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Qual é a organização curricular do Novo Ensino Médio?

Diante da mudança legal, o Conselho Nacional de Educação (CNE) emitiu a Resolução


n. 3/2018, atualizando as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o Ensino
Médio. Nesse documento está explícito que os currículos desta etapa passam a ser
compostos por uma formação geral básica e por itinerários formativos.

A formação geral básica é composta por competências e habilidades previstas na


BNCC, a ser enriquecida pelo contexto histórico, econômico, social, ambiental e
cultural local, do mundo do trabalho e da prática social. Possui carga horária total
máxima de 1.800 horas e deverá ser organizada nas quatro áreas de conhecimento
(BRASIL, 2018).

Por sua vez, os itinerários formativos representam a parte flexível do currículo, com
carga horária de 1.200 horas. Devem ser orientados para o aprofundamento acadêmico e
a ampliação das aprendizagens em uma ou mais áreas do conhecimento da base comum
ou para a formação técnica e profissional. Essa estrutura busca atender as
especificidades locais e a multiplicidade de interesses dos estudantes, estimulando o
exercício do protagonismo juvenil.

Os itinerários formativos são constituídos por conjuntos de unidades curriculares, cujo


detalhamento é prerrogativa dos diferentes sistemas, redes e escolas, conforme previsto na
Lei n.º 13.415/2017. Objetivam possibilitar ao estudante o aprofundamento de seus
conhecimentos de modo a prepará-los para prosseguir nos estudos ou adentrar no mundo do
trabalho. A DCN de Ensino Médio estabelece, ainda, que os itinerários devem se organizar em
torno de um ou mais dos eixos estruturantes.

Eixos Estruturantes

 Integram os diferentes arranjos de Itinerários Formativos


 Conectam experiências educativas com a realidade contemporânea
 Desenvolvem habilidades relevantes para a formação integral

EIXO: Investigação científica

Justificativa:

Criar condições para que o jovem possa participar da sociedade da informação


compreendendo e intervindo na realidade e lidando de forma crítica, reflexiva e
produtiva com a quantidade cada vez maior de informações disponíveis.

Objetivos:

 Aprofundar conceitos fundantes das ciências para a interpretação de ideias,


fenômenos e processos;
 Ampliar habilidades relacionadas ao pensar e fazer cientifica;
 Utilizar esses conceitos e habilidades em procedimentos de investigação
voltados a compreensão e enfrentamento de situações cotidianas, com
proposição de intervenções que considerem o desenvolvimento local e a
melhoria da qualidade de vida da comunidade.

Foco Pedagógico:

Investigar a realidade por meio da realização de uma pesquisa científica identificando


uma dúvida, questão ou problema; levantando, formulando e testando hipóteses;
selecionando informações e fontes confiáveis; interpretando, elaborando e usando
de forma ética as informações coletadas; identificando de como utilizar os
conhecimentos gerados para solucionar problemas diversos; e comunicando
conclusões com a utilização de diferentes linguagens.

EIXO: Mediação e intervenção sociocultural

Justificativa:

Criar condições para que o jovem possa participar de uma sociedade desafiada por
questões socioculturais e ambientais cada vez mais complexas atuando como agentes de
mudanças e de construção de uma sociedade mais ética, justa, democrática, inclusiva,
solidária e sustentável.

Objetivos:
 Aprofundar conhecimentos sobre questões que afetam a vida dos seres
humanos e do planeta em nível local, regional, nacional e global, e compreender
como podem ser utilizados em diferentes contextos e situações;
 Ampliar habilidades relacionadas à convivência e atuação sociocultural;
 Utilizar esses conhecimentos e habilidades para mediar conflitos, promover
entendimentos e propor soluções para questões e problemas socioculturais e
ambientais identificados em suas comunidades.

Foco Pedagógico:

Envolver os estudantes em campos de atuação da vida publica, por meio de projetos de


mobilização e intervenção sociocultural e ambiental que os levem a promover
transformações positivas na comunidade. O processo pressupõe o diagnóstico da
realidade sobre a qual se pretende atuar, incluindo a busca de dados oficiais e a escuta
da comunidade local; a ampliação de conhecimentos sobre o problema a ser enfrentado;
o planejamento, execução e avaliação de uma ação social e/ou ambiental que
responda as necessidades e interesses do contexto; a superação de situações de
estranheza, resistência, conflitos interculturais, dentre outros possíveis obstáculos, com
necessários ajustes de rota.

