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CLASSICISMO - CAMÕES

EPOPEIA – OS LUSÍADAS

FORMA

 Versos decassílabos

 Oitava rima: ABABABCC

 Dez cantos

 Estrofes: 1102

 Versos: 8816

Professora Joice
CLASSICISMO - CAMÕES

EPOPEIA – OS LUSÍADAS

CONTEÚDO

5 partes:
 Proposição - introdução, apresentação do
assunto e dos heróis (estrofes 1 a 3 do Canto
I);
 Invocação - o poeta invoca as ninfas do Tejo e
pede-lhes a inspiração para escrever (estrofes
4 e 5 do Canto I);
 Dedicatória - o poeta dedica a obra ao rei D.
Sebastião (estrofes 6 a 18 do Canto I);
 Narração - a narrativa da viagem, in medias
res, partindo do meio da ação para voltar
atrás no tempo e explicar o que aconteceu até
ao momento na viagem de Vasco de Gama e
na história de Portugal, e depois prosseguir na
linha temporal.
 Epílogo a concluir a obra (estrofes 145 a 156
do Canto X).
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EPOPEIA – OS LUSÍADAS

TEMAS

 Plano da Viagem - onde se trata da viagem


da descoberta do caminho marítimo para a
Índia de Vasco da Gama e dos seus
marinheiros;
 Plano da História de Portugal - são
relatados episódios da história dos
portugueses;
 Plano do Poeta - Camões refere-se a si
mesmo enquanto poeta admirador do
povo e dos heróis portugueses;
 Plano da Mitologia - são descritas as
influências e as intervenções dos deuses da
mitologia greco-romana na ação dos
heróis.
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EPOPEIA – OS LUSÍADAS

NARRATIVA

 Depois da Proposição, da Invocação e da


Dedicatória, a ação começa in medias res
com a frota de Vasco da Gama já no
Oceano Índico, mas antes de chegar à Índia
(estrofe 19).
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CANTO I

O Consílio dos Deuses


Neste momento, é convocado o Consílio dos
Deuses (estrofes 20 a 41) para decidir se os
portugueses devem ou não conseguir alcançar
o seu destino. Júpiter afirma que sim, porque
isso lhes está predestinado.

Baco discorda porque, se isto for permitido, as


suas próprias conquistas no Oriente serão
esquecidas, ultrapassadas por este povo. Mas
Vénus vê os portugueses como herdeiros dos
seus amados romanos e sabe que será
celebrada por eles. Camões era um homem de
paixões, que também celebrava o amor na sua
lírica, e talvez por isso tivesse escolhido a
deusa romana desse sentimento para patrona
do seu povo.
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Segue-se um tumulto, com os restantes olímpicos a


tomar partido de Baco ou Vénus, até que o poderoso
Marte se impõe, assustando Apolo numa interrupção
(estrofe 37). O amante de Vénus, e admirador dos feitos
guerreiros dos portugueses, lembra que não só já é
merecido que consigam realizar a sua façanha, como
Júpiter já tinha decidido conceder esse favor e não
deveria voltar atrás na palavra. O rei dos deuses
concorda e encerra o consílio.

O discurso com que Júpiter começa a reunião é uma


acabada peça de oratória. Abre com a inevitável
introdução (1ª estrofe) em que, depois de uma original
saudação, expõe brevemente o tema a desenvolver.
Segue-se, ao modo da retórica antiga, a narração (o
passado mostra que a intenção dos fados é mesmo a
que o orador apresentou). Vem depois a confirmação:
com fatos do presente corrobora o que já, a seu modo, a
narração comprovara (4ª estrofe). E termina com duas
estrofes de conclusão, onde se apela à benevolência dos
deuses para com os filhos de Luso - aliás, a decisão dos
fados cumprir-se-á inexoravelmente. Contra o que seria
de esperar, Júpiter conclui determinando e não abrindo
o debate.
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A ilha de Moçambique e o piloto mouro

