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COMENTÁRIOS SOBRE OS GRAUS PRIMITIVOS DA MAÇONARIA

Hercule Spoladore – LOJA DE PESQUISAS MAÇÔNICAS “BRASIL”

Datado de 02.02.1356 existe um documento na Prefeitura de Londres


emitido por um mestre de obras de nome Henry Yevelle solicitando autorização
para que ele e mais onze companheiros( freemasons e freestones) pudessem
realizar suas reuniões em recinto fechado. No mínimo podemos deduzir que
seriam reuniões de Aprendizes, isto numa época em que ainda não havia
comprovação de que já existisse o grau de Companheiro e nem catecismos ou
guias ou qualquer norma de como eram realizadas essas reuniões. No
documento a palavra companheiro não se referia a um grau da Maçonaria, mas
sim de maçons livres, companheiros de trabalho. É claro que neste tempo a
Ordem era Operativa e católica.
No manuscrito de Harleian n.º 2054 do ano de 1650 já continha uma
forma de juramento ou compromisso e ainda cita algumas palavras e sinais
dos Pedreiros Livres, já indicando algum segredo. O manuscrito não dá maiores
detalhes.
Entretanto nestes sinais de reconhecimento já se previa a possibilidade de
se criar mais um grau, o que parece ter ocorrido vinte anos após em 1670 em
função da necessidade de distinguir os Aprendizes Júniores dos Aprendizes
Sêniores, já que últimos tinham alguns privilégios a mais que os Aprendizes
recém recebidos o que caracterizava de certa forma, um outro grau dentro do
mesmo. Os Aprendizes Júniores tomavam assento na Coluna do Norte (onde
simbolicamente não entra Luz) e os Aprendizes Sêniores se assentavam na
Coluna do Sul, além de terem funções diferentes no grêmio. Era natural que, com
o tempo se criasse um novo grau, porem esta transformação foi muito lenta.
Neste período, começou a ocorrer outro desdobramento histórico
interessante. A Maçonaria até então eminentemente composta só de profissionais
da construção, ou seja, Operativa passou a aceitar pessoas que não eram
construtores. São os famosos maçons aceitos.
Existe uma ata da Loja “Saint-Marry’s Champell” (Capela de Santa Maria)
de Edinburg – Escócia onde está registrado que no dia 08.06.1600 foi feita a
Recepção de um fazendeiro com grandes propriedades, de nome John Boswell
d’Auchinleck. E também tem-se as provas de que Sir Robert Murray foi
recebido em Newcastle em 1641 e do antiquário londrino Elias Aschmole alem
de Henry Maynwaring de Warrington em 16.10.1646. A partir desta época as
incorporações de não operativos se sucederam rapidamente em muitas Lojas.
Até 1700 a Maçonaria era totalmente cristã.
Em 24.06.1717 funda-se a Grande Loja de Londres, inaugurando no mundo
maçônico o regime obediencial, quando apareceu oficialmente a figura e o
cargo de Grão-Mestre.
As reuniões eram realizadas em tabernas ou tavernas. Não havia templos.
Somente em 1776 a Grande Loja de Londres inaugurou o “Feemason’s Hall” o
primeiro templo maçônico do mundo. E em 1778 o Grande Oriente da França,
proibiu que as reuniões de maçons fossem realizadas em tabernas.
Até 1725 haviam apenas os graus de Aprendiz e Companheiro. Mestre
era cargo e não grau (Mestre da Loja). Os símbolos eram desenhados no chão
com giz, argila e carvão e depois e das reuniões eram apagados. Muito tempo
depois, algumas agremiações começaram a usar a pintura dos símbolos em um
tapete. As primeiras referências sobre os tapetes pintados surgiram em
exposições francesas por volta de 1740. Do tapete posteriormente, evoluíram
para a pintura dos painéis, pois estes continham a representação pictórica dos
símbolos mais usados, isto no final da segunda metade do século XVIII e inicio do
século XIX, que segundo pesquisadores tinham naquele momento apenas fins
didáticos.
Nas Constituições de Anderson de 1723 ele fez constar:
“Nenhum Irmão pode ser Vigilante, até que tenha passado pela parte de
Companheiro” (Quer dizer: ainda não existia o grau de Mestre).
