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SEISCENTOS ANOS DE RITUAL NA ORDEM

Por: Harry Carr

Tradução
Paulo Daniel Monteiro
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

INTRODUÇÃO
Irmãos, muitos de vocês devem saber que eu viajo longas
distâncias no curso de minhas obrigações com conferências e
quanto mais longe vou, mais abismado fico ao ver que muitos
Irmãos acreditam, muito sinceramente, que o nosso ritual
maçônico desceu do céu, diretamente das mãos do Rei
Salomão. Eles estão muito seguros de que foi em Inglês, é
claro, porque é a única língua que falam lá em cima. Eles
estão igualmente seguros que tudo foi lavrado em dois tabletes
de pedra, para que, os céus proíbem, nenhuma simples palavra,
pudesse ser alterada; e muitos deles acreditam que o Rei
Salomão, na sua própria Loja, praticava o mesmo ritual que
eles praticam na deles.
Mas não foi dessa maneira e, nesta noite tentarei esboçar
para vocês a história de nosso ritual desde seu começo até o
ponto em que ele foi virtualmente padronizado, em 1813; mas
vocês precisam lembrar, que enquanto eu falo do ritual Inglês
também lhes dou a história do seu próprio ritual. Uma coisa
vai ser incomum na conversa dessa noite. Esta noite nós não
teremos nenhum conto de fadas. Cada palavra que eu proferir
será baseado em documentos que podem ser provados; e em
poucas raras ocasiões quando, apesar de tendo os documentos,
não termos a prova completa e perfeita, direi em alto e bom
som “nós achamos...” ou “nós acreditamos...”. Então vocês
saberão que estaremos, por assim dizer, em terreno incerto –
mas darei a vocês o melhor que conheço. E já que uma
conversa dessa espécie deve ter um ponto de partida
apropriado, vamos começar dizendo que a Maçonaria não
começou no Egito, ou Palestina, ou Grécia, ou Roma.

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Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

INÍCIO DA ORGANIZAÇÃO PROFISSIONAL MAÇÔNICA


Começou em Londres, Inglaterra, no ano de 1356, uma data
muito importante e começou como resultado de uma boa,
antiquada, grande disputa acontecendo em Londres entre
maçons talhadores, os homens que cortavam a pedra e os
maçons assentadores e ajustadores, os homens que na verdade
construíam paredes. Os exatos detalhes da rixa não são
conhecidos, mas como resultado dessa disputa, 12 hábeis
mestres maçons, com alguns homens famosos entre eles, se
apresentaram ao prefeito e vereadores na Câmara Municipal de
Londres, e com permissão oficial, esboçaram um simples
código de regulamentos da profissão.
As palavras de abertura daquele documento, o qual ainda
sobrevive, dizem que aqueles homens tinham se juntado
porque seu ofício nunca havia sido regulado dessa forma, como
outros ofícios foram. Então aqui, neste documento, nós temos
uma garantia oficial que esta foi a primeiríssima tentativa de
alguma espécie de organização para os maçons e à medida que
o lemos, a primeira regra que eles esboçaram nos dá um indício
para demarcar a disputa que eu estava falando. Eles
acordaram “Que todo o homem do ofício pode trabalhar em
qualquer tarefa concernente ao ramo se ele for perfeitamente
habilitado e conhecedor do mesmo”. Irmãos, aquilo era a
sabedoria de Salomão! Se você conhecesse o trabalho, você
poderia executar o trabalho e ninguém poderia te parar! Se
nós tivéssemos tanto bom senso hoje em dia na Inglaterra,
quanto melhor nós seríamos.
A organização que foi acertada naquele momento tornou-se,
em vinte anos, a Companhia dos Maçons de Londres (London
Masons Company), a primeira guilda de ofício de maçons e um
dos ancestrais diretos da nossa Franco Maçonaria de hoje.

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Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

Esse foi o verdadeiro começo. Mas a Companhia dos Maçons


de Londres não era uma loja; era uma guilda de ofício e eu
devo despender um bom tempo tentando explicar como as lojas
começaram, um problema difícil porque nós não temos
registros da efetiva fundação das primeiras lojas operativas.
Em resumo, as guildas eram organizações municipais,
grandemente favorecidas pelas cidades porque ajudavam na
administração dos assuntos municipais. Em Londres, por
exemplo, de 1376 em diante, cada ofício elegia dois
representantes que se tornavam membros do Conselho Comum,
todos juntos formando o governo da cidade. Mas o ofício
maçônico não servia para a organização da cidade. Muito de
seu principal trabalho era fora das cidades – os castelos, as
abadias, os monastérios, os trabalhos de defesa, os realmente
grandes trabalhos de maçonaria estavam sempre longe das
cidades. E nós acreditamos que era nesses lugares, onde não
havia outro tipo de organizações de ofício, que os maçons, que
eram engajados naqueles trabalhos por anos, se agregaram eles
próprios em lojas, imitando guildas, para que tivessem alguma
forma de autogoverno no trabalho, enquanto estavam longe de
outras formas de controle profissional.
A primeira real informação sobre lojas chega até nós de uma
coleção de documentos que são conhecidos como “Antigas
Obrigações” (Old Charges) ou as “Constituições Manuscritas”
da maçonaria, uma coleção maravilhosa. Elas começam com
o Manuscrito Regius de 1390; seguido pelo Manuscrito Cooke
datado de 1410, e nós temos 130 versões desses documentos
correndo através do século dezoito.
A versão mais antiga, o Manuscrito Regius, está em versos
rimados e difere em alguns aspectos dos outros textos, mas em
suas formas gerais e conteúdo, eles são muito parecidos. Eles

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Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

começam com uma Oração de Abertura, Cristã e Trinitária e


então continuam com a história da ordem, começando nos
tempos da Bíblia e em terras bíblicas e traçam a ascensão da
ordem e sua expansão através da Europa até atingir a França e
foi então trazida através do canal e finalmente estabelecida na
Inglaterra. Uma história inacreditavelmente ruim; qualquer
professor de história cairia morto se fosse desafiado a prová-la;
mas os maçons acreditavam nela. Era a sua garantia de
respeitabilidade como uma venerável ordem.
Então, depois da história, encontramos os regulamentos, as
verdadeiras Obrigações, para mestres, companheiros e
aprendizes, incluindo diversas regras de caráter puramente
moral, e isso era tudo. Ocasionalmente, o nome de um dos
personagens muda, ou a nomeação de um regulamento será
alterada levemente, mas tudo segue o mesmo padrão geral.
Afora essas três seções principais, oração, história e
Obrigações, em muitos deles encontramos poucas palavras as
quais indicam os primórdios de uma cerimônia maçônica. Eu
devo adicionar que não se podem encontrar todas as
informações em um único documento; mas quando nós os
estudamos como uma coleção é possível reconstruir os esboços
de uma cerimônia de admissão daqueles dias, a primitiva
cerimônia de admissão na ordem.
Nós sabemos que a cerimônia, tal como era, começava com
uma oração de abertura, então havia a “leitura” da história.
(Muitos documentos posteriores se referem a essa “leitura”).
Naqueles dias, 99 maçons em 100 não sabiam ler e nós
acreditamos, entretanto, que eles selecionavam seções
particulares da história as quais decoravam e recitavam de
memória. Ler o texto todo, mesmo que soubessem ler, tomaria

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muito tempo. Então a segunda parte da cerimônia era a


“leitura”.
Então, encontramos a instrução, que aparece regularmente
em praticamente todo documento, usualmente em Latim e diz:
“Então um dos sábios segura um livro (algumas vezes ‘o livro’,
algumas vezes a ‘Bíblia’ e algumas vezes a ‘Bíblia Sagrada’) e
ele ou eles que serão admitidos colocarão sua mão sobre ele e
as seguintes Obrigações serão lidas”. Naquela posição os
regulamentos eram lidos ao candidato e tomavam seu
compromisso, um simples compromisso de fidelidade ao rei, ao
mestre e à ordem, que ele deveria obedecer aos regulamentos e
nunca trazer vergonha à ordem. Isto era uma condução direta
do compromisso da guilda, a qual era provavelmente a única
forma que eles conheciam; sem babados, sem penalidades, um
simples juramento de fidelidade ao rei, ao empregador (o
mestre) e ao ofício.
Deste ponto em diante, o juramento torna-se coração e
essência, o centro crucial de qualquer cerimônia maçônica. O
Regius, que é a primeira das versões a sobreviver, enfatiza isso
e vale à pena citar aqui. Depois da leitura das Obrigações do
Manuscrito Regius, temos estas palavras: “E todos os pontos
acima, a todos eles, ele precisa jurar. E todos jurarão o mesmo
juramento dos maçons, sejam eles determinados, sejam eles
relutantes”.
Gostassem ou não, havia apenas uma chave que abriria a
porta para dentro da ordem e esta era o juramento do maçom.
A importância, a qual o Regius anexa a ele, nós encontramos
repetidas vezes, não nas mesmas palavras, mas a ênfase está
sempre lá. O juramento ou o compromisso é a chave para a
cerimônia de admissão.

