Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS NO
PROFLETRAS
2
JUAREZ NOGUEIRA LINS
MARIA SUELY DA COSTA
LEÔNIDAS JOSÉ DA SILVA Jr.
CARLA ALECSANDRA DE MELO BONIFÁCIO
(ORGANIZADORES)
FORMAÇÃO DOCENTE E
EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS NO
PROFLETRAS
3
Copyright © Autoras e autores
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida,
transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos das autoras e dos
autores.
Juarez Nogueira Lins; Maria Suely da Costa; Leônidas José da Silva Jr.; Carla
Alecsandra de Melo Bonifácio [Orgs.]
CDD – 370
4
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 9
.
CAPÍTULO 01 13
O ENSINO DA ESCRITA NO DISCURSO DE
PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA
PROPOSTA DE PESQUISA
Carla Alecsandra de Melo Bonifácio
.
CAPÍTULO 02 31
ANÁLISE DO ROTACISMO NA ESCRITA DE
ALUNOS DO 6° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
DA EJA
Aline Monteiro da Silva
Leônidas José da Silva Jr.
.
CAPÍTULO 03 49
NOITE DE LUA: VIVENCIANDO A POESIA EM SALA
DE AULA
Rômulo Rodrigues de Oliveira
Maria Suely da Costa
.
CAPÍTULO 04 69
USO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA NA PRODUÇÃO
DO GÊNERO ARTIGO DE OPINIÃO
Iara Ferreira de Melo Martins
Eduardo Souza da Silva
.
CAPÍTULO 05 91
A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DAS ESTRATÉGIAS
DE LEITURA PARA A AMPLIAÇÃO DA
COMPETÊNCIA LEITORA DE DISCENTES DO 9º
ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
João Lucas Pinheiro da Silva
Carla Alecsandra de Melo Bonifácio
.
.
5
CAPÍTULO 06 107
O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: PROPOSTA
DE ATIVIDADE DISCURSIVO/REFLEXIVA, A
PARTIR DE CHARGES SOBRE O ENSINO REMOTO
Maria Solange de Lima Silva
Juarez Nogueira Lins
.
CAPÍTULO 07 121
LÍNGUA, VARIAÇÃO E ENSINO: UMA PROPOSTA
METODOLÓGICA SOBRE VARIAÇÃO
LINGUÍSTICA NO 9° ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Arethusa Angre do Rêgo Antero
Bráulio Maciel Silva
.
CAPÍTULO 08 147
O USO DA “PARTÍCULA SE” COMO ÍNDICE DE
INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO OU PARTÍCULA
APASSIVADORA NA GRAMÁTICA E NO LIVRO
DIDÁTICO
Ana Paula Lima da Silva
Jorge da Silva Nunes
Rosa Maria Marques Soares
.
CAPÍTULO 09 167
O ENSINO DO FUTURO DO PRETÉRITO NO LIVRO
DIDÁTICO PORTUGUÊS: LINGUAGENS 7º ANO
Sandoval Alves Ferreira
Suzana Pereira Araújo
.
CAPÍTULO 10 187
SUBSTANTIVAÇÃO DE VERBOS E DERIVAÇÃO
IMPRÓPRIA: CONVERSÕES GRAMATICAIS
Maria Josely dos Santos Ferreira
Maria Solange de Lima Silva
.
.
.
.
6
CAPÍTULO 11 203
O MODO IMPERATIVO EM PROPAGANDAS DE
ALIMENTOS – ALGUMAS REFLEXÕES
Gilderlane Guimaraes Sousa Santos
Ana Paula da Silva Lopes
7
8
APRESENTAÇÃO
9
da análise das percepções de ensino de escrita no discurso de
professores de língua portuguesa, egressos do Mestrado
Profissional em Letras.
O Capítulo 02 – Análise do Rotacismo na escrita de alunos do 6°
Ano do Ensino Fundamental da EJA, de Aline Monteiro da Silva e
Leônidas José da Silva Júnior. Esta pesquisa, à luz dos estudos de
Roberto (2016); Silva (2015); Soares (2012), Hora (2017), Seara
(2011), Bisol (1974, 1996), Bagno (2007), dentre outros, analisa o
processo fonológico do Rotacismo nas produções textuais de
alunos do 6 º Ano da Educação de Jovens e Adultos – EJA.
O Capítulo 03 – Noite de Lua: Vivenciando a Poesia em sala de
aula, de Rômulo Rodrigues de Oliveira e Maria Suely da Costa. O
texto traz uma pesquisa sobre a formação do leitor do texto
literário. E, objetiva apresentar uma proposta de leitura literária
para a sala de aula, através da poesia de Cordel. E desse modo,
viabilizar uma experiência dinâmica aos discentes do 9º ano do
Ensino Fundamental II, a partir da leitura do folheto de Cordel
intitulado Noite de Lua do poeta João Gomes Sobrinho, conhecido
por Xexéu.
O Capítulo 04 – Uso da Sequência Didática na produção do gênero
Artigo de Opinião, de Eduardo Souza da Silva e Iara Ferreira de Melo
Martins. O texto apresenta, a partir do gênero artigo de opinião,
uma proposta de intervenção direcionada à alunos do 9º ano do
Ensino Fundamental. O estudo objetiva realizar uma análise
comparativa entre quatro produções textuais, observando os
aspectos composicionais, estilo e conteúdo temático, através da
sequência didática. Possibilitando, deste modo, a constituição de
sujeitos críticos.
O Capítulo 05 – A importância do ensino das estratégias de leitura
para a ampliação da competência leitora de discentes do 9° ano do ensino
fundamental, de João Lucas Pinheiro da Silva e Carla Alecsandra de
Melo Bonifácio. A pesquisa apresenta uma proposta didática para
ampliação da competência leitora de discentes do 9º ano do ensino
fundamental, a partir do ensino de estratégias de leitura,
considerando a necessidade de um trabalho relacionado a um
10
processo pedagógico que priorize as ações nas quais o objetivo seja
de fato o desenvolvimento da proficiência leitora dos estudantes.
O Capítulo 06 – O Ensino de Língua Portuguesa: proposta de
atividade discursivo/reflexiva, a partir de charges sobre o Ensino Remoto,
de Maria Solange de Lima Silva e Juarez Nogueira Lins, apresenta
uma proposta de atividade didática discursivo/reflexiva, para o
ensino de Língua Portuguesa, a partir de charges sobre a pandemia.
Atividade que possibilite aos sujeitos-alunos (as) do 9º ano do
ensino fundamental se tornarem sujeitos-leitores/escritores críticos,
construtores ativos da língua, sujeitos sociais.
O Capítulo 07 – Língua, Variação e Ensino: uma proposta
metodológica sobre Variação Linguística no 9° Ano do Ensino
Fundamental, de Arethusa Angre do Rêgo Antero e Bráulio Maciel
Silva. Os (as) autores (as), a partir de Tirinhas de Chico e
fragmentos do filme Central do Brasil, analisam o fenômeno da
variação linguística na escola, observando de que modo, a
instituição escolar encara o fenômeno da variação linguística e o
que faz para minimizar a visão preconceituosa sobre os falantes da
língua portuguesa, sobretudo, quando utilizam expressões
consideradas “inadequadas” pela gramática normativa. Quais as
implicações da visão preconceituosa nas relações sociais e, como os
estudantes se veem, nessa situação de uso real da língua.
O Capítulo 08 – O uso da “Partícula Se” como Índice de
Indeterminação do Sujeito ou Partícula Apassivadora na Gramática e no
Livro Didático, de Ana Paula Lima da Silva, Jorge da Silva Nunes e
Rosa Maria Marques Soares. Os (as) autores (as) analisam,
comparativamente, o ensino da partícula SE como índice de
indeterminação do sujeito e S E como partícula apassivadora, em
01 gramática e em 01 livro didático. Eles levam em consideração
aspectos verbais da voz passiva, em destaque a voz passiva
sintética, e tecem reflexões sobre a ideia de sujeito da oração,
especialmente o sujeito indeterminado e sua regra de uso do SE,
verificando o comportamento dele, enquanto índice de
indeterminação do sujeito. E a partícula SE, enquanto partícula
apassivadora e índice de indeterminação do sujeito.
11
O Capítulo 09 – O ensino do Futuro do Pretérito no Livro Didático
Português: Linguagens do 7° ano, de Sandoval Alves Ferreira e Suzana
Pereira Araújo. Tendo em vista a necessidade analisar o estudo da
Língua Portuguesa (LP) nos manuais didáticos, utilizado nas escolas,
e assim, promover maiores reflexões sobre o ensino da língua
materna, os autores objetivam analisar o ensino do futuro do pretérito
do indicativo no livro didático Português: linguagens de Cereja e
Magalhães, a partir dessa análise, apresentam uma proposta
metodológica que complementa a estratégia didática do citado livro.
O Capítulo 10 – Substantivação de verbos e derivação imprópria:
conversões gramaticais, de Maria Josely dos Santos Ferreira e Maria
Solange de Lima Silva. As autoras, considerando a necessidade de
minimizar a problemática da descontextualização, nas aulas de
português, e assim, proporcionar um ensino reflexivo, mais
adequado às atuais demandas de interação, objetivam, através do
ensino da substantivação e derivação imprópria, no livro didático
de português, apresentar uma estratégia metodológica que
amenize as possíveis dificuldades apresentadas pelos alunos,
quanto ao estudo da substantivação de verbos e dos casos de
derivação imprópria.
O Capítulo 11 – O Modo Imperativo em propagandas de alimentos
– algumas reflexões, de Gilderlane Guimaraes Sousa Santos e Ana
Paula da Silva Lopes. Diante dos questionamentos atuais, sobre o
ensino tradicional de gramática, visto enquanto prática cansativa e
improdutiva, para os alunos e, em face às dúvidas sobre ensinar ou
não os conteúdos gramaticais, as autoras objetivam: propor um
olhar diferenciado e reflexivo, através de uma proposta didática
para ensinar o modo imperativo. De modo que favoreça a
aprendizagem contextualizada de alunos do ensino fundamental
II, de uma escola pública.
Os organizadores
12
CAPÍTULO 1
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
13
construção da criticidade do educando, conforme elencou Antunes
(2003) ao afirmar que a prática da escrita, em sala de aula, é
mecânica, periférica, com um processo de aquisição que ignora a
interferência decisiva do sujeito aprendiz, sendo uma escrita
artificial, inexpressiva, sem função e, por conseguinte, destituída
de qualquer valor interacional.
Assim, a escola, enquanto instituição social e ambiente
propício para circulação de um vasto número de gêneros
discursivos, deve, juntamente com os docentes de Língua
Portuguesa, organizar eventos que possibilitem o desenvolvimento
da habilidade escrita, no sentido de promover a interação e
estabelecer propósitos para a realização dessa prática.
Diante desse cenário, o presente artigo tem como objetivo
apresentar a proposta de pesquisa que está sendo realizada no
Estágio Pós-doutoral, junto ao Programa de Pós-Graduação em
Linguística da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, a partir da
análise das percepções de ensino de escrita no discurso de
professores de língua portuguesa, egressos do Mestrado
Profissional em Letras.
A escolha dessa temática surgiu a partir de inquietações
pessoais enquanto professora da disciplina de Texto e Ensino desse
programa de Pós-graduação ao longo dos últimos seis anos, em que
sempre presenciávamos o discurso dos professores-mestrandos
relatando a dificuldade de escrita dos seus alunos e de como eles
poderiam sanar essas falhas.
Ao longo da nossa disciplina, o conteúdo programático
permitia que os alunos aprimorassem o conhecimento sobre o
processo de leitura e escrita a partir de uma visão de texto como
prática discursiva, de forma que havia a oportunidade de
discutirmos sobre assuntos relevantes, como texto, língua,
concepções de linguagem, concepções de escrita, gêneros do
discurso como ações sociais, dentre outros.
Vale a pena ressaltarmos que, ao abordar a escrita enquanto
processo, sempre procuramos discutir as orientações que têm sido
vislumbradas por vários pesquisadores, contemplando, sobretudo,
14
as orientações fornecidas pelos documentos oficiais, como os
Parâmetros Curriculares Nacionais (2008) e a Base Nacional
Comum Curricular (2018).
Dessa maneira, já tivemos a oportunidade de orientar vários
professores-mestrandos cujo objetivo estava voltado para o
desenvolvimento da escrita de determinado gênero, a partir de
uma proposta de ensino e aprendizagem, por exemplo, pautada no
uso das sequências didáticas1.
No entanto, ficam ainda os seguintes questionamentos: Depois
de escrever uma dissertação, defender sua proposta de intervenção e
concluir o mestrado, qual é a concepção de escrita desses professores
egressos? Qual é o papel da escrita em sua sala de aula? Que teorias e
metodologias são usadas para dar suporte as suas práticas?
A fim de atingirmos o nosso objetivo, desenvolvemos o nosso
projeto tomando por base o estudo dos conceitos de relações
dialógicas e de discurso bivocal de Bakhtin (2015) para analisar as
percepções de escrita, por meio dos discursos advindos de um
questionário aplicado aos participantes. Além disso, ancoramos a
nossa pesquisa sobre o ensino de escrita a partir de autores como,
Antunes (2003), Bakhtin (2003), Neves (2000) e Cardoso (1999); no
tocante a relações dialógicas e discurso bivocal, em Bakhtin (2015),
Barbosa (2021), Brait (2015), Francelino (2021) e Souza (2002) e nas
pesquisas de Britto Júnior & Feres Júnior (2011) e Gil (2002) no que
diz respeito ao questionário.
No que concerne aos procedimentos metodológicos, o artigo
apresenta uma pesquisa qualitativa, de cunho exploratório e
descritivo-interpretativista, estando presente o caráter
investigativo, interativo e colaborativo da pesquisa, tendo em vista
que, mediante essa orientação metodológica, informações e
1Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p.97) definem sequência didática como “um
conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno
de um gênero textual oral e escrito”. Em outras palavras, trata-se de um
procedimento metodológico organizado a partir de um conjunto de atividades
relacionadas entre si, que tem como objeto unificador um gênero textual.
15
conhecimentos são produzidos mais efetivamente, facilitando o
alcance dos objetivos da pesquisa a que nos propomos realizar.
Para tanto, a organização dos tópicos do nosso artigo
apresenta a seguinte estrutura: (1) Considerações iniciais, em que
trataremos do tema com sua respectiva delimitação, objetivo
principal, justificativa, aporte teórico e procedimentos
metodológicos; (2) Conhecendo a teoria, que abordaremos os
conceitos de relações dialógicas e discurso bivocal, assim como
aspectos importante acerca do ensino de escrita; (3) A metodologia,
que descreveremos como será feita a pesquisa; e (4) Para finalizar,
que traremos nossas considerações finais.
2. CONHECENDO A TEORIA
16
Nessa esteira, de acordo com Brait (2015, p.55), ao nos
respaldarmos nos estudos bakhtinianos a respeito dos trabalhos de
Dostoiévski, temos aproximação com “[...] textos que vão sendo
costurados com elementos que sinalizam a perspectiva bakhtiniana
de linguagem e não somente seu interesse por Literatura e Poética”.
Concordamos com a referida autora e nos acostamos a essa
perspectiva, uma vez que entendemos que o discurso não é
monológico, e sim, plurivocal, pois é, segundo Barbosa (2021, p.04)
“[...] carregado axiologicamente por uma diversidade de vozes, de
valores, de verdades que se concretiza devido ao processo de
comunicação interlocutiva no qual estamos imersos”.
Nesse viés, o discurso, enquanto fenômeno estudado pela
metalinguística, ultrapassa os limites da linguística. Souza (2002)
ainda nos esclarece que o fenômeno da palavra é o que vai
aproximar e, ao mesmo tempo, separar as duas ciências, ou seja, a
linguística e a metalinguística, levando em consideração os
aspectos abordados por uma e pela outra, assim como do ponto de
vista do ângulo de cada uma delas. Dessa forma, Bakhtin (2015, p.
181[1963]) diferencia a metalinguística da linguística:
17
acontece porque, conforme o próprio Bakhtin (2015, p.183 [1963]) “A
linguagem só vive na comunicação dialógica daqueles que a usam”.
Uma vez estabelecidos os limites da nova ciência da
linguagem, Bakhtin chega mais especificamente ao núcleo das
relações dialógicas: a palavra bivocal, conforme podemos perceber
pela citação abaixo:
18
Há, portanto, a bivocalidade quando as palavras de outra
pessoa, ao se incorporarem a nossa fala, se revestem de algo novo,
levando em consideração a forma como as compreendemos ou as
avaliamos. Em outras palavras, a bivocalidade diz respeito ao fato
de sempre ouvirmos outra(a)s voz(es) sob/sobre a(s) nossa(s), ou
seja, todos os nossos enunciados trazem eco de enunciados de
outrem, sobre os quais incidem procedimentos estilístico-
composicionais diversos e que geram vários efeitos de sentido,
desde uma simples reiteração de uma ideia (uma paráfrase, por
exemplo) até a deturpação total dela, como pode ocorrer numa
paródia. Exemplificando mais ainda, uma “mera” repetição de
texto de uma afirmação de outra pessoa, mas de forma diferente
como uma pergunta, dúvida, indignação, ironia, já pode ser
considerado como um fenômeno da bivocalidade.
Como podemos perceber, o discurso bivocal é nitidamente um
discurso direcionado ao mesmo tempo para um referente (aquilo
de que se fala) e para o discurso do outro sobre esse referente.
Assim, segundo Bakhtin (2015), há três tipos ou tendências de
orientações. O primeiro tipo é chamado “discurso bivocal de
orientação única”, o qual é definido pelo filósofo russo como efeito
de fusão de vozes, uma vez que o discurso que se apodera da voz
de outrem possui orientação semântica similar, por exemplo, como
ocorre em algumas formas narrativas, na estilização e no discurso
não objetificado das ideias do autor.
O segundo tipo, por sua vez, é nomeado por Bakhtin (2015) de
“discurso bivocal de orientação vária”. Podemos perceber que além
de o diálogo entre as vozes ser mais notório do que ocorre no primeiro
tipo, a palavra de outrem pode ser inserida mediante acentos
valorativos distintos, tal qual o desprezo, o repúdio, a ironia etc.
Finalmente, o terceiro tipo, denominado pelo filósofo russo de
“tipo ativo (discurso refletido do outro), a orientação está voltada ao
diálogo difícil com o outro que ao que tudo indica não está presente
no discurso. Em outras palavras, o enfoque é dirigido para o diálogo
com a voz alheia, conforme ensina Bakhtin (2015, p. 229): “O discurso
do outro influencia de fora para dentro; são possíveis formas
19
sumamente variadas de inter-relação com a palavra do outro e
variados graus de sua influência deformante”. É o caso, por exemplo,
da polêmica interna velada e da réplica do diálogo velado.
É importante ressaltarmos que a bivocalidade de tipo ativo
pode se dar em nuances distintas do que ocorre em uma polêmica
mais velada no discurso. De acordo com o autor, na polêmica
velada, as vozes se chocam antagonicamente, porém de modo
diverso da polêmica aberta, esse choque de vozes ocorre
indiretamente, como se estivesse escondido intrinsecamente no
discurso do autor.
Ademais, a polêmica velada ainda pode aparecer no discurso
bivocal através dos elementos extralinguísticos que fazem parte da
circunstância da interação, como ocorre diante de imagens,
movimentos corporais, semblantes faciais, entonação etc. Em suma,
as polêmicas estão no plano valorativo do conhecimento partilhado
entre os sujeitos do discurso, sendo observáveis apenas na
dimensão dialógica da interação.
A seguir, faremos uma breve discussão sobre a escrita e seu
ensino e, na sequência, apresentamos a nossa proposta de trabalho.
20
É importante salientarmos que sempre fazemos algo imbuídos
de alguma finalidade. Desse modo, em nosso cotidiano, ao
falarmos ou escrevermos, temos sempre alguém em mente e isso
ocorre em um certo momento/contexto que inclui tempo e espaço,
tendo em vista um objetivo. Essa é a visão da escrita como
interação.
Quando prestamos atenção à maneira como o ensino da língua
vem sendo configurado, é possível percebermos muitas
dificuldades no que se refere à construção do sentido. Ouvimos
reiteradas reclamações de que os alunos fazem a leitura dos textos,
sem estabelecer, no entanto, ligação entre os textos e os seus
respectivos significados. Diante desse contexto, a pergunta que se
faz é: “quais procedimentos de ensino estão sendo usados em sala
de aula que não favorecem a prática da leitura e escrita?”
Para responder a esse questionamento, é necessário
entendermos que há maneiras distintas ou até mesmo
complementares de tratar o fenômeno da linguagem, e, neste
sentido, percebemos a estreita relação entre a concepção de escrita
e a concepção de linguagem. Em outras palavras, dependendo da
concepção de linguagem adotada, haverá um direcionamento
diferenciado no ensino da escrita, afetando diretamente a
aprendizagem dessa importante habilidade. Passaremos ao
enfoque de cada uma delas a seguir.
