Você está na página 1de 18

Puritanos e Reformados Arminianos

Uma das mentiras mais bem contada e omitida pelos


calvinistas é a de que todos os reformados e puritanos
sem exceção eram calvinistas. Ao acessar sites
calvinistas que contém esse tipo de material
encontramos diversos autores como, por exemplo, Thomas
Whatson, John Owen, Richard Sibbes, Willian Perkins, no
entanto nomes como Henry Hammond, John Goodwin e Thomas
Cranmer são omitidos e esquecidos propositalmente. Só
para lembrar: Quando Lutero e os seus companheiros de
Wittenberg iniciaram o movimento da reforma, Calvino
tinha 08 anos de idade. Não foi Lutero e os
reformadores que aderiram a Calvino, mas Calvino e os
calvinistas que aderiram à reforma. O calvinismo é
apenas uma ramificação extremada e desajustada da
reforma protestante.

Como muitos historiadores têm ressaltado, desde o


século 16, havia claramente trajetórias diferentes na
teologia reformada. Ela não era uma teologia
monolítica, mas, muito ao contrário, conforme
demonstram os registros históricos, as origens da
Igreja Reformada eram diversas, tanto histórica quanto
teologicamente. A reforma foi um movimento
multifacetado, dinâmico e em contínuo movimento, como
frisam William den Boer, Willem J. van Asselt, Carl
Bangs, J. Matthew Pinson, Wilhelm Pauck, Roger Olson,
F. Stuart Clarke, William G. Witt, G. J. Hoerdendaal,
Mark Ellis, Robert E. Picirilli, Sarah Mortimer e John
Mark Hicks, dentre dezenas de outros teólogos e
historiadores renomados que poderiam ser mencionados.

Então, se você quiser conhecer a verdade, terá que


pesquisar por conta própria; pois se deixar para os
calvinistas contarem, você só vai ouvir mentiras,
desonestidades e acobertamentos.
Vejamos uma lista de ALGUNS reformados e puritanos
sinergistas (Monergistas condicionais-pré-Arminianos)
antes de o calvinismo aparecer:

Felipe Melanchthon e os seus seguidores “filipistas”


(1497-1560), discípulo, amigo e sucessor de Lutero à
frente do luteranismo. Melanchthon foi o primeiro
protestante estritamente Arminiano antes de Armínio.

Um ano antes de a doutrina monergista rígida ser pela


primeira vez sistematizada no protestantismo pelas
Institutas da Religião Cristã de Calvino (cuja primeira
edição, em latim, é de 1536), Melanchthon já havia
sistematizado de forma clara o Sinergismo Evangélico na
segunda edição de sua obra Loci Communes, que é,
simplesmente, a primeira obra de teologia sistemática
protestante. Os arminianos do século 17 em diante são
herdeiros de uma corrente que tem seu nascedouro nos
primórdios do movimento de reformação.

Outros nomes de sinergistas (ou monergistas


condicionais-pré-Arminianos):

Jakob Andreae (1528-1590); David Chytraeus (1530-1560)


e Nikolaus Selnecker (1530-1592); todos liderados por
Martin Chemnitz (1522-1586) e todos os quatro
discípulos e protegidos de Felipe Melanchthon.

Victorinus Strigel (1524-1569), Martin Chemnitz,


Leonhard Hutter (1563-1616), Johann Gerhard (1582-
1637), Johann Quensteldt (1617-1688) e David Hollaz
(1646-1713). O teólogo e mártir anabatista Balthasar
Hubmaier (1485-1528), vergonhosamente perseguido,
inclusive por Ulrich Zwinglius (1484-1531), tão somente
por divergências teológicas, em um dos episódios mais
grotescos da história do cristianismo.