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Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

Assim descrevi para vocês, a mais antiga cerimônia e agora


posso justificar o título de meu trabalho, Seiscentos Anos de
Ritual da Ordem. Temos 1356 como a data do início da
organização do ofício maçônico e por volta de 1390 a mais
antiga prova que indica uma cerimônia de admissão. Devido à
diferença, em algum lugar entre essas duas datas, foi onde tudo
começou. Isto é quase exatamente 600 anos de história
provável e nós podemos provar cada etapa de desenvolvimento
dali em diante.
Maçonaria, a arte da construção, começou milhares de anos
antes disso, mas, para os antecedentes de nossa própria
Maçonaria, só podemos voltar à linha direta da história que
pode ser provada e é 1356, quando realmente começou na
Bretanha.
E agora há outro ponto que precisa ser mencionado antes
que eu vá adiante. Eu tenho falado de um tempo quando havia
um grau. Os documentos não dizem que havia somente um
grau, eles simplesmente indicam apenas uma cerimônia, nunca
mais que uma. Mas acredito que não poderia ser para o
aprendiz, ou aprendiz iniciado; deveria ser para o companheiro
do ofício, o homem que era completamente treinado. As
Antigas Obrigações não dizem isso, mas há ampla prova
externa da qual tiramos essa conclusão. Temos muitas ações
judiciais e decisões legais que mostram que nos anos 1400 um
aprendiz era um bem pessoal de seu mestre. Um aprendiz era
peça de equipamento, que pertencia a seu mestre. Ele podia
ser comprado ou vendido da mesma forma que o mestre
compraria um cavalo ou uma vaca e sob essas condições, é
impossível que um aprendiz tivesse qualquer status na loja.
Isso veio muito depois. Assim se nós pudermos imaginar nós
próprios de volta no tempo quando então havia um só grau, ele

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deveria ser para o maçom completamente treinado, o


companheiro da ordem.
Quase 150 anos haveriam de passar até que as autoridades e
o parlamento constatassem que talvez um aprendiz fosse na
verdade um ser humano também. No inicio dos anos 1500
temos na Inglaterra toda uma coleção de estatutos de trabalho,
leis trabalhistas, as quais começam a reconhecer o status de
aprendizes e naquele tempo começamos a encontrar evidências
de mais de um grau.
De 1598 em diante, temos atas de duas Lojas Escocesas que
praticavam dois graus. Nós voltaremos a isso mais tarde.
Antes dessa data não há vestígios de graus, exceto talvez num
documento Inglês, o Manuscrito Harleian, n° 2054, datado de
1650, mas acredita-se ser uma cópia de um texto do final dos
anos 1500, agora perdido.

PRIMEIRA ALUSÃO A DOIS GRAUS


O Harleian MS é uma versão perfeitamente normal das
Antigas Obrigações, mas amarrado a ele há uma nota na
mesma caligrafia contendo uma nova versão do juramento do
maçom de particular importância, por que mostra uma grande
mudança das formas anteriores de compromisso. Aqui está:
(There is his all words & signs of a free Mason to be revealed
to you which you will answer: before God at the Great &
terrible day of Judgment you keep secret & not to revaile the
same heares of any person but to the M‘s & fellows of the said
Society of free Masons so help me God xc.)
Irmãos, eu sei que recitei para vocês muito rápido, mas
agora vou ler a primeira linha novamente:

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“Há algumas palavras e sinais de um franco maçom a serem


reveladas a você...” “Algumas palavras e sinais...” plural, mais
que um grau. E aqui num documento que deve ser datado de
1550, temos a primeira alusão da expansão das cerimônias em
mais de um grau. Poucos anos depois temos atas que provam
a prática de dois graus. Mas percebam, Irmãos, que as
cerimônias devem também ter começado a assumir uma forma
mais moderna.
Elas provavelmente começavam com uma prece, uma
narração de parte da “história”, a postura livro nas mãos para a
leitura das Obrigações, seguidas de um compromisso e então a
transmissão das palavras e sinais secretos, quaisquer que
fossem. Não sabemos quais eram, mas sabemos que em
ambos os graus as cerimônias começavam a tomar a forma de
nossas modernas cerimônias. Tivemos que esperar muito
tempo antes de encontrar o conteúdo, os verdadeiros detalhes
dessas cerimônias, mas realmente os encontramos ao final dos
anos 1600 e este é meu próximo tema. Lembrem-se, Irmãos,
nós ainda estamos com apenas dois graus e eu vou agora tratar
com os documentos que verdadeiramente descrevem essas duas
cerimônias, como primeiro apareceram no papel.

O MAIS ANTIGO RITUAL PARA DOIS GRAUS


A mais antiga prova que temos, é um documento datado de
1696, belamente escrito à mão e conhecido como Edinburgh
Register House Manuscript, por que foi achado no Escritório
de Registros Públicos de Edinburgh (Public Record Office of
Edinburgh). Tratarei primeiro da parte do texto que descreve
as reais cerimônias. Tem o título de “A FORMA DE
TRANSMITIR A PALAVRA MAÇONICA” que é um modo
de dizer que é a maneira de se iniciar um maçom. Começa

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com a cerimônia que faz do aprendiz um “aprendiz iniciado


(geralmente três anos depois do começo de seu contrato),
seguida pela cerimônia para admissão do mestre maçom ou do
companheiro da ordem”, o título do segundo grau. Os
detalhes são fascinantes, mas eu posso descrevê-los apenas
brevemente e sempre que puder, usarei as palavras originais,
para que vocês possam ter o sentido da coisa.
Dissemos que o candidato “era colocado de joelhos” e “após
muitas cerimônias para assustá-lo”, (coisa pesada, grosserias
mesmo se vocês preferem; aparentemente eles tentavam
aterrorizar o discernimento dele) “após muitas cerimônias para
assustá-lo”, ele pegava o livro e naquela posição, fazia o
juramento e aí está a mais antiga versão do compromisso de
um maçom descrito como parte da cerimônia completa.
“Pelo próprio Deus e você responderá a Deus quando estiver
nu perante ele, no grande dia, você não revelará qualquer parte
do que vai ouvir ou ver nessa hora por palavra ou escrita nem
escrever em qualquer tempo nem desenhar na neve ou areia,
nem falará sobre isso a não ser a um maçom iniciado, assim
Deus o ajude”.
Irmãos, se vocês estiverem ouvindo cuidadosamente, vocês
acabaram de ouvir a mais antiga versão das palavras “escrever,
esculpir, marcar, entalhar diferente de delinear”. A
primeiríssima versão é esta que eu acabei de ler, “não escrever
nem por em palavras, não desenhar com a ponta da espada ou
outro instrumento na neve ou areia”. Percebam, Irmãos, não
havia penalidade na obrigação, apenas uma justa e plena
obrigação de segredo.
Depois que ele tinha terminado a obrigação o mais jovem
era retirado da loja pelo último candidato, a última pessoa que

