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A Transição Maçonaria

Operativa/Especulativa
Influências

Eleutério Nicolau da Conceição

Introdução
Muitos dos membros da Royal Society de Londres
foram também maçons, isto é fato conhecido. A referida
influência ocorreu dentro do espírito e cultura da época,
pela atuação desses indivíduos, imprimindo orientação
decisiva e individualidade a nova instituição que a princí-
pio limitava-se a cultivar as tradições dos operativos. É so-
bre esse tema e detalhes correlatos que vamos discorrer.

O Problema das Origens

Quando se aborda a Maçonaria, uma questão que


imediatamente surge é a respeito de sua origem. Essa
questão pode ter diferentes respostas, dependendo de
qual instrumento intelectual será preponderantemente

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utilizado, a razão ou a imaginação. Uma multiplicidade de
autores tem indicado como origem Templários, Pitágoras,
Mistérios Egípcios ou gregos, Salomão, o Paraíso e houve
até quem dissesse que a Maçonaria se originou em outro
sistema solar, antes da formação da terra!
D. Knoop e G. P. Jones, citados por David Stevenson, já
alertavam :
“Sem dúvidas, há muitas lacunas no estudo da Ma-
çonaria, mas preenche-las, não com a busca séria
de novos fatos e sim com o uso da imaginação, é
reverter para um tratamento mítico ou imagina-
tivo do tema”(Stevenson, 2005)
Uma questão semântica está na raiz da maioria dessas in-
terpretações. A Palavra “Maçonaria” possui dois significa-
dos profundamente diferentes, ainda que associados.
Hoje no Brasil, se colocarmos a palavra em um site de bus-
cas, imediatamente surgirão várias entradas para os dife-
rentes aspectos da nossa instituição. Se for usado a pala-
vra em inglês, “Masonry”, ou francês, “Maçonnerie”, as
respostas serão diferentes: aparecerão diferentes méto-
dos de construção, como colocar ladrilhos, azulejos, etc,
e, entre os diferentes títulos, aparecerá “Free-masonry,
ou Franc-maçonnerie. Apenas essas duas entradas esta-
rão ligadas às instituições maçônicas que conhecemos.
Isso porque, no Brasil, hoje maçonaria nomeia apenas

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nossa instituição. Mas não foi sempre assim. No passado,
essa palavra nomeava também o ofício do pedreiro e a
arte de construir, como ainda ocorre em diferentes paí-
ses. Por causa dessa diferença em significado, quando se
menciona uma “Maçonaria milenar”, que se perde na
noite dos tempos, só será verdade se a referência em
questão for o ofício do construtor, do qual é impossível
traçar uma origem, seja no tempo ou no espaço. É impos-
sível se verificar quando a primeira casa, ou o primeiro
muro foram erigidos. Todos os povos, em todas as épocas
nas quais alguma cultura floresceu tiveram homens exer-
cendo esse ofício, seja no oriente médio ou distante, Eu-
ropa ou Américas. A instituição hoje conhecida por esse
nome, por outro lado, é consideravelmente mais jovem,
contando com pouco mais de trezentos anos. A falta de
compreensão dessa diferença tem sido responsável por
enormes disparates ligados a esse tema.
A Maçonaria Operativa
Durante o período medieval as relações de traba-
lho e ensino profissional assumiram feições específicas no
continente europeu. Os praticantes de diferentes profis-
sões agruparam-se em estruturas organizacionais asse-
melhadas, chamadas Guildas ou corporações. Essas estru-
turas coordenavam o exercício dos trabalhos, zelando
pela sua qualidade e produtos, intermediando contratos

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de obras entre “empresas” individuais e a municipalidade,
enquanto prestavam certa assistência social a seus filia-
dos. As guildas de pedreiros, que nos interessam aqui, es-
tavam entre essas organizações.

Quando se examinam os documentos e história


das guildas de construtores nas ilhas britânicas, encon-
tram-se características particulares, como o desenvolvi-
mento de lendas de origem, que situavam a fundação de
seu ofício em um passado remoto, ligando-o a persona-
gens da antiguidade bíblica e a diferentes culturas, procu-
rando sempre ressaltar seu valor e influência na história
dos diversos países.

As diferentes guildas de construtores foram res-


ponsáveis pela edificação de inúmeras catedrais espalha-
das por toda Europa, bem como de abadias, mosteiros,
castelos e monumentos. Depois da reforma luterana de
1517 e os sequentes conflitos religiosos, diminuíram con-
sideravelmente os contratos para edificação de catedrais.
Também as relações de trabalho foram sendo alteradas,
de modo que por volta do século XVIII, o sistema de guil-
das já tinha sido extinto na maioria dos países europeus.
Na Inglaterra o sistema sobreviveu até o final do século
XVIII e na Rússia até o início do século XX.

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Até meados do século XVI, os obreiros das guildas
praticavam a religião dominante, praticamente única na
Europa da época – o catolicismo. Isso se reflete nas “Old
Charges, como na carta de Bolonha, de 1248:

“Em nome do pai, do Filho e do Espírito Santo.


Amém. No ano da graça de 1248, indicção sexto.
Estatutos e Regulamentos dos Mestres da
Construção e da Carpintaria. Vocês encontrarão
neste documento os estatutos e regulamentos da
companhia dos mestres da Construção e carpinta-
ria redigidos em honra a Deus, seu filho, Nosso Se-
nhor Jesus Cristo, à bem-aventurada Virgem Maria
e a todos os Santos, para honra e prosperidade da
cidade de Bolonha” (...)