Outro sinergista evangélico da primeira geração de


reformadores é o teólogo luterano Erasmus Sarcerius
(1501-1559), amigo de Melanchthon, que defendia, por
exemplo, de forma clara, tanto a Expiação Ilimitada
como a predestinação condicional. Merecem menção também
os teólogos luteranos melanchthonianos Viktorin Strigel
(1524-1569) e Johann Pfeffinger (1493-1573). Merece
igualmente menção o teólogo luterano Johann Marbach
(1521-1581), que no período em que estudou em
Wittenberg (1536 a 1543), se doutorando ali, chegou a
morar na casa de Lutero. Marbach de 1561 a 1563, fez
forte oposição ao ensino do professor calvinista
italiano Girolamo Zanchi (1516-1590). Finalmente, é
preciso citar George Sohnius (1551-1589), professor de
Teologia da Universidade de Heidelberg, que seguiu
explicitamente os mesmos sentimentos e ensinos de
Melanchthon na questão da mecânica da Salvação. Ele se
destacou principalmente pela defesa da Expiação
Ilimitada, mas suas posições eram totalmente
melanchthonianas.

Na Suíça, temos o caso do grande reformador Heinrich


Bullinger (1504-1575), sucessor de Zwinglius à frente
da Reforma naquele país. Ele e Melanchthon são os
primeiros grandes disseminadores do monergismo
condicional protestante. Lembremos de Jerome Bolsec,
expulso de Genebra por esposar o sinergismo. Teodoro
Bibliander (1506-1564), Pai da Teologia Exegética na
Suíça, amigo de Bullinger e um ferrenho opositor da
doutrina calvinista. O outro é o teólogo suíço Samuel
Huber (1547-1624), que desde os anos de 1580 se tornou
um opositor ferrenho do calvinismo, atacando
principalmente o calvinismo rígido de Teodoro Beza,
ensino este que ele considerava anticristão. O teólogo
luterano John Macalpine (1502-1557), de origem escocesa
e amigo e discípulo de Melanchthon, tendo se tornado um
dos pais da Reforma na Dinamarca; e o teólogo luterano
Niels Hemmingsen (1513-1600), outro grande nome da
Reforma dinamarquesa, que é citado pelo próprio Armínio
como exemplo de alguém que, antes dele, ensinava
exatamente o que este esposava sobre a mecânica da
Salvação.

Na Inglaterra, os exemplos de sinergistas evangélicos


antes de Armínio são muitos. Inclusive, vários deles
são nomes de peso na história do protestantismo naquele
país.

Temos, por exemplo, o caso do mártir protestante Thomas


Cranmer (1489-1556), que em sua obra A Necessary
Doctrine and Erudition for Any Christian Man, publicada
em 1543, defendia já uma posição arminiana em sua
substância. Outros nomes de peso do protestantismo
inglês que seguiam uma linha monergista condicional são
os também mártires protestantes Hugh Latimer (1490-
1555) e John Hooper (1495-1555). Como assevera o
historiador inglês Nicholas Tyacke, “Latimer foi muito
claramente o que seria chamado, em uma terminologia
posterior, de arminiano”. O curioso sobre Hooper, o
primeiro não-conformista, é que ele é considerado,
justamente por essa sua posição, um dos pais do
Movimento Puritano, que foi esmagadoramente calvinista.
Martyn Lloyd-Jones afirma que se não fossem o Arminiano
Hooper e o calvinista John Bradford, os quais “foram
realmente os dois primeiros puritanos, [...]
provavelmente os puritanos do século 17 nunca teriam
vindo à existência”. Além desses três grandes nomes –
Cramner, Hooper e Latimer, todos do século 16 e bem
anteriores ao nascimento de Armínio, havia, nesse mesmo
período, entre os muitos prisioneiros na Inglaterra
durante a perseguição católica mariana, dezenas de
pastores e teólogos protestantes que vieram a ser
chamados de “Free-Willers” (“Libertários”), cujas
objeções ao ensinamento calvinista sobre a
predestinação eram notoriamente semelhantes àquelas
levantadas muito tempo depois por Armínio. Alguns
desses homens foram Henry Hart, John Trew, John Kemp,
John (“Master”) Gibson, Richard Woodman, Thomas Arede,
Thomas Broke, Chamberlain (não se sabe seu primeiro
nome), Thomas Abingdon, Richard Blagge, Robert Cole,
William Sibley, John Barry, Thomas Cole, Robert Cooke,
Richard Dynestake, John Eglis, William Forstall, John
Grey, William Grenelande, George Brodebridge, John
Ledley, Henry Wicham, Robert Wolmere, Thomas Yong,
Humphrey Middleton, Nicholas Sheterden, John Lawrence,
Richard Gibson, John Clement e Robert Skelthorpe, os
quais eram homens de vidas rígidas e santas, mas muito
intensos em suas opiniões e disputas, e irrequietos.
Outro sinergista evangélico de destaque foi o bispo
anglicano Richard Hooker (1554-1600), considerado o pai
do conservadorismo inglês, que influenciou o pensamento
do célebre político inglês conservador Edmund Burke
(1729-1797). Há também o caso marcante do ministro
huguenote francês Pedro Baro (1534-1599), ordenado ao
ministério por ninguém menos que o seu professor João
Calvino e que veio a exercer posteriormente sua vocação
na Igreja da Inglaterra. Grande expositor das
Escrituras, tendo sido um respeitado professor em
Cambridge, Baro é outro “Arminiano avant la lettre” em
território britânico. Muito cedo, ele rompeu com o
calvinismo, passou a louvar os escritos de Felipe
Melanchthon e a pregar com desenvoltura e clareza, nos
púlpitos ingleses, o que décadas depois viria a ser
designado como arminianismo. A partir de 1596, Baro
ainda fará amizade e trocará cartas com Hemmingsen, o
célebre sinergista evangélico dinamarquês.

