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IMORTALIDADE CONDICIONAL - UMA GALERIA DE DEFENSORES

Azenilto G. Brito

Que se passa com o homem quando, ao expirar, corta definitivamente o contato com o mundo? Vai para
o céu desfrutar imediatamente uma imoralidade já assegurada? Permanece um período de espera em algum
lugar? É lançado no inferno de fogo eterno para sofrer agonias indescritíveis por toda a eternidade?
Há bispos, pastores, tradutores da Bíblia, teólogos e intelectuais e muitos outros através dos séculos que,
buscando respostas no vasto repertório bíblico, defendem o estado de inconsciência na morte e a concessão da
imortalidade como recompensa da fé, concedida exclusivamente por meio de Cristo. Estes estudiosos
pertencem a denominações variadas, mas têm em comum a análise acurada dos textos bíblicos que revela o
estado do homem na morte. Eles mostraram a disposição de aceitar essa revelação como suficiente neste
importante assunto teológico. A seguir, as declarações sobre o tema, extraídas de diversas fontes.

Nicolau, bispo grego (século XII da era cristã):

“Quando qualquer ser criado é eterno, não o é por si, nem em si, nem para si, mas pela bondade de Deus;
pois tudo quanto é feito e criado tem um início e mantém sua existência somente mediante a bondade do
Criador”. – Citado em Compendium of the History of Doctrines, vol. 2, págs. 4 e 5.

Os Valdenses (século XV) contestaram a doutrina do purgatório e intercessão dos santos ensinando em seu
catecismo de instrução para os jovens que o homem é apenas “mortal”. - Moreland, The History of the
Evangelical Churches of the Valleys of the Piedmont, 1658, pág. 75.

Martinho Lutero (1493-1546), reformador alemão e tradutor da Bíblia:

“Salomão conclui que os mortos estão dormindo, e nada sentem, em absoluto. Pois os mortos ali jazem,
sem contar os dias nem os anos, mas quando forem despertados, terão a impressão de ter dormido apenas um
minuto”. – An Exposition of Solomon’s Book, Called Ecclesiastes or the Preacher, 1573, fl. 151 v.

“Mas nós, cristãos . . . devemos educar-nos e acostumar-nos, com fé, a desprezar a morte e considerá-la um
sono profundo, intenso e doce; a considerar o esquife nada mais que o seio do Senhor Jesus Cristo ou Paraíso, a
sepultura coisa nenhuma senão um brando e confortável leito para repousar: Verdadeiramente, diante de Deus, é
na realidade justamente isso, pois Ele testifica em João 11:11: Lázaro o nosso amigo dorme; Mateus 9:24: A
menina não está morta, mas dorme. Assim, também, S. Paulo em I Coríntios 15, remove da vida todos os
aspectos odiosos da morte em relação ao nosso corpo mortal, e não apresenta nada mais que aspectos
encantadores e jubilosos da vida prometida”. - Works of Luther, vol. 6, págs. 287 e 288.

William Tyndale (1484-1536), tradutor da Bíblia para o inglês e mártir cristão:

“E vós, colocando-as [as almas que partiram] no céu, no inferno ou no purgatório, destruís os argumentos
mediante os quais Cristo e Paulo provam a ressurreição. . . . E mais, se as almas estão no céu, dizei-me por que
não estão em tão boas condições como os anjos? E então, que motivo existe para a ressurreição?” – An Answer
to Sir Thomas More’s Dialogue, liv. 4, cap. 4, págs. 180 e 181.

John Milton (1608-1674), considerado o maior dos poetas sacros, secretário latino de Cromwell:

“Visto, pois, que o homem todo, como se diz, consiste uniformemente do corpo e alma (quaisquer que
sejam os distintos campos atribuídos a essas divisões), mostrarei que, na morte, primeiro, o homem todo, e
depois, cada parte componente sofre a privação da vida. . . . A sepultura é a comum custódia de todos, até o dia
do juízo”. – Treatise of Christian Doctrine, vol. 1, cap. 13.

