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Vocês têm o privilégio de estudar numa escola salesiana, que faz da felici-
dade de seus alunos e alunas a razão da própria existência.
O seu Colégio faz parte da Rede Salesiana de Escolas. Por isso mesmo, usa livros
didáticos exclusivos, cuja qualidade os coloca entre os melhores do Brasil. Eles foram
produzidos por autores e técnicos altamente qualificados e seguem os princípios edu-
cativos sugeridos pela Unesco, bem como as normas e diretrizes adotadas pelo MEC
para a educação exigida nos tempos atuais.
n Esses livros têm o objetivo de ajudar cada um de vocês a edificar uma base
/•s sólida para a própria vida, construindo, com a orientação de seus educadores, os
saberes indispensáveis para enfrentar os grandes desafios do século XXI:
• Aprender o aprender, construindo e elaborando os conhecimentos de
que precisa agora e precisará no futuro.
• Aprendera fazer, tornando-se capaz de aplicar nas situações concretas
da vida os conhecimentos adquiridos.
• Aprendera conviver, participando dos grupos de que faz parte, reco-
nhecendo e aceitando as diferenças, convivendo pacificamente com
os outros e exercendo a cidadania, como personagem atuante na His-
tória de seu País e do mundo.
• Aprender a ser, tornando-se progressivamente uma pessoa humana-
mente mais completa e mais perfeita.
• Aprendera crer, abrindo-se para as realidades que ultrapassam as di-
-~
mensões materiais da vida.
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~-
A construção desses saberes desenvolve progressivamente as competên-
cias e habilidades que ajudarão você a vencer as provas e concursos que tiver de
enfrentar ao longo da vida. A começar pelo ENEM que, a partir de 2009, ganhou
mais importância como forma de ingresso em muitas faculdades, particularmen-
te nas federais, substituindo no todo, ou em parte, o vestibular tradicional.
Aproveite bem a ajuda oferecida por esse material pioneiro, inovador.
Faça de cada livro uma ferramenta valiosa para a construção do futuro de seus
sonhos. E lembre-se:
Nas olimpíadas da vida, a vitória depende de dedicação, esforço, entusias-
mo e perseverança. Busque e você conseguirá a vitória.
-•
Vieira, Alice.
Filosofia: ensino médio - Caderno 1. / Alice Vieira e José Luís Marques López Landeira.
4a reimpressão, Brasília: Cisbrasil - CIB, 2012.
64 p. (Coleção RSE)
ISBN n2,978-85-7741-087-3
l. Landeira, José Luís Marques López. II. Rede Salesiana de Escolas. 1. Filosofia.
Impressão
Escolas Profissionais Salesianas
Endereço: Rua Dom Bosco, 441 - Mooca
São Paulo - SP - CEP 03105-020
Nos casos em que não foi possível contatar os detentores de direitos autorais sobre materiais utilizados
como subsídio na produção deste livro, a Editora coloca-se à disposição para eventuais acertos, nos lermos
da Lei 9.610 de 19-2-1998 e demais dispositivos legais pertinentes.
Os pedidos desta obra devem ser encaminhados ao endereço da Editora Cisbrasil - CIB.
Impresso no Brasil
Printed i n Brazil
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Apresentação da coleção
Os Autores
-
• Sumário
CAPÍTULO 1 - Decifra-me ou te devoro! 9
O filósofo e a esfinge , 10
Manga com leite mata? - superando o senso comum 12
'-• Os filósofos desejam perguntas! 14
^ Como os filósofos conseguem suas perguntas? 14
Em que diferem os seres humanos dos animais? 16
^
A origem da Filosofia 20
- A physis e o nomos 21
--
CAPÍTULO 2 - Pergunte à sua consciência!
Ou como funciona a mente humana ao filosofar? 25
" Você gosta de jogar xadrez? 27
-- Problemas para elaborar uma inteligência artificial 28
Pergunte à sua consciência 29
-
A consciência crítica: entre o eu e o outro 30
<~'. Como a consciência reconhece a verdade? 32
^ A inteligência, a verdade e a percepção 36
-"•
- CAPÍTULO 3 - Um ser com muitas consciências faz muitas perguntas 43
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1 - C A D E R N O S DE F I L O S O
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Decifra-me
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ou te devoro!
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Os antigos gregos contavam histórias de um monstro mitológico, com ca-
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beça de mulher, corpo de leão e asas de águia-a esfinge. Esse mito, originalmen-
te surgido no Egito, era famoso por seus enigmas. A esfinge ficava no caminho
e lançava uma pergunta ao incauto transeunte. Ao final dessa pergunta, a cruel
- ameaça: "Decifra-me ou te devoro!". Ou seja, ou o coitado sabia a resposta à per-
<~S
gunta da esfinge ou era devorado ali mesmo, sem direito nem a se despedir da
família.
-
Esse mito ainda apresenta importância para nós, hoje em dia. A esfinge repre-
r senta o desejo humano de se conhecer a si mesmo, de questionar. Todos nós temos
• esse desejo. A cabeça de mulher da esfinge representa a intuição humana. Como
—- veremos, é pela intuição que começamos a encontrar soluções para os problemas
mais complicados da existência humana. O corpo de leão nos faz pensar na coragem
necessária para fazer perguntas, em especial numa época quando todos pensam já
ter encontrado as respostas para tudo. As asas de águia levam-nos para o alto, para a
conquista do conhecimento e da sabedoria. As asas da águia são um convite para a
•^ Filosofia.
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. D E R M O S DE F I L O S O F I A
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A palavra "filosofia" certamente não é nova para você. É comum nos depa-
rarmos com expressões como "estou estudando a filosofia de Platão" ou "a filoso-
fia devida dele é fantástica" ou ainda "ela adora a filosofia oriental". De fato, ao re-
correr ao dicionário encontramos diversas acepções, procurando definir o termo.