A primeira concepção de linguagem a ser abordada é a
concepção dos gregos, segundo a qual a linguagem é vista como
expressão do pensamento. De acordo com esse entendimento, os
indivíduos não se exprimem bem porque não pensam. Assim, a
expressão é concebida internamente, de modo que a sua
manifestação externa é apenas uma tradução. Essa teoria origina-
se da dualidade existente entre a consciência que é o interno e o
próprio ato de se expressar que é o externo, já que o ato de se
expressar advém do interior para o exterior.
Como podemos perceber, o desenvolvimento dessa corrente
se encontra em uma ideia que podemos chamar de “idealista ou
espiritualista”, na medida em que tudo que é essencial é interno,
21
privilegiando, assim, a função expressiva da linguagem em
desfavor da função comunicativa. Uma vez que é centralizada no
locutor, o falante é tido como o início e, ao mesmo tempo, o fim da
linguagem, de forma que o ato de se comunicar seria individual, ou
seja, monológico, não sendo influenciado por outrem, nem
tampouco pelo contexto social em que ocorre a enunciação.
Desse modo, podemos inferir que para essa teoria, a
constituição do texto não está relacionada ao interlocutor, nem ao
contexto situacional. Em outras palavras, essa concepção não se
preocupa com o quando se fala, onde se fala, para quem se fala e,
nesse viés, a escrita seria vista associada apenas ao aprendizado das
normas gramaticais.
Moura Neves (2000), em seu livro “A gramática: conhecimento e
ensino”, chama a atenção para o fato de que, nesta época, o
gramático tinha como atividade o julgamento das obras do
passado, procurando as “virtudes” e os “vícios”, com a finalidade
de oferecer modelos aos usuários. Portanto, foi repassado à cultura
ocidental tal concepção de gramática como descrição que permite
conhecer o padrão a ser seguido no uso da língua, de maneira que
o ensino da língua e da escrita deve iniciar pela apresentação da
gramática, cujo domínio conduzirá à produção escrita.
A próxima concepção que veremos, por sua vez, teve início no
século XX e está relacionada a Ferdinand de Saussure. Para essa
concepção, a linguagem é vista como mecanismo de comunicação,
isto é, funcionando com código – um conjunto de signos que se
estabelecem conforme regras, possibilitando a disseminação de
informações ou mensagem do chamado emissor a um receptor.
Assim, para se comunicar efetivamente, os falantes devem
conhecer e usar esse código, ou seja, a língua, que como sabemos é
um fato social e pressupõe, ao menos, a presença de duas pessoas.
Nessa esteira, podemos perceber o avanço da concepção de
língua de Saussure para a linguística, diante da ruptura com os
estudos anteriores estabelecidos na França, tal como a gramática de
Port-Royal, para a qual, segundo Cardoso (1999, p. 17), “[...] a
língua era vista como expressão do pensamento”.
22
Mesmo sendo um avanço, essa concepção de linguagem sofre
críticas, uma vez que a escrita não muda, e o interlocutor é
inexistente, já que quem domina é a figura do emissor. As
atividades dessa concepção propõem que o discente encontre a
ideia a ser produzida, corrija a língua e enriqueça sua habilidade
de se expressar, com enfoque nos modelos de descrição, narração e
dissertação.
Analisando essa concepção, é possível elencarmos outras
importantes implicações para a escrita, como:
1. A possibilidade de um único sentido, visto que o sentido já se
encontra exposto no papel;
2. A solidão do produtor, já que ele constrói o texto sozinho;
3. A mecanização, pois, enquanto exercício, a repetição ajuda na
fixação das formas;
4. A apresentação da mesma forma, uma vez que faz uso da norma
padrão;
5. O interesse no produto final;
6. A visão dos erros como impropriedades, na medida em que se
distancia do “modelo” considerado como ideal.
Isto acontece porque, de acordo com essa perspectiva, todo o
contexto situacional em volta da fala e da escrita é irrelevante, pois
o cerne é a própria estrutura linguística, ou seja, suas formas.
Em contrapartida, a terceira concepção, proposta por Bakhtin
(1995), entende a linguagem como um processo interativo.
Segundo essa concepção, o que as pessoas fazem face ao emprego
da língua não se limita só a “traduzir” ou a “exteriorizar” um
pensamento, repassar informações, mas, ao invés disso, efetivar
ações, produzir, influir no interlocutor, seja ele ouvinte ou leitor.
Como podemos perceber, o entendimento de Bakhtin acerca
da linguagem vai em oposição ao entendimento de Saussure. Isto
acontece porque a visão saussuriana vê a fala enquanto um
fenômeno individual, ao passo que o sistema linguístico estaria
vinculado ao fenômeno social. Bakhtin, por seu turno, não admite
a separação entre o individual e o social.
23
A linguagem, na visão bakhtiniana, se caracteriza por ser um
fenômeno não apenas social e histórico, mas também axiológico. E,
nesse entendimento, para o filósofo russo, o que se analisa dos
participantes de uma prática comunicativa são os enunciados que
ocorrem em determinadas situações sociais tanto reais quanto
concretas, sendo esses enunciados a expressão de um ponto de
vista, de uma valoração do sujeito falante.
Desse modo, durante a constituição do sujeito, em sua escuta,
ele vai assimilando palavras e discursos de outras pessoas
(inicialmente de sua família e depois de seus colegas, da sua
comunidade etc.), apresentando como consequência o
processamento dessas palavras e discursos que vão se tornar, de
uma forma, palavras dele e, de outra, palavras de outrem.
Esse entendimento da ocupação da existência do limiar do
“eu” com o “outro” é o que verdadeiramente aponta para o lado
social da vida dos seres humanos, que ocorre por meio da
linguagem que “[...] é um instrumento de interação social, visto que
a palavra penetra literalmente em todas relações entre indivíduos,
nas relações de colaboração, nas de base ideológica, nos encontros
fortuitos da vida cotidiana, nas relações de caráter político, etc.
(BAKHTIN, 2003, p. 41)”.
Bakhtin também nos presenteou com “[...] a incorporação da
situação interlocutiva ao afirmar que a situação social mais
imediata e o meio social mais amplo determinam completamente
e, por assim dizer, a partir do seu próprio interior, a estrutura da
enunciação (BAKHTIN, p. 113 [1929])”. Explicando melhor essa
situação interlocutiva, o autor quis dizer que, no momento da
criação ou da recepção de um texto, o contexto situacional não
poderá ser desconsiderado. Ou seja, quando nos expressamos em
qualquer modalidade, seja ela oral ou escrita, é imprescindível
sabermos o que será dito, onde e para quem, uma vez que esses
elementos fazem parte do ato de expressão.
Portanto, de acordo com essa perspectiva, a escrita é
cooperativa, contextualizada e textual, sem deixarmos de fora o
fato de ser também uma atividade cognitiva, porque fazemos uso,
24
por exemplo, da ativação da memória, seleção de vocabulário, ou
seja, utilizamos muitas tarefas mentais nesse processo.
A partir do que estamos abordando até o presente momento,
podemos entender que a língua vista dentro da perspectiva da
interação social, com finalidades comunicativas, é estabelecida pela
situação de comunicação entre os envolvidos, de maneira que a
língua não é autossuficiente, necessitando, por conseguinte, de um
contexto de produção.
O reconhecimento do ensino da escrita como processo de
cooperação está diretamente relacionado à compreensão do caráter
dialógico da linguagem, expresso, anteriormente, por Bakhtin em
sua obra.
Após abordamos, mesmo que de modo breve, a nossa
fundamentação teórica, passaremos, a seguir, para a explanação da
nossa metodologia.
3. METODOLOGIA
25
discursos advindos das respostas do questionário, a partir de um
quantitativo representativo desses professores.
É importante esclarecermos que a nossa análise será feita
análise a partir de certas categorias teórico-metodológicas
previamente definidas, quais sejam: as relações dialógicas e o
discurso bivocal
É importante esclarecer que a nossa proposta se trata de uma
pesquisa qualitativa, de cunho exploratório e descritivo-
interpretativista, diante do seu aspecto investigativo, interativo e
colaborativo, uma vez que, conforme essa orientação metodológica,
informações e conhecimentos serão produzidos mais efetivamente,
possibilitando o alcance aos nossos objetivos propostos.
Em uma pesquisa, um dos procedimentos importantes é a
coleta de dados, pois é durante esse processo que o pesquisador
obtém as informações necessárias para o desenvolvimento do seu
estudo. Desse modo, optamos por escolher o questionário por
acreditarmos que seja um meio através do qual o pesquisador tem
a oportunidade de extrair uma boa quantidade de informações e
dados que permitem um trabalho com riqueza de detalhes, além de
um alcance para uma melhor compreensão do tema em questão.
Segundo Gil (2002), a coleta de dados, através do e-mail, pode
estabelecer certas vantagens, tais como: os questionários podem ser
enviados quantas vezes forem necessárias, já que economiza
tempo; há maior velocidade ainda no recebimento das respostas,
além do que eles podem ser respondidos dentro de uma
conveniência e do tempo do entrevistado.
Salientamos que este projeto de pesquisa será apresentado ao
Comité de Ética da Universidade Federal da Paraíba, de modo que
o questionário acontecerá mediante o consentimento esclarecido
dos professores quando tomarem ciência do objetivo da pesquisa,
das perguntas que lhes serão feitas, das razões da entrevista e dos
benefícios que os resultados podem resultar, possuindo a liberdade
de deixar de participar, caso sintam necessidade, independente do
motivo. Portanto, como apontam Britto Júnior & Feres Júnior
26
(2011), esses esclarecimentos fundamentarão as nossas ações nos
momentos da coleta de dados da nossa pesquisa.
4. PARA FINALIZAR
5. REFERÊNCIAS
27
BAKHTIN, M./VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e Filosofia da
Linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na
ciência da linguagem. 7. Ed. São Paulo: Hucitec, 1995. [1929].
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 4. ed. São Paulo:
Martins fontes, 2003.
_______, M. M. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução
direta do russo, notas e posfácio de Paulo Bezerra. 5. ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2015. [1963].
BARBOSA, V. F. Relações dialógicas e discurso bivocal na
atividade de trabalho do revisor em teses acadêmicas: tensões e(m)
sentidos. Bakhtiniana - Revista de Estudos Do Discurso, v. 16, p.
178-199, 2021.
BRAIT, B. Problemas da Poética de Dostoiévski e estudos da
linguagem. In: BRAIT, B. (Org.). Bakhtin, dialogismo e polifonia.
São Paulo: Contexto 1.ed. 3. reimpressão, 2015. p.45-72.
BRITTO JÚNIOR, A. F de; FERES JÚNIOR, N. (2011). A utilização
da técnica da entrevista em trabalhos científicos. Revista
Evidência, Araxá, v. 7, n. 7, p. 237-250. Disponível em
https://met2entrevista.webnode.pt/_files/200000032-
64776656e5/200-752-1-PB.pdf. Acesso em 2 de dezembro de 2021.
CARDOSO, Silvia Helena Barbi. Discurso e Ensino. Belo
Horizonte: Autêntica, 1999.
FRANCELINO, Pedro Farias. No(s) (des/re)encontro(s) das vozes,
a construção dialógica da polêmica em enunciados de temática
político-religiosa. Bahktiniana - Revista de estudos do discurso, v.
16, p. 200-220, 2021.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª Ed. São Paulo:
Atlas, 2002.
NEVES, Maria Helena de Moura A gramática: conhecimento e ensino.
In: AZEREDO, José Carlos de. (Org.). Língua portuguesa em
debate: conhecimento e ensino. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 52-73.
SCHENEUWLY, Bernard. Gêneros e tipos de discurso:
considerações psicológicas e ontogenéticas. In: SCHENEUWLY, B;
NOVERRAZ, Michèle; DOLZ, J. Sequências didáticas para o oral
e a escrita: apresentação de um procedimento. Trad. e org.
28
Roxane Rojo e Gláis Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado das
Letras, 2004.
SOUZA, Geraldo Tadeu. A construção da metalinguística
(fragmentos de uma ciência da linguagem na obra de Bakhtin e
seu círculo). Tese (Doutorado em Letras, Área da semiótica e
Linguística geral). São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2002.
29
30
CAPÍTULO 2
1. INTRODUÇÃO
31
A relação da escrita com a fonologia de uma língua é essencial,
pois pode auxiliar o aluno durante a fase de letramento. Em outras
palavras, defendemos aqui que os princípios fonológicos devem
ser levados em conta para que se compreendam determinados
fenômenos da língua; do contrário, os alunos irão apenas
reproduzir os equívocos cometidos ao longo dos anos.
Os alunos chegam ao ensino fundamental, principalmente, os
alunos do programa Educação de Jovens e adultos (EJA),
escrevendo textos que revelam um processo de alfabetização com
certo déficit e, a se considerar o público alvo, em questão, na
maioria das vezes, um processo interrompido, inconcluso das
práticas escolares que acaba refletindo negativamente em suas
práticas de leitura e escrita.
O que é mais perceptível nas produções textuais dos alunos é
a transferência do oral para o escrito, em geral, escreve-se da forma
que se pronuncia, e essa oralização de textos é algo que tem sido
propagado de séries em séries, chegando muitas vezes à
universidade, configurando um problema que precisa ser
amenizado. Sendo assim, o objetivo da presente pesquisa é analisar
o Rotacismo, fenômeno fonológico responsável pela troca da líquida
lateral /l/ pela líquida vibrante simples (tepe) /ɾ/ em que avaliamos,
refletimos e, posteriormente, intervimos no tocante à escrita dos
alunos EJA.
Alguns questionamentos nortearam nosso trabalho de
pesquisa, dentre eles, i) o que provoca inadequações como o
Rotacismo na escrita dos alunos? e, ii) Como, enquanto professores,
usando a fonologia, podemos intervir com o intuito de reduzir as
ocorrências?
Diante desse cenário, a pesquisa teve por objetivos específicos
propor estratégias de ensino para amenizar a problemática do
Rotacismo que provocava desvios ortográficos em produções textuais
de alunos do 6 º Ano da EJA. Para tanto buscou investigar a
recorrência do Rotacismo e suas procedências; conscientizar os alunos
acerca dos desvios apresentados; incentivar, por meio de atividades
32
lúdicas e práticas, o aperfeiçoamento da escrita e orientar quanto aos
procedimentos para resolução dos problemas encontrados.
Assim sendo, por meio da elaboração e aplicação
intervencionista, propomos o desenvolvimento de um material
didático, composto por um jogo que fora disponibilizado para uso
coletivo na escola. Almejávamos contribuir para a apropriação, por
parte dos alunos, de uma escrita mais consciente. Constatamos essa
apropriação por meio de atividades comparativas, utilizando as
etapas de Pré-instrução (atividades que verificaram a ocorrência do
rotacismo), Instrução (atividades que levaram o estudante à
reflexão da ocorrência do fenômeno, para que entendessem as
razões das ocorrências) e Pós-instrução (verificação da efetividade
das atividades aplicadas).
O desenvolvimento analítico da pesquisa ocorreu por vias
quantitativas e qualitativas. No método quantitativo está presente
o levantamento dos dados, quantificando as ocorrências na etapa
da Pré-instrução e Pós-instrução; no qualitativo a análise do que
motivou o fenômeno do rotacismo e suas implicações para o ser
social aluno da EJA.
Ao longo da aplicação das atividades propostas e realizadas
verificamos que mais de 60% da turma apresentava o fenômeno do
rotacismo na fala e na escrita, em sua maioria na posição pré–tônica.
Após todo o trabalho realizado, por meio da aplicação das
atividades de intervenção, obtivemos uma redução significativa e
alcançamos o percentual de apenas 14% de incidências, revelando
o sucesso do trabalho e a efetividade da Fonologia nas aulas de
língua portuguesa.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
33
análise antes do século XX, enquanto a Fonologia virou alvo de
pesquisas durante o Círculo de Praga, no início do século XX.
Fonética e Fonologia são duas coisas díspares ao passo que
complementares, uma vez que ambas apresentam como objeto de
estudo os sons da fala. Para Hora (2017) a fonologia visa o estudo
sistemático dos sons, enquanto a Fonética se volta para a produção,
propagação e percepção dos sons. Para Seara (2001) tanto a fonética
quanto a fonologia investigam como os seres humanos produzem
e ouvem os sons da fala. De maneira que chega a ser impossível
estudar uma coisa dissociada da outra.
O fato é que ao longo dos anos, tanto a fonética quanto a
fonologia passaram despercebidas pela escola, restringindo-se
rapidamente a ocupar duas ou três páginas do livro didático com
conceituação e classificação que não promovem reflexão,
mostrando apenas, superficialmente, a relação fonema-grafema em
detrimento da ortografia.
Despreza-se, em geral, a importância de ambas para a
formação docente, enquanto a fonética ajuda o professor no que
tange a sensibilização da compreensão de como ocorre a produção
sonora no ato da fala, observando-se todos os processos
articulatórios envolvidos no momento da produção, quais órgãos
contribuem e participam efetivamente durantes os atos de fala,
fazendo com que o aluno realize conscientemente a produção dos
sons, atribuindo sentido para o que se está sendo estudado, assim
como para as atividades sonoras das quais participa.
Já a fonologia, contribui significativamente para a formação do
professor e, consequentemente, para sua prática docente, uma vez
que auxilia o conhecimento do sistema da língua e seu objeto de
trabalho, possibilitando-o meios para esclarecer a seus alunos o
que, de fato, diverge entre fala e escrita, fornecendo ao aluno
condições para que se aproprie dos princípios de adequação, para
que consiga fazer distinção entre as realidades de oralidade e as
mais formais, atribuindo a condição de escolha, para despertar a
consciência de que não existe linguagem superior, correta, mas
adequada a determinadas situações de comunicação e interação.
34
2.2. Fonologia na educação de jovens e adultos
35
em desenvolver um trabalho que envolva a aprendizagem da
escrita, sem promover algum tipo de reflexão fonológica. Visto que,
todo o nosso sistema de representação alfabética requer uma
elaboração mental, ou seja, um trabalho de meditação. Assim
sendo, concluímos que é improdutivo o trabalho de memorização
de letras ou sons, o que deve ser feito, mesmo na EJA é um trabalho
de reflexão, a partir das semelhanças e diferenças entres fonemas,
grafemas, palavras e assim por diante.
36
cabe ao professor ensinar o aluno a falar Português, uma vez que
ele já sabe. Ao professor é facultada a tarefa de conduzir, orientar
os alunos em relação às atividades pedagógicas e às competências
comunicativas.
37
Ao adentrar ao mundo escolar, o estudante já vem munido de
suas competências comunicativas, adquiridas ao longo de suas
experiências de vida, o contexto social no qual se encontra inserido,
a cultura que vivencia. Todas essas aquisições são colocadas em
confluência com os saberes e competências escolares, inclusive no
que se refere à fala e escrita. O que vai acontecer na sequência vai
depender dos contratos que serão firmados entre professor e aluno
no que tange a como serão utilizados, em benefício do aluno, o que
ela já traz de conhecimento e como o professor vai inserir na vida
desse estudante de maneira produtiva os novos saberes.
O que ocorre algumas vezes em relação ao aluno EJA é que
essas competências adquiridas ao longo da vida desse estudante
não são levadas em consideração no momento do ensino
aprendizagem.
Entra na discussão um fato muito importante, a relação da fala
com a escrita e a compreensão por parte do professor de que uma
coisa, principalmente na EJA, não está dissociada da outra. O
estudante transfere para a escrita, naturalmente, aspectos da
oralidade. Sobre isso Molica e Loureiro (2008, p. 226) asseveram
que ao educador cabe a ciência de que as variáveis que
caracterizam a influência da fala na escrita estão relacionadas a
fatores linguísticos e não linguísticos. Logo, podemos refletir sobre
todos os fatores que subsidiam os falares dos estudantes adultos
que vão muito além da gramática da língua.
3. METODOLOGIA
38
fatores sociais ou de letramento), quais as implicações na vida
social do estudante e quais caminhos a serem trilhados para a
suavização das problemáticas advindas da produção do rotacismo.
Para a coleta dos dados escritos, os alunos escreveram textos
curtos com ambientes “gatilho” para a troca do “l” por “r”, como
exemplo, palavras que apresentam as consoantes laterais
alveolares em ambiente fonológico propício à troca pela vibrante
simples: ‘planeta’ → ‘praneta*’. Essas produções foram coletadas a
partir de textos ditados em sala de aula. A aplicação das atividades
foi dividida em dois momentos: uma etapa teórica, (levantamento
bibliográfico) e uma etapa prática; dividida em três momentos: Pré-
instrução, Instrução e Pós-instrução. A etapa Instrução, por sua vez,
foi dividida em dois blocos, o de leitura e o de escrita.
3.1. Pré-instrução
3.2. Instrução
39
Quadro 1: Bloco de atividades com a descrição das
oficinas de leitura e escrita
BLOCO DE ATIVIDADES
LEITURA
Oficina Atividades
Oficina 01 Atividades de sondagem
Oficina 02 Atividades com trava línguas
Oficina 03 Jogo das rimas complexas
Oficina 04 Jogo da repetição
ESCRITA
Oficina Atividades (cf. APÊNDICES A, B e C)
Cruzada falada (uso do software
Oficina 05
‘Kurupira’)
Roleta das sílabas complexas (com bingo
Oficina 06
de palavras)
Fonte: Os autores.