Na nova edição das Constituições de 1738 o próprio Anderson afirma:
“Os Vigilantes são escolhidos entre os Mestres Maçons”
Com esta inserção nas Constituições o grau de Mestre passou a existir
oficialmente.
O grau de Mestre nasceu em 1725, e foi incorporado definitivamente no
catecismo em 1738. Até esta época até o Grão-Mestre era Companheiro.
Nos idos de 1725 existia uma sociedade profana fundada em 1724
constituída por mestres de obras e músicos, que só aceitava maçons como
membros. Para a nossa concepção atual seria até uma heresia.
E ainda acontecia que quando um bom músico ou excelente mestre de
obras era recebido nesta sociedade e o mesmo não fosse maçom, os membros
da sociedade transformavam o local numa rústica Loja e o candidato era feito
maçom. Situação completamente irregular para nós em nosso quotidiano
maçônico. Mas o que era “maçom livre em loja livre”? A Maçonaria de então
não estava organizada como hoje.
Esta sociedade chamava-se “Philo Musicae et Architecturae Societas
Apollini”. Era seu Venerável, o Duque de Reachmond, que viria ser Grão Mestre
da Grande Loja de Londres.
Esta entidade recebeu no dia 12.05.1725 como os primeiros Mestres
Maçons da história, comprovadamente através de documentos, os cidadãos
Charles Cotton e Pappilon Boll.
O ato de recebimento de um novo membro na Ordem era feito através de
uma cerimônia simples e chamava-se Recepção (introduzidos) e não por uma
Iniciação como hoje a conhecemos tão detalhada, tão rebuscada tão enriquecida
de procedimentos litúrgicos e até de novos símbolos.
Não havia a Bíblia como parte oficial em cima do Altar durante as
cerimônias, muito embora fosse citada muitas vezes. Ela entrou nos templos em
1740. Não haviam as ordens arquitetônicas gregas; jônica dórica e coríntia.
Falava-se do Avental como insígnia de honra.
Não havia ainda a Lenda Hirâmica.
O primeiro arremedo de uma lenda surgiu no manuscrito de Grahan em
1726. Neste manuscrito conta-se a história Noaquita da morte de Noé e da
participação de seus filhos Sem, Cam e Jafet.
Ao saberem que seu Pai havia falecido os três filhos partiram em busca de
um sinal que julgavam que ele possuísse, e que simbolizaria a Aliança de Noé
com Deus. Como pairasse dúvidas combinaram que se nada encontrassem as
primeiras palavras que proferissem ao encontrar o corpo, seria o símbolo da Nova
Aliança.
Ao descobrirem o corpo já semi putrefacto, um dos filhos colocou-se de pé
em frente ao cadáver. E baixando-se pegou o dedo indicador da mão direita de
Noé. Ao puxá-lo, este desprendeu-se da mão. Em seguida tentou pegar o punho
em forma de garra que também se despregou do antebraço. Ato contínuo juntou
seu pé direito junto com o pé direito do defunto, colocou sua mão esquerda nas
costas, joelho direito com joelho direito, mão direita segurando o braço e
antebraço direitos, forçou-o a levantar-se até ficar peito contra peito. Procurando
algo no local onde o corpo estava estendido, nada encontraram. Estes
procedimentos deram origem aos cinco pontos do grau de Companheiro (Hoje
pertencem ao grau de Mestre).
Um dos filhos segurando o dedo desprendido exclamou: “ainda há tutano
neste osso” (Marrow is in Bone).
Dentro daquilo que eles haviam estabelecido anteriormente, esta expressão
passou a ser a Palavra da Aliança.
Posteriormente passou a ser Mack Benack ou “M B” que até a presente
data permanece em alguns aventais do 3° grau.
Hoje em nossos rituais conhecemos como Mac Benac que já na época
enfocada, significava “a carne deixa os ossos” ou “ o corpo está apodrecido”.
A lenda a partir de 1725, ainda demorou alguns bons anos para tomar
corpo e ficar muito parecida com a lenda que conhecemos atualmente. Mudaram-
se os personagens, porém para construção da lenda seguiram o mesmo roteiro.
Um fato que está bastante claro, mas que os criadores de ritos não querem
admitir.
Estes três graus passaram a ser universais. Tudo o que se inventou
