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RETÓRICA
E TEXTO
José Nildo Barbosa de Melo Junior
Maria Francisca Oliveira Santos
Max Silva da Rocha
(Orgs.)
ORALIDADE,
RETÓRICA
E TEXTO
Prefácio
Flávia Colen Meniconi
Apresentação
Fabiana Pincho de Oliveira
Suplentes
José Adelson Lopes Peixoto
Edel Guilherme Silva Pontes
Maryny Dyellen Barbosa Alves Brandão
Ariane Loudemila Silva de Albuquerque
Ahiranie Sales dos Santos Manzoni
Elisângela Dias de Carvalho Marques - Sistema de Bibliotecas (SIBI)
Catalogação na Fonte
Universidade Estadual de Alagoas -
Sistema de Bibliotecas- SiBi
Biblioteca Ineide Nogueira - Divisão de Tratamento Técnico da Informação
Bibliotecária Responsável: Márcia Janaina Souza
O63 Oralidade, retórica e texto / José Nildo Barbosa de Melo Júnior; Maria
Francisca Oliveira Santos; Max Silva da Rocha (Organizadores). -
Arapiraca: Eduneal, 2020.
219 p.: il.:color.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-86680-10-2
CDU 80
Direitos desta edição reservados à
Eduneal - Editora da Universidade Estadual de Alagoas
SUMÁRIO
PREFÁCIO..........................................................................................7
Flávia Colen Meniconi
APRESENTAÇÃO................................................................................11
Fabiana Pincho de Oliveira
Capítulo 1
NATUREZA DA QUESTÃO RETÓRICA E A FELICIDADE........................... 17
Luiz Antonio Ferreira e Ana Lúcia Magalhães
Capítulo 2
OS CONFLITOS SOCIAIS E A LINGUAGEM: EMBATES E SOLUÇÕES......39
Maria Francisca Oliveira Santos
Capítulo 3
O ATO DE RESUMIR TEXTOS.............................................................59
José Nildo Barbosa de Melo Junior e Eduardo Pantaleão de Morais
Capítulo 4
AS FIGURAS RETÓRICAS NO GÊNERO DEBATE REGRADO EM SALA
DE AULA..........................................................................................83
Sandra Araujo Lima Cavalcante e Max Silva da Rocha
6 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Capítulo 5
ANÁLISE DA PERSUASÃO NO DEBATE POLÍTICO PRESIDENCIAL
BRASILEIRO...................................................................................103
Romildo Barros da Silva
Capítulo 6
PROCESSOS REFERENCIAIS NO DEBATE POLÍTICO TELEVISIVO:
ASPECTOS ARGUMENTATIVOS E DA TEXTUALIDADE.........................123
Janyellen Martins Santos
Capítulo 7
AS FIGURAS RETÓRICAS EM TEXTOS/DISCURSOS ORAIS NA
ESFERA JURÍDICA...........................................................................139
Deywid Wagner de Melo e Maria Francisca Oliveira Santos
Capítulo 8
A LEITURA EM VOZ ALTA: UMA ANÁLISE DOS ELEMENTOS NÃO
VERBAIS NO CONTEXTO DE SALA DE AULA.......................................163
Marcos Suel dos Santos e Maria Inez Matoso Silveira
Capítulo 9
UM ESTUDO DA ARGUMENTAÇÃO QUASE LÓGICA NO GÊNERO
DISCURSO DE SALA DE AULA..........................................................183
Jonnas Nichollas de Lima Costa e Max Silva da Rocha
REFERÊNCIAS.................................................................................201
SOBRE OS AUTORES.......................................................................213
PREFÁCIO
Introdução
A eficácia retórica se consolida quando o orador consegue
imprimir ao dizer o seu poder de influência. Por isso, praticar a
retórica é, com o auxílio forte da percepção, entender, pelo intelecto,
que podemos moldar eventos, desejos, verdades e mentiras nos
cérebros uns dos outros com primorosa precisão. Exercitar a retórica
é, também, dar respostas para questões fundamentais do auditório. As
perguntas, sabemos, possuem intencionalidade e, grosso modo, podem
ser honestas ou capciosas, bem intencionadas ou irônicas, simples ou
complexas. Do mesmo modo, as respostas podem apregoar e alicerçar
valores no discurso dominante de uma comunidade humana. Porque
os valores são complexos e oscilantes, a estrutura retórica da resposta
exige do orador empenho e arte, pois, diante de uma questão, o
orador, no ato retórico, irá - sempre - movimentar razão e emoção se
o propósito é estabelecer acordos pela demonstração do verossímil.
Quando há tensividade retórica, o orador, num contexto em que se situa
uma questão, precisa persuadir e, para realizar esse intento, necessita,
como afirma Aristóteles (Retórica, I, cap. II), encontrar as provas de
persuasão fornecidas pelo discurso, que são de três espécies: umas
18 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
A pergunta retórica
Em 1983, quando os tempos eram mais felizes,
havia carnaval, festas populares e proximidade
humana sem susto ou medo de vírus, pragas e pestes,
Caetano Veloso fez ecoar pelo Brasil os versos
de Mestrinho e Didi: “Diga, espelho meu, se há
na avenida alguém mais feliz que eu”. A interrogação é indireta.
O orador, porém, não pretende uma resposta: quer, sim, evocar o
espelho como um símbolo tradutor de verdades agradáveis ou cruéis
e faz-nos apenas uma “pergunta retórica”: aquela que não solicita
uma resposta do auditório, pois pretende estimular a reflexão,
chamar a atenção para um estado de coisas ou modo de ser. O orador,
então, já sabe a resposta e, nesse caso, apenas acentua uma proposta
de reação negativa ou positiva sobre um evento do mundo. Esse
tipo de pergunta sem interrogatividade efetiva surge no ato retórico
meramente para reforçar uma ideia sobre algo ou alguém com
objetivo de movimentar as paixões do auditório. Pretende, enfim,
moldar, pelo pathos, um princípio valorativo do mundo. Nesse
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 19
A questão retórica
O verso cantado por Caetano tematiza a felicidade e nos
permite discutir a natureza da quaestio em retórica, as estratégias
patéticas responsivas exercidas sobre o auditório quando o ato
retórico discute a felicidade como valor inalienável do ser humano.
Quaestio é a palavra latina correspondente a pergunta,
interrogação. Liga-se a quaerere, que significa “procurar, indagar,
investigar”. Em Retórica, a quaestio realça o alvo de análise, o que
se procura desvendar e é propulsora de uma discussão. Relaciona-se
também com “perquirere” (intensificativo per- mais quaerere): indagar,
buscar com afinco. A questão, enfim, estimula o desejo de desvendar um
problema. No dizer de Campbel, Huxman e Burkholder (2015, p. 90),
é um “ponto fundamental na disputa, é crucial na tomada de decisão ou
na seleção de um curso de ação”. Para Tringali (1988 p. 48), a “máquina
retórica só se movimenta quando instigada por uma questão”.
Ao compor a canção que abre este texto, Mestrinho e Didi
lançam uma “pergunta retórica” (Há na avenida alguém mais feliz que
eu?), mas não pretendem elaborar uma “quaestio”. Transmutados em
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 21
Questões de valor
Nos discursos públicos em geral, é sempre possível criar uma
questão polêmica, denominada “de valor”, que provoca respostas
elaboradas sobre o que é bom, desejável e útil, ético e moral. Oradores
que elaboram questões de valor preocupam-se com a reação patética
dos ouvintes, pois a intensidade e profundidade da questão evoca graus
de medida ou de adesão ou de hostilidade do auditório. Uma questão
de valor pode causar discórdia profunda ainda que seja elaborada de
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 23
CARACTERÍSTICAS DO ETHOS
PHRONESIS ARETÉ EÚNOIA
sabedoria Virtude benevolência
competência Confiabilidade amabilidade
credibilidade determinação firmeza
discernimento Equanimidade cortesia
prudência Franqueza indulgência
ponderação Tolerância Delicadeza
praticidade Integridade Obsequiosidade
racionalidade Simplicidade Passionalidade
razoabilidade Sinceridade Solidariedade
Elaborado por componentes do Grupo ERA (Grupo de Estudos Retóricos e
Argumentativos), da PUC-SP (2019)
Questões de fato
Nas lides judiciais, a preocupação com a apuração da
verdade normalmente traz à tona questões de fato, uma vez que
demandam repostas que ofereçam evidências e, a partir delas,
caminhos racionais de interpretação. Nesse caso, como afirmam
Campbell, Huxman e Burkholder (2015), quando um orador propõe
uma questão de fato, “os problemas se concentram na qualidade,
precisão e adequação das provas”. Um exemplo de questão de
fato em nossos dias poderia ser: “Se considerarmos a quantidade
de brasileiros já afetados pela Covid-19, é prudente manter o
isolamento social, a despeito dos prejuízos causados à Economia
do país?”. Uma resposta para essa questão vai impor considerações
interpretativas sobre evidências estatísticas e reais. O auditório
precisará evocar a qualidade, a precisão e a adequação das provas.