3.3. Pós-instrução
40
Quadro 2: Total das atividades da proposta de intervenção por etapa,
atividade descrita, material utilizado e quantidade de aulas despendidas.
TOTAL DAS ATIVIDADES DA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
DESCRIÇÃO
ATIVIDADE MATERIAL QUANTIDADE
ETAPA DA
PROPOS-TA UTILIZADO DE AULAS
ATIVIDADE
Escrita de
INSTRUÇÃO
Treino
palavras Caneta, papel 02 aulas
ortográfico
PRÉ –
ditadas
Texto Escrita do
Caneta, papel 02 aulas
ditado texto ditado
Exposição
Discussão
sobre
sobre o que
oralidade e
sabiam os
escrita e Tirinhas de
alunos sobre 02 aulas.
discussão e Chico Bento.
oralidade,
interpreta
escrita e
ção de
fonologia.
tirinhas.
Oralização
Trava-
Trava- em voz alta
línguas 02 aulas
línguas dos trava –
INSTRUÇÃO
impressos.
línguas
Fazer
combina- Caixa de
Jogo das ções papelão e
rimas fonéticas palavras 02 aulas
complexas entre as recortadas
sílabas em papelão.
complexas.
Leitura e
memoriza- Palavras
Jogo da ção de recortadas e
02 aulas
repetição palavras que caixa de
apresenta- papelão.
vam onset
41
complexo (/ɾ/
e /l/)
Material
Preenchi-
impresso
Cruzada mento de
desenvolvido 02 aulas
falada cruzadinha
no software
com pistas.
‘Kurupira’
Sorteio de
padrões de
Roleta das Roleta e
sílabas para
sílabas cartelas em 02 aulas
preenchi-
complexas papel.
mento de
cartelas.
Escrita de
Treino
palavras Caneta, papel 02 aulas
ortográfico
ditadas
Texto Escrita do Caneta e
02 aulas
PÓS - INSTRUÇÃO
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
42
Figura 1: Porcentagem de ocorrências de rotacismo nas etapas pré- e
pós-instrução (painel à esquerda) e no ambiente silábico (painel à
direita).
43
que, o ambiente de pré-tônicas e pós-tônicas favorece a incidência
de fenômenos fonológicos como o aqui apresentado (cf. ROBERTO,
2016). Esses resultados representam, de alguma forma, uma alerta
para que reflitamos nossas práticas de ensino que contemple a
escrita e a oralidade do discente. De modo geral, observamos que
os alunos tiveram um bom desempenho na pós-instrução quando
comparado à pré-instrução, apresentando uma redução
proporcional de inadequações, quanto à troca das líquidas,
desenvolvendo uma escrita mais consistente, demonstrando que as
atividades da intervenção lograram êxito.
Observamos que a diferença em termos proporcionais entre as
duas etapas é expressiva, ocorrendo uma redução relevante de
ocorrências entre as etapas, saindo de 68% para 14% de recorrência.
Ainda que de forma preliminar, podemos considerar que as
atividades da intervenção influenciaram positivamente na escrita
dos alunos.
Ao finalizarmos as atividades referentes às três etapas e
comprovarmos as hipóteses anteriormente formuladas,
reconhecemos que não é fácil desenvolver um trabalho semelhante
a esse em todas as turmas, visto que, geralmente o professor de
língua portuguesa preenche sua carga horária com várias turmas
de anos diferentes, durante todo o ano, vários anos consecutivos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
44
reflexão e aplicação social. Algumas atividades diagnósticas foram
previamente realizadas, a fim de fazermos um primeiro
levantamento para confirmar a presença do Rotacismo na escrita
de alunos EJA que estão descritas na etapa de Pré-instrução.
Subsidiamos nosso estudo em diversas teorias presentes no nosso
aporte teórico. Aplicamos todas as atividades da proposta descritas
na etapa da Instrução e, por fim aplicamos a etapa Pós-instrução para
finalizar a pesquisa.
Almejávamos que esta pesquisa pudesse contribuir quanto ao
desenvolvimento de uma escrita profícua e que o aluno pudesse
minimizar as deficiências apresentadas na escrita inicial,
substituindo-as por uma escrita independente que fosse refletida
nas práticas sociais. Esperava-se que essa autonomia fosse
conquistada, uma vez que as atividades propostas estavam de
acordo com as necessidades e deficiências do aluno, assim como
estavam atreladas aos pressupostos da Fonologia que explica os
desvios cometidos, além de apontar caminhos para a superação. Ao
finalizar todas as atividades e respectivas avaliações e, embora seja
precoce afirmar, consideramos que a implementação das
atividades de intervenção contribuiu para a redução do Rotacismo
nas produções escritas dos alunos, bem como, para um maior
engajamento entre os discentes (cf. Apêndices B e C para interação
entre os alunos da turma).
6. REFERÊNCIAS
45
Estudos da Linguagem) – Programa de Pós - Graduação em Letras,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
FARACO, C. Pedagogia da variação linguística: língua, variedade
e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
MOLLICA, M.; LOUREIRO, F. Aportes sociolinguísticos à
alfabetização. In: RONCARATI, C.; ABRAÇADO, J. (Orgs.).
Português brasileiro II: contato linguístico, heterogeneidade e
história. Rio de Janeiro: EduFF, 2008, p. 223-228.
ROBERTO, T. Fonologia, fonética e ensino: guia introdutório. São
Paulo: Parábola Editorial, 2016.
SEARA, I. Fonética e fonologia do português brasileiro.
Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011.
46
APÊNDICE A - Jogo Roleta das sílabas complexas.
47
APÊNDICE C – Alunos manipulando o jogo Roleta das sílabas
complexas.
48
CAPÍTULO 3
NOITE DE LUA:
VIVENCIANDO A POESIA EM SALA DE AULA
1. INTRODUÇÃO
mail:mscosta3@hotmail.com
49
acreditamos que a experiência leitora do Cordel em sala de aula
pudesse estimular a busca do texto literário por parte dos discentes,
não só na escola, mas também fora dela, bem como auxiliar na
formação do leitor, uma vez que o ensino de literatura deve estar
intrínseco ao ensino de leitura. Até então, a pesquisa apontou uma
carência quanto às atividades de leitura nas aulas de Língua
Portuguesa que contemplem o texto literário, principalmente o
poético, para além dos aspectos formais, assim como o
entendimento de que a leitura pode ser instrumento de prazer,
liberdade e construção de sentidos.
É consenso que o ensino de literatura é essencial para a
formação dos leitores, uma vez que ensinar literatura é ensinar a
ler, e sem leitura não há cultura (PERRONE-MOISÉS, 2006, p.27).
Contudo, por vezes, essa atividade tem sido negligenciada no
Ensino Fundamental, seja pelos poucos projetos de leitura ou até
mesmo a inexistência de uma biblioteca no ambiente escolar. Além
disso, o professor de Língua Portuguesa enfrenta o desinteresse
dos alunos que, inseridos no mundo tecnológico, apresentam
sentimento de descaso referente às leituras que exigem um pouco
mais de dedicação, como é o caso do texto literário na sua condição
de objeto de estudo.
Nesse cenário, a forma como as atividades têm sido
executadas na sala de aula é um problema, uma vez ser possível
identificar situações em que o texto literário tem sido utilizado
como pretexto para análise de aspectos linguísticos ou tarefas
geralmente superficiais que não medem além da capacidade dos
discentes em selecionar informações ou repetir o que já estava
escrito. Sendo assim, nesse tipo de abordagem, a fruição, o prazer,
os significados vários que a leitura do texto literário pode oferecer
acabam sendo menosprezos.
A literatura deve ter presença constante nas aulas de Língua
Portuguesa, uma vez que, através dela, é possível desenvolver
competências na leitura e apresentar aos alunos diferentes visões de
mundo e realidades, constituindo-se ser fundamental para o exercício
da cidadania e formação humana. Parar isso, a escola deve trabalhar
50
propostas de leituras que ofereçam aos alunos outras possibilidades
que possam ir além daquelas que eles já conhecem, ofertando o direito
de acesso à herança cultural da humanidade que se expressa pela arte
literária. Partindo dessa perspectiva, este trabalho passou a ter por
foco uma proposta que provocasse uma experiência dinâmica com o
texto literário. Assim, a Literatura de Cordel surge como aliada para o
desenvolvimento de uma conduta de leitores nos discentes, visto que
além de ser riquíssima, tanto em forma, como em conteúdo, também
pode estimular o gosto pela leitura.
51
literário que exigirá do leitor concentração e empenho ou será
realizada de forma insatisfatória, como afirma Lajolo (2009, p. 101):
52
multissemióticos e de sua interpretação (BRASIL, 2017). Ou seja, a
leitura deve ser um processo no qual o leitor realize um trabalho
ativo de interpretação, não apenas extrair uma informação. Além
disso, o documento também destaca que a leitura possui um
contexto mais abrangente, não só no que se refere ao texto escrito,
mas também a imagens estáticas ou em movimento entre outros
aspectos (BRASIL, 2017). Por esse motivo, é imprescindível que na
escola sejam desenvolvidas atividades voltadas para a formação de
leitores e que estas envolvam toda a comunidade escolar. Com
efeito, segundo Ferrarezi Júnior e Carvalho (2017, p. 21), “os
currículos precisam ser alterados para que haja tempo dedicado ao
desenvolvimento da leitura na escola, devidamente previsto nos
planejamentos de português”.
De acordo com Cosson (2019, p. 36), o processo de leitura deve
ocorrer por meio de diálogos, uma produção de sentidos que seja
dividida em elementos os quais compõe o circuito da leitura.
53
Nessa perspectiva, a formação do leitor não é limitada
somente ao ambiente escolar, pois também é possível fora dele o
que é permitido pela capacidade de ler. Percebe-se, assim, a
necessidade de estimular os alunos para que estes procurem o texto
literário para além do contexto escolar, uma vez que a leitura deste
tem papel significativo na formação leitora dos alunos. Cosson e
Paulino (2009, p. 63) afirmam que:
54
Esse desprestígio tem numerosas razões: vivemos a época da
informação coletiva e rápida, e a leitura literária é uma atividade
solitária e lenta; o relativismo cultural dominante põe em xeque as
antigas tabelas de valores, sem as substituir por novas; respostas
simples às grandes questões filosóficas e existenciais passaram a ser
buscadas, por aqueles que ainda leem, em manuais de autoajuda,
mais reconfortantes do que os textos literários.
55
1) porque ensinar literatura é ensinar a ler, e sem leitura não há
cultura; 2) porque os textos literários são aqueles em que a
linguagem atinge seu mais alto grau de precisão e sua maior potência
de significação; 3) porque a significação, no texto literário, não se
reduz ao significado (como acontece nos textos científicos,
jornalísticos, técnicos), mas opera a interação de vários níveis
semânticos e resulta numa possibilidade teoricamente infinita de
interpretações; 4) porque a literatura é um instrumento de
conhecimento e de autoconhecimento; 5) porque a ficção, ao mesmo
tempo que ilumina a realidade, mostra que outros mundos, outras
histórias e outras realidades são possíveis, libertando o leitor de seu
contexto estreito e desenvolvendo nele a capacidade de imaginar,
que é um motor das transformações históricas; 6) porque a poesia
capta níveis de percepção, de fruição e de expressão da realidade que
outros tipos de texto não alcançam.
56
popular. A escolha do gênero Cordel ocorre pela sua riqueza
notadamente marcada pela musicalidade, a abrangência de temas,
o humor, a linguagem específica e, principalmente, a possibilidade
do reconhecimento de elementos que estão presentes no contexto o
qual o aluno está inserido, entre outros aspectos que possibilitam
atividades dinâmicas capazes de estimular a leitura. Entendemos,
assim, que o texto literário de Cordel tem muito a oferecer.
Atualmente, é possível identificar diversos trabalhos
realizados com a poesia de Cordel, os quais contribuem no
processo de formação do leitor e, ao mesmo tempo, valorizam uma
arte de origem popular. Marinho e Pinheiro (2012) realçam que
qualquer que seja o trabalho desenvolvido com a poesia de Cordel
necessita de um envolvimento afetivo com a cultura popular.
Ainda, conforme os autores:
57
Entendemos que o Cordel não deve ser utilizado apenas como
ferramenta para assimilação de conteúdos, mas a possibilidade de
discussões referentes às temáticas que estes trazem proporcionam
o desenvolvimento de habilidades de compreensão, pois este
gênero literário não é rico apenas em forma, é possível verificar
cordéis com as mais variadas temáticas, desde aqueles que
realizam denúncias aos que abordam questões sociais, os quais
podem contribuir para a aprendizagem e reflexões dos discentes,
como destacam Marinho e Pinheiro (2012, p.88):
58
poeta Luiz Souza da Costa Pinheiro. Suas obras se destacam pelo forte
apelo pela preservação da natureza e temáticas sociais.
59
A leitura do poema tende a ser interessante e divertida. Este
explora elementos da cultura local o que possibilita certa
identificação por parte dos alunos que vivem no contexto retratado.
Por esse ângulo, Colomer (2003, p. 133) destaca a perspectiva de
que o leitor literário entende as obras de acordo com a sua
experiência de vida e literária. Dessa forma, a vivência que o leitor
traz para o texto é tão importante quanto a experiência
proporcionada ao leitor. Segundo Saraiva (2006, p.28),
60
Quebra-pote e pau-de-sebo
No Nordeste do Brasil
E o forró de pé de serra
Tira fogo sem fuzil
[...]
(SOBRINHO, 2018, p. 52)
61
poético, ou seja, de uma coletividade. Para Martinazzo (2010, p. 34),
o homem constitui sua identidade no momento, em que
Aprendi da natureza
Fiquei tranquilo também
Dizendo comigo mesmo
Amanhã o dia vem
62
Eu acho a vereda e sigo
Com fé em Deus tudo bem.
63
habilidades de leitura, principalmente quando observa a
necessidade de se manter um determinado ritmo, a observação das
rimas e da musicalidade presentes no cordel.
Em função da prática leitora do Cordel Noite de lua, cuidamos
antes em ler o texto para sentir suas pulsações, sonoridade e
pausas, com o propósito de realizá-la de modo que garantisse o
ritmo e a musicalidade, como também o envolvimento dos
discentes com o texto. Após a leitura feita pelo professor, os alunos
também foram convidados a realizarem a leitura essa em voz alta.
Solicitamos, ainda, que os estudantes fizessem de forma
compartilhada, em um círculo, no qual cada um realizou a leitura
de uma estrofe. A atividade de leitura e releitura proporcionou que
todos participassem, considerando que “esta repetição ajudará a
perceber o ritmo e encontrar os diferentes andamentos que o
folheto possa comportar e trabalhar as entonações de modo
adequado” (MARINHO, PINHEIRO, 2012, p.129).
Na sequência das atividades, o foco esteve em realizar uma
roda de conversa sobre o tema abordado no folheto Noite de lua. O
objetivo dessa estratégia foi provocar nos alunos a trocar ideias,
momento em que poderiam exercitar a interpretação ao apresentar
e ouvir opiniões diferentes, a partir dos significados verificados no
poema. Essa atividade permitiu uma interação capaz de produzir
reflexão, uma vez que é na interação, isto é, na prática de discutir
em pequenos grupos, seja com o professor ou com os colegas, que
se cria uma situação favorável para que o aluno que ainda não
tenha compreendido o texto o compreenda. Como também,
possibilita reconhecer o texto como lugar de manifestação e
negociação de sentidos, valores e ideologias. (BRASIL, 2017, p. 87)
Desse modo, utilizamos a temática da cultura para instigar o
debate na sala de aula, apresentando questionamentos como: quais
as raízes da nossa cultura? Ela sofre/sofreu alguma influência
estrangeira? Quais são as manifestações da cultura popular que a
turma conhece? Há incentivo para a valorização da cultura no
Brasil? Existe algum tipo de preconceito relacionado às diversas
manifestações culturais no Brasil? Assim, o debate proporcionou
64
diferentes visões, às vezes, conflitantes. Nesse processo, adquire
destaque o papel de mediador do professor a garantir que as
opiniões pudessem ser expostas, ouvidas e discutidas da melhor
forma possível. É importante destacar que embora o debate tenha
iniciado a partir de questionamentos referentes à temática, outros
aspectos elencados pelos alunos sobre o texto também foram
levados em consideração durante a discussão.
Para o encerramento, solicitamos a produção de um sarau de
Cordel pela turma, pois além de ser uma excelente oportunidade
de pôr em prática o aprendizado adquirido durante a proposta no
que se refere à leitura expressiva, também se torna uma forma de
promover um evento cultural na escola a valorizar a estimular
demais alunos para a leitura do gênero. Em função disso, diversos
cordéis foram apresentados aos discentes que tiveram a liberdade
para selecionar cordéis que os agradassem para depois recitá-los;
também possibilitamos espaço para que estes apresentassem
produções próprias, se assim o desejassem.
Sendo assim, a proposta apresentada não só provocou um
encontro dos discentes com o texto literário, como também atendeu
a competência específica de Língua Portuguesa, que orienta o
envolvimento do aluno com “práticas de leitura literária que
possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição,
valorizando a literatura e outras manifestações artísticos-culturais
[...]” (BRASIL, 2017, p. 87). Além disso, estimulou a leitura, o
imaginário e o encantamento, de modo a pôr em prática o potencial
de transformação da literatura, bem como a entender que ela pode
ser objeto de prazer, liberdade, significados e sentidos. Além disso,
também permitiu um espaço nas aulas de Língua Portuguesa para
uma das mais expressivas manifestações populares do Brasil que é
a Literatura de Cordel.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
65
aulas de Língua Portuguesa, justamente por seu potencial quanto à
formação de leitores, a proposta de leitura literária do Cordel Noite de
Lua proporcionou para os discentes uma experiência com a literatura
que supera exercícios mecânicos e maçantes, contribuindo para a
formação de leitores na perspectiva do letramento.
Verificamos que apresentar as características do gênero
estudado e provocar o levantamento de hipóteses referentes à obra,
antes de realizar a leitura desta, são estratégias que permitem
estimular os alunos para a leitura do texto. Ademais, a prática da
leitura em voz alta foi extremamente importante na proposta de
leitura, pois através dela é possível estimular o gosto pelo texto
poético e aproximar os leitores para a literatura, fornecendo
conhecimentos tanto para o ouvinte como para o leitor, visto que é
uma “experiência de alegria que nascem dos lábios que narram, que
encenam, que pelejam, que protestam, que dão voz e corpo aos
sonhos e emoções” (MARINHO, PINHEIRO, 2012, p. 15).
Do ponto de vista do exercício de interpretação, no debate
realizado sobre a temática do texto, o êxito esteve em não somente
explorar o tema, mas em realizar uma análise através da troca de
ideias e opiniões diferentes, cooperando, assim, para o
desenvolvimento da capacidade interpretativa dos discentes em
relação ao texto literário e seus diversos sentidos e significados.
O exercício com sarau de cordel, atividade de encerramento,
proporcionou realizar uma festa cultural na escola, favorecendo o
envolvimento dos alunos com a poesia de Cordel e, também,
avaliar o desempenho dos alunos quanto à leitura expressiva. Além
disso, o sarau foi uma forma de apresentar a poesia de Cordel para
aos alunos das demais turmas incentivando, assim, para a leitura
desse gênero.
Com base nesse exercício de leitura com o texto de Cordel,
conclui-se a empreitada de formar leitores de literatura exigem
atividades que envolvam o leitor. Faz-se necessário, pois, uma
interação com o texto capaz de proporcionar um mergulho na obra
de diversas maneiras, nas quais possibilite a busca por sentidos. É
necessário frisar, que essa proposta não tem a pretensão de
66
solucionar todos os problemas relacionados à leitura dos textos
literários, porém o principal argumento para se continuar a ensinar
literatura é o de que a leitura literária é um direito de todos desde
a infância. Negar o contato com qualquer tipo de representação
artístico-literária é privar o aluno de exercer sua humanidade.
Entendemos que a vivência com poesia na sala de aula pode
proporcionar aos leitores em formação o entendimento de que a
leitura pode ser objeto de prazer, liberdade e imaginação, bem
como uma fonte de contato com os conhecimentos de nossa cultura.
3. REFERÊNCIAS
67
MARTINAZZO, Celso José. Identidade humana: Unidade e
Diversidade Enquanto Desafios para uma Educação Planetária.
Contexto & Educação. Rio Grande do Sul, n. 84, p. 31-59, Jul./Dez.
2010. Disponível em: <https://www.revistas.unijui.edu.br/
index.php/contextoeducacao/article/view/460>. Acesso em: 17 fev.
2022.
MORAIS, F. C. Xexéu: do canto versátil ao voo criativo na escrita.
Imburana – Revista do Núcleo de Câmara Cascudo de Estudos
Norte-Rio-Grandenses/UFRN. n. 1, 2010. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/imburana/article/view/857/791. Acesso
em: 03 jan. 2021.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Literatura para todos. Literatura e
Sociedade, 2006, vol. 9, p. 16-29. Disponível em: <https://doi.
org/10.11606/issn.2237-1184.v0i9p16-29> Acesso em: 09 mai. 2019.
PINHEIRO, Helder. Poesia na sala de aula. 1. ed. São Paulo:
Parábola, 2018.