Outros exemplos são John Spenser (1559-1614), teólogo e


presidente do Corpus Christi College da Universidade de
Oxford; John Overall (1559-1619), bispo, professor de
Teologia da Universidade de Cambridge e um dos
tradutores da Bíblia King James; o bispo e erudito
Lancelot Andrews (1555-1626), que supervisionou a
tradução da Bíblia King James; Thomas Dove (1555-1630),
que foi bispo em Essex e considerado um dos maiores
pregadores de sua geração, impressionando grandemente a
rainha Elizabeth com seus sermões; e Richard Thomson
(1560-1613), teólogo nascido de pais ingleses na
Holanda e que foi responsável pela tradução para o
inglês dos 12 primeiros livros do Antigo Testamento
para a Bíblia King James.

O sexteto de arminianos Pedro Baro, John Overall, John


Spenser, Lancelot Andrews, Thomas Dove e Richard
Thomson eram ainda no século 16, tanto contra a ala
papista como contra a ala calvinista da Igreja da
Inglaterra. Outro detalhe é que quando Thomson soube da
oposição que Armínio estava sofrendo na Holanda por
esposar aquilo que ele, Thomson, também defendia à luz
da Bíblia, chegou a visitá-lo e a defendê-lo
publicamente.

Finalmente, ainda na Inglaterra, temos os exemplos dos


anglicanos John Playfere (1550?-1608), professor de
renome na Universidade de Cambridge, que ensinava com
desenvoltura o Arminianismo ainda no século 16, mas
cuja principal obra nesse sentido foi lançada no início
do século 17, mais precisamente no ano de sua morte (An
Appeal to the Gospel for the True Doctrine of
Predestination); e Samuel Harsnett (1561-1631), bispo
de York, que, já em 1584, um ano após a sua ordenação
ao ministério, pregava sermões de conteúdo
eminentemente Arminiano e combatendo diretamente a
visão calvinista da predestinação.

A influência de todos esses pré-arminianos antes de


Armínio no século 16 resultaria, no século 17, em
muitos outros grandes expositores do Arminianismo na
Inglaterra, tais como o respeitado político inglês Sir
Edwin Sandys, filho do arcebispo de York e amigo do
jurista e Arminiano holandês Hugo Grotius; e os
renomados teólogos e bispos anglicanos John Richardson,
Samuel Brooke, Isaac Casaubon, Jerome Beale, Matthew
Wren, John Buckeridge, Richard Neile, Richard Montagu,
Francis White, John Cosin, John Bramhall, Anthony
Sparrow, Jeremy Taylor, William Laud, John Howson,
Thomas Jackson, William Cartwright, dentre muitos
outros. A lista é imensa. A esmagadora maioria dos
teólogos chamados de “Caroline Divines” no século 17,
por exemplo, pode e deve ser incluída nessa lista.

Destaque também para os puritanos Arminianos, tantas


vezes esquecidos, como, por exemplo, Laurence Saunders,
autor de The Fullnesse of God’s Love Manifested (1643);
Thomas Moore Senior, autor de The Universality of God’s
Free Grace in Christ to Mankind (1646); e John Horn,
autor de The Open Door for Mans Approach to God (1650).