O Manuscrito Cook – 1410


“Demos graças a Deus, Nosso Pai glorioso, Cria-
dor do Céu e da Terra e de Todas as coisas neles
existentes.”
Estatutos da Associação dos Trabalhadores de Pedra de
Ratisbonne – 1628
“Em Nome de Deus Pai, do Filho e do Espírito
Santo, de Santa Maria, mãe de Deus e de seus

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bem-aventurados santos servidores, os Quatro
Santos coroados (...)”
Entre muitos outros documentos. Os textos citados con-
tém muitos outros trechos com característica conotação
religiosa católica. Estes foram transcritos apenas como
exemplo.
Maçons Aceitos
As guildas/corporações contratavam homens que
sabiam ler e escrever para fazerem contratos, atas, livros-
caixa e examinarem as contas (ver estatuto dos pedreiros
de Bolonha), (Ferré, 2001, pp 32, 33.) mas não se sabe
quando se começou a admitir homens que não exerciam
essas funções auxiliares, e nem eram construtores, quase
como, “maçons honorários’. Esses, nobres ou pessoas de
destaque na sociedade, foram chamados de “Maçons
aceitos”.

O primeiro relato de caráter quase lendário, diz


que o príncipe Edwin, sucessor do rei Athelstan, teria se
tornado maçom e dado as primeiras normas aos pedrei-
ros. Ressalve-se que o personagem da tradição maçônica
não é idêntico aquele presente nos dados históricos:

“Considerou-se que sua presença na Maçonaria


poderia ser o resultado de uma confusão com o Rei

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Edwin, o conhecido Santo Eduino, que reinou entre
585 a 633 na Nortúmbria, cuja capital era York. É
historicamente inegável, porém, que houve um rei
poderoso de nome Athelstan, que houve um prín-
cipe chamado Edwin, filho do Rei Eduardo, o An-
tigo, e irmão do rei Athelstan, e que foi sucessiva-
mente sucedido por seus irmãos Edmundo e
Edredo. Portanto os dois principais personagens
envolvidos na Lenda de York, Athelstan e Edwin,
são figuras históricas reais. Para que a lenda de
York tenha consistência é indispensável que além
disso já houvesse também guildas organizadas de
maçons no reinado de Athelstan.” Ambrósio Pe-
ters (http://samauma.com.br/site/ordem-maco-
nica/o-principe-edwin/)

Admite-se como primeiro registro oficial de um


“Maçom aceito”, o ingresso de John Boswel, de Auchin-
lech, em 08 de junho de 1600, na loja de Edimburgo. Nos
registros dessa mesma loja encontram-se, anos mais
tarde nomes de outros nobres, como, em julho de 1634,
Lord Alexander, Visconde do Canadá, Sir Anthony Alexan-
der e Sir Alexander Strachan.

Destaque especial merece o nome de Sir Robert


Moray. Nascido em Perth, Escócia, em data incerta entre

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1607 e 1608, era filho de Sir Mungo Moray de Craigie,
(Stevenson, 2005), pertencente à pequena nobreza es-
cocesa. Sabe-se que Moray tinha interesse em ciências,
notadamente, alquimia e química e certos aspectos da en-
genharia. Ele teve também experiência militar, tendo se-
guido carreira no exército Francês, com participações
também em forças escocesas. O destaque que se dá ao
seu nome advém de dois fatos: Sir Robert Moray foi inici-
ado em uma loja provisória de Newcastle por membros
da loja St. Mary’s Chapel, em 20 de maio de 1641, e foi
um dos fundadores da Royal Society de Londres. Como
sua “Marca de Maçom”, que na época, todo iniciado de-
veria elaborar, Moray utilizava uma estrela pentagonal.
Ele deixou registro escrito a respeito do valor que para ele
tinha sua iniciação na maçonaria. Observe-se que Robert
Moray tornou-se maçom quase 20 anos antes da funda-
ção da "Royal Society of London for improving of Natural
Knowledge", (Real sociedade de Londres para o aperfei-
çoamento do conhecimento natural - abreviadamente,
Real Sociedade - Royal Society), em 1662.

Outro personagem, contemporâneo de Moray que se


destaca é Elias Ashmole, um erudito gentleman inglês, co-
lecionador de documentos antigos, alquimista e astró-
logo, iniciado na maçonaria em 1646. Ele é reconhecido

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pela Grande Loja Unida da Inglaterra como o primeiro ca-
valheiro inglês feito maçom. Portanto, já existiam maçons
aceitos na maçonaria britânica, antes da fundação da Ro-
yal Society.

O que poderia atrair pessoas de classe média e ele-


vada para a participação nas lojas dos pedreiros nas ilhas
britânicas? Várias explicações foram tentadas. Sabe-se
que as guildas contavam com elevado “status” na estru-
tura social da época, pela qualidade de seus mestres e ar-
quitetos, refletidas nas catedrais e outros edifícios por
eles erigidos. Seus membros detinham também certos
privilégios fiscais e de mobilidade, tendo até voz ativa no
conselho de certas cidades/burgos. Já foi sugerido que
essa atração era motivada por especiais ensinos esotéri-
cos e segredos conhecidos pelos operativos. Entretanto,
quando se examinam os antigos manuscritos existentes
dos operativos, nada se encontra que indique a existência
desses ensinos. Na verdade, todos os traços de transcen-
dência e espiritualidade presente nos antigos documen-
tos, remetem à espiritualidade cristã, em sua versão cató-
lica, como mostram os trechos já citados. Ausentes estão
referências a mistérios egípcios e gregos, tão a gosto de
certos grupos de maçons atuais, mas totalmente desco-
nhecidos de nossos irmãos operativos, a maioria dos

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quais analfabeta. Também no que se refere a segredos,
estes não passavam de aspectos profissionais, do uso ade-
quado de instrumentos e técnicas de construção.

