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A CRIAÇÃO DO GRAU DE MESTRE MAÇOM

O
Grau de Mestre, em que pese ser esse grau, o mais novo dos
três, pouco mais de 294 anos, não é tarefa das mais fáceis
dissertar sobre o mesmo. Sobre esse grau criou-se muitas
fantasias, lendas, mitos e que ainda hoje em dia, alguns tentam manter
e por isso tornou-se ou torna-se quase impossível separar o que é certo
do que é errado. Durante todos esses anos criou-se uma imensa
dificuldade para se chegar a origem do referido grau. Sabe-se que os
graus de Companheiro e Aprendiz têm mais de 600 anos,
documentados, o Grau de Mestre tem 298 anos (1725-2023)
Com a fundação da Grande Loja de Londres na noite de 24 de junho de
1717, no pátio da igreja de São Paulo, criou os mecanismos que
faltavam para o surgimento do Grau de Mestre. E esse acontecimento
inusitado realizou-se em uma sociedade profana denominada
“Sociedade Filo-Musical de Arquitetura Apolineo (Philo-Musicae
Architecturae Societas Apolini)”.
Essa sociedade era composta só de maçons, e quando ingressava um
membro que não era maçom, ele era logo iniciado; e um dos principais
requisitos para o ingresso na sociedade era ser maçom; pois bem, em
12 de maio de 1725, um ano após a fundação da sociedade, oito
companheiros maçons resolveram improvisar uma cerimônia onde dois
de seus companheiros seriam elevados a mestre. Fizeram algumas
mudanças no ritual de companheiro, acrescentaram alguns dados
novos e, pela primeira vez segundo os documentos encontrados até o
momento, os irmãos companheiros – Charles Cotton e Paillon Bull
foram elevados a mestres. O fato aconteceu. A sorte estava lançada. A
ata da referida cerimônia está gravada em um livro de atas da
sociedade, que o tempo não consumiu. A grande barreira estava
quebrada.
Muito embora a Grande Loja de Londres houvesse assinado uma carta
contra a tal sociedade que, por sinal, não tinha nenhum vínculo com a
Grande Loja, a não ser aquele de só possuir maçons em seu quadro.
Mas mesmo assim, dois anos depois (1727), ela fechava as portas,
adormeceu para sempre. Sua missão estava cumprida. Em suas hostes
florescera o Terceiro Grau da Maçonaria.
A elevação dos dois irmãos companheiros – Charles e Paillon foi a
“pedra de toque”, de um processo inexorável, fulminante. Um rastilho
de fogo que, paulatinamente, a dominou, atingiu todos, ou quase todos,
os domínios da hexa-centenária maçonaria.

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 Estandarte da Sociedade Filo-Musical de Arquitetura Apolineo.

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E logo a seguir, no início do ano seguinte, uma loja é fundada na
Escócia e pratica o mesmo ato.
Existe também uma ata2 datada de 29 de janeiro de 1726 que diz o
seguinte: “... esse dia ficou o dia da primeira reunião dos maçons após
sua fundação (constituição) onde esteve presente o Grande Mestre, John
Hamilton, acompanhado de sete mestres, seis companheiros e três
aprendizes”. A próxima reunião aconteceu no dia 25 de março de 1726,
e lá está registrado na segunda ata, o seguinte: “... Gabriel Porterfield
que na reunião de janeiro, ainda era companheiro do grêmio, foi recebido

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De uma reunião da Lodge Dumbarton Kilwinning # 18, na Escócia.