O filósofo e a esfinge
A Filosofia relaciona-se a uma das
principais características humanas: o de-
sejo de fazer perguntas. A Filosofia enfren-
ta, portanto, o desafio da esfinge e aceita
decifrar a complexa natureza humana. Ela
impede que nossas questões devorem
nossa identidade. Questionar é parte de
nossa identidade, relaciona-se com o nos-
so desejo de saber mais, de superar nossas
limitações e "ir além". Uma questão é, ba-
sLcamentej _urna_ideiaLgue_orlenta. a nossa
curiosidade, fazendo-a procurar respostas.
Todos nós somos, por natureza, curiosos;
temos, dentro de nós, um pouquinho da
esfinge que deseja encontrar respostas, a ~
partir de suas intuições, que alça voos altos —>
~~à procura da sabedoria. O sentido básico
da curiosidade põe em movimento a maior
parte de nossos pensamentos. RODIN, Auguste. O pensador (1904).
f-iíTJ O
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1 - C A D E R N O S DE FILOSOFIA
- Não pense que é um exagero todo esse valor que estamos aqui dando
à capacidade humana de questionar. O contrário é que é de estranhar. É uma
pena que a curiosidade humana não seja devidamente valorizada! Todo o nosso
-~\
conhecimento sobre o mundo origina-se da curiosidade básica sobre o nosso
entorno. Sem curiosidade, os seres humanos teriam sido devorados peia iqno-
—
rância. De fato, o ser humano é, por natureza, perguntador. As ações mais co-
tidianas despertam a nossa curiosidade e nos levam a indagações: Com quem
vou estudar este ano? Onde vou trabalhar? Será que ela/ele irá se apaixonar por
-
mim? Qual o preço dessa camisa? Onde vou passar minhas férias?... Perguntas
•**
assim fazem a humanidade avançar. Como?
- Em primeiro lugar, é bom considerarmos que há perguntas de todos os ti-
- pos. Podemos perguntar-nos "Que horas são?" mas podemos perguntar-nos "Por
que as pessoas sofrem?" ou "Eu sou capaz de fazer isso?". Nossos interesses, ao fa-
zermos perguntas, abrangem uma variedade enorme de inquietações: desde ne-
cessidades imediatas até dúvidas universais, que inquietam toda a humanidade
desde sempre. Há também aquelas perguntas que fazemos na procura de conhe-
cermo-nos melhor. Emília, a boneca quase gente do Sítio do Pica-pau Amarelo,
de Monteiro Lobato, dá-se conta, ao iniciar as suas memórias, da importância de
"interrogar-se a si mesmo". Veja:
-
F PAUSA PARA REFLETIR
Você se conhece?
Já vimos que conseguimos pensar sobre nós mesmos,
•*•
"interrogando-me a mim mesma", como nos lembra
'-
Emília. Também conseguimos transferir para nós, indi-
vidualmente, as perguntas Que a humanidade faz sobre
ela desde sempre. Um dos primeiros filósofos da hu-
manidade escreveu:
Todos os homens podem conhecer a si mesmos
e pensar sensatamente.
—
•"•
- CADERNOS DE FILOSOFIA
--
M5e, posso De jeito nenhum!
por manga na Todo mundo sabe que manga "•"•
/•s
*•
RELACIONANDO...
O sol se move em torno da Terra. Quem pode duvidar disso se
todos os dias ouvimos expressões como "nascer do sol" ou "pôr do
—
sol"? A astronomia demonstra, no entanto, desde Copérnico, que é a
Terra que se move em torno do Sol.
E que dizer, ao ouvirmos ditados como "Em briga de marido e
mulher ninguém mete a colher"? Vale a pena lembrar-se dos muitos
casos de violência doméstica para questionarmos essa doutrina "in-
questionável1.
— Os conhecimentos do senso comum revelam-se generaiizado-
res., carregados de subjetividaole e, até, de preconceito. É o que se
nota em provérbios como "Deus ajuda a quem cedo madruga", que
*- poderia sugerir que os pobres são preguiçosos ou que não foram
ajudados por Deus e que todos os ricos são trabalhadores e devotos.
- Embora a preguiça possa até resultar em pobreza, há muitas outras
- causas que explicam as diferenças sociais. Muitas vezes, o senso co-
mum deixa de ver a realidade como um todo, exagerando o valor de
alguns aspectos dessa realidade em detrimento de outros.
Observe, agora, a tira em quadrinhos a seguir:
ALGUÉM ME DISSE QUE
R4Z40 PARA QUERER SER MEMBRO DA TRIPULAÇÃO
VIAJAR EXPANDE OS
DO NAVIO DÊ HAãAK, O TERRÍVEL?
HORIZONTES.
-
."
r~*
- Hagar é um terrível, guloso e abrutalhado viking criado'pelo es-
tadunidense Dik Browne. As tiras em quadrinhos de Hagar, o horrível,
-
circulam em jornais de mais de 50 países.
3, A resposta à pergunta de Eddie Sortudo, o fiel amigo de Hagar,
("alguém me disse que viajar expande os horizontes") revela forte
r*- presença de senso comum que, dada a situação, distorce a reali-
dade, Explique por quê.
/-v
•^
Usualmente, o senso comum vê a verdade a partir de ten_dê_nçja_s ditadas
por políticos, publicitários, atores ou jogadores de futebol, por exemplo. Essas
supostas verdades, como "o importante é se dar bem" ou "siga apenas o seu co-
-—
ração" seguem a moda de um determinado momento e são, na maior parte das
•"• vezes, apenas mentiras sobre as quais a maioria concorda.
r-1
Embora nem sempre o senso comum seja mentiroso, não é dele que trata
a Filosofia. Na verdade, a origem do filosofar surge, exatamente, do desejo de
superar, questionando o senso comum.
--
Como os filósofos conseguem suas perguntas?
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FILOSOfA
DE PLANTÃO
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presente que eu vou lhe dar?"; "0 que faz meu pai feliz?"; "Disso, o que eu posso
Vi comprar ou fazer para que ele se sinta feliz?";"Por que eu quero que meu pai seja
*-t feliz?".
