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CIÊNCIAS
VOLUME II:
Discutindo práticas inclusivas
Michele Waltz Comarú
Fabiana da Silva Kauark
Nahun Thiaghor Lippaus Pires Gonçalves
(Organizadores)
Vitória, ES 2022
Editora do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Espírito Santo
R. Barão de Mauá, nº 30 – Jucutuquara
29040-689 – Vitória – ES
www.edifes.ifes.edu.br | editora@ifes.edu.br
Conselho Editorial
Aline Freitas da Silva de Carvalho * Aparecida de Fátima Madella de Oliveira * Eduardo Fausto Kuster
Cid * Felipe Zamborlini Saiter * Filipe Ferreira Ghidetti. * Gabriel Domingos Carvalho * Jamille Locatelli
* Marcio de Souza Bolzan * Mariella Berger Andrade * Ricardo Ramos Costa * Rosana Vilarim da Silva
* Rossanna dos Santos Santana Rubim * Viviane Bessa Lopes Alvarenga.
DOI: 10.36524/9788582635582
Esta obra está licenciada com uma Licença Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Brasil.
APOIO
Comitê científico:
Francisco das Chagas Silva Souza – IFRN
São caminhos que ajudarão aos alunos em sua trajetória escolar (e aos professores
em suas práticas) para acessar, permanecer e sair com sucesso desse processo como um
ser humano e profissional habilitado para exercer uma profissão e ter
reconhecimento/visibilidade social. É pensar que teremos médicos, psicólogos,
professores, engenheiros, assistentes sociais, físicos, biólogos com deficiência sendo
formados e atuando no mundo do trabalho. É uma ação que envolve uma mudança de
cultura, uma ação atitudinal não só parte das escolas/professores, mas também das
famílias e das próprias pessoas em condição de vulnerabilidade.
Agradeço o convite, que muito me honrou, para prefaciar este livro produzido não
somente por pesquisadores, escritores, mas amigos de luta que acreditam em um outro
mundo possível.
Primavera de resistências e esperanças, 2021
Prof. Douglas Ferrari
Universidade Federal do Espírito Santo - Ufes
REFERÊNCIAS
1
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). Instituto Oswaldo Cruz (IOC) - FIOCRUZ. Pós-Graduação em
Ensino em Biociências e Saúde. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6874-7555
2
Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). Programa de mestrado em rede em Educação Profissional e
Tecnológica; Instituto Oswaldo Cruz (IOC) - FIOCRUZ. Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3307-4255
3
Universidade Federal Fluminense (UFF). Instituto Oswaldo Cruz (IOC) - FIOCRUZ. Pós-Graduação em
Ensino em Biociências e Saúde. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3291-9903
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Componente Curricular (PCC), a abordagem de conteúdos científicos a partir da proposta
do movimento Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA) e a ludicidade.
Posteriormente, esses objetivos foram ampliados para abranger a produção de materiais
didáticos inclusivos, idealizados para grupos de alunos que contemplam, também,
pessoa(s) com deficiência(s).
No que tange à educação inclusiva entendida como “[...] processo que ajuda a
superar barreiras que limitam a presença, participação e conquistas dos estudantes”
(UNESCO, 2019), décadas de políticas, legislações, produção teórica e práticas
profissionais, ainda não foram suficientes para garanti-la como direito de todos. Embora
avanços possam ser destacados, Rodrigues (2014) afirma que a adequada formação
profissional do docente, para atuar com equidade e inclusão, deve oportunizar situações
formativas semelhantes às da prática profissional, contemplar o conteúdo da educação
inclusiva em todos os conteúdos de formação e ainda favorecer a relação entre teoria,
prática e pesquisa. Nesse sentido, Comarú (2017) evidencia que “[...] a formação inicial
não dá conta de tudo, mas preparar o professor para ter postura ativa na busca em superar
desafios é importante” (p. 136). Todavia, Bazon et al. (2018), identificaram em uma
pesquisa com docentes formadores de futuros professores de ciências que a grande
maioria tem pouca ou nenhuma formação para atuar com a inclusão, seja lecionando para
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alunos com deficiência ou formando professores para tal. Fato que eleva a urgência por
estratégias que minimizem esse contexto até que a inclusão escolar seja, de fato,
compreendida como processo de democratização e de garantia ao direito à educação,
sempre em construção.
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Efetivamente, as oficinas são apresentadas aos licenciandos após estudos e
debates sobre o movimento CTSA quando, organizados em duplas ou trios, desenvolvem
materiais didáticos para estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio
abordando os conteúdos a partir dos pressupostos do movimento CTSA para ensinar
Química/Ciências. Não há direcionamento quanto ao tipo de material, ao conteúdo ou ao
grupo específico de discentes a ser contemplado. Com isso, buscamos envolver o
licenciando em sua formação de maneira autônoma, autoral, criativa e lúdica. Desejamos,
ainda, comprometê-lo com o estudante da educação básica a fim de que amplie seu
aprendizado científico em sintonia com a proposta CTSA e, também, de forma lúdica.
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exigência humana, é um dos caminhos para a posta em prática da curiosidade
epistemológica. Em lugar de estranha, a conscientização é natural ao ser que, inacabado,
se sabe inacabado” (p. 60).
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conceitual, desconexa da realidade, mas a partir de seus antecedentes e consequências
sociais, políticas, ambientais, econômicas para o planeta, englobando aí a humanidade
(SANTOS; AULER, 2011). Contudo, dos 57 produtos gerados desde 2013 apenas 11
apresentaram sintonia com essa proposta. Para além da preocupação com os produtos em
si, nos inquietamos com nossa própria dificuldade em contribuir para que os licenciandos
compreendam e promovam vivências embasadas nos pressupostos do movimento CTSA
para o ensino de Química/Ciências (CORTEZ, 2020; SANTOS, 2007).
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conhecedor de marcenaria, montou o jogo ‘cara a cara’ de Química Orgânica feito em
madeira e dobradiças. Uma das histórias em quadrinhos produzida foi organizada por uma
licencianda fã dessas narrativas gráficas sequenciais. Esses são alguns exemplos de como
é possível buscar envolver saberes, prazeres e experiências na forma como se aprende, se
ensina e se produz conhecimentos. Nesse sentido, Freire (1999), ao afirmar que ensinar
exige reconhecimento e assunção da identidade cultural, destaca que: “Uma das tarefas
mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os
educandos em relação uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam
a experiência profunda de assumir-se” (p. 46).
Aprendemos com essas experiências e nos diálogos teóricos com FREIRE (1999),
que a disponibilidade ao diálogo é, ao mesmo tempo, uma abertura ao risco e à segurança.
“É impossível viver a disponibilidade à realidade sem segurança, mas é impossível
também criar segurança fora do risco da disponibilidade” (FREIRE, 1999, p. 152). De
fato, a sensação de estarmos, constantemente, pisando em solo instável, sem saber se
iríamos cair logo adiante ou prosseguir com firmeza, era e é uma constante nas oficinas.
Embora existam tipos de materiais produzidos com certa recorrência, nunca são iguais,
cada um tem uma abordagem, um conteúdo diferenciado, produzidos com materiais
diversos e aplicados por métodos, algumas vezes, inesperados. Seus processos de
produção nunca são iguais, cada grupo de trabalho tem a própria subjetividade, interesses
e história de vida. Orientar tudo isso é, sem dúvida, um campo minado de dúvidas e
inseguranças, mas ao mesmo tempo aberto a novos e múltiplos saberes. A chegada dos
professores formadores de Química, novamente, nos trouxe maior segurança quanto à
correta abordagem dos conceitos científicos, mas também riscos em nível de ideias,
metodologias, críticas e mesmo relacionamentos. Novamente Freire (1999) nos lembra
que:
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Para além dos diálogos entre sujeitos, as oficinas também favorecem diálogos
entre instituições de educação superior e educação básica e entre saberes. Neste último
caso, vale ressaltar o diálogo oportunizado aos professores formadores entre seus saberes
científicos, pedagógicos e da experiência (NÓVOA, 2014; TARDIF, 2014). Embora este
não tenha sido um objetivo idealizado no início das oficinas.
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bibliométrica sobre educação inclusiva no ensino de ciências realizada por Comarú et al.
(2021) apontou que, dentre os artigos analisados a grande maioria discute apenas o uso,
a avaliação ou desempenho de metodologias e materiais já utilizados em aulas
tradicionais de ciências. Fato que reforça a importância de buscarmos processos
formativos em que licenciandos e nós, docentes formadores, nos tornemos autores e
criadores de novas práticas e materiais de ensino.
Ao longo dos anos, quatro dos produtos criados foram apresentados pelos próprios
licenciandos no formato de comunicação oral em eventos nacionais de ensino de Química
e de Ciências e grande parte dos outros produtos foram apresentados na I ou na II Mostra
de Materiais Didáticos do campus Vila Velha do Ifes. Acreditamos que tais participações
contribuem para a vivência da rigorosidade metódica (FREIRE, 1999) como meio de
estimular a capacidade crítica, a curiosidade científica e a capacidade criadora dos
licenciandos. Ao participarem desses eventos eles são incentivados, já na graduação, a
assumirem postura de pesquisadores da própria prática e, também, adotar atitude
dialógica por envolver diferentes interlocuções, sempre dialéticas, exigindo
posicionamento crítico e ético.
Com isso, avaliamos que os desafios e potencialidades até aqui descritos guardam
elevada sintonia com a dimensão formativa da Prática como Componente Curricular
(BRASIL, 2005) que, em nossa compreensão, favorece à constituição de uma
epistemologia que, de fato, seja da prática (TARDIF, 2014), discussão que fazemos a
seguir.
A PCC é uma dimensão formativa que foi explicitada pela primeira vez na
legislação brasileira de formação de professores no Parecer CNE/CP Nº 28/2001 e na sua
respectiva resolução CNE/CP Nº 02/2002 que tratam da duração e da carga horária dos
cursos de formação de professores da educação básica, em nível superior. Originalmente
esse Parecer discute a relação entre teoria e prática na formação inicial docente e distingue
a PCC, da prática de ensino e do estágio obrigatório. Nesse interim, afirma que esta deve
se configurar como uma prática flexível que produz algo no âmbito do ensino,
transcendendo a sala de aula para o conjunto do ambiente escolar e da própria educação
escolar envolvendo uma articulação com órgãos normativos e executivos dos sistemas de
ensino. Além disso, deve estar presente desde o início do curso e em toda sua duração e
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concorrer para a constituição da identidade profissional do docente. “Esta correlação
teoria e prática é um movimento contínuo entre saber e fazer na busca de significados na
gestão, administração e resolução de situações próprias do ambiente da educação escolar
(BRASIL, 2001).
Com base nessa compreensão é possível delinear alguns saberes que construímos
como sujeitos e com outros sujeitos nas oficinas de materiais didáticos. Dentre esses, a
dialogicidade se destaca como viabilizadora dos demais saberes. Acreditamos que, sem
ela não é possível idealizar alternativas teóricas, metodológicas ou profissionais de
produção de saberes. Retomando Tardif (2014) quando afirma que nossos saberes
profissionais se constituem no subjetivo e no coletivo, ainda que, individualmente,
tenhamos a potencialidade de produzir saberes e de transformar nossa realidade, fora do
social temos dificuldade em lhes dar significado.
Aprender a caminhar de mãos dadas com a incerteza, eis um outro saber reificado
na prática das oficinas. Não que isso signifique descompromisso com a teoria ou com
formação. Ao contrário, corresponde ao estatuto de conhecimento das peculiaridades da
profissão docente, que, como todas as profissões, segundo Tardif (2014), mesmo se
baseando em disciplinas científicas, também necessitam de conhecimentos profissionais
que “[...] são, essencialmente, pragmáticos, ou seja, são modelados e voltados para a
solução de situações problemáticas concretas [...]” (p. 248). Assim, os conhecimentos
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profissionais exigem uma parcela de autonomia, improvisação e adaptação, demandando
capacidade de construir julgamentos em ação.
É nesse sentido que nosso desejo desde o início das oficinas foi criar situações
formativas semelhantes às da prática profissional docente, ainda que cientes dos desafios
que poderiam surgir. Na verdade, nossa intenção foi, também, de que, ao se depararem
com esses desafios, os futuros professores, ainda vinculados ao curso de licenciatura,
pudessem ser por nós acolhidos e orientados. Assim, o impacto das demandas da prática,
frequentemente urgentes, deixariam de ser algo totalmente desconhecido quando já na
atuação profissional.
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Porém, temos aprendido, também com a experiência, que tais conquistas não se
darão fora da mobilização política (OLIVEIRA, 2017). Ainda que, nós docentes,
tenhamos sido historicamente levados pelas condições materiais da profissão no país a
não o fazer (CURY, 2021). Este é um saber que precisamos (re)construir. Com isso,
embora paradoxal diante do atual cenário político brasileiro com os retrocessos das
políticas públicas educacionais, as oficinas de materiais didáticos, ainda que não tenham
sido idealizadas com esse propósito, podem gerar ambiente propício à aproximação dos
profissionais da educação superior entre si e destes com os profissionais da educação
básica. Tal aproximação, tem potencial para gerar ambiente favorável à constituição de
vínculos profissionais que, por sua vez, são capazes de favorecer a (re)constituição de
saberes políticos em nível de categoria. Embora sejam movimentos lentos, acreditamos
que tendem a ser consistentes porque nascidos de interesses comuns: a melhoria na
formação dos professores e da educação por meio da (re)construção da profissionalidade
docente.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmera de Educação Superior. Parecer
CNE/CES 15, de 2 de fevereiro de 2005. Solicitação de esclarecimento sobre as
Resoluções CNE/CP nºs 1/2002 e 2/2002, que instituem Diretrizes Curriculares Nacionais
e duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de Formação
de Professores da Educação Básica, em nível superior. Brasília, 2005.
COMARÚ, M. W.; LOPES, R. M.; BRAGA, L. A. M.; BATISTA MOTA, F.; GALVÃO,
C. A bibliometric and descriptive analysis of inclusive education in science education.
Studies in Science Education, v. 57, p. 1-24, 2021.
FREIRE, P. Educação como Prática de Liberdade. 14.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2011.
LEAL, L. A. B.; D’ÁVILA, C. M. A Ludicidade como Princípio Formativo. Interfaces
Científicas – Educação, Aracaju, v.1 n. 2, p. 41-52, fev. 2013.
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LOUREIRO, C. F. B. Educação Ambiental Crítica: contribuições e desafios. In: BRASIL,
Ministério da Educação; Ministério do Meio Ambiente. Vamos cuidar do Brasil:
conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Brasília: UNESCO, 2007.
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2. A INCLUSÃO DE PESSOA COM
DEFICIÊNCIA VISUAL NO CURSO DE
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
4
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus Jequié; ORCID: https://orcid.org/0000-0002-
8068-7548.
5
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus Jequié. Departamento de Ciências Biológicas;
ORCID https://orcid.org/0000-0002-6416-7868.
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A constituição Federal do Brasil de 1988, destaca em seu Art. 205 que “a educação
é um direito de todos e dever do Estado e da família”. Em 1994, a declaração de
Salamanca foi um marco na trajetória da Educação Inclusiva, a partir dessa, a Educação
Inclusiva se caracterizou como uma política de justiça social que alcança alunos com
necessidades especiais (SALAMANCA, 1994). Em 1994 a Conferência Mundial da
UNESCO sobre Necessidades Educacionais Especiais, declarou que “a educação é uma
questão de direitos humanos, e os indivíduos com deficiências devem fazer parte das
escolas” (DUARTE et al., 2015).
Ainda citando a constituição de 1988, o artigo 206, determina que o ensino seja
ministrado garantindo-se igualdade de condições de acesso e de permanência dentro do
âmbito educacional. Mais adiante, o artigo 208, estabelece que a escolarização seja feita
preferencialmente nas classes regulares, ficando o poder público responsável por garantir
o suporte necessário para viabilizar esse entendimento (BRASIL, 1988). Ademais, com a
aprovação da constituição de 1988, da Declaração de Salamanca e da Lei de Diretrizes e
Bases n° 9394/96 (LDB), houve uma grande conquista para os professores, pois baseado
nessas leis os direitos sublime da educação reconheceria a sua formação, como também,
a valorização do profissional da educação escolar. Além disso, em julho de 2015 foi
instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência nº3.146/2015 (LBIPD)
que assegura e promove as condições de igualdade, o exercício dos direitos e das
liberdades fundamentais da pessoa com deficiência.
Nesse contexto, Mantoan (2003) descreve a inclusão escolar como algo necessário
para aperfeiçoar as condições de uma instituição escolar, visando a formação de novas
gerações preparadas para acolher a diversidade humana, livre de preconceitos e
professores que elaborem suas práticas pedagógicas que contemple a toda sua diversidade
em sala de aula. Dessa maneira, a educação inclusiva é um avanço na mudança de valores
da educação tradicional, pois propõe novas políticas e restruturação do ensino e das
estratégias didáticas, tendo em vista, a demanda de pessoas com diferentes deficiências
ingressando em instituições educacionais (SILVA-NETO et al., 2018).
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“Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao
Longo da Vida” a mesma propõe a retomada de uma política segregadora, aplicando
classes “especiais” dentro das escolas, após extensos debates esse decreto foi suspenso
(BRASIL, 2020).
Duarte et al. (2015) enumeram vários benefícios da inclusão, tanto para os alunos
quanto para os professores e a sociedade em geral. Porém, receber alunos com
deficiências em classes regulares e não desenvolver ações de socialização e participação
ativa não garante benefícios da inclusão. Por outro lado, Campos (2018) relata que a falta
de formação de professores, implica em uma atuação inadequada no processo de inclusão
escolar. Ressaltando que, para atuar com alunos com deficiência é necessário, ao
professor, recorrer a novos meios de pesquisa, novas alternativas de ensino e diversas
maneiras de aprender a ensinar (CARNEIRO, 2015).
CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA
Para análise de dados, foram criadas 5 categorias, sendo elas: (1) Trilhando
caminhos: relato de experiência de discente com deficiência visual; (2) Educação
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Inclusiva na perspectiva dos docentes; (3) Explanação dos professores e aluno sobre as
experiências em suas disciplinas; (4) Políticas de Inclusão da Universidade: acesso e
permanência e (5) A formação de um professor de Ciências com deficiência visual. Os
meios escolhidos para elaboração do trabalho enquadraram-se no pensamento de Vergara
(2009), que enfatiza o relato de vivência, investigação e processo de construção realizada
no local de pesquisa, sendo assim, permite envolvimento do pesquisador nas vivências e
nos relatos de experiências dos participantes.
O discente discorreu sobre seu processo que o levou a perda da visão, que iniciou
quando a sua mãe teve uma complicação durante à gravidez, que não foi diagnosticada
com antecedência, dessa maneira, no seu nascimento os médicos o diagnosticaram com
miopia. No ano de 2010, aos 29 anos o discente teve perda total da sua visão, diante disso,
constatou-se que a complicação que sua mãe obteve na gravidez ocasionou uma película
na retina de seus olhos, devido ao equívoco médico e o uso de óculos de grau durante
muitos anos acarretou a destruição do seu globo ocular e no falecimento do seu nervo
óptico.
Nesse contexto, Garcia (2006) assinala, ainda, que os professores que ministram
aula para alunos com deficiência visual no ensino fundamental I e II, poderiam se
comunicar com os pais ou responsáveis dessa pessoa para traçar meios de comunicação
que auxilie no seu ensino, além de que, é essencial questionar ao discente a melhor
maneira para desenvolver trabalhos, suas dúvidas e contribuições, para juntos realizarem
um trabalho mútuo.
Ainda percorrendo pela sua trajetória educacional, o discente cursou dois cursos
técnicos antes de ingressar na Universidade, no entanto seu sonho era cursar medicina,
porém “abriu mão” de seu objetivo após perda total da visão, mas pelo amor as células
resolveu adentrar no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, ainda relata que, o
fortalecimento da sua entrada no curso se deu por conta de seu ex-sogro que era professor
na área de zootecnia e o motivava dialogando sobre as disciplinas que existiam no curso
e a área de atuação do profissional biólogo. Durante os seus cinco semestres cursados,
argumenta ter afinidade pelas disciplinas da área de botânica e que pretende se
especializar na mesma durante sua trajetória universitária.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA PERSPECTIVA DOS DOCENTES
O docente 5, relata que se sentiu amedrontado na vivência, pois não sabia como
discorrer o assunto da disciplina para que o discente compreendesse o conteúdo, mesmo
com o auxílio das técnicas do NAIPD, visto que os funcionários da assistência não tinham
formação na área de biologia ou afins. Ainda sob o olhar de Denari e Sigolo (2016, p.18)
os dispositivos legais deveriam dispor de serviços de apoio para os professores atuarem,
segundo esse preceito, haverá uma educação de qualidade que se propõe atender ao
máximo as necessidades educacionais.