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Edward White (1819-1887), congregacional, presidente da União Congregacionalista:

“Eu mantenho firmemente, depois de quarenta anos de estudo do assunto, que é a noção da aplicação de
um tormento absolutamente eterno no corpo e na alma, que unicamente concede terreno às idéias de Ingersoll
na América, ou Bradlaugh na Inglaterra [ambos ateus militantes, N.R.]. Creio, mais firmememente do que
nunca, que é uma doutrina tão contrária a todos os ensinamentos da Bíblia como é contrária a todo instinto
moral da humanidade”. – Introdução ao livro The Unspeakable Gift, de J. H. Pettingell, pág. 22.

Robert W. Dale (1829-1895), editor de The Congregacionalist, presidente do Primeiro Concílio


Internacional de Igrejas Congregacionais em 1891:

“Não estou convencido de que elas [as crenças condicionalistas] tenham enfraquecido absolutamente a
autoridade de meus ensinos de quaisquer das grandes doutrinas centrais da fé cristã. A doutrina da Trindade
permanece intocada, e a doutrina da encarnação e a doutrina da expiação em seu sentido evangélico, e a
doutrina da justificação pela fé, e a doutrina do juízo segundo as obras, e a doutrina da regeneração receberam,
creio, dessas conclusões, uma ilustração nova e mais intensa”. – Edward White, His Life and Work, págs. 354,
355.

Hermann Olshausen (1796-1839), lente de Teologia em Konigsberg:

“A doutrina da imortalidade da alma e o nome são igualmente desconhecidos na Bíblia”. – Biblical


Commentary on the New Testament, vol. 4, pg 381.

William Gladstone (1809-1898), primeiro-ministro britânico e teólogo:

“Outra consideração de maior importância é a de que a imortalidade da alma é doutrina inteiramente


desconhecida às Escrituras Sagradas, e não assenta em bases mais elevadas do que as de uma opinião filosófica
mantida engenhosamente, mas grave e formidavelmente contestada”. – Studies Subsidiary to the Works of
Bishop Butler, ed. de 1896, pg 184.

J. Agar Beet (1840-1924), lente wesleiano:

“As páginas seguintes são . . . um protesto contra uma doutrina que, através de longos séculos, foi quase
universalmente aceita como verdade divina ensinada na Bíblia, mas que me parece inteiramente alheia a ela,
tanto na frase como na idéia, e derivada unicamente da filosofia grega. . . .
“Os que reivindicam para seu ensino a autoridade de Deus, devem provar que ela procede dEle. Essa
prova, nesse caso, nunca vi”. – The Immortality of Soul, 5a. edição, 1902, Prefácio.

Franz Deliztsch (1813-1890), hebraísta, lente em Rostock:

“Não existe coisa nenhuma em toda a Bíblia, que implique uma imortalidade nativa”. (Comentário Sobre
Gên. 3:22).
“Do ponto da Bíblia a alma pode ser morta, ela é mortal”. (Comentário sobre Núm. 23:10). – A New
Commentary on Genesis

George Dana Boardman (1828-1903), pastor batista, fundador da Fundação Boardman de Ética Cristã da
Univ. de Pensilvânia:

“Nem uma única passagem da Santa Escritura, do Gênesis ao Apocalipse, ensina, quanto eu esteja
apercebido, a doutrina da imortalidade natural do homem. Por outro lado, a Escritura Sagrada afirma
positivamente que só Deus é que tem a imortalidade (1 Tim. 6:16), isto é: Deus unicamente, é imortal, natural e
inerentemente, em Sua própria existência”. – Studies in the Creative Week, págs. 215 e 216.

F. R. Weymouth (1822-1902), tradutor do Novo Testamento em linguagem moderna:

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“Minha mente não concebe mais grosseira deturpação da linguagem do que quando cinco ou seis das
palavras mais fortes que a língua grega possui, significando destruir ou destruição são interpretadas como
significando manter uma existência eterna mas ‘miserável’. Traduzir preto em vez de branco não é nada em
comparação com isto”. – Citado por Edward White em Life in Christ (1878), pág. 365.