A ação volta então à frota lusa, que chega à ilha de


Moçambique. São acolhidos por muçulmanos que,
intimidados pelo poderio bélico das naus, lhes
prometem mantimentos e um piloto que os leve à Índia.
Mas as suas verdadeiras intenções são a destruição dos
portugueses. A inspiração do soberano mouro vem de
Baco, que tomara a forma mortal de um dos seus
conselheiros.
A primeira estratégia é atacar os marinheiros que forem
a terra abastecerem-se de água. Mas estes, cuidadosos,
vão armados e desbaratam as forças inimigas,
prosseguindo depois com o bombardeamento da
cidade. O regedor rende-se e oferece então um piloto
que os conduza para terras inimigas, a segunda
estratégia do deus do vinho.
Por duas vezes o piloto indica bons portos de
acolhimento: uma terra de cristãos, que será uma
referência ao reino de Preste João, e outra em que
cristãos e muçulmanos viviam juntos. Vasco da Gama
confia no piloto. Mas Vénus, vendo que na realidade se
trata de terras de muçulmanos capazes de vencer os
portugueses, desvia a frota com ventos contrários. O
primeiro porto é ultrapassado; o segundo é Mombaça, a
pouca distância do qual a frota lança âncora. E o canto
termina com duas estrofes plenas de suspense.
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CANTO II

Cilada em Mombaça

O rei de Mombaça envia um mensageiro com


promessas de bom acolhimento e pede que a
armada entre no porto da cidade, mas com a
intenção de armar uma emboscada. Vasco da
Gama envia primeiro dois degredados à cidade
para passarem a noite e avaliarem a situação.
Enganados pelos mouros e por Baco, estes
aconselham a entrada em Mombaça. Mas Vénus
interfere mais uma vez, e com a ajuda das
Nereidas impede a entrada dos navios
portugueses.

Vénus sai então em direção aos céus (estrofe 33).


Seduz Júpiter com a sua beleza e queixa-se dos
perigos que a expedição está a correr. O rei dos
deuses reafirma que os fados já destinaram
sucesso para os portugueses e envia Mercúrio
para avisar Vasco da Gama da existência de
Melinde, onde encontrará um rei justo e
bondoso, que fornecerá tudo o que procura.
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Chegada a Melinde

Depois de interrogarem prisioneiros feitos em


Mombaça, é confirmada a boa notícia do reino
de Melinde. A frota dirige-se para lá e é bem
recebida. Apesar de naturalmente
romanceado, este episódio é um
documentário da descoberta de novas terras e
novos povos. De uma grande riqueza
descritiva, por ele se consegue "ver" Melinde e
os melindanos, como se apresentou a
esquadra portuguesa, a recepção que teve,
como foram as reações de uns e de outros, e
como foi feito o contato diplomático.

O rei melindano oferece mantimentos,


munições e piloto para a Índia. Subindo a
bordo da nau capitânia, pede a Vasco da Gama
que lhe conte sobre a sua viagem. Mas que
primeiro descreva o reino de Portugal: a sua
geografia, a sua história e as suas gentes.
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CANTO III

Após uma invocação do poeta a Calíope,


Vasco da Gama começa por explicar a
geografia da Europa e a situação de Portugal
no continente (estrofes 6 a 20).

Inicia então a narrativa da história de Portugal.


De Luso a Viriato, passa para o rei D. Afonso VI
de Leão e Castela, D. Teresa e o conde D.
Henrique. Segue-se a luta de D. Afonso
Henriques pela formação da nacionalidade e a
enumeração dos feitos guerreiros do primeiro
rei de Portugal contra castelhanos, leoneses e
mouros.
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Inês de Castro

O turbilhão de emoções continua com este


episódio lírico-trágico (estrofes 118 a 135),
talvez o mais reconhecido de Os Lusíadas.
Convém que se não perca de vista a sua
integração no poema, via alocução de Vasco
da Gama ao rei de Melinde. Costuma-se
classificá-lo como lírico, distinguindo-o assim,
sobretudo, dos mais comuns episódios
bélicos.