Nesse momento, começaríamos a avançar no campo da filosofia, com per-
f^ guntas do tipo: "Eu sou feliz?"; "Por que devemos procurar ser felizes?" Desse ra-
- ciocínio, é possível que surja, finalmente, "o que é a felicidade?" Bem, essa última
8 pergunta não diz mais respeito a você, nem a seu pai, mas a todos os seres huma-
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nos. 0 exercício de abstraçào permitiu que chegássemos a essa pergunta, a que
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m PAUSA PARA REFLETIR.
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DERNOS DE F t L O S O F I
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Essa música pode fazer-nos pensar muitas coisas. Desde "Puxa! Que bo-
bagem ele se sentir desprezado como um cachorro! Isso já era!"até"É verdade
que seres humanos e animais somos bem diferentes, mas em que realmente
somos diferentes?". Encontrar uma resposta satisfatória a essa pergunta obri-
ga-nos a sair do senso comum. É quando começamos a filosofar.
Em que diferem
:
oscseres
f
humanos
?
dos animais?
oj ?ool r v^ Gr - -
Procurando sair do senso comum, damo-nos conta de que aquilo que
muitas vezes parece óbvio, afinal não é uma pergunta tão simples de responder.
Tanto seres humanos como animais somos produtos da natureza, regidos por
princípios biológicos. Encontrar a real diferença entre uns e outros talvez não
seja tão simples assim...
Uma vespa fabrica um casulo, põe dentro um ovo, mata uma aranha, co-
loca-a junto ao ovo, fecha cuidadosamente o casulo. Quando a larva nasce, en-
contra proteção e alimento. Trata-se de uma atividade "pensada" o que a vespa
realiza?
Se pudéssemos retirar o ovo e a aranha do casulo, notaríamos que ainda
assim a vespa o fecharia cuidadosamente, como se nada tivesse ocorrido.
O que nos mostra isso? Que o trabalho da vespa não leva em conta o obje-
tivo, ou seja, a procriação da espécie, mas é algo desenvolvido instintivamente,
de forma 'cega', sem considerar a finalidade dos atos.
A observação atenta do comportamento animal acabou por confirmar
um conhecimento que, com certeza, você já tem: os animais agem motivados,
principalmente, por reflexos e instintos, transmitidos hereditariamente. Uma
teia de aranha, um formigueiro ou o ninho de um João-de-barro, embora nos
1 - CADERNOS DE FILÓS'
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- O ninho do joão-de-barro é resultado de uma ação instintiva cega por não levar em
conta a finalidade a que se destina.
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P-V
Um novo Nenhuma
milénio todinho delas terá
diante de nós... importância
Que grandes sem pequenas
mudanças mudanças
-.
ocorrerão no em nós
mundo! mesmos...
Pequenas mudanças em nós mesmos exigem que nos conheçamos cada vez melhor!
Olbia
QUERSONESO
Heracleia» -.y
'Oflessa
Epidauro
Bizâriclo .
• Estagira
Eleia * Tarento * Ilion (Troi
Crotona MAGNA GRÉCIA
IMPÉRIO PERSA
Atenas :feso
•Miíeto
CARIA
• Rodes
Chipre
Náucratis
EGITO
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- C A D E R N O S DE FILOS<
A physis e o nomos
Durante todo o século VI a. C. esse pensamento filosófico emergente vai
se concentrar naquilo que os gregos chamaram de physis. Physis, de onde
- se origina a palavra "Física", origina-se do verbo grego phyein (emergir, fazer
nascer, crescer) e se refere a tudo o que brota, surge, vem a ser, independente-
mente da vontade e da cultura humanas. São, então, fenómenos físicos aque-
les próprios da natureza.
-•
Em contraste com a physis, temos o nomos, ou seja, a produção cultural:
valores, leis, crenças, costumes, regras de conduta que surgem por convenção
humana e, por isso, não são parte da natureza.
Embora guiados, principalmente, pela intuição, diversos desses pensa-
- dores pré-socráticos chegaram a conclusões de grande importância filosófica.
Um deles foi Heráclito de Éfeso. Para ele, tudo o que existe é um fluxo inces-
sante, onde apenas o logos (lei) é estável e inalterável. É o logos que rege a
transformação de todas as coisas. Contrário a esse pensamento, destacou-se
-
Parmênides de Eléia. Para ele, o ser é uno, imutável e imóvel. Para Parmênides
o"ser"é aquilo que toda coisa existente verdadeiramente possui. Sua linha de
raciocínio foi impactante ao defender que nenhum ser pode vir de um não-
ser, ou seja, do nada. O que em outras palavras, equivale a dizer que há um
princípio eterno que dá origem ao cosmo, ou seja, ao universo, considerado
-
como um todo ordenado. Já antes desse filósofo, no entanto, se discutia a
-
existência de um princípio originador de todas as coisas.
-
PfiRA DESENVOLVER O OLHAR ATENTO SOBRE O MUNDO
-
Nada pode surgir do nada, dizia Parmênides. E nada que existe
pode se transformar em nada.
*
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Todos conhecemos a frase 'só acredito vendo', Mas Parmêni-
des não acreditava nem quando via. Ele dizia que os sentidos nos
fornecem uma visão enganosa do mundo; uma visão que não está em
conformidade com o que nos diz a razão. Como filósofo, ele achava
•
que sua tarefa consistia em desvendar todas as formas de ilusão dos
sentidos.
-
-CADERNOS DE FILOSOFIA
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Ou como funciona a mente
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humana ao filosofar?
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No início do século XXI, uma grande corporação desenvolve robôs mais for-
*~ tes e ágeis que os seres humanos e com igual inteligência - os replicantes. Eles são
- utilizados na colonização e exploração de outros planetas. Um grupo desses repli-
- cantes, mais evoluídos, provoca um motim, em uma colónia fora daTerra, levando
- esses robôs a serem considerados ilegais na Terra, sob pena de morte. A partir de
então, policiais de um esquadrão de elite, conhecido como Blade Runner, têm or-
dem de atirar para matarem quaisquer desses andróides encontrados na Terra...