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tinha sido iniciada antes dele. Fora da porta da loja era-lhe


ensinado o sinal, posturas e palavras de entrada (não sabemos
quais eram, até que ele volte). Ele voltava, tirava seu chapéu e
fazia “uma ridícula reverência” e então dava as palavras de
entrada, as quais incluíam uma saudação ao mestre e aos
irmãos. Aquilo acabava com as palavras “sob não menos dor
que cortar minha garganta” e há uma espécie de anotação que
diz “você deve fazer o sinal quando disser isso”. Esta é a mais
antiga aparição em qualquer documento, do sinal do aprendiz
iniciado.
Agora Irmãos, esqueçam tudo sobre suas lojas lindamente
mobiliadas; estou falando de maçonaria operativa, quando a
loja era ou uma pequena sala no fundo de um bar, ou sobre o
bar, ou mesmo uma divisória anexa a um grande edifício onde
trabalhavam; e se tivesse uma dúzia de maçons ali, seria uma
boa audiência. Então, após o rapaz ter dado o sinal, ele era
trazido ao Mestre para a “incumbência”. Aqui está o Mestre,
aqui, pertinho está o “instrutor” e ele, o instrutor, sussurra a
palavra no ouvido de seu vizinho, que sussurra a palavra ao
homem em seguida e assim vai, em volta da loja, até que chega
ao Mestre. E o Mestre dá a palavra ao candidato. Neste caso,
há uma espécie de anotação bíblica, que mostra, longe de
qualquer dúvida, que a palavra não era uma palavra, mas duas.
B e J, nome de duas colunas, para o aprendiz iniciado. Isto
será muito importante mais tarde, quando começarmos a
estudar a evolução para três graus. No sistema de dois graus
havia duas colunas para o aprendiz.
Este era realmente o trabalho completo, mas era seguido por
um conjunto de simples perguntas e respostas intitulado
“ALGUMAS PERGUNTAS QUE OS MAÇONS USAM
COLOCAR ÀQUELES QUE TERÃO A PALAVRA ANTES

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DE CONHECÊ-LA”. Isso incluía umas poucas perguntas para


testar um estranho de fora da loja e esse texto nos dá a primeira
e mais antiga versão do catecismo maçônico. Aqui estão
algumas das quinze perguntas: “Você é um maçom? Como eu
saberei? Quando você foi iniciado? O que torna uma loja
verdadeira e perfeita? Onde foi a primeira loja? Há alguma
luz em sua loja? Há alguma jóia em sua loja?”. Os primeiros
tênues princípios do simbolismo maçônico. É incrível como
eram poucos no início. Ali, Irmãos, 15 perguntas e respostas,
as quais deveriam ser respondidas pelo candidato; ele não tinha
tido tempo para aprender as respostas. E aquilo era a completa
cerimônia de iniciação de aprendiz.
Agora lembrem-se, Irmãos, estamos falando sobre
maçonaria operativa, nos dias em que maçons ganhavam a vida
com maço e cinzel. Sob essas condições o segundo grau era
obtido sete anos depois da data de iniciação, quando o
candidato volta para ser feito “mestre ou companheiro”.
Dentro da loja esses dois graus eram iguais, ambos maçons
completamente treinados. Fora da loja, um era empregador,
outro empregado. Se ele era filho de um Burguês Livre da
cidade, ele poderia tomar sua Liberdade e se estabelecer como
mestre imediatamente. De outra forma, ele teria de pagar pelo
privilégio e até então, o companheiro permanecia um
empregado. Mas dentro da loja, ambos tinham o mesmo
segundo grau.
Então, depois do término de seus contratos de aprendizado e
depois de servir mais um ano ou dois por “carne e honorários”
(isto é, acomodação mais salário), ele se achegava então para o
segundo grau. Ele era “colocado de joelhos e fazia seu
juramento mais uma vez”. Era o mesmo compromisso que ele
assumira como aprendiz, omitindo apenas três palavras. Aí ele

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era retirado da loja pelo mestre mais recente e lá lhe eram


ensinados os sinais, postura e palavras de passe (ainda não
sabemos quais eram). Ele voltava e dava o que é chamado de
“sinal de mestre”, mas não é descrito, então não posso falar
sobre isso. Depois ele era trazido para o compromisso. E
então, o mestre mais recente, o parceiro que o tinha levado para
fora, sussurra a palavra para o vizinho, cada um à sua vez passa
em volta da loja, até que ela chega ao Mestre, e o Mestre, nos
cinco pontos da perfeição – segundo grau Irmãos – dava a
palavra ao candidato. Os cinco pontos naqueles dias – pé com
pé, joelho com joelho, coração com coração, mão com mão,
ouvido com ouvido – assim que era nessa primeira aparição.
Sem lenda de Hiram, sem babados, só os CPDP e uma palavra.
Mas nesse documento a palavra não era mencionada. Ela
aparece logo em seguida e eu tratarei disso mais tarde.
Havia apenas duas perguntas de teste para o grau de
companheiro e esta era a quantidade. Dois graus, lindamente
descritos, não apenas nesse documento, mas em dois outros
textos irmãos: o Manuscrito Chetwode Crawley, datado por
volta de 1700 e o Manuscrito Kevan, descoberto recentemente,
datado de mais ou menos 1714. Três documentos
maravilhosos, todos do sul da Escócia, todos contando
exatamente a mesma história – material maravilhoso, se
ousarmos confiar neles. Mas, sinto dizer aos Irmãos que nós,
como cientistas em maçonaria, ousamos não confiar neles, por
que foram escritos violando um juramento. Colocando mais
simplesmente, quanto mais eles nos dizem, menos confiáveis
são, a não ser que por alguma casualidade ou por algum
milagre, pudermos provar, como devemos fazê-lo, que esses
documentos foram de fato usados numa loja; caso contrário,
são inúteis. Nesse caso, por um muito feliz acaso,

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conseguimos as provas e faz-se uma história adorável. É isto


que vocês terão agora.
Lembrem-se, Irmãos, nossos três documentos são de 1696 a
1714. Bem no meio desse período, no ano de 1702, um
pequeno grupo de cavalheiros escoceses decidiu que queriam
ter uma loja em seu próprio quintal, por assim dizer. Eram
cavalheiros que viviam no sul da Escócia por Galashiels, umas
30 milhas a sudoeste de Edimburgo. Eram todos notáveis
proprietários naquela área – Sir John Pringle de Hoppringle, Sir
James Pringle seu irmão, Sir James Scott de Gala seu cunhado,
mais cinco outros vizinhos se juntaram e decidiram formar uma
loja só para eles, na vila de Haughfoot, perto de Galashiels.
Escolheram um homem com bela caligrafia para ser escrevente
e pediram a ele para comprar um livro de atas. Ele comprou.
Um adorável livrinho encadernado em couro (tamanho em
oitavo) e pagou “catorze shillings” escoceses por ele. Eu não
entrarei agora nas dificuldades do sistema monetário, mas hoje
seria alguma coisa equivalente a vinte e cinco centavos.
Sendo escocês, ele anotou cuidadosamente a quantia e a
registrou no seu livro de atas, para ser reembolsado na primeira
obrigação financeira da sociedade. Então, para facilitar a
primeira reunião da loja, ele começou com o que seria a folha
um, com algumas notas, não sabemos os detalhes. Mas ele
continuou e copiou na íntegra um desses rituais escoceses,
completo do começo ao fim.
Quando terminou, ele havia preenchido dez páginas e as
últimas vinte e nove palavras do ritual eram as primeiras cinco
linhas no topo da página onze. Agora, ele era um escocês e eu
lhes disse que ele havia pago “quatorze shillings” por aquele
livro e a idéia de deixar três quartos de página vazios, ofendia
sua avareza. Então, para evitar o desperdício, abaixo das vinte

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e nove palavras, ele colocou um título “O Mesmo Dia” e foi


direto na ata da primeira reunião da loja. Espero que vocês
possam imaginar tudo isso meus Irmãos, por que eu descrevi a
história da “Loja de Haughfoot”, a primeira Loja totalmente
não operativa na Escócia, trinta e quatro anos mais velha que a
Grande Loja da Escócia. As atas foram lindamente
conservadas por sessenta e um anos e eventualmente em 1763,
a Loja foi engolida por uma das lojas maiores da redondeza.
O livro da atas foi para a Grande Loja de Selkirk, desceu de
Selkirk para Londres para que eu escrevesse a história.
Não sabemos quando isso aconteceu, mas alguma vez,
durante aqueles sessenta e um anos, alguém, talvez um dos
últimos secretários da loja, deve ter aberto aquele livro de atas,
bateu os olhos nas páginas de abertura e deve ter tido um
ataque! Ritual num livro de atas! Fora! E as primeiras dez
páginas desapareceram; estão completamente perdidas.
Aquele açougueiro deveria ter levado a página onze também,
mas nem mesmo ele, teve coração para destruir a ata da
primeiríssima reunião daquela maravilhosa loja. Assim foi
que a ata da primeira reunião que salvou aquelas vinte e nove
palavras douradas no topo da página onze e as vinte e nove
palavras são virtualmente idênticas com a porção
correspondente do Manuscrito de Edinburgh House Register e
seus dois textos irmãos. Aquelas preciosas palavras são uma
garantia que o outro documento é confiável e isso nos dá um
ponto inicial maravilhoso para o estudo do ritual. Nos não
temos apenas os documentos que descrevem a cerimônia;
temos também uma espécie de medida de comparação pela
qual podemos julgar a qualidade de cada novo documento à
medida que chega e nesse ponto, eles realmente começam a
chegar.