Destaque ainda para o puritano Arminiano John Goodwin,


autor de Redemption Redeemed (1651), e que mesmo tendo
publicado depois de Saunders, Moore e Horn, recebeu o
título de “O grande propagador do Arminianismo na
Inglaterra” em sua geração, ao ponto de o puritano
calvinista John Owen e seus aliados terem usado suas
conexões – inclusive, no caso de Owen, seu
relacionamento próximo com [Oliver] Cromwell – para
tentar parar a propagação do Arminianismo promovida por
Goodwin. Ao final, porém, mesmo os seus críticos, como
Owen, [...] expressaram respeito por Goodwin e
trataram-no como um irmão errado mais do que como um
herético intocável. Além de argumentar biblicamente,
Goodwin lembrou à sua geração que muitos dos primeiros
protestantes ingleses, eruditos mártires nos dias da
rainha Maria, eram inclinados a posições Arminianas.
Como registra o historiador John Coffey, foi
especialmente através desse puritano Arminiano que o
calvinismo começou a “perder sua hegemonia” na
Inglaterra, de maneira que, “na segunda metade do
século 17, a teologia Arminiana, que Goodwin tinha
articulado tão vigorosamente no início dos anos de
1650, entraria na corrente principal da Igreja da
Inglaterra”. Hoje, mesmo a contragosto, o teólogo
calvinista anglicano J. I. Packer elogia Goodwin como
um “puritano Arminiano de habilidade”.

Henry Hammond foi um puritano Arminiano que não pode


ser esquecido, teve assento na assembleia de
Westminster, dominada por Calvinistas. Ele foi chamado
pelo pastor e escritor Clement Barksdale, seu
contemporâneo, de “o Grande orçamento da igreja
Inglaterra". Já seus antipatizantes (calvinistas) o
xingavam da única "falha" que podiam encontrar nele
“Arminiano”! Hammond nunca se importou com essa
perseguição calvinista, mas aceitava confortavelmente,
posto que defendia abertamente que a graça de Deus não
é irresistível, Cristo morreu por todos, a promessa de
salvação é CONDICIONAL a obediência do ser humano e é
possível cair da graça.

Lembrando ainda que o puritano John Milton, que começou


calvinista, terminou a vida Arminiano (mas,
infelizmente, também flertando com o unicismo), como
pode ser visto em sua obra-prima O Paraíso Perdido e,
ainda mais explicitamente, em sua obra publicada
postumamente De Doctrina Christiana.

Devem ser citados ainda, como frutos no século 17 do


sinergismo evangélico pregado no século 16, os
originalmente puritanos calvinistas John Smyth (1570-
1612) e Thomas Helwys (1550-1616). Após o contato que
Smyth e Helwys tiveram com a teologia Arminiana e os
menonitas na Holanda, ambos se tornariam, a partir de
1608, Arminianos. Entretanto, pouco tempo depois, ao se
separarem, Smyth aderiria ao semipelagianismo enquanto
Helvys continuaria um Arminiano até o final da sua
vida. Juntos, eles haviam fundado o que seria chamado
posteriormente de Igreja Batista, sendo que os
seguidores de Smyth acabariam se tornando menonitas
após a sua morte, diferentemente dos seguidores de
Helwys, os quais deram continuidade à denominação, que
nas primeiras três décadas de sua história foi
totalmente Arminiana. Inclusive, a primeira declaração
de fé Batista da história era 100% arminiana e foi
escrita por Helwys em 1611. Com o passar do tempo,
porém, os batistas se dividiram nessa questão, de
maneira que há hoje tanto Batistas Arminianos (batistas
gerais) quanto batistas calvinistas (batistas
particulares).

Como fruto dessa crescente onda Arminiana nascida no


século 16, quando chegamos ao século 18, a Igreja
Anglicana já havia se tornado majoritariamente
Arminiana. Como bem frisa o historiador metodista José
Gonçalves Salvador, “é fácil compreender a posição que
o pai do movimento Metodista, João Wesley, tomou com
relação ao Arminianismo, se nos lembrarmos que ele
nasceu dentro da Igreja Anglicana no começo do século
18 e pertenceu à Igreja Anglicana até ao fim de sua
vida (1703-1784).