Nesse caso, ainda que o ethos do orador seja importante, ressalta-
se o logos, com suas ferramentas de análise racional dos fatos do
mundo. As questões de fato exigem que orador e auditório, diante
de um fato polêmico, encontrem um objetivo comum e determinem
uma política de solução que permita alcançar resultados positivos e
imparciais para a solução de um problema.
Questões políticas
Por fim, os autores citam as questões políticas. A ênfase está
na adequabilidade da resposta e envolve o auditório de modo mais
objetivo nas decisões sobre o que deve ser feito ou não. Por trás
das questões políticas há uma outra, primeira e sempre presente:
“Convém?”. A decisão se projeta sobre o tempo, que é o futuro, e a
complexidade da questão não raro exige que se misturem respostas
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 25
ao bem da alma que só pode ser atingido por meio de conduta tão
justa quanto virtuosa. Estudos contemporâneos, como os de Dinucci
(2009), resumem a posição eudaimônica socrática em três princípios:
a) busca a própria felicidade em todas as ações racionais; b) procura
a felicidade em si própria; c) indaga qualquer ação racional em prol
da felicidade. Para Sócrates, então, a felicidade é produto da virtude
e da racionalidade. Esse conceito de felicidade, naturalmente, não
está ligado ao de prazer ou dor, mas ao bem e o mal. Lembremos
ainda que, para Sócrates, a prática da filosofia habilita o homem
à felicidade, ou seja, a ação humana requer uma relação entre o
autoconhecimento, o conhecimento (episteme) e a virtude (areté)
para atingir a felicidade (eudaimonia).
Aristóteles (384-322 a.C.) também centra a eudaimonia na
excelência da ação humana, a mediania, aquela que é virtuosa por
ser a justa medida. A ação virtuosa se esquiva dos vícios e promove
a ação prudente, capaz de levar à felicidade. Nos cinco primeiros
capítulos do livro I de Ética a Nicômaco, o estagirita relaciona moral
e caráter como condição necessária para a conquista da felicidade,
vista como o maior bem desejado pelos homens e o fim último
das condutas humanas. O filósofo reflete também sobre a natureza
do Bem – aquilo a que todas as coisas tendem (ARISTÓTELES,
1973) – e tem por objeto a Política, cujo estudo é regrado pela Ética,
porque todas as ações belas e justas admitem uma imensa variedade
de opiniões úteis a um homem que age de acordo com um princípio
racional. Sob esse ângulo, agir passionalmente e não ter experiência
dos fatos da vida são elementos impeditivos para a plena conquista
da felicidade. Nessa visão teleológica, é preciso determinar qual o
fim da natureza humana, ter clareza de como se constitui o bem, o
prazer, a virtude, a felicidade e separar, por exemplo, o bem em si
mesmo daquilo que é útil. Para todas as coisas há um fim e, segundo
o filósofo, esse fim deve ser o Sumo Bem, aquele que merece ser
buscado em si mesmo. O Sumo Bem é absoluto e incondicional, é o
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 31
6
BUARQUE, Cristovam. Felicidade e Política. Senado Federal, Brasília, maio 2012,
p. 18-19. Disponível em: www.senado.gov.br_cristovambuarque_arquivos. Acesso em:
29 abr. 2020, grifos do autor.
36 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
7
Disponível em: https://www.brasil247.com/brasil/pec-da-felicidade-e-para-rir. Acesso
em: 30 abr. 2020.
8
Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-politica/2608146.
Acesso em: 30 abr. 2020.
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 37
Conclusão
Perguntas retóricas, questões retóricas e planos de felicidade
explicam o caráter sociocultural da retórica e sua dimensão
instrumental de exercício da cidadania que, segundo Amossy
38 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Introdução
Este capítulo tem por objetivo mostrar como os elementos da
linguagem propiciam ações de polidez (positiva ou negativa), com
possíveis conflitos verbais, entre diferentes interactantes em espaços
sociais. A análise pretende verificar se os gêneros votação oral e
exposição de sala de aula realmente atendem aos objetivos a que se
destinam e analisar categorias linguísticas recorrentes que suavizem
ou intensifiquem conflitos entre os interlocutores.
O trabalho envolve os Estudos Conversacionais e os Textuais:
os primeiros, por analisar expressões linguísticas que mantêm ou não
a face dos interlocutores; os segundos, por interpretar os referenciais
inseridos nos gêneros analisados, os quais vão requerer dados
cognitivos, reelaborados da realidade ou mesmo negociados para
sua efetivação, completando-se com os primeiros para a transmissão
das informações empáticas ou não.
Desse modo, é a Análise da Conversação a área do
conhecimento voltada à análise de dados empíricos verbais e não
verbais durante o processo conversacional; os estudos referenciais
tomam os elementos linguísticos não como objetos do texto, mas
40 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Os Estudos Conversacionais
Na linha dos Estudos Conversacionais, merecem destaque
Garfinkel (1967), Sacks, Schegloff e Jefferson (2003), centrados na
perspectiva etnometodológica, na década de 60, bem como Marcuschi
([1986] 2003, 2008), o introdutor dos Estudos Conversacionais no
Brasil e o expoente em pesquisas voltadas à oralidade. Além desses
autores, citam-se Galembeck (1993), Preti (1993), Santos (1999,
2013), entre outros, que se dedicaram à análise da oralidade nas suas
especificidades por meio de categorias linguísticas observadas na
conversação entre falantes de Língua Portuguesa.
As análises conversacionais, antes apenas centradas em
aspectos ligados à estrutura e organização conversacionais, tiveram
outros enfoques com atuações interpretativas, voltadas ao estudo dos
gêneros, com veiculações em outras áreas do conhecimento como
a Sociolinguística Interacional, Pragmática, Linguística Textual,
Análise do Discurso, entre outras, bem como a linha do Letramento.
Em todas essas áreas do pensamento, as manifestações linguísticas
operam significados que geram sentidos nas conversações
espontâneas, a exemplo dos corpora (gêneros discursivos diferentes),
selecionados para este trabalho.
Segue-se uma linha de investigação sociointeracionista, que
é orientada pela perspectiva discursiva e interpretativa dos dados
empíricos analisados. Assim, trata-se de uma atividade interativa
face a face, enquanto formulação textual-discursiva, que exige
dos interlocutores uma cooperação que facilite esse processo em
suas especificidades. Em todos os gêneros discursivos do trabalho,
a interação acontece presencialmente, de maneira face a face: a
exposição de sala de aula, o professor mantém-se na situação de
professor (distância social) para transmissão de saberes; e a votação
oral, o falante (deputado votante está numa câmara de deputados
votantes), de maneira presencial. Em todos esses gêneros, fez-se um
42 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Os Estudos Textuais
Quanto aos estudos do texto, inseridos na Linguística Textual,
esta reflete uma área concebida num âmbito multidisciplinar,
processual, funcional e dinâmico (MARCUSCHI, 2008), com base
numa visão de língua como um sistema situado historicamente
e como uma prática social, cognitiva e interativa. Nessa linha de
percepção, contempla não apenas o funcionamento da língua e da
interação humana, mas também a diversidade de contribuições
teóricas, ao longo de sua trajetória.