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Agora, Irmãos, deixem-me alertá-los de que até aqui


estamos falando de documentos escoceses. Os céus abençoem
os escoceses! Eles cuidaram de cada fragmento de papel e se
não fosse por eles nós praticamente não teríamos história.
Nossos primeiros e melhores materiais são praticamente
escoceses. Mas, quando os documentos ingleses começaram a
aparecer, parecem encaixar. Eles não apenas se harmonizam,
freqüentemente preenchem os vazios nos textos escoceses.
Daqui para frente vou nomear o país de origem dos
documentos que não forem ingleses.
Dentro dos poucos anos seguintes, encontramos um número
valioso de documentos de ritual, incluindo alguns da mais alta
importância. O primeiro desses é o Manuscrito Sloan, datado
de c1700, um texto inglês, hoje na British Library. Ele dá
várias “amarrações” que não tinham aparecido em nenhum
documento antes. Dá uma nova forma ao compromisso do
maçom o qual contém as palavras “sem equívoco ou reserva
mental”. Isso aparece pela primeira vez no Manuscrito
Sloane, e Irmãos, desse ponto em diante, cada detalhe de ritual
que eu lhes der, será uma “primeira vez”. Não vou repetir os
detalhes individuais toda vez que reaparecem nos textos
seqüentes, nem posso dizer precisamente quando uma prática
particular verdadeiramente começou. Simplesmente direi que
este ou aquele item aparece pela primeira vez, dando-lhes o
nome e data do documento pelo qual isso pode ser provado.
Se vocês concordarem com isso, perceberão – e eu imploro
que pensem nisso dessa maneira – que vocês estão observando
uma pequena planta, um viveiro da Maçonaria e cada palavra
que eu mencionar, será um novo movimento, uma nova folha,
uma nova flor, um novo galho. Vocês estarão observando o
ritual crescer; e se vocês virem desse modo, meus Irmãos,

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Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

saberei que não estarei perdendo meu tempo, por que esta, é a
única maneira de ver.
Agora, voltando ao Manuscrito Sloane que não tenta
descrever uma cerimônia completa. Ele tem uma fantástica
coleção de “amarras” e outros estranhos modos de
reconhecimento. Tem um catecismo de vinte e duas Perguntas
e Respostas, muitas delas similares às dos textos escoceses e há
uma nota que parece confirmar duas colunas para o Aprendiz.
Um parágrafo posterior fala de uma saudação (?) para o
Mestre, uma curiosa postura de “abraço”, com “a garra de
mestre pelas suas mãos direitas e a ponta dos dedos de suas
mãos esquerdas tocam na Espinha um do outro...”. Aqui a
palavra é dada como “Maha – Byn”, metade num ouvido e
metade no outro, para ser usada como palavra de teste.
Esta foi a primeira aparição em qualquer de nossos
documentos e se você está testando alguém, você deveria dizer
“Maha” e o outro teria que dizer “Byn”; se ele não dissesse
“Byn”, você não teria negócios com ele. (Demonstrar).
Falarei sobre diversas outras versões à medida que brotarem
mais tarde, mas devo enfatizar que aqui está um documento
inglês preenchendo os vazios em três textos escoceses e isto
acontece a toda hora.
Agora temos outro documento escocês, o Manuscrito
Dumfries N° 4, datado de c1710. Ele contém um monte de
material novo, mas eu posso mencionar poucos desses itens.
Uma dessas questões é: “Como você foi trazido?”
“Vergonhosamente com uma corda em volta do pescoço”.
Este foi o primeiro “cable-tow”; e uma resposta posterior diz
que a corda “é para me enforcar se eu trair minha confiança”.

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Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

O Dumfries também menciona que o candidato recebe o


“Segredo Real” ajoelhado “sobre meu joelho esquerdo”.
Entre muitas Perguntas e Respostas interessantes, ele lista
algumas penalidades não usuais daqueles dias. “Meu coração
tirado vivo, minha cabeça decepada, meu corpo enterrado na
marca da maré”. “Na marca da maré” é a primeira versão de
“à distância de um cabo da praia”. Irmãos, há muito mais,
mesmo em data tão antiga, mas devo ser breve e eu darei a
vocês todos os itens importantes à medida em nos movemos ao
próximo estágio.
Entretanto, essa era a situação no tempo que a primeira
Grande Loja foi fundada em 1717. Tínhamos apenas dois
graus na Inglaterra, um para o aprendiz e o segundo era para o
“mestre ou companheiro”. Dr. Anderson, que compilou o
primeiro Livro das Constituições Inglesas em 1723, descreveu
o segundo grau inglês como “Mestres e Companheiro”. O
termo escocês já tinha invadido a Inglaterra.
O próximo grande estágio na história do ritual, é a evolução
do terceiro grau. Na verdade, nós sabemos muita coisa do
terceiro grau, mas há algumas terríveis lacunas. Não sabemos
como ele começou ou por que começou e não podemos ter
certeza quem começou! À luz de uma vida de estudos, vou
dizer-lhes o que sabemos e vamos tentar preencher as lacunas.
Seria muito fácil, claro, se pudéssemos esticar as mãos e
puxar um grande livro de atas e dizer “Bem, este é o mais
antigo terceiro grau que aconteceu”, mas isso não funciona
dessa forma. Os livros de atas vieram bem mais tarde.

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ALUSÕES A TRÊS GRAUS


As primeiras menções do terceiro grau aparecem em
documentos como aqueles dos quais temos falado –
principalmente documentos que foram escritos como ajuda-
memória pelos homens que os possuíam. Mas temos que usar
as revelações também, revelações impressas por lucro ou
rancor – e teremos algumas alusões muito úteis do terceiro grau
bem antes que verdadeiramente aparecessem na pratica. E
assim, começaremos com um dos melhores, um pequeno e
lindo texto, uma única folha de papel, conhecida como “Trinity
College, Dublin, Manuscript”, datado de 1711, encontrado
entre papéis de um famoso doutor e cientista irlandês, Sir
Thomas Molyneaux. Este documento é encabeçado por uma
espécie de Tau Triplo e abaixo as palavras “Sob uma pena não
menor”. Isso é seguido por um conjunto de onze Perguntas e
Respostas e percebemos imediatamente que alguma coisa está
errada! Nós já temos três conjuntos perfeitos de quinze
perguntas, então onze perguntas deve ser tanto má memória
como má compilação – alguma coisa está errada! As
perguntas são perfeitamente normais, apenas não o suficiente
delas. Então, depois de onze perguntas, esperaríamos que o
escritor nos desse uma descrição do todo ou parte da
cerimônia, mas em vez disso, ele dá uma espécie de catálogo
das palavras e sinais do Maçom.
Ele dá o sinal (demonstrar) do Aprendiz com a palavra B.
Ele dá “articulações (de ossos) & tendões” como o sinal de
“companheiro”, com a palavra “Jachquin”. O “sinal de Mestre
é espinha (backbone)” e para ele (i.e. o MM) o escritor dá a
pior descrição do mundo para os CPDC. (Parece claro que
nem o autor da peça, nem o escritor do Manuscrito Sloane,