A coordenadora do NAIPD relata que esses anos foram um período difícil e ainda
é, mas não mais que antes, pois a visão dos gestores na época era de que pessoas com
deficiência eram doentes, havendo uma resistência para incluir práticas metodológicas e
equipamentos que contribuísse para a permanência desses alunos na instituição.
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Januzzi (2004) declara que no Brasil os deficientes sempre foram tratados na área
clínica e utilizavam meio de reabilitação psicopedagógicas, mas nada relacionado ao
ensino-aprendizagem dessas pessoas. A coordenadora do NAIPD ainda ressalta que
naquela época houve o ingresso de alguns alunos com deficiência nos cursos da área de
saúde e para os professores e gestores da instituição foi um impacto, pois não acreditam
no desenvolvimento acadêmico dessas pessoas nessa área, para Santos e Mendonça
(2015) o professor tem um papel fundamental no processo de aprendizagem de todos os
seus alunos, sendo assim, quando se tem uma ideia preconcebida que enfatiza a
incapacidade de aprendizado de aluno com deficiência, a relação aluno-professor torna-
se árdua.
Dado o exposto, o discente relata não ter o que questionar da Universidade, apesar
de não receber nenhum tipo de bolsa foi contemplado com empréstimo de notebook e
diversos auxílios de permanência ofertados na instituição, além de ter horários de leitura
de texto e descrição de imagens com as técnicas do Núcleo.
Ao referir sobre o assunto, o discente alega estar preparado para assumir uma sala
de aula, pois consegue trabalhar com materiais adaptados e microscópio eletrônico, além
de que, considera não sentir dificuldades ao ministrar uma aula sobre os diversos assuntos
da área que está se formando. E assim, partindo do princípio de que essa seria a maneira
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de praticar a educação inclusiva, envolver o outro independente das especificidades de
cada pessoa.
Além disso, Freire (1996) retrata que “ensinar não é transmitir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”, partindo dessa ideia, a
educação é um encadeamento animado e adaptável possibilitando diversos entrelaces.
Prosseguindo, o discente explana o seu agradecimento ao Núcleo de Ações Inclusivas
para Pessoas com Deficiência e aos professores que estiveram ao seu lado buscando novos
métodos de ensino-aprendizagem, fazendo com que não desistisse do curso independente
das adversidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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CARVALHO, Rosita Elder. O Direito de Ter Direito. In: Salto para o futuro. Educação
Especial: Tendências atuais/ Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da
Educação, SEEP, 1999
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MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como fazer?. Editora
Moderna: São Paulo, 2003.
SILVA-NETO, A. O.; ÁVILA, E. G.; SALES, T. R. R.; AMORIM, S.S.; NUNES, A.K.;
SANTOS, V.M. Educação inclusiva: uma escola para todos. Revista Educação Especial.
v. 31 n. 60. p. 81-92. Santa Maria: janeiro-março, 2018.
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3. APRENDIZAGEM EXPANSIVA NO ENSINO
DE CIÊNCIAS PARA ALUNOS COM
DEFICIÊNCIA VISUAL
Foi-se o tempo em que para dar aulas usava-se aqueles cadernos, já com folhas
amareladas, como um “manual” de determinada aula e que era aplicado a todas as turmas.
Temos o embasamento científico com pesquisas na área de Ensino, que comprovam que
cada aluno é diferente e da importância de o professor elaborar um planejamento didático
voltado para seu aluno. Ressaltamos, que a prática docente vai além de quem ensina ou
de quem aprende, mas quem aprende a aprender.
Como busca a respostas para essas reflexões, fundamentamos este artigo na Teoria
da Atividade de Engeström abordando sua Teoria da Aprendizagem Expansiva
(ENGESTRÖM, 1987). Segundo essa teoria a aprendizagem expansiva, não se define
entre professores e alunos, pois o potencial expansivo está na articulação entre os sujeitos
e não no conhecimento isolado de um deles. Como uma formação de um grupo de pessoas
que compartilham um mesmo objeto orientador de suas atividades e têm seus próprios
instrumentos, suas regras e formas de divisão de trabalho (ENGESTRÖM, 2016).
Apresentamos essa perspectiva para o professor, no Ensino de Ciências para alunos com
deficiência visual, pois nos orienta sobre quais ações escolher para facilitar o processo de
aprendizagem desse aluno.
6
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde no Instituto Oswaldo
Cruz (IOC/FIOCRUZ) ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3556-6886
7
Professora Doutora, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto Oswaldo Cruz
(IOC/FIOCRUZ) ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1290-0060
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ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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Nossas pesquisas estão voltadas para o processo de ensino e aprendizagem de
alunos com deficiência visual, com um dos propósitos de compreender como se ensina e
como se aprende. A busca por essa compreensão nos levou a enxergar a sala de aula como
um laboratório investigativo onde é possível partir da premissa de que as aulas compõem
uma pesquisa complexa acerca da atividade e como determinadas ações podem
impulsionar as aprendizagens.
ESTÍMULO RESPOSTA
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Após a pesquisa final de Vigotski e com o desenvolvimento da Teoria da
Atividade, a representação acima é modificada: o estímulo e resposta são substituídos por
sujeito (S) e objeto (O) respectivamente (RUSSEL, 2002). Ilustra-se a primeira geração
da Teoria da Atividade, quando o teórico propõe reflexões das relações construídas a
partir da atividade, representada pela Figura 2.
ARTEFATOS MEDIADORES
SUJEITOS OBJETOS
Atividade Motivo/Objeto
Ações Metas/Objetivos
Operações Condições
Quadro 1 – Estrutura da Atividade de acordo com Leontiev
Fonte: Leontiev (1978)
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Tal teoria, parte do princípio de que toda atividade é intencional e surge das
necessidades, ressaltando a importância de o professor elaborar e desenvolver um
planejamento que atenda ao objetivo do conteúdo e que perpassa pelo contexto histórico,
cultural e social de todos os sujeitos envolvidos.
A Teoria da Atividade não cessou seus estudos, sendo continuada e expandida por
Yrjö Engeström (1987) – considerado a terceira geração - com foco no estudo do
desenvolvimento coletivo, na aprendizagem como contexto de atividade compartilhada
em diferentes cenários e o potencial de desenvolvimento que essa atividade
compartilhada oferece (ENGESTRÖM, 1987, 2010, 2013). Entendemos essa atividade
compartilhada quando o professor promove em sala de aula a troca de conhecimentos e a
participação dos alunos em todas as etapas de desenvolvimento do conteúdo a ser
explorado.
Após esse breve quadro histórico, iremos nos aprofundar no próximo tópico sobre
os pressupostos da Teoria da Atividade por Engeström e o desenvolvimento da Teoria da
Aprendizagem Expansiva.
Nessa estrutura, o Sujeito pode ser um indivíduo ou grupo, Objeto é algo concreto
para a qual a atividade está dirigida e é transformado em Resultado com o auxílio dos
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artefatos mediadores. Estes podem ser materiais (ferramentas) ou simbólicos (signos) e
medeiam as ações. Na Comunidade, estão outros indivíduos que compartilham o mesmo
Objeto, no nosso caso poderia ser o professor, a escola, entre outros. A Divisão do
Trabalho refere-se a divisão horizontal de tarefas e a divisão vertical de poder que existe
no sistema de atividade. Por fim, as Regras dizem respeito às normas, seja explícita ou
implícita, que restringem as ações naquele sistema de atividade (ENGESTRÖM;
SANINNO, 2016).
A partir desse sistema, Engeström considera que o foco da atividade não é apenas
para um sujeito, no caso o aluno, mas para toda a coletividade, como por exemplo: a
família, o aluno, a escola e o professor. Neste sentido, surge o modelo sistêmico da
atividade no qual é mediada também por elementos sociais/coletivos em um sistema que
demanda negociação. Para ficar claro, temos o seguinte exemplo: um professor passa uma
tarefa em sala de aula para os alunos, um desses alunos ao chegar em casa comenta com
a família sobre o que aprendeu e de que forma foi feito, a mãe não concorda e se dirige
até a escola para reclamar com a coordenação e esta reclama com o professor, afirmando
que dependendo do conteúdo não se pode inovar tanto. É um caso clássico, e há diversos
outros, para exemplificar como uma determinada ação move toda a comunidade escolar,
e determinadas escolhas vão influenciar diretamente no trabalho docente e na
aprendizagem do aluno.
Podemos dizer também, que esses sistemas de atividades são formações coletivas,
dirigidas a um objeto, que evoluem ao longo de períodos extensos, frequentemente
assumindo a forma de instituições e organizações (DANIELS, 2011).
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Em seguida a terceira ação, que visa construir um modelo que ofereça uma solução
para o questionamento determinado na ação 1. A quarta ação é examinar se o modelo
(desenvolvido na ação 3) atende a proposta estabelecida. A quinta ação é a implementação
do modelo, isto é, o professor testar em sala de aula com os seus alunos.
DEFICIÊNCIA VISUAL
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Para compreender melhor o aluno com deficiência visual, recorremos ao decreto
n. 5.296, de 2 de dezembro de 2004, que regulamenta as leis n. 10.048 e 10.098 e
conceitua a “Deficiência Visual” da seguinte forma:
Ressaltamos a importância de o professor ter uma formação que pelo menos seja
apresentado as especificidades dos alunos com deficiência e onde buscar por auxílio, mas
infelizmente sabemos que na prática não é assim, muitos professores são apresentados a
estes alunos apenas na sala de aula. A finalidade deste trabalho, é nortear e minimizar
essas barreiras. A seguir iremos elucidar alguns caminhos para os professores de Ciências,
sabendo que não é um recurso fechado a determinados alunos ou uma disciplina
específica, mas uma oportunidade expansiva.
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A fim de exemplificar como o professor de Ciências pode colocar em prática tais
pressupostos, apresentamos alguns trabalhos recentes (ALMEIDA, 2017; CARVALHO,
COUTO, CAMARGO, 2018; CENCI, VILAS BÔAS, DAMIANI, 2020; SANTOS,
BRANDÃO, 2020; LAGO, ORTEGA, MATTOS, 2019; MONTEIRO, et al., 2019) que
abordam a Teoria da Atividade para alunos com deficiência visual no ensino de Ciências.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
______. Activity theory and individual and social transformation. In: ENGESTRÖM, Y.;
MIETTINEN, R.; PUNAMÄKI, R. Perspectives on Activity Theory. United States of
America: Cambridge University Press, 1999.
______. Activity theory and learning at work. In: MALLOCH, M. et al. (eds.). The Sage
handbook of workplace learning. Los Angeles: Sage, 2010.
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Michele W. Comarú; Fabiana da S. Kauark; Nahun Thiaghor L. P. Gonçalves (Organizadores)
ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
_______________________________________________________________________
[...]. Natal: UFRN, 2019. p. 1-8. Disponível em: <http://abrapecnet.org.br/enpec/xii-
enpec/anais/resumos/1/R1044-1.pdf>. Acesso em: 27 set. 2021.
RUSSEL, B.. Elogio ao Ócio. Tradução Pedro Jorgensen Júnior. 2ª edição. Rio de
Janeiro: Sextante, 2002.
SANTOS, P. V.; BRANDÃO, G. C. A.. Tecnologias Assistivas no Ensino de Física para
Alunos com Deficiência Visual: um estudo de caso baseado na audiodescrição. Ciência
& Educação (Bauru) [online]. 2020, v. 26. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/1516-731320200046>. Acesso em 27 set. 2021.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
______. Obras Escogidas. Tomo III: Problemas del desarrollo de la psique. Madrid:
Visor, 1995.
PLOETTNER, J., & TRESSERAS, E.. An interview with Yrjö Engeström and
Annalisa Sannino on activity theory. Bellaterra Journal of Teaching & Learning
Language & Literature, 2016, 9(4), 87-98. Disponível em:
<https://revistes.uab.cat/jtl3/article/view/v9-n4-ploettner-tresserras/709-pdf-en>. Acesso
em: 24 set. 2021.
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4. CONSTRUÇÕES REFLEXIVAS DO ENSINO
DAS CIÊNCIAS POR ENQUADRAMENTO DE
MEMÓRIAS COMO PRODUÇÃO DISCURSIVA
DE UMA EDUCOMUNICAÇÃO INTERATIVA
As mudanças propostas pela nova BNCC para o Ensino de Ciências incluem não
somente modificações na nomenclatura dos Eixos Temáticos, mas, também, em relação
à proposta de complexificação de habilidades a serem construídas durante o processo de
Ensino-Aprendizagem. Neste mesmo sentido, a BNCC, ainda em vigor, propõe:
“proporcionar aos alunos o contato com processos, práticas e procedimentos da
investigação científica para que eles sejam capazes de intervir na sociedade. Neste
8
Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento (UFF – Campos dos Goytacazes). ORCID: :
https://orcid.org/0000-0001-6400-4199 .
9
Secretaria de Estado de Educação do Estado do Rio de Janeiro. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-
6730-9083
10
Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional (UFF – Campos dos Goytacazes).
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4044-1209 .
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percurso, as vivências e interesses dos estudantes sobre o mundo natural e tecnológico
devem ser valorizados.” (BRASIL, MEC, BNCC, 2017).
Rose Rico observa que no documento referente aos terceiro e quarto ciclos as
nomenclaturas foram modificadas e o tema “Ambiente” ampliava-se como “Vida e
Ambiente”, enquanto “Recursos Tecnológicos” passava a ser nomeado: “Tecnologia e
Sociedade”.
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sendo construídos gradativamente, com complexidade maior ano a ano, conforme avança
o desenvolvimento e a maturidade dos alunos. “(RICO, 2020, p. 2).
Esta temática também deve ser abordada, quanto à relação entre produção e
consumo, considerando a extração dos recursos naturais e exploração industrial, dos usos
de combustíveis fósseis e a relação do aproveitamento abusivo, pós Revolução Industrial,
destes recursos ante as consequentes mudanças climáticas que atingem o Planeta.
É importante destacar que estas questões estão presentes nos debates em classe, já
desenvolvidas por professores engajados (transgressores) em projetos que visam
promover a percepção crítica em relação ao meio ambiente.
Como elenca Rosi Rico, os pressupostos dos PCNs preservados na atual BNCC
referem-se à concepção do Ensino de Ciências enquanto conhecimentos que fornecem
elementos para a compreensão do mundo e de suas transformações. O Ensino de Ciências
também contribui para a consciência corporal, considerando a saúde como um valor
pessoal e social.
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Quando Francisco Weffort aponta, em suas “Reflexões sociológicas sobre uma
pedagogia da Liberdade” na apresentação do livro: Educação como Prática da
Liberdade, de Paulo Freire, publicado em 1967, ele demonstra a posição privilegiada do
educador no sentido de sua capacidade libertadora, como possibilidade de intervenção no
mundo: a capacidade de transformação, pois de “esclarecimento”. Na concepção
freiriana, esta condição do esclarecimento era confrontada, no período que corresponde
ao da ditadura militar, no contexto de uma
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Samiles Vasconcelos Cruz Benedito, ao elaborar o Guia Prático em
Educomunicação destinado a professores, reproduz a definição do professor Ismar Soares
da Universidade de São Paulo: “ Educomunicação é
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Esta participação requer meios, mediações e metodologia que objetivem
resultados perceptíveis enquanto práticas educativas. No caso do Ensino das Ciências, a
Pedagogia de Projetos, enquanto técnica, é apresentada por José Adilson dos Santos
Guerra (2018) como agência motivadora das construções dialéticas entre teoria e prática
educativa. Concebendo o educando também como agente motivador crítico em relação
aos desafios sócioambientais do mundo contemporâneo. A proposta pedagógica por
Projetos, segundo Guerra deve servir de ferramenta para o “desenvolvimento das
capacidades de observação, análise, raciocínio lógico, comunicação e abstração.
Vivemos em uma sociedade cada vez mais imersa em telas, telas essas recheadas
de formas e representações. As imagens se tornam meio significativo para compreensão
e apreensão do mundo real, efetivando mudanças na nossa percepção como seres
humanos e sujeitos históricos. A fotografia (escrita com luz) desenvolvida de forma
coletiva e turbulenta, que surge no séc. XIX, é instrumento de linguagem e de ordem
técnica da impressão. O mundo ocidental se depararia, a partir de então, com novas
questões para compreender as dimensões e campos de representação.
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apelando para teoria da representação, retornando a verossimilhança e universalização da
visão. Trata-se de um campo com problematizações amplas do que um assunto bem
definido.
À GUISA DE CONCLUSÃO
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Este trabalho, portanto, se conclui com questões e não respostas. Aqui se expôs
meios e não receitas prontas. Os instrumentos “Pedagogia por Projetos” que devem estar
mediados, por interação, pela fotografia, é um caminho lúdico, mas, essencialmente
científico porque o uso da técnica fotográfica requer “enquadramento”. Enquadrar é
escolher o objeto a ser “estudado”, pois permanece como imagem reconhecível mediante
a intermediação de textos, sejam imagéticos ou linguísticos. A linguagem científica, seja
através da Física, da Biologia, da Química, da Matemática e mesmo das Ciências
Humanas, é intermediada por signos. E o Ensino de Ciências é desafiado cotidianamente
neste sentido: as interpretações abstratas dos signos e suas relações com a prática, a
experimentação. Sempre é bom relembrar que Galileu e Descartes são ambos fundadores
da Ciência Moderna e que, apesar das premissas opostas entre a indução e a dedução, a
racionalidade está presente como fundamento científico. O Ensino de Ciências pode ser
lúdico, deve ser prático, na medida do possível, o que requer as observações conjunturais
do exercício de ser professor no Brasil. O que propomos é que se utilize os recursos que
os estudantes da atualidade têm acesso em maior ou menor escala tecnológica: o acesso
aos aparelhos celulares. Não é necessária a padronização de equipamentos, mas é
importante a reivindicação por acesso às conexões às redes de telecomunicações. E este
desafio é transgressor porque a transgressão é a capacidade de lutar por Educação de
Qualidade, como prática da liberdade, e pelo acesso ao Ensino de Ciências para todos.
Por uma educação tansgressora.
REFERÊNCIAS
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_______________________________________________________________________
GUERRA, José Adilson dos Santos. Pedagogia de Projetos. Curitiba: Appris, 2018.
HILARIO, Thiago Wedson & CHAGAS, Helaíny Wanyessy Kenya Rodrigues Silva. O
Ensino de Ciências no Ensino Fundamental: dos PCNs à BNCC. In Brazilian Journal of
Development. Curitiba, v.6, n.9, p.65687-65695, sep.2020. Conferir em:
https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/16233/13273 . Acesso
em 18/10/2021.
HOOKS, Bell. Ensinando pensamento crítico. Sabedoria prática. São Paulo: Elefante,
2020.
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir. A educação como prática da liberdade. São
Paulo: WMF, Martins Fontes, 2017.
RICO, Rosi. O que prevê a BNCC para o ensino de ciências? In site Nova Escola.
Conferir em: https://novaescola.org.br/bncc/conteudo/61/o-que-preve-a-bncc-para-o-
ensino-de-ciencias . Acesso 18/10/2021.
SHIAVINATTO, Iara, COSTA, Eduardo (Org.s) Cultura Visual e História. São Paulo:
Alameda, 2016.
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5. BAÚ DE PORTINARI: APLICABILIDADE NA
PROMOÇÃO DA AUTONOMIA E CRIATIVIDADE
DURANTE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
DE CIÊNCIAS
Manoel de Barros
INTRODUÇÃO
Lá vai Candinho!
Pra onde ele vai?
Vai pra Brodoski? Buscar seu pai.
Lá vai Candinho!
Pra onde ele vai?
Foi pra Brodoski.
Juntar seu boi.
Lá vai Candinho!
Com seu topete!
Vai pra Brodoski.
Pintar o sete
(Vinícius de Moraes, 1962).
11
Pesquisador LITEB/IOC/Fiocruz, https://orcid.org/0000-0001-5010-7007
12
Doutoranda PGEBS/IOC/Fiocruz, https://orcid.org/0000-0002-5052-2486
13
Doutorando PGEBS/IOC/Fiocruz, https://orcid.org/0000-0001-8765-0935
14
Doutorando PGEBS/IOC/Fiocruz, https://orcid.org/0000-0001-5427-9279
15
Pesquisadora LITEB/IOC/Fiocruz, https://orcid.org/0000-0002-8233-5845
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Os versos do poema para Candinho Portinari em sua morte cheia de
azuis e rosas, do poeta Vinícius de Moraes, revelam traços marcantes da biografia do
pintor brasileiro Candido Portinari (1903-1962). Desde menino já possuía alma de artista.
O carinhoso apelido de infância, “Candinho”, já designava um menino arteiro e brincante,
em “Brodoski” (São Paulo), cidade natal que inúmeras vezes foi retratada em suas
pinturas. O trecho “buscar seu pai”, destaca não apenas a função de genitor de Batista
Portinari, mas também de incentivador da carreira de artista do filho. Batista Portinari e
Domênica Torquato, ambos italianos, que imigraram para o Brasil no final do século XIX,
para viver e trabalhar nas lavouras de café. O casal Portinari se dividia entre as plantações
de café e a criação dos 12 filhos. O menino Candinho, segundo filho do casal, vivia a
“pintar o sete”, como bem destaca o poeta (CALLADO, 1979; PORTINARI, 2011).