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e admitido como mestre da fraternidade e renovou sua obrigação e deu
dinheiro de entrada...”
O irmão Harry Carr, em seu trabalho intitulado “600 Anos de Ritual”,
comenta: “Porterfield, tinha sido companheiro do grêmio na reunião da
fundação da loja em 29 de janeiro daquele ano. Na reunião seguinte ele
veio à loja, renovou seu compromisso – implicando isso, que houve outra
cerimônia, onde ele fora recebido como mestre. Não resta aí, nenhuma
dúvida de que esse era um legítimo e genuíno Grau de Mestre.”
Em uma outra ata, desta feita da Lodge Creenock Kilwinning # 12, da
Escócia datada de 27 de dezembro de 1728, afirma o seguinte:
“Greenock, 27 de dezembro de 17283. Os personagens seguintes: -
Jaime Gilmor (maçom4), Robert Moor (maçom), futuro Mestre, Laurence
Wedderspoon, Maltman, todos mestres; Willian Tuner, James
Snodfraes, John Parkr, todos companheiros do grêmio; James Mac
Brair, Gavin Montgomery, James Cormichel e Samuel Stuart, todos
aprendizes iniciados, tendo se encontrado na casa de Robert Moor,
futuro Mestre da Loja em Greenock, eles reuniram-se e, por
unanimidade escolheram: James Gilmor, para ser o Mestre da Loja,
Laurence, para ser o Vigilante e Robert Moor, para ser o futuro Mestre
(da Loja); e concordaram com a adoção dos seguintes regulamentos:
Assim, cada um que for recebido como membro da loja, pagará para o
caixa da loja, quando for iniciado como aprendiz 1 libra e 10 shillings
escocês, ao passar a companheiro do grêmio, pagará 12 shillings; e
pagará mais 20 shillings escocês para ser elevado a mestre. Além disso,
pagará mais uma taxa como contribuição com as despesas do banquete
noturno...”.
Veja bem que essa ata especifica, explicita “três graus separados”,
inclusive com uma taxa especifica para cada cerimônia, isto é, para
cada grau. Outro fato importante é que havia entre eles um maçom, isto
é um pedreiro, um operário, um maçom operativo, no seio de vários
maçons especulativos.
Veja também que consta também do pagamento de uma taxa para a
realização do banquete noturno, isto é, o nosso tradicional banquete,
condenado por alguns; em 1728 já existia e era pago pelos novos
maçons. Faz muito tempo que os maçons comem de graça, nos
banquetes, às custas dos iniciados.
Em 20 de outubro de 1730, Samuel Prichard publica seu livreto
explosivo, arrasador, destruidor, o Masonry Dissected, no qual revela,
divulga os mistérios da maçonaria.
O Masonry Dissected cria uma grande crise no seio da Grande Loja. A
Grande Loja que fora fundada em 1717, vegetou até 1721, quando John
Payne encarregou o Reverendo James Anderson, para compilar uma
Constituição. Constituição que entrou em vigor em 1723. De 1717 a
1723, a Grande Loja muito pouco fez, pouca influência e prestígio
angariou. Hostilizada pelos conservadores e tradicionalistas, sendo
adjetivada como “Modernos”, pejorativamente, ela havia começado a
estruturar-se após a publicação de tal Constituição. E quando

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Dia do Santo “São” João Evangelista.
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Pedreiro. Ou seja, um maçom operativo.