Esse é o mundo apresentado no filme Blade Runner-o caçador de andrói-
-- des. A narrativa sugere que há uma delicada relação entre os seres humanos e
^ as suas invenções. Ao fazer isso, coloca em discussão uma das mais intrigantes
- perguntas dos cientistas e filósofos: é possível construir robôs que disponham de
- uma inteligência artificial de tão boa qualidade como a humana?
Em outras palavras:
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J O que impede que construamos inteligência artificial tão boa como a
r* inteligência humana?
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1. Em sua opinião, a ficção científica pode servir cie base para filoso-
farmos? Por quê?
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Você gosta de jogar xadrez?
Conta a lenda que o Rei da índia estava muito doente, vítima de uma profunda tris-
teza, causada pela morte de sua amada esposa. Os médicos lhe recomendaram uma dis-
tração para a melhoria de sua doença. Todos na corte, então, procuraram meios para que
o Rei recuperasse a sua alegria. Um de seus súditos, quando soube, pôs-se a pensar muito
e, finalmente, elaborou o jogo de xadrez. O Rei, segundo contam, adorou o jogo e, tanto
se animou a jogar e a inventar estratégias que, distraído, logo esqueceu sua doença.
Muito grato, o rei se dirigiu ao seu súdito e lhe disse: "Peça uma recompensa, o
- que quiser eu lhe darei". O homem pediu então uma moeda de prata, um dirhem para a
primeira casa do tabuleiro do jogo que havia inventado e que fosse dobrando progres-
sivamente este número a cada uma das casinhas restantes. O Rei comentou :"A verdade
- é que eu pensava que você fosse mais inteligente. Inventou um jogo tão maravilhoso e
pede em troca uma recompensa tão fraquinha! Mas, você que sabe! Que receba imedia-
tamente aquilo que pede!". O homem limitou-se a responder; "A verdade nem sempre é o
que parece!".
- O assunto chegou rápido aos ouvidos do Vizir, que quase morreu de susto. Rapídi-
- nho, ele correu, então, para falar com o Rei e disse-lhe: "Ó Majestade, mesmo vivendo rnil
anos e recolhendo para tí todos os tesouros da Terra, não poderemos jamais pagar o que
nos foi pedido. A quantidade que resulta de dobrar o primeiro número para cada uma das
casas do tabuleiro é de 18.446.744.073.709.551.615 moedas de prata!"
Inteligente esse súdito, não? Deu ao Rei a ilusão de estar pedindo uma recom-
pensa pequena quando, na verdade, pedia uma fortuna incalculável! A verdade reve-
lou-se algo bem diferente do que parecia ser aos oíhos do rei.
O certo é que, lenda ou não, desde a sua origem, o jogo de xadrez está associado
- à inteligência humana. E, naturalmente, espera-se que alguém muito inteligente o tenha
inventado. Não é de espantar, então, que tal história circule há gerações entre as pessoas.
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A verdade sobre a origem do xadrez talvez nunca a consigamos saber. Para a grande
maioria de nós, contudo, interessa o fato de termos o jogo. É também pensando no jogo de
xadrez que muitos se têm perguntado o que, efetivamente, está envolvido nesse jogo.
Em outras palavras, o que faz o jogo de xadrez ser aquilo que é: as regras ou o tabu-
leiro? as peças ou as posições que elas podem ocupar?
Ou seja, eu posso jogar xadrez em um tabuleiro de papelão com peças de plásti-
co ou em um tabuleiro da madrepérola com peças de marfim, mas será sempre um jogo
de xadrez, certo? Mudar a matéria que compõe
a parte física do xadrez - o tabuleiro e as peças
- não altera o fato de que estamos jogando xa-
drez, de qualquer maneira, certo? Pensar nes-
sas perguntas pode levar-nos a compreender
efetivamente o que é a mente humana, para
depois pensarmos em como reproduzi-la arti-
ficialmente.
Para alguns filósofos, assim como jogo de
xadrez não é as regras nem o tabuleiro, embora
deles precisemos para jogar, da mesma forma,
a mente não se reduz ao cérebro. Para tais estu-
diosos, o cérebro elabora uma mente, mas essa
não é o cérebro, nem se reduz a ele. Isso permiti-
ria, de acordo com alguns cientistas, pensar em
um cérebro artificial, produzindo uma mente.
Não haveria necessidade, de acordo com tais
estudiosos, de que seja o cérebro humano a
produzir a mente humana. De forma simples,
podemos dizer que um sinal cerebral se con-
O medo de que robôs controlem seres humanos
é também o ponto de partida do filme Eu, robô. verte em um sinal mental, embora ainda tenha-
Por enquanto, no entanto, nem sequer sabemos mos inúmeras dificuldades em compreender
como o cérebro elabora uma mente. como isso ocorre.
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1 - CADERNOS DE Fl
-
razão e emoção. Inteligência, emoções e cérebro também fazem parte desse todo
-
que é a mente humana.
Além disso, a mente afeta o corpo que possibilitou que ela se manifestasse,
ou seja, há uma passagem entre o mental e o físico que tanto os cientistas, como
os filósofos ainda não explicaram.
Tudo isso não deixa de ser instigante. Mas, se as dificuldades apresentadas
anteriormente parecem, no entanto, instransponíveis, elas são apenas a parte me-
nor dos problemas a enfrentar. Antes de tudo, para produzirmos uma inteligên-
cia artificial, temos de compreender como funciona a consciência elaborada pela
mente humana.
-
- C A D E R N O S DE F I L O S O F I A
"»
C A D E R N O S DE FILÓS
dentro de si, atender ã sua própria intimidade ou, o que é igual, ocupar-se de
si mesmo e não do outro, das coisas. [...]
Note-se que essa maravilhosa f acuidade que o homem tem, de libertar-se
transitoriamente de ser escravizado pelas coisas, implica dois poderes muito
diferentes: um, o de não atender, em mais ou menos tempo, ao mundo em
torno, sem risco fatal; outro, o de ter onde meter-se, onde estar, quando sair
virtualmente do mundo. [...]