D. Inês e D. Pedro são os amantes trágicos por


excelência. O seu amor é ilícito, proibido pelos
poderes. O poeta que tinha escrito sonetos tão
sombrios, de sofrimento amoroso, chama
repetidamente este de “puro amor”, e censura
o rei, de quem tanto elogiara os feitos
guerreiros, por esta sombra no seu reinado.
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D. Afonso IV pretende casar o filho que,


apaixonado por Inês, recusa. A solução é
eliminá-la. Trazida à presença do rei, esta
implora pela sua vida, só para poder cuidar
dos seus filhos. Comove o velho soberano,
mas os conselheiros e o povo exigem a morte.
E assim a frágil e bela apaixonada é
assassinada.

Uma rápida análise do episódio permite


encontrar aí presentes, com maior ou menor
clareza, elementos trágicos como o destino,
que conduz a ação para o final trágico. A
nobreza moral e social dos personagens é
também salientada, de modo a criar no leitor
sentimentos de terror e de piedade perante a
desgraça que se abate sobre a protagonista
(catástrofe).
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CANTO IV

Vasco da Gama prossegue a narrativa da


história de Portugal. Fala agora da 2.ª Dinastia,
desde a Revolução de 1383-85, até ao
momento, do reinado de D. Manuel I, em que
a sua armada parte para a Índia.

O Velho do Restelo

O canto termina com a partida da armada.


Quando estão a despedir-se das famílias na
praia de Belém, os navegadores são
surpreendidos pelas palavras de um velho que
estava entre a multidão. É o episódio do Velho
do Restelo (estrofes 94 a 104).
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Este personagem é a representação da


contestação da época contra as aventuras dos
descobrimentos. Havia quem pensasse que era
puro orgulho e simplesmente suicídio tentar
estes projetos de navegar para partes
longínquas do mundo; uma perda de recursos
e homens, que fariam falta na luta contra os
inimigos mouros ou para a defesa do reino
contra uma eventual invasão castelhana.

O episódio entrou no imaginário português. A


expressão passou a significar o
conservadorismo, o mau agouro, a má
vontade e a falta de espírito de aventura,
frente a projetos originais que exigem alguma
ousadia e gastos de recursos.
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CANTO V

Vasco da Gama conta agora como foi a


viagem da armada, de Lisboa a Melinde. É a
narrativa da grande aventura marítima, em que
os marinheiros observaram maravilhados ou
inquietos a costa de África, o Cruzeiro do Sul
nos céus desconhecidos do novo hemisfério, o
Fogo de Santelmo e a Tromba Marítima, e
enfrentaram perigos e obstáculos enormes
como a hostilidade dos nativos, no episódio
de Fernão Veloso, a fúria de um monstro, no
episódio do Gigante Adamastor, a doença e a
morte provocadas pelo escorbuto.
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O Gigante Adamastor

Podem-se considerar três partes no episódio do


Adamastor: a primeira é uma teofania (estrofes 37 a 40).
Chegados ao cabo das Tormentas no meio de uma
tempestade, os marinheiros avistam o titã, tão terrível
que “Arrepiam-se as carnes e o cabelo A mi e a todos só
de ouvi-lo e vê-lo”. Aqui está o puro pavor, a ameaça
iminente da aniquilação, fisicamente sentida - as carnes
engelham-se, os cabelos crispam-se.

O espetáculo é envolvente, grandioso, terrificante. Este


semideus maléfico, encarnação dos perigos da arriscada
travessia, precede-se de uma nuvem negra, que surge
rasante sobre as cabeças dos navegantes. Mas mais
surpreendente ainda é a orquestração que o mar faz
com este elemento aéreo “Bramindo, o mar de longe
brada, Como se desse em vão nalgum rochedo”. O lado
maravilhoso desta aparição também é acentuado,
fazendo contrastar todo o espetáculo de disformidade e
gigantismo com o cenário precedente, onde são
manifestos os encantos de uma noite dos "mares do
Sul", “prosperamente os ventos assoprando”.
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Então começa a segunda parte do episódio
(estrofes 41 a 48), que em termos cronológico-
narrativos é uma prolepse . O Adamastor fala e,
como um oráculo, vaticina o destino cruel que
espera alguns dos navegadores que atravessarão
os seus domínios. É uma forma inteligente de o
poeta dos meados do século falar de
acontecimentos do passado, mas que seriam
futuros para o navegador do início do século que
faz a narração.