A Transição Operativa-Especulativa

Uma questão que pode ser levantada é: Que tipo de Ma-


çonaria era essa na qual Moray e Ashmole foram inicia-
dos? Foi durante esse período atribulado, tanto na vida
inglesa quanto da Europa continental, com seus conflitos
armados motivados por divergências político/religiosas,
que ocorreu o início da transição das lojas de construto-
res, para o que se chamaria mais tarde de “Maçonaria es-
peculativa”. Nesta, homens iniciados na tradição maçô-
nica se reúnem para tratarem de assuntos diferentes do
ofício do construtor.

Essa transição não foi documentada, o que leva a crer que


não houve uma intenção determinativa dessa “mutação’,
mas que, lentamente, ela foi ocorrendo no transcurso do
século XVII. Para comentar essa possibilidade, devem-se
usar os termos “Existem indícios que...”, “Pode-se supor
Que...”, “Parece que...” (Stevenson, 2005, pp. 19,20), para
deixar claro a incerteza do tema, pois não se registrou ata
de fundação, ou estatutos dessa fase de transição.

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Então, podemos supor que, em algum momento
não determinado, depois de um dia de trabalho, alguém
sugeriu: Vamos tomar uma cerveja na taberna? Obvia-
mente, não acontecia todos os dias, pois operários não ti-
nham dinheiro sobrando, e no outro dia haveria trabalho
aguardando. Mas, com o tempo, foi-se repetindo uma,
duas vezes por mês, e espalhando-se para outras lojas,
tornando-se costume. Ninguém pensou que se estava cri-
ando algo novo. Quando alguém perguntasse: Quem são
esses aí reunidos? A resposta seria: São maçons. Pode-se
supor também que a real mudança começou a ocorrer
quando homens começaram a se interessar em participar,
não das reuniões de trabalho diurnas das lojas, que só tra-
tavam de temas de construções, mas sim das outras, no-
turnas, onde se falava de diferentes assuntos e se termi-
nava com um jantar! Então começou-se a criar uma ceri-
mônia de admissão, taxas de participação, etc., sempre
seguindo as tradições operativas, agora em novo con-
texto. Quando se alcançou o final do século XVII, essa fra-
ternidade, surgida no interior das lojas operativas já tinha
se espalhado pela Inglaterra, assumindo existência inde-
pendente, especialmente em Londres. Vários autores
apontam a existência dessa “fraternidade”, em alguns lu-
gares chamada de “Aception” – Aceitação.

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“Existem evidências da formação de uma fraterni-
dade no interior da Companhia de Maçons de Lon-
dres, conhecida como ‘A Aceitação’. Os admitidos
nessa fraternidade pagavam 20 shillings se fossem
membros da Companhia de Maçons ou 40 shillings
se não o fossem. Sete membros da Companhia
eram também membros da Aceitação. (...) Isso ex-
plicaria nosso uso Corrente dos termos “Maçons Li-
vres e Aceitos” referente na época aos maçons trei-
nados no ofício como sendo livres para usar sua
arte, enquanto outros membros não treinados no
ofício eram aceitos para aprender seus aspectos fi-
losóficos” The Official Site for the Free and Accepted Ma-
sons Buffalo River Lodge #252 in Mondovi Wisconsin

Também António Rocha Fadista, comenta essa in-


teressante e elucidativa ocorrência:
“Na Inglaterra, já em 1621 os registros compro-
vam a existência de uma Sociedade de Maçons,
em conjunto com a corporação de ofício regular.
Esta nova sociedade recebia capitações dos ma-
çons Aceitos, tanto dos construtores de ofício,
quanto dos que não tinham nenhuma relação
com a profissão. Deste modo, pode-se perfeita-
mente admitir que durante o séc. XVII tenha sido
constituída uma fraternidade oculta, dentro da

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corporação profissional.”http://www.macona-
ria.net/portal/index.php?option=com_content&view=ar-
ticle&id=23

Andrew Prescott acrescenta:


“Em Londres, o processo de criar um grupo de
elite com a organização dos pedreiros, de modo
a reforçar as reivindicações e prestígio da guilda
conduziu à emergência, durante o século XVII de
um grupo interior dentro da companhia dos ma-
çons de Londres, conhecida como Aceitação , a
qual incluía alguns dos mais prósperos maçons
arquitetos, bem como homens como Ashmole.”
Andrew Prescott A HISTORY OF BRITISH FREE-
MASONRY 1425-2000 CRFF Working Paper Series
No. 1

Essa fraternidade congregou apenas parte dos obreiros


operativos. Em seu desenvolvimento ela, obviamente,
não substituiu as organizações operativas e sua atividade,
pois não se dedicava ao ofício do construtor, mas a outros
temas. A Companhia dos Maçons de Londres continuou
operando e existe até os dias atuais, e faz questão de re-
gistrar a inexistência de ligações de sua organização com
a Grande Loja Unida da Inglaterra.