Naquela época, os Trinta e Nove Artigos da religião


continuavam sendo o padrão doutrinário calvinistas em
sua natureza, porém a interpretação que deles se fazia
já era predominantemente Arminiana. A transição que
nesse sentido se vinha realizando datava de Richard
Hooker (1586) e de Pedro Baro, mas, ao tempo da
ascensão do rei George I (1714-1727), estava quase
concluída.

O historiador francês Mateo Lelièvre, biógrafo de


Wesley, ressalta o mesmo: “Whitefield aceitava a
doutrina da predestinação e da eleição no sentido
rigoroso do calvinismo, assim como os presbiterianos da
Escócia e os independentes da Nova Inglaterra, com os
quais ele estava muito ligado. Wesley, por outro lado,
tinha permanecido fiel, quanto a isso, à tradição
Arminiana que até então prevalecia na Igreja
Anglicana”. Aliás, o próprio calvinista D. Martyn
Lloyd-Jones lamenta esse fato: “Na década de 1730, a
Igreja da Inglaterra era em geral Arminiana”. O grande
reformador polonês Jan Laski (1498-1560) foi 100%
Arminiano em sua mecânica da Salvação.

Entre os reformadores de origem italiana, é preciso


mencionar Bernardino Ochino (1487-1564). Entre os
espanhóis, o teólogo e pastor protestante Antonio del
Corro (1527- 1591) defendia uma posição 100% Arminiana
pelo menos desde os anos 60 do século 16, quando estava
na Inglaterra. O protestante espanhol Casiodoro de
Reina (1520-1594) é outro nome a ser destacado. Famoso
tradutor da Bíblia e grande amigo de Corro, além de ter
problemas com as posições autoritárias de Calvino em
Genebra (a qual chamava de “Nova Roma”) e de condenar a
execução de Serveto. Casiodoro defendia uma posição
sinergista semelhante a de seu colega Corro e a do
teólogo francês Sebastian Castellion.

Entre os franceses, destaca-se o nome de Sebastian


Castellion (1515-1563). Na Holanda do século 16, por
sua vez, temos muitos casos de Arminianos anteriores a
Armínio, até porque Melanchthon era um teólogo favorito
entre os holandeses. Se bem que os dois primeiros casos
de Arminianismo pré-Armínio nos Países Baixos não
tiveram nenhuma ligação com o reformador alemão.

O primeiro é o do anabatista holandês Menno Simons


(1496-1561), O segundo caso é o do reformador holandês
Joannes Anastasius Veluanus (1520-1570), que sofreu uma
tremenda injustiça quanto à sua memória durante muito
tempo. Apesar de sua importância histórica, por que
Veluanus é praticamente desconhecido pelo grande
público? Porque seu nome foi rapidamente enterrado
dentro da história do protestantismo holandês pelos
calvinistas daquele país logo quando estourou a
controvérsia entre Arminianos e calvinistas no início
do século 17. Na controvérsia entre Arminianos e
calvinistas no início do século 17, os seguidores de
Armínio lembravam constantemente a seus opositores que
o Pai da Reforma na Holanda simplesmente já ensinara,
com mais de 40 anos de antecedência, exatamente o que
eles defendiam, e que este sempre fora, até aquela
época, uma figura respeitada por todos os protestantes
holandeses.