A B
Figura 1: A - Quadro Catequese (1941); B - Quadro O baú e a cabaça (1946). Obras de Candido
Portinari Fonte: Portal Portinari.
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O “Baú de Portinari” foi criado no Projeto Portinari, que tem como objetivo
retratar a vida do pintor, com cenas lúdicas e com brinquedos do início do século XX. Os
baús são elementos retratados na tela do artista Cândido Portinari e um símbolo do lugar
de guardar lembranças de famílias (PORTINARI, 2008). Também foi incorporado como
uma das atividades no Simpósio de Ciência, Arte e Cidadania, em 2018, realizado no
Pombal da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz (Figura 2A), na qual alunos entravam em
contato com as artes incluídas no Baú, conheciam a história de Portinari e pintavam suas
impressões. Esse elemento também foi uma atividade incorporada ao projeto Expresso
Chagas XXI, uma exposição participativa com ciência e com arte para falar da doença de
Chagas em cidades endêmicas (ARAÚJO-JORGE et al., 2021). Nesse estudo, o “Baú de
Portinari” foi exibido no “Vagão 3: Brincar e Descobrir” (Figura 2B). Todas essas
atividades vêm sendo desenvolvidas em projetos do Laboratório de Inovações em
Terapias, Ensino e Bioprodutos (LITEB/IOC/Fiocruz).
A B
Figura 2: A - Simpósio CAC 2018; B - Vagão 3 (Expresso Chagas). Fonte: Registro Próprio.
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processo que, somadas às limitações e restrições de acesso à internet, resultaram em
tribulações no ensino (SILVA et al., 2020). Assim, repensar a prática docente para o
formato remoto/virtual se tornou um grande desafio (ALBUQUERQUE et al., 2020).
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A necessidade de formar pessoas criativas, capazes de transitar entre
diferentes campos do conhecimento, de maneira a promover a inovação
tecnológica, vem ao encontro desta reintegração de saberes em
contraposição à fragmentação e especialização em vigor nos currículos
(MAGALHÃES, 2019 p. 14).
O PERCURSO DE (RE)CONSTRUÇÃO
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Para auxiliar na análise dos materiais enviados pelos alunos, utilizamos uma
planilha de acordo com o modelo presente no quadro 1. Analisamos elementos utilizados
para a construção do baú em si, entendendo que o material, o formato, suas dimensões e
características de personalização implicam em diferentes modos de conectar com os
artefatos. Nesta etapa, durante a análise, buscamos observar as possíveis relações
estabelecida em um primeiro momento entre sujeito e baú.
Os possíveis materiais que poderiam compor os baús foram, a priori, por nós
listados e, em seguida, categorizados de acordo com suas funções primárias de modo que
pudéssemos vislumbrar os elementos norteadores das escolhas e compreender os
principais olhares de cada artefato. Os itens não presentes em nossa lista primária foram
alocados, quando possível, dentro destas categorias. Esse outro olhar nos permitiu
também repensar objetos e materiais para práticas de CienciArte. Utilizamos então as 13
categorias cognitivas (ROOT-BERNSTEIN; ROOT-BERNSTEIN 2001) como
referencial analítico para compreender como tais itens poderiam se relacionar com as
práticas educativas.
Figura 3: "CienciArte no ensino remoto à luz do baú de Portinari, conectando pessoas e superando
barreiras". Na ilustração, a personagem compõe seu próprio Baú de Portinari com materiais
educativos enfatizando a criatividade, elemento fundamental e sempre estimulado na disciplina de
CienciArte. O ambiente carregado de luz solar simboliza, o insight, aquele momento de introspecção,
compreensão, conhecimento e intuição do artista, cientista, e nesse caso, do estudante. Fonte: Erik
Costa
DESVELANDO OS BAÚS
Na disciplina, 53 cursistas foram matriculados, em sua maioria, se classificaram
como brancos (50%), alunos de doutorado (86%), com idade inferior a 40 anos de idade
(73%). Cerca de 70% deste público tem formação docente e atua ou atuou em áreas como
Biologia, Física, Química, História e Educação Física. Sendo um público bastante
heterogêneo em sua composição, o que possibilita múltiplos olhares nas composições dos
baús. Os perfis dos discentes, assim como os meios nos quais souberam do curso
CienciArte I estão presentes na tabela 1.
Todos criaram seus baús para o trabalho nas aulas do curso. Os participantes da atividade
registraram no sistema e exibiram seus baús durante a disciplina, a maioria demonstrando
satisfação e pela construção do seu baú e animação em apresentá-lo, visto em uma fala
de um discente solicitando: “Posso apresentar o meu (baú), professora!?” (Figura 4).
Outra discente comentou já ter criado um espaço de inovação denominado “Lab
de invencionices” em sua residência no período da pandemia de COVID-19 com
objetivo de aguçar a criatividade e em pensar atividades com seus alunos ao terminar.
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Para essa discente, “o baú foi como um sintetizador” do que ela já vinha realizando.
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Figura 4. Exemplos dos Baús apresentados pelos cursistas da disciplina CienciArte I. Fonte:
Discentes da Disciplina CienciArte I.
Ao longo das análises, listamos 155 tipos de itens utilizados pelos discentes nos
seus 53 baús e dispostos em nuvem de palavras (Figura 5). Não observamos um item
predominante e/ou presente em todos os artefatos produzidos pelos discentes, o que nos
indica uma pluralidade nas composições e um consequente olhar criativo para possíveis
abordagens de CienciArte, visto a diversidade do perfil das áreas dos alunos: professores
de biologia, arte, química, física.
Figura 5. Nuvem de palavras com itens/materiais presentes nos Baús de Portinari. Fonte: Os
Autores.
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Entretanto, entendemos que esses materiais “básicos”, se utilizados sob a
perspectiva da CienciArte, podem propiciar recursos inseridos nas 13 categorias
promotoras da criatividade. Destacamos aqui a observação, registro e sintetização,
primeira e última categorias cognitivas elencadas pelo casal Root-Bernstein (2001). Por
serem materiais com maiores possibilidades de aplicação, podem ser utilizados em outras
categorias cognitivas e superar os desafios citados acima.
Tabela 2. Categorização dos itens/materiais presentes nos Baús de Portinari. Fonte: Autores
Categoria Presença nos Baús
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se conectar para expressar determinadas sensações. É no corpo que se expressa aquilo
que toca o íntimo destes sujeitos. É com o corpo também que podemos representar e,
quem sabe, fazer analogias, utilizando metáforas corpóreas para abordar conceitos e
conhecimentos (GUERRA, ABÍLIO, ARRUDA, 2006; BAÍA et al., 2009 e LIZAMA et
al. 2019).
Os artefatos tecnológicos, grupo presente em 19% dos Baús, abrigou objetos como
smartphones, tablets, notebooks e kindles. Esta informação, a princípio, nos parece um
pouco controversa, em especial pela grande imersão tecnológica vivida em decorrência
das atividades remotas por conta da pandemia de COVID-19. Encontrar estes dados nos
lança o questionamento de como são percebidas as ações de CienciArte através das
tecnologias digitais? Nesse caso, se faz necessário trabalhar com esses cursistas a
compreensão e abordagem da arte sob o olhar das TIC para propiciar uma aprendizagem
que seja participativa, integrada e afetiva (BARBOSA, 2019).
Além dos itens mais representativos presentes na nuvem (Figura 5), destacamos a
inclusão de objetos como velas aromáticas, globo terrestre, itens de maquiagem, esmalte,
entre outros, que se fizeram menos presentes, mas que nos indicam outras possibilidades
de ações de CienciArte, reforçando a multidimensionalidade neste processo que vai de
acordo com o perfil e autonomia e subjetividade de cada aluno. Desta forma, podemos
explorar quase infinitas possibilidades para a promoção de CienciArte em nossas
investigações e sempre repensar as práticas na disciplina e nas ações de ensino.
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direto nos itens/materiais analisados, mas podem ser incentivadas através de inúmeras
atividades pelo educador, se realizado sob a perspectiva da CienciArte. Entretanto, a
formação ofertada nesta atividade específica e ao longo da disciplina contribuiu para
sensibilizar os cursistas nessa perspectiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A categorização dos materiais presentes nos baús nos permitiu identificar uma
diversidade de objetos/instrumentos e reforçar um olhar plural para a realização de
atividades com a abordagem da CienciArte. A pluralidade se faz importante para que as
ações realizadas estimulem, de diferentes formas, as 13 categorias cognitivas para a
promoção da criatividade (ROOT-BERNSTEIN; ROOT-BERNSTEIN, 2001).
REFERÊNCIAS
FEINBERG, J. Wordle. In: Beautiful visualization: looking at data throught the eyes of
experts, Ed. J. Steele, N. Lliinsky, O´Reilly Media, Sebastopol, Chapter 3, p. 37-58, 2010
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6. ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL: LUDICIDADE E
INCLUSÃO DE LICENCIANDOS NO CONTEXTO
DO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL
16
Universidade Federal do Pará http://orcid.org/0000-0003-3396-700X
17
Universidade Federal do Pará – UFPA http://orcid.org/0000-0003-1307-1249
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Subjetividade. A teoria da subjetividade e a epistemologia qualitativa tem permitido gerar
inteligibilidade para fenômenos humanos em campos diferentes como os da saúde e da
educação (MITJÁNS MARTINEZ; GONZÁLEZ REY, 2019). Em nossa prática
pedagógica como professores universitários, essa teoria, a epistemologia qualitativa e o
método construtivo-interpretativo são recursos para a reflexão crítica de nossas ações e
qualidade das relações construídas no ato de ensinar.
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discentes e condições na pandemia”. Entre outras informações, o documento incluía a
prontidão dos licenciandos para participar das aulas remotas, acesso à internet e
disponibilidade de computador e/ou celular. A discussão do documento, assim como as
reflexões que fizemos sobre as informações compartilhadas foram as primeiras
referências para projetar os temas curriculares como Alfabetização e Letramento em
Ciências e Matemática IV.
No ERE, os desafios não eram somente dos licenciandos, mas também dos
próprios professores convidados para a realização da etapa do curso. Em sua maioria,
eram “marinheiros de primeira viagem”, tendo recebido seus primeiros treinamentos para
trabalhar com plataformas e na modalidade de ensino remoto.
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ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL: MICRONUTRIENTES E PROCESSAMENTO
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experimentos e questões de estudo. Para alguns textos didáticos, organizei formulários
específicos com questões de compreensão e reflexão. No final de cada tópico, explicitei
critérios de avaliação da aprendizagem dos conteúdos e as referências utilizadas.
Era a primeira vez que eu ministrava um tema para essa turma e não os conhecia,
pessoalmente. Nem eles me conheciam. Resolvi escrever uma carta de apresentação para
eles. Nela contei sobre uma história de minha infância, do desejo que tinha de conhecer
a ilha do Marajó, e dos desafios que imaginava enfrentar para conhecê-la. Sempre ouvi
histórias sobre navegar em baías. Disse à eles “Hoje o meu desafio não é somente chegar
à Ilha, mas chegar até cada um de vocês”.
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Isso me possibilitou informações sobre cada licenciando. Nesse momento, salvei todos
os contatos deles, identificando-os pelo nome.
Em outra ocasião, busquei saber mais de Paulo sobre a mesma mensagem escrita,
enviando uma mensagem em seu número privado. Ele escreveu sobre suas experiências
com o ensino remoto e de sua avaliação, ao comparar os encontros síncronos usando
webconferência e o aplicativo de mensagem. Mencionou que ficava envergonhado nas
aulas síncronas, ocorridas com o auxílio do Google Meet, pois tinha que ligar o microfone
e falar. Acrescentou ainda que, pelo chat, nem todos falavam e havia pouco retorno.
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Dos 29 licenciandos escritos no tema, 26 concluíram com êxito. Três deles
desistiram antes da primeira avaliação, alegando não terem condições de dar
continuidade. No último dia de aula, solicitei a colaboração de todos para a avaliação do
tema nas condições criadas no contexto do ERE. Dos 26 licenciandos que concluíram, 20
atenderam a solicitação feita, a seguir, na Figura 1, uma síntese da avaliação.
Gostei...
A Agenda Diária...
Da avaliação opcional
Ajudou-me a organizar o tempo
dedicado ao estudo Das avaliações
Da gincana - investigação
Explicitava as atividades diárias,
30% ajudando-me a compreender a Da gincana - jogo e investigação
dinâmica proposta para o tema, as
atividades a serem realizadas Da gincana - jogo
Não fez diferença para mim, pois não
consegui acompanhar as atividades Do experimento didático
70%
Das questões de estudo
Não fez diferença para mim, pois
tenho uma rotina focada nos estudos Leituras dos textos
0% 50% 100%
Sobre a leitura e compreesão do que estava Os Materiais de Estudo foram...
contido nos Materiais de Estudo
Adequados para
compreender a proposta
Li e conpreeendi o que estava do tema e os conteúdos
contido nos Materiais de Estudo 15% abordados
Parcialmente adequados
35% Li o que estava contitido nos para compreender a
Materiais de Estudo, mas o proposta do tema e os
compreendi parcialmente conteúdos abordados
65% 85%
Não li os Materiais de Estudo Inadequados para
compreender a proposta
do tema e os conteúdos
abordados
85%
35% em função das condições de acesso Inadequados para o meu
à internet dos integrantes da turma, aprendizado
prefiro o uso de aplicativo de
mensagem
A GINCANA
Criei essa atividade durante a realização do tema, mas já venho trabalhando com
o assunto alimentação há algum tempo, em uma perspectiva interdisciplinar, que articula
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conhecimento químico com educação em ciências orientada para uma formação cidadã,
em especial pelo cuidado com o ambiente e o autocuidado.
JOGO
Regras do jogo:
1.Jogo é constituído de uma CARTELA individual, contendo informações sobre cinco
(5) alimentos industrializados. Além da cartela, contém também um TABELA DE
REGISTRO. Cada participante do jogo deverá usar a sua própria cartela e sua própria
tabela.
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3.Participarão do jogo todos os jogadores que possuírem a CARTELA e a TABELA DE
REGISTRO.
4.O jogo iniciará às 19h do dia 08/04/2021. Será realizado via aplicativo de mensagem.
A professora iniciará com a mensagem de BOA NOITE! Os licenciandos-investigadores
que estiverem online sinalizarão a presença no grupo, respondendo a seu modo.
5.No contexto de atividades síncronas, teremos de um lado a professora, portando uma
caixa, contendo 11 peças. Cada peça contém o nome de um (1) micronutriente, que é
essencial ao organismo humano. Do outro lado, os participantes (licenciandos-
investigadores) com suas CARTELAS individuais e a TABELA DE REGISTRO.
6.Sabendo sobre quem está no grupo, a professora iniciará o jogo com o sorteio da
primeira peça, após chacoalhá-las dentro da caixa. A professora informará, por mensagem
escrita, no grupo da turma, contando um tempo de aproximadamente 10 min entre o
sorteio de uma peça e outra.
7.Com a informação sobre o nome do elemento contido na peça, o licenciando-
investigador deverá inserir o referido nome em sua TABELA DE REGISTRO, no campo
indicado NOME DO ELEMENTO.
8.Após registrar o nome do elemento na Tabela, o licenciando-investigador deverá
procurá-lo em sua CARTELA, somente em INFORMAÇÃO NUTRICIONAL dos cinco
rótulos dos alimentos que ele selecionou.
9.Caso conste o nome do elemento na INFORMAÇÃO NUTRICIONAL, o licenciando-
investigador deverá preencher a Tabela com a informação referente ao NOME DO
PRODUTO ALIMENTÍCIO, na coluna correspondente à linha do nome do elemento. O
licenciando deverá procurar a informação da presença do elemento em todos os rótulos
contidos em sua CARTELA individual, inserindo o nome do produto na mesma linha
correspondente ao elemento sorteado e separado por vírgulas.
10.Caso não conste o nome do elemento na INFORMAÇÃO NUTRICIONAL, o
licenciando-investigador deverá preencher a Tabela com a informação NÃO FOI
LISTADO NA INFORMAÇÃO NUTRICIONAL.
11.O máximo de nome de produtos alimentícios que poderá constar em cada linha,
correspondente ao elemento sorteado, é cinco.
12.Após buscar a informação sobre o elemento da peça sorteada em todos os rótulos, e
garantindo-se de que não consta na Informação Nutricional do alimento, o licenciando-
investigador escreverá na coluna NÚMEROS DE PRODUTOS, a quantidade de produtos
no qual encontrou a presença do respectivo elemento (micronutriente informado no
rótulo).
13.Após, aproximadamente, 10 min. a professora sorteará mais uma peça. E todos
procederão de forma semelhante à primeira peça sorteada.
14.Serão sorteadas 8 peças, de um total de 11.
15.Ao término do sorteio, cada licenciando somará os valores da coluna NÚMEROS DE
PRODUTOS. Essa será uma informação valiosa para o próximo momento da GINCANA,
o da INVESTIGAÇÃO.
16.Com o auxílio da TABELA PERIÓDICA, fornecida pela professora, cada
licenciando-investigador preencherá a coluna Símbolo, na TABELA DE REGISTRO.
Como nome da peça sorteada, procure o símbolo químico correspondente na Tabela
Periódica.
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INVESTIGAÇÃO
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Registro da investigação: Uso do formulário online (ver figura 3)
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principais desafios enfrentados, o acesso à internet, a abordagem do conteúdo, e a
comunicação.
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“rever diversos conceitos químicos” e para Sindey “dificuldades minhas em
compreensão textual”. Pensada de forma contextualizada, investigativa, lúdica e
interativa, a atividade demandou a participação ativa dos licenciandos. Eles se
organizavam para realizar as tarefas que eram condição para participarem nos encontros
síncronos.
Uma outra dimensão da prática pedagógica que nos serviu de ilustração e que
constituiu um desafio foi o processo de comunicação. Lembramos que a comunicação
esteve relacionada à conectividade dos estudantes e à disponibilidade de dados móveis
para a maioria deles. Esse desafio foi reconhecido pela professora, desde o planejamento
do tema, ao valorizar o uso do aplicativo de mensagem como o espaço para os encontros
síncronos, a previsão dos quadros comunicativos, mas também pelas alterações que se
fizeram necessárias, em decorrência da disponibilidade de dados móveis pelos estudantes,
para terem acesso aos conteúdos disponibilizados. Além dos quadros, a comunicação se
ampliou em função das próprias demandas da turma quanto ao retorno das avaliações e a
criação da Gincana pela professora. Também, avaliamos que contribuíram para gerar
espaços de comunicação proveitosos entre professores e licenciandos o reconhecimento
dos problemas contingenciais, o clima afetivo e respeitoso e os incentivos oferecidos
individualmente.
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NOTAS
REFERÊNCIAS
UNESCO. COVID-19 e educação superior: dos efeitos imediatos ao dia seguinte; análises de
impactos, respostas políticas e recomendações. Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO). Instituto Internacional para a Educação Superior na América
Latina e Caribe (UNESCO-IESALC) 2020, Disponível em:
<https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000374886 >Acesso em: 10 jun. 2021.
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7. ENSINO DE QUÍMICA E ATIVIDADE
EXPERIMENTAL PROBLEMATIZADA (AEP)
COM VISTAS À INCLUSÃO DIGITAL: ANÁLISE
POR IMAGENS DIGITAIS VIA ANÁLISE
MULTIVARIADA DE DADOS NO CONTEXTO DA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA
Monteiro, Sales e Lima (2013) relataram que o uso de experimentos nas aulas de
Química, promove o aumento da interação professor-aluno, além de enriquecer os
formatos de aprendizagem e permitindo a troca de informações de maneira mais ampla.
Por esse lado, faz com que os assuntos abordados se tornem mais concretos, promovendo
uma melhor assimilação com a teoria.
18
Universidade Federal do Espírito Santo. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2074-5686
19
Universidade Federal do Espírito Santo. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1938-2224
20
Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8245-9389
21
Universidade Federal do Espírito Santo. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2617-1601
22
Universidade Federal do Espírito Santo. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2659-5383
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Para Silva e Silva (2019), numa atividade experimental deve usar um método que
oportunize aos alunos realizar a interpretação dos fenômenos; construir significado e
manusear objetos durante a realização dos experimentos; projetar uma aprendizagem
crítica pautada no diálogo e na relação interpessoal.
Para que isso ocorra de modo concreto, deve-se estruturar a formação inicial nas
universidades, principalmente nos cursos de licenciatura. Ambrosetti e colaboradores
(2013) argumentam que os atuais modelos de formação de professores nas universidades
estão desarticulados com uma prática profissional mais contemporânea, podendo
acarretar defasagens acadêmicas.