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Uma outra influência que não pode ser desconsi-
derada, foi o desenvolvimento da sociabilidade entre os
ingleses, manifestada na criação de inúmeros clubes e so-
ciedades, que reunia indivíduos com características co-
muns, constituindo sociedades muito curiosas, como clu-
bes de jantares, clubes literários, clubes de beber, clubes
musicais, clubes de homens gordos, clubes para os ho-
mens com narizes grandes e outro para homens de nari-
zes pequenos, etc, em um enorme conjunto de associa-
ções e clubes cujas características dependia da criativi-
dade de seus fundadores.

Uma tese de doutorado, com título: The Architects of


Eighteenth Century English Freemasonry, 1720 – 1740,
defendida por Richard Andrew Berman apresenta uma in-
terpretação prosaica dos objetivos dessa “Aceitação”. Em
15 Dezembro de 2010, foi apresentada à Universidade de
Exeter para obtenção do grau de Doutor em Filosofia por
pesquisa em história.

“Resumindo, a explicação mais provável para os


propósitos da ‘Aceitação’ é aquela que compre-
ende um grupo de elite no interior da Companhia
dos Maçons, com cada um de seus componentes
tendo adquirido suficiente estatura social e finan-
ceira para ser considerado um Cavalheiro (gentle-
man). Além disso, ao invés de serem reuniões com

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objetivos espirituais ou especulativos, os próprios
registros da Aceitação sugerem que seus arranjos
sociais e de jantar consistiam em elemento central
desses encontros.”

A Royal Society

A partir de 1645, um grupo de filósofos naturais reunidos


em Londres foi referido como o "colégio invisível".
Era um grupo de pesquisadores que trabalhava em temas
relacionados, mas não estavam fisicamente próximos, não
trabalham na mesma instituição, podiam até ter naciona-
lidades diferentes e falar línguas diversas.
O que os unia era o objeto da pesquisa. Quem pri-
meiro usou o Termo foi o físico-químico irlandês Robert
Boyle (1627-1691).
Mais tarde os cientistas desse grupo vieram a
compor os quadros da Royal Society.

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Uma reunião da Royal society

Em 28 de novembro de 1660, uma quarta-feira,


um grupo de 12 homens, todos maçons, se reuniram no
Gresham College, com objetivo de fundar um colégio des-
tinado a promover investigação no campo do ensina da
matemática e da filosofia natural, termo que na época no-
meava a ciência que hoje conhecemos como Física. Sir Ro-
bert Moray foi um entusiasta da Fundação da Royal Soci-
ety e tornou-se seu primeiro presidente, até 1662,
quando uma carta Real reconheceu a Academia, dando

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sua aprovação e patrocínio, ao mesmo tempo em que no-
meava William Brouncker como novo presidente. Sob di-
reção de Moray, se definiu que nas sessões da Royal Soci-
ety não seriam permitidas discussões sobre política nem
religião .
O grupo inicial de 12 fundadores contava com as
presenças ilustres de Christofer Wren, Robert Boyle, John
Wilkins, Sir Robert Moray, Sir Paul Nealle e William, Vis-
conde de Brouncker, todos apontados como sendo tam-
bém maçons. Em seu programa inicial, definiram reuniões
semanais às quartas-feiras, para apresentar pesquisas e
debater temas científicos, tendo Robert Hooke como cu-
rador de experimentos. Os outros membros dos doze ori-
ginais, os quais não se sabe se foram maçons, são Alexan-
der Bruce, Earl of Kincardine, Dr. Jonathan Goddard, Dr.
William Petty, Mr. Laurence Rooke, Mr. Abraham Hill e
Mr. William Ball.
Os 12 componentes iniciais logo prepararam uma lista in-
dicando outros ilustres personagens para unirem-se a eles
na nova sociedade. Os integrantes da Royal Society ado-
taram o lema: Nullius in Verba (“nas palavras de nin-
guém”), para mostrar a preponderância que deve ter a
verdade dos fatos, fruto da experiência científica, sobre a
opinião de uma autoridade, qualquer que ela seja. ROYAL
SOCIETY & FREEMASONRY Norm McEvoy https://theeduca-
tor.ca/royal-society-freemasonry/

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John Theophilus Desaguliers

huguenotes, uma das de-


rivações do cristianismo
pós reforma, e deixou o
país quando ele era cri-
ança, fugindo para a In-
glaterra quando da revo-
gação do Édito de Nan-
tes, que acirrou os confli-
tos religiosos na França.
Educado em Londres,
Desaguilliers foi Iniciado
Rev. Dr. John Theophilus De-
saguliers (1683-1744) – Fel- na Loja No. 4 "Antigui-
low da Royal Society e Ter- dade" em 1712 que se
ceiro Grão- Mestre da Grande reunia na taberna Rum-
Loja de Londres e Westmins- mer and Grapes, “O
ter
Copo e as Uvas”. Eleito
Jean Theophile Desagui- para a Royal Society em
liers nasceu em La Ro- 1714, tornou-se amigo
chelle na França em 12 de Isaac Newton e divul-
de março de 1683. Sua gador de suas ideias e
família pertencia aos descobertas.
Vários autores apontam a influência decisiva de Desa-
guiliers no desenvolvimento da Maçonaria que seria

