Você está na página 1de 6

ISBN 978-85-7846-516-2

LITERATURA E CULTURA DE MASSA: POR QUE LER OS CLÁSSICOS?

Weslei Chaleghi de Melo – UEL /UTFPR


E-mail: weslei@alunos.utfpr.edu.br

Renan Guilherme Pimentel - UENP


E-mail: renangpimentel@gmail.com

Eixo 1: Didática e Práticas de Ensino na Educação Básica

Resumo
Este trabalho objetiva proporcionar a reflexão em relação ao ensino dos clássicos
literários, que têm sido enfrentados pelos alunos como verdadeiros desafios. Ao se
considerar a leitura de obras de linguagem comercial, ou seja, literatura de massa,
como o caso dos Best-Sellers mais atraentes e/ou até mesmo por não
compreenderem o universo histórico em que grande parte das obras clássicas se
encontram. A pesquisa trata-se de um levantamento bibliográfico, trazendo autores
que relacionam teorias literárias no processo de ensino. Compreende-se, desta
forma que os resultados de uma prática pedagógica contextualizada em que o
docente considera o contexto social em que seus alunos estão inseridos e, a partir
disso, repensa em sua metodologia introdutória aos estudos de obras canônicas,
mostra-se imprescindível neste processo dinâmico.

Palavras-chave: Clássicos literários, Literatura de massa, Literatura e ensino.


Introdução
No intuito de traçarmos uma visão panorâmica, buscamos, a partir de uma
pesquisa bibliográfica, elencar autores relevantes que tratam do tema relacionado a
cultura de massa e a leitura de clássicos literários, subsidiando a pesquisa em seus
aspectos históricos, contextualizando toda a problemática da caracterização do
cânone literário.
Para a compreensão da literatura em sua relação com a cultura de massa,
partimos da premissa relacionada a criação do romance-folhetim, pois, para Aranha
e Batista (2009, p1), ”O surgimento do romance-folhetim marcou o início de um novo
modelo de expressão literária caracterizado pela simplificação formal e
acessibilidade da linguagem, dentre outros aspectos”. Que, consequentemente,
tornou-se, devido a sua simplificação, um objeto de consumo da população, que
majoritariamente eram compreendidas como de pouco acesso à leitura literária.

203
Após o desfecho da segunda guerra mundial, houveram grandes mudanças
econômicas e sociais, que, por sua vez, impulsionaram significativamente a
urbanização e a alfabetização, proporcionando que uma grande camada da
sociedade estivesse hábil para leituras.
Ler os clássicos torna-se um elemento essencial na construção da
personalidade literária do leitor. Para iniciar a nossa reflexão referente ao assunto
central “Por que ler os clássicos?” suscitamos um breve esclarecimento sobre a
configuração de uma obra literária considerada clássica. Nessa perspectiva, Calvino
(1993, p1) caracteriza as obras consagradas como “ Os clássicos são aqueles livros
dos quais, em geral, se ouve dizer: ‘ Estou relendo...’ e nunca ‘Estou lendo’.
Partindo desse pressuposto, consideramos os clássicos como livros
canonizados, que, sua universalização torna-se cultura de uma sociedade que direta
ou indireta consegue estabelecer relações intertextuais com tais obras ou que, no
mínimo reconhece trechos ou até mesmo por seu grau de autoria.

1 Literatura de massa
Para Aranha e Batista (2009), os autores salientam, que, tais mudanças
sociais, foram propulsoras da expansão do universo textual, descentralizando o livro
como uma ferramenta unicamente elitista e, sendo objeto da grande massa popular,
ou seja, das grandes camadas, que antes não tinham contato direto com a escrita,
chamamos assim, o acesso em grande escala a literatura, que tem uma grande
demanda de consumo, por Literatura de Massa.
Nessa concepção de venda da literatura em massa, a cultura escrita começou
a trabalhar com novos critérios linguístico, para atingir esse público-massa, Alfredo
Bosi expõe essa nova ideologia de cunho de produção literária como:

A personalidade construída a partir da generalização da mercadoria,


quando entra no universo da escrita (o que é um fenômeno deste século), o
faz com vistas ao destinatário, que é o leitor-massa, faminto de uma
literatura que seja especular e espetacular. Autor e leitor perseguem a
representação do show da vida, incrementado e amplificado. Autor-massa e
leitor-massa buscam a projeção direta do prazer e do terror, do paraíso do
consumo ou do inferno do crime – uma literatura transparente, no limite,
sem mediações, uma literatura de efeitos imediatos e especiais, que se
equipara ao cinema documentário, ao jornal televisivo, à reportagem ao
vivo. (Bosi, 2002: 249)