Neste trabalho, categorias textuais acontecem na conversação
entre vários interactantes e constituem, assim, o processo de
textualidade dos gêneros discursivos e fazem com que sejam as
conversações pautadas pela polidez, e suas temáticas coerentes
e informativas, muitas vezes, com referências intertextuais e
referentes sociodiscursivos.
As grandes contribuições textuais para este trabalho fazem
remissão a categorias relacionadas à construção de imagens paralelas
(paralelismo sintático e semântico), isto é, à produção de ideias
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 45
Aspectos metodológicos
Este trabalho segue a linha qualitativa; explica-se assim
pelo fato de o pesquisador não dispor de dados preparados
aprioristicamente, mas com aqueles que são estudados no percurso
48 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
As análises
Conforme foi salientado, a exposição oral e a votação oral,
foram analisadas sob a perspectiva dos Estudos Conversacionais e
Textuais, atribuindo-lhes destaque quanto ao conceito de cortesia,
pois não se pode atribuir as caracterizações de cortês e descortês a
expressões, sem que sejam observados o contexto e as razões por
que foram emitidas. Nesse sentido,
você vai ter um grande grupo de todos os consumidores com capacidade instalada com
potência instalada di até cinqüenta mil watts ou cinqüenta quilowatts estes consumidores
estão ligados necessariamente na rede ... secundária da CEAL ... ela é composta por três
fios e um quarto de fio o superior que é o que nós chamamos de condutor neutro ...
esses três fios inferiores são os condutores fásicos a b e c tá? vocês vejam como eu falei
no esquema da aula passada que foi colocado por mim na aula anterior e somente uma
colega respondeu respondeu e estava com o caderno aberto não era? que estava com
o apontamento? vocês não têm isso na cabeça não é? então na prova vocês vão querer
decorar isso de um dia pra outro então vão dizer que Nazaré é que está 60 ficando carrasco
... é que está cobrando coisas que vocês é :: queriam ter isso no caderno muita norma e
por que decorar? eu concordo até que estando no papel a gente não precisa decorar isso na
vida prática muita coisa que na vida prática a gente é ... não vai como na teoria não é? mas
eu vou exigir inclusive esses conhecimentos que por favor comece a ler a decorar as
tabelas para depois que vocês não terem aborrecimento ( ) de uma nota não muito boa.
Considerações finais
As manifestações verbais e não verbais que autorizam a
interpretação da presença de ações da polidez positiva ou negativa
entre os interactantes exercem um papel muito importante nas
relações sociais com abrangência em vários ambientes, como o
pedagógico, o político, o religioso, entre outros. Se, por um lado,
tem-se a polidez negativa pela formulação de maneira indireta de atos
de fala (KERBRAT ORECHIONI, 2006), a exemplo de perguntas
56 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
com ares de reprovação; por outro, aparece a positiva com atos não
ameaçadores, como os votos de boas vindas, entre outros exemplos.
Pela sua constituição, os dois tipos se contrapõem, no entanto,
ambos necessitam de um contexto para que se infira realmente a sua
verdadeira designação.
Quanto às perguntas elaboradas no início do trabalho, seguem-
se as ponderações acerca da problemática de cada uma delas. No que
diz respeito aos objetivos a que se destinam os gêneros estudados
(votação oral e exposição oral), na modalidade falada, infere-se
que cumprem sua função social, pois, ensejam a argumentação
por ocasião da temática tratada entre os interactantes nos diversos
espaços sociais.
A segunda pergunta relaciona-se à existència ou não de
categorias linguísticas que suavizam ou intensificam a possibilidade
do surgimento de conflito entre os interactantes no uso dos gêneros
discursivos empregados. Nesse sentido, enfatiza-se o uso dos
pronomes de tratamento que, em determinada situação, a exemplo de
“Senhor Presidente” (votação oral) impregnava clima respeituoso,
mantendo a polidez positiva; no entanto, em outro momento, em
“Senhor”, no discurso da presidente (votação oral) já assumia uma
função de crítica, de desdém e de ameaça. Não se pode afirmar a
priori quais palavras ou expressões linguísticas designam polidez
negativa ou positiva, mas sim após as inferências de interpretação
dadas pelo contexto.
Enfim, quanto à questão alusiva àquelas categorias que foram
mais constantes na negociação do sentido com preservação ou não
da polidez, com possibilidades ou não de conflitos verbais, foram
as marcas conversacionais e as textuais, com especial atenção ao
uso do paralelismo sintático e semântico por possibilitarem um bom
ritmo na emissão das ideias pelos interactantes (professor e político
votante) para prenderem a atenção dos outros interlocutores ao que
está sendo exposto.
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 57
Introdução
Há diversos estudos que exploram o gênero textual resumo em
múltiplas abordagens e perspectivas, como um recurso fundamental
ao processo de ensino e de aprendizagem, a exemplo dos autores que
serviram de base à construção deste capítulo. Isso não significa que
a prática de resumos, sobretudo o escolar-acadêmico, seja apenas
papel da escola ou da universidade, posto que outra importante
função da escola é contribuir à formação de sujeitos autônomos no
ensino da leitura e da escrita, com vistas aos seus usos sociais9.
Desse modo, intenta-se que tal prática ultrapasse os limites da
sala de aula, pois é possível que se torne, por um lado, uma atividade
cotidiana requerida ao estudante que pretende ser aprovado num
processo seletivo de universidade ou num concurso público, num
exame de admissão em alguma empresa pública ou privada, seja
para um cargo efetivo, seja para estagiário. Por outro lado, pode ser
9
Nesse tocante, concorda-se com Machado (2003), ao afirmar que a Norma NBR 6028,
da Associação Brasileira de Normas Técnicas, aponta exclusivamente os resumos
científicos como modelo, quando resumir textos, de fato, não se restringe apenas aos
membros de uma comunidade científica.
60 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Tipos de resumo
É possível elucidar aqui duas tipologias de resumo, de maneira
que ambas confluem, traduzem a escolha de um resumo coerente/
adequado a uma proposta e devem conter correção gramatical e
léxico adequado à situação escolar/acadêmica, verbos na voz ativa
ou passiva e na terceira pessoa ou primeira pessoa do plural – a
depender do estilo do autor e da perspectiva teórica que este assuma
–, seleção das informações colocadas como as mais importantes
no texto original, indicação de dados sobre o texto resumido, no
mínimo autor e título, apresentação das principais ideias do texto
e de suas relações, menção ao autor do texto original em diferentes
Fonte: SANTOS, Wilma Kelly Gomes dos; VIEIRA, Luzia. Dialogando com
anúncios publicitários: gêneros textuais no ensino da intertextualidade. Anais/
Resumos da 70ª Reunião Anual da SBPC, Maceió, 22 a 28 de julho de 2018.
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 73
Fonte: SANTOS, Wilma Kelly Gomes dos; VIEIRA, Luzia. Dialogando com
anúncios publicitários: gêneros textuais no ensino da intertextualidade. Anais/
Resumos da 70ª Reunião Anual da SBPC, Maceió, 22 a 28 de julho de 2018.
74 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Considerações finais
O presente capítulo teve por objetivo explicitar algumas
reflexões teóricas acerca do gênero textual resumo, além de
esclarecer pontos importantes no processo de caracterização da
sua tipologia, com o intuito de mostrar a estudantes, professores
e graduandos especificidades que cada tipo de resumo exposto
apresenta em sua estrutura retórica, observando o propósito com
que se escreve. Isso pode contribuir, em alguma medida, para
sanar um problema, saber qual a tipologia conveniente ao contexto
de aplicação do gênero, além de possibilitar a sistematização e o
encontro dos seis tipos – entre os quais dois são sinônimos (resumo
informativo e abstract/acadêmico).