Finalmente surge uma écloga marinha (estrofes


49 a 59), que obedece a um desenvolvimento
comum a muitas composições líricas de Camões:
o enamoramento (de Adamastor por Tétis, não
correspondido), a separação forçada (pela
titanomaquia), a traição, o lamento pelo sonho
frustrado, do qual o sofredor é constante e
eternamente recordado: “Enfim, minha
grandíssima estatura, Neste remoto cabo
converteram Os Deuses, e por mais dobradas
mágoas, Me anda Tétis cercando destas águas”.
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Passado mais este obstáculo, os navegadores


agora enfrentam a doença, particularmente o
escorbuto, e um clima a que não estão
habituados. Apesar de um acolhimento cordial
dos povos da África do Sul, o desânimo
também aumenta por não haver quem dê
notícias sobre a Índia. Até que, depois de
Moçambique e Mombaça, a narrativa termina
com a alegria da chegada a Melinde.
O canto encerra com a admiração dos
melindanos por toda a epopeia portuguesa, e
a censura do poeta pela iliteracia dos seus
conterrâneos. Pela boca de Vasco da Gama,
que lhe empresta legitimidade, conta como os
poderosos do mundo, especialmente gregos e
romanos, eram amantes das letras. E lamenta
que os seus contemporâneos desprezem a
língua, a poesia e o cantar e louvar de heróis e
povos.
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CANTO VI

Finda a narrativa de Vasco da Gama, e os


festejos dos melindanos, a armada sai, guiada
por um piloto que deverá guiá-la até Calecute.

Baco, vendo que os portugueses estão prestes


a chegar à Índia, resolve pedir ajuda a Netuno,
que convoca um concílio dos deuses marinhos.
A decisão destes é oposta à dos olímpicos, e
assim ordenam a Éolo que solte os ventos para
fazer afundar a frota.
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A tempestade

A história de Veloso é interrompida pela


chegada da tempestade provocada pelos
deuses marinhos (estrofes 70 a 84). É uma
descrição dramática de quem viveu situações
semelhantes e conhece a gíria náutica: os
ventos, a ondulação, a quebra de mastros, as
naus alagadas, os gritos dos marinheiros,
relâmpagos e trovões.

Vendo as suas embarcações quase perdidas,


Vasco da Gama dirige uma prece a Deus.
Mais uma vez, é Vénus que ajuda os
portugueses, mandando as ninfas seduzir os
ventos para os acalmar. Dissipada a
tempestade, a armada avista Calecute e o
capitão agradece a mercê divina.

O canto termina com considerações do


poeta sobre o valor da fama e da glória
conseguidas através dos grandes feitos, e
uma crítica a quem procura estas e a fortuna
por intriga e favor dos poderosos.
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CANTO VII

Este canto inicia com a comparação dos feitos dos


portugueses contra os muçulmanos, expandindo
o cristianismo e fazendo a guerra santa, com os
conflitos internos da Europa (estrofes 2 a 15).
Segundo o ponto de vista de Camões, os reis e os
nobres das outras nações europeias perdem-se
em guerras intestinas, inglórias e injustas. Os
alemães, franceses e ingleses renegaram a
verdadeira fé e enfraquecem o poder cristão. Os
italianos são corruptos, lutando uns contra os
outros com o único objetivo do ganho pessoal.
Pelo contrário, só os portugueses, com as mais
nobres intenções, lutam contra os mouros e
turcos.