desde então, foi calcado em cima destes três graus. Ninguém conseguiu inventar
um novo grau de Aprendiz, Companheiro ou Mestre. Podem tê-los modificado,
enxugado, suprimido detalhes e passagens, acrescentado outros, retirado alguns
símbolos e ter colocado outros, diálogos alterados segundo a vaidade ou vontade
dos entendidos em ritualística, ou ainda pela necessidade do momento, mas o
arcabouço, a idéia principal, o cerne, o esqueleto dos graus permaneceram. Não
se criou nada em especial desde então. Todos os ritos se utilizaram desta base. O
“DNA” da Maçonaria primitiva não foi alterado A ESSÊNCIA permaneceu.
Hoje temos o ritual que nada mais é um aperfeiçoamento dos catecismos
guias, monitores, reguladores etc. O catecismo é o precursor do Ritual.
Evidentemente, em cada época estes libretos serviram à Ordem de acordo com as
necessidades do momento. O ritual, hoje após sofrer adequações, adaptações
significa tudo o que já se propalava naqueles tempos referindo ainda mais alguns
detalhes, ou seja, se tornou completo, porque traz tudo o que se herdou daquela
época, com as metamorfoses ocorridas através destes três ou quatro séculos,
porém de forma organizada.
O ritual de hoje em que pesem as discrepâncias, tem dois significados: um
é o conjunto de procedimentos e cerimônias segundo regras e normas. Seria tudo
o que se refere a uma cerimônia ou a um rito em si, ou a um sistema maçônico, e
o outro significado é o livro onde estão escritas todas as normas e procedimentos
a serem seguidos e que foram previamente estabelecidos por autoridades
competentes da Obediência.
Mas e naqueles tempos como era o dia a dia da Maçonaria? Como ficava
esta história de pedreiros e nobres ou mestres de obras e músicos se reunirem e
pertencerem ao mesmo grêmio? Havia discriminação entre as classes dentro das
Lojas? Havia solidariedade tal qual a conhecemos hoje, ou era apenas um
esboço de fraternidade humana, ou seria que um grupo de homens, alem de seu
tempo, independentes de suas classes sociais, livres pensadores e sonhadores
que pensavam num mundo mais puro e melhor? Estariam sonhando com uma
nova ordem mundial?
Conforme frisamos em 1717 havia apenas dois graus. Como seria a prática
dos mesmos? Haveria alguma semelhança com os dias atuais?
Como a Maçonaria em si não publicava quase nada, já que a Tradição era
passada de geração a geração oralmente, uns homens tachados de traidores na
época passaram a heróis dos pesquisadores atuais porque, ou por vingança
contra a Ordem, ou porque acharam por bem aparecer, ou porque quiseram se
tornar celebres, ou por dinheiro, eles publicaram em jornais profanos e livros, os
chamados mistérios e segredos da Maçonaria, termos estes que eram muito
valorizados no mundo profano naquela época. Havia um interesse desmesurado
do público a esse respeito. Queriam saber tudo sobre os tais mistérios e segredos.
Estas publicações não oficiais e que foram muitas, são chamadas de
Revelações (Exposures) e passaram a ser fontes importantes de pesquisas e
estudos, sendo atualmente analisadas por verdadeiros cientistas culturais da
Ordem, especialmente pelos membros da Loja Quatuor Coronati de Londres n.º
2076 que as estão passando a limpo sendo que as informações são cruzadas
com as revelações e as afirmações dos manuscritos antigos (Old Charges),
chegando-se a uma conclusão muito aproximada de como era a Maçonaria de
então.
Entretanto falta muito, para se chegar a uma conclusão final. Existem
muitos hiatos que ainda precisam ser preenchidos. Com freqüência são
descobertos na Inglaterra França e outros países europeus documentos que
são fragmentos, verdadeiras peças de um todo e que tem sido de um valor
inestimável para se formar um retrato perfeito da Maçonaria de uns 400 anos
atrás. Fala-se que existem cerca de 150 manuscritos antigos (Old Charges).
Cerca de 17 manuscritos são os mais estudados, porque são mais
completos.