SARAIVA, Juracy Assmann, MÜGGE, Ernani… [et al]. Literatura
na escola: Propostas para o ensino fundamental. Porto Alegre:
Artuned, 2006.
SOBRINHO, J. G. Noite de lua. In. SOBRINHO, J. G. Cantos da
manhã. Natal/ RN: Soluções Gráfica e Editora, 2018. p. 51-55.
68
CAPÍTULO 4
1. INTRODUÇÃO
69
artigo, por uma questão de espaço, fizemos um recorte de produções
textuais de dois alunos. Assim, selecionamos quatro produções (2
iniciais e 2 finais) para compor o corpus desta pesquisa.
O objetivo geral do trabalho é fazer uma análise comparativa de
quatro produções textuais, observando os aspectos composicionais,
estilo e conteúdo temático através da sequência didática. Como
objetivo específico, esperamos desenvolver no discente, através da
instrumentalização do gênero artigo de opinião, a utilização de
argumentos coerentes com seus pontos de vista.
Para uma melhor compreensão, organizamos esse artigo em
seis seções: na primeira, a introdução; na segunda seção
apresentamos uma discussão acerca da leitura e da significação que
ela representa na escola. Na terceira, tecemos algumas
considerações sobre o gênero, em especial o artigo de opinião, no
ambiente escolar; na quarta seção apresentamos um delineamento
dos dispositivos metodológicos; na quinta encontramos a análise
comparativa das produções textuais, obtidas através da sequência
didática. Por último, apresentamos as considerações finais acerca
da realização deste trabalho.
70
tempo, com suas experiências. Lajolo (1993), por exemplo, fala em
uma leitura livre, baseada na escolha do leitor, ou seja, uma
maturidade leitora:
71
devemos reconhecer os gêneros discursivos como sendo
fundamentais para o ensino de Língua Portuguesa.
Então, é preciso entender os gêneros discursivos como
ferramentas basilares em sala de aula, mesmo contemplando,
também, os estudos gramaticais. O que observamos, entretanto, é
que a maioria dos professores faz uso dessa ferramenta apenas
como pretexto para análise gramatical, negligenciando os aspectos
funcionais e sociocomunicativos do gênero.
Ao contrário de Bakhtin, Marcuschi (2010) não utiliza a
expressão gêneros discursivos, e sim, textuais, e acrescenta que
estão relacionados a necessidades e atividades socioculturais, com
a seguinte definição:
72
que ele pode ou não convencer, se os seus argumentos estiverem
bem estruturados (BRAKLING, 2001).
Rodrigues (2000) ressalta a importância da argumentação,
presente no artigo de opinião, para a aprendizagem em sala de
aula, colocada como fundamental para a concretização do ensino
que ultrapassa o letramento funcional, vejamos:
73
estadual de ensino, localizada no município de Belém-PB. Porém,
devido ao curto espaço nesse artigo, fizemos um recorte, para
apenas quatro produções textuais (02 iniciais e 02 finais), de dois
alunos, que consistem o corpus desta pesquisa.
Desta forma, este estudo se constitui como uma pesquisa-
ação, de natureza descritiva/intervencionista e abordagem
qualitativa. E tem como objetivo geral fazer uma análise
comparativa de quatro produções, observando os aspectos
composicionais, estilo e conteúdo temático através de uma
sequência didática.
Esta pesquisa se deu mediante a criação de uma sequência
didática que, segundo Dolz, Noverraz, Schneuwly (2004, p. 97), “é
um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira
sistemática, em torno de um gênero textual [...] escrito”. Nessa
perspectiva, abordaremos o gênero artigo de opinião com base em
seus elementos constituintes, para que o estudante possa entender
a importância da apropriação de conhecimentos acerca desse
gênero em um contexto social, no qual opinar com segurança é um
fator extremamente necessário na sociedade atual, que exige
cidadãos que reflitam e se posicionem sobre o que os cercam.
Percebemos que o modelo que os autores propõem é composto
pelos seguintes elementos: apresentação da situação, produção
inicial, os módulos nos quais são desenvolvidas as atividades da
sequência, produção e produção final. Mas, com a finalidade de
adequação desse modelo para atender ao que propomos na nossa
sequência, optamos por fazer algumas modificações e reformulá-
lo, como podemos visualizar na figura abaixo:
74
Quadro 01:– Esquema de Sequência Didática
75
importância para que o estudante pudesse falar/argumentar em
seu texto. O primeiro módulo didático foi divido em sete
momentos que envolveram a estruturação do gênero artigo de
opinião e discussões acerca do tema escolhido para trabalhar com
a turma: “Corrupção no Brasil”. Nesse módulo também foi
reservado para a apresentação do filme “O candidato honesto”, um
longa-metragem de comédia de 2014 que aborda e critica, de forma
bem-humorada, o contexto político brasileiro.
No segundo módulo, chamado “Módulo de escrita”,
desenvolvemos atividades de escrita que foram detectadas nas
produções iniciais dos alunos. Assim, entregamos as produções
iniciais aos discentes e pedimos que eles lessem com muita atenção
todo o seu texto, observando atentamente o que escreveram nessa
primeira versão. Orientamos que, com base em tudo o que
aprenderam ao longo do módulo de leitura, observassem se o texto
escrito antes desse momento estava coerente com a estrutura,
linguagem, forma de abordar o conteúdo em um artigo de opinião.
Na sequência da produção do artigo de opinião, os estudantes
fizeram três reescritas das produções iniciais, sendo que a última
dessas foi a produção final. Para esse momento, eles deveriam estar
munidos de todo o conhecimento adquirido acerca do gênero, da sua
estruturação (coesão, coerência, paragrafação); da forma de abordar o
conteúdo; da linguagem mais propícia para esse tipo de escrita
(dificuldades em ortografia, pontuação e acentuação), entre outros
aspectos que foram desenvolvidos ao longo da sequência didática.
No último módulo dedicamos à divulgação das produções dos
alunos à comunidade escolar. Esse módulo foi muito importante
para o projeto, pois foi nele que apresentamos o resultado de nosso
trabalho à comunidade escolar, inclusive com a publicação de um
livro no qual constava os textos de todos os estudantes que
participaram do começo ao fim da sequência didática.
76
5. VIVENCIANDO A SEQUÊNCIA DIDÁTICA: ANÁLISE
COMPARATIVA
77
Quadro 03: Análise comparativa da Produção Final 1
78
a) Aspectos composicionais:
79
Ele ainda aponta para o fato de que a sociedade também é
corrupta, mas não apresenta argumentos que comprovem seu
posicionamento, focando sua discussão no campo político.
Diferentemente da PF1, na PI1 o autor, ao citar a corrupção no
cotidiano, apresentou exemplos disso, o que deveria ter mantido
na versão final também.
Na finalização do texto, evidenciamos que o autor faz uso de
um articulador para iniciar o parágrafo de conclusão: “Sabendo
disso, todos devemos pensar de uma maneira que mudemos o
mundo [...]”, dessa forma, conectando-se à discussão dos demais
parágrafos. Além disso, propõe que tenhamos consciência dos
nossos atos.
80
evolução é percebida a partir da observação dos trechos: PI - “[...]
principalmente aos políticos [...]” e PF – “[...] vamos logo aos
políticos [...], nos quais a palavra “políticos” aparece sem o acento
agudo na sílaba “lí” na primeira versão, o que não permaneceu na
versão final.
Em relação à articulação das palavras, orações e parágrafos do
texto, evidenciamos que na PF1, diferentemente da PI1, houve esse
cuidado em estabelecer ligações. Contudo, precisamos ressaltar
que na primeira produção o autor também incluiu diversos
elementos coesivos, a diferença de uma versão para outra é,
justamente, a ampliação desses elementos no tocante à quantidade
e à qualidade desse uso.
A utilização dos mecanismos de ligação, na PI1, se deu de
forma ainda muito simplória, pois tivemos um texto construído em
um único parágrafo, o que não impossibilitaria a utilização de
elementos coesivos. Já na PF1, percebemos, além da ligação entre
as orações, como podemos notar no trecho: “[...] praticamente todos
os políticos estão ligados a esquemas de corrupção, pois eles
roubam verbas de hospitais [...]”, em que percebemos a relação de
explicação estabelecida pela conjunção “pois”; e entre os
parágrafos: “Sabendo disso, todos devemos pensar de uma
maneira que mudemos o mundo [...]”, em que a expressão em
destaque apresenta o sentido de conclusão relacionada não só ao
parágrafo anterior, como a todo o texto.
Conteúdo temático:
81
problemas de corrupção que acontecem aqui: “[...] muitas vezes
isso está relacionado a corrupção [...]”.
Enquanto isso, na PF1, o autor faz mesma abordagem: “O
Brasil é um país com muita capacidade para crescer, mas a
corrupção existente nele não permite que seu desenvolvimento
aconteça [...]”. Como podemos notar, o autor diz a mesma coisa nas
duas versões, entretanto, ao fazermos uma comparação,
percebemos que a versão final está bem melhor estruturada.
Na PF1, o autor mostra-se defensor da ideia de que a
corrupção está diretamente relacionada à política partidária, o que
se reforça com a seguinte citação: “No Brasil, praticamente todos os
políticos estão ligados a esquemas de corrupção, pois eles roubam
verbas de hospitais, de escolas etc.”, na qual ele não generaliza essa
ideia, mas afirma veementemente que a maior parte deles está
ligada a esse problema.
Observamos que tanto na versão final quanto na inicial, o
autor menciona a sociedade como praticante de atos corruptos.
Contudo, na primeira versão apresenta exemplos de como essa
corrupção acontece, enquanto, na final, apenas menciona o fato de
que praticamos e, muitas vezes, nem temos consciência disso: “[...]
Todos somos corruptos até mesmo não sabendo disso, e ainda
existem pessoas que não pensam nisso, mesmo assim, dizem que
não são corruptas.”. Dessa forma, o que se destaca é a defesa de que
a corrupção está cada vez mais ligada ao campo político-partidário,
porque o autor até cita a sociedade como praticante de atos
corruptos, mas não cita como isso acontece.
82
Quadro 04: Análise comparativa da Produção Inicial 2
83
Quadro 05: Análise comparativa da Produção Final 2
a) Aspectos composicionais:
84
que elaborada antes da aplicação da sequência didática, mostrou-
se insuficiente em alguns critérios. Temos, por exemplo, a ausência
de um título que chame a atenção do leitor (BELTRÃO, 1980), o que
não acontece na PF2, que traz o título: “A corrupção em nosso país
é culpa de toda a sociedade”, sinalizando para o leitor o
posicionamento que o autor terá ao longo do seu texto.
Importante observar nessa análise comparativa é a extensão
do texto. Enquanto a primeira versão é composta por apenas dois
curtos parágrafos, a versão final foi ampliada e desenvolvida em
cinco parágrafos, o que deu margem, também, para a ampliação
dos elementos composicionais.
Na PI2, constatamos que o autor antecipa sua tese logo na
primeira linha da introdução ao iniciá-la com: “Eu acho que todos
somos corruptos [...]”, o que, de acordo com outras análises feitas,
o mais adequado seria que ele contextualizasse o tema nessa parte
do texto. Na PF2, o autor, ao iniciar seu texto com o trecho: “A
corrupção está contaminando o nosso país [...]” demonstrou a
aquisição dessa habilidade, ainda que de forma embrionária.
Devido à curta extensão da PI2, não conseguimos identificar a
parte em que o autor apresenta sua discussão/desenvolvimento
sobre o tema, ou seja, o texto está dividido apenas em começo e fim,
o que não permitiu que seu autor apresentasse argumentos
suficientes para defender seu ponto de vista. Na PF2, o autor leva
o leitor ao dizer que: “Na maioria das vezes, quando alguém nos
pergunta se somos corruptos, sempre dizemos que não, mas essa
não é bem a verdade”, mas se perde nessa discussão ao apresentar
uma ideia generalizada de corrupção: “Somos todos corruptos,
pois sempre cometemos algum ato corrupto, como simplesmente
entrar na frente de alguém em uma fila, por exemplo”.
Independente do equívoco de sentido é válido ressaltar aqui que
ele desenvolveu melhor sua discussão.
Nos demais parágrafos da PF2, constatamos que o autor se
mostra preocupado em apresentar uma proposta de solução para o
problema, o que geralmente é visto no parágrafo de conclusão
(BELTRÃO, 1980). E, entre as propostas, temos: “[...] Temos que
85
buscar soluções para o nosso país [...]” e “[...] enquanto cometermos
corrupção, quem sofrerá as consequências somos nós”, acaba
criando um sinal de alerta para o leitor ao apontar que
consequências maiores poderão surgir.
Na conclusão, não conseguimos perceber na PI2 a finalização
da discussão do tema, apenas a apresentação de uma proposta de
mudança de postura por parte do leitor, ainda que de forma muito
sintetizada: “[...] vamos parar pra pensar no que isso pode causar
para a nossa sociedade”, na qual se limita propor que o leitor reflita,
mas não que mude sua postura.
86
elementos coesivos. Por mais que na primeira versão haja apenas
um ou outro elemento de ligação, na última, percebemos que
houve um aumento deles tanto na quantidade como qualidade,
como podemos ver em: a) “Somos todos corruptos, pois sempre
cometemos algum ato corrupto [...]”, no qual temos uso da
conjunção ‘pois’ com sentido de explicação entre orações; b)
“Porém, achamos que isso não é corrupção”, observamos que há a
relação de oposição entre o segundo e o terceiro parágrafos; e c)
“[...] os corruptos são só os políticos, mas temos que parar para
pensar que as atitudes simples como as citadas acima são atos
corruptos, sim”, no qual aparece outra conjunção que estabelece
também a ideia de oposição ligando as orações.
c) Conteúdo temático:
87
citadas acima são atos corruptos, sim.”, no qual percebemos que o
autor discute a problemática de forma mais elaborada e
desenvolvida.
Constatamos, de maneira geral, evolução na discussão da
temática da primeira para a última versão, sobretudo na forma de
organizar o discurso. Mas é importante ressaltar que outras
melhoras poderiam ter sido acrescentadas, inclusive para que se
melhorasse o grau de informatividade do texto.
Na conclusão da análise comparativa, constatamos muitos
avanços nos três aspectos constituintes dos gêneros discursivos:
estrutura, estilo e conteúdo temático (BAKHTIN, 2011). Nesse
sentido, evidenciamos os bons resultados a partir da adaptação
feita da sequência didática de Dolz, Noverraz, Schneuwly (2004)
para a turma do 9º ano no qual desenvolvemos a pesquisa.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
88
comprovando, assim, que é possível o estudo de um gênero discursivo
em sala de aula através de uma proposta de sequência didática.
7. REFERÊNCIAS
89
90
CAPÍTULO 5
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
91
1998) e a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2017). Em
relação às estratégias de leitura, buscamos respaldo nos trabalhos
desenvolvidos por Solé (1998) e Kleiman (2016).
Para tanto, organizamos esse trabalho com os seguintes itens:
considerações iniciais, concepções teóricas, descrição da proposta
de intervenção, considerações finais e referências.
92
Nessa perspectiva, para Koch e Elias (2010, p. 57), “o sentido de
um texto não existe a priori, mas é construído na interação sujeitos-
texto”. Isto é, a leitura é uma atividade na qual os sujeitos estabelecem
relação, a fim de atribuir determinados sentidos ao texto.
Diante disso, constatamos que o conhecimento adquirido ao
longo da vida do indivíduo é fundamental à atividade de leitura, uma
vez que oportuniza a elaboração de inferências e a construção de
sentidos que contribuem para uma melhor compreensão do que se lê.
Conforme podemos perceber, a leitura possui um importante
papel na vida de qualquer indivíduo, pois é uma atividade de
interação entre sujeitos que está presente no dia a dia do ser humano.
Na escola, não é raro ouvirmos nas aulas de Língua
Portuguesa que os alunos leem, porém não conseguem
desenvolver um nível de compreensão que garanta a construção do
sentido global do texto.
Diante dessa problemática, cabe-nos ressaltar a necessidade de
refletirmos sobre a importância da leitura na formação de
estudantes capazes de extrair significados e construir sentidos para
os textos que lhes são apresentados.
Para tratarmos dessas questões, precisamos, antes de tudo,
salientar a íntima relação existente entre as concepções de
linguagem e as concepções de leitura, ou seja, haverá uma
condução diferenciada a respeito do ensino da leitura, a depender
da concepção de linguagem que se adote.
Sobre esta questão, Travaglia (2009) nos apresenta três
possibilidades distintas de conceber a linguagem. A primeira
concepção vê a linguagem como expressão do pensamento. Assim,
como há uma relação intrínseca entre pensamento e linguagem, se
os falantes não se expressam bem é porque não pensam. Para essa
concepção, a expressão seria construída apenas na mente de cada
sujeito, e a exposição seria tão somente uma transposição daquilo
que se pensava, sem necessariamente uma reflexão.
A segunda concepção, por sua vez, considera a linguagem como
instrumento de comunicação. Nesse caso, “a língua é vista como um
código, ou seja, um conjunto de signos que se combinam segundo
93
regras e que é capaz de transmitir uma mensagem, informações de um
emissor a um receptor" (TRAVAGLIA, 2009, p. 22).
Constatamos, portanto, uma íntima relação entre esse ponto
de vista e os elementos comunicativos, a partir dos quais o
enunciador (falante) pretende emitir uma mensagem a um
destinatário (ouvinte).
Na terceira concepção, linguagem como forma ou processo de
interação, a língua é utilizada não só para a comunicação, mas para
o estabelecimento da interação social.
Diferentemente das concepções anteriores, ao utilizar a língua,
o indivíduo não só dirige um pensamento a outro, mas estabelece
relações sociais. Nessa perspectiva percebemos que são atribuídos
aos interlocutores (autor e leitor) novos papéis sociais, uma vez
que, enquanto participantes do processo interativo, eles agem
ativamente enquanto sujeitos que constroem socialmente seu
conhecimento.
Em relação às concepções de leitura, apresentamos a seguir os
modelos conceituais, a fim de exemplificar como a leitura é vista
por cada um deles.
O modelo de leitura ascendente apresenta o autor como
elemento central no processo de geração de sentido do texto e um
leitor a quem cabe simplesmente o dever de extrair o significado
desse texto, ou seja, é um processo no qual a informação é
direcionada do texto para a mente do leitor. “Nesta perspectiva, a
leitura é reduzida a uma decodificação mecânica dos signos
linguísticos” (BONIFÁCIO, 2015, p.16).
Dessa forma, a leitura consiste na captação das informações
presentes na superfície textual, uma vez que no texto estão todas as
informações necessárias à sua compreensão.
Assim, o texto é visto como suficientemente capaz de gerar
sentido a partir unicamente das informações explícitas, captadas
por um processo instantâneo de decodificação.
Diferentemente do modelo ascendente, no qual o autor é o
elemento principal no processo de leitura, no modelo descendente
o leitor é o foco. Ou seja, o processo de leitura acontece do leitor
94
para o texto. Nessa perspectiva, o leitor é colocado em primeiro
plano e torna-se responsável pela construção do sentido, uma vez
que “constrói significado com base na sua capacidade inferencial
de fazer predições, usando informações não linguística,
conhecimento de mundo ou do assunto” (BONIFÁCIO, 2015, p.18).
Além dos modelos ascendente e descendente, temos a
concepção sociointeracionista, cujo foco da leitura é a interação
entre o autor, o texto e o leitor.
Sob o ponto de vista da dessa concepção, leitura como interação,
é necessário que haja a interação entre autor, texto e leitor como
condição para que seja possível a atribuição de sentido ao texto.
Assim, o leitor, nessa perspectiva, não é apenas um receptor, mas
desempenha a função de coautor, garantindo, dessa forma, que o
sentido não se limite ao texto ou ao leitor apenas, mas que esse sentido
seja estabelecido a partir da interação entre autor, texto e leitor.
Após a apresentação das concepções de leitura surgidas ao
longo dos anos, apresentaremos a seguir a visão dos documentos
oficiais sobre o ensino da leitura para o Ensino Fundamental.
95
Com enormes dificuldades de leitura, o aluno se vê frustrado no seu
esforço de estudar outras disciplinas e, quase sempre, “deixa” a
escola com a quase inabalável certeza de que é incapaz, de que é
linguisticamente deficiente, inferior, não podendo, portanto, tomar a
palavra ou ter voz para fazer valer seus direitos, para participar ativa
e criticamente daquilo que acontece à sua volta. Naturalmente, como
tantos outros, vai ficar à margem do entendimento e das decisões de
construção da sociedade. (ANTUNES, 2003, p. 20).
96
mas como uma complexa atividade de interpretação e
compreensão, os PCN defendiam a ideia de que, para compreender
o texto é necessário que o sujeito mobilize seus conhecimentos
prévios e, a partir da ação concomitante de diversos tipos de
conhecimento, seja capaz de produzir sentido ao texto. A utilização
dessa perspectiva no trabalho docente com a leitura viabiliza a
inserção dos diversos gêneros textuais e suas possibilidades
discursivas nas atividades pedagógicas.
Diante disso, cabe à escola criar condições para que o aluno,
além de ter acesso aos mais variados tipos de textos, seja capaz de
compreendê-los e usá-los.
