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O AVENTAL
Antes propriamente dessa linha evolutiva, gostaríamos de estabelecer uma conexão com
as palavras do Irmão francês apresentadas anteriormente. Para tanto, lembremo-nos de
uma passagem inicial muito significativa e ainda muito viva nas mentes dos Aprendizes:
ao entregar o avental, o Venerável Mestre diz ao neófito: “- Ele (o Avental) vos lembrará
que um Maçom deve ter sempre uma vida ativa e laboriosa.” Além dessa forte simbologia
relacionada com o trabalho, quase unânime entre os grandes Mestres e escritores
Maçons, o Avental é objeto de várias interpretações, tendo em vista especialmente sua
configuração e apresentação. O Avental do Aprendiz, com a Abeta levantada formando
um triângulo sobre um retângulo, significa para alguns o quaternário sendo sobreposto
pelo ternário. Outros ainda interpretam o triângulo sobreposto como a alma flutuando
sobre o corpo. No 1º Grau (Aprendiz), a alma estaria acima do corpo, ainda desligada, e a
partir do 2º Grau (Companheiro Maçom), a alma já estaria dentro do corpo, fazendo desse
seu instrumento e domínio.
Para alguns escritores, a origem do Avental está ligada a tempos muito remotos, como o
Paraíso Terrestre. Alguns irmãos vêem Adão como o inventor do Avental, representado
na folha de parreira, a qual cobria seus órgãos genitais. Quanto a esta origem, as
objeções são muito grandes, tendo em vista que a base cientifica ou mesmo filosófica
para tal tipo de análise se mostrar praticamente inexistente. Se é verdade que a
Maçonaria não se pretende ser apenas um sociedade cientifica e filosófica, é fato que
toma como base dados científicos para justificar muita de suas concepções. Ao fazer uma
análise de tal porte, deveria-se esperar uma explanação um pouco mais exaustiva, tendo
em vista a originalidade da idéia. Contudo, pelas bases às quais tivemos acesso, tal
assertiva se mostra não muito consistente. O Irmão Assis Carvalho, inclusive, demonstra
uma certa ironia ao comentar tal fato, classificando como “uma fantasia, um afã criativo”
enfim, conotando que a origem do Avental não está, em hipótese alguma, ligada à figura
religiosa de Adão.
Outros também vêem uma origem mais que milenar para o surgimento do Avental, tendo
como base os Mistérios Egípcios, Persas, Indus, entre outros. Nesse ponto,
descreveremos uma das possíveis formas de tal Avental egípcio: era triangular, com a
cúspide para cima e com vários adornos diversos dos hoje existentes. Alem disso, a faixa
ao redor do corpo que o sustentava não tinha apenas este propósito, mas estava
intensamente magnetizada com o corpo. Há também, acerca deste possível Avental,
descrições mais pormenorizadas sobre o Avental dos Mestres, o que, como já se afirmou,
não se mostra pertinente com a proposta deste trabalho. Contudo, vale ressaltar que se
faziam presentes as rosetas e uma cor azul pálida, simbolizando a inocência branca
sendo substituída pelo conhecimento, o céu azul.
Mais uma vez, as objeções a esta possível origem da insígnia sob análise neste singelo
trabalho são muitas. Um dos mais respeitados autores Maçons, o Irmão José Castellani, é
absolutamente claro em classificar tal proposição como fantasia. Um dos pontos mais
significativos de sua critica se refere ao cingidor, sobre o qual o Irmão afirma: “Quanto ao
simbolismo do cingidor, ou seja, dos cordéis que prendem o Avental à cintura, não há
comentários a fazer, pois se trata de elucubração de ocultistas...” Tais objetos egípcios
são vistos, por este mesmo autor, como uma proteção para as vestimentas da antiga
aristocracia, ou no máximo, um protetor genital.
Contudo, ao mesmo tempo em que as Grandes Lojas Antigas alçaram o Avental como
símbolo, e, conseqüentemente, modificaram sua forma, passando a utilizar tecidos mais
leves tal como o cetim, o brim e o linho, a vaidade, algumas vezes exagerada de alguns
Irmãos, provocaram uma verdadeira revolução no Avental. Verdadeiras obras de arte,
pinturas, foram realizadas nos Aventais das Grandes Lojas dos Modernos. Novos
símbolos, tal como roseiras, fitas, bordados, foram introduzidos nos Aventais,
especialmente dos Graus de Mestre. Enquanto nas Grandes Lojas Antigas predominavam
a simplicidade destes instrumentos Maçônicos tão preciosos, principalmente no Grau de
Aprendiz, sendo o branco predominante, até pelo material utilizado, o couro de ovelha,
nas Grandes Lojas Modernas houve uma radical transformação exteriorizada nas pinturas
das Abetas, na criação de laços, pinturas de novos símbolos, entre outros. Quanto maior
o Grau, maiores as “sofisticações” encontradas.
Quanto a esta sofisticação dos Aventais, e esta nova função de certa forma “decorativa”,
dois comentários se mostram muito pertinentes. O primeiro, tendo como base assertivas
de Assis Carvalho, tendo como objeto o Cavaleiro Miguel André de Ramsay, codificador
do Rito Escocês. Buscando negar a origem Operativa da Maçonaria, e afirmar uma
origem Nobre, como sucessores dos Templários, de Jacques De Moley, o Irmão Ramsay
impulsionou a criação de Graus e nomes pomposos na Maçonaria e, conseqüentemente,
os mais belos e ricos Aventais foram sendo também criados. Além disso, cabe agora
relembrarmos a definição introduzida no começo de nosso trabalho, atribuída a Jules
Boucher: “o Avental constitui-se no essencial adorno do Maçom.” Raimundo Rodrigues
explica que a palavra adorno tem o sentido de enfeite, decoração. Conclui ele na
imprecisão de sintaxe no uso de tal palavra, já que a função fundamental ou essencial do
Avental seria simbolizar o trabalho ao qual os Maçons devem se entregar. Contudo,
fazendo uma outra análise, podemos compreender a utilização de tal vocábulo, visto que,
para muitos Irmãos, a utilização do Avental ficou muito ligada à idéia de enfeitar-se para
quando da participação em Loja. Aliás, conforme relata Assis de Carvalho, eram comuns
os Maçons das Grandes Lojas Modernas saírem das sessões e caminharem por Londres
devidamente trajados, felizes na utilização de seus Aventais, enquanto os Maçons das
Grandes Lojas Antigas, por estarem acostumados a utilizar o Avental quando em oficio,
visto que muitos ainda eram Operários, utilizarem apenas os simples Aventais quando em
Loja ou justamente no local de labuta.
Em 1813, com a unificação das duas grandes Potências Inglesas, houve também a
edição de um normativo regulamentando e padronizando os Aventais, de forma a coibir os
inúmeros abusos. Logicamente, alguns símbolos introduzidos ao longo do tempo foram
consolidados, mas os exageros cessaram, e, até hoje, pelo que afirma Assis Carvalho,
não houve grandes mudanças nos Aventais Ingleses, caracterizados pelo rito York.
Bibliografia
Ritual do R:.E:.A:.A:.