ANÁLISE SOBRE O CATECISMO PUBLICADO POR SAMUEL PRICHARD


1º GRAU (ANTES DE 1717)
A Maçonaria Dissecada( Masonry Dissected) foi publicada por Prichard
em um jornal de Londres (The Dailly Journal) nos dias 02, 21, 23 e 31.10.1730.
Constava de 23 páginas. Até 1760 foi reeditada 40 vezes para o público.
Era um catecismo e não uma cerimônia em si, mas seus diálogos e
explicações nos dão a interpretação da forma que os procedimentos eram
realizados, bem como nos esclarece uma série de pontos até então obscuros.
Este catecismo em forma de perguntas e respostas consta de 92 no grau
de Aprendiz, 32 no grau de Companheiro e 3O no grau de Mestre.
Já no manuscrito da Casa Edinburg (1696) contem uma descrição ainda
incompleta, das cerimônias dos Graus de Aprendiz e Companheiro e mais quinze
perguntas e respostas. Foi o primeiro catecismo a aparecer na Maçonaria.
Prichard publicou os três graus e mais alguns comentários sobre a Ordem.
Com relação ao grau de Aprendiz ele intitula Grau dos Aprendizes (Entered
Aprenttice) que quer dizer Aprendizes recebidos, introduzidos ou admitidos (Hoje,
seriam Iniciados).
Veremos que sob o angulo de visão atual, que como não haviam templos
ainda que uma taberna estivesse a disposição de uma Loja para as suas reuniões,
não havia a privacidade que temos hoje, onde até alguns Veneráveis se dão ao
luxo de não deixar entrar no templo Irmãos retardatários.
Aparece neste catecismo a figura do Cowan ( Goteira, bisbilhoteiro) de
forma ressaltada. É provável que o cargo de Tyler( Cobridor Externo) tenha sido
criado para barrar e não deixar entrar os intrusos. O Cowan foi uma figura tão
marcante que até Anderson na versão da Constituição de 1738 fala sobre ele.
O diálogo embora grafado de forma diferente vemo-lo na sua essência nas
aberturas e fechamentos das sessões, nas Iniciações, nas instruções dos rituais
ou em qualquer outro procedimento. As instruções constantes dos Rituais atuais
são as que mais se assemelham ao conteúdo dos diálogos se comparados com
aquela forma de Maçonaria antiga.
O catecismo em si trata de um dialogo entre possivelmente o Venerável (Mestre
da Loja) e um maçom introduzido ou admitido (iniciado, recebido).
Aparentemente um telhamento para o nosso entendimento atual.
Enfocaremos inicialmente o grau de Aprendiz que será para a nossa
análise, a base da Maçonaria de antes de 1717.
O examinador perguntava inicialmente de onde vinha o Irmão ao que ele
respondia “De uma Loja consagrada a São João” Saudava o Venerável por
três vezes três.
Para se saber se o Irmão era mesmo maçom, este respondia que sim pelos
sinais, toques e pontos perfeitos e pedia para ser examinado.
Ainda continuando em resposta à pergunta feita, dizia que os sinais eram
todos os esquadros, ângulos e perpendiculares, os toques eram sinais
regulares estabelecidos e a garra da fraternidade.
Quanto aos pontos o examinador dizia: ”Dai-me os pontos de seu
ingresso” O Aprendiz respondia: “Dai-me o primeiro e eu vos darei o
segundo” O Examinador respondia: “Eu calo-me” e o Aprendiz retrucava; “Eu
oculto”. Que só revelaria a um verdadeiro Irmão, ou em Loja constituída.