Bastou isso ser lembrado para que, após o famigerado e


demoníaco Sínodo de Dort (1619), o nome de Veluanus,
antes tão respeitado, fosse propositada e completamente
enterrado na história da Igreja Reformada Holandesa,
até que, em 1912, esta, reconhecendo finalmente a
injustiça cometida contra um de seus mais importantes
nomes, prestou uma homenagem pública de meia culpa a
Veluanus. E em 1994, ainda mandou erigir uma estátua em
reconhecimento e homenagem ao reformador holandês em
frente à Igreja Reformada Holandesa de Garderen. o
pastor e teólogo Albert Hardenberg (1510-1574), que foi
destacado reformador em Colônia, Bremen e Emden, e
estava bem mais próximo de Melanchthon do que de
Calvino sobre a predestinação, exercendo grande
influência sobre os primeiros líderes da Igreja
Reformada Holandesa; Hubert Duifhuis (ou Dovehouse)
(1531-1581), pai da Reforma em Utrecht e que, em
oposição ao ensino calvinista, pregou, a partir de
1576, mensagens contundentes defendendo a Expiação
Ilimitada e a predestinação condicional; Gerard
Blokhoven e Tako Sybrants, ministros na cidade de
Utrecht; Cornelis Wiggers, ministro na cidade de Hoorn;
Hermanus Herbets, ministro em Gouda; Jan Ysbrandtson,
ministro em Roterdã, e Clement Martenson, os quais
publicamente resistiram à introdução da teologia
genebrina nos Países Baixos; e John Holmann e Caspar
Coolhaes, que muitos anos antes de Armínio já ensinavam
Arminianismo em Leiden. Não à toa, como lembra Carl
Bangs, o historiador H. C. Rogge chamaria Coolhaes de
“O precursor de Armínio” em Leiden. Também o teólogo,
filósofo, artista e político holandês Dirck
Volkertszoon Coornhert (1522-1590). Coornhert, que é
considerado um dos pais da Renascença Holandesa,
concordava, como tantos outros em sua época, com a
compreensão de Veluanus sobre a doutrina da
predestinação. Alguns, infelizmente, classificam
erroneamente Coornhert de “anabatista”, quando a
verdade é que ele nunca aderiu ao anabatismo ou a
qualquer outro grupo, tendo manifestado posição
independente em toda a sua vida. O segundo nome a ser
destacado é o do teólogo e pastor Hadrianus Saravia
(1532-1613), de família originalmente espanhola, mas
nascido na região de Flandres, hoje Bélgica e que, na
sua época, pertencia ainda à Holanda (A independência
ocorreu só no século 19). Mesmo sendo “belga-holandês”,
ele acabou desenvolvendo seu ministério mais na
Inglaterra, tendo ajudado na tradução da Bíblia King
James, nos textos dos livros de Gênesis a 2 Reis. Ele
foi o único não-inglês a participar desse grande
empreendimento. Saravia, entretanto, foi importante
também para sua região de origem, por ter sido
responsável por revisar o esboço da Confissão Belga,
quando pastoreava na região da Bélgica. Saravia foi
amigo íntimo do sinergista evangélico Richard Hooker,
estando ao seu lado no leito de morte. Nos anos de
1580, Saravia passou algum tempo na Holanda, inclusive
tendo lecionado por um período curto de tempo na
Universidade de Leiden (1584- 1587), dois anos após
Armínio ter se formado lá. De volta à Inglaterra, ele
escreveria em 1590 sua obra já mencionada em favor da
obra missionária, intitulada Os Diferentes Graus de
Ministérios do Evangelho Como Eles Foram Instituídos
pelo Senhor, que também defendia o episcopado contra o
presbiterianismo. Os dois assuntos levaram-no a um
embate intelectual com Teodoro Beza. Saravia é colocado
do lado de seus colegas sinergistas evangélicos Pedro
Baro, Antonio del Corro, Lancelot Andrews e Richard
Hooker.

Outro nome é o pastor e teólogo Gellius Snecanus (1540-


1596), o Pai da Reforma Protestante na Frísia, tendo
aderido ao protestantismo ainda nos anos 1560 e sendo
muito perseguido por isso em seu país, hoje pertencente
à Holanda. Suas aflições só terminaram quando a paz
religiosa foi proclamada naquela região em 22 de julho
de 1578. Uma curiosidade é que o Arminiano Snecanus fez
oposição aos anabatistas, inclusive opondo-se
diretamente ao semipelagiano Mennos Simons.

Considerado pelos historiadores um erudito zuingliano


altamente apreciado na Frísia e um ministro ancião,
culto e pio, Snecanus publicou, em 1591, sua obra
Methodica descriptio o cognitione Dei et hominis,
eiusque triplici em hac vita statu, onde esposava
publicamente uma posição 100% Arminiana anos antes de
Armínio. Era uma obra falando da predestinação de
acordo com os sentimentos de Melanchthon, asseverando
que a doutrina da predestinação condicional não só está
em conformidade com a Palavra de Deus como também não
pode ser acusada de novidade.