“O uso no Novo Testamento de palavras como ‘morte’, ‘destruição’, ‘fogo’, ‘perecer’, para descrever a
retribuição futura aponta para a probabilidade de uma terrível angústia seguida da extinção do ser, como a
condenação que espera aos que, pela persistente rejeição do Salvador, se demonstram completamente, e
portanto irremediavelmente maus”. (Comentário sobre Hebreus 9:28) – New Testament in Modern Speech.

William Temple (1881-1944), arcebispo de Cantuária, Primaz da Grã-Bretanha:

“A doutrina da vida futura implica nosso primeiro desemaranhar do autêntico ensino das Escrituras
clássicas, dos acréscimos que muito depressa começaram a obscurecê-las” – Nature, Man and God, pág. 460.

Martin J. Heinecken, lente de Teologia Sistemática do Seminário Teológico Luterano de Filadélfia,


EUA.:

“No registro bíblico da criação é-nos dito que Deus formou o homem do pó da terra, e que Ele então lhe
soprou nas narinas e o homem se tornou alma vivente. Isto é geralmente interpretado como se Deus fizesse uma
alma, que é a pessoa real, e que Ele então tivesse dado a essa alma uma habitação temporária num corpo, feito
do pó da terra. Mas este é um dualismo falso. . . . O homem deve ser considerado uma unidade”. – Basic
Christian Teachings, págs. 36 e 37.

Emil Brunner (1889-1966), professor de Teologia Sistemática e Prática da Universidade de Zurique:

“A opinião de que nós homens somos imortais porque nossa alma é de uma essência indestrutível, porque
divina, essa opinião é, de uma vez para sempre, irreconciliável com o ponto de vista bíblico de Deus e do
homem. . . . A crença filosófica na imortalidade é como um eco, reproduzindo e falsificando a superior Palavra
desse Criador divino. É falsa porque não toma em conta a real perda desse destino original, devido ao pecado”.
– Eternal Hope, págs. 105, 106 e 107.

James Moffat (1870-1944), famoso tradutor da Bíblia e missionário:

“É a alma capaz de alcançar um valor imortal, ou é ela essencialmente imortal? No esquema da fé cristã,
pode ser aniquilada? É a personalidade uma posse imorredoura ou é alcançada mediante obediência à vontade
de Deus somente? As implicações do ponto de vista cristão da fé não são incompatíveis com a última
ponderação e é, creio, uma questão interessante observar se o ponto de vista comumente chamado imortalidade
condicional há de obter corroboração no futuro. É contrário ao platonismo, mas não há muita evidência contra
ela na mensagem do cristianismo, como alguns parecem ter por assegurado”. – Literary Digest, 5 de abril de
1930, pg 22.

James S. Stewart (1896- ), conhecido professor de literatura e Novo Testamento na Universidade de


Edimburgo:

“A filosofia ensinou aos gregos a crerem numa imortalidade puramente espiritual, sem um corpo de
qualquer tipo. Homens sábios consideravam o corpo como uma tumba em que o espírito vivente permanecia
sepultado. . . . A morte era o escape do aprisionado espírito. Mas Paulo não podia conceber um campo para
espíritos desincorporados. Para ele, a mera idéia disso teria sido repugnante”. – A Man in Christ, p. 267.

Oscar Cullman (1902- ), professor de Novo Testamento História Eclesiástica na Universidade de Basel e
na Sorbonne:

“A doutrina grega da imortalidade da alma e a esperança cristã na ressurreição diferem tão radicalmente
porque o pensamento grego tem uma interpretação totalmente diferente da criação. A interpretação judaica e

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cristã da criação exclui todo o dualismo grego de corpo e alma”. – Immortality of the Soul or Resurrection of the
Dead?, págs. 29 e 30.

Y. B. Trémel, sacerdote católico dominicano:

“O Novo Testamento obviamente não concebe a vida do homem após a morte filosoficamente ou em
termos da natural imortalidade da alma. Os escritores sagrados não pensam que a vida advém como resultado de
processos naturais. Pelo contrário, para eles é sempre o resultado da salvação e redenção; depende da vontade
de Deus e da vitória de Cristo”. – Lumière et Vie (1955), págs. 33 a 37.