19
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

jamais ouviram falar dos Pontos do Companheiro ou souberam


descrevê-los). Aqui, como eu demonstro, estão as palavras
exatas, não mais, não menos:
Aperte o Mestre em sua espinha, ponha seu joelho entre os
dele e diga Matchpin.
Isso, meus Irmãos, é nossa segunda versão da palavra do
terceiro grau. Começamos com “Mahabyn” e agora
“Matchpin”, horrivelmente corrompida. Deixem-me dizer
agora, alto e claro, ninguém sabe qual palavra correta era. Era
provavelmente de origem hebraica originalmente, mas todas as
primeiras versões são degradadas. Poderíamos trabalhar para
trás, traduzindo do inglês, mas não poderíamos estar certos de
que nossas palavras em inglês estão corretas. Então, aqui no
Manuscrito “Trinity College, Dublin, MS”, temos, pela
primeiríssima vez, um documento com segredos separados para
três graus separados; aprendiz, companheiro e mestre. Não é
prova para três graus em prática, mas mostra que alguém
estava brincando com a idéia em 1711.
A peça seguinte de prova neste tema vem da primeira
revelação escrita e publicada para entretenimento ou por
rancor, num jornal inglês, The Flying Post. O texto é
conhecido como uma “Investigação do Maçom”. Nesse
tempo, 1723, o catecismo era muito mais longo e o texto
continha diversas peças de rima, todas interessantes, mas
apenas uma de particular importância ao meu presente
propósito e aqui está:
“Um Maçom iniciado tenho sido, Boaz e Jachin eu tenho
visto; Companheiro fui finamente jurado e conheço a Pedra
Polida, Diamante e Esquadro: conheço bem a Parte do Mestre
completa, como Maughbin honesto dirá você”.

20
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

Percebam, Irmãos, ainda há duas colunas para o Aprendiz e


novamente alguém está dividindo os segredos Maçônicos em
três partes para três categorias diferentes de Maçons. A idéia
de três graus está no ar. Ainda estamos procurando atas, mas
elas ainda não apareceram. A seguir, temos outro documento
inestimável, datado de 1726, o Manuscrito Graham, um texto
fascinante que começa com um catecismo de treze Perguntas e
Respostas, seguidas por uma coleção de lendas, principalmente
sobre personagens bíblicos, cada história com uma espécie de
tessitura Maçônica no seu todo. Uma lenda fala como três
filhos foram ao túmulo do pai, tentar se poderiam encontrar
alguma coisa sobre ele, que os conduzisse ao segredo virtuoso
que esse famoso pregador tinha. Eles abriram a tumba, nada
encontrando, salvo o corpo morto quase totalmente consumido,
agarraram um dedo que saiu de junta a junta então num puxão
no cotovelo eles levantaram o corpo morto e o sustentaram pé
por pé, joelho por joelho, peito por peito, face por face e mãos
às costas e imploraram socorro ao pai... então um disse ainda
tem tutano nesse osso e o segundo disse mas é um osso seco e
o terceiro disse ele cheira mal e eles concordaram em dar um
nome como é conhecido da franco maçonaria até esses dias...
Esta é a primeira história de uma exaltação num contexto
Maçônico, aparentemente um fragmento da lenda Hirâmica,
mas o velho senhor no túmulo era Pai Noé, não Hiram Abif.
Outra lenda diz respeito a “Bazalliell”, o maravilhoso
artesão que construiu o Templo móvel (Tabernáculo) e a Arca
da Aliança para os israelitas durante sua peregrinação no
deserto. A história vai que perto da morte, Bazalliell pediu
que uma lápide fosse erigida em seu túmulo, com uma
inscrição “de acordo com seu desejo” o que foi feito como
segue:

21
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

Aqui jaz a flor da maçonaria superior a muitos outros


parceiros de um rei e dois príncipes um irmão. Aqui jaz o
coração que todos os segredos guardou. Aqui jaz a língua que
nunca revelou.
As duas últimas linhas não poderiam ser mais apropriadas se
especialmente escritas para Hiram Abif; são virtualmente um
resumo da lenda hirâmica.
No catecismo, uma resposta fala por aqueles que... tendo
obtido uma voz tríplice por ser iniciado, elevado e exaltado e
confirmado por três diversas Lojas...
“Iniciado, elevado e exaltado” é claro o suficiente. “Três
diversas Lojas” significa três graus separados, três cerimônias
separadas. Não há dúvida de que tudo isso é uma referência a
três graus sendo praticados. Mas nós ainda queremos atas e
ainda não as temos. E sinto muito em dizer-lhes que as
primeiras atas que registraram um terceiro grau, fascinante e
interessante como são, referem-se a uma cerimônia que nunca
aconteceu numa loja; ocorreu às margens de uma Sociedade
Musical Londrina (London Musical Society). É uma adorável
história e é isso que terão agora.
Em dezembro de 1724 houve uma reunião numa pequena e
agradável loja na Taverna Queen’s Head, na Rua Hollis,
Strand, cerca de trezentas jardas do atual Freemasons’ Hall.
Gente legal; o melhor da sociedade musical, arquitetônica e
cultural eram membros dessa loja. Nessa noite em particular,
na qual estou interessado, Sua Graça, o Duque de Richmond
era Venerável da loja. Eu deveria acrescentar que Sua Graça,
o Duque de Richmond era também Grão Mestre naquela época
e você poderia chamá-lo de “gente fina”. É verdade que ele
era descendente da realeza bastarda, mas hoje em dia mesmo a

22
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

realeza ilegítima é considerada gente fina. Um par de meses


depois, sete dos membros dessa loja e um irmão que eles
emprestaram de outra loja decidiram que eles queriam fundar
uma sociedade musical e de arquitetura.
Eles deram a si um quilométrico título latino – Philo
Musicae et Architecturae Societas Apollini – que eu traduzo,
“Sociedade Apoloniana para os Amantes da Música e da
Arquitetura” e esboçaram um livro de regras que é
indescritivelmente lindo. Cada palavra escrita à mão. Parece
que o melhor estampador o escreveu e decorou.
Essas pessoas eram muito entusiásticas na sua Maçonaria e
na sua sociedade musical e esboçaram esse inusitado código de
regras. Uma regra era, por exemplo, que cada um dos
fundadores teria seu próprio brasão de armas ornado em lindas
cores nas páginas iniciais do livro da atas. Quantas lojas você
conhece em que cada fundador tem seu próprio brasão? Eles
amavam sua Maçonaria e fizeram outra regra, que ninguém
poderia vir junto às palestras de arquitetura ou às suas noites
musicais – os melhores maestros eram membros da sociedade –
ninguém poderia vir, se não fosse Maçom, ele teria que ser
iniciado antes para que o deixassem entrar; e por que eram tão
ciosos sobre o status maçônico de seus membros, eles
mantinham notas da biografia maçônica de cada membro assim
que ele associava. É dessa notas que somos capazes de ver o
que de fato acontecia. Eu poderia falar sobre eles a noite toda,
mas para nossa finalidade presente, só precisamos acompanhar
a carreira de um de seus membros, Charles Cotton.
Nos registros da Sociedade Musical lemos que em 22 de
dezembro de 1724, “Charles Cotton Esq. foi feito Maçom pelo
dito Grão-Mestre (i.e. Sua Graça o Duque de Richmond) na
loja de Queen’s Head. Nada poderia ser mais regular. Então,

23
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

em 18 de fevereiro de 1725 ... antes de fundarmos essa


Sociedade, uma loja foi formada ... para que Elevássemos
Charles Cotton Esq. ... “ e porque isso foi no dia da fundação
da sociedade, não podemos ter certeza se Cotton foi Elevado na
Loja ou na Sociedade Musical. Três meses depois, em 12 de
maio de 1725, “o Irmão Charles Cotton Esqr. Broth Papillion
Ball foi regularmente passado a Mestre”.
Agora temos a data da Iniciação, sua Elevação e sua
Exaltação; não há dúvida de que ele recebeu três graus. Mas,
“regularmente passado a Mestre” – Não! Não poderia ser
mais irregular! Aquilo era uma Sociedade Musical – não uma
loja! Mas eu lhes disse que eles eram gente fina e tinham
alguns visitantes muito ilustres. Primeiro, o Primeiro Grande
Vigilante veio vê-los. Depois, o Segundo Grande Vigilante.
E depois, eles receberam uma carta vexatória do Grande
Secretário e, em 1727, a sociedade desapareceu. Nada sobrou,
exceto seu livro de atas na Biblioteca Britânica (British
Library). Se você alguma vez for a Londres e passar pelo
Freemason’s Hall, verá um fac-símile maravilhoso desse livro.
Vale a pena uma viagem a Londres apenas para vê-lo. Aquele
é o registro do mais antigo terceiro grau. Eu gostaria que
pudéssemos produzir um “first timer” mais respeitável, mas
esse foi o mais antigo.
Devo dizer-lhes, Irmãos, que Gould, o grande historiador
maçônico acreditou, toda sua vida, que esse era o mais antigo
terceiro grau do qual houvesse qualquer outro registro. Mas
pouco antes de morrer ele escreveu um artigo brilhante nos
tratados da Loja Quatuor Coronati e ele mudou de idéia. Ele
disse, “Não, as atas estão abertas para larga interpretação e nós
não devemos aceitar isso como um registro de terceiro grau”.
Francamente, eu não acredito que ele provou seu caso e nesse

