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MEMORIAL ACADÊMICO AUTOBIOGRÁFICO SOB UMA PERSPECTIVA

ONTÓLOGICA MARXIANA

Pedro Henrique Lourenço Guimarães1*

I PROLEGÔMENOS À UMA ABORDAGEM ONTOLÓGICA DA EDUCAÇÃO

1.1 Perspectiva Teórica – Justificativa:

Ao abordar o tema da educação, sua função social originária e, em


contradição, como ela está inserida em determinados contextos sociais
específicos, não podemos nos furtar de compreender o todo das
determinações que insidem sobre esse objeto de análise. E para lograr
êxito nessa empreitada é necessário explicitar de forma clara qual
pespectiva teórico-metodológica irá orientar o escopo anaílitco. Disso
desdobra-se que a depender da natureza essencial do objeto estudado a
forma de sua abordagem é definidora, sobretudo quando se trata de temas
voltados às Ciências Sociais e Humanas. Uma vez que o sujeito da
pesquisa está diretamente implicado em seu objeto — não podendo
resguardar-se em uma posição de investigação apartada das implicações
do objeto — a teoria por ele empregada não somente reflete diretamante as
contradições do objeto, nesse caso a sociedade burguesa e o sistema
capitalista, como também expressam a posição de classe de um
determianado teórico.
Não obstante, essas demandas que se apresentam ao fazer teórico não
subtraem a objetividade do ofício científico. A teoria orientada por uma
posição social apenas implica em novas categorias analíticas que irão

1
Universidade Federal Fluminense.
*E-mail: Pedro_guimaraes@id.uff.br
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subsidiar a produção intelectual. O que importa mitigar aqui é que a


objetividade teórica não seja associada à “neutralidade objetífica”, se furtar
de um posicionamento que considere todas as contradições — no caso do
estudo da sociedade burguesa: o pauperismo, a exploração, a acumulação
e o caráter predatório do capitalismo — não é prezar por uma objetividade,
é, diretamente, omitir-se frente as necessidades transformadoras de sua
sociedade. Logo, o pesquisador deve ser objetivo e, igualmente, consciente
de que seu esforço teórico não é isento quando se trata de lidar com sua
própria realidade como objeto de teorização. A esse respeito assevera José
Paulo Netto em seu texto Introdução ao Estudo do Método de Marx:

Isto significa que a relação sujeito/objeto no processo de


conhecimento teórico não é uma relação de externalidade, tal
como se dá, por exemplo, na citologia ou na física; antes, é
uma relação em que o sujeito está implicado no objeto. Por
isso mesmo, a pesquisa — e a teoria que dela resulta — da
sciedade exclui qualquer pretensão de “neutralidade”,
geralmente identificada com “objetividade”. (NETTO, pg 23)

Com base no exposto, delimitado-os os aspectos inerentes à necessidade de


uma justificação teórica, cabe aqui tornar inteligível a abordagem de
investigação sobre o objeto estudado que se adotará. Lançar-se-a mão, nessa
investigação, do método materialista histórico-dialético que teve como seu
principal articulador o teórico social Karl Marx, considera-se que uma análise
marxiana do fenômeno humano de assimilação de conhecimentos é fecunda o
bastante para fornecer uma teoria — por teoria em Marx compreende-se uma
captação, em síntese, do movimento e das dinâmicas próprias de um
determinado objeto — sólida que busque adentrar a essência do objeto
estudado. José Paulo Netto define, em síntese, a teoria de marx na seguinte
sentença “A Teoria é, para Marx, a reprodução ideal (teórica) do movimento
real do objeto pelo sujeito da pesquisa: pela teoria, o sujeito reproduz em seu
pensamento a estrutura e dinâmica do objeto que pesquisa” (Ibidem, pg 21).
Fica evidente que Marx busca sempre construir o conhecimento teórico a partir
das investigações diretas, essenciais, de seu objeto. Só objeto pode fornecer o
conhecimento de si mesmo, não sendo viável construções teóricas a priori da
investigação em essência. E é justamente nessa perspectiva que Marx irá, em
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seu Magnum Opus, contrapor sua visão teórica à hegeliana na qual se originou
e superou:

Sem dúvida, deve-se distinguir o modo de exposição segundo


sua forma, do modo de investigação. A investigação tem de se
apropriar da matéria [Stoff] em seus detal-hes, analisar suas
diferentes formas de desenvolvimento e rastrear seu nexo
interno. Somente depois de consumado tal trabalho é que se
pode expor adequadamente o movimento real. Se isso é
realizado com sucesso, e se a vida da matéria é agora refletida
idealmente, o observador pode ter a impressão de se encontrar
diante de uma construção a priori. Meu método dialético, em
seus fundamentos, não é apenas diferente do método
hegeliano, mas exatamente seu oposto. Para Hegel, o
processo de pensamento, que ele, sob o nome de Ideia, chega
mesmo a transformar num sujeito autônomo, é o demiurgo do
processo efetivo, o qual constitui apenas a manifestação
externa do primeiror. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais
do que o material, transposto e traduzido na cabeça do
homem. (MARX, 2011 p. 128,129)

Visando transpor o objeto em suas delimitações materiais e dinâmicas


transformadoras para o plano teórico, objetiva-se contronar uma visão alienada
da educação calcada em pressupostos equivocados e deslocados da função
social humanizante e formativa do processo de aprendizagem como
reprodução social da humanidade.

1.2 Pensando a função da educação na reprodução da vida social

Antes de adentrarmos na explanação de uma interpretação sobre o


ato educativo e sua função, cabe algumas considerações sobre a natureza
do ser social e sua relação com o conhecimento. Somente assim será
possível definir com clareza o lugar da educação no processo formador. 
 O conhecimento humano se desenvolveu em uma relação mútua entre
a progressão biológica de funções intelectivas e a interação do ente
orgânico com a natureza ao seu redor. Nessa interação está uma
indispensável categoria humana: o trabalho. O trabalho desponta, fruto da
evolução biológica cerebral, como o primeiro contato de um ser puramente
orgânico com a natureza ao se redor, no intuito de transformá-la visando
suas próprias necessidades. Pois diferentemente dos animais puramente
orgânicos o homo sapeins deu um salto evolutivo ao tornar-se um ser social
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e indutivo. Operando assim, a partir de sua realidade material, o uso dos


conhecimentos que a sua experiência com a natureza tornava possível.
Consonantemente, esses usos do trabalho se tornaram conhecimentos
acumulado pelas experiências de indivíduos, logo passando à coletividade
como heranças culturais. E justamente nesse ponto se solidifica o
parâmetro de aprendizagem dos indivíduos humanos: o processo
se desenrola social e historicamente. Ou seja, os conhecimentos são
transmitidos pela via social onde um membro de uma determinada
comunidade cultural aprende, por interferência de seus semelhantes mais
experimentados, os usos do trabalho para transformação da natureza
visando a subsistência, para dar um exemplo de um processo básico. E
dada a variabilidade de formas e usos da categoria trabalho, cada
sociedade humana irá empregar das mais variadas modalidades suas
particulares formas de transformação da natureza. 2 Entende se que a
relação do ser social com o conhecimento não está desassociada de sua
realidade social e material. E o conhecimento se expressa em resposta
direta aos ditames de uma realidade objetiva, buscando modifica-la para
atender demandas essenciais. Nessa linha Karl Marx dirá em uma de suas
teses sobre Feuerbach na Ideologia Alemã que:  

O modo pelo qual os homens produzem seus meios de vida  


depende, antes de tudo, da própria constituição dos meios de  
vida já encontrados e que eles têm de reproduzir. Esse modo
de produção não deve ser considerado meramente sob o
aspecto de ser a reprodução da existência física dos
indivíduos. Ele é, muito mais, uma forma determinada de sua
atividade, uma forma determinada de exteriorizar sua vida, um
determinado modo de vida desses indivíduos. Tal como os
indivíduos exteriorizam sua vida, assim são eles. O que eles
são coincide, pois, com sua produção, tanto com o que
produzem como também com o modo como produzem. O que
os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais
de sua produção. (Marx, 2007 p. 87) 

 Disso temos que o conhecimento não pode ser tomado como algo para
além da materialidade, tendo-se uma visão puramente idealizada de suas
funções.  Sem desconsiderar as competências da consciência humana e
suas implicações psicológicas, o conhecimento obedece estritamente ao
imperativo da vida social concreta. Podemos claramente compreender a
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relação dialética entre a construção do ser social e o conhecimento,


atentando para como esse processo se desenvolve em todos os contextos,
partindo sempre da mesma ótica, teremos uma perspectiva concreta com
que definir nossa concepção educativa.  

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