Para que essa adversidade seja amenizada, tem-se o desafio de garantir o uso
democrático de tecnologias educacionais de modo a favorecer a aprendizagem
significativa, sendo aliadas para a geração de debates e de diálogos, de contato
sociocultural e de problematização do cotidiano como mediadoras para aulas
experimentais investigativas Com a inclusão de tecnologias na área da Química, têm-se
uma visão mais ampla dos fenômenos a serem estudados, podendo abranger tanto os
níveis macroscópicos quanto os níveis microscópicos das investigações científicas.
(NICHELE & SCHELEMMER, 2014).
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STEAM - do inglês, Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematic
(MACHADO & ZAGO, 2020).
O ensino experimental por meio da AEP tem como propósito estabelecer uma
relação entre o objetivo experimental e as diretrizes metodológicas a partir da definição
e análise de um problema a ser investigado, preferencialmente em um cenário
contextualizado. Esse problema define o objetivo experimental, pelo qual se originam
certas ações estratégicas que direcionam e orientam aos procedimentos experimentais,
denominadas de diretrizes metodológicas. De maneira geral, a AEP requer para sua
aplicação a determinação de um problema proposto, para se chegar a um objetivo
experimental, para ser resolvido com diretrizes metodológicas próprias, de modo a
estabelecer a sincronia e a articulação entre três aspectos específicos, como eixo teórico
da Atividade Experimental Problematizada, de acordo com a Figura 1. (SILVA,
MOURA & DEL PINO, 2017).
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As diretrizes metodológicas, por sua vez, constituem-se de um roteiro
de ações práticas derivadas do objetivo experimental. Atuam como
proposituras orientadoras aos procedimentos a serem realizados. Não
devem ser admitidas como um fator limitador ao se tratar da
experimentação, pois admite-se aqui que a aprendizagem é limitada ao
se tratar da experimentação sob vieses observacionais ou
procedimentais fechados, do tipo “receita-de-bolo”. Contudo, tais
diretrizes surgem como uma etapa necessária, que oferece o
estabelecimento das primeiras ações e norteia os fazeres gerais. Com
isso, tampouco se reduzem a imposições ou receituários a serem
seguidos com rigor, podendo ser modificadas a qualquer tempo pelo
professor e/ou alunos. Além disso, visam à inteligibilidade do objetivo
proposto e incentivam uma discussão entre os integrantes do grupo de
trabalho anterior e concomitante às suas ações, fatores considerados
cruciais para a organização das ideias individuais e estabelecimento de
uma ação conjunta. Sob esta argumentação, sugere-se que em dadas
experimentações alguns problemas propostos distinguem-se de suas
diretrizes, em natureza e conteúdo, uma vez que o propósito das
diretrizes metodológicas é oferecer respostas ao objetivo experimental,
mas não propriamente ao(s) problema(s) proposto(s).
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(d) Socialização: no quarto momento se estabelece a discussão teórico-
experimental e o compartilhamento dos resultados obtidos ao problema proposto pelos
grupos de trabalho. O professor e os alunos avaliam o desenvolvimento das diferentes
diretrizes metodológicas procedimentais, que podem ser distintas devido às diferentes
técnicas utilizadas por cada grupo.
Outro estudo foi desenvolvido por Böck e colaboradores (2015), que apresentaram
um experimento didático para o ensino de análise exploratória de dados por imagens para
explicar o método de PCA. Por isso, a introdução de assuntos e tecnologias importantes
como essa temática desde o início da graduação é de grande relevância, pois os estudantes
já começam a ter contato com pesquisas e o que está tendo mais de novo na área da
química, além de contribuir para o desenvolvimento técnico-científico.
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podendo ser uma alternativa aos métodos convencionais laboratoriais (BYRNE &
COLABORADORES, 2000; HELFER, 2017; BAUMANN, 2019; ZHANG, 2016).
Logo, as informações químicas são geradas por meio de imagens digitais por meio de
dispositivos móveis
No final do ano de 2019 foi detectada uma nova mutação de corona vírus, SARS-
CoV-2, causadora da Corona Virus Disease-19, conhecida como COVID19
(WERNECK, CARVALHO, 2020). Devido a pandemia, ocorreu o isolamento social e as
aulas migraram para as plataformas digitais. No semestre letivo de 2020/1, realizou-se a
aplicação de um projeto de ensino experimental, numa turma de oito alunos da
licenciatura em Química, na disciplina de Química Geral I, no contexto das atividades
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acadêmicas desenvolvidas durante o período especial de Ensino-Aprendizagem Remoto
Temporário e Emergencial (Earte) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
diluição;
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digitais. Cabe destacar que foram necessárias adaptações devido a não utilização dos
laboratórios de ensino de química, sendo necessário realizar a organização e o
desenvolvimento da atividade experimental nas casas dos alunos. O professor regente da
disciplina de Química Geral I e o aluno de estágio em docência, do Programa de Pós-
Graduação em Química (PPGQUI) da UFES, organizaram reuniões virtuais para discutir
sobre o andamento dos experimentos propostos pelos dois grupos de alunos licenciandos
em química. Os grupos de alunos tiveram três semanas para a elaboração e execução da
prática experimental. Na semana da socialização e sistematização das atividades
organizadas pelos grupos, além da apresentação em slides, também entregaram o relatório
descritivo do que foi realizado contendo objetivo, materiais e métodos, resultados,
discussão e conclusão. A sequência didática desenvolvida nos quatro encontros virtuais,
tratou dos principais pilares da AEP: Problema Proposto, Objetivo Experimental e
Diretrizes Metodológicas, aplicados ao longo dos seus cinco momentos mencionados
anteriormente (SILVA, MOURA & DEL PINO, 2017).
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contextualização parte do princípio de refletir e investigar a realidade onde estão
inseridos, para um melhor entendimento na tomada de decisões e para compreender o
cotidiano por diversos olhares e aspectos (AIRES & LAMBACH, 2010).
curva padrão), para verificar as concentrações das amostras testes a serem confirmadas
de modo quantitativo através do app REDGIM. Quanto às diretrizes metodológicas,
utilizaram os seguintes materiais: comprimidos de KMnO 97%, 8 garrafas de plástico de
4
500 mL, copo medidor culinário, água e garrafa pet de 2 litros. O primeiro grupo delineou
o procedimento construído sem o auxílio de um roteiro pré-estabelecido, ou seja, as
concentrações das soluções foram estabelecidas pelo próprio grupo, bem como os
materiais utilizados e a realização da curva analítica (figura 2).
pontos da curva analítica foram feitas a partir da solução estoque com as devidas diluições
e apresentaram um volume final de 500 mL. Cada ponto referente a curva apresentou
respectivas concentrações: 1º ponto: 4,904x10 mol.L ; 2º ponto: 3,678x10 mol.L ; 3º
-4 -1 -4 -1
ponto: 2,452x10 mol.L ; 4º ponto: 1,226x10 mol.L e o 5º ponto: 6,13x10 mol.L . Para
-4 -1 -4 -1 -5 -1
as duas amostras a serem analisadas que os alunos prepararam para confirmar com o
aplicativo REDGIM, foram feitas nas seguintes concentrações: Amostra 1: 4,291x10 -4
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que os valores esperados das amostras eram respectivamente de 4,291x10 mol.L e de -4 -1
3,065x10 mol.L e os preditos como valores de teste que o aplicativo estabeleceu foram
-4 -1
ponto: 12,5 g.L ; 4º ponto: 16,7 g.L e o 5º ponto: 20,8 g.L . Para as duas
-1 -1 -1
1
respectivamente e obtiveram resultados de 12,954 g.L e 13,1 g.L . No processo
-1 -1
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Isso posto, fica claro a importância da aplicação das atividades colaborativas que
alinham procedimentos investigativos e a resolução de problemas. Exercitar uma conduta
construtiva, valorizando o saber pessoal de cada aluno nas aulas experimentais, aguça a
participação discente no processo de construção do conhecimento. Nesse contexto, o
professor deve ser o mediador que preza pela participação ativa do aluno na perspectiva
da resolução de situações problemas.
Com isso aumenta-se seu espaço como protagonista na sala de aula a ponto de
aprimorar cada vez mais a predição de respostas, a elaboração e a testagem de hipóteses
e de promover debates junto com argumentações consolidadas com o objetivo de
estruturar e alcançar os significados dos conteúdos estudados de maneira exploratória.
Logo, elabora a conexão das informações adquiridas nos processos de formação e
relacionando-as as suas perspectivas como futuros professores (SUART &
MARCONDES, 2009). Nesse contexto, os alunos têm a chance de vivenciar uma
proposta de investigação problematizada, abrindo várias possibilidades e caminhos para
elencar hipóteses, colocá-las em práticas e discutir de maneira colaborativa, aprendendo
e argumentando sobre cada tópico envolvido nas diretrizes metodológicas e o que levou
aos resultados, desenvolvendo assim suas habilidades cognitivas e sua autonomia
(SUART & MARCONDES, 2008).
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ao processo de organização do conhecimento. Dentre as tecnologias da informação e de
comunicação portáteis presentes na vivência escolar, destacam-se o uso dos aparelhos
celulares em sala de aula para fins pedagógicos (BENTO & CAVALCANTE, 2013).
REFERÊNCIAS
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8. FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A
DIVERSIDADE ENQUANTO EIXO NORTEADOR
DAS DISCUSSÕES QUE ENVOLVEM A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
23
Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo. juliano.engesan@gmail.com ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-9257-1999
24
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2405-0320
25
Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6296-9939
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diversidade cultural e se constitua como sustentável quanto aos aspectos ambiental,
econômico e social.
Por ser algo essencial à vida, o alimento não deveria entrar na roda do mercado
financeiro como simples ativo, o país deveria ter estoques públicos para assegurar a
manutenção dos preços numa faixa viável à sua população, no entanto, o que se vê a
partir dos anos 80, é a redução da intervenção do Estado, que acaba por fortalecer as
articulações pensadas pelos setores privados e mercados internacionais, deixando a
produção e acesso ao alimento à mercê dos interesses de grupos econômicos
(GOLDFARB, 2012).
Mas esta lógica neoliberal pode ser invertida e, indo na contramão temos a busca
pelo fortalecimento dos circuitos curtos, que possibilitam aos agricultores familiares
formas de controle sobre os recursos tanto na produção, como na transformação,
comercialização e consumo. Prima-se assim, em consonância com os princípios da
segurança alimentar e nutricional, por características fundamentais, como as tradições
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culturais, a acessibilidade, disponibilidade e diversidade dos alimentos, numa perspectiva
sustentável e inclusiva (CONTI, 2013), que valoriza as diferentes expressões da
identidade e cultura alimentar local e regional, reconhecendo sua riqueza seja no preparo,
combinações e escolhas.
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Não se trata de negar a contribuição dessa cadeia para o sucesso comercial
brasileiro, mas de perceber que a soja não faz parte da nossa cultura alimentar,
destinando-se basicamente à exportação, e sobretudo, que trouxe consigo desequilíbrios
ambientais, econômicos e sociais. Trata-se de perceber que os aspectos econômicos não
podem prevalecer diante dos danos ambientais e humanos associados a esta e outras
monoculturas, que desmatam e incorporam áreas nativas afetando a biodiversidade,
reduzem a diversidade do alimento ao substituir outras produções, intensificam práticas
inadequadas de cultivo que provocam perda de solos férteis e o desaparecimento de
nascentes e cursos d’água, modificam geneticamente as sementes, criam dependência do
uso de produtos químicos (MIRANDA et al., 2007).
Neste sentido, uma das principais bandeiras do movimento CTS, foi a necessidade
de preparação dos cidadãos para participar de forma crítica e responsável dos processos
decisórios (BAZZO; LINSINGEN; PEREIRA, 2003); exigindo um ensino científico
diferente do propedêutico modelo tecnocrático, que defendia a neutralidade da ciência e
uma educação em ciências conteudista, descontextualizada, excludente, inatingível e
irrelevante para as situações do quotidiano, voltada ao treino e a seleção daqueles
considerados aptos a seguir estudos acadêmicos (NASCIMENTO; LINSINGEN, 2006;
AIKENHEAD, 2009).
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FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EDUCAÇÃO COM ENFOQUE CTSA
Evidencia-se então que não se faz mais suficiente aquele professor “monocultural,
bem formado, seguro, paciente, trabalhador, distribuidor de saberes, eficiente, exigente,
que cumpre ordens, currículos, programas, pedagogias” (GADOTTI, 2011, p. 26) sem
questionar as condições políticas e materiais nas quais atua, sem refletir a importância de
seu ofício para a sociedade.
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Faz-se fundamental a reflexão profunda sobre o próprio ensino com vistas a uma
estreitamento entre os saberes curriculares fundamentais e as experiências sociais dos
educando, respeitando e estimulando sua capacidade crítica e criadora; pois não há
formação sem profissão, nem profissão desvinculada da formação, estando o professor
em processo de construção permanente (FREIRE, 1996).
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Nesta etapa contou-se também com a colaboração dos sujeitos de notório saber,
cujos conhecimentos científicos socializados contribuíram para o enriquecimento das
discussões. No primeiro sábado foram estabelecidos diálogos com a nutricionista Márcia
Cesário, docente do IFMG-SJE, que socializou conhecimentos acerca dos aspectos
nutricionais e alimentares, numa perspectiva multidimensional permeada por diferentes
aspectos, como sociais, econômicos, históricos, culturais e psicológicos. Estabeleceu-se
assim, no primeiro encontro síncrono, um diálogo que ratificou a importância de realizar
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intervenções de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) levando em conta os múltiplos
determinantes do ato de se alimentar e o contexto dos sujeitos envolvidos.
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sociedade, mas que esse papel deve ser referenciado dentro de um contexto repleto de
desafios e dificuldades.
Para ilustrar vale trazer a participação de uma professora, cujo SH, representou
sua aluna da EJA, uma adolescente transgênero, negra e residente numa região de
periferia. A história do SH quanto a questão alimentar era marcada pela fome e pelo
desejo de consumir alimentos de grandes redes de fast food, mas sem condições de
realizá-lo, dada sua realidade socioeconômica. O acesso a alimentação era concretizado
com as refeições da escola, a qual era denominada merenda de prato único, sem
possibilidade de repetição. Embora marcada pelo preconceito e empobrecimento, a
professora relatou que a aluna era alegre e radiante, tinha nascido para brilhar e não para
passar fome, fazendo alusão a música de Caetano Veloso, Gente.
Em outra história o SH estava ligado ao contexto de vida de sua autora que fez
referência a família da qual faz parte. Trata-se de então de vários SH’s, os quais compõem
uma família do campo, descendentes de quilombo, de hábitos simples, mas com uma
gama enorme de saberes vinculados à terra, ao plantio de alimentos, a produção de
artefatos vinculados a produção e transformação dos alimentos (pilão, peneira, balaio,
fornalha, etc.). As pessoas representadas pelos SH’s se vincularam fortemente ao caráter
afetivo da alimentação, materializando num conjunto de sabores alimentares que
retornam relações vivenciadas, sensações e lembranças entrelaçadas à sua identidade e
cultura alimentar.
Em outra, o SH foi representado por duas mulheres, mãe e filha, ambas indígenas
que moram numa casa improvisada, construída com lonas recolhidas do descarte das
grandes propriedades, telhas de amianto e chão de terra batida, em uma aldeia que sofre
forte influência de latifundiários produtores de grãos para exportação. A moradia foi o
que restou devido a perda de território ocasionada pelo aumento vertiginoso das áreas de
plantação de soja. Não obstante, essas mulheres e demais índios tiveram suas áreas de
florestas reduzidas, com consequente redução da área de coleta de frutos e também para
o plantio da mandioca, a qual é utilizada na fabricação de bejú. O rio no qual se banham
apresenta indícios de contaminação por agrotóxico, podendo ser a causa de constantes
dores de cabeça. Trata-se de um grupo que tenta preservar sua territorialidade, identidade,
cultura e sobrevivência, mas que tendem a ser invisibilizados em função dos interesses
do agronegócio.
Estes e outros discursos que compuseram as histórias dos SH’s demonstraram uma
consciência da alimentação num perspectiva multidimensional. Alguns iam oralizando a
importância do curso para a percepção de algumas questões e seu crescimento pessoal e
profissional. Ao final foi pedido aos participantes para avaliarem o curso, dos 25 inscritos,
16 responderam ao questionário, desses, 12 participantes cumpriram integralmente as
atividades e tiveram as respostas analisadas.
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Quando perguntado se gostariam de dar continuidade a formação com curso de
elaboração de Sequência Didática na perspectiva da educação problematizadora para a
Educação Básica, 100% dos participantes disseram que sim, e alguns, no espaço aberto,
nos agraciaram com comentários como: “Que oportunidades como essa sejam ainda mais
recorrentes”; “Gostei muito da formação, agradeço demais! Fez repensar muito minha
prática docente e saio entusiasmada a realizar ações”; “Somente agradecer por esses
encontros aos sábados. Foram de grande importância tanto pessoal como profissional”.
Evidenciando a vontade desses professores de aprender novas metodologias e inovar em
suas práticas.
Diante desses comentários e pelo fato de 100% dos participantes que concluíram
o curso terem assinalado “concordo totalmente” para as afirmativas “Ao meu ver o curso
favorece a compreensão do caráter multimensional da temática alimentação” e “A
participação nesta formação possibilitou-me conhecer/revisitar perspectivas teóricas,
pedagógicas e metodológicas importantes no desenvolvimento de futuras práticas
educativas”, considera-se que esta formação favoreceu a diversidade e a
multidimensionalidade da temática alimentação e contribuiu para um pensar inclusivo e
problematizador a respeito da prática educativa.
REFERÊNCIAS
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Michele W. Comarú; Fabiana da S. Kauark; Nahun Thiaghor L. P. Gonçalves (Organizadores)
ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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9. FLORES DE BASÍLIO: REFLEXÕES SOBRE
EXTENSÃO, INCLUSÃO E O PAPEL DA
POSTURA REFLEXIVA NO ORGANIZAR DE
UM JARDIM SENSORIAL
26
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5692-3002
27
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4846-3170
28
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8807-931X
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Na verdade, a ideia inicial consistia em desenvolver uma pesquisa realizada em
duas fases. Na primeira fase, o estudo analisaria o desenvolvimento de um mini jardim
sensorial, confeccionado para o evento, assim como a experiência do evento em si e, na
segunda fase, seria construído um projeto de extensão vinculado ao Laboratório de
Práticas de Ensino de Ciências (Lapec), um programa do Ifes voltado para o
desenvolvimento de práticas pedagógicas (COMARÚ; KAUARK, 2015). Todo o projeto
se pautava no desenvolvimento de uma postura reflexiva a partir da qual se pleiteava a
construção concomitante da pesquisa e do projeto de extensão de jardim sensorial para a
escola em questão, mas, devido ao fechamento das escolas pela segurança sanitária contra
a proliferação da pandemia de covid-19, o processo foi interrompido.
Neste processo, foi identificado algo que no decorrer dos eventos não estava tão
evidente. Notamos que seria difícil, ainda que não houvesse o fechamento da escola por
causa da pandemia, seguir com o desenvolvimento do Flores de Basílio, pois havia uma
postura, característica da escola estudada e expoente dos dados da primeira fase, que
precisava ser entendida e superada antes da implementação de um jardim sensorial na
escola.
Tal postura, a mesma discutida em Rezende (2018, 2019), trata de uma inclinação
tecnicista dos sujeitos na escola, que nos fez refletir que não bastava estimular uma
discussão acerca dela, mas encorajar uma reflexão que a superasse. Deste pensamento
surgiu uma indagação: de que modo uma postura reflexiva se articula ao organizar de um
jardim sensorial em uma escola pública federal?
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de duas características basilares: (1) o diálogo com a comunidade, principalmente
buscando aproximar e promover a participação da comunidade na qual a escola está
inserida e; (2) o favorecimento de práticas pedagógicas inseridas numa perspectiva
inclusiva (REZENDE, 2019).
Diante dessa realidade, buscamos refletir sobre caminhos para educação que, a
partir do cotidiano, pudessem representar as características de um paradigma emergente.
Segundo Behrens (1999), falamos em paradigma emergente no ensino quando da
incorporação de uma perspectiva que supera o pensamento tradicional cartesiano e
engloba várias teorias dentro de uma concepção mais progressista de educação.
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escolar numa perspectiva de transformação do cotidiano escolar, fato que também
contribui para a dificuldade em desenvolver e estabelecer um paradigma emergente.
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serviços diversos como uma espécie de retorno à comunidade (FARIAS, SOARES E
FARIAS, 2010; GONÇALVEZ, 2015; DE OLIVEIRA E BOAVENTURA, 2018;
REZENDE, 2019).
Segundo Ainscow (2009), enquanto alguns países tratam a inclusão como algo
relacionado a crianças com deficiência, existe uma perspectiva mais globalizada e
crescente que defende que para falar em inclusão é preciso considerar aspectos amplos
sobre diversidade.
