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"É impossível ensinar-se a verdade àqueles cujos

pensamentos são mesquinhos".


NIETZSCHE
"Intuição é o ato de apresentação ou de percepção da realidade. Não cria a
realidade. Recebe-a. Por causa dessa atividade de recebimento, a intuição é
sempre receptiva ou passiva. E revela-se também sempre sensível porque o
caminho de percepção da realidade são os órgãos sensoriais. Por conseguinte, a
sensibilidade desempenha um papel de mediação, comparável ao horizonte que se
abre e deixa a realidade mostrar-se em sons e cores iguais." ARCÂNGELO BUZZI

BALANDRAU
Abrindo o presente trabalho, nos valeremos do auxílio do resumo do verbete,
conforme consta às folhas 152/153 do volume I do "GRANDE DICIONÁRIO
ENCICLOPÉDICO DE MAÇONARIA E SIMBOLOGIA", do saudoso Mestre e escritor
maçom NICOLA ASLAN:
ü "Espécie de opa ou beca com mangas, o Balandrau é fechado até o pescoço,
sendo confeccionado de tecido preto que pode variar de acordo com o clima. O
Balandrau é usado por certas irmandades em atos religiosos, tendo sido adotado
como vestuário pelos Irmãos de várias Lojas do Brasil.
O Balandrau do Irm.: Experto, bastante comprido, é munido de uma capa ou
mantelete e de um largo capuz, a fim de não ser reconhecido pelos profanos antes
de receberem a Iniciação Maçônica.
O uso do Balandrau, segundo nos parece, é uma particularidade da Maçonaria
brasileira, pois nenhum autor ou dicionarista maçônico, fora do Brasil, refere-se a
ele como indumentária maçônica. A nosso ver, o uso do Balandrau remonta à
última metade do século XIX, tendo sido introduzido na Maçonaria pelos Irmãos
que faziam parte, ao mesmo tempo, de Irmandades Católicas e de Lojas
Maçônicas, Irmãos estes que foram o pivô da famigerada Questão Religiosa,
suscitada no Brasil em 1872.
Esta peça de vestuário parece ter sido adotada pelos maçons brasileiros como
substituto barato e confortável do traje a rigor preto, exigido nas Cerimônias
Maçônicas, que é o smocking com gravata borboleta e luvas brancas. Esta
indumentária tinha a vantagem de poder ser confeccionada com qualquer tecido
leve e barato, o que, além de não ser dispendiosos, permitia suportar, em tempo
de canícula, altas temperaturas em recintos fechados. Estas razões ponderáveis o
fizeram adotar por muitas Lojas no Brasil, e o seu uso não foi objeto de qualquer
objeção por parte das altas autoridades maçônicas.
Assim, o uso do Balandrau não foi aprovado nem desaprovado; foi simplesmente
tolerado, não constituindo, portanto, um traje litúrgico.
Atualmente, nas Sessões Magnas, admite-se o traje de passeio em cores escuras,
dando-se, porém, preferência ao preto."
Apesar de o resumo acima quase dispensar outros esclarecimentos,
acrescentaremos mais alguns dados, objetivando enriquecer e dissecar o assunto.
Indispensável acrescentar que o Balandrau deve ser usado sempre com sapatos e
meias pretos.
"O Balandrau é traje eminentemente maçônico, não sendo encontrado em lojas de
modas, e iguala a todos os Iniciados, lembrando-lhes sempre sua condição de
Maçons. Tendo o comprimento adequado, até os pés, devendo, preferencialmente,
estar complementado pelo uso do capuz, tem, esotericamente, a função de manter
a energia interna circulando, sem perdas para o exterior. Deixando à mostra
somente as feições e mãos que, exprimindo inteligência, gestos e emoções,
distinguem o Homem do restante da Criação, uma vez que somente aquele pode
usar de expressões faciais e gesticulação para exteriorizar as faculdades e os
sentimentos mais nobres de que é dotado." (Nota: trecho extraído do livro "TEMAS
