lhes: ‘Não temais! sei que estais procurando Jesus, o Crucificado.
Ele não está aqui, pois ressuscitou, conforme havia dito. Vinde ver o lugar onde Ele
jazia, e, depressa, ide dizer aos seus apóstolos: ‘Ele ressuscitou de entre os mortos, E
eis que vos precede na Galileia; é lá que o vereis’. Vede bem, Eu vo-lo disse!’ Elas,
partindo depressa do túmulo, comovidas e grande Alegria, correram a anunciá-los
aos seus discípulos. E eis que Jesus veio ao seu encontro e Lhes disse: ‘Alegrai-vos’.
Elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés, postando-se diante Dele. Então Jesus
disse: ‘Não temais! ide anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá me
verão’ (Mt 28,1-10).

Nos sinóticos indicados para a Santa Vigília, os textos têm em comum, entre outros
detalhes, a ida das mulheres ao túmulo no primeiro dia da semana (de madrugada, muito cedo,
ao raiar do dia) para ver/ungir o corpo do Senhor. Elas deparam-se com a pedra removida e o
túmulo vazio. Quem lhes dá a Boa-notícia (Anjo; um jovem; dois homens), usa roupas
brancas (alva, fulgurante) e, nos três evangelhos, elas recebem a missão de levar a Boa-notícia
aos demais (apóstolos; discípulos e a Pedro; aos Onze). Assim, cada evangelista, segundo sua
particularidade, deixou claro que Aquele que as mulheres procuravam, ou seja, Jesus o
Crucificado, não está no sepulcro, pois ressuscitou.
Tendo como referência o texto de Mateus (Mt 28,1-10), do ano litúrgico A, ano no
qual este trabalho acadêmico está sendo desenvolvido, propomos uma abordagem nos
principais pontos. Chama atenção nos evangelhos, que a pedra rolada por José de Arimatéia
para fechar o túmulo de Jesus (Mt 27,57-60) estava removida.
Segundo o evangelista Mateus, essa pedra foi removida pelo anjo do Senhor depois de
um terremoto. “A pedra que bloqueava o túmulo era o monumento da vitória da morte. Tendo

elas se lembraram de suas palavras. Ao voltarem do túmulo, anunciaram tudo isso aos Onze, bem como a todos
os outros. Eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. As outras mulheres que estavam com elas
disseram-no também aos apóstolos; essas palavras, porém, lhes pareceram desvario, e não lhes deram credito.
Pedro, contudo, levantou-se e correu ao túmulo, inclinando-se, porém, viu apenas os lençóis. E voltou para casa,
muito surpreso com o que acontecera.
39
No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro de Jesus, de madrugada, quando ainda estava
escuro, e vê que a pedra fora retirada do sepulcro. Corre, e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele
que Jesus amava, e lhes disse: ‘Retiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o colocaram’. Saíram,
então, Pedro e o outro discípulo e foram ao sepulcro. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais
depressa que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Inclinando-se, viu as faixas de linho por terra, mas não
entrou. Então, chega também Simão Pedro, que o seguia, e entra no sepulcro; vê as faixas de linho por terra e o
sudário que cobria a cabeça de Jesus. O sudário não estava com os panos de linho no chão, mas enrolados num
lugar à parte. Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao sepulcro: e viu, e creu. Pois
ainda não tinham compreendido conforme a Escritura, ele devia ressuscitar dos mortos.
59

sido removida e com o anjo sentado sobre ela, ela torna-se o símbolo da vitória sobre a morte.
Como a concepção virginal, este é um pequeno sinal externo de uma realidade invisível
maior”. (VIVIANO, 2011, p. 214).
O anjo do Senhor que fizera o anúncio no nascimento de Jesus e orientou em sonho
José (Mt 1,20.24; 2,13.19), reaparece no sepulcro para anunciar a ressurreição. “O anunciador
da vida terrena do Messias Jesus torna-se anunciador de sua imortalidade na condição de
ressuscitado. Algo muito grandioso está acontecendo!” (VITÓRIO, 2019, p. 286).
O fato de o anjo sentar-se sobre a pedra, para São Beda, indica que “Cristo, tendo
vencido o autor da morte, já se sentava sobre o trono de seu reino eterno. Sentava-se sobre a
pedra removida, que fechava o sepulcro, para ensinar que – com seu poder – havia derrubado
as barreiras do inferno” (SÃO BEDA apud AQUINO, 2018, p. 874).
Assim como a pedra removida, o túmulo vazio é um importante sinal, mas não é prova
material da ressurreição, pois poderiam ter roubado ou sumido com o corpo do Senhor.
“Porém, para os dados da fé, o sepulcro vazio constitui um sinal de grande importância:
significa que o lugar da morte está vazio; que a morte é incapaz de reter ou dominar o
Salvador, o Filho de Deus” (CARVALHO; GIRON, 2017, p. 37).
Mateus, Marcos e Lucas detêm-se a descrever a respeito da roupa do mensageiro da
Boa Notícia. Para Mateus, o aspecto do Anjo “era como o do relâmpago e sua roupa, alva
como a neve”. (Mt 28,3). Essa “aparência do anjo lembra o Cristo transfigurado”. (VIVIANO,
2011, p. 215). Na transfiguração o rosto de Jesus, “resplandeceu como o sol e suas vestes
tornaram-se alvas como a luz”. (Mt 17,1-8). Os Sinais que Cristo, o Filho amado de Deus (Mt
17,5), foi dando ao longo de sua vida confirmam-se na ressurreição.
Como narram os evangelistas, ao raiar do dia (de madrugada, muito cedo), as mulheres
vão ao sepulcro para ungir o corpo de Jesus. Elas são as primeiras que se depararam com a
pedra removida, o túmulo vazio e a receberem a Boa-notícia para levar aos demais. Os textos
sinóticos identificam as mulheres quem acompanharam Maria Madalena até o túmulo. No
texto joanino, Madalena aparece sozinha, entretanto, em seu relato aos discípulos (Jo 20,2),
ela “usa o plural ‘nós’, apropriado a tradições em que várias mulheres visitaram o túmulo”.
(PERKINS, 2011, p. 810).
O Papa Francisco (3 abr. 2013) recorda que “segundo a Lei judaica daquela época, as
mulheres e as crianças não podiam dar um testemunho confiável, credível. [...] Os
evangelistas, ao contrário, narram simplesmente o que aconteceu: as primeiras testemunhas
são as mulheres”.
60