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quanto mais cresce a exclusão social, mais se fala em inclusão. O autor salienta que, no
âmbito da educação, é preciso considerar o desenvolvimento de práticas que valorizam a
participação por meio de processos que estimulem a co-construção do conhecimento.
O stand funcionou por três dias e, além das plantas selecionadas para as
experiências sensoriais, contou com um aparato para extração de óleos essenciais, que foi
montado com a finalidade de apresentar aos visitantes do stand formas de como estes são
obtidos em laboratório.
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Destacamos nesta fala da aluna que todo o processo foi também caracterizado pela
adaptabilidade. Para Rodrigues (2006), a adaptação é um processo contínuo, pautado
numa mudança na postura para com os sujeitos com deficiência e não algo que se encerra
em modificações infraestruturais.
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A partir dessa decisão, outros sujeitos da comunidade escolar – alguns destes
presentes na escola desde a sua construção –, que não acreditavam na narrativa da
contaminação do solo, somaram forças para investigar o tema. Juntos, partimos em busca
de respostas racionais e o resultado é que a contaminação não existe e que a ideia não
possui fundamento em fatos concretos.
Legenda: Na imagem é possível visualizar: 1) a área do Ifes - Campus Vila Velha, delimitada em vermelho;
2) a área do Cemitério Municipal de Santa Inês, delimitada em amarelo; e 3) a área destinada ao plantio
dos canteiros do jardim sensorial, delimitada em azul. Fonte: imagem de satélite extraída do aplicativo de
acesso gratuito Google Maps e editada pelos autores (2021).
Importante notar que as raízes das plantas utilizadas no jardim sensorial não
chegam a alcançar 50 centímetros de profundidade na terra. Assim, mesmo que o
cemitério da prefeitura estivesse irregular, os canteiros não poderiam ser contaminados
pelo necrochorume.
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Além disso, há outro aspecto relevante diz respeito à própria construção da escola.
Essa construção não foi feita sobre o mesmo solo onde o estudo Neira et al. (2008) foi
realizado. O estudo foi realizado no cemitério, que é vizinho da escola. Esta, no entanto,
recebeu centenas de caminhões de aterro para terraplanagem durante sua fundação, o que
elevou seu terreno em cerca de um metro. Dessa forma, mesmo que o solo fosse de alguma
maneira poluído, ele foi aterrado e terraplanado com uma camada relativamente alta de
terra.
Essa breve narrativa nos serve para ressaltar a importância, defendida por
McNamee (2010), de adotarmos uma postura reflexiva quando necessitamos abrir
espaços para questionar empecilhos infra estruturais, burocráticos, técnicos, ou mesmo
culturais, que se apresentam quando buscamos desenvolver projetos alinhados a uma
perspectiva menos ortodoxa nas escolas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É interessante notar que no debate sobre a educação brasileira existe um enorme
amálgama de perspectivas teóricas e práticas. Ferreira (2003) acredita que a
multiplicidade de diálogos torna o campo rico e criativo, mas, por outro lado, a ausência
de uma coordenação entre as diversas perspectivas contribui para dificultar o
entendimento do campo e seu amadurecimento.
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Ao realizar uma reflexão acerca do que havia sido desenvolvido até o fechamento
da escola, notamos que mesmo se não houvesse a pandemia seria muito difícil seguir com
o desenvolvimento do Flores de Basílio. Esta constatação nos conduziu a concluir que a
transformação da postura de trabalho não poderia se encerrar em uma atividade
meramente diagnóstica, mas demandou uma transformação na forma como os próprios
pesquisadores encararam e desenvolveram a pesquisa. Para tal, foi necessário refletir
sobre a maneira como, não raro, pesquisas de caráter mais tradicional chegam no campo
já com respostas, como pontua McNamee (2010). Tal postura muitas vezes contribui para
o desenvolvimento de um percurso que obrigatoriamente resulta naquilo pré-posto. A
autora não está criticando o uso de metodologias diversas, de técnicas e instrumentos,
mas a maneira como nós os utilizamos e nossa responsabilidade, enquanto pesquisadores,
em assumir o caráter contextual das nossas pesquisas. Para tanto, não basta anunciar que
a pesquisa está delimitada a um contexto qualquer, mas aceitar este contexto e sua
capacidade geradora de conhecimento.
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10. ATUAÇÃO DOCENTE NO ENSINO DE
CIÊNCIAS SOB O ENFOQUE CIÊNCIA,
TECNOLOGIA E SOCIEDADE (CTS) NO
ESPAÇO DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO
29
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. ORCID: https://orcid.org/0000-
0001-5315-1695
30
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. ORCID: https://orcid.org/ 0000-
0002-7396-1596
129
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Isso porque as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos dos demais níveis
de ensino, em termos de requisitos curriculares para seu desenvolvimento no processo
ensino e aprendizagem. A necessidade está em lhes oferecer condições educacionais com
o olhar para a diversidade, para a especificidades (PLETSCH, 2014).
Diante dessa condição, cabe apontar que CTS é uma forma de educação que pode
oferecer caminhos para essa formação social dos indivíduos, no sentido de possibilitar
que o aluno tenha conhecimento sobre questões da Ciência e da Tecnologia do mundo
contemporâneo de maneira interdisciplinar, como: sustentabilidade, consumismo, hábitos
alimentares, recursos naturais, destino do lixo, processo de reciclagem, o homem e o
consumismo, dentre outros.
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rejeição, raiva, pena, misticismo, e diga-se que, não por suas próprias características, mas
pelas respostas dos outros diante delas (GOFFREDO, 2007).
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porque as intervenções a serem feitas pelo professor frente ao desenvolvimento do aluno
tem a ação direta desses fatores (PLETSCH, 2009).
Para que o aluno seja participativo no contexto social não basta ensiná-lo somente
a leitura das palavras, é importante que tenha competência para compreender as
informações. Dessa forma, o letramento científico pode oferecer possibilidades para que
os alunos adquiram conhecimentos para o exercício da cidadania, pois a sociedade exige
do cidadão muito mais do que saber ler, escrever e contar (PINHEIRO; SILVEIRA;
BAZZO, 2007).
Com isso, as interações estabelecidas entre professor e aluno e/ou aluno e aluno
durante as práticas pedagógicas inclusivas em ensino de Ciências deve passar pela
construção de materiais acessíveis, modelos táteis, comunicação alternativa, múltiplas
linguagens. Afinal, o respeito às diferenças significa entender as necessidades humanas,
de modo que todas as pessoas inseridas no processo são beneficiadas.
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especais, de forma que desempenhem, satisfatoriamente, sua atribuição de ensinar dentro
de um contexto diverso, afinal, o maior desafio, nesse sentido, centra-se na necessidade
de adotar medidas para que a condição da educação inclusiva desloque sua posição para
uma prática pedagógica voltada à diversidade.
Com isso, o curso de formação é uma forma de preparar docentes para aprender
sobre o conteúdo a ser ensinado, aproximar e divulgar esse conhecimento aos alunos no
espaço de aprendizagem e, por conseguinte, repensar e dinamizar a prática docente, na
tentativa de dar significado desse conhecimento à vida desses sujeitos.
Cabe apontar que o ensino CTS, conforme Mundim e Santos (2012), procura
identificar o conhecimento inicial do aluno (senso comum) e a partir de então, esses
alunos são estimulados a identificar e resolver um questionamento levantado, valendo-se
do conhecimento que já dispõem, até que se chegue ao saber científico e, nesse caso, o
mais importante, para se chegar aos conceitos em ensino de Ciências, é tomar o tema
como ponto de partida.
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O estudo desenvolvido foi do tipo qualitativo, pesquisa-intervenção, em que se
procurou estabelecer a possibilidade de se trabalhar o ensino de Ciências sob o enfoque
CTS, no AEE, no ambiente da SRM, por meio de práticas pedagógicas que promovessem
distintas formas de materialização do conhecimento: leitura de livros de literatura infanto-
juvenil, pintura, diálogos, jogos educativos, atividades com material reciclado e demais
atividades, de modo que os fenômenos observados ao longo do processo puderam
permear o universo do aluno.
Para este texto são trazidas o recorte de duas etapas metodológicas: um primeiro
momento no qual foram usadas estratégias didáticas com propostas de ensino e
aprendizagem de Ciências a alunos do AEE, com base na modalidade de CTS; e um
segundo momento, em que foi analisado como as propostas didáticas possibilitaram a
tomada de decisão dos alunos frente às situações sociais, a partir de intervenções
pedagógicas.
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potencialidades e limitações das abordagens exploradas no processo de ensino e
aprendizagem (p. 32).
A coleta de dados se constituiu nos relatos dos alunos ao longo da pesquisa, com
base nas intervenções pedagógicas, nas anotações, registros diários em caderno de bordo,
fotos e vídeos juntados pela pesquisadora sobre as observações, assim como, a descrição
do comportamento do sujeito diante da interação pesquisadora e pesquisado.
Cabe destacar que o processo de análise dos dados foi interpretativo, pois
enquanto uma análise qualitativa, a narrativa foi o método mais adequado ao propósito
do estudo, ao possibilitar a correlação dos pressupostos do ensino CTS com as atitudes e
comportamento dos alunos diante das estratégias didáticas que foram propostas e
realizadas.
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responsáveis pelas mudanças? Quais as coisas boas-vindas com as mudanças? Quais as
coisas ruins?”.
Quando o aluno foi indagado sobre o motivo das mudanças e urbanização do local,
reconheceu que se deu em função da chegada do homem na cidade e que, portanto, havia
necessidade da construção de moradias e outros estabelecimentos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Posto isso, é importante 1º) garantir que todos os alunos, independente de suas
características e condições, estejam sempre evoluindo em sua aprendizagem a partir
daquilo que sabem; 2º) estimular habilidades e competências dos alunos visando a
autonomia deles; 3º) estimular a socialização.
Como decorrência das ações docentes com vistas ao ensino CTS no ensino de
Ciências se vê o esforço do professor de trabalhar os temas sociocientíficos a partir da
afinidade com a realidade do aluno, ter conhecimento do entorno dele, dos problemas e
características locais, sob uma perspectiva de levá-lo a romper com o senso comum.
REFERÊNCIAS
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Góndola, Enseñanza y Aprendizaje de las Ciencias. Bogotá, v.15, n. 1, p. 65-82,
jan./abr. 2020.
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11. O USO DE ESTRATÉGIAS VISUAIS E
AUDITIVAS VISANDO A INCLUSÃO DE
ALUNOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA (TEA) NO ENSINO DE CIÊNCIAS
31
Fundação Oswaldo Cruz. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8832-7061
32
Fundação Oswaldo Cruz, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Universidade do Estado de
Minas Gerais. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4420-5406
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Nível 1: exigindo apoio pouco substancial
Quanto à comunicação social: Déficit graves nas habilidades de
comunicação social verbal e não verbal causam prejuízos graves
de funcionamento, grande limitação em dar início a interações
sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de
outros. Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de poucas
palavras que raramente inicia as interações e, quando o faz, tem
abordagens incomuns apenas para satisfazer as necessidades e
reage somente a abordagens sociais muito diretas.
Quanto a comportamentos restritos e repetitivos: Inflexibilidade
de comportamento, extrema dificuldade em lidar com a mudança
ou outros comportamentos restritos/repetitivos interferem
acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Grande
sofrimento/dificuldade para mudar o foco.
Nível 2: exigindo apoio substancial
Quanto à comunicação social: Déficit graves nas habilidades de
comunicação social verbal e não verbal; prejuízos sociais
aparentes mesmo na presença de apoio; limitação em dar início a
interações sociais e resposta reduzida ou anormal a aberturas
sociais que partem de outros.
Quanto a comportamentos restritos e repetitivos: Inflexibilidade
do comportamento, dificuldade de lidar com a mudança ou outros
comportamentos restritos/repetitivos aparecem com frequência
suficiente para serem óbvios ao observador casual e interferem
no funcionamento em uma variedade de contextos. Sofrimento
e/ou dificuldade de mudar o foco ou as ações.
Nível 3: exige apoio muito substancial
Quanto à comunicação social: Na ausência de apoio, déficit na
comunicação social causam prejuízos notáveis. Dificuldade para
iniciar interações sociais e exemplos claros de respostas atípicas
ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode parecer
apresentar interesse reduzido por interações sociais. Por
exemplo, uma pessoa que consegue falar frases completas e
envolver-se na comunicação, embora apresente falhas na
conversação.
Quanto à interação social: Inflexibilidade de comportamento
causa interferência significativa no funcionamento em um ou
mais contextos. Dificuldade em trocar de atividade, problemas de
organização e planejamento. (APA, 2014, p. 52).
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Com isso, houve um aumento no número de indivíduos com TEA no ensino
regular. Segundo o Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de alunos com TEA matriculados nas
escolas regulares aumentou 37,27% entre os anos de 2017 e 2018, tendo sido registrado
77.102 matrículas em 2017 (INEP, 2017) e 105.842 matrículas em 2018 (INEP, 2018) no
Brasil.
Outro importante ponto que precisa ser trabalhado com os professores gira em
torno do mito sobre a incapacidade de aprendizado dos alunos com TEA (FONTENELE;
LOURINHO, 2020). Segundo a OMS (2018), indivíduos com TEA exibem uma gama
completa de funções intelectuais e habilidades de linguagem. Da mesma forma, Vygotsky
(1997) já afirmava que todo indivíduo tem a capacidade de aprender e se desenvolver,
independentemente de apresentar uma deficiência ou transtorno.
Partindo das dificuldades apresentadas acima quanto a inclusão dos alunos com
TEA, observa-se uma das vertentes ligada à formação do professor. Para que ocorra uma
adequada inclusão do aluno com TEA, é necessário que o professor esteja preparado para
lidar com estes alunos. Este preparo requer a realização de buscas quanto a novos
conhecimentos, visando ampliar a compreensão de novas práticas educativas que
promovam a inclusão de alunos com o transtorno (SILVA; LOPES, 2019).
Existem diversas estratégias que podem ser utilizados pelos professores para
tornar a aula mais dinâmica e atrativa, contribuindo para a aprendizagem e motivação dos
alunos. Dentre essas estratégias é possível ressaltar a utilização de materiais que auxiliem
no desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem, facilitando a relação entre
o professor, o aluno e o conhecimento.
Uma das dificuldades que pode existir em indivíduos com TEA está relacionada
ao aprendizado das discriminações condicionais auditivo-visuais, o que dificulta o
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desenvolvimento da habilidade como ouvinte e a resposta correta ao que outra pessoa lhe
diz (BRAGA, 2019).
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Tipo de Informações da pesquisa
estímulo
Erpelding, Jennifer M. Visual teaching strategies for autistic students in inclusive general
education classrooms. (2012).
Knight, V., Sartini, E.; Spriggs, A.D. Evaluating Visual Activity Schedules as Evidence-
Based Practice for Individuals with Autism Spectrum Disorders. (2015).
Zimmerman, Kathleen N.; Ledford, Jennifer R.; Barton, Erin E. Using Visual Activity
Schedules for Young Children With Challenging Behavior. (2017)
Visual
Mahoney, Michael W. M. Peer-Mediated Instruction and Activity Schedules: Tools for
Providing Academic Support for Students with ASD. (2019)
Williams, Betty Fry; Williams, Randy Lee. Effective Programs for Treating Autism
Spectrum Disorder: Applied Behavior Analysis Models. (2011)
Lequia, Jenna; Machalicek, Wendy; Rispoli, Mandy J. Effects of Activity Schedules on
Challenging Behavior Exhibited in Children with Autism Spectrum Disorders: A
Systematic Review. (2012)
Vaiouli, Potheini; Ogle, Lindsey. Music Strategies to Promote Engagement and
Academic Growth of Young Children with ASD in the Inclusive Classroom (2014)
Epler, Pam L., Ed. Instructional Strategies in General Education and Putting the
Individuals with Disabilities Act (IDEA) into Practice. Advances in Early Childhood and
K-12 Education (AECKE) Book Series (2018).
Allen, Rory; Hill, Elizabeth; Heaton, Pam. "Hath Charms to Soothe...": An Exploratory
Auditivo Study of How High-Functioning Adults with ASD Experience Music. (2009)
(música)
Chang, Annalisa Chie. String Teachers' Perceptions of Inclusion of Students with Autism
in Classroom Settings. (2017)
Quadro 2 – Pesquisas encontradas na busca, divididas por tipo de estímulos. Fonte: Elaborado pelos autores.
Dos resultados obtidos, dois trabalhos não serão apresentados por se tratar de
livros disponibilizados apenas nos Estados Unidos, o que inviabiliza sua compra e leitura.
O livro “Effective Programs for Treating Autism Spectrum Disorder” é dividido em três
partes. A primeira parte é voltada para o transtorno, abrangendo as principais
características do TEA, bem como as teorias relacionadas às possíveis causas e as formas
de tratamento mais populares. A segunda parte apresenta uma visão informativa da
análise do comportamento aplicada, majoritariamente quanto aos princípios de
aprendizagem e procedimentos básicos baseados nesses princípios. Na terceira parte são
descritos oito modelos de programas abrangentes e baseados em evidências para o
tratamento de pessoas com TEA. Dentre as estratégias explicadas, vale ressaltar o uso de
cronogramas de atividades visuais e o Sistema de Comunicação de Troca de Imagens
(WILLIANS; WILLIANS, 2011).
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Quanto às estratégias visuais, Knight, Sartini e Spriggs (2015) realizaram uma
revisão de literatura com artigos publicados entre 1993 e 2013, com o objetivo de
analisarem a qualidade dos cronogramas de atividades visuais a partir de critérios
baseados em evidências atuais. A partir dos resultados obtidos, os autores sugerem que
os cronogramas de atividades visuais podem ser considerados práticas baseadas em
evidências para indivíduos com TEA, caso sejam utilizadas juntamente a procedimentos
instrucionais sistemáticos. Além disso, afirmam que o uso destes cronogramas pode
aumentar as habilidades de indivíduos com TEA desde a educação infantil até a fase
adulta em diferentes áreas da vida, como a comunidade e a educação. Assim, este artigo
traz a reflexão da possibilidade de uso de estímulos visuais em outras atividades no meio
educacional, já que foram observados benefícios do estímulo visual na realização de
cronogramas de atividades.
Mahoney (2019), por sua vez, apresenta ferramentas para fornecer suporte
acadêmico para alunos com TEA, como a instrução mediada por pares e os cronogramas
de atividades visuais. No quadro abaixo é possível observar um exemplo de atividade
realizada a partir do cronograma de atividades visuais, em que o autor descreve quatro
etapas em um cronograma para que o aluno desenvolva o raciocínio obtido na pesquisa
com uma linha do tempo desenhada na cartolina, contribuindo para uma análise visual
dos principais momentos sobre a história dos estados unidos. Posteriormente, o aluno é
direcionado a responder as questões apresentadas pelo professor, podendo utilizar a linha
do tempo como apoio visual (Quadro 3).
Erpelding (2012) apresenta uma situação real para o uso dos cronogramas de
atividades visuais, baseado TEACCH Fidelity Checklist, lista que promoveu o auxílio na
construção do cronograma. Os resultados demonstraram uma falta de relação entre o
conhecimento do professor da escola regular e as necessidades do aluno com TEA,
ressaltando a importância de uma formação inicial e continuada adequada. Além disso, a
implementação de estratégias visuais é necessária para o sucesso acadêmico do aluno com
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TEA, sendo importante que os professores conheçam esta possibilidade de ensino
(ERPELDING, 2012).
A partir do exemplo forncecido por Mahoney (2019) é possível refletir sobre como
trabalhar assuntos dentro da disciplina de ciências a partir do cronograma de atividades
visuais.
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Segundo Chang (2017), apesar das pesquisas demonstrarem que a música é uma
intervenção eficaz na terapia para alunos com TEA, poucos estudos foram feitos a
respeito da inclusão em sala de aula.
Nesta seção são apresentadas quatro atividades com potencial inclusivo para
alunos com TEA no ensino de ciências. O desenvolvimento das atividades se deu a partir
da abordagem baseada em evidências. “A Educação baseada em evidências se refere à
consideração e uso do conhecimento oriundo de áreas de pesquisa científica para
fundamentar e informar boas práticas em Educação” (ORSATI et al., 2015, p.16). As
evidências foram baseadas nas pesquisas encontradas a partir da revisão de literatura
realizada na seção anterior.
Dentre as possíveis atividades a serem realizadas com alunos dos anos finais do
Ensino Fundamental na disciplina de ciências, neste capítulo serão apresentadas: uma
atividade voltada para o estímulo visual a partir do uso de cronogramas com atividades
visuais e uma atividade voltada para o estímulo auditivo a partir das músicas do álbum
“Brasileirinhos – música para os bichos do Brasil”, de Paulo Bita.
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Assim, esta atividade propõe o uso de um cronograma de atividades visuais,
visando contribuir para a inclusão de alunos com TEA e auxiliando não apenas estes
alunos, mas todos em sala.