As dificuldades em resumir textos são resultantes da
complexidade do texto (vocabulário, estrutura sintática, relações
lógicas) e das competências de quem resume o texto (FIORIN;
SAVIOLI, 1990), quer na produção efetiva do gênero, quer do tipo
textual (narrativo, descritivo, dissertativo de natureza expositiva
ou argumentativa). Incluem-se, nesse contexto, as competências
comunicativas, nos níveis situacional, discursivo, semântico e
semiolinguístico (GOUVÊA; PAULIUKONIS; MONNERAT, 2017).
Isso é uma questão que precisa ser pensada, refletida, sobretudo,
porque se o produtor textual não dispõe do conhecimento prévio
necessário, para estabelecer inferências e links com pontos que não
estão explícitos no texto, a compreensão deste será comprometida.
Nesse sentido, não há uma fórmula, uma regra ou um modelo
padrão e fixo para resumir; o que há são princípios que norteiam ou
orientam o uso dessa técnica, pois a seleção ou o apagamento das
82 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Introdução
Este capítulo insere-se nos estudos retóricos da linguagem,
numa vertente mais moderna, a chamada Nova Retórica. Intenta-se,
em linhas gerais, proceder a uma análise acerca de figuras retóricas
utilizadas no gênero debate regrado, no contexto de sala de aula, a
fim de mostrar como essa categoria da Retórica Moderna objetiva
persuadir outro participante durante o debate. Busca responder aos
seguintes questionamentos norteadores: De que maneira acontecem as
tentativas de persuadir no gênero debate regrado? Como os oradores
utilizam as figuras retóricas no gênero debate regrado? A busca por
respostas é o que fundamenta o interesse em realizar o presente estudo.
O fragmento elencado para a análise foi extraído do corpus
de uma pesquisa de Mestrado em Linguística, intitulada “Uma
abordagem retórica do gênero debate em sala de aula”, realizada por
Soares (2017). Dos 6 debates que constituem o corpus, selecionou-
se um, de onde se retirou um fragmento para compor a análise deste
capítulo. Assim, não houve uma pesquisa de intervenção ou uma
busca de material em campo, mas a efetivação de um estudo, a partir
de um corpus já constituído.
84 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Ver o trabalho de Silva (2018) sobre o debate regrado político brasileiro televisivo,
12
Considerações finais
Este capítulo teve como principal objetivo realizar um estudo
acerca do uso de figuras retóricas no gênero debate regrado no
contexto de sala de aula. A partir da análise empreendida, percebeu-se
que os oradores recorreram às figuras retóricas para tentar persuadir
o auditório particular. Quanto à tipologia das figuras, verificou-se
que apareceram as seguintes: antítese, paradoxo e alusão (figuras de
pensamento); anáfora e epístrofe (figuras de construção). No tocante
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 101
Introdução
Este capítulo analisa as tentativas de persuadir no debate
político televisivo das eleições presidenciais brasileiras de 2014.
Essas tentativas ocorrem por meio de um fenômeno retórico-
linguístico aqui denominado de persuasão textual, uma vez que é,
a partir do texto e suas nuances, que a ação persuasiva surge. Para
delimitar a análise retórica e textual, foram levantados pressupostos
teóricos sobre a projeção de ethos e os argumentos utilizados pelos
debatedores/retores. A partir disso, fez-se a análise de três tentativas
de persuadir, seguindo os métodos da pesquisa qualitativa com texto
e retórica, fundamentados em Bauer e Gaskell (2015).
Dessa observação, contatou-se que o acordo prévio é
criado discursivamente durante o debate televisivo. Além disso,
essa negociação trata dos valores aceitos por grande parte do
auditório televisivo, principalmente aqueles considerados indecisos.
Entretanto, muitas dessas dúvidas que o auditório tem são sanadas no
intercurso do debate, já que, além de ser persuasivo, o debate é um
gênero de caráter, ocasionalmente, informacional. Essas informações
apresentadas no debate são, por sua vez, os fatos sociais críveis por
cada debatedor e seu provável auditório social.
104 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Tentativas de persuadir
A expressão tentativa de persuadir se justifica por dois
fatores: o primeiro é que, neste trabalho, não foram adotados
métodos de percepção das reações do público, dado à universalidade
do auditório do debate e o próprio alinhamento da pesquisa, que
se direciona para os elementos em imanência no texto; o segundo
fator é que toda ação textual-discursiva é um empreendimento
persuasivo, ou seja, não se pode ter garantias que, de fato, somente
determinados recortes textuais foram capazes de mover o auditório
para uma mudança de comportamento ou uma ação aos moldes
de quem argumentou. Assim, a partir das transcrições dos dados
orais do debate, juntamente com os comentários da transcrição
quanto aos elementos não verbais, foram interpretadas as ações
retóricas dos debatedores das eleições presidenciais brasileiras
de 2014.
O que se sabe de antemão, dada a execução de pesquisas
anteriores pelo Grupo de Estudos do Texto e da Leitura (GETEL/
UFAL), é que as tentativas de persuadir se manifestam por meio
de argumentos que, por sua vez, se tipificam em dois grandes
grupos/objetivos: aqueles que visam contrariar as teses e opiniões
adversárias e os que objetivam a promoção e/ou a desqualificação
do ethos. Esses dois procedimentos das tentativas de persuadir serão
detalhados nas próximas subseções.
Ethos retórico-discursivo
O questionamento relacionado ao fato da maneira como
o debatedor deve se portar diante de um público que ele pretende
persuadir gerou e tem gerado estudos sobre argumentação e
manipulação no discurso. O interesse deste estudo reside no aspecto
da argumentação que pode ser fortalecida pela imagem que o
enunciador/retor projeta ao discursivizar o que pensa e defende,
108 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Argumentos persuasivos
Argumento é um esquema que permite defender/refutar uma
tese. Os gregos antigos entendiam que argumentar era uma prática
da natureza humana, por isso era essencial defender-se com palavras,
evitando a força/violência para conseguir algo. Os argumentos,
portanto, servem para um objetivo específico de cada orador, porém
dada a infinidade de propósitos com os quais a sociedade lida, os
argumentos também são numerosos. Diante disso, neste recorte de
trabalho, deu-se ênfase apenas naqueles argumentos ditos persuasivos
para o debate político, a exemplo dos de natureza do contraditório,
como o de incompatibilidade, retorsão e antimodelo, e, também, os
que enfatizam a projeção do ethos, como o modelo, quantidade e
regra de justiça.
Além desses argumentos citados, os argumentos quase
lógicos também serão detalhados, uma vez que eles apresentam uma
notável saliência nos debates políticos de segundo turno, conforme
Silva e Santos (2019). Esses argumentos são denominados de quase
lógicos pela sua semelhança com a lógica formal e a demonstração.
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 111
Por esse motivo, a pessoa que faz uso desse tipo de argumento “se
prevalece [...] do prestígio do raciocínio rigoroso” (PERELMAN;
OLBRECHTS-TYTECA, 2014, p. 220). Dessa maneira, seu
argumento será superior porque se ampara na razão.
Há dois grupos de argumentos quase lógicos: “os que
apelam para estruturas lógicas – contradição, identidade total ou
parcial, transitividade” e “os que apelam para relações matemáticas
– relação da parte com o todo, do menor com o maior, relação
de frequência” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2014,
p. 220). A partir desses esquemas argumentativos, surgem outros
argumentos já conhecidos, como a retorsão, a ironia, a regra de
justiça etc.
A seguir, há um quadro com os tipos de argumento aqui
analisados e suas respectivas funções:
Dessa maneira,
Persuasão textual
Os argumentos, o ethos, o acordo e os fatos sociais são
percebidos somente por intermédio do texto. Por essa razão, a
persuasão tem por natureza a linguagem humana e reside em todo
texto que tenha potencial persuasivo, daí decorre a concepção de
entendê-la como persuasão textual.
A persuasão como fenômeno retórico e linguístico “é tarefa
delegada aos retores que vão alinhar sentimentos que permitam mover
ações de um determinado auditório” (SILVA; SANTOS, 2019, p. 59).