São, pois, três momentos diferentes que
- ciclicamente se repetem, ao longo da história
humana em firmas cada vez mais complexas
e densas: I) O homem se sente perdido, nau-
fragado nas coisas; é a alteração. II) O homem,
com enérgico esforço, se recolhe à sua intimi-
dade para formar ideias sobre, as coisas e seu
- possível domínio; é o " ensimesmamento", a
vida "contemplativa" como diziam os roma-
nos, o theoretikòs híos dos gregos, a theoria.
Ill) O homem torna a submergir no mundo
-
para atuar nele conforme um plano preconce-
bido; é a "ação, a vida ativa, a práxis ",
De acordo com isto, "não se pode falar
MIRO, joan.Poitraír li (1938). Madrid: MU- de ação senão na medida em que esteja regida
seo Nacional Centro de Arte Reina Sofia. pQY uma prév{a contemplação; e VÍCC-versa, O
ensimesmamento não é senão um projetar a ação futura",
'
O destino do homem é, portanto, primariamente ação. Não -uivemos para
pensar, mas ao contrário: pensamos para conseguir perviver.
-
ORTEGA Y GASSET, José. O homem e a gente: intercomunicação humana. Rio de Janeira: Livro
- Ibero-Americano, 1973.
-
A consciência do outro obriga-nos a desenvolver um olhar atento, reco-
nhecendo no outro o que o faz diferente e único. De modo simples, isso equivale
a dizer que o outro não somos nós. Cuidado! Ver as coisas desse modo não é tão
fácil como parece, pois implica considerar a legitimidade das diferenças desse ou-
tro, mesmo em relação àquilo que nós consideramos correto. Surge a pergunta:
como viver em um mundo em que temos de reconhecer a legítima alteridade do
outro, mas, ao mesmo tempo, valorizar a nossa própria identidade e essência?
A consciência crítica - ou senso crítico - surge da interação entre essas
duas dimensões da consciência: refletir sobre si mesmo e olhar atentamente o
mundo. Excesso de reflexão sobre si mesmo, sem atenção sobre o mundo, conduz
ao isolamento, ao egocentrismo, à decepção e, fatalmente, à amargura de viver.
Porém, uma excessiva consciência do outro, sem a devida compensação na refle-
xão de si mesmo, pode levar-nos à perda da identidade pessoal, à falta de amor
próprio. Nesse caso, a busca do equilíbrio é fundamental.
Viver como ser humano é um contínuo processo de reconhecer-se no
mundo e reconhecer o mundo em si mesmo. A todo instante, movemo-nos do
eu ao mundo e, imediatamente, somos convidados a mergulhar do mundo ao
mais profundo do eu e, nesse mover-se, encontrar o desejado equilíbrio que nos
permita viver bem.
Bem, mas se algum dia soubermos como construir uma consciência artifi-
cial, ainda assim, teríamos que enfrentar o problema da verdade. Ou seja:
__
Ao construirmos um robô que pensasse como os seres humanos, podería-
mos, inicialmente, supor que bastaria programá-lo para reconhecer como verda-
de àquilo do qual não houvesse nenhuma incerteza e que fosse evidente e lógico
para todos, o tempo todo. Mas aí, teríamos o nosso primeiro grande problema: é
que, praticamente não há assuntos tão certos. Mesmo "dois e dois são quatro" é
uma verdade questionada por alguns filósofos da matemática por depender de
princípios que não podem ser provados (postulados) e sobre os quais não se tem
certeza de como justificar.
E o primeiro aspecto a considerar é até que ponto pode haver um conheci-
mento independente das opiniões pessoais?
Outra questão relacionada a essa é: se a verdade existir em si mesma como
forma de conhecimento independente do ser humano, ela pode ser conhecida de
forma objetiva e verdadeira por nós, seres humanos?
N'^ Repúblico, o filósofo grego Platão conta a alegoria de uma caverna
onde os habitantes, presos de costas para a fonte de luz, apenas vêem as suas
próprias sombras e as do mundo atrás de si, projetadas na parede em frente.
Assim, como desde o nascimento apenas vêem as projeções na parede e não a
realidade que elas representam, passam a considerar como realidade as som-
bras que se projetam diante deles. Um desses habitantes presos consegue li-
bertar-se dos grilhões e sair da caverna. Ao olhar a realidade iluminada pelo sol
CADERNOS DE FILÓS
-
-
compreende o fato de que até aquele momento apenas vira projeções na pare-
de. Volta ao meio dos outros habitantes na caverna, mas passa a ser hostilizado,
pois ninguém acredita na experiência que ele tivera.
Sombras projetam-se
, V nesta parede
-
A caverna de Platão.
Essa alegoria permite muitas interpretações e estudos. Para nós, basta-nos, por
agora, aprofundarmo-nos no fato de que, segundo Platão, o mundo se desvelaria
para nós como sombras, mas há uma realidade superior e permanente no planp_da
verdade a que certos indivídups__p_qdem__a|cançar. A Filosofia e a Ciência permitiriam
entrever, na forma de modelos, essas ideias que chegam a nós, no nosso cotidiano,
- como projeções.
Mesmo assim não teríamos chegado ainda a uma resposta aceitável por to-
dos. Muitos chegam a questionar se, de fato, alguém consegue conhecer as ideias
"o mundo lá fora", apenas observando as sombras da realidade.
--
•
•
-
•
-
*i
-^
-
-\
Diálogos literários
Observe como a compreensão dos conceitos de verdade analisa-
- dos facilita a compreensão do poema "Chove? Nenhuma chuva cai...",
de um dos mais importantes nomes da Literatura em Língua Portu-
guesa, Fernando Pessoa (1888-1935).
-
Chove? Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia?
- Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
- Eu quero sorrir-te, e não posso,
- Ó céu azul, chamar-te meu...
E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...