Aquelas cujo testemunho não tem credibilidade, segundo a lei, foram as escolhidas e
enviadas a anunciar aos homens: “Ele ressuscitou de entre os mortos, E eis que vos precede na
Galileia; é lá que o vereis” (Mt 28,7). Assim, as “mulheres se tornam apóstolas dos apóstolos,
e seu testemunho, justamente por ser desconsiderado pela lei rabínica, se torna historicamente
confiável”. (VIVIANO, 2011, p. 215).
Para Vitório, elas são as primeiras Apóstolas do Ressuscitado:

A ordem dada às mulheres tem enorme relevância: anunciar aos discípulos a


Ressurreição e dizer-lhes para se dirigirem à Galileia, onde o haveriam de ver, como
Jesus havia predito (Mt 26,32). As mulheres são constituídas como primeiras
apóstolas do Ressuscitado, com a missão de anunciar a ressurreição aos discípulos
medrosos (VITÓRIO, 2019, p. 287).

As mulheres, em grande alegria, saíram correndo, para cumprir a missão, e foram


agraciadas com a experiência do encontro com o Ressuscitado, diante do Senhor e Deus,
renderam-lhe a adoração, “postando-se diante Dele” (Mt 28,9-10).
Essa e outras aparições aos discípulos de Jesus Ressuscitado são relatos
importantíssimo sobre a grandeza e a afirmação da Ressurreição. “Portanto, nem o túmulo
vazio, nem as aparições, enquanto tais, explicam suficientemente a fé dos discípulos na
ressurreição de Jesus, mas unicamente o próprio Ressuscitado que, no encontro com os seus
discípulos após a ressurreição, dirigiu-lhes a palavra” (SCHERER, 1995, p. 185). Diante
dessa importância das aparições do Ressuscitado aos seus para a fé pascal, será dedicada a
próxima seção deste trabalho de pesquisa acadêmica.
O evangelho Joanino (Jo 20,1-9), em comparação com os sinóticos, acrescenta a ida de
dois discípulos ao sepulcro, Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava. Os dois foram
correndo ao sepulcro, depois do relato das mulheres. O outro discípulo correu mais depressa
que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Ele viu as faixas de linho por terra, mas não entrou.
Depois, chega também Simão Pedro, vê as faixas de linho por terra e o sudário à parte. “Então
entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao sepulcro: e viu, e creu”. (Jo
20,1-9).
Para Perkins (2011, p. 812), assim como “o discípulo amado era o que estava mais
perto de Jesus na ceia (Jo 13,25), seu amor exemplar por Jesus o leva a chegar ao sepulcro
primeiro (V 5) ‘mas não entrou’: retardando sua entrada no túmulo, o evangelista torna a
afirmação de fé do Discípulo Amado o clímax da visita.”
Pedro e o Discípulo amado, ao chegarem ao sepulcro, deparam-se com as mesmas
evidências, ou seja, com o sepulcro vazio, as faixas de linho e o sudário à parte. Para
61

Bortolini, entretanto, o amor impulsionou o outro discípulo ver além das faixas no chão e a
crer além da morte. A propósito disso, o autor comenta que:

Aconteceu algo de inaudito que só o discípulo que ama é capaz de descobrir e tornar
objeto de sua fé (v. 8): Jesus não continuava prisioneiro das malhas da morte. Ele
estava vivo. (Comparar a cena com a ressurreição de Lázaro, 11,44: ‘Desatai-o e
deixai-o ir embora’.). Note-se que ambos veem as mesmas coisas, mas quem só ama
é que chega à descoberta que vale. Por quê? Porque o amor é mais forte que a morte
(BORTOLINI, 2006, p. 105).

No segundo capítulo desta pesquisa acadêmica, diante da demonstração do amor de


Cristo pelos seus discípulos, ao lavar-lhes os pés e instituir a Eucaristia, comentávamos que
era impossível não retribuir a esse amor. Aqui, após os comentários sobre o discípulo amado e
sua profissão de fé no sepulcro vazio, podemos evidenciar os laços de Deus que ama
incondicionalmente e serve, e do discípulo que é amado e servido. Esse amor leva o amado a
crer, servir e anunciar: Jesus Ressuscitou.
Os sinóticos atestam que esse acontecimento histórico ocorreu no primeiro dia da
semana. “De acordo com o calendário judaico, domingo era o primeiro dia da semana. O
‘após três dias’ das predições da paixão (Mc 8,31; 9,31; 10,34) é igualado a ‘no terceiro dia’,
contando a partir do final da sexta-feira (Nisã 15) até manhã de domingo (Nisã 17)”.
(HARRINGTON, 2011, p. 128).
De fato, o Domingo torna-se para a Igreja o Dia do Senhor, conforme explicita o Papa
João Paulo II na Carta apostólica Dies Domini.

O dia do Senhor — como foi definido o domingo, desde os tempos apostólicos —,


mereceu sempre, na história da Igreja, uma consideração privilegiada devido à sua
estreita conexão com o próprio núcleo do mistério cristão. O domingo, de facto,
recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo. É a Páscoa da
semana, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o
cumprimento n'Ele da primeira criação e o início da ‘nova criação’ (2 Cor 5,17). [...]
Ao domingo, portanto, aplica-se, com muito acerto, a exclamação do Salmista: ‘Este
é o dia que Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria’ (118 [117], 24). Este
convite à alegria, que a liturgia de Páscoa assume como próprio, traz em si o sinal
daquele alvoroço que se apoderou das mulheres — elas que tinham assistido à
crucifixão de Cristo — quando, dirigindo-se ao sepulcro ‘muito cedo, no primeiro
dia depois de sábado’ (Mc 16,2), o encontraram vazio (PAPA JOÃO PAULO II,
1998, DIES DOMINI, n.1).