O espaço em que se expressam sentimentos e se defendem ideologias é
o texto, por isso, a persuasão sempre o terá como suporte. Além disso,
as ações no mundo são movidas por discursos, que fazem a gestão
sobre o que é mais ou menos preferível, provável e aceitável. Assim,
pode-se compreender que, de fato, o texto move ações na sociedade,
independente do gênero textual que ele esteja projetando.
Desde a antiguidade grega, a persuasão era tida como
objetivo dos discursos retóricos. Entretanto, “ela é mais que
uma simples finalidade da ação retórica (persuadir) ou um meio
de obter consentimento do outro sobre certas ideias” (SILVA;
114 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Análises
Na pesquisa qualitativa, este estudo definiu como objetivo
interpretar as tentativas de persuadir dos debatedores políticos das
eleições presidenciais brasileiras no ano de 2014. Entretanto, para fazer
tal estudo, com a ancoragem teórica da Retórica e dos Estudos Textuais,
necessitou definir uma análise interpretativa, que se deu a partir dos
fatos elencados nas falas dos debatedores, denominados RA (Retor A)
e RB (Retor B). Assim, este estudo processual e que não faz análises
quantitativas, de recorrência e comparações (BAUER; GASKELL,
2015) parte do pressuposto que, de fato, todo enunciado é argumentativo,
por isso eles dão margem à análise dos recursos que evidenciam ou não
atuação da Retórica no texto transcrito de debate político televisivo.
Aqui, foram selecionadas três tentativas de persuadir,
contextualizadas e permitindo a compreensão da temática abordada. O
foco geral está na atuação da persuasão textual, por meio dos argumentos
que favorecem a projeção de ethos e a instauração do contraditório.
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 115
Tentativa de persuadir 1
RA – candidato... o Brasil... é um país... que se destaca hoje no mundo... pelo
fa::to de ter criado miLHÕES de empregos... nós não só criamos empregos...
como também... tivemos um aumento significativo... do -- da renda... neste...
mês de setembro... um e meio por cento real... o senhor concorda... com o que
fala... o seu candida::to a ministro... da fazenda... que diz... que o salário
mínimo está alto demais? (00:08:15 - 00:08:47. PERG. 2; DEBATE 4 – 2T).14
sobre essa pergunta seria: RA, o senhor concorda com essa medida
prejudicial à população que ganha salário mínimo? Em outras
palavras, o Retor A quer saber se o Retor B defende o posicionamento
de um possível antimodelo (ministro da fazenda) para o auditório
que provavelmente está em desacordo com a opinião do ministro.
Assim, o argumento pelo antimodelo requer, de certo modo,
um acordo prévio entre retor e auditório, por isso que o Retor A,
ao conhecer que tal medida anunciada pelo ministro do opositor
seria nociva ao público, faz uso do argumento do antimodelo para
fragilizar o ethos de RB.
Além disso, o Retor A faz uso do argumento de
quantidade em: “o Brasil... é um país... que se destaca hoje no
mundo... pelo fa::to de ter criado miLHÕES de empregos”; fica
evidente o quanto esse elemento retórico subsidia a projeção de
virtudes do ethos do retor A.
Esses dois argumentos utilizados: o antimodelo e o de quantidade
possuem características semelhantes no que diz respeito à simplicidade
de percepção pelo público em geral, por reconhecer que uma ação/pessoa
não deve ser imitada e os vultosos investimentos de um determinado
candidato é um processo simples, gerando uma aceitabilidade das teses
defendidas pelo debatedor que apresenta esses argumentos. Entretanto,
o antimodelo se situa formalmente na contradição e tem cunho afetivo,
por instruir quanto às paixões e aos valores do público.
Desse modo, o antimodelo seria um argumento que divide
espaço entre racionalidade e emoção. O aspecto racional de sua
construção reside na contestação de um comportamento por meio de
exposição de fatos e o racional na sugestão do que é preferível para
o público, apelando para condutas morais que, por sua vez, estão
arraigadas na cultura do auditório social.
O argumento de quantidade é inicialmente lógico e com
aspecto demonstrativo, por isso se situa nos argumentos quase
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 117
Tentativa de persuadir 2
RB – candidata... não é justo colocar palavras nas bocas... de quem não está aqui
anh... para respondê-la... eu tenho orgulho... enorme... do meu... candidato a
ministro da fazenda... a senhora parece que não tem do seu... até porque já demitiu...
o atual ministro da fazenda... mas o Brasil candidata... é visto sim pela comunidade
internacional como um dos países que menos cresce na nossa região... temos uma
taxa de investimentos hoje de dezesseis e meio por cento do PIB... a pior da década...
porque o se::u governo afugentou os investimentos... e a inflação infelizmente está de
volta... a situação do Brasil... é extremamente grave candidata... e é preciso que/o
seu governo... reconheça isso... porque os merca::dos... outros países... os brasileiros
já... reconhecem... o governo do do P... e o governo da candidata D. R... fracaSSOU
na condução da economia... pois nos deixará... uma inflação saindo de controle... por
mais que ela não a reconheça... um crescimento pífio... fracassou na gestão do estado
nacional... o Brasil é hoje um cemitério de obras abandonadas... inacabadas... e com
sobrepreços... e FORtes denúncias de desvios... por toda a parte... e fracassou na
melhoria dos nossos indicadores sociais... lamentavelmente candidata... esse é o retrato
do Brasil real... não é... o retrato do Brasil da propaganda... do seu marqueteiro...
mas nós... vamos muito mal na saúde... ou a senhora acha que vai bem?... vamos mal
na segurança pública... com uma omissão criminosa do Governo Federal... e vamos
muito mal na educação... a senhora será... a primeira Presidente da República... pós-
plano real... que deixará o país com uma inflação maior:: do que aquela que recebeu...
(00:08:48 - 00:10:21. RESP. À PERG. 2; DEBATE 4 – 2T).
118 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Considerações finais
A grande maioria dos argumentos aqui estudados se situam na
incompatibilidade, na discordância dos fatos, nas crenças, as quais o
provável auditório possui e no posicionamento político e ideológico
do partido a que os debatedores pertencem. Entretanto, mesmo no
movimento do contradiscurso, há projeção e desconstrução das
imagens retórico-discursivas (ethos) dos debatedores. Ademais,
quando fora afirmado que a persuasão textual necessita do ethos do
retor, dos argumentos produzidos por ele e do acordo social do
público, volta-se para a inevitável tríade aristotélica: ethos, logos e
pathos. Dessa forma, a análise de categorias retóricas nunca deve ser
feita fora do seu sistema, uma vez que a tríade argumentativa (ethos,
logos e pathos) sempre está atuando sobre as argumentações, sejam
elas de teor político, jurídico, educacional etc.
Com esta análise, ficaram evidentes três observações gerais:
a) o debatedor (retor) deve construir um acordo inconsciente com o
seu auditório; b) esse acordo está sedimentado nos valores defendidos
pela média dos componentes de cada auditório; e c) o auditório do
debate político (auditório universal) acredita em fatos.
Aqui, portanto, fez-se uma aproximação entre fato social
e argumento. Entretanto, os fatos, na verdade, evidenciam os
argumentos; mas nem todo argumento pode ser considerado um
fato, uma vez que ele pode trazer mais de um, pode também não se
sustentar em um fato ou pode fazer uma ficção/exemplo/alegoria/
comparação etc.
Dada essa complexidade em fazer uma análise exaustiva
dos argumentos e dos fatos válidos pelo auditório social do debate
político televisivo, este recorte respondeu suficientemente aos
questionamentos iniciais da seguinte forma: a) os argumentos estão
situados no contraditório e na projeção de ethos porque são as
possibilidades disponíveis ao debatedor, dado o público do debate
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 121
Introdução
O presente capítulo analisa processos referenciais no debate
político, atentando para a forma como esses processos contribuem
para a construção da textualidade e da argumentação nesse gênero
oral. Para isso, promoveu-se uma discussão sobre a referenciação,
no que concerne aos seus conceitos e às suas evoluções nos
estudos da Linguística Textual; tratou-se especificamente sobre
os processos referenciais em estudo; discutiu-se sobre alguns
aspectos argumentativos da referenciação; buscou-se discutir
sobre o gênero debate político televisivo, atentando para sua
caracterização e definição; apresentou-se a metodologia utilizada
para o desenvolvimento deste trabalho. Finalmente, foram dispostas
as análises do corpus e dispôs-se a conclusão do estudo.