Salientarmos que, apesar de representarem um considerável
avanço para o trabalho com a leitura na escola, os PCN não trazem,
de maneira mais pormenorizada, uma metodologia para o ensino
da compreensão leitora, já que apenas apresenta sucintamente as
estratégias de leitura, sem estabelecer uma relação entre estas e as
habilidades que devem ser apreendidas pelos alunos do Ensino
Fundamental.
Observamos, no entanto, que esse ponto de atenção foi levado
em consideração no mais atual documento oficial curricular
brasileiro, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC.
A necessidade de uma atualização curricular que
possibilitasse o diálogo entre os documentos e as orientações
curriculares produzidos nas últimas décadas e as pesquisas mais
recentes desenvolvidas nas diversas áreas do conhecimento,
sobretudo na área de linguagem, motivou a elaboração e a
implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A perspectiva teórica que embasa a orientação de trabalho
para o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa apresentada
pela BNCC do Ensino Fundamental defende, conforme Brasil
(2017, p. 65), que o texto assume um papel central como unidade
de ensino; e “as práticas de linguagem, discurso e gêneros
discursivos/gêneros textuais, esferas/campos de circulação dos
discursos” aparecem como perspectivas e concepções já abordadas
anteriormente em outros documentos, por exemplo, nos PCN. No
97
entanto, a perspectiva da BNCC atenta para as linguagens verbal
(oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual,
sonora, destacando o letramento digital como ação que possibilita
a atividade de práticas sociais.
Diante disso, a BNCC recomenda que, a fim de atender às
demandas mais atuais em relação ao trabalho com os gêneros
discursivos/gêneros textuais, sejam realizadas durante todo o Ensino
Fundamental atividades que apresentem aos alunos, além dos
gêneros já conhecidos pela escola (notícia, entrevista, artigo de
opinião, charge, tirinha, crônica, etc.), os gêneros digitais,
proporcionando, dessa forma, uma participação mais efetiva e crítica
nas práticas contemporâneas de linguagem por parte dos estudantes.
Desse modo, percebemos que, a fim de promover a expansão
dos letramentos, é necessário que a escola oportunize situações de
leitura nas quais os alunos sejam capazes de fazer uso das práticas
de linguagem nas mais diversas situações reais de uso do dia a dia.
Diante disso, podemos notar um avanço trazido pela BNCC
em comparação aos PCN, no tocante às diretrizes para o ensino da
leitura no Ensino Fundamental. De acordo com as orientações
desse novo documento curricular, é possível constatar a relevância
que é concedida à leitura, uma vez que este enfatiza sua
importância, não apenas nas aulas de Língua Portuguesa, mas em
todos os outros componentes curriculares.
Dessa forma, de acordo com os PCN e a BNCC, podemos
reiterar a importância das estratégias de leitura como ferramenta
relevante para a aprendizagem da leitura no Ensino Fundamental.
A fim de ratificar nossa afirmação, apresentamos a seguir as
estratégias de leitura.
4. ESTRATÉGIAS DE LEITURA
98
texto, com base no conhecimento verbal e não verbal do leitor, ou
seja, na maneira como ele responde às questões sobre o texto.
As estratégias do leitor são classificadas em estratégias
cognitivas e estratégias metacognitivas. As primeiras são
procedimentos inconscientes que o leitor realiza automática e
estrategicamente, sem a necessidade de seguir regras, a fim de
alcançar algum objetivo de leitura. As segundas, por sua vez, são
procedimentos realizados com algum objetivo em mente, sobre os
quais temos consciência, haja vista que somos capazes de explicar
nossa ação.
Assim sendo, ressaltamos o importante papel da escola no
desenvolvimento de condições para que o aluno utilize as
estratégias cognitivas e metacognitivas nas atividades de leitura, as
quais irão favorecer seu desenvolvimento enquanto leitor.
Dessa forma, podemos constatar a necessidade de utilização
de práticas de leitura mais direcionadas e respaldadas em
estratégias que contribuam efetivamente para que o aluno
desenvolva, de forma eficaz, sua competência leitora.
A fim de contribuir didaticamente para o enriquecimento do
trabalho pedagógico, Solé (1998) apresenta uma divisão das
estratégias em três partes: antes da leitura, durante a leitura e
depois da leitura. Embora haja essa separação, a autora esclarece
que, por vezes, muitas das estratégias são utilizadas em momentos
distintos dos elencados anteriormente; no entanto, salienta a
importância delas durante toda a atividade de leitura.
99
A partir do exposto sobre as estratégias que podem ser
utilizadas antes de iniciar o trabalho com a leitura, apresentamos a
seguir as que podem ser utilizadas durante a leitura.
100
Em relação à identificação da ideia principal de um texto, o
leitor pode estabelecer vínculos entre os conhecimentos adquiridos
durante sua vida, seus objetivos de leitura e a informação
apresentada pelo autor. Compreendida dessa forma, a ideia
principal seria fundamental para a aprendizagem do leitor a partir
de sua leitura e para que fosse possível a realização de atividades
vinculadas a ela, como fazer anotações ou construir um resumo.
Solé (1998) apresenta ainda outra estratégia a que podemos
recorrer após a leitura: a elaboração de resumo. Para a autora, essa
estratégia “está estreitamente ligada às estratégias necessárias para
estabelecer o tema de um texto, para gerar ou identificar sua ideia
principal e seus detalhes secundários” (SOLÉ,1998, p. 143).
Na próxima seção, trataremos da Prova Brasil, instrumento de
avaliação em larga escala responsável pela aferição da qualidade da
educação básica no Brasil, que foi usado na atividade diagnóstica
como instrumento para verificar a melhoria da proficiência da leitura
dos alunos, após o ensino das estratégias de leitura.
101
seria necessário avaliar em cada etapa e área do conhecimento. Isso
foi feito por meio da idealização das Matrizes de Referência.
A matriz de referência de leitura é constituída por um conjunto
de conteúdos (tópicos ou temas) e habilidades (descritores) que
devem ser avaliados em cada área do conhecimento, e que retratam o
que se espera que tenha sido desenvolvido pelos alunos ao final do 5º
e do 9º ano do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio.
Dessa forma, a matriz de Língua Portuguesa da Prova Brasil
está organizada em duas dimensões. Na primeira, são
apresentados 6 (seis) tópicos, que se relacionam com as habilidades
que devem ser desenvolvidas pelos alunos, chamados de “eixos”,
e cada um desses eixos representa um aspecto característico da
leitura. Uns enfatizam mais o material textual, outros os
procedimentos de leitura, outros as características da coerência
textual, e há ainda a referência à interação do texto nas diversas
situações sociocomunicativas.
A segunda dimensão trata das competências que devem ser
desenvolvidas pelos alunos. A partir desse ponto de vista, foram
criadas as descrições das habilidades (descritores), para cada um
dos seis tópicos apresentados anteriormente.
A seguir apresentamos o esboço da nossa proposta de
intervenção.
102
seguir as atividades planejadas para o ensino das estratégias de
leitura relacionadas às habilidades referentes aos descritores D1,
D3, D4, D6 e D14.
103
Trabalho com o descritor D4: Inferir uma informação
implícita em um texto. O desenvolvimento desse tópico aconteceu
em três momentos.
✓ 1º Momento: Retomar as ideias de contexto e de
conhecimento enciclopédico/conhecimento de mundo e utilizar as
estratégias de leitura na identificação das inferências (duas aulas de
50 minutos);
✓ 2º Momento: Reflexão sobre pressuposto e subentendido;
(duas aulas de 50 minutos);
✓ 3º Momento: Realização de atividade composta por quatro
questões referentes à habilidade requerida pelo descritor D4,
correção coletiva da atividade e esclarecimento de possíveis
dúvidas (duas aulas de 50 minutos).
104
exemplos com o objetivo de especificar os conceitos construídos
(duas alunas de 50 minutos);
✓ 2º Momento: Ensino das estratégias a partir dos textos
“Geração Beijo na boca” de Valéria Propato, “Tímida de 18 anos dá
primeiro beijo e morre minutos depois” notícia do jornal O globo e
“De volta ao primeiro beijo” de Moacyr Scliar (duas aulas de 50
minutos);
✓ 3º Momento: Realização de atividade composta por quatro
questões referentes à habilidade requerida pelo descritor D14,
correção coletiva da atividade e esclarecimento de possíveis
dúvidas (duas aulas de 50 minutos).
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
105
também de outras escolas públicas de educação básica que tenham
acesso a este material.
8. REFERÊNCIAS
106
CAPÍTULO 6
1. INTRODUÇÃO:
107
enfatizar as articulações entre o sujeito e o contexto sócio-histórico
e enfatizar as práticas de linguagem, as vivências e situações
sociocomunicativas dos alunos (as), de modo a responder às
necessidades de interação (orais ou escritas) desses sujeitos sócio-
historicamente constituídos pela linguagem (ORLANDI, 2001).
Acreditamos que o ensino-aprendizagem da leitura e escrita, de
forma conjunta, na perspectiva discursivo-reflexiva e, concretizada
através de gêneros textuais – produtivos e atuais, seja fundamental
para que os estudantes possam se situar no mundo, compreendê-
lo e transformá-lo.
A respeito do ato de ler e escrever, Antunes (2003) ratifica a
complementariedade das duas atividades. É sob essa perspectiva que
devemos entender a relevância de se desenvolver o
ensino/aprendizagem da leitura e escrita, tomando como via de acesso
os gêneros textuais que estimulem o senso crítico do aluno e
incentivem o desejo de descoberta e de curiosidade, de modo que este
aluno não se sinta conformado com o que já está estabelecido nos
textos, mas-seja capaz de achar outros contextos, sentidos e vieses.
No que diz respeito ao trabalho com gêneros textuais há um
leque de possibilidades, no âmbito da leitura e da produção escrita.
Eles são inúmeros e essa diversidade é determinada pelo fato de
que eles diferem entre si dependendo da situação, da posição social
e das relações pessoais de reciprocidade entre os participantes da
comunicação (BAKHTIN, 2016). Considerando essas muitas
possibilidades de gêneros, difundidas no dia a dia, e a necessidade
de gêneros que contribuíssem para o trabalho discursivo/reflexivo
partimos das vivências e situações cotidianas construídas e
apresentadas nos discursos chargísticos. E este modo discursivo, vê
a linguagem como uma prática social, histórica e ideológica. Nesse
sentido, o discurso chargísticos e outros, tem sua importância como
elemento que permite a materialização da língua, definindo-se
como o efeito de sentido entre locutores (ORLANDI, 1987).
Colocada acima, a questão teórica, segue a metodologia,
constituída por uma sequência didática a partir das concepções de
Dolz e Schneuwly (2004), na qual o procedimento abrange um
108
conjunto de atividades que fornecem suportes pedagógicos e
sistemáticos com base no gênero textual charge. A sequência
didática será aplicada em uma turma do 9° ano de uma escola da
rede estadual de ensino do município de Serrinha/RN,
empregando o gênero citado, instituindo uma proposta de ensino
discursivo/reflexivo da língua.
109
suas representações chargísticas, produzidas por inúmeros
sujeitos, professores (as) ou outros sujeitos.
No tocante a questão das aulas durante a pandemia, é
importante frisar que para o sujeito-leitor é possível identificar as
ideologias existentes nos mais variados discursos sobre o ensino-
aprendizagem de língua portuguesa veiculados nas mídias
presentes no seu meio social. E, também, identificar os diversos
sujeitos produtores desses discursos sociais. Ao compreender esses
elementos o sujeito-leitor compreende também o contexto, a
realidade social em que se encontra inserido, seja ela hegemônica
ou não hegemônica. E neste rumo, o ensino de LP pode ser capaz
de contribuir para a construção de consciências capazes de
discernir entre produzir ou reproduzir, transformar ou não, a
realidade em que vive.
Enfim, trabalhar discursivamente a língua é desenvolver a
leitura enquanto prática constitutiva do discurso, possibilitando ao
aluno o acesso a uma diversidade de materialidades discursivas
que permitam o entendimento dos processos de construção do
texto e das múltiplas possibilidades de sentido. No texto não há
apenas um sentido, uma leitura uniforme, completa, como alguns
ainda imaginam, mas sentidos possíveis, pois estes textos são
heterogêneos tendo em vista as diferentes posições que um sujeito-
leitor pode ocupar na formação social, as quais, na escrita,
correspondem às diversas formas de discursos que perpassam tal
texto (ORLANDI, 2001).
Assim como a leitura é uma construção ideológica, a escrita, o
discurso construído pelos alunos, não é um mero conjunto de textos,
mas também, uma prática ideológica, pois não existe discurso sem o
sujeito que o produz e tampouco, sujeito sem ideologia (ORLANDI,
1998). O aluno ao escrever, assume um lugar social e, a partir deste
enuncia, propõe sentidos, sendo que estes sempre podem ser outros,
sentidos diferentes daqueles enunciados.
Ao se posicionar sobre diferentes situações discursivas sobre
aulas durante a pandemia, os sujeitos-alunos se inscrevem em
formações discursivas e redes de memória, as quais permitem que
110
esses sujeitos pensem, sejam críticos, relacionem o antes e o depois,
e que entendam a historicidade como parte do sentido, que
modifica a leitura que realizaram das charges sobre o ensino na
pandemia. E buscam os seus sentidos.
Segundo Orlandi (2001) “o sentido é história e o sujeito se faz
(se significa) na historicidade em que está inscrito”, portanto, o
sujeito pela interpelação de sua ideologia-histórica já formada,
identifica-se a sentidos, que sempre podem ser outros, como dito,
anteriormente. Segundo Pêcheux (1997) toda linguagem é formada
pelo interdiscurso (a memória, ou o já-dito) que resulta no
intradiscurso (o já escrito). O sujeito retoma sentidos pré-existentes,
enunciações anteriores, formações discursivas anteriores, para
então formular seu discurso. No tópico 2, apresentaremos algumas
discussões sobre gêneros textuais/discursivos e o gênero
textual/discursivo charge.
111
escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou
daquele campo da atividade humana. (Bakhtin, 2016, p. 11).
112
As palavras de Bakhtin (2010) revelam que, no uso dos gêneros
do discurso se concretiza a interação humana, o desenvolvimento
do indivíduo, pois se trata de uma competência que compreende o
propósito das mudanças nas práticas sociais, viabiliza o domínio,
dá suporte às práticas de leitura, compreensão e produção de
gêneros textuais. E assim, os gêneros textuais e discursivos
merecem ser contemplados no ensino de Língua Portuguesa com
vistas às inúmeras possibilidades de se trabalhar na escola para a
construção de abordagens que privilegiem um ensino produtivo e
reflexivo de leitura e escrita gerando sentidos e aprendizagens.
Partindo desse pressuposto, é importante que a escola ofereça
aos alunos, um contato amplo com os diferentes gêneros de textos
escritos de modo a desenvolver, no aluno, a capacidade de fazer o
uso da leitura e da escrita para interagir socialmente. E, como já
dito, quanto mais gêneros o aluno, esse sujeito social, dominar,
mais caminhos se abrirão, mais esferas sociais estarão ao seu
alcance. E é, justamente nessa direção que apresentaremos, no
próximo tópico, o gênero charge e suas peculiaridades
sociodiscursivas.
113
somente a essa esfera. A citada autora afirma que para se realizar
uma leitura produtiva de uma charge, o sujeito-leitor deve
conhecer os personagens, os fatos, o contexto sócio-histórico e
político, as circunstâncias e, quando possível, as intenções do
produtor da charge (ESPINDOLA, 2001).
E desse modo, levando-se em consideração os pressupostos
acima e a heterogeneidade discursiva do gênero – o discurso
chargístico origina-se de outros discursos presentes no contexto atual:
114
4. A PROPOSTA DE ATIVIDADE: SEQUÊNCIA DIDÁTICA
COM A CHARGE SOBRE O ENSINO REMOTO
115
A apresentação da situação começa por uma conversa com a
turma apresentando o gênero textual charge e sua função social. Aqui
o aluno tomará conhecimento sobre o gênero charge enquanto estilo de
ilustração que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura,
algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas.
Expõe-se que, esse gênero é de cunho humorístico, e que na maioria das
vezes apresenta uma crítica relacionada aos valores sociais, além de
entender a origem da palavra que vem do francês e significa carga ou
exagero. Discute-se sobre o sujeito produtor das charges e os sujeitos
representados na charge. Quem são esses sujeitos, porque enunciam
determinados dizeres e não outros (ORLANDI, 1998), que formações
discursivas estão presentes, quais as condições de produção, que que
sentidos, ou efeitos de sentido, pretendem comunicar.
A Produção inicial traz como proposta uma charge sobre as
dificuldades enfrentadas pelas famílias durante a pandemia com o
ensino remoto - para ser lida. A partir dessa charge, promove-se
uma discussão sobre os efeitos de sentido, possíveis a partir do
texto. E, o aluno fará sua primeira produção trazendo suas
impressões sobre o gênero e sua interação com o texto e com o
discurso chargístico. O primeiro momento de observação do aluno,
em termos de ensino e aprendizagem sobre o gênero, e o gênero,
enquanto discurso.
Partindo para o módulo 1 (oficina 1), nesse módulo o aluno
manuseará diversas charges sobre o ensino remoto/online. Fará
leituras e observações de diversas charges a partir de abordagem
discursiva, ou seja, relacionando o contexto de produção e outros
contextos. Nessa oficina o aluno será conduzido a reflexão sobre as
denúncias impressas nos textos chargísticos.
Seguindo para o módulo 2 (oficina 2), o aluno terá contato apenas
com charges que abordam sátiras referentes ao ensino remoto/aulas
remotas. Partindo dessas charges e do contato do aluno com o gênero,
eles deverão identificar o acontecimento e alguns elementos
ideológicos presente nelas e, os possíveis efeitos de sentido de críticas
ou denúncias em torno do verbal e do não verbal.
116
A produção 2 da presente sequência didática será desenvolvida
trazendo a proposta de charge, apresentada abaixo. A partir dessa
charge, o aluno fará sua primeira produção trazendo suas impressões
sobre o gênero e os espaços de enunciação, espaços de funcionamento
da língua, espaços habitados por falantes, sujeitos alunos e familiares
(GUIMARÃES, 2002). E enfim, sua interação com o texto. O primeiro
momento de observação do aluno em termos de ensino e
aprendizagem sobre o gênero. Momento de explorar de forma
satisfatória a o entendimento discursivo dos alunos, as marcas na
materialidade linguística do texto que mostram os embates entre as
diferentes dimensões da temática.
Fonte: https://www.google.com/search?q=charges+sobre+ensino+
remoto&rlz=1C1CHZN Acesso em 12/08/2021
117
enunciados, atribuir sentidos, situações sócio-históricas idênticas
às vivenciadas no contexto histórico atual. E, a partir dessa
produção, apresentar, criticamente, determinada situação social.
Essa produção retornará ao professor, será revisada e
devolvida ao aluno para a reescrita textual e depois desse processo
o “produto final”, pronto – as produções textuais. A circulação
dessas produções dar-se-á na escola: na sala de aula do 9° ano, na
página do facebook da instituição, além de publicação nas redes
sociais de cada aluno envolvido no processo bem como
apresentadas ao público escolar (e alunos de outras turmas no
retorno gradual das aulas no mês de outubro do presente ano
letivo) que observará e apreciará os textos lidos e escritos pelos
estudantes autores.
Nesse contexto, espera-se como resultado: a) uma melhoria no
ensino discursivo, a oralidade e a escrita do aluno do 9° ano de uma
escola pública, possibilitando a construção de sujeitos e de
sentidos, perante as vivências e situações cotidianas, presentes nas
charges analisadas; b) produção escrita das ações sócio discursivas,
vinculados à vida cultural e social do aluno; c) favorecer um
contato mais positivo do aluno com a língua, para desse modo,
aprimorar os discursos orais dos sujeitos alunos, a escrita e a leitura
adequada e competente em todas as suas potencialidades
comunicativas; d) consolidar o ensino discursivo e reflexivo da
língua, produzindo leitores críticos e conscientes, capazes de
produzir e desenvolver/atribuir sentidos às leituras e produções,
enquanto sujeito social – a ampliação de eventos discursivos e atos
comunicativos dos estudantes.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
118
possibilitando assim, a constituição de leitores/produtores de texto,
mais ativos, que fazem diferentes percursos de leitura em um
mesmo texto. Além, de ter acesso a uma maior experiência de olhar
a materialidade textual e seu (s) discurso (s). E, deste modo, ao
abordar os discursos chargísticos sobre aulas remotas na pandemia
podem conduzir os sujeitos alunos a uma melhoria no ensino de
língua portuguesa, através da construção de sujeitos e de sentidos.
6. REFERÊNCIAS
119
MELO, Francineide Fernandes. Entre o discurso e a ironia: o pintar
o sete e desenhar os outros no discurso humorístico. Dissertação
(Mestrado em Letras). João Pessoa: UFPB, 2004.
ORLANDI, Eni. Discurso e Texto: formação e circulação do sentido.
Campinas, SP: Pontes, 2001.
ORLANDI, Eni Puccinelli. A leitura e os leitores. Campinas, SP:
Pontes, 1998.
ORLANDI, Eni. Análise de Discurso: princípios e procedimentos.