No domingo, após alegrar-se na Santa vigília Pascal com a vitória de Jesus sobre a
Morte, a Igreja reúne-se para celebrar o dia do Senhor e sua Páscoa. A Páscoa cristã “é a
celebração de um fato, a Ressurreição de Jesus Cristo. Não é uma doutrina, mas um fato.
62

Páscoa significa passagem. É a passagem de Jesus da morte para a vida e a vitória do amor
(graça) dele sobre o pecado” (PEREIRA, 2015, p. 31).
Para que não ocorra a distorção da fé, em sua mensagem Urbi et Orbi, o Papa Bento
XVI afirma que:

Portanto a ressurreição não é uma teoria, mas uma realidade histórica revelada pelo
Homem Jesus Cristo por meio da sua ‘páscoa’, da sua ‘passagem’, que abriu um
‘caminho novo’ entre a terra e o Céu (Hb 10, 20). Não é um mito nem um sonho,
não é uma visão nem uma utopia, não é uma fábula, mas um acontecimento único e
irrepetível: Jesus de Nazaré, filho de Maria, que ao pôr do sol de Sexta-feira foi
descido da cruz e sepultado, deixou vitorioso o túmulo. De facto, ao alvorecer do
primeiro dia depois do Sábado, Pedro e João encontraram o túmulo vazio. Madalena
e as outras mulheres encontraram Jesus ressuscitado (PAPA BENTO XVI, 2009,
Urbi et Orbi).

Cabe ainda detalhar que a Ressurreição de Cristo não foi como as de Lázaro (Jo 11,1-
46) e o Jovem de Nain (Lc 7,11-17), que Cristo realizou em seu ministério. Esses
ressuscitados por Jesus em dado momento voltariam a morrer. A Igreja esclarece que o corpo
ressuscitado de Jesus “passa do estado de morte a uma outra vida, para além do tempo e do
espaço. O corpo de Cristo é, na ressurreição, cheio do poder do Espírito Santo; participa da
vida divina no estado da sua glória [...]” (CaiC n. 646).
Esse estado de passagem da morte à vida, assim como a encarnação do Verbo é a ação
e poder de Deus. “É um acontecimento extraordinário, o fruto melhor e mais maduro do
‘mistério de Deus’. É tão extraordinário, que se torna inenarrável naquelas suas dimensões
que se furtam à nossa capacidade humana de conhecimento e de averiguação”. (PAPA
BENTO XVI, 7 abr. 2010).
No mistério da encarnação, vida e morte de Cruz do Filho, constatamos a ação do Pai
e do Espirito Santo. Do mesmo modo, a ressurreição é obra da Santíssima Trindade, segundo
os diversos textos neotestamentários. O Filho único de Deus foi ressuscitado pelo poder do
Pai. Essa é a afirmação dos Atos dos Apóstolos: “Deus quem o ressuscitou, libertando-o das
angustias do Hades”. (At 2,24). O apóstolo Paulo revela que “Cristo foi ressuscitado dentre os
mortos pela glória do Pai” (Rm 6,4). O Crucificado “está vivo pelo poder de Deus”. (2Cor 13,
4).
O Espírito que gerou em Maria a Pessoa Divino-Humana de Cristo é o mesmo que
fortaleceu Jesus em todo o seu Ministério e o impulsionou a entregar-se por amor, agiu em
sua ressurreição. De modo que “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos
injustos, a fim de vos conduzir a Deus. Morto na carne, foi vivificado no Espírito ” (1Pe 3.18).
63

A ressurreição de Jesus Cristo é a última palavra, “dita de uma vez por todas pelo Pai.
Mas essa palavra foi dita pela mediação do Verbo feito carne, carne que foi crucificada, mas
que depois de passar pela morte, foi glorificada pelo poder de Deus e permanecerá para
sempre como carne ressuscitada” (BARREIRO, 2003, p.17).
Para o cristianismo, a ressurreição de Jesus constitui o artigo fundamental da fé, ao
ponto de o Apóstolo Paulo escrever:

E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé.
Acontece o mesmo que somos falsas testemunhas de Deus, pois atestamos contra
Deus que ele ressuscitou a Cristo, quando de fato não ressuscitou, se é que os mortos
não ressuscitam. Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou,
ilusória é nossa fé; ainda estão perdidos. Se temos esperança em cristo somente para
esta vida, somos mais dignos de compaixão de todos os homens (1Cor 15,14-19).

Por isso, a Igreja professa que a ressurreição de Jesus é a “verdade culminante da


nossa fé em Cristo, acreditada e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã,
transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo
Testamento, pregada como parte essencial do mistério pascal” (CaIC n. 638).
Crer na ressurreição de Cristo é crer que “o Deus que Criou o mundo material e que
criou o ser humano à sua imagem e semelhança, feito do barro da terra e fazendo-o viver com
o sopro de sua vida, esse ser humano criado por Deus viverá para sempre depois de ter sido
recriado pelo poder do amor de Deus na Ressurreição”. (BARREIRO, 2003, p.16).
Para o Papa João Paulo II (27 jan. 1982), a ressurreição de Cristo “é a resposta do
Deus da vida à inevitabilidade histórica da morte, a que o homem foi submetido desde o
momento da ruptura da primeira Aliança, morte que, juntamente com o pecado, entrou na sua
história”. Sendo assim, a ressurreição nos insere no sentido e alcance salvífico, de modo que
“a ressurreição de Cristo nos diz respeito e é um mistério ‘para nós’, porque fundamenta a
esperança da nossa própria ressurreição da morte”. (CANTALAMESSA, 24 mar. 2017).
O Apóstolo Paulo afirma: “E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os
mortos dará vida também a vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em
vós” (Rm 8,11). Em muitas oportunidades durante seu ministério Jesus deu os Sinais, em
vários momentos disse: Eu sou. No capítulo terceiro deste trabalho acadêmico, percebemos
que Judas não acreditou no “Eu Sou” (Jo 13,19), e o sumo sacerdote condenou Jesus pela
afirmação “Eu Sou” (Mc 14,61-64).
A verdade da Divindade de Jesus é confirmada pela ressurreição. “Ele tinha dito:
Quando elevardes o Filho do Homem, então sabereis que ‘Eu Sou’ (Jo 8,28). A ressurreição
64

do Crucificado demonstrou que Ele era verdadeiramente ‘Eu Sou’, o Filho de Deus e Ele
próprio Deus”. (CaIC n. 653).
Nesse sentido, o Papa Bento XVI afirma que:

De fato, não era suficiente a morte para demonstrar que Jesus é verdadeiramente o
Filho de Deus, o Messias esperado. No decorrer da história muitos consagraram a
sua vida a uma causa considerada justa e morreram! E permaneceram mortos. A
morte do Senhor demonstra o amor imenso com que Ele nos amou até ao sacrifício
por nós; mas só a sua ressurreição é ‘prova certa’, é certeza de que quanto Ele afirma
é verdade que vale também para nós, para todos os tempos. Ressuscitando-o, o Pai
glorificou-o (PAPA BENTO XVI, 26 mar. 2008).

