Síntese das características literário-estilísticas de Álvaro de Campos
Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos. Álvaro de Campos
Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio, Todos os lugares onde estive. Álvaro de Campos
Numa carta a Adolfo Casais Monteiro (1935), Pessoa estabelece a data de
nascimento de Álvaro de Campos em 15 de Outubro de 1890, à 1,30 da tarde. Nasceu em Tavira e formou-se em Engenharia Naval por Glasgow, embora se encontre em Lisboa em inactividade. Este heterónimo apresenta uma acentuada evolução ou viagem por estados muito diferentes que se reflectem quer na construção dos textos, quer na temática, quer no estilo. Álvaro de Campos surge quando " sente um impulso para escrever ". É o próprio Pessoa quem considera que Campos se encontra " no extremo oposto, inteiramente oposto a Ricardo Reis ", apesar de ser como este um discípulo de Caeiro. Para Campos a sensação é tudo. O sensacionismo torna a sensação a realidade da vida e a base da arte. O Eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalização das sensações, mas sobretudo das percepções conforme as sente, ou, como ele próprio afirma, " sentir tudo de todas as maneiras ". O seu sensacionismo distingue- se do de Alberto Caeiro na medida em que este considera a sensação captada pelos sentidos como a única realidade, mas rejeita o pensamento. Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é figurado " biograficamente ", por Pessoa, como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente em poemas onde exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso. Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente sentir tudo de « todas as maneiras », seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. « Poeta da modernidade », Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade. Campos busca, na linguagem poética, exprimir a energia ou a força que se manifesta na vida. Dai o surgimento de versos livres, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos, das emoções.