Otoniel Mota, pastor presbiteriano brasileiro:

“A doutrina da imperecibilidade da alma não é bíblica, mas pagã. Nasceu na Grécia e propagou-se na
Igreja, através de Platão, do século V em diante, graças à influência de Agostinho. A doutrina não se mantém
diante das concepções psicológicas modernas e da teoria mais racional acerca da propagação do ser humano,
corpo e alma”. – Meu Credo Escatológico, ed. 1938, pág. 3.

Inúmeros outros importantes pensadores cristãos poderiam ser citados, mas estes são suficientemente
representativos da grande hoste de eruditos e sinceros cristãos através dos tempos, que têm rejeitado a
concepção popular de imortalidade da alma, acentuando que a imortalidade só pode ser obtida mediante Cristo.

Há ainda alguns fatos que merecem ser destacados no estudo deste assunto:

1o. As Escrituras mesmas ensinam a condição de total inconsciência dos que jazem no pó da terra, e fazem a comparação
entre os seres humanos e os animais, que na morte seriam iguais, segundos palavras do sábio Salomão: Eclesiastes
3:19-21; 9:5 e 6; Salmo 146:3 e 4.
2o. Embora na morte homens e animais se comparem, há a promessa de que “vem a hora em que todos os que se acham nos
túmulos ouvirão a Sua voz e sairão, os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal,
para a ressurreição do juízo” (João 5:28 e 29). Todos ressuscitarão, pois, para comparecer perante o divino tribunal.
3o. Os que admitem a imortalidade da alma passam por alto geralmente o aspecto cristocêntrico do ensino da imortalidade
condicional. Pois se o dom da imortalidade será concedido a alguns, é porque estes atenderam ao chamado do
evangelho de Cristo. Foram atraídos pela mensagem da cruz, onde Cristo morreu para pagar o preço de seus pecados.
Mas ao terceiro dia ressuscitou para ser o penhor de quantos hão de ressurgir para a vida eterna. Em Cristo, pois,
concentram-se nossas esperanças quanto à posse da vida eterna. 1 Coríntios 15:16-18; João 11:11-14. “Aquele que tem
o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (I João 5:12).
4o. Do ponto de vista da lógica, o pensamento bíblico parecerá muito mais coerente. De que valeria uma ressurreição final
para atribuição de salvação e condenação, sendo que, segundo a crença na imortalidade da alma, os justos já estariam
no gozo das bem-aventurança celestiais (teriam partido para a “glória”, na morte) e os ímpios já estariam no inferno ou
purgatório? Em outras palavras, todos os casos já teriam sido decididos com o próprio fim da existência de cada um e
não haveria necessidade de ressurreição e juízo finais.
5o. Segundo a Bíblia, os ímpios após receberem o veredito divino, serão exterminados sobre a própria terra (Apocalipse
20:7 a 9 e 14, cf. 21:1, 2). Haverá, assim, uma “solução final” para o problema do pecado sem um prévio “campo de
concentração” de fogo e enxofre pois nunca é dito, na descrição do “lago de fogo” que este se transfira para alguma
parte do universo enquanto queima em tormentos os ímpios. A angústia e o sofrimento não serão eternizados e os seres
humanos não terão uma pena injusta, desproporcional à culpa.
6o. A Bíblia mostra que Satanás e seus seguidores serão finalmente desarraigados de sobre a Terra (Malaquias 4:1-3;
Romanos 6:23; Ezequiel 28:13-19). Será um ato de misericórdia final de Deus—a união de Seu amor e justiça.
7o. Além de seu caráter nitidamente cristocêntrico (“Aquele que tem o Filho tem a vida”—I João 5:12), o entendimento da
imortalidade condicional representa, sem dúvida, o melhor antídoto contra a crescente influência do espiritismo, Nova
Era, além de destruir as bases de doutrinas erradas como o purgatório, batismo pelos mortos e intercessão dos santos de
algumas religiões que se intitulam cristãs.

Finalmente, pelos depoimentos anteriores, percebe-se que a linha dos que aceitam a colocação bíblica de
imortalidade condicional, é mais constante, mais forte e mais ilustre do que se tenha, talvez, percebido. Os
nomes desses homens têm adornado o púlpito da igreja cristã e têm merecido a confiança e respeito de seus
colegas, do passado e do presente.

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