Celebrar a Páscoa Cristã é celebrar a Ressurreição de Jesus Cristo. É a celebração de


um fato, não é um mito, não é uma visão nem uma utopia, aconteceu no tempo e na história,
por obra da Santíssima Trindade.
A ressurreição mostrou que Jesus Cristo é Deus e revelou que o amor é mais forte que
a morte, porque Deus é Amor. Revelou ainda que quem “diz a última palavra não é o ódio,
mas o amor; que quem liberta e salva não é o fechamento em si mesmo nem a condenação do
outro, mas é a palavra de intercessão pelos malfeitores, o amor que vai até a morte por eles e a
entrega final nas mãos do Pai” (BARREIRO, 2003 p.18). E o Pai o glorifica.
Cristo verdadeiramente ressuscitou e, por isso, nós somos aqueles que podem encarar
a morte, sabendo que ela não tem a vitória final duradoura. (1Co 15,54-55). Crer na
Ressurreição é crer na nossa própria ressurreição; é a certeza que o discípulo amado tem que
estar sempre com seu Senhor. O Ressuscitado apareceu às mulheres que testemunharam o
sepulcro vazio (Mt 28,9-10). Ele também se manifestou a outros. Esse é um dado
importantíssimo no que se refere à ressurreição, ou seja, as aparições do Ressuscitado para os
seus. Nessa perspectiva, seguiremos com o desenvolvimento da pesquisa.

4.3 RECONHECERAM-NO NO SACRAMENTO DO AMOR

Diante da Boa-noticia, trazida pelas mulheres, que Jesus ressuscitou de entre os


mortos, nem todos os discípulos acolheram no primeiro momento, teve até o que queria toca
nas marcas dos pregos para acreditar, como é o caso de Tomé. (Jo 20,25). Realmente diante
de algo grandioso, extraordinário, “coisa nunca vista e nunca ouvida!” (PEREIRA, 2015, p,
25). Jesus, entretanto, em sua plenitude de amor pelos os seus vai além, aparece diante deles,
come com eles, permite ser tocado e lhes dá as últimas instruções.
65

Nas narrativas neotestamentárias, os diversos os textos40 das aparições do


Ressuscitado são marcadas: “por palavras, por contatos e refeições. Jesus se revelou à
inteligência, ao afeto, ao convívio” (GOEDERT, 2003, p. 41). Essas revelações atestam o
mesmo fato da ressurreição.
Tendo em mente os maravilhosos relatos das aparições do Ressuscitado registrados no
Novo Testamento, vamos priorizar o Evangelho da Liturgia do Domingo de Páscoa da Santa
Missa vespertinas. Nessa Missa pode ler-se o Evangelho de Lc 24,13-35, conforme orienta o
Lecionário Dominical. Assim, seguimos fieis em priorizar as leituras da liturgia proposta pela
Igreja.
O Evangelho de Lucas (24,13-35) desenvolve a narrativa de dois discípulos que
caminhavam de Jerusalém para Emaús, no contexto dos eventos pascais, um texto rico em
detalhes, um verdadeiro itinerário de iniciação aos mistérios pascais proposto por Lucas.
Para Barreiro (2005, p. 13), o “itinerário da fé pascal percorrido pelos dois discípulos
deve ser percorrido também, em todos os tempos e lugares, por todos os que quiserem ser
discípulos de Jesus”. Nesse sentido, a nossa pesquisa se torna muito mais oportuna.
Aqueles que saíram de Jerusalém com o rosto sombrio pelo evento da paixão e morte
de Jesus, voltaram à cidade Santa para testemunhar que reconheceram o Ressuscitado na
fração do Pão, como bem desenvolve o evangelista Lucas:

Eis que dois deles viajavam nesse mesmo dia para um povoado chamado Emaús, a
sessenta estádios de Jerusalém; e conversavam sobre todos esses acontecimentos.
Ora enquanto conservam e discutiam entre si, o próprio Jesus e pôs-se a caminhar
com eles, seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo. Ele lhes disse:
Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando? E eles pararam, com
o rosto sombrio. Um deles, chamado Cléofas, lhe perguntou: “Tu és o único
forasteiro em Jerusalém que ignora os fatos que nela aconteceram nestes dias?
Quais? Disse-lhes Ele. Responderam: ‘O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que foi
profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante do povo: como nossos
sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado a morte e o
crucificaram. Nós esperávamos que fosse Ele quem redimiria Israel; mas, com tudo
isso, faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É verdade que algumas
mulheres, que são dos nossos, nos assustaram. Tendo ido muito cedo ao túmulo e
não tendo encontrado o corpo, voltaram dizendo que haviam tido uma visão de anjos
a declararem que ele está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as
coisas tais como as mulheres haviam dito; mas não o viram!’ Ele, então, lhes disse:
‘insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram! Não era
preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?’ E, começando por
Moises e percorrendo todos os profetas, interpretou lhes em todas as Escrituras o