EIXO: Processos criativos

Justificativa:

Criar condições para que o jovem possa participar de uma sociedade cada vez mais
pautada pela criatividade e inovação, utilizando conhecimentos, habilidades e recursos
de forma criativa para propor, inventar, inovar.

Objetivos:

 Aprofundar conhecimentos sobre as artes, a cultura, as mídias e as ciências


aplicadas e sobre como utiliza-los para a criação de processos e produtos
criativos;
 Ampliar habilidades relacionadas ao pensar e fazer criativo;
 Utilizar esses conhecimentos e habilidades em processos de criação e produção
voltados a expressão criativa e/ou a construção de soluções inovadoras para
problemas identificados na sociedade e no mundo do trabalho.

Foco Pedagógico:

Expandir a capacidade dos estudantes de idealizar e realizar projetos criativos


identificando e o aprofundando um tema ou problema, que orientara a posterior
elaboração, apresentação e difusão de uma ação, produto, protótipo, modelo ou
solução criativa (obras e espetáculos artísticos e culturais, campanhas e pecas de
comunicação, aplicativos, jogos, robôs, entre outros produtos analógicos e digitais).

EIXO: Empreendedorismo

Justificativa:

Criar condições para que o jovem possa participar de uma sociedade cada vez mais
marcada pela incerteza, volatilidade e mudança permanente, os estudantes precisam se
apropriar cada vez mais de conhecimentos e habilidades que os permitam se adaptar a
diferentes contextos e criar novas oportunidades para si e para os demais.

Objetivos:

 Aprofundar conhecimentos relacionados a contexto, ao mundo do trabalho e a


gestão de iniciativas empreendedoras, incluindo seus impactos nos seres
humanos, na sociedade e no meio ambiente;
 Ampliar habilidades relacionadas ao autoconhecimento, empreendedorismo e
projeto de vida;
 Utilizar esses conhecimentos e habilidades para estruturar iniciativas
empreendedoras com propósitos diversos, voltadas a viabilizar projetos pessoais
ou produtivos com foco no desenvolvimento de processos e produtos com o uso
de tecnologias variadas.

Foco Pedagógico:

Envolver os estudantes na criação de empreendimentos pessoais ou produtivos


articulados com seus projetos de vida, que fortaleçam a sua atuação como protagonistas
da sua própria trajetória. O processo pressupõe a identificação de potenciais, desafios,
interesses e aspirações pessoais; a análise do contexto externo, inclusive em relação
ao mundo do trabalho; a elaboração de um projeto pessoal ou produtivo; a realização
de ações-piloto para testagem e aprimoramento do projeto elaborado; o
desenvolvimento ou aprimoramento do projeto de vida dos estudantes.

Cabe ressaltar que o Novo Ensino Médio não exclui disciplinas dos currículos, mas
busca mobilizar conhecimentos de todos os componentes curriculares em suas
competências e habilidades. O que se almeja é, antes, atender às necessidades e às
expectativas dos jovens, permitindo a eles fazer escolhas em relação aos conhecimentos
em que pretendem se aprofundar, sempre com o objetivo de reforçar o protagonismo
juvenil.

Observação
É importante observar que a BNCC não se constitui como o currículo do Ensino Médio.
Ela apenas define as aprendizagens essenciais que, a partir da reelaboração dos
currículos pelas escolas, deverão ser alcançadas pelos alunos nos três anos de formação
dessa etapa.
Nesse contexto, temos um conceito importante, o de Unidades Curriculares. As
Unidades Curriculares são os elementos com carga horária pré-definida, cujo objetivo é
desenvolver competências específicas, seja da formação geral básica, seja dos itinerários
formativos. Além da tradicional organização por disciplinas, as redes e escolas podem
escolher criar unidades que melhor respondam aos seus contextos e às suas condições,
como projetos, oficinas, atividades e práticas contextualizadas, entre outras situações de
trabalho. O conjunto de unidades curriculares de um itinerário deve desenvolver as
habilidades de pelo menos um dos eixos estruturantes apresentados nos referenciais para
a elaboração dos itinerários formativos.

Desse modo, para atender ao que preconiza a BNCC, a organização dos currículos no
Novo Ensino Médio deve evitar a fragmentação das unidades curriculares, buscando a
construção de currículos interdisciplinares que mobilizem as habilidades de todos os
atuais componentes curriculares, bem como os temas contemporâneos que afetam a vida
humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e
integradora.