Falava-se de uma loja justa e perfeita composta de sete Irmãos ou mais
sendo um Mestre da Loja(Venerável) dois Vigilantes dois Companheiros, e
dois Aprendizes.
O Aprendiz dizia após ser perguntado que foi admitido por três grandes
batidas e tinha sido recebido por um Júnior Vigilante (2ºVigilante) e a seguir
através de uma série de perguntas e respostas ele descrevia como tinha sido
recebido, cuja descrição é muito semelhante às Iniciações de hoje.
Após esta seqüência de perguntas sobre a Recepção, o Venerável fala:
“Você pode repetir o que prometeu” (DUE GUARD)
IMPORTANTE
O Aprendiz repetia todo o juramento muito semelhante ao dos dias atuais,
onde usava as mesmas imprecações, ou seja, se fosse traidor, chamava para si
uma série de castigos terríveis ( atualmente abolidos em alguns ritos), tais como
pescoço cortado, língua arrancada pela raiz etc. e terminava fazendo um sinal
dizendo DUE GUARD.
O que era afinal este tal de DUE GUARD?
Na Recepção, o candidato segurava à altura da cintura a Bíblia com a mão
esquerda e apoiava a mão direita sobre o livro. enquanto repetia o juramento.
Num telhamento ele repetia o teor do juramento, mas como se estivesse
segurando uma Bíblia imaginária.
O DUE GUARD dos Aprendizes e Companheiros era o mesmo, mas no
grau de Mestre inventaram depois que ele foi criado (após 1725) que ambas as
mãos ficariam como se estivessem espalmadas, depositadas sobre a Bíblia,
tocadas levemente pelos seus polegares.
O Venerável prosseguia o interrogatório perguntava a forma da Loja,
largura, altura (altura=polegadas, pés e jardas intermináveis, alta como o céu)
e como a Loja estava situada ao que eram respondidos “Do Oriente para o
Ocidente, porque todas as Capelas eram assim”.
“Onde está localizada sua Loja”
“Na Terra Santa, ou na parte mais alta da Colina, ou no mais profundo
Vale ou no Vale de Josafá, ou em lugar secreto”.
A Loja era sustentada por três pilares Sabedoria, Força e Beleza (ainda
não haviam as ordens arquitetônicas: jônica, dórica e coríntia).
Prosseguindo, o Venerável perguntava se existiam mobílias em sua Loja
ao que era respondido: Sim: Pavimento Mosaico, a Estrela Flamejante e a Orla
Denteada.
“E as outras mobílias?” Bíblia, Esquadro e Compasso.
Jóias: seis. Três móveis: Esquadro, Nível e Compasso-Prumo.
Três imóveis ou fixas: Tábua de traçar (Mestre da Loja) Pedra Bruta (para os
Companheiros), Pedra Polida (para os Aprendizes) (interessante: é o contrário
de hoje. A Pedra Bruta é ligada aos Aprendizes).
“Existem Luzes na sua Loja?”
“O sol, a Lua e o Mestre da Loja”.
“Existem outras Luzes fixas em sua Loja?”
“São as três janelas: Oriente Sul e Ocidente (No Norte na entra luz)”.
IMPORTANTE (A figura do Cowan e a diferença de “status” entre os Novos
Aprendizes e os Velhos Aprendizes nos chama a atenção no catecismo).
“-Onde sentam-se os VELHOS (SÊNIORES) APRENDIZES?”
“-No Sul”.
“-Quais as suas funções?”
“-Atender, recepcionar e dar boas vindas aos Estrangeiros”.
“-Onde tomam assento os NOVOS (JÚNIORES) APRENDIZES?”
“-No Norte”.
“-Quais as suas funções?