40
Apareceu a: Maria Madalena - Mc 16,9-11; Jo 20,11-18. Outras mulheres - Mt 28,8-10. Discípulos no
caminho para Emaús - Lc 24,13; Mc 16,12. Simão Pedro - Lucas 24,33-35; 1Cor 15,5; Lc 24,33-34. Discípulos
(Tomé estava ausente) Jo 20,19-25; Mc 16,14; Lc 24,36-43. Todos os discípulos (Tomé estava presente) Jo
20,26-31; 1Cor 15,5; Jo20,26-31. Discípulos no mar da Galileia (A pesca milagrosa) Jo 21,1-25. Aos discípulos
em um monte na Galileia - Mt 28,16-20; Mc 16,14-18. Mais de quinhentas pessoas - 1Cor 15,6; Mt 28,16-20.
Tiago - 1Cor 15,7. Muitos, pela última vez - At 1,9-10; Mc 16,19-20; Lc 24,44-49; At 1,3-8.
66

que a ele dizia a respeito. Aproximando-se do povoado para onde iam Jesus simulou
que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram dizendo: ‘permanece conosco, pois, cai
a tarde e o dia declina’. Entrou então para ficar com eles. E, uma vez à mesa com
eles tomou o pão abençoou-o, depois partiu-o e deu-o a Eles. Então seus olhos se
abriram e o reconheceram; Ele, porém, ficou invisível diante deles. E disseram um
ao outro: ‘Não ardia o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho, quando
nos explicava as escrituras?’ Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para
Jerusalém. Acharam aí reunidos os onze e seus companheiros, que disseram: ‘É
verdade! O Senhor Ressuscitou e apareceu a Simão!’ E eles narraram os
acontecimentos do caminho e como o haviam reconhecido na fração do Pão (Lc
24,13-35).

Para Barreiro (2005, p. 13), “tanto do ponto de vista literário como do ponto de vista
teológico, o relato da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús é um dos mais belos e ricos
de todos os relatos evangélicos sobre as aparições do Ressuscitado”.
Esse texto pertence aos acontecimentos pós-pascais. A narrativa não quer apenas
narrar o fato do passado, mas iluminar as dificuldades de muitos em aceitar a ressurreição de
Jesus a quem Lucas se dirigia, como é o caso dos dois discípulos de Emaús (BORTOLINI,
2006). Diante do texto, lemos que os discípulos saem de Jerusalém, onde aconteceu a paixão e
morte de Jesus, testemunham que receberam a notícia da ressurreição das mulheres, e fazem
parte do grupo dos discípulos (Lc 24,22).
As primeiras Apóstolas do Ressuscitado fizeram sua missão de anunciar, mas, esses
dois discípulos se assustaram e não acreditaram. (Lc 24,22). São conhecedores dos fatos e
receberam o anuncio, saem de Jerusalém sem a alegria de quem acreditou na ressurreição.
Estão decepcionados com o profeta poderoso em obras diante de Deus e dos Homens, pois,
como disseram ao forasteiro: “Nós esperávamos que fosse Ele quem redimiria Israel”. (Lc
24,21). Estão cegos, que nem reconheceram que o próprio Jesus se juntou a eles na caminhada
(Lc 24,16). O reconhecimento vira no final da caminhada, na fração do pão (Lc 24,31).
Diante dos acontecimentos da paixão e morte do Senhor, naquela manhã de domingo,
os dois saem de Jerusalém. “Sair de Jerusalém sem crer que lá é o lugar da vitória do Senhor é
caminhar sem rumo e sem sentido. Por isso, Emaús é sinônimo da cegueira, da não-
compreensão do evento da Páscoa” (BORTOLINI, 2006, p. 113).
Para o Papa Francisco (24 maio 2017), os discípulos ainda tinham “nos olhos os
momentos da paixão, a morte de Jesus; e na alma o pensamento atormentado pelos
acontecimentos, durante o repouso forçado do sábado. Aquela festa de Páscoa, que devia
entoar o canto da libertação, transformou-se pelo contrário no dia mais doloroso [...]”.
A referência “ao terceiro dia após a morte de Jesus (Lc 24,21) sela essa frustração sem
expectativas. De fato, acreditavam que depois do terceiro dia o espírito se afastaria
67

definitivamente do corpo, sem possibilidade de retorno. A morte teria tomado conta de Jesus”
(BORTOLINI, 2006, p. 114). Nesse contexto, parece o fim da esperança.
O processo de superação da cegueira e não compreensão do evento pascal inicia no
caminho à luz das escrituras. As explicações de Jesus sobre os textos levam a ‘arder o
coração’ daqueles discípulos (Lc 24,32).
Como narra o evangelista, no caminho para Emaús, “o próprio Jesus pôs-se a
caminhar com eles, seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo. Ele lhes disse:
Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?”. (Lc 24,16-17). Entristecidos,
narram os fatos e sua incredulidade no testemunho das mulheres. Depois do relato, Jesus
disse-lhes: “insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram! Não
era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?”. E, “começando por
Moisés e percorrendo todos os profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras” (Lc 24,17-
27).
Uma das características do evangelista Lucas é apresentar Jesus no caminho ou
caminhando. “O verbo ‘caminhar’ é usado 150 vezes no Novo Testamento, das quais 88, mais
da metade no texto Lucano [...]. No livro dos Atos, a palavra ‘caminho’ designará a
identidade e o modo de vida das comunidades Cristã (At 9,2; 18,25-26; 19,9.23; 22,4;
24,14.22)” (BARREIRO, 2005, p. 27). Na narrativa de Emaús, o termo caminho aparece três
vezes.
No Caminho, Jesus aproxima-se e começa a caminhar com eles, “em primeiro lugar
pergunta e escuta: o nosso Deus não é um Deus intrometido. Embora já conheça o motivo da
decepção dos dois, deixa-lhes o tempo para poder sondar profundamente a amargura que se
apoderou deles” (PAPA FRANCISCO, 24 maio 2017). Os dois conversavam sobre os
acontecimentos em Jerusalém (Lc 24,14).
Dado o contexto da situação,

[...] o coração dos discípulos recusa-se a aceitar as razões apresentadas pela razão
para esquecer todos aqueles acontecimentos. Tanto a experiencia da felicidade,
causada pela convivência e amizade com Jesus, como a experiencia da ruptura dessa
convivência e amizade (BARREIRO, 2005, p. 25).