O folhetim, tornou-se, uma forma de entretenimento da população no período


da Revolução Industrial, em que, para Eliana Paz (2004), a produção literária voltada
204
para o consumo em massa utilizava-se de recursos estilísticos simplificados, com
utilização gramatical facilitada, para o entendimento de pessoas com menor grau de
escolarização.
Muitas vezes, a leitura literária de massa é vista como torpe, ou seja, uma
visão de inferiorização estabelecida pela crítica literária tradicionalista. Aranha e
Batista destacam que
Tem-se na literatura de entretenimento uma tendência à redução do esforço
do leitor, valendo-se de uma linguagem mais cotidiana, mais corrente. Isto
não significa que nesta modalidade esteja presente certo desleixo ou
descaso com o leitor, mas sim uma economia em relação ao universo
vocabular e aos recursos gramaticais que possam dificultar a leitura de um
amplo naipe de leitores”. (ARANHA e BATISTA, 2009, p.125. Grifo dos
autores)

Nessa concepção de literatura de entretenimento, considerando aqui a


literatura de massa, trazendo para os dias atuais, nota-se nitidamente o esforço do
escritor em estabelecer uma relação autor/obra/público. Um exemplo disso, são os
Best-Sellers da franquia “Jogos Vorazes” ou “Harry Potter”, que utilizam de
elementos como catarse, clímax, tensão, desfecho que estabelecem uma linguagem
popular, estando sempre entre os livros mais vendidos atualmente.
Vale destacar que a literatura na perspectiva de uma cultura de massa busca
uma produção cultural de grande escala, onde seu maior objetivo é, portanto,
agradar ao público, buscando alimentar a indústria de produção dos Best-Sellers.
Para Sodré (1988), podemos dividir a literatura em duas, sendo a culta e a de
massa. De acordo com o autor, para ser caracterizada como uma literatura culta, as
academias devem legitimá-las como tal, em contrapartida, a literatura de massa não
possui esse suporte acadêmico em sua legitimação, sendo considerada inferior,
dessa forma, sua produção e consumo parte da premissa do esquema de “oferta e
procura”, ou seja, do que o mercado consumidor está tendente a consumir.
A literatura de massa, traz em seu bojo, algumas características que
pressupõe a intencionalidade de cativar seu público, vale destacar o uso vigoroso de
personagens com características marcantes e, grande quantidade de diálogos,
fazendo com que o leitor compreenda a trama mais facilmente.
No âmbito do leitor, considerando-o nesse processo de reconhecimento
literário, para Tavela (2010, p.4), “Portanto, o leitor é relegado a um segundo plano.

205
Para o leitor interessado, a distinção entre alta literatura e literatura de massa é
completamente sem sentido. O que vale é o seu gosto, o seu prazer”
A literatura de massa, conhecida por literatura de entretenimento, na visão de
Paes (1990), pode ser utilizada como ferramenta potencializadora do processo de
desenvolvimento do prazer e, do habito pela leitura, adquirindo o leitor às
competências interpretativas para outros graus de complexidade de leitura,
alargando as percepções que o texto escrito literário proporciona, porém, advertimos
que a leitura literária não pode ficar restrita apenas a livros fáceis, mas, é uma
escala evolutiva, afinal, ninguém nasce leitor, tornamos leitores ao longo de um
processo de internalização de conceitos incentivadores da leitura.

2- A leitura de clássicos literários

Na caracterização dos clássicos, ainda como argumenta Calvino (1993), a


sua conjectura cultural traz significações, por meio da leitura, que perpassam o
momento histórico, dizemos que se torna inesquecível, sendo retomado na memória
coletiva, capaz de dar margem para ser criticado, porém se enaltece em meio a
críticas.
Tzvetan Todorov filósofo búlgaro, salienta um importante ponto na relação
obra literária e autor, a qual gostaríamos de dar relevância para o seguimento de
nossas discussões relacionada a leitura dos clássicos.

Os livros acumulam a sabedoria que os povos de toda a terra adquiriram ao


longo dos séculos. É improvável que a minha vida individual, em tão poucos
anos, possa ter tanta riqueza quanto a soma de vidas representada pelos
livros. Não se trata de substituir a experiência pela literatura, mas multiplicar
uma pela outra. Não lemos para nos tornar especialistas em teoria literária,
mas para aprender mais sobre a existência humana. Quando lemos, nos
tornamos antes de qualquer coisa especialistas em vida. Adquirimos uma
riqueza que não está apenas no acesso as ideias, mas também no
conhecimento do ser humano em toda a sua diversidade (TODOROV, p. 38-
39, 2010).