24
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

ponto eu ouso disputar com Gould. Observem-me


cuidadosamente, Irmãos, por que eu arrisco uma chance de ser
abatido nesse momento. Ninguém argumenta com Gould!
Mas eu aceito essa disputa porque, dentro de dez meses a partir
daquela data, teremos prova incontestável da prática do terceiro
grau. Como poderiam esperar, abençoados sejam, ela vem da
Escócia.
Loja Dumbarton Kilwinning, agora n° 18 no registro da
Grande Loja da Escócia, foi fundada em Janeiro de 1726. Na
reunião de fundação, estava o Venerável com sete Mestres
Maçons, seis Companheiros e três Aprendizes; alguns eram
maçons operativos, alguns não operativos. Dois meses depois,
em Março de 1726, temos essa ata:
“Gabriel Porterfield que compareceu na reunião de Janeiro
como Companheiro foi unanimemente admitido e recebido
como Mestre da Fraternidade e renovou seu compromisso e
deu seu dinheiro de entrada”.
Agora, percebam Irmãos, era um escocês que começou em
Janeiro como um Companheiro, um companheiro fundador de
uma nova Loja. Então voltou em Março e renovou seu
compromisso, o que significa que passou por outra cerimônia;
e deu seu dinheiro de entrada, o que significa que pagou por
isso! Não há dúvida sobre isso. E está aí o primeiro registro
cem por cento filetado a ouro de um terceiro grau.
Dois anos depois, em Dezembro de 1728, outra nova Loja,
Greenock Kilwinnig, em seu primeiríssimo encontro,
prescreveu taxas separadas para iniciação, elevação e
exaltação.

25
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

MAÇONARIA DISSECADA DE PRITCHARD’S


Daí em diante temos amplas provas da prática dos três graus
e então em 1730, temos a primeira revelação impressa que
alegava descrever todos os três graus, Maçonaria Dissecada,
publicada por Samuel Pritchard em Outubro de 1730. Era o
mais valioso trabalho de ritual que tinha aparecido até aquela
data, todo em forma de perguntas e respostas (em separado,
uma breve descrição) e teve uma enorme influencia na
estabilização de nosso ritual Inglês.
O seu “Grau de Aprendiz” – naquela época vinte e nove
perguntas – deu o nome de duas colunas ao aprendiz e a
primeira delas era “letrada” (identificada por uma letra).
Pritchard lidou para forçar um monte de ritual nas suas
perguntas e respostas de aprendiz. Eis uma das questões para
o candidato: “Como ele te fez maçom?”. Ouçam sua resposta:
“Com o meu joelho nu e dobrado e corpo dentro do
Esquadro, o Compasso estendido no meu Peito Esquerdo,
minha mão direita nua na Santa Bíblia: ali fiz meu juramento
(ou compromisso) de um Maçom”.
Toda essa informação numa só resposta! E a pergunta
seguinte era, “Você pode repetir esse juramento?” com a
resposta, “Eu me esforçarei” e Pritchard deu seguimento com
um juramento magnífico que continha três conjuntos de
penalidades (pescoço cortado, coração arrancado, corpo
severamente queimado e as cinzas esparramadas). Isso é
como apareceram em 1730. Documentos de 1760 os mostram
separados e desenvolvimentos posteriores não nos interessam
aqui.

26
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

O “Grau de Companheiro” de Pritchard, era bem curto,


somente trinta e três perguntas e respostas. Dava J sozinha
para o Companheiro (não “letrada”), mas agora o segundo grau
tem um monte de material novo relativo às colunas, à câmara
do meio, a escada em espiral e uma longa recitação sobre a
letra G, que começa com o significado de “Geometria” e
termina indicando “O Grande Arquiteto e Inventor do
Universo”.
O “Grau de Mestre ou a Parte do Mestre” de Pritchard, era
constituído de trinta perguntas, algumas com longas respostas,
contendo a mais antiga versão da lenda Hirâmica, literalmente
a história completa como ocorreu naqueles dias. Incluía o
assassinato pelos “três Rufiões”, os que procuraram, “Quinze
Amados Irmãos” que concordaram entre eles “que se não
encontrassem a Palavra nele ou sobre ele, a primeira Palavra
deveria ser a Palavra do Mestre”. Mais tarde, a descoberta, “o
desprendimento”, a exaltação pelos CPDP e outra nova versão
da palavra do Mestre Maçom que é dita significar “O
Construtor está prostrado”.
Não há razão para acreditar que Pritchard inventou a lenda
Hirâmica. À medida que lemos sua história em conjunção
com aquelas coletadas por Thomas Graham em 1726, pode
haver pequena dúvida se a versão de Pritchard surgiu de
diversas correntes de lendas, provavelmente um resultado mais
antigo da influência especulativa daqueles dias.
Mas o terceiro grau não era uma nova invenção. Ele surgiu
da divisão do primeiro grau original em duas partes, tanto que
o original segundo grau com seus CPDP e uma palavra
promoveu-se num terceiro lugar, tanto o segundo como o
terceiro, adquirindo materiais adicionais durante o período de
mudança. Isso foi alguma coisa entre 1711 e 1725, mas se

27
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

começou na Inglaterra, Escócia ou Irlanda, é um mistério; nós


simplesmente não sabemos.
Voltando a Samuel Pritchard e sua Maçonaria Dissecada.
O livro criou sensação; vendeu três edições e mais uma edição
pirateada em onze dias. Varreu todas as outras revelações para
fora do mercado. Pelos trinta anos seguintes, Pritchard foi
reimpresso seguidas vezes e nenhuma outra versão tinha a
menor chance; não havia nada à altura que pudesse se opor.
Nós perdemos alguma coisa com isso, por que não temos
registro de qualquer desenvolvimento de ritual durante os trinta
anos seguintes – um grande vazio de trinta anos. Apenas um
novo item apareceu em todo aquele período, a “Obrigação do
Iniciado”, uma miniatura de nossa versão moderna, num lindo
Inglês do Século Dezoito. Foi publicado em 1735, mas não
sabemos quem o escreveu. Para informações mais frescas
sobre o desenvolvimento do ritual, teremos que atravessar o
Canal, na França.

EVIDÊNCIAS ADICIONAIS NA FRANÇA


Os ingleses plantaram a Francomaçonaria na França em
1725 e ela tornou-se um elegante passatempo para a alta e a
baixa nobreza. O Duque de Tal, manteria uma loja em sua
casa, onde seria o Venerável para sempre e a qualquer hora ele
convidava seus amigos por perto, abririam a loja e fariam mais
alguns maçons. Foi assim que começou e levou dez ou doze
anos para que a Maçonaria vazasse para níveis inferiores.
Nesse tempo as lojas começaram a se reunir em restaurantes e
tavernas, mas por 1736, as coisas ficaram difíceis em França e
havia o receio de que as lojas fossem usadas para complôs e
conspirações contra o governo.