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começava a se organizar, a consolidar seus rituais, surge Samuel
Prichard e coloca tudo por água abaixo. Revela sua estrutura interna,
aquela que não estava escrita na constituição. O estrago foi enorme. A
convulsão foi tremenda. Ninguém sabia o que fazer. E quando fizeram,
fizeram errado. Inverteram a ordem das colunas, já consagradas pela
tradição, alterou-se os toques, enfim, desestruturou-se. E o livreto de
Samuel Prichard teve onze edições em pouquíssimo espaço de tempo.
Mas, como há um velho ditado que diz: “Não há um mal que traga um
bem”, a exposição de Samuel Prichard deixou como registro, alguns
fatos muito importantes para quem se propôs a escrever sobre a origem
da maçonaria.
Na exposição de Samuel Prichard não havia a narrativa sobre as
obrigações para os graus de companheiro e mestre. Havia tão-somente
a narrativa da obrigação do grau de aprendiz.
Uma outra questão que merece destaque no livreto de Samuel Prichard
diz respeito a Escada Sinuosa (Winding Stairs) e a Câmara do Meio
(Middle Chamber).
No referido livreto nada se menciona sobre os deveres do Mestre e nem
sobre o tapete da Loja (The Floor Work).
Sobre esse painel5, só se ouviu falar no ano de 1745, na França, no livro
“A Maçonaria Traída (L’ Order Dês Francs-Maçons Trahi).
Ainda sobre o livreto de Samuel Prichard, sobre o Grau de Mestre, há
vinte e nove perguntas, seguidas de respostas, que detalham uma boa
parte da atual lenda de Hiram Abif.
Porém essa lenda já estava em prática, em uso, em determinadas
regiões ou lojas, não podendo-se afirmar que era um tema novo, ou pelo
menos, inteiramente novo; pois a lenda já fazia parte, já estava
incorporada nas passagens do velho Grau de Companheiro e na
cerimônia da cadeira do leste.
Sabe-se que muitas lendas serviram de base para o suporte da lenda de
Hiram Abif. Entre as numerosas lendas que a mitologia maçônica
registra, tais como Isis e Osíris, dos mistérios egípcios, a de Tubalcaim,
de Noé, de Ninmrod, de Euclides, de David, de Salomão etc, etc, etc e há
muito em comum em muitas delas.
Num texto de 1742, do livro “Lê Secret” do abade Luiz de Travenol, que
escrevia sob o pseudônimo de Leonard Gabanon, há uma descrição do
painel que já foi neste citado. Esse painel, o mais antigo painel 6 de
mestre publicado, traz alguns símbolos novos, cuja descrição faremos
infra:
“História Tradicional” – Adonhiram tinha muitos homens em sua folha
de pagamento, a quem ele dava uma palavra secreta como sinal para
distingui-los em classe. Três companheiros que esperavam obter um
pagamento melhor resolveram extorqui-lhe a “palavra” e com isso
conseguir os seus intentos...
E essa história está contada com riqueza de detalhe em:
“Recepção de um Mestre” – O Candidato não era preparado como nos
primitivos 1º e 2º graus – o desenho do assoalho ou tapete da loja, é um

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Tábua de traçar ou painel de instrução.
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Entenda-se por Tapete do Mestre.

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desenho de um esquife, no qual está um ramo de acácia e sobre um
monte de terra e no esquife está escrita a palavra J‫ת‬h‫ת‬v‫”ת‬, antiga
Palavra de Mestre. Nos extremos do tapete no oeste, tem um crânio e no
leste um par de tíbias cruzadas. Acima das tíbias, há um compasso
aberto e abaixo do crânio, há um esquadro.
O catecismo trazia ainda dois excelentes esboços de um desenho de
assoalho, de Aprendiz e Companheiro, acoplado num só painel7.
Um grande número de maçons ao galgar o Grau de Mestre, pede seu
quit placet8, afasta-se, porque, afirma, nada ter encontrado na
maçonaria sem conhecer a maçonaria. Na maioria das vezes isso é
verdade. Ele entrou e saiu da maçonaria sem conhecer a maçonaria. Ele
saiu desconhecendo sua história, sua filosofia, seu simbolismo, sua
liturgia.
O Grau de Mestre não teve um feliz começo. A Grande Loja de Londres
arvorou-se em “suprema” autoridade com relação ao Grau de Mestre,
sob pena de invalidade e, se alguma loja por ventura viesse a
desobedecê-la, com certeza iria sofre os rigores da lei. É bem verdade
que as lojas dos “Antigos” e as quê seguiram suas tradições, pouco se
importavam com as ameaças e castigos dos “Modernos”. Tanto que isso
é verdade que Grau de Mestre só foi implantado oficialmente nos idos
da década de 1730.

Sergio Roberto Cavalcante é Mestre Maçom(Instalado) –ARLS


Cavaleiros do Sol nº 42 –RY – Mui Respeitável Grande Loja
Maçônica do Estado da Paraíba—CMSB.

BIBLIOGRAFIA:
Rito York – Grau de Mestre Maçom – Hugo Borges & Sergio
Cavalcante – 2010 – Editora Clube de Autores;
O Sistema Maçõnico Norte-Americano/Grau de Mestre Maçom –
Sergio Cavalcante – 2021 – Editora Clube de Autores;

FONTE DE CONSULTA:
https://www.quatuorcoronati.com/wp-
content/uploads/2016/12/QCA_VOL-9-compressed.pdf

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Provando que os dois “graus” primitivos trabalhavam com um só ritual.
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Solicitação de desligamento.

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