Diante da lentidão para compreender o mistério pascal, “Jesus apresenta o primeiro


instrumento que suscita a fé na ressurreição: a Bíblia” (BORTOLINI, 2006, p. 115).
A acolhida da palavra de Deus “é indispensável para que se possa compreender os
gestos e as atitudes de Jesus. Somente aquele que tem palavra de vida eterna pode revelar o
68

eterno. Cristo é, ao mesmo tempo, Deus que revela e Deus Revelado” (GOEDERT, 2003, p.
41).
Jesus é a chave de leitura que dá sentido ao texto. Neste sentido, o Papa Bento XVI
explicita que:

O Ressuscitado explica aos discípulos a Sagrada Escritura, oferecendo a chave de


leitura fundamental dela, ou seja, Ele mesmo e o seu Mistério pascal: d'Ele as
Escrituras dão testemunho (Jo 5,39-47). O sentido de tudo, da Lei, dos Profetas e
dos Salmos, de repente abre-se e torna-se claro aos seus olhos. Jesus tinha-lhes
aberto a mente à inteligência das Escrituras (Lc 24,45) (PAPA BENTO XVI, 11 abr.
2012).

Ao explicar-lhes as escrituras e colocando-se como chave de Leitura, o Senhor


“contribui positivamente para a fé (veja v. 32) é a interpretação de Jesus a respeito de sua vida
como cumprimento das promessas de Deus, do começo ao fim das Escrituras. Deus exaltou à
glória seu profeta rejeitado, o justo sofredor inocente, o Filho” (KARRIS, 2011, p. 307).
Em sua catequese, o Papa Bento XVI (26 mar. 2008) recorda que em todo o ano
litúrgico, particularmente “na Semana Santa e na Semana de Páscoa, o Senhor está a caminho
conosco e explica-nos as Escrituras, faz-nos compreender este mistério: tudo fala d'Ele. E isto
deveria fazer arder os nossos corações, para que se possam abrir também os nossos olhos”.
Na caminhada, “aproximando-se do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia
mais adiante. Eles, porém, insistiram dizendo: “permanece conosco, pois, cai a tarde e o dia
declina. [...] Entrou então para ficar com eles” (Lc 24,29).
Com os corações aquecidos e iluminados pela Palavra de Jesus, os discípulos
convidam-no para que seja hóspede deles.

Aqui é preciso ir além da simples constatação de que, como em diversos lugares do


mundo, na Palestina a noite cai depressa. O pedido dos discípulos é o próprio apelo
da comunidade cristã. De fato, quem sairia prejudicado pela noite que se
aproximava: Jesus ou os discípulos? Estes, apesar de terem uma casa onde ficar,
acabariam privados da luz que é Jesus (BORTOLINI, 2006, p. 114).

Então, Jesus aceitou a hospitalidade e entrou “para ficar com eles. E, uma vez à mesa
com eles tomou o pão abençoou-o, depois partiu-o e deu-o a Eles. Então seus olhos se abriram
e o reconheceram; Ele, porém, ficou invisível diante deles” (Lc 24,29-31).
Essa sena reporta-nos à narrativa da Instituição da Eucaristia, escrita pelo próprio
Evangelista Lucas: “Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lhe”.
(Lc 22,14-20).
69

Para o Papa Bento XVI (26 mar. 2008), as palavras fizeram os discípulos recordarem
da instituição da Eucaristia e como Jesus tinha partido o pão. “Esse partir o pão faz-nos pensar
precisamente na primeira Eucaristia celebrada no contexto da Última Ceia, onde Jesus partiu
o pão e assim antecipou a sua morte e a sua ressurreição, dando-se a si mesmo aos
discípulos”.
No segundo capítulo desta pesquisa, aprofundamos sobre o amor de Cristo no serviço
a humanidade por meio da Eucaristia. Podemos testificar, seu amor-Salvador, seu amor-
Doação e seu amor-Presença na Eucaristia. Foi diante dessa plenitude de amor que os
Discípulos de Emaús reconhecem o Senhor e Deus.
A caminhada iluminada pela palavra de Deus é coroada com o Sacramento da
Eucaristia.

É o segundo instrumento que leva à fé em Jesus ressuscitado: a partilha, a


comunicação da vida. E é também o momento decisivo, porque os olhos dos
discípulos se abrem e eles reconhecem Jesus (v. 31) nesses dois meios
fundamentais: a Sagrada Escritura e a Eucaristia. Daí em diante é supérflua a
presença física de Jesus. Ele desaparece porque a comunidade possui os dois
sacramentos da presença dele: sua Palavra e seu gesto de partilha. Basta viver isso
para sentir o Cristo vivo e presente em nosso meio (BORTOLINI, 2006, p. 115).

Palavra e Eucaristia são os instrumentos fundamentais para a fé pascal. “A escuta da


Palavra, em comunhão com Cristo, e o partir do Pão; dois ‘lugares’ profundamente unidos
entre eles porque Palavra e Eucaristia pertencem-se tão intimamente que uma sem a outra não
pode ser compreendida”. (PAPA BENTO XVI, 11 abr. 2012).
Jesus que, “em sua última ceia, disse que não partilharia mais alimento com seus
discípulos até que o reino de Deus viesse (Lc 22,16-18), agora compartilha alimento com eles
e, com isso, mostra que o reino de Deus de fato chegou”. (KARRIS, 2011, p. 307).
Naquela mesma hora, os dois discípulos de Emaús levantaram-se e voltaram para
Jerusalém (Lc 24,33). Sobre essa prontidão em anunciar e testemunhar, o Papa João Paulo II,
em sua Carta Apostólica Mane Nobiscum Domine, escreve que:

Os dois discípulos de Emaús, depois de terem reconhecido o Senhor, ‘partiram


imediatamente’ (Lc 24,33) para comunicar o que tinham visto e ouvido. Quando se
faz uma verdadeira experiência do Ressuscitado, alimentando-se do seu corpo e do
seu sangue, não se pode reservar para si mesmo a alegria sentida. O encontro com
Cristo, continuamente aprofundado na intimidade eucarística, suscita na Igreja e em
cada cristão a urgência de testemunhar e evangelizar (PAPA JOÃO PAULO II, 7
out. 2004).
70

Quando voltaram à Jerusalém, Jesus tinha aparecido a Simão. Os discípulos de Emaús


narraram os acontecimentos do caminho e como o haviam reconhecido O Senhor “na fração
do Pão”. (Lc 24,34-35). Lucas encerra a narração da Emaús com a afirmação: o
reconhecimento de Jesus ressuscitado veio “na fração do pão” (Lc 24,35).
Se a realidade da presença espiritual de Jesus foi enfatizada na narrativa de Emaús, na
sequência do evangelho, para afastar qualquer heresia ou dúvida na ressurreição do corpo do
Senhor, Lucas enfatiza a realidade física do Ressuscitado que pode até ser tocado.
(KODELLI, 2014).
Depois da narrativa de Emaús, o evangelista Lucas apresenta a aparição de Jesus aos
apóstolos. No evangelho, Jesus se apresentou diante deles e disse:

‘A paz esteja convosco’! Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um espirito.