Este estudo adveio de um trabalho de mestrado, concluído
em 2018, intitulado “A referenciação no debate político: processos
referenciais na construção do sentido”, desenvolvido no Programa
de Pós-Graduação em Linguística e Literatura, da Universidade
Federal de Alagoas. Nesse sentido, este capítulo traz contribuições
importantes no campo da Linguística Textual, por analisar
124 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Entende-se por realidade aquilo que existe de forma efetiva, ancorada naquilo que um
16
Argumentação no debate
Como se viu no tópico anterior, a referenciação é um
fenômeno plurifacetado que não se reduz, portanto, às retomadas de
referentes, já que pode atuar de maneira argumentativa em um texto,
sobretudo nos gêneros argumentativos, como é o caso do debate
político televisivo. Isso mostra que, ao se falar em argumentação na
língua, pode-se ir além da ideia de que a força argumentativa de um
texto só pode ser dada pela sequenciação (fenômeno da coesão que
atua na progressão e argumentação textuais por meio de operadores
lógicos e argumentativos).
Nesse sentido, é interessante ver como a língua dispõe de
formas e processos textuais para atuar argumentativamente em textos,
uma vez que a linguagem é efetivamente argumentativa (KOCH,
2012), pois “os indivíduos produzem textos com determinados
objetivos a serem alcançados e sempre direcionados a alguém, afinal,
ninguém se comunica sem um propósito e sem a existência do outro”
(SANTOS J.M.; SANTOS M.F.O., 2018, p. 211).
ORALIDADE, RETÓRICA E TEXTO 131
Método de pesquisa
Este trabalho se enquadra na linha de estudos qualitativos,
pois o estudo se voltou à análise interpretativa dos dados, cujo
objetivo fora a atribuição de sentidos ao corpus (CAJUEIRO, 2013).
Por não se valer da quantificação, mas sim da funcionalidade dos
processos referenciais no debate, este estudo seguiu de forma flexível
e dinâmica (MOREIRA, 2002).
Para compor o corpus da pesquisa, selecionou-se um debate
político televisivo entre os nove ocorridos nas eleições de 2014
(do primeiro e do segundo turno) para a transcrição, a seleção de
fragmentos e a sua respectiva análise. Nesse sentido, foi selecionado
aleatoriamente o debate transmitido pela Rede Bandeirantes de
televisão no segundo turno. A transcrição seguiu uma adaptação das
normas de transcrição de Preti (2000) e Marcuschi (2003) e procurou-
se manter certa fidelidade à modalidade oral pelo fato de o debate
nela enquadrar-se. Assim, momentos de fuga ao padrão da língua
escrita foram mantidos para mostrar justamente as características da
língua falada (MARCUSCHI, 2010).
Em relação às análises, buscou-se averiguar a funcionalidade
dos processos referenciais discutidos anteriormente (anáfora indireta,
associativa, encapsulamento e recategorização) na constituição e
134 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Excerto 1
E2: mas a coisa vai bem?... claro que não vai... não vai em Minas... não vai em
parte alguma do BraSIL... foram cinquenta e seis mil assassinatos no ano passado... e o
governo federal?... o que diz?... terceiriza responsabilidades... essa é a marca principal
do seu governo... na econoMIA... o problema é da crise internacional /.../
Excerto 2
E2: /.../ eu sou imensamente grato:: a cada um... a cada uma... desses
companheiros... de lá para cá várias forças políticas extremamente importantes se
somaram a nós... agradeço... a cada uma delas... na figura de dois companheiros aqui
presentes... B A... candidato a vice... de M S... e W F... porta voz... da rede /.../
Excerto 3
E2: /.../ eu introduzi em Minas Gerais a me-ri-to-cra-cia... nós passamos
candidata... a remunerar melhor:: aqueles que apresentavam... melhores resultados... essa
foi a razão pela qual... nós tivemos os resultados que tivemos extremamente positivos
na educação... OUtros ahn na saúde... infelizmente... nenhuma proposta no campo da
valorizaÇÃO do servidor que presta serviço de boa qualidade... foi incorporado no seu
governo /.../
Excerto 4
E1: é... FUNdamental reforMAR os currículos... de TANto do ensino
fundamental... mas SOBRETUDO do ensino médio... por quê?... porque HOje...
uma pessoa que faz... as DOZE matérias... se for reprovada em UMA DELAS...
é obrigada... a repetir... TOdas as outras doze – as onze matérias... por exemplo...
ISSO vai levar a uma per::da de estímulo... a um NÍvel de evasão /.../
Considerações finais
Diante do que foi desenvolvido neste estudo, foi observado
que a referenciação encontrou-se manifestada no gênero oral debate
político televisivo e que os processos referenciais em análise atuaram
tanto na tessitura textual quanto na argumentação desse gênero, os
quais exerceram uma reconstrução dos objetos de discurso a partir dos
processos analisados (anáfora indireta, associativa, encapsulamento
e recategorização).
Dessa forma, por meio da anáfora indireta, viu-se como as
pistas co(n)textuais são importantes para a reconstrução de objetos
de discurso. Além do mais, esse processo referencial pode atuar
argumentativamente em enunciados dos debatedores, uma vez que,
como ocorreu nas análises, uma anáfora indireta pode reconstruir
o referente implícito por meio do uso de expressões nominais que
imprimem a opinião do candidato, que se utiliza disso para defender
seus pontos de vista ou contra-argumentar as ideias de seu adversário.
Por meio da anáfora associativa, constatou-se como um
referente pode ser retomado por subpartes que o retomam; observou-
se como o encapsulamento foi importante para a sumarização de
informações e segmentos textuais; com a recategorização, percebeu-se
como o referente pôde ser reconstruído a partir da visão de mundo do
debatedor, logo, a própria realidade foi reconstruída discursivamente.
Além disso, ao recategorizar um referente, o candidato (E2)
promoveu uma imagem de si para o telespectador, apresentando sua
opinião e visões de mundo em sua fala a partir das reconstruções
feitas nos objetos de discurso, argumentando a favor de suas ideias
ou refutando propostas de seu oponente.
Assim, com a atuação desses processos, viu-se como a
referenciação não se resume a retomadas, abrange um fenômeno
maior que transforma a realidade posta nos debates, como auxiliar
na instauração da textualidade e, sobretudo, na argumentação.
AS FIGURAS RETÓRICAS EM
TEXTOS/DISCURSOS ORAIS
NA ESFERA JURÍDICA
Deywid Wagner de Melo
Maria Francisca Oliveira Santos
Introdução
O que mais se utiliza na interação verbal no meio social é
o texto/discurso. Isso porque ao abrirmos a boca já produzimos
textos, conforme afirma Marcuschi (2003). Nesse sentido, o texto
é a ferramenta básica para a interação entre os sujeitos que, a todo
instante, buscam negociar suas verdades a fim de obter adesão,
ou seja, argumentam no intuito de iluminar o outro para que este
compreenda aquilo que defendem bem como aceitem o que se
propõem. Entretanto, os sujeitos apresentam diferenças, o que exige
mais esforço daquele que busca obter a almejada adesão.
Nesse jogo argumentativo, a Retórica surge como o bem
que serve aos sujeitos para convencerem ou persuadirem uns aos
outros, pois a Retórica é a arte de persuadir pelo discurso, conforme
Reboul (1998) argumenta. Para uma argumentação acontecer, há
algumas condições, como o acordo, por exemplo, que é quando
há quem queira falar e há quem aceita ouvir e interagir, sendo os
pilares constituídos pelo orador, auditório e pela argumentação
propriamente dita.