4ª. Ed. Campinas: Pontes, 2002.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação
do óbvio. Tradução Eni P. Orlandi [et.al.] – Campinas, SP: editora
da UNICAMP, 1997.
PÊCHEUX, Michel. O discurso: estrutura ou acontecimento. 3. ed.
Trad. Eni P. Orlandi. Campinas, SP: Pontes, 2002.
120
CAPÍTULO 7
1. INTRODUÇÃO
121
tempo, evoluindo e modificando-se, conforme as necessidades dos
falantes, e que o preconceito existente com relação a essas variações
deve ser entendido como algo que precisa mudar.
Para fundamentar o trabalho, fizemos uso do aporte teórico
encontrado nas obras: Pedagogia da Variação Linguística, de Ana
Maria Stahl Zilles e Carlos Alberto Faraco (2015); Nada na língua é
por acaso: por uma pedagogia da variação linguística, de Marcos Bagno
(2007); Preconceito Linguístico: O que é, como se faz, também de Marcos
Bagno (2002), Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de
aula, de Stella Maris Bortoni-Ricardo (2004), dentre outras.
Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa-ação, quali-
quantitativa, com abordagem descritiva e interpretativista. O lócus
da pesquisa é uma turma do 9º ano de uma escola de ensino
público da cidade de Campina Grande, Paraíba, com 24 alunos. O
principal instrumento de pesquisa foi um questionário e os
procedimentos utilizados foram: no primeiro momento, cada
estudante respondeu um questionário sobre leitura, escrita e a
importância do estudo na sua vida. No segundo momento, foi feita
uma divisão da sala em doze duplas, com a finalidade de abrir uma
discussão sobre a linguagem empregada nas tirinhas, de modo a
levar os estudantes a escreverem o que entenderam e se mudariam
alguma coisa na parte escrita. No terceiro, a turma assistiu a cenas
do filme “Central do Brasil”, fazendo observações sobre a
linguagem presente nos trechos. Por fim, foi feita uma análise sobre
o conceito de variação linguística e a forma como os estudantes
perceberam a variação, a partir dos preconceitos observados e
destacados na sua própria escrita.
Dividimos este artigo em 2 tópicos : o primeiro traz os
elementos teóricos, traçando um breve resumo da sociolinguística
e sua contribuição no ambiente escolar, a fim de aprimorar as
práticas de educação linguística; O segundo apresenta a proposta
de atividade didática, com textos, questionário e vídeos
fomentadores de debates; e, finalizando as nossas considerações,
em que apresentamos sugestões para o trabalho com a variação
linguística, levando em consideração os conhecimentos prévios dos
122
alunos, bem como suas implicações para a vida escolar e social dos
estudantes.
2. APONTAMENTOS TEÓRICOS
123
“o objetivo central da sociolinguística, como disciplina científica, é
precisamente social. Língua e sociedade estão indissoluvelmente
entrelaçadas, entremeadas, uma influenciando a outra, uma
construindo a outra. Para o sociolinguista, é impossível estudar a
língua sem estudar, ao mesmo tempo, a sociedade em que essa
língua é falada [...].” (BAGNO, 2007, p. 38).
124
Labov (1978),dois enunciados que se referem ao mesmo estado de
coisas com o mesmo valor de verdade, constituem-se como
variantes de uma mesma variável. Ou seja, variantes linguísticas
são diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo
contexto e com o mesmo valor de verdade.
Detendo-se à explicação e entendimento da variação
linguística dentro de padrõessociais, culturais, históricos e etários,
é importante ressaltar que a SociolinguísticaVariacionista não usa
termos como “certo” ou “errado” no que se refere à linguagem,
estabelecendo termos como “adequado” e “inadequado”. Sobre
isso, Gomes (2009) considera que,
125
presente em diversos ambientes. Bortoni-Ricardo (2005, p. 15)
afirma que,
126
procurado desenvolver seus trabalhos e contribuir para o processo
educacional.
Diante do exposto, entendemos que é necessário e urgente que
o ambiente escolar se torne culturalmente sensível à diversidade,
tornando-se apto para lidar de forma eficaz com a variação
linguística e cultural dos estudantes, assim como com o preconceito
linguístico. Sobre o preconceito linguístico, Bagno (2007, p. 27)
explica que
127
estruturalistas da língua aplicavam, mas sim uma língua
heterogênea que apresenta um multilinguismo, ou seja, uma
diversidade linguística repleta de variações. O autor ainda pontua
que, “[...] Uma variedade linguística é um dos muitos ‘modos de falar’
uma língua. Esses diferentes modos de falar se relacionam com fatores
sociais como lugar de origem, idade, sexo, classe social, grau de instrução,
etc.” (BAGNO, 2007, p. 47). A língua, portanto, apresenta-se de forma
diferenciada nas modalidades oral e escrita de acordo com o meio
sociocultural e regional em que cada pessoa está inserida.
Diante disso, considerando a dinamicidade da língua nas
práticas sociais, entendemos que sempre ocorrerá o fenômeno da
variação linguística, concretizada na fala ou escrita das pessoas,
demonstrando, assim, que as situações comunicativas
proporcionam o uso de variedades linguísticas distintas que Bagno
(2007, p. 38) vai classificar em:
128
Em resumo, podemos reafirmar que os processos naturais de
mudança da língua são resultantes de fatores de natureza histórica,
regional, social ou contextual, podendo ocorrer em todos os níveis
da língua: do fonético-fonológico ao estilístico-pragmático,
conforme nos esclarece Faraco,
129
de lado (e denunciando, de preferência) as afirmações preconceituosas,
autoritárias e intolerantes” (BAGNO, 2005, p. 115).
Diante do exposto, reconhecemos a necessidade de abordar o
fenômeno da variação da língua nas séries finais do ensino
fundamental, para que os alunos possam lidar de forma eficaz com
o preconceito linguístico e sejam proficientes no uso das variedades
do português brasileiro, compreendendo que estas se subdividem
em três polos, conforme Bagno (2007, p. 104), “a norma-padrão” que
trata de um modelo de língua definido e estabelecido, uma
ideologia linguísticas, entretanto, não representa o uso efetivo e
real da língua, “a norma culta” que o autor substitui por “variedades
prestigiadas” em que a língua ocorre de forma mais monitorada e
resulta do uso em um meio social considerado culto e “a norma
popular ou vernácula” denominada pelo autor de “variedade
estigmatizada”.
Embora reconheçamos a necessidade dos alunos conhecerem
a norma-padrão da língua por ser ela a ‘variedade’ utilizada em
alguns meios de comunicação e em eventospúblicos, a escola não
deve priorizar o ensino de apenas uma variedade da língua, mas
trabalhar as diferentes variedades dialetais, sem preconceitos,
através do uso de diversosgêneros textuais discursivos, uma vez
que a variação da língua se materializa nos gênerosorais e escritos.
Então, como promover um ensino que desenvolva a
competência comunicativa do aluno de forma reflexiva? O que
ensinar e como ensinar? Devemos ensinar a gramática? Para tais
questionamentos, citamos Bagno (2007):
130
O ensino da variação linguística do português brasileiro precisa
ser repensado e professores de Língua Portuguesa precisam rever
suas práticas educativas, especialmente ao considerar uma
perspectiva de gramática que contemple a relação entre língua e
contextos de uso. Para tal, Bagno (2007) apresenta seu ponto de vista:
3. PROPOSTA DE ATIVIDADE
131
acolham diferentes perspectivas de aprendizagens. Devem ser
considerados, portanto, a disciplina, os alunos, o ano/série daturma
e os conteúdos, tudo conforme os objetivos pretendidos para se
alcançar um determinado aprendizado.
Diante disso, é necessário deixar em evidência o quanto a escola
é importante parao ensino do dialeto padrão e da norma culta aos
estudantes, pois essa variedade da língua escrita é a que mais
circula na sociedade e eles precisam dominá-la como forma de
reconhecimento social. O caminho no ensino da gramática
normativa, entretanto, precisaestar conectada à ideia de que não é
por meio de uma correção, baseada na troca de uma expressão por
outra, que o aprendizado deve acontecer, mas com muita leitura,
escrita, e consistente reflexão sobre o respeito às diferenças nas
variedades linguísticas. É preciso ficar claro entre os estudantes que
estudar a língua padrão da escola também tem sua importância e
não pode ser descartado do ambiente educativo. Sobre isso, Possenti
(1996)diz que,
132
3.1. Primeira Etapa
QUESTIONÁRIO
1. Você gosta de estudar? Por quê?
133
a)( ) nunca
b)( ) raramente
c)( ) frequentemente
d)( ) diversas vezes
7. Você considera importante estudar Português? Por quê?
134
Na pergunta 2, cerca de 33% dos alunos responderam que
gostavam de ler - umadupla ainda ressaltou que “gostava de ler
apenas romances”. 10% disseram que não gostavam de ler e outros
57 % afirmaram que gostavam um pouco de fazer leituras. De
acordo com estudo realizado pelo Instituto Pró-Livro (IPL), em
levantamento feito em 2019, a quinta edição da pesquisa Retratos
da Leitura no Brasil traz indicadores que revelam que a quantidade
de leitores no país caiu de 56% em 2015 para 52% em 2019.
135
Os discentes revelaram através da pergunta 4 que a maioria
dos professores de português no ensino fundamental trabalha suas
aulas por meio de atividades que contemplam mais leitura e
compreensão de textos. Seguido por gramática e leitura de
paradidáticos.
Tabela 06: Você já teve, ao longo de sua vida escolar, receio de falar ou
escrever algo que considerasse errado gramaticalmente e por isso deixou
de falar ou escrever alguma coisa na sala de aula?
Tópico Quantidade %
Nunca 0 -
Raramente 5 20%
Frequentemente 17 70%
Diversas vezes 2 10%
Total 24 100%
136
(2015) questiona as práticas escolares que inviabilizam o
protagonismo e a autonomia dos estudantes, afinal,
137
As tirinhas foram cuidadosamente selecionadas, com o intuito
de despertar no aluno a noção de que as diferenças expostas são
naturais e necessitam de uma maior visibilidade dessa concepção,
quanto a variação linguística. Veja a seguir:
Tirinha 1
Tirinha 2
Tirinha 3
Tirinha 4
138
Tirinha 5
139
prestígio social, deve ser evitado. O prejulgamento dirigido aos
falantes de uma variedade linguística diferente da nossa, muitas
vezes associado a informalidade é visto como errado, pois trata-se
de uma situação muito comum entre as pessoas que têm um menor
acesso à educação formal ou têm acesso a um modelo educacional
de qualidade deficitária, na opinião da sociedade em geral. Tal
preconceito linguístico deriva da construção de um padrão
imposto por uma elite econômica e intelectual que apresenta uma
visão estereotipada do cidadão que tem sotaque interiorano e que
considera como “erro” e, consequentemente, reprovável, tudo o
que se diferencie desse modelo, de acordo com Bagno (2002). Além
disso, está intimamente ligado a outros preconceitos também muito
presentes na sociedade, como: preconceito socioeconômico,
regional, cultural, dentre outros.
Os preconceitos sociais acabam sendo disseminados pela
escola quando certos conceitos não são debatidos pelos professores.
Antunes (2018) menciona que é um problema quando o professor
140
3.3. Terceira Etapa
141
No filme, em diversos momentos, os alunos foram
estimulados a explicar o significado de algumas expressões como
“caçar a carta” e “com muito custo encontrei um escrevedor”. Foi
mostrado, nesse momento, a importância da
comunicação/interação, independente do grau de instrução dos
interlocutores e do conhecimento da norma padrão. Zilles (2015)
evidencia a importância do conhecimento das variedades da língua
e do usoprodutivo da norma padrão, quando declara:
4. CONSIDERAÇÕES
142
trabalhadas. A mesma permitiu que os estudantes expusessem a
sua opinião sobre as variações de maneira livre e sem pressão por
respostas prontas. Antes da proposta, os alunos não tinham noção
dos atos preconceituosos cometidos por eles, muitas vezes até
inocentemente.
Através deste trabalho, puderam refletir e perceber o quanto a
questão do preconceito linguístico e das visões que o sustentam,
sobretudo por mecanismos de produção verbal (tirinhas, trechos de
filme, etc.) retratam situações comunicativas comuns e podem
provocar um resultado jocoso e segregador. Assim, todos entenderam
que o preconceito, mais do que linguístico, é cultural e social.
A discussão proposta levou os estudantes a repensarem a língua
de acordo com os mais diversificados usos na sociedade, nos discursos
proferidos nos múltiplos ambientes sociais, com todas as suas
variações e interações existentes. Sabe-se que o caminho ainda é
longo quando se pensa em atenuar os preconceitos a respeito dos
diversos usos da língua, especialmente no ambiente escolar.
Entretanto, devemos promover entre os alunos o pensamento de que
a língua é viva e por isso vive em constante movimento, deixando
claro que ela não é homogênea. É uma tarefa difícil, porém necessária,
seja para pôr fim aos estigmas quanto ao uso da fala, seja para
enfatizar o quanto as distorções sobre o fenômeno linguístico estimula
o preconceito entre falantes da mesma língua. Tal ação recai
diretamente na prática do professor de Língua Portuguesa.
Concluímos que ficou claro para os alunos durante toda a
pesquisa que a Variação Linguística é um fenômeno que sempre
existiu entre nós e que está muito presente na escola. A proposta
serviu para levar os alunos a uma reflexão sobre a heterogeneidade
da língua e sobre o preconceito linguístico. Certo é que existem
muitas crenças, cujas mistificações encontram-se ainda enraizadas
no seio escolar, principalmente na insistência do professor de
português em estimular o uso das regras gramaticais, como
exclusiva ferramenta para a ascensão social.
O que pretendemos alcançar no dia a dia da sala de aula é o
comprometimento detodos com a valorização do outro, com o seu
143
modo de falar, suas expressões e linguagensdiferentes, retirando o
preconceito a partir do ambiente escolar e formando indivíduos
críticos, capazes de compreender a importância das relações sociais
e culturais livres de estigma e aberto a um horizonte de realizações
pessoais, por meio de uma educação verdadeiramente libertadora.
5. REFERÊNCIAS
144
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola.
Campinas, Mercado deLetras, 1996.
VIEIRA, Silvia Rodrigues (org.) Gramática, variação e ensino:
diagnose & propostas pedagógicas / Vários autores. – Rio de
Janeiro: Letras UFRJ, 2017. 202p.
https://www.culturagenial.com/filme-central-do-brasil/ (Acesso
em 23/11/2021).
https://www.itaucultural.org.br/secoes/noticias/retratos-leitura-
pais-le-menos (Acessoem 28/11/2021).
CENTRAL DO BRASIL; Direção: Walter Salles. Produção: Sony
Pictures Classics,Brasil/França: Europa Filmes, 113 min
145
146
CAPÍTULO 8
1. INTRODUÇÃO
147
interlocutores, as situações de produção entre outros fatores que
também são relevantes para uma abordagem gramatical.
Diante dessas observações objetivou-se analisar
comparativamente o ensino da partícula SE como índice de
indeterminação do sujeito e S E como partícula apassivadora, em
uma gramática e em um livro didático. Na análise sobre o uso da
partícula SE, levaremos em consideração aspectos verbais da voz
passiva, em destaque a voz passiva sintética, e também refletiremos
sobre a ideia de sujeito da oração, especialmente o sujeito
indeterminado e sua regra de uso do SE, verificando o
comportamento do mesmo como índice de indeterminação do
sujeito. Nesse sentido, abordaremos a partícula SE, enquanto
partícula apassivadora e, enquanto índice de indeterminação do
sujeito, objetivando refletir os principais problemas implicados no
emprego destes dois polos gramaticais.
Utilizaremos como referencial teórico os PCN (2006), as
orientações do SAEB, os estudos de Antunes (2003, 2007), Teixeira
e Santos (2018), Bechara (2001) além das Gramáticas de Celso
Cunha (2017) e Evanildo Bechara (2006) e o livro didático de
Ormundo e Sinalchi (2018). E do ponto de vista metodológico
optamos por uma pesquisa qualitativa, documental (os
manuais/gramática e livro didático) e comparativa. Os
procedimentos de pesquisa são: leitura e sistematização da base
teórica, leitura e estudo da gramática e livro didático. E finalmente,
a análise comparativa.
Didaticamente dividiremos o artigo em duas sessões. A
primeira sessão denominada “ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA: COMO A GRAMÁTICA É APRESENTADAAOS
FALANTES NATIVOS DO PORTUGUÊS EM SALA DE AULA?”,
diz respeito a maneira como o ensino de gramática vem sendo
articulando nas salas de aula levando em consideração os
documentos oficiais/legais em especial os PCNs, as orientações do
sistema SAEB como também o programa Nacional do Livro
Didático PNLD. A segunda sessão diz respeito ao uso da partícula
–SE, ou seja, “A PARTÍCULA “SE” COMO ÍNDICE DE
148
INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO E COMO PARTÍCULA
APASSIVADORA NA LÍNGUA PORTUGUESA DO BRASIL:
ENTRE A GRAMÁTICA E O LIVRO DIDÁTICO UMA ANÁLISE
COMPARATIVA”. Nesta sessão iremos refletir s ob re os
principais contratempos gerados no uso dessa partícula,
principalmente, no que se refere à compreensão desse conteúdo de
acordo com gramática tradicional, o livro didático e o uso real da
língua. Apresenta-se aqui uma abordagem comparativa entre os
tópicos gramaticias referentes à particula SE na gramática
normativa de Evanildo Bechara (2001) e o livro didático “Se liga na
Língua: leitura produção de texto e linguagem”(2018) dos autores
Wilton Ormundo E Cristiane Siniscalchi.
149
descontextualizadas ainda são recorrentes em nossas salas de aula.
E com esse postulado: como ensinar gramática aos falantes nativos
do português em sala de aula? É que queremos iniciar nosso texto,
nos detendo a pensar a relação ensino de gramática e ensino de
língua portuguesa nas nossas salas de aula.
Em um primeiro momento notamos que é de comum acordo
entre os especialistas, pesquisadores e educadores alinhados com
as perspectivas de que: o ensino de língua portuguesa tem como
objetivo o desenvolvimento e ampliação do caráter comunicativo
discursivo dos alunos, habilitando-os na capacidade de
compreender e produzir diferentes gêneros textuais nas mais
diversas situações de interação social (TEIXEIRA E SANTOS, 2018,
p. 149). Em um segundo momento temos então a busca por um
alinhamento entre o ensino de gramática e o ensino de língua
portuguesa que corresponda ao objetivo do ensino delíngua citado
anteriormente, e nesse interim as posições são as mais diversas.
Há quem defenda o ensino de uma gramática normativa
padrão por considerá-la imprescindível ao entendimento do
funcionamento da língua; há os que a consideram inútil e, portanto,
desnecessário; e há os que reconheçam a importância das regras
que regem a língua – a gramática – e optam por fazer um ensino
dialógico que se tenta harmonizar o objetivo doensino de língua
portuguesa com o ensino de gramática. Nesse sentido, nosso
posicionamento, aqui defendido, se adequa a essa terceira opção,
por acreditarmos que a gramática é, junto com o léxico, a base da
língua e que, portanto, o falante/aluno tem o direito de conhecer
essas regras que fazem parte de sua língua natural. E como
preconizam os PCNs o "ensino de gramática não deve ser visto
como um fim em si mesmo, mas como um mecanismo para a
mobilização de recursos úteis à implementação de outras
competências, como a interativa e a textual.” (BRASIL, 2006, p. 81).
E depois de todos esses pressupostos temos ainda a crítica ao
ensino de língua portuguesa tradicionalista que não respeita os
fenômenos da variação linguística, que é uma recorrente entre
teóricos e estudiosos da língua por entender que a gramática ao
150
selecionar, organizar e padronizar regras termina por apresentar aos
estudantes do português uma noção de língua que não existe, é como
se a língua portuguesa ensinada nas escolas pelas gramáticas
tradicionais e apoiadas pelo livro didático fosse uma nova língua,
artificial e portanto sem relação direta com o seu uso real.
Uma tendência de entrever o português brasileiro como se
esse fosse o antigo e imutável português de Portugal é outro ponto
que muito reforça essa perspectiva tradicionalista do ensino da
gramática padronizada, o que termina por gerar dois polos
interessantes: no primeiro temos a presença de professores cuja
base gramatical foi a do ensino clássico com as gramáticas
descritivas, normativas as quais tentam emplacar a todo custo o
padrão de língua culta, o que levanta mais uns questionamentos:
culto para quem? Quem decidiu o que é culto e, portanto, melhor?
Padrão em comparação a quê?
No outro polo temos todos nós, professores, alunos, falantes
da língua portuguesa brasileira que não enxergam no ensino de
regra gramatical pura uma relação com a realidade da língua, o que
resulta muitas vezes nas famosas frases “português é difícil”, “Eu
não sei português” “eu não gosto de língua portuguesa”. Nesse
ínterim o que é preciso mesmo é entendermos que a gramática não
é a língua, e que língua não é gramática, como bem enuncia
Antunes (2007, p. 39):
151
Entender o ensino de língua portuguesa como esse ensinar
gramática, e uma gramáticabaseada na norma culta, equivale
também a dizer que é uma metodologia de ensino para
estrangeiro, ou seja, muitas vezes os estudos gramaticais que
fazemos em sala de aula é próprio do ensino de uma língua
estrangeira, o que nos leva a interessante dedução que se ensinar
língua portuguesa fosse assim, todo estrangeiro ao se dedicar em
estudar nossa língua seria um perito e bem melhor que os próprios
falantes naturais.