2. Faça uma leitura do capítulo. Busque na internet quais objetos podem ser encontrados 🡪
em cada camada atmosférica.
3. Usando o papel em branco, desenhe as camadas atmosféricas indicadas no livro e os
objetos que podem ser encontrados em cada camada. Faça a escala de altura para as camadas e
insira todas as informações lidas no livro didático.
4. Responda às questões do professor(a) localizadas no quadro à frente da sala.
Total de tarefas concluídas
_____________________
Fonte: Realizado pelos autores
148
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Assim, a presente atividade propõe o uso das músicas do álbum “Brasileirinhos –
música para os bichos do Brasil” como forma de apresentar aos alunos do 7° ano alguns
exemplos de animais brasileiros ameaçados de extinção e suas características, bem como
promover uma reflexão sobre quais impactos ambientais provocaram a diminuição no
número de indivíduos dessas espécies.
Anta
Anta
É bem giganta
Tem tromba
Igual elefanta
Antes,
Eram tantas
As antas!
Hoje,
existem
quantas!?
(Poema de Lalau e Laura Beatriz, musicalizado por Paulo Bita)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que ainda há muito o que ser discutido sobre as estratégias didáticas
visando a inclusão de alunos com TEA. Nos últimos anos, as pesquisas sobre este tema
tem aumentado, porém ainda existem lacunas a se preencher.
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da educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental. É preciso reconhecer a
continuidade destes alunos nos níveis escolares e buscar desenvolver estratégias para os
maiores níveis, como os anos finais do ensino fundamental, ensino médio,
profissionalizante e superior.
REFERÊNCIAS
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BARROS, M. D. M. de. O uso da música popular brasileira como estratégia para o
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12. A CONSTRUÇÃO DE UM PRODUTO
EDUCACIONAL INVESTIGATIVO INCLUSIVO
PARA O ENSINO DE FÍSICA: MONTAGEM DE
CIRCUITOS ELÉTRICOS
Desde 2014, nesta parceria com o Colégio Pedro II, o subprojeto PIBID/FÍSICA
– UFRJ tem desenvolvido propostas didáticas para o ensino de Física, com diferentes
enfoques, que valorizam o papel do professor na sala de aula, proporcionam uma
aprendizagem mais agradável para o aluno do ensino médio e enriquecem a formação dos
licenciandos participantes.
33
IOC/FIOCRUZ, ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3943-0414
34
Colégio Pedro II | IOC/FIOCRUZ, ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6703-7527
35
IF-UFRJ| IOC/FIOCRUZ. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5846-0841
153
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Ao longo do acompanhamento de algumas dessas turmas, em uma aula de
circuitos elétricos, foi percebido que os não participantes eram os alunos com deficiência
visual devido ao uso de esquemas feitos na lousa. Desse modo, tivemos a ideia de
construir um material didático direcionado a esse tema que pudesse ser utilizado em
qualquer aula de circuitos elétricos, tanto para deficientes visuais como para videntes. A
proposta da equipe foi de criar e utilizar trabalhos baseados em atividades investigativas
(SASSERON,2017), onde os alunos são protagonistas do próprio aprendizado e nosso
maior desafio era permanecer com essa característica para qualquer que fosse o aluno,
fugindo de um ensino de Física tradicional da sala de aula, buscar um ensino mais
contextualizado de caráter inclusivo e, principalmente para o ensino de Física para
deficientes visuais.
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Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino (FREIRE, 1997). Pesquisar é
produzir conhecimento dentro de um marco teórico, epistemológico e metodológico e
nem todos os professores possuem condições de trabalho para praticarem essas tarefas. O
professor necessita de mais tempo para participar de grupos de pesquisa, já que a maioria
dos que existem estão nas universidades, sendo de difícil acesso para eles. É necessário
fazer um esforço para que haja trocas de experiências de formação, realizadas nas escolas
e pelas instituições de ensino superior, criando uma cultura colaborativa de formação de
professores, é exatamente nesse ponto que o projeto PIBID se torna tão importante, ao
introduzir e incentivar os alunos licenciandos à pesquisa, possibilitando que o futuro
profissional tome consciência de suas ações em sala de aula e fazendo com que evoluam.
Nessa perspectiva é, portanto, também um processo de aprendizagem não só para os
licenciandos, mas também para os alunos do colégio, os professores-supervisores,
coordenadores e para a escola.
DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE
Figura 2: versão final do kit composto por canaletas de PVC de diferentes tamanhos, miçangas plásticas (Fonte:
acervo pessoal)
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CONSTRUÇÃO DO KIT
Os dados mostram que os alunos com deficiência são realidade nos bancos
escolares brasileiros. Por isso, é fundamental o enfoque da formação docente para o
trabalho pedagógico adequado.
O ensino para alunos com deficiência visual realça a relação entre o campo de
conhecimento e a diversidade humana, trazendo à tona discussões sobre perfis e ritmos
de aprendizagem, importância das múltiplas percepções para a construção de
conhecimentos científicos e ainda “põe em pauta a relação entre tipo de deficiência e
características de uma determinada disciplina escolar” (CAMARGO, 2016. p. 27). Logo,
a ideia inicial era conseguir demonstrar a esses alunos (deficientes visuais) os exemplos
que usávamos em sala de aula, nos exercícios da lista. Depois fomos aprimorando à
medida que esses alunos demonstravam interesse e nos trouxeram curiosidades e dúvidas
que tinham acumulado durante as aulas (Figura 3).
Uma investigação feita por Camargo (2006) mostrou como futuros professores de
Física se comportam ao receberem em suas salas de aula alunos com deficiência visual,
em que muitas das vezes se veem envolvidos em ambientes que segregar o ensino em sala
de aula, o que ele chama de:
“modelo quarenta mais um, onde o quarenta diz respeito à média de alunos
videntes em uma sala de aula, o um ao estudante com deficiência visual e a
soma à ideia de que esse último estudante, de fato, não pertence à aula principal
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e que o docente terá um trabalho adicional. O modelo focalizado transforma-
se em um problema ao professor (...), pensa que terá que construir dois
materiais, dois experimentos, preparar duas aulas, uma para o estudante com
cegueira ou baixa visão, e outra para alunos videntes” (CAMARGO, 2016,
p.29)
Na primeira elaboração, foi feita com papelão e cola quente (figura 4). O papelão
foi cortado em tamanhos diferentes para se aproximar dos esquemas utilizados para
representar circuitos elétricos com os fios, fontes e resistências elétricas. E o caminho a
ser seguido pela corrente elétrica foi desenhado com cola quente, para que fosse criado
um relevo tateável aos alunos.
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Durante a tentativa de aplicação da primeira montagem, percebemos o difícil
manuseio do material pelos alunos e a dificuldade na junção das peças sem que corresse
algum risco de machucar os alunos (Figura 5). Além disso, essa versão se torna não tão
atrativo para pessoas com baixa visão, pela cor escura do papelão impedir um bom
contraste para eles. O kit completo de papelão acabou ocupando muito espaço e pelo
acúmulo de pontos negativos, resolvemos modificar o material.
Figura 6: segunda versão do material de cartolina, cola quente e velcro (Fonte: acervo pessoal)
Essa versão se tornou muito mais atrativa por haver contraste de cores e ter uma
montagem facilitada, porém com o alto manuseio (figura 7), ela demonstrou ser frágil
soltando pedaços de cola quente da cartolina. O que nos fez elaborar a terceira e, por
enquanto, última versão para a atividade.
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DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE
A partir das dúvidas trazidas pelos alunos nas duas primeiras versões da atividade,
percebemos a importância de não começarmos diretamente da montagem de circuitos
elétricos, mas voltarmos alguns passos trabalhando com cada elemento de sua
composição. Para isso, a aplicação necessitou ser dividida em cinco atividades
distribuídas em dois diferentes encontros, cada um com dois tempos de aula de 45 minutos
(PIMENTEL, 2020). No primeiro encontro, três atividades, com o intuito de discutirmos
os conceitos de: corrente elétrica (1ª atividade), resistência elétrica (2ª atividade) e fontes
(3ª atividade) para que no segundo encontro pudéssemos trabalhar com as características
das associações de resistores (4ª atividade) e montagem de circuitos elétricos (5ª
atividade).
Após passar por todas as modificações, optamos por trabalhar com o kit
construído com canaletas de PVC, cola quente, miçangas e fita dupla face relacionados
(tabela 1). Para a criação do kit (Figura 8), utilizamos duas canaletas de PVC cortadas em
vários pedaços de aproximadamente 30cm que foram distribuídos por cada parte
atividade, de modo a facilitar a aplicação e miçangas de 1,3cm, 0,8cm e 0,5cm de cores
diferentes, além de mata-juntas – também de PVC – para ser feita a ligação entre as
canaletas.
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A última versão também foi aplicada, mas, devido ao calendário escolar, não
pudemos fazer a aplicação da atividade conforme o planejado. Além disso, essa aplicação
foi feita com um grupo diferente daquele que auxiliou à elaboração e desenvolvimento da
atividade, sendo aplicada em 1h para um aluno de baixa visão e uma aluna vidente e
ambos os alunos ainda não haviam tido contato com o conteúdo a ser abordado pela
experiência.
Os alunos foram levados para uma sala do laboratório de Física do colégio Pedro
II – São Cristóvão III (Figura 9) e antes da atividade começar foi colocado um gravador
de voz de modo a ser analisada posteriormente, apresentada e detalhada em Pimentel
(2020).
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Figura 9: foto da atividade sendo aplicada com os alunos (Fonte: acervo pessoal)
Para essa parte da atividade pegamos a canaleta, duas caixinhas, e várias miçangas
de 0,8cm, conforme a figura 10. Primeiro, deixamos uma caixinha cheia de miçangas e
pedimos para que os alunos passassem todas as miçangas para a outra caixinha, nossa
única exigência era que as miçangas precisavam passar pela canaleta. Cada aluno teve o
tempo de execução cronometrado. Posteriormente a todos os alunos terem feito o
transporte das miçangas, questionamos sobre a diferença nos tempos de cada pessoa e se
esse tempo mudaria caso colocássemos mais miçangas para serem transportada, de modo
que houvesse a percepção de que a intensidade média de corrente elétrica depende do
tempo que certa quantidade de carga (as miçangas) demora para atravessar certa sessão
transversal (no nosso caso, a canaleta).
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Figura 10: parte do kit utilizado para o "transporte das miçangas" (Fonte: acervo pessoal)
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Primeiro, pegamos duas canaletas de mesmo comprimento, porém uma mais
“fina” que a outra (figura 12) pedimos para que as miçangas fossem novamente passadas
de uma caixinha à outra e perguntamos aos alunos “Por onde foi mais ‘fácil’ a corrente
passar?” de modo que os alunos escolham a mais larga, já que a área influência de forma
inversamente proporcional.
Figura 13: canaletas de mesma largura e comprimentos diferentes (Fonte: acervo pessoal)
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que os elétrons se comportem de forma diferente na passagem de corrente. Evidenciou-
se o fato de as miçangas utilizadas serem iguais, já que todos os elementos possuem
elétrons iguais, mas com número e distribuições diferentes.
Figura 14: canaletas de mesmo tamanho e largura, mas com mais ou menos obstáculos (Fonte: acervo pessoal)
Figura 15: canaleta como plano inclinado para transporte de miçangas (Fonte: acervo pessoal)
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Por último, fizemos uma montagem mista de resistores e pedimos para os alunos
explicarem qual seria o comportamento da corrente e da tensão em cada resistor e em
todo circuito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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isso se torna abstrato já que não pode “ser visto” pelos alunos assim como outros
conteúdos da Física.
A exclusão escolar manifesta-se das mais diversas maneiras, e quase sempre o que
está em jogo é a ignorância do aluno diante dos padrões do saber escolar. A escola se
democratizou, abrindo-se para novos grupos sociais, mas não fez o mesmo em relação
aos conhecimentos trazidos por esses grupos às salas de aula. E as Universidades,
formadoras de professores, quase nunca discutem a diversidade de alunos com
deficiências. Os sistemas escolares relutam em mudar de direção porque estão
organizados em um pensamento que permite dividir os alunos em normais e com
deficiência, em modalidades de ensino regular e especial e os professores especialistas
nesse e naquele assunto.” (MANTOAN, 2015, p.22-23)
Sendo assim, se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é urgente que
seus planos se redefinam para uma educação voltada à cidadania global, plena, livre de
preconceitos, que reconhece e valoriza as diferenças.
Precisamos parar de fazer apenas a inserção de alunos com deficiência nas escolas
comuns, permitindo que o aluno tenha a oportunidade de transitar no sistema escolar entre
a classe regular e o ensino especial fazendo com que a escola não mude como um todo,
mas os alunos têm de mudar para se adaptarem às suas exigências, sendo assim, uma
justaposição do ensino especial ao regular e partirmos para a inclusão, questionando não
somente a “inserção” como as políticas e organização da educação especial e da educação
comum. A inclusão é produto de uma educação plural, onde as ações educativas convivem
com a diferença e a aprendizagem como experiência relacional, participativa, que produz
sentido para os alunos, pois contempla sua subjetividade, embora construída no coletivo
das salas de aula.
REFERÊNCIAS
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BARRETO FILHO, Benigno. Física aula por aula : Eletromagnetismo, física
moderna, 3º ano / Benigno Barreto Filho, Claudio Xavier da Silva. – 3. Ed. – São Paulo:
FTD, 2016.
NÓVOA, A. (Org) Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 1992. 214 p. Colecção
Ciências da Educação, 4. (2a. ed. 1995). Localização: CRE, USP, UNESP, UNICAMP
NÓVOA, A. coord. - "Os professores e a sua formação". Lisboa : Dom Quixote, 1992.
ISBN 972-20-1008-5. pp. 13-33
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SASSERON, L. H.; MACHADO, V. F. Alfabetização Científica na prática: inovando
a forma de ensinar Física.1. Ed. São Paulo. Editora Livraria da Física, 2017
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13. ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS NO ENSINO DE
CIÊNCIAS PARA A INCLUSÃO ESCOLAR DE
ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA
REFLEXÕES INICIAIS
A educação inclusiva apresenta uma abordagem ampla, que não diz respeito
apenas à inserção dos estudantes com deficiência na escola comum, pressupondo o acesso
e a aprendizagem de todos, a partir de práticas pedagógicas que contemplem as
necessidades individuais e coletivas de determinada turma. A inclusão pode ser
compreendida como “[...] uma reação aos valores da sociedade dominante e ao
pluralismo, entendido como uma aceitação do outro e incorporação da diferença [...].”
(MANTOAN, 2015, p. 24). Cabe esclarecer que, neste capítulo, nos dedicamos a refletir
sobre estratégias didáticas que atendam às singularidades educativas de estudantes com
deficiência, Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e altas habilidades/superdotação
— que compõem o público-alvo da educação especial (BRASIL, 2008).
36
IFSC, ORCID https://orcid.org/0000-0002-6568-0006
37
UNIVASF, ORCID https://orcid.org/0000-0001-5926-2679
38
UNIVASF, ORCID https://orcid.org/0000-0002-7267-0164
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Michele W. Comarú; Fabiana da S. Kauark; Nahun Thiaghor L. P. Gonçalves (Organizadores)
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Em face disso, as discussões na área educacional precisam estar direcionadas ao
direito de aprendizagem dos estudantes atendidos pela educação especial, visando “[...]
olhá-los como sujeitos que têm potencialidades e podem se beneficiar do processo de
escolarização.” (MELO; MAFEZONI, 2019, p. 111). Nesse ínterim, a partir da ampliação
das políticas públicas educacionais pautadas nos direitos humanos, a exemplo PNEEPEI
(BRASIL, 2008) e da Lei Brasileira de Inclusão (BRASIL, 2015), observamos avanços
no sentido de assegurar o direito à educação e ao acesso à escola comum desse público
que historicamente foi invisibilizado. Apesar dessa garantia jurídica, precisamos adensar
o debate acerca do direito à aprendizagem (MELO; MAFEZONI, 2019).
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contexto, as pessoas com deficiência podem se beneficiar do processo de aprendizagem
assim como as demais (VYGOTSKI, 1997), ou seja, “a diferença no encaminhamento
das ações e da prática é o trabalho com oferecimento de técnicas, instrumentos e métodos
didático-pedagógicos.” (MELO; MAFEZONI, 2019, p. 104). Dessa forma, crianças com
deficiência devem ser estimuladas desde cedo, e o ambiente educacional precisa utilizar
recursos educacionais adequados para que ela possa se apropriar dos conhecimentos
sistematizados (VYGOTSKI, 1997).
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A deficiência visual (DV) abrange a cegueira e a baixa visão, que podem se
manifestar de forma congênita ou adquirida. A DV não é única e homogênea, ou seja,
cada pessoa a vivencia de modo singular, exigindo intervenções e estratégias didáticas
diferenciadas de acordo com as demandas apresentadas por cada estudante. Por isso, antes
da elaboração de materiais e recursos didáticos, os profissionais da educação precisam
conhecer as necessidades que ele apresenta (ALVES et al., 2019).
Cabe destacar que, algumas pessoas cegas possuem percepção de luz e sombras,
enquanto outras não, assim como não são todos os cegos que conhecem e utilizam o
sistema Braille. Do mesmo modo, pessoas com baixa visão podem necessitar de um
tamanho de fonte (letra) ampliado, ou ainda que os materiais impressos e slides
apresentem contraste de cor e brilho, uso de lupa, dentre outros, a ser orientado por um
médico oftalmologista, ao passo que, para outras pessoas com o mesmo diagnóstico, esses
recursos podem não ser indicados. Ademais, há que se considerar que “[...] o
desenvolvimento e a aprendizagem de uma criança que nasce com cegueira congênita, ou
que perde a visão pouco tempo depois do nascimento, serão diferentes das crianças em
que a perda da visão ocorreu em etapas posteriores de sua vida.” (ALVES et al., 2019, p.
139).
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Para Soler (1999), os diferentes canais sensoriais atuam “[...] como canais de
entrada de informações cientificamente muito valiosas na observação” (p. 18), tendo
como destino comum o cérebro onde as informações se inter-relacionam e promovem a
aprendizagem. Alves et al. (2019) ponderam que, ao serem planejadas atividades que
estimulam o maior número possível de sentidos humanos, os conceitos científicos podem
ser percebidos e apreendidos de maneira ampliada pelos estudantes.
Dessa forma, citamos algumas estratégias que podem ser planejadas pelo
professor de ciências visando à aprendizagem de estudantes com DV, tais como: a) fazer
a leitura de todo o assunto registrado na lousa, slides, descrevendo imagens, tabelas e
gráficos; b) utilizar recursos de tecnologia assistiva (TA), por meio de auxílios para
ampliação da função visual e que traduzem conteúdos visuais em áudio ou informação
tátil, como lupas manuais e eletrônicas, softwares ledores e/ou ampliadores de tela,
gráficos em relevo, materiais coloridos, com contraste, textura e Braille; c) propor
atividades experimentais elaboradas a partir da didática multissensorial; d) disponibilizar
audiodescrição em vídeos e filmes a serem exibidos para a classe; e) perguntar ao
estudante se determinados recursos estão sendo, de fato, acessíveis.
Em relação aos espaços físicos da escola e da sala de aula, torna-se necessário que
sejam acessíveis — contendo piso tátil, identificação dos ambientes, sinalização de
bancos, lixeiras, bebedouros, dentre outros —, priorizando a segurança e a autonomia da
pessoa. Nesse contexto, as crianças com DV podem apresentar dificuldades relacionadas
à coordenação motora, locomoção e orientação no espaço, dificuldade de equilíbrio, “[...]
entretanto, se forem constantemente incentivadas podem aprender a se deslocar com
independência e autonomia.” (SANTOS et al., 2021, p. 3617).
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Assim, um trabalho colaborativo entre o professor de ciências e o de educação
especial é essencial para garantir o direito de aprender de todos os estudantes (MELO;
MAFEZONI, 2019). Ratificamos que a defesa de uma educação inclusiva pressupõe um
trabalho colaborativo entre os profissionais da educação, estudantes e seus
pais/responsáveis.
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A alteração cromossômica nos indivíduos com SD pode ocorrer de três formas:
trissomia simples — a pessoa possui um cromossomo extra em todos as células —,
translocação — o cromossomo extra se funde a um outro autossomo —, e mosaico —
algumas células possuem um cromossomo extra e outras não (SILVA; DESSEN, 2002).
Cerca de 95% das pessoas com SD tem a trissomia simples. As características que
comumente são atribuídas às pessoas com Down, podem diferenciar-se também em
função do tipo de trissomia.
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Ao pensarmos formas de ensino para as pessoas com SD é salutar ter em mente
que apesar da síndrome ser demarcada por um conjunto de características, cada sujeito é
único e traz consigo além das questões genéticas de seus pais e antepassados, a marca do
contexto sociocultural no qual está inserida.
