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to erase so that memory remains empty «myth, n.». OED Online. June 2011. Oxford
and myths do not decompose» (Blan- University Press. 22 July 2011 <http://
chot 198). One must not stop here but oed.com/viewdictionaryentry/
go one step further: if one is fortunate Entry/124670>.
enough to discover one’s own personal
myth, it is only because discovery so
often and so closely resembles creation. LITERATURA ELETRÔNICA: NOVOS
HORIZONTES PARA O LITERÁRIO
Erik Van Achter N. KATHERINE HAYLES
São Paulo, Editora Global, 2009
WORKS CITED 208 páginas, ISBN 978-852-60-1415-2
Bataille, Georges (2006), The Absence of
Myth. Translated by Michael Richard- Com uma formação inicial na área da
son. New York & London: Verso. Química, N. Katherine Hayles veio
Blanchot, Maurice (2001), Faux Pas. a centrar-se no estudo da literatura,
Translated by Charlotte Mandell. Stan- nomeadamente no estudo da cultura
ford, CA: Stanford University Press. digital, tecendo elos entre ciência, tec-
Blumenberg, Hans (1985), Work on Myth. nologia e literatura. Para aqueles que
Translated by Robert M. Wallace. Cam- seguem os passos da literatura ele-
bridge, MA: MIT Press. trónica, N. Katherine Hayles tornou-
Curcio, James, ed. (2011a), The Immanence -se num nome incontornável. Autora
of Myth. London: Weaponized, 2011. das obras How We Became Posthuman
Curcio, James, ed. (2011b), The Best of (1999), Writing Machines (2002) e My
Modern Mythology [forthcoming]. Mother was a Computer (2005), em 2008
Motte, Warren, ed. (1998), OULIPO: A Hayles acrescentou um novo título à
Primer of Potential Literature. Cham- área de estudos literários. Trata-se da
paigne and London: Dalkey Archive. obra Electronic Literature: New horizons
Nicolescu, Basarab (2011), «Disciplinary for the Literary (2008), agora também
Boundaries», Bulletin Interactif du Cen- disponível em português.
tre International de Recherches et Études A edição aqui apresentada conta com
Transdisciplinaires (CIRET) 21 (Jan o prefácio de Tania Rösing e Miguel
2011): 1-3. <http://basarab.nicolescu. Rettenmaier, onde o leitor é advertido
perso.sfr.fr/ciret/ARTICLES/Nico- que o livro que irá ler foi produzido
lescu_fichiers/DisciplinaryBoundaries. em meio digital. Publicada em 2009,
pdf>. a edição brasileira do livro Electronic
Queneau, Raymond (2007), Letters, Num- Literature: New Horizons for the Literary
bers, Forms: Essays, 1928-70. Translated (2008), apresenta um grafismo seme-
by Jordan Stump. Urbana and Chicago, lhante ao original em inglês, o qual
IL: University of Illinois Press. procura espelhar as potencialidades do
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utilizador está perante «múltiplos flu- mudar as cognições dos leitores» (p.
xos de dados, estímulos em constante 94), pelo que o movimento ludita con-
mudança e a evocação de um entendi- tra a literatura eletrónica representa
mento intuitivo de operação algorít- um contrassenso. A teoria literária terá
mica» (p. 126), a atenção profunda e a que elaborar uma revisão de alguns
hiperatenção são invocadas simultane- conceitos fundamentais como o de
amente no ato de ler. «literatura», adaptando-os à nova rea-
Hayles refere que a «evolução dos lidade, na qual o computador não serve
mídia permite uma sucessão de adap- apenas para processamento de texto.
tações ontogênicas e com elas novas O computador promete alterar as pró-
possibilidades de envolvimentos literá- prias práticas críticas, proporcionando-
rios» e defende a importância de a crí- -lhes novos instrumentos críticos como
tica literária se manter recetiva a cada arquivos digitais, edições eletrónicas e
alteração. A interpretação de um texto todo um conjunto de ferramentas de
eletrónico não se resume ao papel ativo análise textual.
do leitor, mas também à performance O computador, inicialmente consi-
da máquina: derado como um instrumento de cál-
culo e de tratamento de dados, é o local
É exactamente quando esses processos onde a literatura eletrónica é produzida
de múltiplas camadas e múltiplos locais e difundida. O que Hayles sublinha é
dentro de seres humanos e máquinas que este instrumento é agora utilizado
interagem por meio de dinâmicas de artisticamente, suplantando a sua ima-
intermediação que os ricos efeitos da lite- gem de mera ferramenta e permeando
ratura eletrônica são criados, executados vários aspetos da vida humana: «a lite-
e experimentados. (p. 128) ratura pode ser compreendida como
uma tecnologia semiótica feita para
Inicialmente, a literatura eletrónica criar – ou, mais precisamente, ativar –
espelhava muitas das caraterísticas da malhas de retroalimentação que unam
literatura impressa. Porém, à medida dinâmica e recursivamente sentimentos
que a tecnologia evoluiu, novas cara- e raciocínio, corpo e mente» (p. 141). O
terísticas foram introduzidas no meio computador acentua o feedback recur-
digital. Hayles refere que «o conheci- sivo entre medium e ser humano, na
mento acumulado dos experimentos medida em que, durante a leitura de
literários anteriores não se perdeu, mas uma obra de literatura eletrónica, existe
continua a moldar os desempenhos no um canal aberto entre as operações da
novo meio» (p. 74). A autora defende máquina, o corpo e a mente do utiliza-
que a crítica literária tem vindo a igno- dor. A literatura eletrónica «promove
rar que a própria literatura «funciona intermediações entre código de compu-
como uma tecnologia projetada para tador e linguagem unicamente humana,
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