Assim que aporta em Calecute, Vasco da Gama


envia um mensageiro ao soberano indiano. No
meio deste novo povo, com quem não consegue
falar, o marinheiro encontra Monçaide, um mouro
hispânico falante de castelhano, que o acolhe e
lhe serve de tradutor. Monçaide acompanha-o até
à frota e explica aos portugueses um pouco da
geografia, história, política, religiões e costumes
da Índia.
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O capitão e Monçaide desembarcam e


encontram-se com o Catual, um ministro que
os acompanha até ao Samorim (estrofes 43 a
65). A descrição do que os portugueses veem é
um exemplo da sociologia da descoberta e da
interpretação de uma cultura absolutamente
nova. É proposto um tratado comercial e,
enquanto o soberano indiano pondera, a
embaixada volta à nau capitânia. Aqui
encontra-se um painel representando a história
de Portugal.

Mas antes da explicação deste, sentindo faltar


a inspiração, Camões conta um pouco da sua
biografia e lança-se num lamento indignado
pelo modo como a sua pátria o tem tratado, a
quem só pretende cantar a glória portuguesa
(estrofes 78 a 87).
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CANTO VIII

O painel da história de Portugal

Passagem traz a história de Portugal

Tratado com o Samorim

O Samorim manda examinar os augúrios


que, segundo o poeta, por serem pagãos
são facilmente enganados pela sua fé
errada. O Demônio engana-os dando a
previsão de que os portugueses virão a
subjugar toda a Índia. Isto é confirmado
pelos conselheiros islâmicos do soberano, a
quem durante a noite Baco visitara durante
os sonhos, fazendo-se passar por Maomé,
acusando os ocidentais de pirataria e
incitando à destruição a frota.
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No dia seguinte, o Samorim tem de decidir


entre as vantagens económicas do tratado
com os portugueses e as previsões
catastróficas da noite. Chamando Vasco da
Gama, acusa-o de apátrida e pirata,
incitando-o a confessar a verdade. O
navegador responde com dignidade
(estrofes 65 a 75), reafirmando as suas
intenções, e sai da audiência com
autorização para comercializar.

Mas o ministro indiano, influenciado pelos


muçulmanos do reino, faz o capitão de
refém e tenta trazer a frota portuguesa para
mais perto, para a poder assaltar. Quando
esta estratégia falha, cobiçando o lucro e
temendo o castigo do seu soberano por
estar a desobedecer às suas ordens, aceita
trocar Vasco da Gama por mercadorias das
naus.
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Ilha dos Amores

Vendo agora a frota em segurança no seu


regresso a Portugal, Vénus pede a ajuda do
seu filho Cupido para juntar os amores e
ferir as nereidas com as flechas do amor.
Com as ninfas e Tétis sob esta influência,
coloca uma ilha mística na rota de regresso
dos portugueses, e a ela traz os amantes.

(Estrofe 83)
“Ó que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã, e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.”
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CANTO X

A profecia da Sirena

Depois de saciados os primeiros apetites, os


marinheiros chegam ao palácio de Tétis, onde
lhes é servido um farto banquete. Neste, a
Sirena profetiza os feitos dos portugueses no
Oriente (estrofes 10 a 73). Mais uma vez
Camões usa o artifício da profecia para contar
o que se passou entre 1498, o ano da
descoberta do caminho marítimo para a Índia,
e o tempo em que o poema foi escrito.

São então cantados os heróis e governadores


da Índia, que da mesma forma vão merecer a
presença na Ilha dos Amores. (Aqui são citados
todos os heróis da obra).
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A Máquina do Mundo

Acabado o banquete, Tétis convida o Gama


para o espetáculo da Máquina do Mundo, o
espetáculo único das esferas celestes de
Ptolomeu (estrofes 77 a 144). Aqui vemos que
ao génio e aos conhecimentos de Camões
sobre geografia, história, mitologia, religião,
guerra, comportamento humano e navegação,
se junta o da astronomia (do século XVI,
naturalmente).