Para Sousa e Nascimento (2018), cada estudante tem seu próprio ritmo e tempo
de aprendizagem. Ao trabalhar com estudantes com SD é fundamental reconhecer e
respeitar suas características pessoais e sua capacidade para aprender. Somente assim,
serão realizadas adaptações razoáveis que podem incluir currículo, agrupamentos da sala
e organização temporal que propicie o desenvolvimento de aprendizagens.
Santos (2012) pondera que a inclusão não requer práticas pedagógicas complexas
quando comparadas às práticas comuns. Mas, exige uma atuação mais próxima com
atenção aos objetivos de ensino e às habilidades envolvidas, elaborando atividades que
possibilitem o engajamento dos estudantes com e sem deficiência, a exemplo de estudos
de caso, materiais concretos para apoiar as atividades, dentre outros.
Contudo, embora cada sujeito seja único e singular, entender que as pessoas com
SD têm características em função da síndrome é fundamental para elaborar estratégias de
ensino coerentes com as potencialidades desses sujeitos. Um primeiro passo nessa direção
é estabelecer estratégias de comunicação que envolvam escola, família e equipe
terapêutica (caso exista), uma vez que, muitas crianças com SD apresentam atraso no
processo de fala e dificuldade de se comunicar e se fazer entender num contexto marcado
pela verbalização como única forma válida.
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Outro aspecto relevante é ter em conta que, em função da síndrome, essas crianças
apresentam um processamento cognitivo mais lento (SILVA; KLEINHANS, 2006), razão
pela qual, se faz necessário o engajamento destes estudantes em atividade de interação e
cooperação com outros estudantes a fim de potencializar seus saberes e estimular a
construção de novas habilidades.
Santos (2012) pondera que é fundamental que o ensino não privilegie a mera
aquisição formal de informações, na qual se adota como estratégia principal a transmissão
ou explicação de conteúdo. Figueiredo, Boneti e Poulin (2017), refletindo sobre a
relevância da diversificação de estratégias de aprendizagem na educação inclusiva
pontuaram que, mais importante que a diversidade de estratégias em si é o espírito sob o
qual elas são formuladas. Os autores sinalizam para a importância de estratégias
pedagógicas que tenham como lastro de sustentação a possibilidade de cooperação e
contribuição entre os estudantes, favorecendo a compreensão de que é possível colaborar
para a aprendizagem dos colegas e aprender nesse processo.
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relevância do trabalho em pequenos grupos, da ação conjunta com os pares, possibilitando
para as crianças a aprendizagem colaborativa.” (p.14). Segundo a autora, a realização de
atividades colaborativas em classes com estudantes com SD, além de favorecer a
aprendizagem, fortalece o processo de inclusão.
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Por meio de revisão bibliográfica, Matias e Probst (2018) refletiram sobre o TEA
e as especificidades de seus processos educacionais. As autoras explicam que estudos
mostram que apesar de pessoas autistas terem dificuldades na comunicação interpessoal,
é necessário investir em atividades que promovam a interação social na escola. Pesquisas
também mostram que pessoas autistas têm muitas potencialidades intelectuais que devem
ser exploradas por intervenções pedagógicas que respeitem suas especificidades.
A Teoria da Mente explica que pessoas com TEA têm dificuldades em entender
sentimentos, intenções e pensamentos de outros indivíduos. Isso significa que um dos
desafios na comunicação dessas pessoas se refere à sua não percepção de jogos e signos
sociais. Então, muitas vezes, a pessoa com TEA parece agir de forma inadequada ou dizer
coisas inapropriadas com base nos significados construídos e compartilhados
socialmente. Esses significados são internalizados com base nas percepções do cérebro
neurotípico em sua interação com o mundo e, desse modo, o cérebro autista possui
dificuldades em compreendê-los. Por isso, Willians e Wright (2008) nomeiam essa
condição de Cegueira Mental.
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emocionais, dissonância entre seu desenvolvimento cognitivo e psicomotor, compreensão
literal de contextos e problemas com mudanças de rotina.
Numa oficina que explorou o conteúdo Órgãos dos Sentidos, duas licenciandas
ministrantes se depararam com a recusa de um dos jovens em experimentar sucos, mas
entenderam a situação, cuja possibilidade já havia sido prevista pela professora formadora
que explicou que pessoas com TEA costumam ter dificuldades de processamento
sensorial e apresentar hiper-reatividade ou hiporreatividade em alguns dos órgãos dos
sentidos. Apesar do acontecido, o jovem se divertiu ao explorar um tapete sensorial
apresentado.
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A avaliação da aprendizagem do estudante autista ou com outra deficiência precisa
ser adequada às suas habilidades, não somente com base em dificuldades. Há de ser
observado todo o contexto, que é complexo por envolver elementos e fatores
diferenciados: a presença da condição e os interesses e habilidades do estudante.
Por exemplo, o estudante cego e autista descrito por Mousinho e Gikovate (2016)
foi avaliado a partir das habilidades que possuía, mas imbricando com suas dificuldades
(nunca limitações!). Assim, foram realizadas provas orais; uso de transcritor para
atividades; e uso de fantoches para encenações.
REFLEXÕES FINAIS
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dos estudantes com a síndrome, têm potencial para fomentar a aprendizagem desses
estudantes.
REFERÊNCIAS
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CAMARGO, E. P. Cegueira e baixa visão não são doenças nem defeitos, pelo contrário,
são qualidades positivas: superando a hegemonia vidente para uma práxis inclusiva de
ensino. In: Giseli Barreto da Silva; Claudia Fernandes; Helena Amaral da Foutora;
Silvana Mesquita. (Org.). Didática(s) entre diálogos, insurgências e políticas. 1. ed.
Petrópolis: Faperj, 2020, v. 1, p. 348-359.
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ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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recursos didáticos. Campos dos Goytacazes, RJ: Brasil Multicultural, 2019. Cap. 1. p.
14-35.
MOUSINHO, R.; ADOUR, N. C. A.; GIKOVATE, C. Quem canta, seus males espanta:
um ensaio sobre autismo, cegueira, canto, inclusão, superação e sucesso. Revista da
Associação Brasileira de Psicopedagogia , v. 33, p. 196-205, 2016.
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SOLER, M. A. Didáctica multisensorial de las ciências. Barcelona: Ediciones Paidós
Ibérica, 1999.
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14. GASTRONOMIA, ACESSIBILIDADE E
INCLUSÃO: ENSINANDO A ROMPER
BARREIRAS
AMUSE-BOUCHE
Era dia 04 de dezembro do ano de 2010, prazo final para uma etapa da pesquisa-
ação realizada no Mestrado em Ciência da Informação (MATTOSO, 2012), quando um
fato aconteceu durante o almoço dos convidados com deficiência visual que compunham
a população de pesquisa e visitavam a exposição estruturada para aquele fim. Somente
um ano depois, quando entrevistados, dois participantes relataram que a frágil
composição dos equipamentos descartáveis fizeram com que muitos dispensassem a
comida naquele momento e, mesmo questionados sobre o que estava acontecendo,
preferiram silenciar. Um deles destacou que ao levar à boca o garfo e perceber que neste
faltava um dente, por não enxergar e, consequentemente, sem a possibilidade de saber
onde o dente do garfo estava, parou de comer e ficou com fome (MATTOSO, 2016a,
p.15).
O episódio poderia até ter sido considerado “lixo acadêmico” já que aquela
investigação em Ciência da Informação (MATTOSO, 2012) tinha por objetivo conhecer
o potencial informativo da audiodescrição aplicada a obras de artes visuais
bidimensionais. Entretanto, calou fundo na pesquisadora, comunicóloga e produtora de
eventos que reunia mais de 25 anos de experiência e sabia: todo evento, independente da
tipologia, deve estruturar-se a partir dos princípios da Hospitalidade, os quais evidenciam
laços de reciprocidade entre convivas e anfitriões pelo bem-estar coletivo, desde o
acolhimento ao encerramento.
39
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7866-2915
40
Universidade Federal Fluminense (UFF). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5283-1541
41
Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), Universidade Federal Fluminense (UFF). ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-6566-8966
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No ano de 2014, Mattoso ingressa na Universidade Federal do Rio de Janeiro para
integrar o quadro de docentes do Curso de Bacharelado em Gastronomia no eixo “Eventos
e Hospitalidade”. No mesmo ano, coordena a realização do V Fórum Gastronomia, Saúde
e Sociedade quando, pela primeira vez, a temática da Acessibilidade Comunicacional
aplicada à Gastronomia foi debatida na UFRJ, evidenciando a relevância da
audiodescrição e da Língua Brasileira de Sinais para promover, respectivamente, a
pessoas com deficiências sensoriais da visão e da audição, o acesso a produtos, serviços
e eventos gastronômicos. Ao final do Fórum, o depoimento do aluno Danilo Vieira, a
seguir, associado ao questionamento de outras duas colegas de Curso, Gisele Moreno de
Barros e Fabíola da Silva Santos, apontaram interesse dos alunos nos estudos sobre
Acessibilidade em Gastronomia e deram origem ao processo que deflagraria a efetivação
do movimento por uma Gastronomia para Todos:
MISE EN PLACE
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converter em alimentos. [...] A gastronomia governa a vida inteira do
homem; pois os choros do recém-nascido reclamam o seio de sua ama-
de-leite, e o moribundo recebe ainda com prazer a poção suprema que,
infelizmente, não pode mais digerir. Sua influência se exerce em todas
as classes da sociedade; pois se é ela que dirige os banquetes dos reis
reunidos, também é ela que calcula o número de minutos de ebulição
necessários para que um ovo fresco seja cozido ao ponto. O assunto
material da gastronomia é tudo o que pode ser comido. Seu objetivo
direto, a conservação dos indivíduos; e seus meios de execução, a
cultura que produz, o comercio que troca, a indústria que prepara e a
experiência que inventa os meios de dispor tudo para o melhor uso. [...]
É a gastronomia que inspeciona os homens e as coisas, para transportar
de um país ao outro tudo o que merece ser conhecido, fazendo que um
festim cuidadosamente organizado seja como um resumo do mundo,
em que cada parte comparece por intermédio de seu representante.
(SAVARIN, 1995, p. 57-59 apud MATTOSO, 2016a, p. 20-21)
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atitudes – ou na ausência destas – o lado oposto da hospitalidade: a hostilidade
(MONTANDON, 2011, p.11).
CARDÁPIO (DESENVOLVIMENTO)
Para que pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida possam acessar e
utilizar os itens na LBI especificados, é necessário eliminar barreiras, as quais são
definidas como:
pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo,
dificuldade de movimentação, permanente ou temporária, gerando redução
efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da
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percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e
obeso.
No Brasil, de acordo com o último Censo, realizado em 2010 (IBGE, 2011 apud
MATTOSO, 2016a), cerca de 45,6 milhões de brasileiros se autodeclararam pessoas com
deficiência. De todos os tipos de deficiências declaradas, a visual é a de maior incidência
(3,5%), seguida das motoras (2,3%), intelectuais (1,4%) e auditivas (1,1%).
uma potência vital, porque vem minimizar uma imensa lacuna, ao oportunizar
a todos – autores, artistas, produtores e público –, a partir do enfoque da
deficiência, o acesso ao único mecanismo capaz de validar o homem ao seu
tempo e à sociedade em que vive: a cultura. Cabe, portanto, aos novos
pesquisadores da área, grande responsabilidade, pois, decerto, todo produto
cultural ganha nova vida quando tornado acessível e acessável (MATTOSO,
2016a, p. 65).
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Refletir sobre Sensibilização para a Acessibilidade e Inclusão Escolar tem registro
no documento intitulado “Sensibilização e Convivência”, organizado por Maria Salete
Fábio Aranha em 2005, o qual integrou o volume 3 de uma coleção desenvolvida pelo
Ministério da Educação (MEC). Aranha sugeria que professores realizassem atividades
que pudessem ser desenvolvidas com os alunos, de modo que estes – pela autora
compreendidos como “parte integrante do processo de construção de um sistema
educacional inclusivo” – pudessem “manifestar e tratar, dignamente, seus sentimentos”
com relação ao tema (ARANHA, 2005, p.5). A autora enfatiza o papel do professor no
movimento de transformação com vistas à inclusão, afirmando que este movimento “não
pode ser imposto, mas também não pode depender exclusivamente de decisões pessoais
e das reações emocionais de um ou outro profissional” e “inicia-se na atuação dos
dirigentes educacionais e alicerça-se nas ações dos professores que, como líderes, são
agentes de essencial importância na transformação do sistema educacional” (ARANHA,
2005, p. 8).
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impotência diante do desprezo, do escárnio e das tentativas de fraude ao encerrar uma
conta, por exemplo, situações às quais aquelas pessoas disseram estar permanentemente
e involuntariamente expostas, em função da deficiência.
Zanella (2004, p. 14) conclui que “organizar um evento com eficiência significa
demonstrar arte e competência” para atender aos anseios e superar expectativas dos
participantes.
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Todas as atividades foram fundamentadas (MATTOSO, 2016a; MATTOSO,
2016b) principalmente na “Educação da Sensibilidade/Educação pela Arte” de Herbert
Read sob a perspectiva da inclusão social proposta por Lena Vania Ribeiro Pinheiro
(2005); associada às “Metáforas da Vida Cotidiana” de Lakoff e Johnson (2002); às
“Notas sobre a Experiência e o Saber de Experiência” de Jorge Larrosa Bóndia (2002);
aos “Exercícios de Ver e não Ver” de Virgínia Kastrup e Marcia Moraes (2010), à “Escuta
Sensível” de René Barbier (2002), à “Partilha do Sensível” de Jacques Rancière (2005) e
às Espirais do Conhecimento de Jaime Robredo (2011).
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13. Webnários Nada de Gastronomia Sem Nós (outubro de 2020)
14. Oficina Acessibilidade em Gastronomia na II Semana Acadêmica da
Gastronomia (setembro 2019)
15. “Cozinhando às Cegas” (períodos letivos de 2016.2 a 2020)
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Uma professora do Curso de Terapia Ocupacional da UFRJ, membro da Comissão
Organizadora do Encontro Nacional de Acessibilidade Cultural para o qual, como
encerramento das edições de 2015, 2017 e 2018, foram realizados o Jantar às Escuras e
dois Happy Hours Sensoriais, destaca:
1. a relevante parceria institucional com o Corpo Social do Curso de Bacharelado em
Gastronomia da UFRJ (alunos e professores) para a problematização da pauta da
Acessibilidade Cultural na Universidade
2. a característica empreendedora de professores e alunos evidenciada na capacidade de
desafiarem-se a cada atividade de sensibilização concretizada
3. a capacidade agregadora da coordenação das Comissões Organizadoras para o
incentivo a parcerias institucionais inter, multi e transdisciplinares para e pela
realização das atividades de sensibilização
4. estruturação de uma “Pedagogia da Acessibilidade em Gastronomia” constituída para
o ensino-aprendizagem não somente dos estudantes como de todos os participantes
das atividades de sensibilização na abordagem da “Comida como Cultura”
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Para realizar Eventos de Sensibilização na perspectiva da Acessibilidade em
Gastronomia, tendo a comida como elemento mediador/comunicador, foram apreendidas
por membros do Corpo Social (discentes, docentes e técnicos) do Curso de Bacharelado
em Gastronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) as seguintes Etapas
de Planejamento e Organização, desde a ideia original:
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Na abordagem das barreiras (SASSAKI, 2014 apud MATTOSO, 2016a) que
possam impedir o pleno acesso e a participação de todas as pessoas a um evento
gastronômico, alguns elementos merecem destaque:
1. Barreiras Atitudinais: garantir que toda a equipe esteja capacitada para bem
acolher todas as pessoas e que tenha acesso, em tempo hábil, à lista de
convidados a qual deve destacar características de deficiências, mobilidade
reduzida e/ou transtornos, caso haja;
2. Barreiras Comunicacionais: garantir que todos os elementos e canais de
comunicação estejam estruturados de modo acessível e acessável
(MATTOSO, 2012; 2016a) com audiodescrição, Braille, QRCode, Legendas
para Surdos e Ensurdecidos (LSE), Língua Brasileira de Sinais (Libras),
dentre outros recursos de Tecnologia Assistiva, os quais serão aplicados a:
Save the Date; Convite; Formulário de Inscrição; Termo de Autorização para
Uso de Imagem e Voz; Termo de Responsabilidade sobre Alergias e
Intolerâncias Alimentares; Cardápio; Carta de drinks e bebidas; Sites e mídias
sociais; Formulários de Avaliação, dentre outros;
3. Barreiras Instrumentais: garantir que os instrumentos/equipamentos não
impeçam a nenhum conviva a fruição aos e nos momentos de
comensalidade
4. Barreiras Metodológicas: garantir métodos que favoreçam o melhor
atendimento a cada um dos comensais;
5. Barreiras Programáticas: garantir cumprimento da legislação e de normas na
perspectiva da acessibilidade e inclusão (Lei Brasileira da Inclusão, Normas
ABNT e normas específicas sobre eventos);
6. Barreiras Físicas/Arquitetônicas: garantir livres acesso e fluxo no espaço onde
o evento será realizado. No prédio em que o evento será realizado, atenção
para vagas de estacionamento, rampas, elevadores e banheiros seguindo as
Normas da ABNT. No salão: eliminar desníveis; espaçamento entre mesas
(2,5 metros de distância entre cada uma, no mínimo, gerando um corredor de
fluxo com no mínimo 1 metro de vão); mesas redondas para acomodar 8 (oito)
convidados em cada, com tampo de 1,60 m a 1,80; e com 0,75 cm a 0,80 cm
de altura para acomodar adequadamente pessoas em cadeiras de rodas;
7. Barreiras Naturais: garantir segurança por meio de identificação prévia e
sinalização de espaços gramados, com terra fofa, bem como lagos e rios; além
de garantir cobertura dos espaços a céu aberto, evitando acidentes e riscos de
contaminação cruzada.
É doce o sabor da felicidade pela consciência de que não há ensino sem pesquisa
tampouco pesquisa sem ensino (FREIRE, 1987, 1993, 1996 apud MATTOSO, 2012,
2016).
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Imediatamente, dirige-se a reflexão para o berço da Gastronomia como ciência e ao sonho
de Brillat-Savarin por uma “Academia dos Gastrônomos”:
Neste escopo, serão listados estudos que, sob orientação de Mattoso, permearam
a temática da “Acessibilidade em Gastronomia” originando Trabalhos de Conclusão do
Curso de Bacharelado em Gastronomia desenvolvidos por alunos da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na temática da “Comunicação em Gastronomia”,
João Carlos Casangel da Silva (SILVA, 2018) pesquisou sobre “O Jornalismo
Gastronômico e a influência na construção do gosto além do paladar: um novo olhar
pelas lentes da Acessibilidade e da Sustentabilidade”. Na abordagem de uma Educação
em Gastronomia, Annah Bárbara Pinheiro dos Santos (SANTOS, 2021) questionou o
lugar da Gastronomia no Ensino Médio e a democratização do acesso a esta ciência no
Ensino Superior. Jéssica Cardoso Ferreira (FERREIRA, 2021) desenvolveu pesquisa
sobre um novo tipo de serviço gastronômico e nos resultados identificou potencial para
otimizar a fruição dos momentos de comensalidade para pessoas com deficiências e com
mobilidade reduzida. Juliana Féres Castelo (CASTELO, 2021) investigou “O bolo de
aniversário na vida de pessoas com deficiência visual: acessibilidade e comensalidade”
apropriando-se de metodologia inovadora, por meio da qual todas as etapas da pesquisa
foram elaboradas com pessoas com deficiência visual.
LIVRO DE OURO
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A possibilidade de elaborar este relato de experiência sobre ações de ensino,
extensão e pesquisas relacionadas à Acessibilidade em Gastronomia eliciou diversas
reflexões, dentre as quais a necessidade de aprofundar estudos para a compreensão dos
termos “acesso” e “inclusão” relacionados ao direito à Educação Superior no Brasil: neste
escopo, ambos demandam ampliação de suas perspectivas.
REFERÊNCIAS
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BRASIL, 2015. Lei no 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a
assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das
liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e
cidadania.
DOMICIANO, Gabriela Silva. Comer com os olhos: diálogos possíveis entre visão e
paladar. Dissertação (Mestrado) - Curso de Faculdade de Artes Visuais, Programa de
Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015.
MATTOSO, Verônica de Andrade; SANTOS, Ivone Angela dos; FELIPE, Márcio José;
DORNELES, Patrícia Silva. Sensibilização em Acessibilidade Cultural: resultado
Bonito (MS). In: 7º Encontro Nacional de Acessibilidade Cultural (7ENAC) – Porto
Alegre (RS) – 2019. Anais. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2019. p. 225-
235.
203
Michele W. Comarú; Fabiana da S. Kauark; Nahun Thiaghor L. P. Gonçalves (Organizadores)
ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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MATTOSO, Verônica de Andrade; SANTOS, Ivone Angela dos; FELIPE, Márcio José;
DORNELES, Patrícia Silva. Sensibilização em Acessibilidade Cultural: resultado
Bonito (MS). In: Brazilian Journal of Development. v.7, n. 6, p. 55493-55507.