“-Proteger a Loja dos Cowans e Bisbilhoteiros”.
“-Se um Cowan é apanhado como ele é punido?”
“-Ele é colocado sob a calha da casa (onde há água de chuva), ou
outra água qualquer para que ela escorra entrando pelo ombro e
saindo pelos sapatos (daí a origem da palavra GOTEIRA).
Hoje analisando-se a seqüência deste diálogo, especulamos e entendemos
porque foi aumentado mais um grau após o grau de Aprendiz. Se bem que o 2º
grau ficou pertencendo aos SÊNIORES APRENDIZES, agora como
Companheiros e o Mestre que era cargo virou grau entre 1725 e 1738.
Era perguntado onde era o lugar do Venerável e dos Vigilantes e a
seqüência de respostas e perguntas era mais ou menos as mesmas de hoje
valorizando inclusive o trajeto percorrido pelo Sol (O dia a noite e o mito solar).
“O Mestre da Loja fica no Oriente” “Os Vigilantes ficam no Ocidente”.
“Assim como, o Sol surge no Oriente, para a abrir o Dia, assim o Mestre
(Mestre da Loja) fica no Oriente (COM SUA MÃO DIREITA SOBRE O PEITO
ESQUERDO e um Esquadro dependurado sob o pescoço) sendo esse um
sinal para abrir a Loja e levar seus Obreiros ao Trabalho”.
(Interessante; Hoje usam o malhete sobre o peito ao invés da mão direita).
Outros diálogos:
“Quantos princípios existem na Maçonaria?”
“Quatro. O ponto, a Linha, a Superfície e o Sólido”.
“O que significa para você ser um Maçom Operativo?”
. “Um Esquadrejador, um Modelador de Pedra, Assentador de Pedra no
Nível, e saber levantar uma Perpendicular”.
A uma determinada altura do catecismo, voltava-se a se perguntar quais
eram os segredos de um franco-maçom. Era respondido: Sinais toques e muitas
palavras.
“-Onde você guarda estes segredos?”
“-Sob meu peito”.
“Você possui as chaves desses segredos?”
“-Sim”.
“-Onde você a guarda?”
“-Numa caixa de ossos que ninguém abre ou descerra a não ser com
uma chave de marfim”.
“-Ela está pendurada ou é imóvel?”
“-Pendurada”.
“Por onde está pendurada?”
“-Por uma corda de nove polegadas ou um palmo”.
A chave de marfim seria a língua e a caixa de ossos seria os dentes e a
Corda de nove polegadas ou um palmo seria o céu da boca.
(A chave de marfim é atualmente a jóia do 4º grau do REAA – Mestre Secreto e
do Mestre da Discrição no Rito Brasileiro).
Perguntava-se quantos sinais principais existem?
A resposta era um Gutural, na garganta, um Peitoral no peito, um
Manual.
nas mãos e um Pedestal nos pés. E explicava-se cada um. Por sinal,
praticamente iguais aos que praticamos atualmente.
Pedia-se as palavras que eram Jachim e Boaz, as quais eram dadas da
mesma forma que as damos hoje, porem existiam duas no primeiro grau.
Um outro trecho que merece menção é quando o Examinador pergunta de
que modo o Aprendiz servia ao seu Venerável.
“-Com giz (liberdade) Carvão (fervor) e argila (zelo)”.
Pergunta o Examinador se o Aprendiz vê todo o dia seu Venerável e como
ele se veste?
“Com um casaco amarelo e um par de calças azuis”.
N.B. O casaco amarelo é o Compasso e as calças azuis eram as pontas
de aço do Compasso.
Mais alguns questionamentos, assim terminava o catecismo do 1º grau com
92 perguntas e respostas, a maioria conhecidas de nossos rituais atuais.