Nas palavras de António José Saraiva, "é um


dos supremos sucessos de Camões", "as
esferas são transparentes, luminosas, veem-se
todas ao mesmo tempo com igual nitidez;
movem-se, e o movimento é perceptível,
embora a superfície visível seja sempre igual.
Conseguir traduzir isto por meio da "pintura
que fala" é atingir um dos cumes da literatura
universal."
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Incluídas neste episódio ainda vão estar mais


"profecias" sobre os portugueses; a história
dos milagres de S. Tomé, evangelizador da
Índia (estrofes 108 a 118), com uma breve mas
arriscada crítica aos jesuítas na estrofe 119; na
estrofe 128 uma referência ao naufrágio de
Camões, em que se salvou a nado com Os
Lusíadas, e uma curiosa previsão de que a sua
“Lira sonorosa Será mais afamada que ditosa”
- a sua obra seria mais famosa do que a sua
vida afortunada.

Depois disto, os portugueses embarcam


novamente e chegam sem mais problemas a
Lisboa, onde recebem as glórias que lhes são
devidas.
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Epílogo

A epopeia termina com um epílogo (estrofes 145


a 156) em que o poeta lamenta mais uma vez as
injustiças que o Reino lhe terá cometido. Reforça a
dedicatória da obra ao jovem rei D. Sebastião e
aproveita, como homem experiente da vida e dos
conhecimentos, para lhe dar alguns conselhos:
que se aconselhe com os melhores, governe com
justiça, premeie apenas e sempre quem merece,
lute com bravura e inteligência para expandir
Portugal e a fé cristã. Deste modo, tal como
Aquiles foi cantado por Homero, Camões cantará
o seu rei.

(Estrofe 145)
“Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.”
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A POESIA LÍRICA CAMONIANA

ESTILOS

Clássico:
 Clareza

 Simplicidade

 Equilíbrio

Maneirismo:
 Contradição

 Complexidade

 Exagero
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A produção lírica de Camões é bastante variada:


escrita tanto na medida velha quanto na nova,
aborda questões medievais e tradições populares,
mas também temas clássicos e renascentistas,
como neoplatonismo amoroso . A força de sua
obra está no modo original como o autor
apropria dos motivos literários em moda na
época.

A poesia lírica camoniana desenvolve-se sob um


permanente antagonismo entre o amor sensual e
o amor espiritual, a inteligência e a sensibilidade,
a humildade e o orgulho, a inocência e a culpa. A
partir dessa característica, Camões trata de
conflitos dolorosos e da busca frustrada pelo
equilíbrio em si mesmo e do mundo à sua volta.

Essa questão fica evidenciada em um dos poemas


líricos (sonetos) mais famosos do autor:
CLASSICISMO - CAMÕES
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões
CLASSICISMO - CAMÕES

Embora Camões tenha escrito interessantes


poemas em medida velha, foi com sonetos que a
poesia camoniana se destacou no contexto da
época. Nesse tipo de poesia, percebem-se uma
apreensão mais complexa do amor e da vida, a
idealização da mulher amada aos moldes
neoplatônicos e a alusão aos “desconcertos do
mundo”, os quais consomem o homem
renascentista de dúvidas e anseios com relação
ao futuro do reino e à fé cristã.
Há sempre nos versos camonianos um desacerto,
uma tristeza, um desajuste entre as exigências de
seu interior e os obstáculos que o mundo oferece
no caminho.
Esse descompasso entre o mundo exterior e o da
intimidade aparece tanto em suas queixas sobre
as injustiças que sofre, a pobreza, a miséria física
e moral, como nos poemas amorosos em que a
amada é intangível. E esse universo contraditório
o deixa infeliz. Quer compreendê-lo, mas não
consegue. Frustra-se e conduz-se para a
experiência sofrida da existência malsucedida.
Parece que dificilmente compreenderá a dor
intensa que sente ao viver em contraste com tudo
que o rodeia.
CLASSICISMO - CAMÕES

Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar


No mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

Luís de Camões
CLASSICISMO - CAMÕES
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Luís de Camões

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