Face a esse novo contexto, cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e
processos que garantam aos estudantes as aprendizagens necessárias para a leitura
crítica da realidade, o enfrentamento dos desafios atuais, a participação cidadã e a
tomada de decisões acertadas.

O mundo físico, social e cultural deve ser objeto de investigação e intervenção, de modo
que os estudantes se sintam estimulados a buscar soluções e a descobrirem novas
possibilidades de ser, viver e agir. Assim, esta última etapa da Educação Básica precisa
atender com qualidade os anseios das diversas juventudes que acorrem à escola com
suas múltiplas necessidades e aspirações (BRASIL, 2011).

No quadro a seguir, são apresentadas algumas mudanças que ocorrerão, em


conformidade ao que é proposto pelo Novo Ensino Médio:
Colocar em prática as mudanças propostas constitui a etapa final de um percurso que
teve início com estudos desenvolvidos pelas redes, seguidos de um processo de
diagnóstico das capacidades por meio da escuta efetiva dos vários segmentos
envolvidos, como os jovens, os professores, os gestores e a sociedade, buscando apoio
no processo de (re)elaboração dos currículos e de implementação da nova arquitetura do
Ensino Médio. A (re)elaboração dos currículos por cada rede vem sendo desenvolvida –
alguns estados já tiveram suas propostas homologadas – visando contemplar as
aprendizagens definidas na BNCC e as diferentes possibilidades de itinerários
formativos.

Para a implementação efetiva do Novo Ensino Médio, com início previsto para 2022, as
redes deverão adotar ações que incluam um cronograma de implementação progressiva
e, se possível, realizar projetos-piloto para entender quais organizações curriculares
melhor respondem às diferentes realidades.
Orientações a respeito de como implementar essas mudanças no âmbito das escolas:

1.1 Dicas para ajudar a escola na transição para o Novo Ensino Médio e
na aplicação das novas propostas da BNCC:

1. Planeje a implantação considerando o contexto da escola, como o tempo destinado


para reuniões de professores e da gestão, conhecimento prévio da equipe, desejos da
comunidade escolar e recursos materiais.
2. A implementação deve ser gradativa, considerando a capacidade e a velocidade de
transformação da escola e da comunidade.
3. A formação de professores pode ser feita em etapas e foca na compreensão das
competências gerais e no uso de metodologias ativas; na interdisciplinaridade aplicada
à prática docente; e nos processos avaliativos para diferentes competências cognitivas
e socioemocionais.
4. É necessário muito estudo para ter um entendimento satisfatório da Base.
Desdobre a BNCC e todos os conceitos pedagógicos e pressupostos teóricos por
trás do documento.
5. Envolva os professores na elaboração do currículo da escola, que deve ser feito
de forma colaborativa.
6. Compartilhe experiências, conheça os êxitos e fracassos de outras
comunidades e exponha os seus.
7. Ouça a comunidade e faça pesquisas para a elaboração e construção da oferta
de itinerários formativos, a parte flexível da BNCC. Uma oferta de itinerários
que não responda aos desejos e necessidades dos alunos os mantém sem
escolhas.
8. Considere a parte administrativa para algumas decisões. Por exemplo, a
quantidade de itinerários, formato, duração e distribuição têm relação com a
parte pedagógica, mas também envolve espaços, número de alunos por sala,
professores para lecionarem etc.

Em resumo

Como vimos, o Novo Ensino Médio propõe uma maior integração entre as disciplinas,
além da oferta de itinerários formativos (sobre os quais trataremos mais detalhadamente
no Módulo 2 deste curso). Com relação à implementação das mudanças nessa etapa do
ensino, sabemos que muitos estados já elaboraram seus currículos de referência, a serem
postos em prática a partir de 2022. A principal característica presente nesses novos
currículos é justamente a integração entre as disciplinas tendo em vista as quatro áreas
do conhecimento (Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas).

Para muitos professores ainda parece ser difícil encontrar a forma de fazer a integração
das disciplinas, por considerarem um desafio o trabalho em conjunto com outros
profissionais que ministram aulas de disciplinas que compõem a mesma área que a sua
matéria.

Há, no entanto, caminhos que podem tornar esse processo mais fácil. O primeiro passo é
entender como as áreas são separadas e qual é a principal função deste agrupamento de
disciplinas.

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