ANÁLISE DO 2°GRAU (COMPANHEIRO) ANTES DE 1717

O grau de Companheiro, fala-se dele desde 1598, mas que com certeza
documental passaram a existir a partir de 1670. Na publicação do catecismo de
Prichard ele consta de 32 perguntas e respostas.
O Examinador perguntava se o examinado era Companheiro Maçom e
este respondia: “Sim eu sou”. Continuando, sua finalidade era conhecer a letra
“G” que correspondia a Geômetria ou Quinta Ciência. Que ia do Oriente para
o Ocidente, que trabalhava na construção do Templo; que recebia seu salário
na Câmara do Meio; que entrou na Câmara do Meio através de um Pórtico;
que viu dois grandes pilares J B( Ver 1 Reis, cap.7, pilares, capitéis, côvados
romãs, etc.).
Em seguida, respondendo aos quesitos, falava que ao atravessar a Porta
da Câmara do Meio viu um Vigilante, que lhe pediu: Toque Sinal e uma
Palavra. Descreve o toque e sinal e diz que a palavra era JACHIN.
Interessante que refere ser a altura da Câmara do Meio tão alta que um
COWAN não a tocaria com uma vara ou com perna-de-pau.
Menciona ter visto na Câmara do Meio, o resplendor da Estrela
Flamejante.
Prossegue respondendo várias perguntas sobre a letra “G”. E ainda fala
das quatro letras BOAZ. Não faz alusões às posturas em Loja, passos etc.
O catecismo de Prichard do 2º grau não é tão objetivo e rico em simbologia
como o do 1º grau, mas podemos traçar as analogias com os rituais atuais do 2º
grau e veremos que existe muita semelhança, evidentemente hoje mais pobre
ainda porque vários símbolos e procedimentos como a Câmara do Meio, e os
cinco pontos perfeitos da Maçonaria migraram para o 3º grau entre 1725 e
1738.

ANÁLISE DO 3°GRAU (MESTRE) APÓS 1725

Consta a publicação de 30 perguntas e respostas.


Após ser perguntado, o Maçom dizia ser Mestre, que passou a ser Mestre
ao passar do Esquadro para o Compasso, que já tinha sido Jachin e Boaz, que
foi feito Mestre com um Diamante, um Esquadro e uma Pedra.
“Se você realmente foi feito Mestre Maçom, você poderá entender a
Regra de Três”.
“M.B. ( Mack Benack. Você tornou-se livre”.
Após varias perguntas, Maçom dizia que estava indo do Oriente para o
Ocidente buscar o que tinha perdido a Palavra de Mestre Maçom.
“Como ela foi perdida?”
“Por três grandes (pancadas) Batidas, ou pela Morte de Hiran”.
A seguir o Venerável pergunta como foi a Morte de Hiran.
A partir daí temos uma Lenda de Hiran praticamente quase igual à que
conhecemos, com pequenas diferenças, sendo o seguimento quase igual ao da
Lenda dos nossos atuais rituais. Trata-se os três traidores mencionados que
queriam a Palavra de Mestre e que supliciaram Hiran, como Rufiões, sem dar a
eles aqueles nomes que conhecemos atualmente.
Ao meio-dia quando os operários descansavam, Hiran entra no Templo e
os três Companheiros Rufiões estavam plantados nas três entradas. Quando
ele ia saindo foi abordado pelo primeiro que queria a Palavra de Mestre. Não a
dando, foi agredido com um cilindro. Sofreu novas agressões nas outras duas
saídas, terminando por sofrer um golpe fatal na terceira porta. Não se fala dos
instrumentos usados nas 2ª e 3ª agressões. Foi retirado pela porta Ocidental e
escondido entre uns entulhos até o próximo dia. A procura do corpo do Mestre
Hiran, a procura da Palavra de Mestre, apenas difere da lenda de hoje é no
momento em encontraram o corpo, a cobertura da sepultura era verde musgo, os
15 Companheiros replicaram: “MUSCUS DOMUS DEI GRATIAS” “Obrigado
meu Deus, nosso Mestre tem uma Casa Musgosa”. Recobriram-na com terra
e colocaram em cima da sepultura, um ramo de “Cássia”. A sepultura onde
estava enterrado Hiran era de 06 pés para o Oriente, 06 pés para o Ocidente e
06 de profundidade.
Depois, Salomão manda os 15 Companheiros usando luvas brancas, irem buscar
Hiran e lá chegando o levantam pelos cinco pontos do Companheirismo. A
Lenda não está completada tal qual a conhecemos, porque ela praticamente para
ao se praticar os cinco pontos. Não fala da punição dos três assassinos que
mataram Hiran usando um Malhete, com uma Ferramenta (não especifica qual) e
com um Bedel (?). O próprio Prichard faz confusão com os instrumentos de
agressão do Mestre Hiran. O arcabouço da Lenda é o que conhecemos com 80%
do roteiro completamente pronto, resguardadas algumas pequenas diferenças.
Prosseguindo nas perguntas e respostas refere que Hiran está enterrado
no Santo dos Santos que foi trazido pela porta ocidental do Templo.
Menciona que o nome do Mestre Maçom é “Cássia” que a jóia do Mestre
é um Pórtico, uma Janela e um Pavimento Quadriculado.
A Palavra de Mestre é dada pelos cinco pontos do Companheirismo
sussurrada ao ouvido e é Mack Benack “O construtor foi atingido”.