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chamada “Especulativa”. Entretanto, sua influência não foi
solitária, pois contou com a colaboração de inúmeros ma-
çons, dos quais alguns membros também da Royal Soci-
ety, como George Payne, Martin Folkes, William Cowper,
Nathaniel Blackerby, Charles Delafaye, entre outros. Den-
tro da visão de Richard Andrew Bermann, os maçons que
detinham influência política, social e financeira, utilizaram
essas conexões para favorecer a expansão da nova organi-
zação que vislumbravam. Sob essa influência as quatro
notórias lojas de Londres reuniram-se em 24 de junho de
1717 para fundar um organismo coordenador das lojas já
existentes, dando nascimento à primeira obediência ma-
çônica – a Grande Loja de Londres e Westminster. Seu pri-
meiro Grão Mestre foi Anthony Sayer, um conhecido ca-
valheiro (gentleman), seguido depois por George Payne.
Nas duas administrações, cresceu o número de lojas agre-
gadas à Grande Loja, mas nada de excepcional foi reali-
zado. Em 1719, como terceiro Grão Mestre, foi escolhido
John Theophilus Desaguiliers, que deu novo impulso à ins-
tituição, promovendo a entrada de homens de renome e
da nobreza inglesa.
“Ele agarrou numa antiga ordem que estava mor-
rendo e deu-lhe uma filosofia que lhe era muito
própria e peculiar. Ele acrescentou um toque de ci-
ência, um conceito prático do Grande Arquiteto e
Organizador do Mundo. Ele soprou uma oração e

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nasceu a maçonaria especulativa”(George E.
Maine – Grande Orador da Grande Loja de Wa-
shington em 1939).
Em seu artigo - John Theophilus Desaguliers, o pai da Ma-
çonaria Especulativa - Luciano R. Rodrigues acrescenta:
“A sua visão extraordinária transformou o que ti-
nha sido até então, pouco mais do que uma com-
binação de clubes de bebedores, com uma institui-
ção nobre e da moda, eminentemente preparada
para o aparecimento do Século das Luzes, ou mais
conhecido como o Iluminismo.”
Adiante, ele comenta, seguindo a mesma linha:
“De facto, aquela fundada no solstício de 1717, não era
nem mais nem menos do que uma Sociedade de Taberna
que se unia a outros clubes do mesmo tipo, em torno da
ideia de realizar, em conjunto, uma festa de Verão de São
João para que ficasse menos caro para todos. O que per-
manece como um particular desta fundação é a institui-
ção que dali resultou.”
Desaguiliers liderou a Grande Loja atá 1720, quando foi
substituído por George Payne. em novo mandato de um
ano. Os grãos Mestres seguintes, Foram todos aristocra-
tas:1721–1723, John Montagu, 2º duque de Montagu;
1723, Philip Wharton, 1º Duque de Wharton; 1723–1724

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Taberna “Ao Ganso e a Grelha” onde foi fundada a Grande Loja de
Londres e Westminster

Francis Scott, Conde de Dalkeith; 1724 Charles Lennox, 2º


duque de Richmond; 1725, James Hamilton, Lord Paisley.

Mas a influência de Desaguiliers continuou, pois ele foi


eleito “Deputy”, o grão-mestre adjunto até 1725, e era
quem, efetivamente, governava a Grande Loja nesse pe-
ríodo. Foi sob sua orientação que James Anderson

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escreveu sua famosa obra, as Constituições, a qual foi por
ele prefaciada.

As Constituições

Muitos autores criticam Anderson, pela primeira


parte de seu livro, com uma versão fantasiosa, pseudo-
histórica da arte de construir. Mas ele apenas cumpriu a
incumbência que lhe fora dado, de “Coligir em nova e me-
lhor forma todos os velhos escritos, arquivos e cópias das
velhas Constituições Góticas.” Ora, esses documentos, co-
nhecidos como Old Charges Continham diferentes ver-
sões de lendas de fundação, que ligavam a origem do ofí-
cio do pedreiro a diversos personagens da antigo Testa-
mento bíblico. Nessas lendas, Maçonaria, ofício do pe-
dreiro, confundia-se também com a geometria, uma das
ciências liberais. Anderson reuniu as diferentes lendas em
uma versão aceitável para a época, quando se considera-
vam todos os escritos do Gênesis como narrativas históri-
cas. Ele apenas tomou o cuidado de eliminar dos textos os
trechos com aspecto característicos do catolicismo, pois
vivia-se então em nova época. É preciso lembrar que, me-
nos de um século antes da publicação da obra de Ander-
son, terminara em 1648 a Guerra dos 30 anos na qual os
cristãos europeus se mataram por divergências religiosas.
Em 1723 não havia mais a preponderância da igreja

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Católica, Romana, mas diferentes ramos do Cristianismo
tinham se desenvolvido.
No dia 29 de setembro, no segundo mandato de Payne,
16 lojas se reuniram na taberna “Armas do Rei” e decidi-
ram coligir as “velhas constituições góticas”, agrupando-
as em novo formato. Essa tarefa foi comissionada a James
Anderson. Nascido em Aberdeen, Escócia, em 1648, An-
derson era “Doutor em Divindade” (Teólogo) e pastor da
Igreja Presbiteriana de Piccadilly. Ele reuniu os documen-
tos existentes e em 27 de dezembro do mesmo ano, na
taberna “Armas do Rei” apresentou seu trabalho às lojas,
agora em número de 20. Sob a direção do novo Grão Mes-
tre, Duque de Montagu, escolheram quatorze maçons
para formarem uma comissão com o encargo de examinar
a obra apresentada. No ano seguinte, em 25 de março, 24
lojas se reuniram na taberna “Fonte da Praia” para ouvir
a leitura do relatório e do texto das “Constituições”. De-
pois de sugeridas algumas correções, o documento foi
aprovado e decidiu-se sua publicação.
Em 24 de junho de 1723, na sessão na qual foi eleito o
novo Grão Mestre, Duque de Wharton, James Anderson
apresentou a primeira edição de sua obra, referência fun-
damental para toda a maçonaria a partir daquela data.
Na época de Anderson, Maçonaria era o que restara da
decadente corporação de construtores, e a nova