140 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Figuras de presença
Figuras de comunhão
Quanto às figuras de comunhão, elas remetem a um conjunto
de caracteres referentes ao acordo, à comunhão com as hierarquias e
os valores do auditório, pretendendo a participação ativa do auditório
na exposição. Entre essas figuras, destacam-se: a alusão, a citação e
os provérbios.
A alusão serve para criar ou confirmar a comunhão com o
auditório por meio de referências a uma cultura, a uma tradição, a um
passado comum entre o orador e o auditório. A alusão é um recurso
argumentativo que busca aproximar o auditório do retor, utilizando
um contexto compartilhado.
A citação aparece como outro recurso de comunhão. O orador
corrobora o que diz com o peso da autoridade e, assim, cria uma
relação de dependência do auditório ao texto citado. Como exemplo
disso, tem-se:
[...] Então… diz o seguinte um dos doutrinadores Roberto Silva Franco diz o
seguinte olha… o infanticídio é o crime da genitora… da ( ) é por a mãe que se acha sob
a influência do estado pós-operal…
Figuras de escolha
As figuras de escolha ocorrem quando um fato é selecionado
e contextualizado. Segundo Ferreira (2010, p. 128):
146 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Texto/discurso oral/gênero
As considerações feitas acerca das figuras retóricas
naturalmente acontecem em quaisquer tipos de texto, que se
concretizam em gêneros, como os da ação do narrar, do argumentar,
do descrever, do dialogar, enfim, em todos em que orador e auditório
discutam sobre uma temática, seu objeto de estudo, e estejam
intrinsecamente interligados pela categoria da interação. Dessa
maneira, é conveniente pensar talvez, numa ordem didática, em que
apareça inicialmente o discurso, caracterizado como o objeto do
dizer, representado por uma prática da linguagem, que se associa
também a uma prática social e institucional, localizada em tempo
determinado, necessitando para sua enunciação de participantes e de
sua situação sócio-histórica (MARCUSCHI, 2008).
Após isso, aparece a categoria do texto, não considerado como
antagônico a discurso, mas como elemento que reitera a ideia deste;
o que se pode dizer, pois, é que o primeiro acontece na enunciação,
enquanto o segundo, na configuração. Koch e Elias (2016, p. 16), em
se referindo a texto, enunciam que pensar nessa categoria “implica
considerar, além do conhecimento da língua, conhecimentos
enciclopédicos que compõem os frames ou enquadres, ou os nossos
modelos mentais”. Para que o texto e o discurso se efetivem, é
necessária a alusão a gênero, de estabilidade relativa em relação ao
momento histórico; é também uma “prática social e prática textual
discursiva” (MARCUSCHI, 2008, p. 84).
Além das considerações feitas neste trabalho, salienta-se que
as manifestações da linguagem se dão na modalidade de língua oral e
150 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
MP: ... a ARma de LV é um revólver calibre trinta-e-oito, senhores, que ele ( )... mas
a sociedade, senhores, e a ÚNICA arma que a sociedade tem a ÚNICA arma que
a sociedade dispõe É o poder de sentença É o conselho de sentença... é a resposta
que o conselho de sentença tem que dar a conDUtas como essa... é o conselho de
sentença que ao que ver e dizer NÃO aceitamos NÃO convivemos NÃO toleramos ( )...
qual o motivo que LEVA o que PASSA na CABEÇA na CONSCIÊNCIA da pessoa que
simplesmente dispara arma saca uma arma e dispara uma arma (num) ser humano? Ele
ESQUECE, senhores, que ALI ALI é uma vida ALI é um ser HUMANO, senhores,
AMADO como ele... um ser humano que tem o direito de erRAR tem o direito de
choRAR de soFRER de sorRIR... de LV/ pessoas como LV, senhores, NÃO TEM O
PODER, senhores, NÃO TEM O DIREITO de decidir quem ficará vivo quem morrerá...
porque ELE, senhores, ele quando bota o revólver calibre trinta-e-oito na cintura...
ELE é senhor de si... ELE DECIDE...
Fonte: corpora de Melo (2013)
MP: ... a ARma de LV é um revólver calibre trinta-e-oito, senhores, que ele ( )... mas a socie-
dade, senhores, e a ÚNICA arma que a sociedade tem a ÚNICA arma que a sociedade dispõe
É o poder de sentença É o conselho de sentença... é a resposta que o conselho de sentença
tem que dar a conDUtas como essa... é o conselho de sentença que ao que ver e dizer
Fonte: corpora de Melo (2013)
... qual o motivo que LEVA o que PASSA na CABEÇA na CONSCIÊNCIA da pessoa que
simplesmente dispara arma saca uma arma e dispara uma arma (num) ser humano? Ele
ESQUECE, senhores, que ALI ALI é uma vida ALI é um ser HUMANO, senhores,
AMADO como ele... um ser humano que tem o direito de erRAR tem o direito de
choRAR de soFRER de sorRIR... de LV/ pessoas como LV, senhores, NÃO TEM O
PODER, senhores, NÃO TEM O DIREITO de decidir quem ficará vivo quem morrerá...
porque ELE, senhores, ele quando bota o revólver calibre trinta-e-oito na cintura...
ELE é senhor de si... ELE DECIDE...
Fonte: corpora de Melo (2013)
... qual o motivo que LEVA o que PASSA na CABEÇA na CONSCIÊNCIA da pessoa que
simplesmente dispara arma saca uma arma e dispara uma arma (num) ser humano? Ele
ESQUECE, senhores, que ALI ALI é uma vida ALI é um ser HUMANO, senhores,
AMADO como ele... um ser humano que tem o direito de erRAR tem o direito de
choRAR de soFRER de sorRIR... de LV/ pessoas como LV, senhores, NÃO TEM O
PODER, senhores, NÃO TEM O DIREITO de decidir quem ficará vivo quem morrerá...
porque ELE, senhores, ele quando bota o revólver calibre trinta-e-oito na cintura...
ELE é senhor de si... ELE DECIDE...
Fonte: corpora de Melo (2013)
Considerações finais
Considera-se que a Retórica, definida como a arte de persuadir
pelo discurso, teve um percurso histórico com tendência ascendente
nos seus primórdios, momentos de luz, que enveredaram para sua
própria decadência e decorrente esquecimento. Após isso, entrou em
pleno vigor, sobretudo, no século XX, com Perelman e Olbrechts-
Tyteca (2014) com seu famoso Tratado da Argumentação, quando
houve a instauração do que se pode chamar a Nova Retórica.
Desse modo, no fervor das ideias dessa nova fase, Meyer
(2007, p. 25) define a Retórica como “a negociação da diferença entre
os indivíduos sobre uma questão dada” e aceita a igualdade entre o
orador, o auditório e a linguagem, o que vai conferir à própria retórica,
explicitamente, categorias de plena circulação nos estudos retóricos.
Dessa maneira, têm-se um logos, um pathos e um ethos, não apenas
em estudos separados, mas em consonância entre si para a constituição
do sentido quando da realização de um discurso persuasivo.
Este trabalho prestou relevância às categorias persuasivas
apontadas pela Retórica, apontando algumas dela nos gêneros
orais da esfera jurídica. Assim, reviram-se categorias da Retórica,
a exemplo da própria tríade argumentativa com comentários acerca
do acordo entre parceiros discursivos, com foco especificamente
nas figuras retóricas com o objetivo principal de deixar nítida a
diferença entre a figura estilística e a retórica: aquela ornamenta
o texto em que está inserida (poema, artigos de opinião, crônica,
entre outras manifestações da linguagem), emprestando-lhe ares
poéticos e suaves, e esta tem a finalidade precípua de persuadir
com continuidades alusivas à sua presença no texto para que seja
ratificada a ideia que o retor transmite para a persuasão do auditório.
Ainda completando as exposições apresentadas neste
trabalho, aparecem exemplos de várias figuras retóricas em excertos
textuais do gênero da esfera discursiva judiciária. Essas figuras
162 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Introdução
A leitura em voz alta é uma prática de leitura que demanda
diferentes estratégias para que sua realização seja efetiva tanto para
quem lê como para quem a ouve. Para essa prática de leitura, a voz
é o elemento essencial, uma vez que dá forma e corpo à leitura.