E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria Na - -»:-
-
A inteligência, a verdade e a percepção
Toda essa discussão sobre apreender a verdade torna-se imprescindível ao
discutirmos a possibilidade de criarmos inteligência artifical. Fernando Pessoa,
em "Chove? Nenhuma chuva cai..." observa como é difícil para a inteligência hu-
mana a percepção da verdade. No entanto, a nossa mente percebe o mundo e a
construção de robôs ou andróides que pensem como os humanos deve levar em
conta como a inteligência humana percebe a realidade.
A palavra inteligência tem origem latina. O verbo inteligere que dá origem à
palavra "inteligência" significa literalmente "ler dentro" (intus + legere). Ler dentro
da_s coisas, descobrir_p significado que está por trás delas, isso é, de acordo com o
sentido original da palavra, fazer uso da inteligência para chegar à verdade.
A percepção, por sua vez, é a capacidade de reter as coisas em seu aspecto
exterior a partir do que nos é acessível pelos órgãos dos sentidos (visão, audição,
olfato, tato e paladar). A sensação é que nos dá as qualidades dos objetos, bem
como os seus efeitos em nós. Assim, sentimos o azul e o vermelho, o grito e o sus-
surro, o frio e o quente, o doce e o amargo, o liso e o áspero.
Sentir é ambíguo, pois o sentimento é tanto_a_q_ualidade que está no objeto
como o que essa qualidade nos provoca. Por isso, uns podem considerar algo
doce, enquanto para outros, ele é amargo. Além do que, sentimos as qualidades
como parte de objetos mais amplos e complexos. A sensação isolada raramente
existe - é o motivo pelo qual ninguém diz que tomou o quente, mas que o café
estava quente. Na maior parte das vezes, a sensação existe sob a forma de per-
cepção; sentimos e percebemos formas, ou seja, totalidades estruturadas que nos
permitem elaborar sentido e significação. Por isso Pirro podia olhar de forma tão
desconfiada para os sentidos como forma de chegar à verdade.
•*
-
- C A D E R N O S DE F I L O S O F 1 .
Diálogos literários
5. Experimente explicar como se constrói a percepção da realidade
na experiência do filho no conto a seguir, do uruguaio Eduardo
Galeano (1940-):
A função da arte/1
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que
descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia,
depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a
imensidão do mar, e tanto seu fulgor, cjue o menino ficou mudo de beleza.
--
'
Por vezes, a nossa percepção e o nosso
pensamento levam-nos a lugares bem diferen-
tes. Isso ocorre quando a percepção nos conduz
à ilusão.
?*>• Os sentidos estabelecem a nossa interface
com a realidade. Contudo, podem também ser a ori-
gem dos
--
enganos
Um pato ou um coelho? <-|o nosso
conhecimento. Isso porque o número de
realidades não é semelhante ao número de
- olhares. O conhecimento não resulta de acor-
dos entre os nossos sentidos, mas de compa-
rações entre os sentidos e a realidade. A obra
Belvedere, do artista holandês Mauritius Es-
cher, confunde os sentidos, provocando-nos
uma ilusão de óptica.
A consciência humana apresenta
a capacidade de apreender o conheci-
mento da verdade por meio de diversos
modos que permitem construir a nos-
sa identidade individual e social. Criar
inteligência artificial, como a humana,
significaria construir individualidades
que poderiam questionar a si mesmas e
imaginar novas possibilidades para a sua
existência, a partir do que percebem do
ESCHER, Mauritius. Belvedere (1958). Haia: Geme-
mundo em que participam. entemuseum Den Haag.
Tais andróides poderiam conhecer a
-
-
DERMOS DE FILO
•~-
interesse. O conhecimento
^^•M da verdade se dá de forma
global, por meio das diver-
sãs consciências que constituem o ser humano. Falaremos mais sobre isso no
próximo capítulo.
o
PAUSA PARA REFLETIR.
-
- 6, Procure, na biblioteca e na Internet, mais informações sobre Des-
cartes; Onde nasceu? O que pensava? Quais as suas contribuições
para a humanidade?
rs
7 7, João tem quase certeza de que um de seus professores é extrater-
restre, só não sabe qual, Ele precisa descobrir a verdade. Desen-
•~
volva a narrativa, coerente a estas informações, de tal maneira que
a solução encontrada desautorize essas ideias iniciais. Siga urna
das posições em relação com a verdade que estudamos: ceticis-
- mo, dogmatismo ou criticismo,
r*. 8, Explique de que forma a ilusão, em nossa percepção, contribui
O para construir a mensagem do anúncio publicitário a seguir, veicu-
n lado pelos Correios brasileiros no ano de 2007.
-
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-
-
CADERNOS DE FILOSOFIA
•*
Um ser com muitas
-
-
- consciências faz
rs muitas perguntas
-
-
-
-
- Não é à toa que
- tenho corpo
de leão... O
conhecimento de
si mesmo exige
grande coragem
- para não se
desistir no meio
- do caminho...
-
-
-
- Sim, também É a discussão
• achavam filosófica, meu
- impossível que caro... Tudo começa
por aí... Claro,
um dia viessem a
isso motivado pelo
criar inteligência
artificial e olha desejo de conhecer
só eu aqui! quem somos!
-
*
-
fs
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-
-
-
--•
l - CADERNOS DE FILOSO
:
Olha só! Com essa conversa toda vou acabar atrasando o
almoço... e ainda nem terminei de varrer a sala!.
-
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•~
-
-
-
-
A seguir, falaremos
de cada uma dessas cons-
-
ciências que constitui o
ser humano e que difi-
- culta que construamos
inteligência artificial tão
boa quanto a humana...
-
MOHALYl, Yolanda. Abertura (1970/72). Museu de Arte de São Paulo.
A consciência mítica
A consciência mítica centra-se no.çgahecimento do mito e da_s_conse-
quências do significado desse conhecimento para o indivíduo na sua_re]ação
com ocoletivo.
- O termo "mito" significa muitas coisas em diferentes contextos. Para nós,
neste livro, mjtos__são as na__rrativas_e ritos que fazem_parte_de um povo_e que
p_ermitem_uma_expJiç_a_ção da realidade, dando sentido à vida humana. Por meio
do mito, explica-se como uma realidade passou a existir em um passado mágico
e sagrado.