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agremiação conhecida pelo mesmo nome, em constru-
ção, assumindo gradativamente novas funções e objeti-
vos em busca de uma identidade. Seus membros não mais
se dedicavam à construção de edifícios, mas não estavam
ainda presentes nela a maioria dos elementos que hoje
são automaticamente associados à ordem maçônica. Ma-
çonaria era entendida, primordialmente como a arte de
construir, materialmente falando: edifícios, arquitetura,
escultura. Não tinha ainda sido criado o grau de mestre.
Em cada loja havia um Mestre (hoje seria chamado Vene-
rável Mestre), comandando companheiros e aprendizes.
Mestre não era grau, era função. Precisamos entender
também o contexto religioso e cultural da época e local.
As religiões existentes na Europa eram todas variações do
Cristianismo, e por um período de 30 anos, até cerca de
um século antes tinham se enfrentado no campo de bata-
lha em defesa de seus ideais. A convivência fraterna de
diferentes formulações cristãs era ainda um sonho futuro,
havendo, quando muito, tolerância com reservas. Porém,
todas elas concordavam em um ponto: a bíblia era, indis-
cutivelmente a palavra de Deus e todas suas narrativas
descreviam ocorrências reais.
O documento publicado por Anderson vinha prefaciado
pelo Dr. John Theofilus Desaguiliers, na época Deputado
de Grão Mestre (Grão Mestre Adjunto). Era dividida em
três partes, a primeira um relato supostamente histórico

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da Maçonaria; a segunda, As Obri-gações de um Maçom
Livre e a terceira, Regulamentos Gerais, terminando com
letra e música das canções dos vigilantes, companheiros
e aprendizes.
A primeira parte tem sido tradicionalmente mal lida e pior
interpretada, tirando-se dela conclusões que não estão
nela corroboradas. Vejamos o que diz o texto:
“Adão, nosso pai, criado à imagem de Deus, o
Grande Arquiteto do Universo, deve ter tido as ciên-
cias liberais, particularmente a Geometria, escritas
em seu coração; pois mesmo depois da queda en-
contramos seus princípios no coração de seus des-
cendentes, princípios esses que no curso dos tempos
foram reunidos em um método cômodo de proposi-
ções, pela observação das leis de proporção tiradas
da mecânica. De modo que a medida que as artes
mecânicas davam aos sábios ocasião de reduzirem
os elementos da geometria em um método, essa no-
bre ciência, assim reduzida, é o fundamento de to-
das essas artes (particularmente da maçonaria e da
arquitetura) e a regra segundo a qual são conduzi-
das e praticadas.” (Anderson, 1723, p.1e2)

25
Mais adiante, ele explica a razão de sua suposição:
segundo a Bíblia, Caim, filho de Adão, construiu uma ci-
dade, logo, conhecia maçonaria.

Página de rosto da obra de Anderson

Autores já disseram que a Ordem maçônica e seus misté-


rios foram criados por Deus no paraíso. Ora, nem mesmo
Anderson faz tal afirmação. Como vemos no texto citado
acima, entendendo literalmente a Bíblia, ele supõe o co-
nhecimento da arte de construir desde Adão.

26
Em momento algum ele se refere a uma organização eso-
térica, com conceitos espirituais, ou mesmo morais eleva-
dos; ele descreve apenas uma fantasiosa interpretação da
evolução da arte e métodos de construção através dos
tempos. Essa ideia é cristalinamente apresentada e de-
senvolvida em toda a primeira parte de seu texto. Era
dentro dessa interpretação que as Old Charges também
abordavam o tema.
A grande importância do texto de Anderson trans-
parece a partir da segunda parte, que tem como título
“Sobre Deus e a Religião”, na qual ele estabelece os parâ-
metros atualizados da Maçonaria, desvinculados das em-
poeiradas fábulas dos operativos. Essa segunda parte das
“Constituições” trata das obrigações de um Maçom Livre, como
sendo “Extraídas dos arquivos das lojas de Além – Mar, e da-
quelas na Inglaterra, Escócia e Irlanda, para uso das lojas de
Londres” É um texto bastante conhecido, encontrando-se inse-
rido, parcialmente, nos rituais de Aprendiz de muitas Potências
maçônicas. O trecho objeto de maiores controvérsias, por ser
também mal lido, é o correspondente ao primeiro título “De
Deus e da Religião”. Um número extremamente grande de au-
tores tem feito leitura incompreensivelmente parcial desse
texto.