Não queremos aqui desmerecer o valor que a gramática tem,
nem mesmo levantar bandeira contra o seu ensino em sala, pois como
sabe-se a língua é constituída de dois elementos essenciais: o léxico e
a gramática (ANTUNES, 2007). O que nós queremos chamar atenção
aqui é para o peso que a gramática adquiriu em nossas salas de aulas
e como esse peso tem sido fator asfixiante em nossas aulas de língua
portuguesa, por fazer justamente o aluno pensar que ele não sabe
português porque não domina as regras gramaticais.
152
observando como a gramática tradicional e os livros didáticos nos
trazem o emprego desse elemento gramatical, mas principalmente
como ensinamos isso em nossas salas de aula.
153
Nessa perspectiva, é necessário contemplar, nas atividades de
ensino, a diversidade de textos e gêneros, e não apenas em função de
sua relevância social, mas também pelo fato de que textos
pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes
formas. A compreensão oral e escrita, bem como a produção oral e
escrita de textos pertencentes a diversos gêneros, supõem o
desenvolvimento de diversas capacidades que devem ser focadas
nas situações de ensino. (BRASIL, 1998, p.23, 24)
154
uma lista de exercícios, pedimos uma redação ou uma opinião para
um fato controverso para postar no blog da turma. Em todas essas
atividades valemo-nos de diversos gêneros discursivos – orais ou
escritos, impressos ou digitais. (KLEIMAN, 200, p. 121)
155
conhecimento por parte dos discentes. Desse modo, espera-se que
o aluno memorize conceitos e regras, os quais pouco têm
contribuído com o processo de aprendizagem. Dessa forma
acreditamos que o Livro Didático, mesmo com algumas falhas, tem
evoluído e tentado se aproximar mais da realidade e vivência dos
estudantes. Vejamos agora como cada um desses normativos
apresenta o uso do vocábulo SE.
156
que se refere a confusão gerada no momento de estudar o emprego
desta em sala de aula.
A gramática normativa apresenta o vocábulo SE em diferentes
situações de uso da língua portuguesa e dependendo das
circunstâncias, o mesmo pode ser classificado de maneira
diversificada dependendo da função exercida na oração. Dentre as
diversas funções que a partícula exerce no português brasileiro,
destacamos dois usos singulares do SE na gramática: o SE como índice
de indeterminação do sujeito e o SE como partícula apassivadora.
De acordo com Celso Cunha (2017), o SE como índice de
indeterminação do sujeito serve para marcar o sujeito
indeterminado, ou seja, aquele tipo de sujeito que nem está
expresso na oração e nem pode ser identificado pela desinência
verbal. Neste caso o SE sempre aparecerá acompanhado de verbos
em 3ª pessoa do singular, verbos intransitivos ou verbos transitivos
tomados por intransitividade. A exemplos tomemos a oração:
“Precisava-sede novas fontes de riqueza.” O SE aparece diante de um
verbo transitivo indireto e tem comofunção indeterminar o sujeito
já que o mesmo não aparece na oração e nem pode ser identificado
pela desinência verbal, neste caso o SE é classificado como índice
de indeterminação do sujeito.
Já em outras situações de uso da língua o SE também será
classificado como partícula apassivadora, e para isto, devemos
considerar as vozes verbais enunciadas pelo verbo. Em nosso
trabalho veremos como a voz passiva sintética emprega o SE como
a famosa partícula apassivadora. Esta partícula aparece diante de
orações com verbos transitivos em 3ª pessoa dosingular ou plural
sempre em concordância com o sujeito o qual classificamos como
sujeito paciente, aquele que sofre a ação expressa pelo verbo.
Exemplificando com a oração:“Organizou-se o campeonato” o SE
aparece diante de um verbo transitivo direto, ou seja sem auxílio
de preposição e logo em seguida temos o sujeito da oração “o
campeonato” que embora não aparece no início da oração ainda
assim percebe-se claramente que a ação verbal recai sobre ele.
157
Diante do exposto podemos fazer uma primeira distinção
entre o SE - índice deindeterminação do sujeito, e o SE - partícula
apassivadora. No primeiro caso a oração não apresenta um sujeito
determinado e o verbo sempre vem seguido de uma preposição, no
segundo caso a oração possui um sujeito determinado e o verbo
não vem seguido de preposição. Em nossas salas de aula nem
sempre é fácil para professores mostrarem essa distinção no uso da
partícula SE, pois, causas diversas, dentre elas destacamos o uso
descontextualizado que a gramática normativa oferece bem como
a carência de conteúdos preparatórios para esse tipo de discussão
que os alunos muitas vezes não têm.
Outro ponto a ser considerado é o modo como a gramática
tradicional aborda esses conteúdos com ideia metodológica
aplicada, em salas de aula, pautada na exposição e decodificação
da norma padrão da língua portuguesa, ou seja, apresenta a regra
a ser seguida, sem levar em consideração o uso real da língua.
Segundo Antunes (2003) as atividades gramaticais propostas para
o ensino, referem-se a “uma gramática descontextualizada, amorfa,
da língua como potencialidade; gramática que é muito mais “sobre
a língua”, desvinculada, portanto, dos usos reais da língua escrita
ou falada na comunicação do dia a dia”.
Sobre isto, vejamos como as ideias de emprego da partícula -
índice de indeterminação e partícula apassivadora - aparecem.
Comecemos com o conceito de voz verbal presente no livro
Gramática Moderna do Português, do gramático Evanildo Bechara
(2001, p.222):
158
diz que o “sujeito é o termo referente de uma predicação”.
Entretanto o autor adverte que não se deve confundir as orações
classificadas como sujeito indeterminado com as orações em que o
sujeito explícito está representado pelo pronome SE, tendo em
vista que aquelas são sintaticamente diferentes, pois não
apresentam nenhuma unidade linguística para ocupar a casa ou
função de sujeito; há uma referência a sujeito, no conteúdo
predicativo, só de maneira indeterminada, imprecisa e genérica.
Os casos de sujeito indeterminado expresso pela 3ª pessoa do
singular + SE ao contrário do indicador de voz passiva sintética,
enfatizam a inclusão da 1ª e da 2ª pessoa do verbo como
possibilidade de determinação do sujeito.
Neste aspecto, apontamos alguns equívocos no trato com o
estudo do emprego da partícula SE em sala de aula. De início
destacamos que o SE, enquanto partícula apassivadora ou índice
de indeterminação do sujeito, geralmente é trabalhado em
momentos distintos nos livros didáticos, este abordado quando se
estuda os tipos de sujeito, especificamente o sujeito indeterminado,
enquanto aquele aparece quando se estuda as vozes verbais,
especificamente,a voz passiva sintética. Acreditamos que o estudo
dessas categorias de forma isolada não contribui para uma análise
efetiva e profunda, ao contrário, interfere no aprendizado do aluno,
tendo em vista que não há a possibilidade de reflexão acerca do uso
e da funcionalidade prática desse elemento.
Outro ponto a ser discutido e que, acreditamos, também interfere
nesta abordagem em sala de aula, é o estudo descontextualizado desse
objeto, já que as gramáticas geralmente abordam esse tema, apenas
com a utilização de exemplos prontos, ou seja, não há a identificação
prática de como esse elemento se comporta em situações efetivas da
fala e do uso do falante nativo do português brasileiro e o livro
didático, como bom discípulo do que preconiza a gramática
tradicionalista, faz esse mesmo trajeto na tentativa de auxiliar o aluno
e professores a compreenderem a língua.
159
3.2 O que diz o livro didático sobre o uso da partícula “SE”
160
sequência a indeterminação do sujeito, os autores trazem a
discussão para o uso das vozes verbais, o que consequentemente
levará o professor atento a perceber a possibilidade detrabalhar o
emprego da partícula SE em dois de seus usos – indeterminação e
apassivadora.
Neste manual didático vejamos um exemplo de como os
gêneros textuais e a gramática são trabalhados. Os autores utilizam
alguns gêneros textuais para exemplificar o conteúdo, dentre eles,
uma charge do cartunista mineiro Nani (ORMUNDO,
SINISCALCHI, 2020, p. 181):
Imagem1
161
do sujeito como também pode exercer diferentes funções na língua,
no tocante a partícula apassivadora, no qual os autores apresentam
a tirinha para exemplificar o uso do - SE como partícula
apassivadora. Mais uma tirinha é usada: (ORMUNDO,
SINISCALCHI, 2020, p. 182):
Imagem 2
162
dessa forma, que embora seja o mesmo vocábulo, dependendo da
situação de produção, possui funções diferentes.
Assim, trabalhar questões relacionadas a aspectos gramaticais
têm se tornado cada vez mais desafiador no ambiente escolar, pois
não se admite mais o estudo e o ensino de uma língua seca, vazia
de sentido, que não dialoga com as necessidades dos alunos. Essa
forma ultrapassada e ainda presente nos ambientes escolares tem
tornado as aulas de Língua Portuguesa cansativas, improdutivas e
pouco eficientes para a formação do indivíduo usuário da própria
língua, tendo em vista que o que é ensinado ou a forma como se
ensina na escola, pouco é percebido pelos alunos em suas vivências,
ou seja, ele não consegue perceber em que situações poderá utilizar
o que está sendo transmitido.
Por conseguinte, propomos que o ensino voltado aos
conteúdos gramaticais devam ser trabalhados a partir do uso real
da língua, para que o aluno consiga perceber que aqueles
conteúdos estão presentes no seu dia a dia e que é possível percebê-
los e refletir o seu emprego, funcionalidade e adequação às diversas
possibilidades de uso. Desse modo, faz-se imperioso que os
estudantes tenham acesso a variadas formas de textos/gêneros,
tendo em vista que estes estão socialmente circulando por todos os
lugares a exemplo de textos publicitários, anúncios, propagandas e
músicas, ou seja, textos que exemplificam de forma prática as
diversas situações e adequações em que os conteúdos estudados na
escola podem ser encontrados e utilizados na escola. Logo, espera-
se que o aluno compreenda que o conteúdo estudado é
significativo e funcional para a sua vida, enquanto estudante e
indivíduo social.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
163
conteúdo é abordado nos manuais em sala de aula, como também pela
carência de conteúdos indispensáveis para a sua compreensão.
Nesse viés, percebe-se que os conteúdos são explorados de
forma descontextualizada, sendo analisados a partir da
apresentação dos casos, seguidos de exemplos com frases soltas,
que não dizem nada com a realidade do aluno, principalmente nas
gramáticas tradicionais, o que já de diferencia um pouco dos
manuais e livros didáticos tendo em vista que já se percebe a
utilização de gêneros textuais ao abordar os conteúdos e a tentativa
de através desses gêneros selecionados trazer a contextualização do
uso real da língua, entretanto percebe-se ainda que (especialmente
no livro didático) ainda se utiliza o texto apenas como um
“pretexto” para exemplificar o conteúdo, ou seja não se analisa o
uso em situações práticas, assim como não oferece possibilidades
de reflexão e construção do conhecimento por parte do estudante.
As abordagens de ensino de gramática nas escolas
desconsideram quase sempre o uso real da língua portuguesa e a
variedade linguística, e por fim em especial a oralidade. Dessa
forma os alunos têm a impressão de que estão estudando uma
língua que não é a mesma que eles falam no dia a dia, e de fato não
é. A língua estudada nas instituições educacionais de base é uma
língua muito distante da realidade sociocultural na qual estão
inseridos alunos, professores e a comunidade escolar como um
todo. Esse fato conduz o aluno ao desinteresse, pois não percebe
funcionalidade naquilo que está sendo proposto como estudo.
Acreditamos que para compreender a distinção do pronome
SE como índice de indeterminação do sujeito do pronome SE como
partícula apassivadora é necessário fazer referência ao uso real da
língua, como também compreender todo o contexto de produção
em que foram utilizados, como o falante nativo do português chega
a essas soluções na hora de falar, bem como não se pode
desconsiderar os inúmeros processos de variação a qual a língua
está submetida. Além do mais é necessário a aquisição e o mínimo
de domínio sobre vários conhecimentos gramaticais prévios como:
verbos, transitividade verbal, sujeito, predicado, tipos de sujeito
164
(em especial o sujeito indeterminado). Só assim é que o aluno será
capaz de refletir e compreender o conteúdo de modo, significativo.
Logo, acrescentamos que a língua se efetiva através de textos,
ou seja, de gêneros e, portanto, de usos concretos e situados (PCNs,
1997; MARCUSCHI, 2009: KLEIMAN, 2005), desse modo, o
trabalho desenvolvido a partir de gêneros é fundamental para a
melhor aquisição desse conhecimento, principalmente aqueles que
estão na realidade e que se fazem presentes na vida dos estudantes.
É fazer o estudante perceber a adequação das normas gramaticais
a situações reais de aplicabilidade, entender que há objetividade e
funcionalidade no que está sendo ensinado o que
consequentemente facilitará o processo de aprendizagem.
5. REFERÊNCIAS
165
CASTILHO, Ataliba de. A língua falada no ensino de
português. São Paulo: Contexto,1998.
CUNHA, Celso. Nova gramática do português contemporâneo
[recurso eletrônico) / CelsoCunha, Lindley Cintra. - 7. ed., reimpr.
— Rio de Janeiro: Lexikon, 2017.
DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros orais e
escritos na escola. São Paulo:Mercado das Letras, 2004.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: Teoria e Prática. Angela
Kleiman. 9ª edição,Campinas, SP. PONTES, 2002.
_______. Projeto temático de letramento do professor. São Paulo:
UNICAMP,2005.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de
Gênero e compreensão. SãoPaulo: Parábola, 2008.
_______. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In:
DIONÍSIO, A. P. MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs.).
Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
ORMUNDO, Wilton. SINISCALCHI, Cristiane. Se liga na língua:
leitura produção de texto e linguagem. – 1ª.ed, – São Paulo:
Moderna, 2018.
TEIXEIRA, Claudia de Souza. SANTOS, Leonor Werneck dos.
Ensino de Gramática nas Escolas Brasileiras: abordagens,
equívocos e perspectivas. In OSÓRIO, Paulo; LEURQUIN, Eulália;
COELHO, Maria da Conceição (Orgs.). Lugar da Gramática na
Aula de Português. – Coleção AILP. Vol. 1 Rio de Janeiro,
Dialogarts. 2018.
166
CAPÍTULO 9
1. INTRODUÇÃO
167
Nesse sentido, nosso objetivo é analisar o ensino do futuro do
pretérito do indicativo no livro didático (DIZER QUAL) de Cereja
e Magalhães e, a partir dessa análise, caso se apresente pouco
produtiva, apresentar uma proposta metodológica que minimize
que venha atenuar essa questão.
Para tanto, nos apoiaremos em estudos sobre variação
linguística e ensino de gramática (Vieira, 2017) e no uso do tempo
verbal futuro do pretérito (Cegalla, 2009). Além disso, o corpus de
análise consiste em um livro didático de língua portuguesa para o
6º ano do Ensino Fundamental – anos finais – de autoria de William
Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, 2012.
Após apresentarmos essas linhas iniciais da nossa pesquisa,
descreveremos então, os procedimentos metodológicos adotados
para sua realização. Primeiramente, faremos um levantamento
bibliográfico a fim de fundamentar nosso trabalho como se pode
ver em algumas das referências supracitadas. Em seguida, faremos
uma breve contextualização sobre o assunto referente aos verbos,
dando enfoque especial ao tempo verbal futuro do pretérito.
Depois, faremos uma análise comparativa observando como o
futuro do pretérito é visto pela gramática normativa e pelo livro
didático de Cereja e Magalhães (2012). Feito isso, passaremos a
discutir como esse assunto é visto pelos alunos, observando qual a
forma que é mais usual entre eles. Além disso, montaremos e
apresentaremos uma estratégia didática para a abordagem desse
assunto na sala de aula, buscando minimizar os problemas
apresentados pelos educandos. Por fim, exporemos nossas
considerações finais acerca desse assunto.
Nosso estudo está organizado em uma introdução, uma breve
contextualização do conteúdo a ser analisado, uma análise
comparativa sobre como a gramática e o livro didático abordam
essa temática, a apresentação de uma proposta de abordagem do
conteúdo em sala de aula e nossas considerações finais.
168
2. TECENDO AS IDEIAS INICIAIS ACERCA DO VERBO
169
3. O FUTURO DO PRETÉRITO NA GRAMÁTICA E NO LIVRO
DIDÁTICO
170
para o aluno que o ensino de língua não se limita apenas ao que
está proposto na gramática normativa. Caso contrário, teremos
apenas uma reprodução acrítica de conceitos e nomenclaturas.
Nessa perspectiva, os PCNs ainda afirmam que:
171
a submissão dos conteúdos gramaticais – seja no âmbito teórico-
descritivo (com a natural categorização dos objetos linguísticos), seja
no âmbito das estruturas em uso (muitas delas em situação de
variação linguística) – ao desenvolvimento de atividades discursivas
no plano da interação a partir de textos, orais ou escritos.
172
Depois disso, Cegalla (2009, p. 194, 195) se atém a outro
aspecto da variação verbal: o tempo. Aqui o autor inicia esse tópico
expondo que “os tempos situam o fato ou a ação verbal dentro de
determinado momento (durante o ato da comunicação, antes ou
depois dele)”. Acrescenta também que os tempos verbais se
classificam em três: presente, passado e futuro. Observe abaixo:
173
na conjugação ativa, os tempos simples apresentam-se sob formas
simples (leio, andava, corremos, etc.) e os compostos, sob formas
compostas (tenho lido, tinham andado, havia corrido, etc.)”, e que
“na voz passiva, tanto os tempos simples como os compostos
apresentam formas compostas: sou premiado, fomos chamados, tens
sido visto, etc (Cegalla, 2009, p. 195).
174
Um ponto positivo que já podemos salientar quando
comparamos a abertura do tópico sobre verbo na gramática de
Cegalla (2009) e no livro didático de Cereja e Magalhães (2012) é a
forma introdutiva de conteúdo. Enquanto Domingos apresenta o
assunto a partir de frases soltas e descontextualizadas, Cereja e
Magalhães o trazem a partir de um gênero textual, no caso, a piada.
Por outro lado, um ponto que poderia ser melhorado é o trato com o
texto, pois o mesmo deixou de ser explorado. A impressão que temos
é a de que o texto foi posto ali, meramente, para dele extrair os
enunciados que se referiam às formas verbais. Dito isso, logo em
seguida, eles fazem um recorte de dois enunciados e apresentam três
questionamentos para o leitor como se pode ver na imagem abaixo.
175
Fonte: Português: linguagens. 7ª ed., pág. 246, 2012.
176
Fonte: Português: linguagens. 7ª ed., pág. 247, 2012.
177
Esse é um aspecto que merece ser ressaltado, porque se
estabeleceu um deslocamento da visão engessada da gramática
tradicional e passou-se a atentar para outra variante, a de uso comum.
Pontos como estes são de suma relevância, haja vista que o ensino de
língua não se deve dar de forma não reflexiva, sem direcionar o
estudante para ver a língua e a linguagem sobre outros prismas.
Entretanto, no que tange ao futuro do pretérito, os autores se
limitam apenas a discorrer sobre o que se entende por futuro do
pretérito, mas não conseguem desenvolver um olhar mais
ampliado do que àquele que se apresenta na descrição gramatical
normativa.
178
É nesse sentido que Fernandes (2018, p. 4) diz que
179
linguísticos como elementos fundamentais à produção de sentidos;
e, ainda, (iii) propiciando condições para que o aluno tenha acesso a
variedades de prestígio na sociedade, segundo os contínuos de
variação (Cf. BORTONI-RICARDO, 2005, p.47).
180
dinâmica, viva”. Nesse contexto, ela evoca o papel que o professor
tem a desempenhar nesse processo, alegando que “o professor
precisa vislumbrar com os alunos os mecanismos de
funcionamento da língua e seu universo de possibilidades” (p.84).
Dentro dessa pesrpectiva, a autora, fundamentando-se em
Franchi (2006), vem propor uma metodologia de ensino de língua
fundamentada em atividade que contemplem três eixos: o
linguístico, o epilinguístico e o metalinguístico. De acordo com ela,
181
de se sistematizar um ‘saber’ linguístico que se aprimorou e se
tornou consciente (p. 72). E é nesse contexto que entra a atividade
metalinguística
182
supracitados. Entretanto, baseiam-se numa perspectiva apenas
metalinguística, o que acaba corroborando para um processo de
ensino-aprendizagem engessado e restritivo da língua portuguesa.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
183
estarão permeando as discussões sobre a língua. A forma como o
professor irá guiar seu trabalho. Assim como acontece com o trato
da classe gramatical dos verbos, muitas vezes em separado por
infinitos quadros que pedem realização de conjugações temporais,
também podemos verificar em outras classes esses usos
desconectados de uma situação real de produção, o que justifica no
momento da escrita, tantos alunos apresentarem dificuldade de
concordância verbal.