PARA A REFLEXÃO DO MESTRE MAÇOM", de Marcos Santiago).
Importante se frisar, ainda, que, apesar do seu uso já incluído nos "Usos e
Costumes" maçônicos, não é difícil observar-se o "torcer de nariz" de alguns
maçons "puristas", que não aceitam o Balandrau, sendo rigorosos na exigibilidade
do uso do terno.
Como o assunto diz respeito à indumentária maçônica, ou seja o traje maçônico,
importante que reproduzamos o pensamento do não menos culto e grande escritor
maçônico, que foi o nosso Ir.: JOSÉ CASTELLANI, que dizia (No seu "DICIONÁRIO
ETIMOLÓGICO MAÇÔNICO"):
"BALANDRAU - substantivo masculino, designa a antiga vestimenta, com capuz e
mangas largas, abotoada na frente e, também, certo tipo de roupa usada por
membros de confraria, geralmente religiosas. O Balandrau é largamente utilizado
em Maçonaria, durante as Sessões de Loja, sendo uma forma de uniformização; no
Grau de Mestre Maçom, em quase todos os Ritos, é obrigatório para todos os
maçons presentes à Sessão, enquanto o V.: M.: usa um manto de veludo negro.
Embora alguns autores insistam em afirmar que o Balandrau não é veste
maçônica, na realidade o seu uso remonta à primeira das associações organizadas
de ofício (hoje chamada de Maçonaria de Ofício, ou Operativa), a dos 'Collegia
Fabrorum', criada no século VI a.C., em Roma: quando as legiões romanas saíam
para as suas conquistas bélicas, os 'collegiati' acompanhavam os legionários, para
reconstruir o que fosse destruído pela ação guerreira, usando, nesses
deslocamentos, uma túnica negra; da mesma maneira, os membros das confrarias
operativas dos franco-maçons medievais, quando viajavam para outras cidades,
feudos, ou países, usavam um Balandrau negro. Assim, o Balandrau, que é veste
talar (deve ir até os talões, ou calcanhares), foi uma das primeiras vestes
maçônicas, sendo plenamente justificado o seu uso nas Sessões de Loja".
Transcreveremos, ainda, a seguir, um pequeno trecho (Pág. 136) do livro "A
MAÇONARIA OPERATIVA", do escritor NICOLA ASLAN, por julgá-lo um importante
acréscimo:
"A vestimenta do Maçom operativo medieval, conforme J. Fort Newton, citando
"HISTORY OF MASONRY" de Steinbrenner é descrita no texto: 'A vestidura
consistia numa túnica curta e negra; no verão, de linho, e, no inverno, de lã,
aberta aos lados, com uma gola à qual ia unido um capucho, ao redor da cintura
traziam um cinturão de couro, do qual pendiam uma espada e um surrão".
Segundo o escritor maçônico MARCOS SANTIAGO, em sua obra "TEMAS PARA
REFLEXÃO DO MESTRE MAÇOM", supracitada, à pagina 100, "...Em gravuras de
época do século XVIII, vemos maçons trazendo o Avental por sobre calções
bufantes, casacos com peitilhos rendados, e usando meias três quartos e sapatos
alambicados, como se usava então; (...) se o personagem fosse realmente Maçom
seria essa roupa sobre a qual envergaria o Avental nas reuniões de Loja".
Acrescenta, ainda, o supracitado escritor que "mesmo considerando que há de
haver um traje definido por sob o Avental, penso, quer por motivos históricos ou
esotéricos ou simbólicos, que o indicado seria mais o Balandrau que o terno, o
qual, aliás, para ser mesmo "terno" deve se compor de calça, paletó e colete (três
peças). Este traje é de uso comum em várias situações do mundo profano, no que
é uma imitação terceiro-mundista - dos que vivem em clima tropical - dos hábitos
do primeiro mundo, de climas mais frios".
O Balandrau, diferentemente do terno, é traje extremamente maçônico. É a
conclusão a que chegamos, através das pesquisas.

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