Diz ele:

“Um Maçom é obrigado, por sua condição, a obe-


decer à Lei moral; e se compreende bem a Arte,

27
não será jamais um ateu estúpido, nem um liber-
tino irreligioso. Mas se bem que nos tempos anti-
gos os maçons fossem obrigados em cada país a
ser da religião, qualquer que fosse desse país ou
dessa nação, contudo é considerado mais conveni-
ente de somente os sujeitar àquela religião sobre
a qual todos os homens estão de acordo, deixando
a cada uma suas próprias opiniões;”

Um grupo espantosamente grande de autores, religiosos,


leigos e mesmo maçons, parou a leitura do texto nesse
ponto, argumentando a partir daí que a maçonaria pro-
põe um a nova religião “na qual todos os homens estão de
acordo”, e que essa religião seria deísta para alguns, vin-
culada a antigos deuses para outros, a própria Maçonaria,
etc, etc, etc. Mas o texto não para nesse ponto, ele conti-
nua, esclarecendo de modo completo e insofismável o
que Anderson pretendia dizer com “A religião na qual to-
dos os homens estão de acordo”:

“...isto é, serem homens de bem e leais, homens de


honra e probidade, quaisquer que sejam as denomi-
nações que os possam distinguir; pelo que a maçona-
ria se torna o centro de união, o meio de firmar uma
amizade sincera entre pessoas que teriam ficado per-
petuamente distanciadas.”

28
Ou seja, qualquer denominação religiosa (Católica, Bu-
dista, Muçulmana, Evangélica, etc.) concorda em que os
homens devem ser “homens de bem e leais, homens de
honra e probidade”, sendo essa formulação, a religião na
qual todos os homens estão de acordo. O que passar
disso, no que se refere a formulações metafísicas sobre a
natureza do Ser, de Deus e seu relacionamento com a hu-
manidade, fica contido na frase dita anteriormente no
mesmo texto: “deixando a cada um suas opiniões”. Como
reflexo dos tempos em que viviam, no qual a memória das
guerras religiosas era ainda presente, a nova instituição
que se criava deveria manter-se neutra em relação às di-
ferentes formulações religiosas de caráter metafísico,
pois adotar uma formulação implicaria em colidir com as
outras existentes, o que conduzira aos conflitos mencio-
nados. Por isso, Anderson, um pastor presbiteriano, ex-
cluiu as formulações católicas características das Old
Charges, mas não inseriu formulações próprias de sua fé,
deixando o tema RELIGIÃO aberto “a cada um suas opini-
ões”. Assim, qualquer homem livre e de bons costumes
poderia se tornar maçom e continuar praticando fiel-
mente sua religião, e a maçonaria deveria ressaltar seu
caráter principal – ser uma Fraternidade.

29
Percebe-se no texto de Anderson, claramente, que
mesmo não sendo mais uma organização dedicada à ati-
vidade de construção, sua organização não dispunha
ainda dos elementos e características hoje associados de
modo automático à Maçonaria. Não existia ainda o grau
de Mestre, e os de Aprendiz e Companheiros não estavam
perfeitamente definidos.

As alterações subsequentes ocorridas na nova Maçonaria


que se estruturava costuma também ser creditada à atu-
ação de Desaguiliers, que Depois de se retirar do cargo em
1720, foi escolhido por três vezes como Grão-Mestre Ad-
junto (Deputy ou Vice Grão-Mestre): em 1723, pelo Du-
que de Wharton; Em Junho do mesmo ano, pelo Conde de
Dalkeith; Em 1725, por Lord Paisley.

Existem relatos de sua atuação nesse período, com via-


gens pela Europa continental e Escócia, além de uma pro-
vidência duradoura da criação de um sistema de benefi-
cência existente até os dias atuais na Grande Loja Unida
da Inglaterra, com o nome de Fundo de Benevolência. Em
suas viagens, consta que ele visitou lojas operativas em
Edimburgo, na Escócia, onde conheceu a Loja de Edim-
burgo, tendo mesmo sido filiado como membro da Fra-
ternidade Escocesa. Este fato é relatado nos autos da his-
tória da Loja da Escócia de Lyon:

30
“Na Marie’s Chapell, em 24 de agosto do ano de
1721 – presente James Wattson, Diácono dos ma-
çons de Edimburgo. Presentes Neste dia o Doutor
John Theophilus Desaguliers, membro da Royal So-
ciety, e Capelão da Ordem de sua graça James Du-
que de Chandois, último Mestre Geral das Lojas
Maçônicas na Inglaterra, estando na cidade e de-
sejoso de ter uma conferência com o Diácono, Vi-
gilante e Mestres Maçons de Edimburgo, o que lhe
foi devidamente concedido, e encontrando-se ele
devidamente qualificado em todos os pontos da
Maçonaria, eles o receberam como um Irmão em
sua Sociedade:“
(http://samauma.com.br/site/macons/john-theophilus-de-
saguliers-o-pai-da-maconaria-especulativa/ )
Graças a seu círculo de relações, foram trazidos
para a Maçonaria personagens ilustre da nobreza, inglesa
e de outros países europeus, alguns dos quais iniciados
por ele, como o príncipe de Gales e o duque de Lorena,
mais tarde imperador da Alemanha. Também ilustres in-
telectuais da Royal Society foram trazidos por ele para a
Maçonaria. 20 dos grãos mestres na primeira metade do
século XVIII da Grande Loja de Londres foram membros da
Royal Society. Também foram sendo incorporados na nova
instituição os princípios do iluminismo, que adquiria defi-
nição e influência em todos os países europeus naquele
período. (Stevenson, 2005, p.23).

31
No trabalho anteriormente citado, Richard Andrew Ber-
man nos informa:

“De fato, sob a égide de Desaguliers, a reunião da


loja pode ter sido considerada quase como um
posto avançado do Iluminismo científico”.