Na introdução da obra, Snecanus recomendava que “todos


os professores ortodoxos de teologia abertamente
exortem seus alunos a não atribuir aos escritos de
qualquer um [e ele cita nominalmente Calvino] mais
autoridade que a regra de fé permite”.

O clérigo inglês calvinista Andrew Willet, afirma que a


obra de Snecanus, juntamente com a de Hemmingsen,
fizeram muitos seguidores na Inglaterra no final do
século 16. Contava Snecanus que “bem no início da
Reforma na Frísia [ou seja, por volta dos anos 1560],
os que se opunham a essa doutrina sinergista é que eram
inovadores e heterodoxos”. A sua obra foi enviada a
Beza, que a reprovou, mas, segundo historiadores, ele
teria se esquivado de combater o entendimento de
Gellius pelo respeito que tinha à sua pessoa como líder
da Reforma na Frísia, especialmente pelo seu sofrimento
pela causa da Reforma naquele lugar. A história, porém,
seria outra. A verdade é que Beza não conseguiu
responder aos argumentos de Snecanus e ainda “encorajou
que ele fosse silenciado”, preferindo “a censura ao
diálogo”. Ele esquivou-se de tentar responder a
Snecanus dizendo que tal tarefa “exigiria livros
grandes o bastante para encher uma casa”. Um dos amigos
de Beza, chamado Taffin, escreveu ao teólogo de Genebra
em 15 de dezembro de 1593 dizendo que “uma tentativa
havia sido feita para refutar os erros de Snecanus, mas
em vão”, e que “seria inútil tentar silenciá-lo, pois
qualquer um que quisesse publicar alguma coisa
encontraria meios de fazê-lo”.

Finalmente, é preciso mencionar ainda Johannes


Wtenbogaert (1557-1644), contemporâneo de Armínio e que
estudou com ele em Genebra. Wtenbogaert, que abandonara
o catolicismo em 1578, estudou Teologia em Genebra de
1580 a 1584. Porém, não obstante seus estudos
rigidamente calvinistas, ainda em 1584, logo depois de
retornar à Holanda, também passou a manifestar uma
posição claramente Arminiana, de maneira que, ao
conhecer posteriormente os escritos de seu ex-colega de
turma, Armínio nesse sentido, rapidamente se
identificaria com o professor de Leiden. Foi tão grande
sua influência posterior sobre os seguidores de Armínio
que, quando este faleceu em 1609, Wtenbogaert tornou-se
líder dos remonstrantes (grupo de seguidores de
Armínio) juntamente com Johan van Oldenbarnevelt.

Nem mesmo todos os considerados protestantes


monergistas rígidos eram rígidos de fato em seu
monergismo, pois mesmo entre os reformadores do século
16 que são considerados pelos monergistas de hoje
“monergistas de fato”, havia diferenças quando o
assunto era a mecânica da Salvação à luz da Bíblia. O
“monergismo rígido” deles não era tão coerente assim.

Diferentemente do que sustenta o teólogo calvinista


Louis Berkhof, que afirma que “todos os reformadores do
século 16 defenderam a mais estrita doutrina da
predestinação”, isso é uma mentira, uma vez que, por
exemplo, eram contra a predestinação dupla e esposavam
a doutrina bíblica da Expiação Ilimitada Rudolf
Gwalther, sucessor de Bullinger na Suíça, além dos
reformadores Wolfgang Musculus e Myles Covardale. Só
quanto ao tópico Expiação Limitada, e só no século 16,
eram contrários, entre os considerados “monergistas”, o
suíço Johannes Oecolampadius (1482- 1531), o inglês
William Tyndale (1484-1536), o também inglês Myles
Coverdale (1488-1569), o francês Wolfgang Musculus
(1497-1563), o suíço Benedictus Aretius (1505-1574), o
também suíço Rudolf Gwalther (1519-1586), o francês
Pierre Viret (1511-1571), o alemão Heinrich Mollerus
(1528-1567), o também alemão Christophus Pezelius
(1539-1604), o polonês Zachary Ursinus (1534-1583), o
alemão Jacob Kimedoncius (1550-1596), e também David
Paraeus (1548-1622), o escocês Robert Rollock (1555-
1599), o franco-suíço William Bucanus (1550?-1603), o
polonês Batholomaeus Keckermann (1572-1608), dentre
outros.