Posto isso, conclui-se então que o livro didático de Cereja e
Magalhães (2012) trata o estudo do futuro do pretérito a partir de
uma abordagem apenas metalinguística, o que caracteriza um
trabalho intuitivo e teórico de sistematização gramatical que
permite descrever a linguagem. Por outro lado, observamos que,
de forma geral, houve um avanço na abordagem do verbo no livro
didático, porém, especificamente em relação ao futuro do pretérito,
não houve avanços. Nesse sentido, entendemos que há a
necessidade de reformulação das atividades do livro didático a fim
de que haja, de fato, um aperfeiçoamento na abordagem desse
conteúdo no LD.
6. REFERÊNCIAS
184
curriculares nacionais: Linguagem, códigos e suas tecnologias.
Brasília: MEC/SEF, 2000.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua
portuguesa. 48. Ed. São Paulo: IBEP, 2009.
CEREJA, Willian Roberto. Magalhães, Thereza Cochar Magalhães.
Português: linguagens. 7ª ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2012.
DURVAL, Luiz Felipe da Silva. Uma experiência didática com o
futuro do presente: reflexão linguística, variação e ensino. p. 83-
106. In: VIEIRA, Silvia Rodrigues (org.) Gramática, variação e
ensino: diagnose & propostas pedagógicas / Vários autores. – Rio
de Janeiro: Letras UFRJ, 2017.
FERNANDES, Lucinete Alberto de Bessa. Carvalhaes, Wesley Luís. O
ensino dos verbos no 6º ano do ensino fundamental: análise de um
livro didático de português. Inhumas-GO: V CEPE – UEG, 2018.
FRANCHI, C. Mas o que é mesmo “gramática”? São Paulo:
Parábola Editorial, 2006.
FREITAG, Raquel Meister Ko. A mudança linguística, a gramática
e a escola. Revista PerCursos, Florianópolis, v. 18, n.37, p. 63 – 91,
maio/ago. 2017a.
HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. M. I. M. Halliday’s
introduction to functional grammar. 4. ed. New York: Routledge, 2014.
SILVA, W. R., Andrade, A. A., & Batista-Santos, D. O. (2021). Estudo do
verbo em livros didáticos: excesso permanente de metalinguagens
para crianças. Itatiba: Horizontes, 39(1), e021013, 2021.
VIEIRA, Silvia Rodrigues (org.) Gramática, variação e ensino:
diagnose & propostas pedagógicas / Vários autores. – Rio de
Janeiro: Letras UFRJ, 2017.
185
186
CAPÍTULO 10
1. INTRODUÇÃO
187
atender uma necessidade comunicativa, o que requer um processo de
conversão contextual dos aspectos morfológicos.
Não é sobre tratar a regra pela norma gramatical apenas, mas
revelar para o aluno que o verbo jantar pode assumir a função do
substantivo ou sujeito jantar e que, por sua vez, ocorrem
possibilidades de mudança de classe gramatical partindo de uma
derivação imprópria, gerando uma conversão, por exemplo, entre:
“Lívia fez um jantar delicioso”. E entre o exemplo: Hoje podemos
jantar no restaurante. Conforme os Parâmetros Curriculares
Nacionais de Língua Portuguesa (2018, p. 65) asseveram, “a própria
definição dos conteúdos já é, em si, uma questão didática que tem
relação direta com os objetivos colocados”.
Nossa inquietação, parte da necessidade de tentarmos minimizar
essa problemática nas aulas de português, no sentido de proporcionar
um ensino de gramática cada vez mais útil e contextualizado, pois,
identifica-se as inadequações com substantivação de verbos, tão
semelhantes em derivação imprópria, o que tem acarretado dúvidas
nos padrões da escrita posto que, na oralidade, esse fenômeno
gramatical não causa desarmonia.
Dentro desse raciocínio, este trabalho parte da seguinte
questão-problema: que estratégia didática usar para minimizar as
dificuldades com o emprego das conversões gramaticais com
alunos do Ensino Fundamental?
Para responder a esse questionamento, delimitamos os
objetivos dessa proposta da seguinte forma:
Geral – Analisar o ensino da substantivação e derivação
imprópria no livro didático de português e discutir uma estratégia
metodológica que amenize possíveis inadequações do aluno
quanto ao uso gramatical da substantivação de verbos e dos casos
de derivação imprópria, cotidianamente.
Específicos: analisar as propostas do livro didático de
Português do 7° ano intitulado” Se Liga na Língua – Leitura,
Produção de Texto e Linguagem” quanto ao tópico de
substantivação e de derivação imprópria; discutir atividades
didáticas que contribuem para amenizar as inadequações quanto
188
ao uso gramatical da substantivação de verbos e dos casos de
derivação imprópria e desenvolver no aluno a capacidade de usar
produtivamente a substantivação de verbos e a derivação
imprópria na sua escrita do dia a dia.
No que se refere a justificativa deste trabalho, assumimos que
ele se revela como uma estratégia didática em torno dos
conhecimentos gramaticais, articula-se aos processos de ensino-
aprendizagem a serem adquiridos no plano do ensino de gramática
contextualizada. Para tanto, do ponto de vista teórico, tomaremos
como pressupostos: os estudos de Antunes (2005, 2014), Marcushi
(2016), Brasil (2008), Soares (2009), Basílio (1999, 2011), Cunha
(2017), Kehdi (1992) dentre outros.
Do ponto de vista metodológico, a pesquisa vincula-se ao tipo
documental/analítica de base qualitativa como uma possibilidade de
construir conhecimentos em torno dos usos gramaticais da língua. Os
procedimentos da pesquisa serão: análise da coleção - livro didático
de Português: Se Liga na língua – Leitura, produção de texto e linguagem -
do 7º ano do Ensino Fundamental, da editora Moderna, aprovado no PNLD
2020 e a construção de uma proposta didática.
189
No trabalho com o ensino de Português somos
frequentemente flagrados com textos dos alunos que trazem
desvios quanto ao uso do verbo no infinitivo e ao escreverem, por
exemplo: “Meu pai vai anda de avião pela primeira vez”, suprimindo
a marca verbal de infinitivo, em vez de “Meu pai vai andar de avião
pela primeira vez”. É bem comum também observarmos o emprego de:
“O anda da professora é elegante” em vez de “O andar da professora é
elegante”. É notório que a dificuldade desse aluno se dá pela forma
gramatical que aprendeu (ou não aprendeu) ao empregar
vocábulos que ocupam, na grafia, a mesma escrita em detrimento
de uma derivação imprópria.
Nesse exemplo, e segundo Antunes (2003), dentro do trabalho
com a gramática pode-se constatar o ensino de:
190
não conseguir empregar no texto escrito – jantar na sua forma
verbal ou jantar na sua forma substantivada, justifica a insuficiência
gramatical em função dos contextos situacionais e verbais, ou seja,
dentro do uso da linguagem.
É uma realidade bastante visível nos textos virtuais
publicados, escritos ou legendados nas redes sociais de alunos não
só de Ensino Fundamental, como também de nível médio.
Legendas do tipo: “Para desopila um pouco” em vez de “Para
desopilar um pouco” ou do tipo “Vamos toma um café?” em vez de
“Vamos tomar um café?” para se legendar um momento de parada
para o café, seja em casa, no trabalho ou em outro ambiente que se
poste na rede. É o tipo de exemplo que parte de um contexto social
e se esbarra na escrita social no formato virtual de se manifestar a
língua como prática social.
191
nova palavra, as inadequações são geradas mais em torno das
dificuldades em não saber utilizar a derivação imprópria pelo fato
de não compreender a nova palavra ao desempenhar outro papel
gramatical no texto, de acordo com o contexto em que está inserida.
Muitas vezes, ao se deparar com o estudo das classses de
palavras, os alunos que, na maior parte das vezes, apreendem esse
conhecimento de maneira descontextualizada não conseguem
fazer relações entre conversões de sentidos quando uma mesma
palavra se apresenta em uma situação incomum ao seu uso, como
é o caso das substanttivações de verbos, por exemplo, fazendo com
que eles entendam que palavras como olhar, andar, cantar, sejam
vistas apenas como verbos.
Estudantes que durante muitos dos anos de sua escolarização
vêm sendo submetidos a uma prática que se esgota na identificação
de categorias gramaticais, se vêem diante da grande necessidade de
se aprender uma gramática que não se dá separadamente das
atividades verbais realizadas pelos seus usuários no cotidiano social.
192
memória de captar e guardar formas diferentes para cada
necessidade de uso em diferentes contextos e situações.
Sobre a derivação imprópria Kehdi (1992, p. 29) nos informa
que “Um vocábulo também pode ser formado quando passa de
uma classe gramatical a outra, aparentemente sem alterações
formais; é o que se denomina derivação imprópria ou, mais
comumente, conversão.
O livro Se Liga na língua – Leitura, produção de texto e linguagem,
do 7º ano do Ensino Fundamental, da editora Moderna, aprovado
no PNLD 2020 faz referência a derivação e composição na seção
Mais da língua. (pág. 266) Trazendo a seguinte nota explicativa: “A
seção analisa objetos léxico-morfológicos, no caso o processo de
formação de palavras, centrado na composição e na derivação”.
No entanto, a derivação imprópria não é contemplada. É o que
também observamos nos outros volumes da mesma coleção.
Encontramos informações sobre derivação prefixal ou prefixação,
derivação sufixal ou sufixação e derivação parassintética ou
parassíntese sem deter-se aos estudos da derivação imprópria,
como também a ausência da substantivação a partir dos verbos.
Diante disso, pensamos em trazer para a discussão em sala de
aula observações acerca da derivação imprópria, mais
especificamente da substantivação dos verbos, objeto de estudo e
análise deste artigo e de grande relevância, tendo em vista a
observação e constatação de que a grande maioria dos alunos ao
reconhecer e classificar algumas palavras como verbos cometem
alguns enganos, como por exemplo, acreditar que em todos os
contexos aquela palavra será sempre classificada como tal,
independentemente do contexto ao qual está inserida e isso
respinga na sua escrita textual.
Por muito tempo, estudamos conceitos e regras de forma
descontextualizada e era comum colocar, agrupar, memorizar cada
conhecimento adquirido dentro de suas determinadas ‘caixinhas’.
Por exemplo, cantar, andar, correr, partir, entre outros, fazia parte
do mesmo grupo, o grupo dos verbos. Geralmente, não
estudávamos na escola, (aqui nos referimos aos anos Finais do
193
Ensino Fundamental), que estas mesmas palavras poderiam ter
outra classificação, pertencer a categorias lexicais diferentes, tendo
em vista o contexto que estivessem inseridas.
194
À luz dessa perspectiva, cabe a escola, promover uma
dinâmica de estudo de gramática que possa ser caracterizada como
contextualizada visto que, os usos da gramática somente se
justificam nos contextos e nas ocorrências das ações de linguagem.
Chamamos atenção para o não aparecimento dessas questões
relacionadas a derivação em questão, nos livros didáticos da coleção
anteriormente citada, e entendendo a necessidade de contemplar tais
informações e esclarecimentos, tendo em vista os frequentes enganos
no que tange a classificação de algumas classes de palavras, pensamos
que mesmo não estando presente nos livros didáticos, devemos
apresentar aos alunos esse conhecimento, chamando atenção para a
importância da observação e modificação de sentido e classificação de
uma mesma palavra que embora apareça sem alterações gráficas pode
ser utilizada e compreendida de diferentes formas.
Quando os grupos de palavras são apresentados
separadamente, sem muitas vezes estarem conectados a uma
situação de uso, o processo de aprendizagem torna-se mecãnico e
inconsistente.
195
dias atuais, o lugar de memorização de regras, de ensino
descontextualizado e desconectado a outros conhecimentos.
Ao ensinar as classes gramaticais, por exemplo, nada nos
impede de inserir informações acerca de conteúdos já
apresentados, ou seja, grupos de palavras já visto pelos alunos, ou
que ainda estão por vir para enriquecer e ilustrar o conteúdo
estudado em deteminado momento. Esse retorno ou antecipação
do conhecimento tende a contribuir para o fortalecimento e
melhorar a aquisição do conhecimento do aluno. Contudo,
196
5. ALGUMAS ATIVIDADES DIDÁTICAS
197
Fonte: Arquivo pessoal das autoras – simulação de uma postagem no
Instagram.
198
A sugestão é o professor orientar o aluno a preparar uma
legenda para o gênero postagem na rede social e instigá-lo a usar textos
que fomentem a substantivação de palavras, tais como o uso de:
andar, olhar, jantar, cavalgar, ou mesmo para mudança de classes
de adjetivos para substabtivos a exemplo de – alto, belo, cabeça etc.
No caso de: “Vamos andar de bicicleta?”, para uma postagem de foto
de um aluno que está indo pedalar; “O olhar da garota é incrível”,
para uma legenda na postagem de uma foto do rosto de uma colega
(aqui, caberia orientar o aluno a escrever a legenda sobre o olhar da
pessoa já que envolvera o seu rosto na imagem); “Indo jantar com
os amigos!” para se referir a uma legenda em que garotas e garotos
estão prontos para irem a um jantar”.
Atividades dessa natureza levarão os alunos a escreverem
derivação sem acréscimo de prefixo ou sufixo à nova palavra, não
ocorrendo qualquer mudança na estrutura do termo, mas podendo
surgir no significado dele. Ou seja, a formação de novas palavras
serão obtidas pela mudança da função gramatical (substantivo,
adjetivo, verbo, advérbio) no texto da postagem, o que se configura
numa substantivação ou conversão.Todavia, a nova palavra
desempenhará, nas legendas, outro papel gramatical de acordo
com o contexto em que a fotografia (de cada aluno) está inserida.
No decorrer das produções, caberá ao professor o
acompanhamento dos textos dos alunos para indenficar os desvios
que forem surgindo a fim de ir mostrando-os onde e por que razão
eles ocorrem. A proposta aqui elencada é uma tentaiva de amenizar
esses desvios e passar a diferenciar esses usos e utilizá-los na forma
mais adequada.
Uma outra estratégia para abordagem da substantivação dos
verbos em sala de aula, seria apresentar e analisar o substantivo em
um contexto de uso através do gênero anúncio. Para ilustrar a
proposta, faremos uso do anúncio abaixo.
199
Fonte: Disponível em: https://www.varzimlazer.com/2016/11/07/jantar-
de-natal-vl/ . Acesso em 17/11/2021
200
6. CONCLUSÃO
201
dessas atividades tendem a desempenhar a língua concretizada em
ações e atuações comunicativas para um melhor avanço da fluência
verbal, da compreensão e elaboração de textos pelos estudantes.
Na ótica de uma gramática contextualizada , caberia inserir no
ensino o que de fato se usa nas atividades de falantes do dia a dia,
fazendo-o em textos reais produzidos pelos próprios alunos, textos
que atendam as necessidades sociais desses estudantes. Essa
postura caracteriza o que propomos aqui em torno do estudo das
conversões gramaticais.
7. REFERÊNCIAS
202
CAPÍTULO 11
1. INTRODUÇÃO
203
intenção de persuadir seu leitor consumidor, tendo em vista que
essa é uma das funções do gênero em questão.
Nossa proposta de pesquisa, de cunho qualitativo,
documental está referenciada nos textos dos PCN’S (1998), BNCC
(2018), ANTUNES (2009), CUNHA E CINTRA (2004), FERRAREZI
JÚNIOR (2021), ROCHA LIMA (2011), VARGAS (2011).
Esse trabalho trará uma breve discussão sobre o ensino da
gramática em gramáticas escolares e em livros didáticos utilizados
nas escolas públicas. Traremos ainda a abordagem dos Parâmetros
Curriculares e a Base Nacional Comum Curricular. Analisaremos
em seguida, algumas atividades presentes nos livros didáticos do
programa PNLD, e, por fim apresentaremos uma estratégia
pedagógica com algumas atividades que abordem o ensino da
classe gramatical verbo, no gênero propaganda.
204
Embora a palavra imperativo esteja ligada, pela origem, ao latim
imperare, não é para ordem ou comando que, na maioria dos casos, nos
servimos desse modo. Há, como veremos, outros meios mais eficazes
para expressarmos tal noção. Quando empregamos o imperativo, em
geral, temos o intuito de exortar o nosso interlocutor a cumprir a ação
indicada pelo verbo. (CUNHA e CINTRA, 2017, p. 340)
205
flexionados também revela a atitude ou a intenção do falante em
relação ao fato expresso. [...] modo imperativo: expressa uma ordem,
um pedido, um conselho, um convite. [...] (OLIVEIRA E ARAÚJO,
2020, p. 151)
206
interpretação de textos coerentes, relevantes e adequados
socialmente. Tanto é assim que a questão, posta por alguns
professores “Texto ou gramática” não passa de uma falsa questão.
Na verdade, o professor deve encorajar e promover a produção e
análise de textos, o mais frequentemente possível (diariamente!),
levando o aluno a confrontar-se com circunstâncias de aplicação das
regularidades estudadas. (ANTUNES, 2003, p. 97)
Imagem 02
207
imagem 03 iremos observar mais uma atividade do livro. Mesmo
trazendo um gênero discursivo, este não exploração em suas
possibilidades comunicativas. Foi abordando, apenas aspectos da
gramática normativa e poucas questões sobre o texto. A abordagem
discursiva não foi explorada.
Imagem 03
208
adjunto adnominal” de um “ complemento nominal”, e outros
pormenores classificatórios, apesar de tanto quebrar a cabeça com
essas irrelevâncias metalinguísticas, faltou tempo- e talvez
capacidade-para se descobrir as regularidades do funcionamento
interativo da língua, que somente acontece por meio de textos orais
e escritos, em práticas discursivas as mais diversas, conforme as
situações sociais em que se inserem. (ANTUNES, 2003, p. 16)
209
didáticas de ensino de língua portuguesa devem organizar-se
tomando o texto (oral ou escrito), como unidade básica do trabalho,
[...] (PCN, 1998, 59)
210
4. ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA PARA TRABALHAR O
MODO IMPERATIVO NO GÊNERO PROPAGANDA.
Imagem 04
211
Atividade 01
Em uma roda de conversa, pode-se pedir aos alunos que
observem a propaganda, que pode estar exposta em uma mídia ou
em folhas impressas. Em seguida, direcionar algumas perguntas
que se refira ao contexto de produção do texto. Seria interessante e
se possível, apresentar em um suporte comum a esses tipos de
gêneros textuais.
a. Onde podemos encontrar esse tipo de texto e qual a função
social dele, ou seja, para que e quem ele é produzido?
b. Esse texto despertaria interesse do consumidor para
comprar?
c. Vocês comprariam esse produto oferecido? Por quê?
Atividade 02
Após os direcionamentos da atividade 01, iremos propor a
seguinte atividade na sequência, onde será analisado ainda
oralmente a construção composicional, os recursos visuais e a
relação com a verbal.
a. Se você estivesse em um supermercado e visse essa
propaganda, se interessaria pelo produto? Por quê?
b. A feição da criança, suas mãos, refletem que sentimento com
relação ao produto?
c. Qual a relação entre a emoção demonstrada pela criança e a
frase que é repetida na propaganda “Compre batom”?
d. Qual palavra na frase “Compre batom” nos dá ideia de
convencimento? E qual a sua relação com o produto oferecido?
e. Se trocarmos a frase “Compre batom” por “Compramos
batom” ou “Comprar batom” obteremos o mesmo efeito da
propaganda? Explique.
Atividade 03
Por fim, analisaremos com os alunos a composição da frase e
seu significado metalinguístico. Mostraremos a função do verbo
nessa construção e o modo pelo qual ele está sendo declarado.
Podemos colocar no quadro o conceito de modo verbal e discuti-lo
212
expositivamente. A atividade abordará um viés metalinguístico de
sistematização do conteúdo.
a. Escreva as três sentenças no caderno e explique o valor de
cada uma, qual significado foi construído nas três?
b. Qual ação o verbo representa e como poderíamos classificar
com relação ao tempo, modo?
213
Imagem 05
Imagem 06
214
no contexto dos gêneros quais as funções dessas palavras e o que
elas representam no texto. Os textos podem ser expostos em slides
ou impresso para os alunos.
Em seguida, conversar com eles sobre a função de cada texto e
finalizar com quadro comparativo em que eles transformarão os
verbos que estão no imperativo para o modo indicativo e
subjuntivo. Por fim, fazer um apanhado geral sobre os modos
verbais, sintetizando os conceitos.
Atividade 03
A proposta 3, os alunos irão escolher um produto de sua
preferência e produzirão uma propaganda desse produto. O
objetivo dessa atividade é fazer com que o aluno utilize o
conhecimento adquirido no decorrer das atividades para realizar
essa tarefa.
Essa propaganda pode ser de um livro novo que chegou à
escola e que o aluno já leu. Ele utilizará seus conhecimentos para
promover o produto. É interessante que essa atividade seja
realizada com o professor de artes, pois o aluno terá que utilizar
uma linguagem não verbal junto à verbal.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
215
para a partir dele, ajudar a minimizar os problemas enfrentados
pelos alunos com relação ao modo imperativo. E, sabendo que o
verbo é uma categoria importante, em qualquer texto (gênero
textual), a proposta justifica a nossa pesquisa.
6. REFERÊNCIAS
216