A leitura dos clássicos, além de geralmente ser incentivada por si só, pelos
seus elementos estruturais estilísticos, em geral, a leitura dessas obras, em suas
características construtivas, demanda que o leitor tenha uma participação ativa, pois,
não estamos falando de livros subentende-se uma leitura facilitada e comercial,
objetivando atingir um público massa como o caso dos Best-Sellers. As obras
canônicas, cujos seus valores históricos e culturais foram colocados pedestalmente
206
na relação ao universo literário, em sua demanda de interpretação necessita de
posicionamento ativo do leitor, que por sua vez, torna-se sujeito reflexivo no
processo de sistematização analógico entre obra e sua realidade.
Dessa forma:

O leitor busca, no seu contato com o objeto livro, se conectar a outras


experiências de vida, buscando entender o que é ser o outro, morar em
terras longínquas, falar uma língua estranha, ter outro sexo, um modo
diferente de enxergar o mundo. Assim, a literatura infanto-juvenil, como
outros gêneros literários, se constitui como um importante artefato cultural
difusor de mensagens, reforçando atitudes, legitimando discursos,
fortalecendo estigmas, mantendo ideologias. (VENÂNCIO, 2009, p. 53).

Vale ressaltar que, nem toda obra literatura traz em seu bojo tais reflexões,
cabe muitas vezes ao professor proporcioná-las em sua prática pedagógica,
selecioná-las de modo que a leitura tenha finalidades perpassam a concepção de
mera apreciação estilística, mas que proporcione a desconstrução de estigmas. A
leitura dos clássicos literários, torna-se elemento reflexivo e emancipatório do
pensamento, promovendo a autonomia interpretativa do leitor que apropria de
elementos multiculturais.

Conclusão
O cânone literário, em qual as obras foram universalizadas por seus aspectos
estruturais, muitas vezes não são apreciadas pelo público jovem, restringindo-se a
leitura obrigatória para o vestibular ou sendo apreciados por leitores com maestria
em leituras tidas como mais densas e interpretativas. Entretanto, a cultura de leitura
de massa, dita como literatura de entretenimento, mostra-se sobre si uma possível
estratégica introdutória de obras com graus de complexidades mais elevados.
A pesquisa mostrou-se relevante por propor uma reflexão didática ao ensino
dos clássicos literários, de modo que as compreensões das manifestações da
literatura podem ser aplicadas ao público que estão habituados a leitura de
entretenimento.
Na problemática: Por que ler os clássicos? Concluímos que, sua leitura
proporciona significados e ressignificações multiculturais, de cunho social, histórico e
reflexivo que contribuem veementemente para formação do indivíduo em relação as
suas singularidades e também na interação compreensiva do universo plurático em
que está inserido.

207
Referências Bibliográficas
ARANHA, Gláucio; BATISTA, Fernanda. LITERATURA DE MASSA E MERCADO.
Universidade Federal Fluminense: Revista do Programa de Pós-graduação Em
Comunicação, 2009. Disponível em:
<http://www.contracampo.uff.br/index.php/revista/article/download/11/26>. Acesso
em: 02 jul. 2018.
BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Cia das Letras, 2002.
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. In: Por que ler os clássicos. São Paulo:
Companhia das Letras, 1993.

PAES, Jose. Paulo. A aventura literária: ensaios sobre ficção e ficções. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.

PAZ, Eliane. H. Massa de Qualidade. In: I Seminário Brasileiro sobre o Livro e


História Editorial, 2004, Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa.
Disponível em <www.livroehistoriaeditorial.pro.br/pdf/elianehpaz.pdf>, acesso em 02
jul. 2018.

SODRÉ, Muniz. Best-Seller: a literatura de mercado. Rio de Janeiro: Ática, 1988.


TAVELA, Maria Cristina Weitzel. Literatura de massa na formação do leitor
literário . 2010. 10 p. Artigo Cientifico (Doutoranda em Estudos Literários)- UFJF
(Universidade Federal de Juiz de Fora), Juiz de Fora, 2010. Disponível em:
<http://www.ufjf.br/darandina/files/2010/12/16-Literatura-de-massa-na-
forma%C3%A7%C3%A3o-do-leitor-liter%C3%A1rio.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2018.

TODOROV, Tzvetan. Literatura não é teoria, é paixão. Revista BRAVO! Ano 12, n.
150, p. 38-39, fev – 2010.

VENÂNCIO, Ana. Literatura infanto juvenil e diversidade. 2009. 257 p.


Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
2009. Disponível em:
<https://www.acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/19516/Dissertacao%20PDF
.pdf?sequence=1>. Acesso em: 26 jul. 2018.

208

Você também pode gostar