O respeitado teólogo calvinista J. I. Packer costuma


dizer que o calvinismo, como definido no Sínodo de
Dort, que traz a posição que ele esposa pessoalmente
sobre como funciona a mecânica da Salvação, é um
círculo fechado: não há como você negar um dos cinco
pontos (Depravação Total, Eleição Incondicional,
Expiação Limitada, Graça Irresistível e Perseverança
dos Santos) e sustentar os demais. Robert Charles
Sproul, mais conhecido como R. C. Sproul, outro teólogo
calvinista famoso, defende o mesmo. Pois bem, se Packer
e Sproul estão certos, então não se pode considerar
diferenças sutis aquelas esposadas entre os
reformadores do século 16 considerados “monergistas” no
que diz respeito à mecânica da Salvação. Ademais,
lembremo-nos mais uma vez da “grande nuvem” de pré-
Arminianos antes de Armínio mencionada neste artigo e
do fato de que os luteranos, de forma geral, não
divergiram só quanto à questão da extensão da expiação
e da dupla predestinação.

Todos esses nomes mencionados representam metade dos


grandes pensadores protestantes do século 16. Portanto,
assim como é equivocada a afirmação de que “o
Arminianismo é uma distorção surgida no século 17”, é
equivocada a afirmação de que a posição de Calvino
sobre a mecânica da Salvação era aceita por todos os
demais reformadores monergistas com apenas divergências
praticamente irrelevantes entre eles. Esses são
espantalhos, mentiras e desonestidades que os dados
históricos desmentem contundentemente.

Finalmente, torna-se ainda mais ridículo tentar


desvincular a compreensão Arminiana da mecânica da
Salvação do coração da Reforma Protestante quando ela,
além de estar nos primórdios desse movimento, como uma
corrente dentre outras no início de tudo, também é hoje
– e já há muito tempo – a corrente majoritária do
protestantismo mundial. Mesmo depois da injusta e
intensa perseguição que começou a sofrer no início do
século 17 – empreendida pelos calvinistas (até então
majoritária), que, naquela época, lutava para reinar
soberana dentro do movimento protestante, o
Arminianismo nunca desapareceu, mas continuou firme e
crescendo até se tornar a corrente dominante.

Aprendam isso: Calvinistas normalmente são desonestos


quando o tema é história da igreja, teologia e exegese
bíblica!
Fontes:

SCHAFF, Philip, History of the Christian Church, 1955,


Eerdmans.

BANGS, Carl O. Armínio – Um Estudo da Reforma


Holandesa, 2015, Editora Reflexão, p. 158.

LLOYD-JONES, D. M., Os Puritanos: suas origens e seus


sucessores, 1993, PES, p. 214.

LLOYD-JONES, D. Martyn, Os Puritanos – Suas Origens e


Seus Sucessores, PES, 1993, p. 204.

PACKER, J. I., Entre os Gigantes de Deus – Uma Visão


Puritana da Vida Cristã, 1996, Editora Fiel, p. 172. Em
seu artigo Arminianismo, que pode ser lido, por
exemplo, no site www.reformedliterature.com, Packer
afirma que Goodwin chegou, inclusive, a influenciar o
célebre puritano Richard Baxter, que adotou o
amiraldismo. O amiraldismo recebe esse nome por causa
do seu principal proponente, o protestante francês
Moisés Amyraut (1596-1664), e consiste em um calvinismo
moderado, posto que não aceita a doutrina calvinista da
expiação limitada. John Coffey confirma a influência de
Goodwin sobre Baxter, que durante toda a sua vida
demonstrou uma posição “ambivalente” em relação ao
ensino do puritano Arminiano Goodwin (COFFEY, Ibid., p.
232).

SALVADOR, José Gonçalves, Arminianismo e Metodismo:


Subsídios para o Estudo da História das Doutrinas
Cristãs, capítulo V, São Paulo, Junta Geral de Educação
Cristã da Igreja Metodista do Brasil.

BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, Cultura Cristã,


p. 101.

DANIEL, Silas, Arminianismo, a Mecânica da Salvação,


CPAD, P. 175-250.

Você também pode gostar