Lembremos que O Iluminismo foi um movimento intelec-


tual, filosófico e cultural que surgiu durante os séculos
XVII e XVIII na Europa e defendia o uso da razão no lugar
da fé enquanto pregava maior liberdade econômica e po-
lítica. Considerava a razão como fator primordial e legí-
timo para o alcance da verdade e do conhecimento, pre-
gava o avanço da ciência e ignorava qualquer crença reli-
giosa que fosse contrária à evidência científica. O questio-
namento das coisas e das verdades era valorizado, o que
entrou em rota de colisão com os ensinos tradicionais das igre-
jas. Fazia oposição ao Absolutismo, ao Mercantilismo, as
vantagens da nobreza e a igreja católica. Defendia também
maior liberdade política e econômica, sem interferência
do Estado, e a ideia que Deus está presente na natureza e
no próprio homem.

Entre os principais pensadores desse período po-


demos citar John Locke (1632-1704), um dos mais impor-
tantes filósofos iluministas e fundador do empirismo e do
que hoje chamamos de liberalismo. Era inglês e defendia

32
a liberdade de expressão; Voltaire (1694-1778) pseudô-
nimo literário de François Marie Arouet, filósofo e escritor
francês. Defensor das liberdades individuais e da tolerân-
cia; Montesquieu (1689-1755) Conhecido principalmente
pela sua teoria de separação de poderes (Legislativo, Exe-
cutivo e Judiciário), esse filósofo francês fez parte da pri-
meira geração de pensadores iluministas e atuou princi-
palmente no ramo da política e da psicologia. Muitos ou-
tros ilustres filósofos deram sua contribuição na formula-
ção dos ideais desse importante movimento cultural. Ve-
mos assim a Maçonaria se configurar como uma nova ins-
tituição associada às novas ideias e princípios que então
surgiam

“É preciso repetir, que a Maçonaria Moderna não é de


forma alguma uma sociedade sucessora dos Maçons
Medievais, apesar de ter herdado deles alguns usos e
costumes, de significado doutrinário neutro e de ter
absorvido deles o espírito de assistência mútua. Mas
isto não equivale a uma comparação entre as suas es-
sências.” Ambrósio Peters (https://www.freema-
son.pt/iluminismo-e-maconaria-parte-ii-2/ )

De Londres, a nova instituição espalhou-se pelos paí-


ses da Europa continental, onde novas agremiações asse-
melhadas a Grande Loja de Londres surgiam: Grande Loja
da Irlanda 1725, Grande Oriente da França, nascido em

33
1728 como Primeira Grande Loja da França, ele tomou a
sua forma e seu atual nome em 1773, Grande Loja da
Escócia 1736, Grande Loja da França 1738, entre outras. A pri-
meira reação das autoridades e igrejas era de suspeição,
pois nobres e intelectuais se reuniam e juravam não divul-
gar nada do que ali se tratava. O que estariam tramando
essas pessoas? Essa era a primeira questão formulada pe-
las autoridades. Logo, porém, se mudava a concepção e a
nova modalidade de Maçonaria passava a ser aceita e am-
plamente praticada. Um jornal francês, em 1737 mostra
em seu texto a novidade representada pela nova Maçona-
ria (Jacques Ploncard D’Assac, 1984):

“Em maio de 1737, Barbier, advogado no Parla-


mento de Paris, que dirigia o seu jornal segundo a
moda, sublinhava na sua Chronique de la Ré-
gence et du Règne de Louis XIV: Os nossos senho-
res da corte inventaram recentemente uma ordem
chamada Pedreiros Livres, imitando a Inglaterra,
onde existem diversas ordens particulares, e nós
não tardamos a imitar essas impertinências do es-
trangeiro. Nesta ordem estavam inscritos alguns
dos nossos secretários de Estado e muitos duques
e fidalgos. Nada se sabe sobre os estatutos, regras
e objetivo dessa nova ordem. Eles reúnem-se, re-
cebem os novos cavaleiros, e a primeira regra é um
segredo inviolável relativamente a tudo o que se

34
passa. Como tais assembleias secretas são perigo-
sas para o Estado, dado que são integradas por fi-
dalgos e sobretudo nas circunstâncias relaciona-
das com a mudança do ministério, o senhor Car-
deal Fleury entendeu ser seu dever eliminar esta
ordem de cavalaria à nascença e proibiu a todos
esses senhores de se reunir e de organizar tais as-
sembleias.”

Detalhes a respeito da reação de cada país europeu à che-


gada dessa “Nova Ordem de Cavaleiros vida da Inglaterra”
podem ser encontrados no livro “Maçonaria e os docu-
mentos secretos do Vaticano”, de José Antônio Ferrer Be-
nimelli.

De tudo o que foi apresentado neste ensaio e das


definições presentes nos documentos citados, verifica-se
que os ideais científico/filosóficos do iluminismo, foram
trazidos para a Maçonaria, como vimos acima, pelos mem-
bros da Royal Society, destacando-se deles o Dr. John The-
ophilus Desaguiliers.
Muito mais poderia ser desenvolvido a respeito do
tema, mas consideramos suficiente o que foi aqui apre-
sentado para mostrar como ocorreu a transição entre a
Maçonaria Operativa e a Especulativa, e a influência deci-
siva da Royal Society em seu desenvolvimento.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Rodrigo de Oliveira Menezes – O Prumo de Hiram - O Pri-
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http://joseroberto735.blogspot.com/2013/04/a-real-so-
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José Maria Bonachi Batalla, https://bi-
bliot3ca.com/breve-historico-do-rito-frances-ou-mo-
derno/

38

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