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A literatura é encarada como um bem comum e como um património quer de um país/língua, quer de uma
comunidade mais pequena.
➢ Literatura nacional – quando um texto fala do seu povo e, em princípio, na sua língua (mas pode não ser o
caso). A literatura de uma nação não fica encerrada nessa nação! Fica num espectro mais alargado que é o
da expressão artística.
Há um consenso, dependendo de hierarquias, que cada comunidade tem sobre a importância dos seus autores.
Contudo, é de maior importância a existência de regulação no campo literário. As instituições que regulam o
funcionamento da literatura são:
Contudo, quem regula a literatura a partir do momento em que esta passa para o espaço público é a crítica literária.
Crítica literária:
O ensino é um agente muito importante na institucionalização da literatura. Desde logo porque a literatura ocupa nos
currículos do ensino secundário um campo obrigatório e de peso:
✓ Pelo seu lado patrimonial – reconhecido como porta prestigiada de cultura e língua de uma nação;
✓ Permite a criação de uma memória coletiva – são referências comuns que nos unem.
Quem faz essa lista? Pessoas intimamente ligadas à cultura e em relação com o ministério da educação.
Nota: o sistema e a memória literária são sujeitos a reavaliações e reapreciações ao longo do tempo. Espera-se que
o ensino secundário tenha uma boa escolha de autores que nos deem um bom conhecimento da língua. Já no ensino
universitário, há maior liberdade de escolha e de problematização das escolhas consideradas consensuais.
Hoje em dia há um mecanismo de consagração muito importante: prémios (ex: Nobel, Prémio Camões – é o mais
importante em Portugal, Prémio da Associação de Autores, Prémio Vergílio Ferreira, etc.
• Aqueles que escrevem para transmitir valores – acreditam que a literatura tem pedagogia a exercer perante
o público
• Aqueles que acham que a literatura só tem de responder pela sua qualidade estética – defendem a arte
pela arte ou literatura pura.
Durante muitos séculos entendia-se que a literatura tinha de ser simultaneamente bela e útil. Tentavam criar obras
que obedecessem ao belo e à ética (ao “bem”).
A partir do século XVIII, muitos por influência da filosofia de Kant, começou a aceitar-se a separação/autonomia dos
valores estéticos em relação aos valores éticos/morais/sociais.
Na prática, isto quer dizer que a partir do século XVIII se passou a considerar que uma obra literária pode estar
contra os valores aceites como positivos pela sociedade e mesmo assim ser considerada uma grande obra de arte.
Não podemos avaliar os autores pela qualidade das virtudes que apregoam! Temos que avaliar o valor estético.
Contudo, há quem tente conciliar ambas as dimensões, como é o caso de Eça de Queirós, que denunciava
comportamentos sociais de forma estética.
Sempre houve e haverá literatura político-ideológica, que se preocupa com ideias políticas do seu tempo. Esta é
normalmente catalogada como literatura empenada ou comprometida. Em certos momentos de maior crise ou
convulsão social, chega mesmo a haver arte de combate. Ex: a poesia de Manuel Alegre é literatura
comprometida, funcionando como uma chamada de consciência ao leitor. No outro extremo do espectro, temos o
exemplo de Fernando Pessoa, que é defensor da arte pela arte, isto é, a arte não tem por obrigação desenvolver
sentimentos morais.
Literariedade
Tem a ver com as características que nos permitem dizer se um texto é literário ou não. É conferida por:
Nota: a linguagem geralmente utilizada no texto poético é muito difícil de traduzir porque neste processo se perde o
lado “material” da palavra – o som, a sua relação musical com outras palavras.
Materialidade do significante
O sinal/código que usamos para a linguagem tem um lado material (materialidade fónica – o som – conjunto de
sons que formam palavras que por sua vez remetem para um significado) e um lado mais mental (abstração mental
– imagem mental associada ao conjunto de sons).
No dicionário, ao código fónico sobrepõe-se um código ortográfico, que em mais ou menos cada som corresponde a
uma letra, a um código gráfico, código esse partilhado pelos utilizadores de uma língua.
A relação entre a parte sonora e o significado é arbitrária, não tem propriamente um sentido. Vem sofrendo evolução
ao longo do tempo.
No entanto, é típico da língua utilizada nos textos literários (nomeadamente na poesia) encontrar associações entre o
significado e o significante. Ou seja, a parte do signo (som e grafia) tem um potencial que é explorado na literatura e
sobretudo na poesia. Daí todos os jogos fónicos, paronomásias, aliterações, a simples sonoridade das palavras, são
trabalhados no texto poético. As palavras não são escolhidas ao acaso, mas sim em função da sua materialidade,
sobretudo do som.