28
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

Em Paris, particularmente, precauções foram tomadas. Um


edital foi emitido por René Herault, Tenente-General de
Polícia, que donos de tavernas e restaurantes não poderiam
acomodar lojas maçônicas, sob pena de ser fechado por seis
meses e multa de 3.000 libras. Temos dois registros, ambos
em 1736/37, de conhecidos restaurantes que foram fechados
pela Polícia por este motivo. Isso não funcionou e a razão é
muito simples. No momento em que os oficiais fechavam as
reuniões em tavernas e restaurantes, elas voltaram para casas
particulares novamente; ficou clandestina, por assim dizer e a
Polícia ficou desamparada.
Finalmente, Herault decidiu que poderia causar maior dano
à Ordem, se ele pudesse transformá-la em motivo de riso. Se
ele pudesse fazê-la ridícula, ele estava certo que poderia
colocá-la fora do negócio para sempre e decidiu tentar. Ele
entrou em contato com uma de suas namoradas, uma certa
Madame Carton. Agora, Irmãos, eu sei que o que vou dizer-
lhes vai parecer o Jornal Nacional (English News Of the
World), mas estou dando história registrada e muito
importante. Então ele entrou em contato com Madame Carton,
que é sempre descrita como uma dançarina da Ópera de Paris.
O fato verdadeiro é que ela seguia uma profissão bem mais
antiga. A descrição que dá uma melhor idéia de seu status e
de suas qualidades, é que ela dormiu nas melhores camas da
Europa. Ela tinha uma clientela muito especial. Não era
coisa de mocidade; ela tinha cinqüenta e cinco anos naquela
época e uma filha com o mesmo interesse nessa linha de
negócio. E eu tenho que ser muito cuidadoso com o que vou
dizer, porque acredita-se que um de nossos Grãos-Mestres
estava envolvido com uma ou mesmo ambas. Tudo isso
estava nos jornais da época.

29
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

De qualquer maneira, Herault entrou em contato com


Madame Carton e pediu-lhe que obtivesse uma cópia do ritual
maçônico de um de seus clientes. Ele tinha a intenção de
publicá-lo e, em fazendo os maçons ridículos, ia colocá-los
fora de ação. Bem! Ela fez e ele fez. Em outras palavras,
ela conseguiu sua cópia do ritual e passou para ele. Foi
publicado primeiramente em França em 1737, sob o título de
“Recepção de um Franco-Maçom”. Em um mês foi traduzido
em três jornais londrinos, mas falhou na intenção de diminuir o
zelo francês pela Maçonaria e teve nenhum efeito na Inglaterra.
Farei um breve sumário.
O texto, em forma narrativa, descrevia apenas uma simples
cerimônia com duas colunas, tratando principalmente de
liturgia (floor-work) e apenas fragmentos de ritual. O
Candidato era privado de metais, joelho direito nu, pé esquerdo
usando alpercatas e fechado sozinho num quarto em total
escuridão, para enquadrá-lo mentalmente para a cerimônia.
Seus olhos eram vendados e seu padrinho batia três vezes na
porta da Loja. Após diversas perguntas, era apresentado e
admitido aos cuidados do Vigilante. Ainda vendado, era
conduzido três vezes em volta do pavimento no centro da Loja
e havia “chamas resinadas”. Era costumeiro em lojas
francesas naqueles dias, terem uma panela com brasas vivas
junto à porta da loja e no momento em que o candidato entrava,
eles espargiam pó de resina na brasa viva para produzirem uma
enorme chama que era para amedrontar a razão do candidato,
mesmo que estivesse vendado. (Em muitos casos, não
vendavam os candidatos até a hora do juramento.)
Então, no meio de um círculo de espadas, temos a postura
para a obrigação com três lotes de penalidades e detalhes de
Aventais e Luvas. Isso era seguido por sinais, toques e

30
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

palavras, relativos a duas colunas. A cerimônia continha


diversos traços desconhecidos na prática inglesa e algumas
partes da história parecem ser contadas na seqüência errada,
tanto que à medida que lemos, repentinamente percebemos que
o cavalheiro que estava ditando tinha em mente muito mais
assuntos mundanos. Então, Irmãos, esta foi a primeira
revelação da França, não muito boa, mas foi o primeiro de uma
torrente maravilhosa de documentos. Como antes, discutirei
apenas os mais importantes.
Meu seguinte, é ”O Segredo dos Francos-Maçons” (Le
Secret des Franc-Maçons), 1742, publicado por Abbé Perau,
que era Prior da Sorbonne, a Universidade de Paris. Um belo
primeiro grau, todo em forma narrativa e cada palavra a favor
da Ordem. Suas palavras para o Aprendiz e Companheiro
estavam em ordem inversa (e isso se tornou prática comum na
Europa), mas dizia praticamente nada sobre o segundo grau.
Descrevia minuciosamente os brindes e saudações maçônicas
com uma maravilhosa descrição do “Fogo Maçônico”.
Mencionava que o grau de Mestre era “uma grande lamentação
cerimonial da morte de Hiram”, mas não conhecia nada do
terceiro grau e dizia que os Mestres Maçons tinham apenas um
novo sinal e era tudo.
Nosso próximo trabalho é “O Catecismo dos Francos-
Maçons” (Le Catechisme des Franc-Maçons), publicado em
1744, por Louis Travenol, um famoso jornalista francês. Ele
dedicou seu livro “Ao Belo Sexo”, que ele adora, dizendo que
ele estava deliberadamente publicando esta revelação em seu
próprio benefício, porque os maçons o tinham excluído e seu
tom é moderadamente anti-maçônico. Ele continua com uma
nota “Ao Leitor”, criticando diversos itens do trabalho de
Perau, mas concordando que “Le Secret” é geralmente correto.

31
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

Por aquela razão (e Perau era desesperadamente ignorante


sobre o terceiro grau) ele limita sua revelação ao grau de
Mestre Maçom. Mas isto é seguido por um catecismo que é
um composto dos três graus, indivisível, embora seja fácil ver
quais perguntas pertencem ao Mestre Maçom.
O Catecismo também contém duas excelentes gravuras do
Painel do Grau, ou Desenhos do Piso, um chamado “Plano da
Loja para o Aprendiz-Companheiro” combinados e o outro
para “A Loja de Mestre”.
Travenol começa seu terceiro grau com “A História de
Adoniram, Arquiteto do Templo de Salomão”. Os textos
franceses geralmente dizem Adoniram em vez de Hiram e a
história é uma versão esplendida da Lenda Hirâmica. Nas
melhores versões francesas, a palavra do Mestre (Jehova) não
está perdida; os nove Mestres que foram enviados por Salomão
para encontrá-lo, decidiram adotar uma palavra substituta por
medo de que os três assassinos tenham compelido Adoniram a
divulgá-la.
Isso é seguido por um capítulo separado que descreve o
plano da Loja de Mestre, incluindo o Painel (Floor-drawing), e
a mais antiga cerimônia de abertura de uma Loja de Mestre.
Contém um curioso “Sinal de Mestre” que começa com uma
mão ao lado da testa (demonstrar) e termina com o polegar na
boca do estomago. E agora, Irmãos, temos uma magnífica
descrição da liturgia (floor work) no terceiro grau, a cerimônia
completa, tão lindamente descrita em finos detalhes que
qualquer Instrutor poderia reconstruir do começo ao fim – e
cada palavra desse capítulo é material novo que nunca apareceu
antes.

32
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

Claro que há muitos itens que diferem das práticas que


conhecemos, mas agora podem ver por que estou tão excitado
por esses documentos franceses. Eles dão detalhes
maravilhosos num tempo em que não tínhamos material
correspondente na Inglaterra. Mas antes de deixar o
Catecismo, devo dizer algumas palavras sobre sua figura do
Painel do terceiro grau, ou Floor-drawing que contém, como
tema central, um desenho de caixão, circundado por lágrimas,
as lágrimas que nossos antigos irmãos derramaram pela morte
de nosso Mestre Adoniram.
Sobre o caixão há um ramo de acácia e a palavra
“JEHOVA”, “ancien mot du Maitre” (antiga palavra do
Mestre), mas no grau francês não tinha sido perdida. Era o
Nome Inefável, que nunca deveria ser pronunciado, e aqui, pela
primeira vez, a palavra Jehova está sobre o caixão. O
diagrama, em pontos, mostra como três passos em zig-zag
sobre o caixão devem ser feitos pelo candidato, avançando do
Oeste para o Leste e muitos outros detalhes interessantes,
demais numerosos para serem mencionados.
O catecismo, que é o último item principal no livro, é
baseado (como todos os primeiros catecismos franceses)
diretamente na Maçonaria Dissecada de Pritchard, mas contém
um número de expansões simbólicas e explicações, resultado
de influência especulativa.
E assim chegamos à última das revelações francesas que
devo tratar hoje que é “A Ordem dos Francos-Maçons Traídos”
(L’Ordre des Franc-Maçons Trahi), publicada em 1745 por um
escritor anônimo, um ladrão! Não havia leis de direitos
autorais naquele tempo e esse homem sabia que era coisa boa
assim que viu. Ele pegou o melhor material que pôde
encontrar, coletou num único livro e adicionou algumas notas