Na antiga Grécia, o mito era uma narrativa proferida para ouvintes que a
aceitavam como verdadeira pela confiança que sentiam naquele que a narrava. O
narrador do mito era o poeta, visto como um escolhido dos deuses para preservar
a memória de um povo. O mito é sagrado porque se origina de uma revelação
divina.
Além disso, por meio dos mitos os antigos fixavam os modelos de todos
os s.eusjitps e atividades que consideravam significativas. A consciência mítica
-
é operativa, pois apresenta resultados, transmitindo valores para os membros de
um grupo social: os seres humanos repetem, nos ritos explicados nos mitos, as
r> ações dos deuses. Por suas ações, as pessoas deveriam imitar os deuses nos ritos
- que rememoravam os mitos primordiais para que houvesse a caça, a semente
-
brotasse, a mulher desse à luz e as estações do ano se sucedessem.
A consciência mítica é uma consciência comunitáriaj_na_q promove a valo_-
nzacjLo de discernimentos individuais. O ser humano não comanda a ação, já que
n sua experiência faz parte da experiência da comunidade e se faz por meio dela.
-
^
*
iDERNOS DE FILOSOFIA
-
A D E R N O S DE F I L O S O F I
A consciência religiosa
Não restam dúvidas da importância da religião na nossa sociedade. A cons-
ciência religiosa foi uma das primeiras a surgir e permanece como um forte ele-
mento na construção das identidades. Sua origem associa-se à consciência míti-
ca. Não é fácil, em certos casos, distinguir o que pertence à consciência mítica ou
à religiosa. Ambas sustentam-se na valoriza_ção_dp_ _spbre_natural__~ p poder divino.
Acompanhe o que está ocorrendo na sala de aula da disciplina de Filosofia:
'
-
Muito bem, Carlinha,
" Professor, nisso Q
parabéns! De fato, o
-
consciência religiosa é equilíbrio entre fé e
diferente da mítica, né? razão permite uma visão
integral do ser humano
Só dá
Carlinha
e Bira no
pedaço...
-
Professor, desculpe, é
O debate entre fé e razão, somente para dar um recado:
-
no entanto, alimentou séculos Classe, amanhã, não
de disputas e
esqueçam de trazer
não está ainda
a autorização para o
completamente passeio cultural!
resolvido!
- A consciência religiosa faz-nos ter uma relação pessoal com Deus, reco-
nhecendo-nos como indivíduos únicos, que podem se relacionar com uma outra
dimensão: a dimensão do Sagrado. Ao mesmo tempo, essa consciência também
permite-nos questionar a nossa relação com o outro, humano ou não, o que abre
~ uma porta para que construamos uma vida mais plena e significativa.
-
DERMOS DE FILOSOFIA
/U*
A consciência intuitiva
De repente, em dado momento do filme, o detetive tem um "palpite" cer-
teiro que o leva ao criminoso. Só em filmes, dirão alguns. No entanto, intuições
fazem parte de nossa constituição humana.
A intuição é um modo de consciência que surge como um saber imediato,
um discernimento repentino de uma_sjtuação, vista no seu conjunto, um insight.
Em seu momento inicial, portanto, a intuição é não-racional, funciona como um
estalo que nos faz ter certeza ou impressão de algo sem sabermos muito bem o
porquê. De repente, notamos algo em que nunca havíamos pensado, ao obser-
varmos o mesmo objeto ou fenómeno. Para a razão, a consciência intuitiva é mui-
to importante, pois funciona como uma verdade provisória que vamos desejar
comprovar. Ela orienta os nossos esforços em uma direção.
Muitos afirmam que a ciência experimental começa pela intuição. Isso di-
vide os cientistas, pois outros defendem que a ciência começa pela observação.
Vale a pena, no entanto, considerarmos o pensamento daqueles que consideram
que a intuição é a base fundamental dos conhecimentos humanos originados
nas ciências empíricas. Não se trata, naturalmente, de considerarmos a intuição
como o instrumento próprio para conhecer a verdade, mas de partir de uma in-
tuição, considerada como verdade provisória, para alcançar verdades científicas
por meio da construção de teorias, interpretando essa verdade intuitiva seguindo
um raciocínio lógico característico de um método científico.
A intuição aglutina uma série de elementos que, em um momento poste-
rior, podem ser analisados ou, até, demonstrados por meio de argumentos. Quan-
do essa análise ocorre, deixamos o modo da experiência intuitiva e avançamos
para o conhecimento racional.
A consciência racional
-
"-.
—•
Na sua origem, a palavra razão (do latim, raivo) significa tanto cálculo, conta,
como registro, opinião, senti mento. Ter razão era, portanto, pensar e falar de modo
-
ordenado, a fim de tornar-se compreensível ao outro. Razão é, desta perspectiva,
a capacidade intelectual de pensar e expressar-se de.mpdo claro, calculado, para
que QS_sentimentps_ e o senso comum não atrapalhem aquilo que, objetivamente,
se_deseja dizer. A razão é, então, uma maneira de organizar a realidade para torná-
la mais compreensível, tanto a nós mesmos_cpmpao outro, a quem nos dirigimos.
A razão é prova viva da confiança humana de que as coisas são possíveis de
se organizar, compreensíveis nelas e por elas mesmas. Em outras palavras, a razão
acredita existir-s_e_na realidade, confiando que as próprias coisas são racionais em
si mesmas. Por isso é que podemos conhecer racionalmente essa mesma realidade.