Musicalidade
A poesia está recorrentemente associada à música. Durante séculos, a poesia tinha esta vertente muito acentuada,
tendo uma toada e ritmos próprios (ex: cantigas de amigo na idade média; odes).
Há uma exploração da musicalidade da língua que está desde sempre associada à poesia. Tem ritmo, que se
introduz na poesia através de pausas e acentos que se repetem, criado essa regularidade, essa cadência. Isto só é
possível com versos de tamanho regular.
A poesia estabelece essa cadência com a métrica, que além de instituir o tamanho do verso (nº de sílabas), também
se define o sítio das sílabas tónicas.
Notas: a repetição de vários versos ou da própria rima contribui para esse ritmo. Há inclusivamente poemas com
refrão; não ter métrica fixa não anula a existência de ritmo.
Elementos fónico-rítmicos
• Métrica
• Repetição
• Rima
• Anáfora
• Aliteração
• Assonância
• Paronomásia (= jogos de palavras/trocadilhos)
• Harmonia imitativa (criar musicalidade que imita o som de qualquer coisa)
• “Leit Motiv” (frase musical que vem de tempos a tempos ao longo do poema, vai-se repetindo. Pode consistir
num único verso)
• O próprio ritmo associado ao tema (ritmo lento associado a melancolia ritmo rápido/febril ligado a
sentimentos intensos. Verifica-se uma exploração do ritmo significante, isto é, do lado material da língua)
Materialidade visual
Destaca-se o material gráfico, não o sonoro.
Poesia experimental/visual/concreta: poesia para se ver e não tanto para se ouvir. Muito experimentada nos anos
60, mas com início há muitos séculos antes. Trabalha sobre o código gráfico e a mancha gráfica no papel. Está a
meio caminho entre a arte literária e as artes plásticas.
O grafismo ganha peso e valor estético, assim como a forma do texto e a incorporação de imagens.
Frequentemente há jogos de palavras (decomposição de palavras) que aproximam umas de outras que lhes são
familiares pela forma.
Caligrama
Metáfora
Recurso expressivo que aproxima realidades, um comparante e um comparado, sem explicitar as relações de
comparação. É sempre uma figura de substituição! (Há um significado que é substituído por outro; faz-se uma
transferência e cabe ao leitor fazer esse caminho interpretativo.)
• Metáfora in praesentia – aquela em que não está presente nenhum termo de compração (ex: “morte, navio
torto”; “amor é fogo que arde sem se ver”)
• Metáfora pura – não está sequer presente o elemento comparante, cabendo ao leitor detetá-lo (ex: “fogo que
arde sem se ver” – não está explícito o elemento “amor”)
• Metáfora lexicalizada – usada na linguagem corrente; já está no dicionário e nem é percebida como
metáfora; não é original.
Alegoria
É sempre um fenómeno de figuração de um conceito abstrato num conceito concreto (ex: imagem de mulher que
representa a justiça. Está vendada, simbolizando a ideia de igualdade, e tem uma balança, símbolo de equilíbrio e
ponderação).
Na literatura, funciona como uma pequena história que alarga a metáfora inicial. Isto é, é o prolongamento de uma
metáfora que depois se desenvolve numa espécie de narrativa.
Em geral, a alegoria é muito fácil de identificar. A metáfora isolada é muitíssimo mais difícil de interpretar do que uma
alegoria.
Outros conceitos
• Conotação – associação subjetiva de várias ordens que são partilhadas; para funcionar tem que ter
repercussão na língua dos leitores.
• Intertextualidade – diálogo que o texto estabelece com outros que o precederam.
• Sinédoque – figura de estilo caracterizada pela substituição de um termo por outro, ocorrendo uma redução
ou ampliação do sentido desse termo.
• Aliteração – figura de estilo caracterizada pela repetição de som consoante.
• Assonância – figura de estilo caracterizada pela repetição de um som vocálico.
• Paronomásia – relação de semelhança entre palavras diferentes, mas com som idêntico.
Modos literários
Na literatura, há três grandes formas naturais, segundo a tradição literária do ocidente:
• Lírica
• Narrativa
• Drama
Drama
É caracterizado por:
➢ Existência de personagens
➢ Predomínio do diálogo
➢ Ação limitada a determinado tempo e espaço
➢ Texto condensado e curto
Narrativa
É caracterizada por:
➢ Predomínio da narração por entidade – narrador
➢ Conta uma história
Lírica
É caracterizada por:
Forma:
É importante destacar a diferença entre poesia e lirismo! A poesia é o texto escrito em verso, enquanto que o lirismo
é uma essência, um modo de representação.