Mas ele disse: ‘Por que estais perturbados e por que surgem tais duvidas em vosso
coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e entendei que um
espirito não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho’. Dizendo isso,
mostrou-lhes as mãos e os pés. E como, por causa da alegria, não podiam acreditar
ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: ‘Tendes o que comer? Apresentaram-lhe
um pedaço de peixe assado. Tomou-o, então e comeu-o diante deles’ (Lc 24,36-43).

Para Bortolini (2006, p. 368), Lucas “insiste na ressurreição do corpo como um dado
concreto, real e palpável o Ressuscitado não é fruto da fantasia de alguns, mas é o próprio
Jesus terrestre que vive uma realidade e dimensão novas capazes de ser comprovadas pelos
que estiveram com ele.
Essa narrativa “salienta que o corpo ressuscitado de Jesus é real. Os discípulos o
tocam; as marcas da paixão são visíveis em suas mãos e em seus pés; ele come com os
discípulos”. (KODELLI, 2014, p. 108).
O tremo grego 'osté' (apareceu) é utilizado por Lucas para designar as aparições. Osté
significa ação reveladora de Deus. Deus revela que aquele Jesus, morto, está agora vivo. É
importante destacar que não é a fé que cria o Ressuscitado. Ao contrário, a revelação de Deus
a respeito do Ressuscitado é o fundamento da fé pascal, sendo assim, as aparições de Jesus,
para Lucas, nada têm a ver com visões (RUBIO, 2014).
Desse modo, fica evidenciada a presença real do Ressuscitado e sua manifestação
diante dos apóstolos e discípulos, justamente essas aparições afirmam a fé pascal e
converteram o espanto e temor em alegria e paz.
Impulsionados pela alegria e na força do Espírito Santo entregue em Pentecostes, essa
Boa-notícia passa a ser anunciada: “É verdade! O Senhor Ressuscitou”. (Lc 24,34). De fato,
71

os Apóstolos receberam a Força do Espírito Santo para serem as testemunhas de Cristo (At,
1,8; At, 2,1-4; Jo 20,22; Lc 24,49; Mt 16,19).

Com o envio em missão dos discípulos, inaugura-se o caminho no mundo do povo


da nova aliança, povo que crê n'Ele e na sua obra de salvação, povo que testemunha
a verdade da ressurreição. Esta novidade de vida que não morre, que a Páscoa traz,
deve ser difundida em toda a parte, para que os espinhos do pecado que ferem o
coração do homem, deixem o lugar aos rebentos da Graça, da presença de Deus e do
seu amor que vencem o pecado e a morte (PAPA BENTO XVI, 11 abr. 2012).

Na caminhada dos discípulos de Emaús, percebe-se a incompreensão no mistério da


Cruz, mesmo tendo Jesus antecipado durante o seu ministério o acontecimento da sua paixão,
morte e ressurreição. Decepcionados, deixam a cidade Santa, o lugar da vitória, recusam-se a
aceitar as razões apresentadas pela razão.
Estão, no caminho, são do caminho e Jesus caminha com eles. A Cruz, entretanto,
ofusca a visão, ao ponto de impedi-los de perceber que o próprio Jesus caminha ao lado. Jesus
está junto deles nesse momento difícil, de frustação e incompreensão. O Deus, que é amor,
aproxima-se, respeita o tempo, abre diálogo (pergunta e escuta) e deixa depurar as angústias.
Para conduzi-los a compreender o mistério da Cruz, na caminhada, Jesus recorre à
Bíblia. A palavra de Deus é lâmpada para pés e luz para caminho (Sl 119,115), com ela, os
discípulos têm o coração aquecido, iniciam processo de superação da cegueira espiritual e a
retomada da esperança. Como o coração aquecido, os discípulos acolhem a Palavra e o
próprio Jesus em sua casa (vida).
Na mesa da Eucaristia, na fração do pão, os discípulos recobrem a visão e a esperança,
estão, pois, diante do augustíssimo Sacramento do Amor e presença real do Senhor. Com a
visão restabelecida e coração alegres, voltam a caminhar, agora para levar a Boa-notícia: Ele
está vivo, reconheceram-No na fração do pão.
Com efeito, podemos colocar-nos no lugar dos discípulos e inserir-nos nessa bela
narrativa de iniciação ao mistério pascal. Quantas vezes na vida estamos cegos diante das
dificuldades, saindo do caminho e esquecendo que Jesus caminha conosco, está atento e
conhece o nosso coração. É o próprio senhor que caminha conosco, e a luz da palavra faz-nos
retomar a esperança e a caminhada.
Também é importante afirmar, neste fim de seção, que as aparições de Jesus afirmam a
fé pascal apostólica. Lucas deixou claro que não foi um espírito, não foi fruto da fantasia, mas
foi Jesus Ressuscitado que esteve no meio deles, comeu com eles e permitiu ser tocado,
afastando, desse modo, qualquer dúvida ou heresia sobre a ressurreição do Senhor.
72

A força do amor-salvador de Deus alcançou todos os homens em todos os tempos e


lugares e revelou que esse amor é mais forte que a morte. Desse modo, assim como o
Apóstolo Paulo, pode-se questionar: “morte onde está a vitória? Onde está, ó morte, o seu
aguilhão?". (1 Coríntios 15,55), pois “se morremos com Cristo, temos fé que também
viveremos com Ele”. (Rm 6,8). E com toda força pode-se proclamar: “o Senhor ressuscitou
verdadeiramente” (Lc 24,34) e s deu-nos a vida eterna.
73