- A consciência racional procura compreender a realidade por meio de certos
princípios estabelecidos pela razão. Um desses princípios é o da causa/consequên-
cia, ou seja, de que todo efeito deve ter uma causa que o originou. Pelo princípio
da causalidade, procuramos relações internas entre as coisas, fatos e ações. Explicar
-
uma_ causa é resolver um problema de por que se deu tal efeito, e não outro, em
determinado tempo e .lugar. Aqui, convém separar o princípio da causalidade com
o da anterioridade. Ou seja, nem tudo o que ocorreu antes é causa do que veio
depois. Por exemplo, imaginemos que numa sala de aula de 30 alunos, 15 estavam
mascando chiclete durante a prova de matemática. Desses 15,12 tiraram nota má-
xima enquanto que dos outros, apenas 4 tiraram a mesma nota. Embora mascar
chiclete seja um fato anterior à nota da prova, não pode, racionalmente, ser con-
siderado como causa das notas altas. A razão admite o acaso e os fatos acidentais,
embora, ainda assim, procure uma causa para esse mesmo acaso.
-
DERMOS DE F I L O S O F I A
"-'
-N
-
-
"
f—
O filósofo antigo era
também o cientista,
pois Filosofia e Ciência
mantinham-se unidas.
-
um método que procura a objetividade na pesquisa, principalmente por meio do
confronto de resultados e de sua verificabilidade.
-
Um mundo de questionamentos 1L
Compreender as razões de por que o mundo é como é permite-nos fazê-lo
um lugar melhor. É essa esperança que alimenta o valor que damos aos questio-
-
namentos filosóficos, os quais, de um modo geral, podem ser classificados em
quatro tipos:
—
S metafísicos
S epistemológicos
-
S éticos
S políticos
As questões metafísicas dizem respeito à natureza básica das coisas,
ou seja, o que elas realmente são. A metafísica é a parte da filosofia que pro-
cura definir tudo o que existe. São exemplos de perguntas metafísicas: "O que
é o tempo?";"O que é a felicidade?";"O que é a vida?",., bem, a lista vai longe,
como consegue imaginar.
As questões epistemológicas dizem respeito a como podemos co-
-
nhecer as coisas. A epistemologia é a parte da filosofia que se preocupa em
como os indivíduos podem conhecer tudo o que existe. Deseja investigar as
- origens, fundamentos, possibilidade, dimensões e valor do conhecimento.
- Imagine que alguém lhe diz que encontrou um jeito de tirar nota máxima
- nas provas sem estudar. É natural que você lhe pergunte:"Como?" Bem, essa
pergunta, "Como?", revela uma preocupação epistemológica. A epistemolo-
gia é também chamada de teoria do conhecimento, crítica do conhecimento
ou gnosiologia.
'
As questões éticas procuram o que é correto e o que é errado na vida.
- Elas visam à construção de uma moral de vida. Algumas das questões éticas
mais atuais dizem respeito ao uso da vida. Por exemplo, é correto produzir
clones humanos para resolver problemas de transplantes de órgãos? É de
- direito os pais escolherem o sexo do filho que desejam ter? A quem perten-
ce o DNA de uma pessoa, uma vez que ele carrega a herança genética desse
-
indivíduo?
'
PARA DESENVOLVER O OLHAR ATENTO SOBRE O MUNDO
—
ERMOS DE FILOSOFIA
—.
/
• :'l &£**&
NASH, Paul. The Messerschmidt In Windsor Great Park [1940). Londres: Tate
Gallery.
-
PARA DESENVOLVER O OLHAR ATENTO SOBRE O MUNDO
- 10. Elabore, para a letra de música a seguir, ciuairo questões: uma me-
tafísica, uma epistemológica, urna ética e outra política, As questões
devem fazer referência ao Nomos, não à Physis, A resposta a essas
cruestões deve permitir urna melhor compreensão do texto.
*"• Sábio
Sábia é a voz que vem de Deus
Sábia é a paz
De dentro de nós, dos olhos teus
E não se apraz
Nas bibliotecas e museus
Sábio é o sol
Sábio é o cantar do sabiá no arrebol
Quando a tarde quer dizer adeus
-- Nem ciência, nem religião
Sem explicação
•3 Puro estado de contemplação
• Vander Lee. Ao vivo. Indie Records, 2003.
A importância da reflexão
- Como vimos, todas as questões filosóficas surgem das questões cotidianas.
Isso nos leva a pensar que, em algum momento da vida, todos nós filosofamos,
- procurando ver o mundo e a nós mesmos como realmente somos, despidos de
preconceitos e do senso comum. Para isso é essencial refletir.
---
As imagens se refletem no espelho, certo? Quando nos olharmos em um
•- espelho, é como se nos desdobrássemos: estamos aqui, mas também estamos
- lá, do outro lado do espelho, Refletir é isso, transformar a nossa mente em um
espelho no qual se refletem as realidades ao nosso redor. Olhando em volta de
- nós mesmos procuramos os aspectos necessários e verdadeiros da vida humana.
'— A reflexão é, desse ponto de vista, uma procura pela verdade, a verdade filosófica.
Em latim, refletir é ref/ectere, ou seja, "voltar atrás", "dobrar", "retroceder". Refletir
é retomar o próprio pensamento, fazendo-o desdobrar-se, então dobrando-nos
-• sobre nós mesmos, pensar o já pensado e, dessa maneira, questionando o que já
-" se conhece ou acreditamos conhecer.
"
-
-
1 - C A D E R N O S DE FILOSOFIA
Refíetir é a própria essência do filosofar, mas refletir sobre o quê? Para en-
contrar objetos de reflexão que iremos espelhar em nosso pensamento, precisa-
mos de uma atitude de perplexidade.
•"•
"
•~
l - C A D E R N O S DE F I L O S O F I A
-
PAUSA PARA REFLETIR.
-
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Não devemos perder nunca nossa curiosidade infantil!
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1 - C A D E R N O S DE F I L O S O F I A
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—
1 - C A D E R N O S DE F I L O S O F I A
^
7. Filosofia contemporânea (de meados do século XIX aos dias atu-
ais): volta-se para o homem contemporâneo, vivendo em uma sociedade
que sofreu radicais transformações nos últimos duzentos anos, em especial
aquelas originadas pela ascensão da burguesia ao poder, pelo avanço cien-
tífico e tecnológico, pelo surgimento de inúmeros novos países, por duas
guerras mundiais, pelas ameaças de extinção de vida na terra, etc.