33
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

de autoria própria. Assim, roubou o livro de Perau, 102


páginas, o lote e o imprimiu como se fosse seu próprio
primeiro grau. Disse muito pouco sobre o segundo grau (o
segundo grau sempre foi um pouquinho órfão). Ele roubou o
admirável terceiro grau de Travenol e adicionou algumas notas
incluindo diversas linhas dizendo que antes da admissão do
Candidato, o Mestre Maçom mais recente da Loja deita no
caixão, sua face coberta com um pano manchado de sangue,
assim o Candidato o veria ser exaltado pelo Venerável antes de
avançar na sua parte da cerimônia.
De seu próprio material, não havia muito; capítulos da Cifra
Maçônica, dos Sinais, Garras e Palavras e, de costumes
Maçônicos. Ele ainda incluiu dois desenhos melhorados de
Painel do Grau e duas charmosas gravuras ilustrando o
primeiro e terceiro graus em andamento. Seu catecismo
seguia a versão de Travenol bem de perto, mas ele adicionou
quatro perguntas e respostas (aparentemente uma contribuição
menor) mas são de alta importância no nosso estudo do ritual:
P. Quando um Maçom se encontrar em perigo, o que ele
deve dizer e fazer para chamar os Irmãos para ajudar?
R. Ele deve colocar as mãos unidas na testa, os dedos
entrelaçados e dizer “Socorro, crianças (ou Filhos) da Viúva”.
Irmãos, não sei se “dedos entrelaçados” são usados nos
EUA ou Canadá; direi apenas que eles são muito bem
conhecidos em diversas jurisdições européias e os “Filhos da
Viúva” aparecem em muitas versões da lenda Hirâmica.
Mais três novas perguntas seguem:
P. Qual é a Palavra de Passe do Aprendiz? Resp.: T
P. Qual a do Companheiro? Resp.: S

34
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

P. E qual a do Mestre? Resp.: G


Esta foi a primeira aparição de Palavras de Passe impressas,
mas o autor adicionou uma nota explicativa:
Estas três Palavras de Passe são raramente usadas, exceto na
França e em Frankfurt on Main. São da natureza de senhas
militares, introduzidas como uma medida de segurança
(quando tratando) com irmãos que não se conhecem.
Nunca se ouviu de Palavras de Passe até essa data, 1745, e
elas apareceram pela primeira vez na França. Vocês
perceberam, Irmãos, que algumas delas parecem estar em
ordem errada e por causa do intervalo de trinta anos, não
sabemos se elas foram usadas na Inglaterra naquele tempo ou
se foram uma invenção francesa. Nesse quebra cabeças, temos
uma curiosa peça de prova indireta e eu devo divagar por um
momento.
No ano de 1730, a Grande Loja da Inglaterra estava em
grande confusão por causa das exposições que estavam sendo
publicadas, especialmente a “Maçonaria Dissecada” de
Pritchard, que foi oficialmente condenada na Grande Loja.
Mais tarde, como medida preventiva, certas palavras nos
primeiros dois graus foram alternadas, um movimento que deu
oportunidade para o surgimento de uma Grande Loja rival.
“Le Secret”, 1742, “Le Catecisme”, 1744 e o “Trahi”, 1745,
deram todas aquelas palavras na nova ordem e, em 1745,
quando as Palavras de Passe fizeram sua primeira aparição na
França, também apareceram na ordem inversa. Sabendo quão
metodicamente a França tinha adotado – e melhorado – as
práticas rituais inglesas, parece ser uma forte probabilidade que
Palavras de Passe já estavam em uso na Inglaterra (talvez em

35
Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

ordem inversa), mas não há um documento inglês sequer que


ampare essa teoria.
Assim, Irmãos, em 1745 a maioria dos principais elementos
dos graus da Ordem já existiam e quando a nova corrente de
rituais ingleses começaram a aparecer nos anos de 1760, o
melhor daquele material foi incorporado em nossas práticas
inglesas. Mas era ainda muito cru e um grande esforço no
polimento precisava ser feito.
O polimento começou em 1769 por três escritores – Wellins
Calcutt e William Hutchinson, em 1769 e William Preston em
1772 – mas Preston superou os outros. Ele foi o grande
interprete da Maçonaria e seu simbolismo, um professor nato,
constantemente escrevendo e melhorando seu trabalho. Por
volta de 1800, o ritual e as Conferências (Lectures) (as quais
eram os catecismos originais, agora expandidas e explicadas
em belos detalhes) estava tudo em seu momento mais brilhante.
E então, com a típica falta de cuidado inglesa, nós os
estragamos.
Vocês sabem, meus Irmãos, que de 1751 até 1813, tivemos
duas Grandes Lojas rivais na Inglaterra (a original, fundada em
1717 e a Grande Loja rival, conhecida como “Antigos”
(Antients), fundada em 1751) e eles se odiavam com um zelo
verdadeiramente maçônico. Suas diferenças eram
principalmente em assuntos menores de ritual e suas visões
sobre Instalação e Arco Real. O azedume continuou até 1809
quando os primeiros passos foram tomados na direção de uma
reconciliação e uma muito desejada união dos rivais.
Em 1809, a Grande Loja original, os “Modernos”
(Moderns), pediram a necessária revisão e a Loja de
Promulgação foi formada para votar o ritual e trazê-lo numa

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Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

forma que fosse satisfatória para ambos os lados. Aquilo tinha


que ser feito ou ainda teríamos duas Grandes Lojas até hoje!
Fizeram um excelente trabalho e muitas mudanças foram feitas
em aspectos do ritual e procedimentos; mas um grande volume
de material foi descartado e seria justo dizer que eles jogaram
fora o bebê junto com a água do banho. A Colméia, a
Ampulheta, a Gadanha, o Incensário, etc., os quais estavam em
nossos Painéis do Grau no início do século dezenove,
desapareceram. Devemos ser verdadeiramente agradecidos
pelo esplêndido material que eles deixaram para trás.

UMA NOTA AOS IRMÃOS NOS EE.UU.


Devo acrescentar aqui uma nota para os Irmãos nos EE.UU.
Vocês perceberão que até as mudanças que tenho descrito,
tenho falado sobre seu ritual, bem como do nosso na Inglaterra.
Depois da Guerra da Independência, os Estados Unidos
começaram rapidamente acertar suas próprias Grandes Lojas,
mas o seu ritual, principalmente de origem inglesa – Antigos
como Modernos – era basicamente inglês. Suas grandes
mudanças começaram por volta de 1796, quando Thomas
Smith Webb, de Albany, NY, se juntou a um maçom inglês,
John Hanmer, que era bem versado no sistema da Conferência
de Preston (Preston’s Lecture).
Em 1797, Webb publicou seu Monitor do Franco-Maçom ou
Ilustrações de Maçonaria, largamente baseada nas Ilustrações
de Preston. O Monitor de Webb, adaptado de nosso ritual
quando, como eu disse, estava no seu melhor momento, tornou-
se tão popular que as Grandes Lojas americanas,
principalmente nos estados do Leste naquele tempo, fizeram
tudo que puderam para preservá-lo em sua forma original;
eventualmente pelo pedido de Grandes Conferencistas (Grand

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Seiscentos Anos de Ritual na Ordem

Lecturers), cuja obrigação era (e é), assegurar que as formas


oficialmente adotadas permaneçam imutáveis.
Não posso entrar em detalhes agora, mas dos Rituais e
Monitores que tenho estudado e das Cerimônias e
Demonstrações que tenho visto, não há dúvidas que seu ritual é
mais completo que o nosso, dando ao candidato mais
explicações, interpretações e simbolismo, que normalmente
damos na Inglaterra.
Com efeito, por causa das mudanças que fizemos em nossos
trabalhos entre 1809 e 1813, é justo dizer que, em muitos
aspectos, o seu ritual é mais antigo que o nosso e melhor que o
nosso.

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