Estamos analisando catecismos, de 300 a 400 anos atrás onde


identificamos todos os símbolos e procedimentos mencionados dos quais hoje
com certas supressões ou alterações, em função da evolução do tempo em que
vivemos, somos os seus fieis seguidores. Entretanto, a liturgia, não é
mencionada. Mas, pelos catecismos de Prichard, e por outras Revelações
(Exposures) e pelas pistas dos manuscritos (Old Charges), podemos avaliá-la e
até deduzir como era praticada esta liturgia, sem termos é lógico, a certeza
absoluta. Se analisarmos como um todo temos pelo menos a noção possivelmente
muito aproximada.
Enfim, pela riqueza de detalhes, nos dá a impressão de que tudo isso é
atual, pois praticamos hoje uma maçonaria totalmente casada com estas antigas
influências e de forma muito semelhante a este legado histórico ritualístico e
doutrinário que recebemos como uma benção, e que hoje em dia nem nos damos
conta da riqueza cultural que herdamos.

HERCULE SPOLADORE

BIBLIOGRAFIA

CARVALHO, Francisco de Assis “A Maçonaria Usos & Costumes” Volume 2


Cadernos de Estudos Maçônicos
Editora Maçônica ”A Trolha” Ltda.
Londrina. – 1995

PERAU, Abade Gabriel L.Calabre “A Ordem Maçônica Traída e seus.............


segredos revelados” ( L’ordre des Francs-Maçons Trhai et leur secreet
revele Paris, 1745)
Tradução de Ataualpha José Garcia
Editora “A Trolha” Ltda. - Londrina 2001

PRICHARD, Samuel “Maçonaria Dissecada” (Masonry Dissected)


. 1730
................................................... Tradução de XICO TROLHA –
Editora “A Trolha” Ltda. - Londrina – 2002

Trabalho: DUE GUARD – de Antônio Carlos Tavares Barbosa

Trabalho: Sinais Toques e Palavras de Francisco de Assis Carvalho XICO


TROLHA
ONDE FOI APRESENTADO ESTE TRABALHO

Trabalho apresentado em 22/09/2003 na VII JORNADA MAÇÕNICA ZONA


LESTE DE SÃO PAULO – (Encontro realizado anualmente por um grupo de
Irmãos da GLESP)

Apresentado em 18/10/2003 no IV Simpósio “Francisco de Assis Carvalho” - Pacto


Sul Mineiro do REEA – realizado em Poços de Caldas –.

Apresentado na Loja de Pesquisas Maçônicas “Brasil” Londrina -PR em


21/11/2003.

Publicado na Gazeta Maçônica ( São Paulo) numero 151 meses 06 e 07/2004

Publicado no Livro “Maçonaria no Século XXI” publicado pela “Loja Fraternidade


Brazileira de Pesquisas e Estudos” de Juiz de Fora- MG á pg. 67 – ano 2005

Apresentado na Loja “Justiça de Maringá” – Maringá - PR em 28/05/2009

Apresentado na Loja Maçônica Nova Esperança - PR dia 13/04/2010 Festa do


cinqüentenário da Loja -

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