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho acadêmico foi analisar a manifestação do amor de Deus nas
celebrações do Sagrado Tríduo Pascal, que é o ápice do Ano Litúrgico. Em cada dia
celebrado, faz-se a memória da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para efeitos deste trabalho, inicialmente, fez-se uma reflexão sobre o amor de Cristo
no serviço à humanidade por meio da Eucaristia e do Sacerdote ministerial Católico,
instituições celebradas na quinta-feira Santa, o dia no qual, antes de entregar-se à morte
violenta de Cruz, Jesus confiou para sempre à Igreja o novo e eterno Sacrifício, o banquete e
memorial do seu amor, o verdadeiro serviço de amor-salvador a todas as gerações. Com base
nesta pesquisa, foi possível inferir que as espécies do pão e do vinho transubstanciadas no
Corpo e Sangue do Senhor revelam o imensurável amor de Deus.
Ainda na última ceia, Jesus instituiu o Sacerdote Ministerial, confiando aos Apóstolos
e sucessores a ordem de renovar todos os dias do Sacrifício do Seu Corpo e de Seu Sangue, e
os enviou a pregar o Evangelho, apascentar o povo de Deus. Assim, Cristo por meio do
Sacerdote dá continuidade à sua obra salvadora, alimenta e santifica o seu povo.
Após refletir sobre o amor de Cristo por meio da Eucaristia e do Sacerdócio
ministerial católico, a pesquisa adentrou na Sexta-feira Santa, quando a Igreja celebra a
Paixão do Senhor. O terceiro capítulo do trabalho acadêmico objetivou demostrar o Amor de
Cristo em sua Paixão e Morte de Cruz. No contexto histórico-teológico da paixão do Senhor,
da mesa da Eucaristia Jesus vai ao Monte das Oliveiras, a noite escura da solidão, abandono e
do beijo de Judas (traidor). No julgamento religioso do Sinédrio e no julgamento político,
Jesus opta pelo silêncio até confirmar “Eu Sou”. Está decidido a se entregar por amor e
solidariedade a humanidade. Convém ressaltar que é a entrega que o filho faz de Si Mesmo,
pois ninguém lhe tira a vida.
Essa entrega do Filho é ainda uma entrega do Pai. O Pai amou o mundo de tal maneira
que aceitou pagar um preço elevadíssimo, o sangue do seu Filho Unigênito (Jo 3,16). No dia
de Pentecostes, o Pai e o Filho entregam o Espírito Santo para santificar continuamente a
Igreja.
Ainda no terceiro capítulo, evidencia-se que Jesus foi entregue para a morte violenta
de Cruz. Tal entrega custou o imensurável sofrimento do Servo de Deus (Is 52, 13-53,12). Na
Cruz, Cristo realizou de uma vez por todas o sacrifício perfeito ao Pai, derramando o próprio
sangue. Naquele momento, ele estabeleceu o seu Sacerdócio definitivo, o mediador da nova e
eterna aliança, o verdadeiro cordeiro pascal, que se ofereceu espontaneamente.
74

Com a autoentrega e o imensurável sofrimento, ao custo de todo Seu Sangue, Jesus


demostrou o amor e a solidariedade a humanidade, revelando o projeto de amor-salvador
Trinitário.
No quarto capítulo, buscou-se refletir sobre a ressurreição de Cristo. Constatou-se que
era preciso antes passar pelo sábado do silêncio, e refletir sobre a descida de Jesus Cristo à
mansão dos mortos. De tal modo, o amor-salvador alcançou aqueles que, nos dias da morte e
sepultamento de Cristo, já estavam no reino dos mortos. Assim, o amor de Cristo alcançou
todos os homens em todos os tempos e lugares.
No sábado, após o pôr do sol, a Igreja celebra a Vigília Pascal, a noite de alegria
verdadeira. No Domingo, a Igreja reúne-se para celebrar a Páscoa do Senhor. Os evangelhos
dessas duas celebrações narram que as mulheres foram ao tumulo de Jesus, e encontraram a
pedra removida, o sepulcro vazio e receberam a boa-notícia: Ele ressuscitou de entre os
mortos (Mt 28,7).
Diante da realidade extraordinária da ressurreição, surge a alegria plena e verdadeira.
Jesus Ressuscitou, venceu o pecado, a morte, mostrou que é Deus e mostrou que o amor é
mais forte que a morte. Jesus não decepcionou ao vencer a morte (1Cor 15,54-57). Cristo
verdadeiramente ressuscitou e nós ressuscitaremos. Diante dessas realidades, no quarto
capítulo, refletiu-se sobre a manifestação de amor de Cristo em sua ressurreição.
Para analisar o Amor de Cristo no Santo Tríduo, procurou-se navegar pela Liturgia,
Eclesiologia, Trindade, Mariologia, Sacramentos (Eucaristia e Ordem), Cristologia,
Escatologia, Pneumatologia e Teologia Bíblica. Grande contribuição para se aproximar do
objetivo foram as catequeses dos Papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco.
Assim, da última ceia, passando pela prisão, dolorosa paixão, morte na cruz e a
vitoriosa ressurreição , muito da manifestação do amor de Deus no Tríduo Pascal foi
analisado, aprofundado, refletido. Caminhou-se com Jesus nesse itinerário proposto pela
liturgia da Igreja Católica, um verdadeiro itinerário de iniciação aos mistérios pascais de
nosso Senhor Jesus Cristo.
Conclui-se que “Deus é Amor” (1Jo 4,16) e o Sagrado Tríduo Pascal apresenta esse
Amor. Assim, a partir da manifestação de amor de Cristo apresentado no decorrer da
pesquisa, os fiéis podem celebrar consciente, ativa e piedosamente o Sagrado Tríduo Pascal.
Para uma futura evolução da pesquisa sobre o assunto, sugere-se desenvolver sobre as
principais dimensões da Eucaristia. Nesse aspecto, aprofundar o sentido eclesiológico e
escatológico da comunhão na Eucaristia. Também se sugere desenvolver sobre a mistagogia
75

do amor-presença na Eucaristia e aprofundar sobre a relação Eucaristia e missão,


contribuições importantes para o crescimento da fé católica.
76

REFERÊNCIAS

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