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Nº 1.

467
15JUL2021

Adm: VM Fábio Ferreira da Rosa Neto


Comissão de Ritualística e Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas Maçônicas
GOB-SP – Oriente de Sorocaba – ARLS Cavaleiros da Luz, 4048

GUARDA EXTERNO E GUARDA INTERNO

Rui Bandeira – 19 jun. 2008

Este artigo foi escrito em português de Portugal.

Nos Ritos de York e de Emulação, a privacidade da Sessão de uma Loja Ma-


çónica é assegurada por um Guarda Externo,
isto é, um Oficial da Loja que, armado de uma
espada, guarda, pelo lado de fora, a porta do
local onde se processa a reunião. Em inglês,
este Oficial é denominado “Tyler”. Daí a desig-
nação de “Telhador” que também em portu-
guês foi atribuída a este ofício, em evidente
corruptela da designação inglesa.

O Guarda Externo é o Oficial que deve aguar-


dar a chegada do Venerável Mestre ao local onde
vai decorrer a reunião da Loja e, imediatamente,
iniciar as suas funções, só franqueando a entrada
no local a quem se faça por ele reconhecer como
maçon, e como maçon do Grau (ou superior) em
que a Loja vai nesse dia trabalhar.

Esse reconhecimento é feito através dos Si-


Tyler nais, Toques e Palavras Passes adequados à cir-
cunstância. Designa-se esta actividade de “efectuar o reconhecimento de um ma-
çon”, em ordem a franquear-lhe (ou recusar-lhe) a entrada no local onde vai reunir
ou está reunida a Loja como o “acto de telhar”.

Esta designação, como disse, advém da corruptela da palavra in-


glesa “Tyler”, mas acabou por, através de associação se confundir com outro
termo maçónico. Telhar e telhador facilmente se associam a telha, material utili-
zado para cobertura de edifícios. Se uma reunião maçónica está “telhada”, então
está “coberta”. Daí que facilmente se concluísse que, se uma reunião maçónica
está “coberta”, isso equivale a dizer que “está a coberto” (da indiscrição dos pro-
fanos).

Esta associação, por sua vez, originou uma outra designação do Guarda Ex-
terno, ou Telhador: a de Cobridor, o Oficial que mantém a “Loja a Coberto”. Esta
designação, até pela susceptibilidade de confusão com um mais vernáculo signifi-
cado da palavra “cobridor” (basta recordar que, nas pecuárias de criação de gado
vacum costuma existir um touro cobridor...), determinou que esta última designa-
ção caísse em desuso. A Maçonaria preserva a tradição, mas não exageremos.

No Rito Escocês Antigo e Aceite, a função de guardar


a privacidade da Loja é assegurada por um Guarda Interno,
ou seja, o Oficial que assegura esse ofício, não se mantém,
como nos Ritos de York e Emulação, do lado de fora da
porta do local onde decorre a reunião, mas do lado de den-
tro, possibilitando-se-lhe, assim, que participe plenamente
na reunião.

É errado (embora um erro a que tenho assistido com alguma frequência)


denominar o Guarda Interno por “Telhador”, porque, ao contrário do Guarda Ex-
terno nos Ritos de York e de Emulação, não compete ao Guarda Interno no Rito
Escocês Antigo e Aceite (REAA), “Telhar”, isto é, testar a condição e o grau de
quem se apresenta como maçon, quem chega. No REAA, essa função é assegurada
pelo Experto e também, no início da sessão, pelos Vigilantes, através de uma acção
ritualmente prevista.

A razão por que a função de assegurar a privacidade da Loja é exercida, nos


ritos de York e de Emulação, por um Guarda Externo, enquanto no REAA tal é
efectuado por um Guarda Interno, reside em que, naqueles ritos, ao contrário
deste, não são admitidas armas no interior do local onde decorre a reunião da
Loja. É levado, naqueles ritos, ao limite da observância literal o princípio de que
os maçons devem deixar os seus metais à porta do Templo.

Este princípio (que tem simbolicamente um mais amplo significado, literal-


mente observado, impede que o metal da espada seja admitido no interior da sala
onde decorre a reunião da Loja.

No REAA, um rito que foi, desde o seu início, adoptado por


Lojas Militares e Lojas, que o não sendo, acolhiam militares, este
princípio não é tão literalmente observado e, não só são admitidas
espadas em Loja, como o uso de espada faz parte do equipamento
de alguns Oficiais de Loja e é requerido, em algumas circunstâncias,
a todos os Obreiros presentes.

Não se faça, porém, qualquer confusão: o Rito Escocês Antigo


e Aceite é um rito de Paz. A admissão de armas no local onde ocorre
a reunião da Loja não o contradiz, antes o acentua: tem-se arma,
mas nunca se usa contra um Irmão, e muito menos como reforço de
qualquer argumento.

A verdadeira Paz não resulta de não dispor de armas; advém de as ter, mas
não as usar. No Rito Escocês Antigo e Aceite o uso de espadas é meramente ceri-
monial. E, para que não haja acidentes, que, nos dias de hoje já não se fazem es-
padachins como antigamente, por via das dúvidas as espadas utilizadas são rom-
bas, isto é, não possuem lâminas afiadas e de material frágil.
Nos Ritos de York e de Emulação, o ofício de Guarda Externo é considerado
de alguma importância e muita responsabilidade, como facilmente se deduz da
tarefa de verificação das credenciais de quem se apresenta para entrar em Loja.

No Rito Escocês Antigo e Aceite, a sua responsabilidade é manifestamente


menor, quase se resumindo, na prática, ao exercício de funções de "Oficial Por-
teiro". É, na ordem hierárquica dos Ofícios, colocado em último lugar. Por isso
mesmo, o seu titular é sempre um maçon experiente. Leram bem. E eu não me
enganei na formulação da frase. Para não haver dúvidas, repito: por isso mesmo,
o seu titular é sempre um maçon muito experiente. Passo a explicar.

É o ofício considerado com menos dificuldade, com menor execução ritual,


colocado em último lugar na hierarquia dos ofícios de Loja, no Rito Escocês Antigo
e Aceite, o exercício do ofício de Guarda Interno é considerado uma prova de hu-
mildade.

É, assim, prioritariamente, reservado, ao maçon que, dois anos antes, exer-


ceu o ofício máximo na Loja, o de Venerável Mestre, e que no ano anterior, exer-
ceu a função de Ex-Venerável, principal conselheiro do Venerável Mestre seu su-
cessor.

Após ter exercido o principal ofício na Loja, ter manuseado os símbolos do


Poder de uma Loja, o malhete de Venerável e a Espada Flamejante, após seguida-
mente ter aconselhado quem lhe sucede nesse mais importante ofício (e ser, as-
sim, simbolicamente, o Poder por detrás do Poder), o maçon vai exercer o mais
humilde ofício na Loja, o de Guarda Interno.

Demonstra assim, e aprende dessa forma, que o maçon deve exercer todas
as funções, da mais importante à mais humilde, com igual interesse e empenha-
mento. Mostra assim que mereceu exercer o mais importante ofício em Loja e
com ele aprendeu que tão necessário é o mais humilde dos ofícios como o mais
importante deles e que, portanto, exerce este com a mesma naturalidade com
que exerceu o outro.
E, assim, com o exercício do mais humilde ofício, o maçon passa à honrosa
categoria de Antigo Venerável. Findo ele, retomará, em princípio, o seu lugar nas
Colunas da Loja, onde se manterá à disposição de seus Irmãos.

Artigo disponível em: https://a-partir-pedra.blogs-


pot.com/2008/06/guarda-externo-guarda-interno.html

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