Além disso, esse tipo de leitura demanda, da parte de quem lê,
expressividade e desenvoltura no uso dos elementos linguísticos e
paralinguísticos, já que as palavras, ao serem pronunciadas, precisam
ser sentidas pelo ouvinte, e, de certa forma, ter a identidade do leitor.
É no jogo das linguagens verbal e não verbal que o leitor busca,
mesmo que inconscientemente, se emocionar e, assim, emocionar o
seu leitor.
Nessa perspectiva, a leitura em voz alta aproxima, por
meio do texto, o leitor e o ouvinte, mantendo-os numa relação de
intimidade, pois um empresta a voz para o outro, que empresta seus
ouvidos para aquele, numa relação também de cumplicidade. Desse
modo, a compreensão advinda dessa prática depende de ambos.
Por outro lado, a leitura pode ter trazido excelente prosódia, mas
164 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Fragmento 1
Informante: o retorno do patinho feio Alfonso era o mais belo cisne do lago príncipe da::
de astúrias... ((balança a cabeça e movimenta o corpo)) todos os dias... ele contemplava
sua imagem refletida nas águas daquele chiquérrimo e exclusivo condomínio para aves
milionárias... mas Alfonso não se esquecia de sua origem humilde... pensar que... não faz
muito tempo... eu era conhecido como o patinho feio... um dia... ele sentiu saudades da
mãe dos irmãos e dos amiguinhos da escola... voou até a lagoa do quaquenhá... o pequeno
e barrento local de sua infância...
Fonte: corpus da pesquisa (2020)
Fragmento 2
Pesquisador: ((enquanto falo, ele ri, coça a cabeça e gesticula com as mãos)) muito bem
Eduardo você concluiu a leitura aí você reparou que algumas mudanças aconteceram na
vida de Alfonso ao longo do texto... você observou isso?
Informante: ((gesto afirmativo com a cabeça))
Pesquisador: quais mudanças... foram?
Informante: ((sorrindo e contando as mudanças nos dedos)) antes ele morava num lugar
chique... bonito depois disso... ele era lindo também... tinha tudo que ele queria... aí depois
que ele foi pra esse lugar ele começou a morar num lugar feio né?
Pesquisador: que era o local dele de infân::cia
Informante: [é::]
Informante: quaquenhá... virou feio... ninguém queria queria não (sorrindo e movimentando
o corpo) só só a pata né? queria ele e teve muita mudança nele
Fonte: corpus da pesquisa (2020).
Fragmento 3
Pesquisador: é:: Luan mas aí eu vou te pergun/... fazer só mais uma pergunta que é a
ques/... você teve acesso ao ao texto né? um dia antes teve acesso ao texto ontem você
leu você compreendeu para você foi mais fácil compreender o texto... a partir da leitura
que você fez silenciosa em casa ou a partir dessa leitura em voz alta e a partir dessa nossa
interação?
Informante: a par/... pela leitura em voz alta ((bate com o dedo na folha)) pois você meio
que me questionava então eu pensava ((gesto com os dedos como se estivesse escrevendo))
então eu compreendia ((movimento circulatório com a mão)) o texto entendeu?
Pesquisador: a aí no caso há um engajamento uma interação a partir daquilo que eu ia
colocando pra você como questões
Informante: certo ((balanço afirmativo com a cabeça))
Pesquisador: muito bem Luan
Considerações finais
Sendo a leitura uma atividade reveladora das informações
contidas no texto, analisá-las pressupõe a intervenção de procedimentos
que permitem ao leitor e ao seu ouvinte o engajamento e a interação
necessários à construção do conhecimento de sentidos do texto. À
vista disso, os protocolos verbais subsidiaram significativamente as
atividades mediadas pelo pesquisador durante a leitura em voz alta
realizada pelos informantes (alunos). Para eles, a mediação ajudou a
pensar e compreender o texto.
Ainda nesse procedimento, foi observado que os informantes
apresentaram, enquanto respondiam às questões acerca do texto,
elementos não verbais da comunicação em duas categorias, as
quais apresentaram gestos faciais, corporais e outras condições
como as pausas.
Nessa perspectiva, este texto sinaliza considerações
relevantes para o desenvolvimento de atividades em sala de aula que
atentem para os estudos dos elementos não verbais e sua função na
interação face a face, que se fazem presentes nos protocolos verbais,
de modo, ainda, a ampliar a compreensão na leitura em voz alta.
Posto isso, essa prática de leitura pressupõe uma leitura lenta, uma
vez que o leitor concentra grande parte da atenção na decodificação
das palavras, mesmo as tendo automatizadas.
UM ESTUDO DA ARGUMENTAÇÃO
QUASE LÓGICA NO GÊNERO
DISCURSO DE SALA DE AULA
Jonnas Nichollas de Lima Costa
Max Silva da Rocha
Introdução
Estudar a Retórica é procurar entender como um discurso
é capaz de ser dotado de aspectos persuasivos organizados
estrategicamente com o objetivo de conseguir fazer alguém crer em
determinada proposição. A partir desse entendimento, este trabalho,
inserido nos postulados teórico-metodológicos da Nova Retórica,
tem por objetivo principal estudar os argumentos quase lógicos
presentes no gênero discurso de sala de aula a fim de verificar como
os retores tentam persuadir o auditório social (alunos).
O trabalho fundamenta-se numa perspectiva de análise retórica,
cujo embasamento se dá com o estudo dos argumentos quase lógicos
presentes no gênero discurso de sala de aula, procurando reconhecer
o teor persuasivo a partir do uso dos argumentos. Acredita-se que, a
partir das análises realizadas, será possível entender como os retores
(professores) conseguem persuadir o auditório social (alunos), bem
como constatar os encadeamentos argumentativos no discurso retórico.
Nesse sentido, mesmo havendo vários trabalhos de cunho
retórico que analisaram gêneros textuais, inclusive o discurso de
184 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
Momento de análise 1
Este primeiro momento de análise faz parte do discurso de
sala de aula datado de 08/04/1994. A aula foi de leitura e produção
de textos no curso de História, no departamento de Letras da
Universidade Federal de Alagoas (UFAL), ocasião quando um dos
informantes caracterizado anonimamente por L2 faz uma crítica
ferrenha ao modo como a leitura estava sendo tratada no fim da
década de 1990. Verifica-se isso no fragmento a seguir:
L2 aos observadores ingênuos... aqueles que não enxergam nem um palmo diante do nariz... as
nossas crianças e jovens não leem porque a imagem da televisão está aí... fazendo com que o
código escrito se torne obsoleto e antiquado... outros mais radicalmente inocentes entre aspas
dizem que... o brasileiro não é muito afeito à leitura... por problemas raciais e climáticos ou
por falta de tradição... tais argumentos... dentro dessa ótica recorrente e superficial... levam a
pensar que a crise da leitura será solucionada quando... coisinhas miúdas... forem devidamente
corrigidas... nessa perspectiva... as coi/coisas graúdas isto é... aqueles fatores mais relevantes e
pertinentes... da sociedade e educação brasileira não recebem a mínima consideração...
Fonte: Santos (1999)
Momento de análise 2
Este segundo momento de análise diz respeito a uma aula
ministrada para o curso de Letras, na disciplina prática de ensino
de inglês, no departamento de métodos e técnicas em educação
da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). A aquisição deste
material foi realizada em 08/04/1994. A terminologia L1 refere-se à
professora e L3, ao aluno. Eis o fragmento a seguir:
Considerações finais
Este trabalho buscou estudar os argumentos quase lógicos
no gênero discurso de sala aula. Ao observar o caminho dos
estudos retóricos, foi possível perceber que os retores utilizaram
a argumentação quase lógica (argumentos da definição, a divisão
e a inclusão, autofagia, entre outros) para persuadir o auditório
particular (alunos/as).
198 José Nildo Barbosa de Melo Junior | Maria Francisca Oliveira Santos | Max Silva da Rocha - (Orgs.)
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