DOI: https://doi.org/10.34117/bjdv7n6-113 . Disponível em:
https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/30879/pdf
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15. GÊNERO E SEXUALIDADE EM LIVROS
DIDÁTICOS DE CIÊNCIAS: ENTRE
PERSPECTIVAS BIOLOGIZANTES E
CULTURAIS
Sobre suas vivências escolares, Louro (2000) afirma que os propósitos eram a
produção de um homem e de uma mulher "civilizados", capazes de viver em coerência e
adequação na sociedade (LOURO, 2000). Reservado às mulheres, a autora relembra que
42
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) / Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9207-2946
43
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4522-1109
44
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2885-5628
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“[...] ali nos ensinavam a sermos dóceis, discretas, gentis, a obedecer, a pedir licença, a
pedir desculpas”. Na "produção do menino", a situação era diversa, pois o projeto “[...]
tinha como alvo uma determinada forma de masculinidade. Era uma masculinidade dura,
forjada no esporte, na competição e numa violência consentida” (CORRIGAN, 1991apud
LOURO, 2000, p. 200).
Na escola ocorrem discursos e ações de exclusão dos sujeitos que não se incluem
na sexualidade hegemônica - a heterossexual. Esses estão sujeitos a preconceitos e
discriminações por sua identidade de gênero e sexual: “[...] as situações de exclusão
social, decorrentes do sexismo e da homofobia são constantes, porque as representações
hegemônicas que hierarquizam as diferenças estão permanentemente sendo fixadas
mesmo com permanentes resistências” (FURLANI, 2003, p. 69). Bento (2011) tece
reflexões sobre o equívoco de falar de diferença ou diversidade n escola como se fossem
dois lados: um em que existem grupos que atuam de acordo com valores hegemônicos e
em outro, grupos fora desses padrões: “[...] a diferença é anterior, é constitutiva dessa
suposta igualdade. Portanto, não se trata de “saber conviver”, mas considerar que a
humanidade se organiza e se estrutura na e pela diferença” (BENTO, 2011, p. 556).
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social dos alunos. Muitos adolescentes e jovens enfrentam desafios em casa e na
sociedade e também se sentem inseguros na escola. Pensar a educação como uma prática
política implica também em ofertar uma formação docente que pense e reflita sobre essas
questões.
Para Martins (2006), o livro didático é um artefato cultural, com condições sociais
de produção, circulação e recepção definidas com referência a práticas sociais
estabelecidas na sociedade. A história dos livros está vinculada á história do ensino
escolar, do mercado editorial das tecnologias de produção gráfica e dos padrões gerais de
comunicação na sociedade (MARTINS, 2006, p. 7).
Macedo (2004) aponta uma relação importante entre currículo e livros didáticos,
que tem justificado a valorização deste artefato cultural por políticas educacionais
implementadas no Brasil. Na realidade social e econômica brasileira, os livros podem ser
o único material curricular para grande parte dos estudantes e do professorado. Se
utilizado de forma restrita, pode significar que o estudante não tenha acesso a outros
materiais com conhecimentos escolares, com discussões sobre as representações
encontradas nos livros didáticos, jornais, revistas ou filmes usados pelas/os estudantes
(LOURO, 2014). As limitações nos livros didáticos podem ter um contraponto na
formação continuada de professores de ciências e na produção de materiais educacionais
que problematizem estas questões:
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aprofundar a discussão sobre as defiCiências e limites das coleções
didáticas atuais, bem como estimular a produção coletiva, tanto de
novos recursos, quanto dos modos alternativos de uso dos recursos
disponíveis (FRACALANZA; MEGID NETO, 2003, p. 155).
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pois atinge, inclusive, um casal heterossexual que não pretende casar ou ter filhos, por
exemplo, ficando fora do que é considerado norma.
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CAMINHOS METODOLÓGICOS
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num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo
contexto (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 39).
CORPUS DOCUMENTAL
PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
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simbólico. “Este sentido nem sempre é manifesto e o seu significado não é único. Poderá
ser enfocado em função de diferentes perspectivas” (MORAES, 1999, p. 2). Essa análise,
“[...] conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a
reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível
que vai além de uma leitura comum” (MORAES, 1999, p. 9).
No que diz respeito ao gênero dos autores, o número de autores homens é superior
ao de mulheres. Dois Manuais do Professor são de autoria de um único autor do sexo
masculino (LD1 e LD3) e nenhuma mulher assume a autoria individual em qualquer um
dos seis livros. Mesmo nas obras com coautorias, apenas no LD2 mulheres assumem a
condição de autoras. O LD6 conta com um total de seis homens, ou seja, cem por cento
de autoria masculina, sem que nenhuma mulher tenha tido participação.
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GÊNERO E SEXUALIDADE NOS LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIAS
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apresentam os conteúdos ligados à reprodução de forma a reforçar os estereótipos de
passividade feminina, em contraposição à atividade masculina”. Essa abordagem do
conhecimento contribui para reforçar o estereótipo de gênero.
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procura aos serviços de saúde”, tornando-se uma ameaça à masculinidade (GOMES,
2007, p. 569).
Sobre o sistema genital feminino, a explicação sobre o “hímen” foi localizada em
três Manuais do Professor (LD1, LD2 e LD6) na perspectiva biológica e sem a
problematização dos significados de “virgindade”:
Nas mulheres virgens, a entrada da vagina é coberta por uma pele fina
chamada hímen, com um ou mais orifícios que permitem a passagem
do sangue da menstruação (GEWANDSZNAJDER, 2012, p. 220).
As representações sobre os corpos podem operar sob uma lógica que reproduz
identidades e comportamentos dicotômicos em relação aos gêneros. O feminino
incorporado a um sujeito masculino pode ser motivo de incômodo, vergonha e
inferioridade, com o medo de que tais características sejam atribuídas à
homossexualidade.
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corpos que se desviam desse padrão, são geralmente expostos ao ridículo, desprezados
ou ainda excluídos da mídia (FAQUINETE; BARRETO, 2013, p. 11). Apenas em um
quadro informativo em um único livro, os papéis sociais masculinos e femininos são
questionados: “Qual é o papel de cada um? Quais são os comportamentos considerados
“corretos” e “adequados” para homens e para mulheres?” (USBERCO, 2015, p. 179).
O texto afirma que “[...] a mulher ainda enfrenta preconceito e diversos tipos de
violência social” (USBERCO, 2015, p. 179). Aborda a falta de equivalência de salários,
diante da inclusão crescente no mercado de trabalho e cita a Lei Maria da Penha como
uma importante ferramenta de preservação à sua saúde física e mental. Todavia, ainda
que seja o único material que reconheça e cite as várias problemáticas e diferenças que
existem e se mantém devido exclusivamente à condição em ser mulher e as violências a
ela atribuídas, o conteúdo faz uma abordagem superficial. Ressaltar de maneira efetiva os
diversos aspectos e contextos de como o gênero pode ser vivenciado é essencial para
diminuir preconceitos, promover respeito, sensibilização e auxiliar na construção de
identidades.
Além disso, merece destaque o fato de que os papéis masculinos também não são
discutidos e do quanto tal omissão sobre o que aportam certas pluralidades identitárias
pode servir a uma tentativa de aprovação/manutenção de determinados comportamentos
ditos masculinos, naturalizando-os. Como consequência, “[...] agencia-se não só á
cristalização da dicotomia masculino-feminino, mas também a impossibilidade de
perceber as diferenças entre os modos de estar homem em suas vivências” (FAQUINETE;
BARRETO, 2013, p.14). O machismo e o sexismo afetam tanto os homens como as
mulheres. Como afirma Macedo (2007, p. 49), “[...] os processos culturais são sempre
dinâmicos e submetidos à história. E os corpos não podem ser retirados de seus contextos
culturais, fazendo com que a sua dimensão biológica seja reduzida ao mecânico ou
inanimado”.
Atenta-se para a ausência das identidades de gênero dos seis livros didáticos, com
a compreensão de que não existe nada além do homem e da mulher. No entanto, existem
mais do que dois gêneros. “Alguns concordam e alegam que existem pessoas transexuais
e travestis, que explicitamente, em alguns casos, preferem ficar no trânsito entre os
gêneros” (COLLING, 2013, p. 411). Outro silenciamento é a ausência de experiências e
vivências para além da heterossexualidade. Palavras como “homossexualidade” e/ou
“bissexualidade” não foram utilizadas nesses materiais, com exceção do LD1 (em
“noções de sexualidade - p.65). Entende-se que, entre que os temas referentes às
construções de gênero e às orientações sexuais, foram omitidos aspectos relevantes nas
abordagens em uma perspectiva cultural e/ou híbrida.
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ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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sexualidades em suas diferentes dimensões e significações (BONFIM, 2011, MOREIRA;
SILVA, 2019). Também se torna relevante a discussão e reflexão sobre esta temática na
escola e nos cursos de formação docente, como modo de enfrentamento da discriminação
por gênero e orientação sexual e visando à garantia dos direitos humanos, sexuais e
reprodutivos das pessoas. Espera-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir
e incentivar a realização de outros estudos na área do Ensino de Ciências e Educação.
CONCLUSÃO
Compreendemos que seja uma utopia pensar que a instituição escolar possa
mediar todos os problemas relacionados às questões de gêneros e sexualidades da
sociedade, ainda mais se considerarmos as más condições de trabalho em que muitos
professores e outros agentes educacionais exercem suas atividades. Porém, também não
podemos deixar de ressaltar que as escolas são espaços importantes na construção de
relações sociais e da identidade. Ao abordar materiais didáticos e processos que produzem
e cristalizam diferenças, podemos estar atentos às questões de gêneros e sexualidades e
desnaturalizar os estigmas neles expressos.
REFERÊNCIAS
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ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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BENTO, Berenice. Na escola se aprende que a diferença faz a diferença. Estudos
Feministas, 19(2), pp. 549-559. 2011. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ref/v19n2/v19n2a16.pdf. Acesso em 15 out. 2021.
COLLING, Leandro. A igualdade não faz o meu gênero – Em defesa das políticas das
diferenças para o respeito à diversidade sexual e de gênero no Brasil. Contemporânea –
Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos, v. 3, n. 2, jul.-dez. 2013, pp. 405-427.
FILHO, Miguel Zerati; NARDOZZA, Archimedes Júnior, BORGES, Rodolfo dos Reis.
Urologia fundamental. São Paulo: Planmark, 2010.
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ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Tradução de
Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987.
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ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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MORAES, Roque. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37,
p. 7-32, 1999.
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ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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16. ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS
PARA ESTUDANTES SURDOS DO
FUNDAMENTAL II: DA TEORIA À UMA
FORMAÇÃO E PRÁTICA EDUCATIVA
INCLUSIVA
45
IFG, ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6399-9120
46
SEDUC/GO, ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9109-0926
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Inicialmente procuramos relacionar o ensino de ciências e sua relação com a
formação, em serviço, de professores e a educação de surdos, apresentando alguns
aspectos necessários à educação inclusiva referenciando alguns autores que exploraram
em seus estudos estratégias adaptadas que contemplassem surdos e ouvintes.
Quadros (1997) afirma que na escola os educandos surdos não recebem a instrução
formal em Libras. Isto gera um ambiente impróprio à forma particular de processamento
cognitivo e linguístico desses alunos. Constata-se que o surdo chega, mormente, à escola
sem aquisição de uma língua, considerando que a maioria delas são filhos de pais
ouvintes, portanto, elas precisam de um ambiente no qual essa língua ocorra de forma
espontânea e natural. E isto, conforme Freeman (1999), só é possível se o surdo estiver
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em contato com outras crianças surdas, com adultos surdos ou professores ouvintes que
falem fluentemente a língua de sinais.
Tardif (2014) considera que as relações dos professores com os saberes nunca são
exclusivamente cognitivas ou intelectuais, elas são mediadas pelo trabalho que lhes
proporciona fundamentos para superar os desafios solucionando os problemas
encontrados em sua prática pedagógica. Dessa forma o saber docente é composto por
vários outros saberes originários de diferentes fontes. Entre eles estão: o saber curricular,
advindos de programas e manuais escolares; saber disciplinar, composto pelos conteúdos
e matérias ensinadas no ambiente escolar; o saber da formação profissional, aprendido na
formação inicial e por fim, o saber cultural adquirido em sua história de vida e que é
compartilhado com os alunos. Isto posto, o saber docente é composto de inúmeros saberes
vivenciados pelos professores ao longo de sua vida.
De acordo com Glat e Pletsch (2004) o currículo para uma escola inclusiva, não
pode ser resumida somente em algumas adaptações feitas para acondicionar os estudantes
com necessidades especiais. A educação inclusiva demanda uma nova concepção
curricular, atendendo a diversidade de seus discentes garantindo um bom nível de
educação para todos.
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daqueles que apresentam necessidades especiais ser amplamente discutida, percebe-se
que ainda existem poucos trabalhos voltados para a prática docente que possam ajudar no
ensino do surdo.
Ramos (2011) enfatiza que o professor precisa considerar que o aluno surdo é um
indivíduo que interage e compreende o mundo por meio de experiências visuais, portanto,
são necessárias adaptações curriculares e avaliativas, que contemplem a disponibilização
de equipamentos e do acesso às tecnologias da informação e comunicação, como recursos
de apoio à educação.
A inclusão torna ainda maior o desafio se o professor não tiver uma formação
adequada. Para que haja inclusão do surdo no ensino regular é preciso que o professor
entenda suas características e esteja disposto a utilizar estratégias diversificadas
reconhecendo que sua aprendizagem se difere do ouvinte, sendo, portanto, necessário o
uso de estratégias diversificadas, que estimule os outros sentidos, além da realização de
algumas flexibilizações no currículo.
Oliveira (2012) relata sobre as dificuldades enfrentadas como surda durante sua
vida escolar, diante disso, propõe um estudo sobre a relação entre o intérprete da Libras
e o professor de ciências. De acordo com a autora, para que as metodologias de ensino
de ciências obtenham êxito, além da diversificação de estratégias, é preciso haver uma
parceria entre estes dois profissionais que precisam trabalhar em conjunto desde o
planejamento até a execução da atividade, analisando e apresentando adaptações
curriculares e metodológicas necessárias com o objetivo de atender surdos e ouvintes.
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Por outro lado, é essencial que o professor de ciências tenha, minimamente, conhecimento
de nível básico da Libras para que possa estabelecer contato com o aluno surdo.
De acordo com Campello (2008), para que se possa discorrer sobre o processo de
ensinar e aprender fundamentado em uma pedagogia para surdo, ou de uma pedagogia
visual, relacionada à escolarização destes, é preciso, antes, debater sobre a importância
do signo visual, descrevendo as necessidades específicas relacionadas à constituição
destes sujeitos, além de definir o que se compreende como pedagogia visual.
O signo visual, usado pela comunidade surda, envolve uma percepção visual e a
construção de ideias e imagens visualizadas que controlam ou se constitui como
princípios da língua de sinais que possibilitam a comunicação dos surdos. Nesse sentido,
o signo visual está relacionado à realidade dos surdos que se constitui mediante a
apropriação deste, por meio do “ver”, uma vez que, seu processamento visual é diferente
do processamento da “fala”. (CAMPELLO, 2008).
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e da emergência de uma educação “visual”. Para ela, a língua de sinais também é uma
destas experiências visuais.
Campello (2007) propõe aos professores que se coloquem no lugar dos surdos,
convidando-os a sentirem as mensagens que as imagens passam para isso, ela sugere que
seja desvinculada toda informação verbal ou oral, como por exemplo, assistir a um filme
sem áudio e sem legenda observando as cenas e expressões e depois tentarem explicar o
que compreenderam utilizando preferencialmente a Libras. De acordo com a autora, é
preciso que os ouvintes se insiram na cultura surda, em sua linguagem, seu modo de
pensar, seria como ser surdo, para assim, transformá-las em “palavras visuais”, isto é,
utilizando linguagem viso-espacial Constata-se, portanto, que a pedagogia visual é
necessária para o surdo, pois, os recursos visuais devem orientar o processo de ensino
aprendizagem destes por terem um campo visual periférico mais desenvolvido que os
ouvintes.
O vídeo é um dos recursos apontados por Campello (2008) que faz parte da
pedagogia visual e que pode ser útil no ensino com os surdos, uma vez que, utiliza a
visão.
Ramos (2011) relata em seu trabalho que a utilização de vídeos com os surdos
permitiu que eles tivessem mais interesse possibilitando que os conteúdos ficassem mais
claros, promovendo a contextualização de maneira mais genérica dos conceitos
explorados, além de refletir maior interesse nos alunos. Outro recurso utilizado por
Ramos (2011) em seu trabalho foi a escrita de palavras-chave na lousa que orientaram a
datilologia (utilização do alfabeto manual em Libras) resultando numa maior coesão entre
os recursos utilizados e a explicação em Libras. Além das palavras-chave, também foram
utilizadas ilustrações para que os alunos se orientassem e pudessem representar alguns
conceitos sobre o objeto de estudo.
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Quanto ao uso do vídeo em ambiente escolar, Morán (1995) trabalha com
diferentes formas de exploração da linguagem que o recurso metodológico permite, e
considera o vídeo como um recurso sensorial, visual, que apresenta linguagem falada,
musical e escrita. Para ele, estas linguagens que interagem e se interligam e se bem
utilizado, o vídeo consegue atingir diferentes sentidos e de maneiras diferentes,
informando, entretendo, projetando em outras realidades, alcançando até nosso
imaginário, em diferentes tempos e espaços.
Optamos por usar as duas formas consideradas por Morán (1995) mais
importantes no ambiente escolar: primeiro como sensibilização e segundo, como
produção, com a edição de um pequeno vídeo que foi gravado e editado pelos alunos.
A escolha do gênero textual História em Quadrinhos (HQ) deu-se pelo fato de que
segundo Santos (2003) a linguagem característica dos quadrinhos e os elementos de sua
semântica, se bem utilizadas podem ser um bom aliados ao ensino, uma vez que une o
texto ao desenho conseguindo tornar mais explícito, em especial, para o surdo, conceitos
que continuariam abstratos se apresentados somente por meio de textos escritos.
Nesta seção, trataremos sobre uma sequência didática constituída por atividades
adaptadas ao aluno surdo no Ensino Fundamental II sobre o tema Adolescência. A prática
educativa foi desenvolvida em uma turma do 6 º ano do Ensino Fundamental II. Foram
produzidas algumas atividades como aulas dialogadas, apreciação e produção de vídeos,
confecção de material concreto, jogos e produção de História em Quadrinhos. À guisa de
delimitação, neste trabalho, focaremos no uso de vídeos e histórias em Quadrinhos
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objetivos educacionais que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelo professor
como pelos alunos. Ele defende que a identificação das etapas, atividades e relações
estabelecidas em uma sequência didática dever servir para o entendimento de sua
relevância educacional, assim como, das mudanças e inserção de atividades que possam
contribuir com ela.
Para Zabala (1998), o objetivo das sequências didáticas não é avaliar a validade
de determinados métodos, comparando a outros, mas sim, de oferecer subsídios que
permitam ao professor diferentes formas de intervenção.
A sequência didática proposta foi dividida em sete atividades, das quais focaremos
aqui naquelas que utilizaram vídeos e HQs
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Logo depois de assistir aos vídeos fizemos uma roda de conversa. Os alunos
relataram que gostaram dos vídeos e acharam interessante, mas tiveram que ficar bem
atentos, especialmente no primeiro vídeo que era bilíngue, porque senão não iriam
conseguir entender. Disseram também que o que viram nos vídeos foi o que vimos nas
primeiras aulas da semana, como: “Diferenças no corpo masculino e feminino, mudanças
no corpo com chegada da adolescência, primeira menstruação, gravidez, órgãos
reprodutores e suas funções.”. Mesmo com a dificuldade inicial, acreditamos que o
recurso foi útil já que chamou atenção deles, e conseguiram expor alguns conceitos.
Júlia disse que gostou muito do vídeo porque nele todos conversavam em Libras,
ela disse que as meninas ficam mais bonitas, cintura fina, seios e quadris grandes e que o
menino não muda muito não. Também conseguiu explicar que a menstruação faz parte
do ciclo reprodutivo da mulher, período este, em que ocorre a perda de sangue quando o
óvulo não foi fecundado, e que, portanto, a mulher não ficou grávida. Alertou que as
meninas precisam tomar cuidado porque a gravidez na adolescência é muito difícil.
Vitória disse que gostou dos vídeos e para ela a legenda foi muito boa, disse que
aprendeu muito.
Para Moura (2008), o vídeo por sua característica audiovisual se apresenta como
uma boa alternativa no processo de ensino e de aprendizagem tanto do surdo, quanto do
ouvinte, este primeiro pelo sentido da visão. De acordo com a autora, os conteúdos
audiovisuais tendem a ser mais facilmente assimilados do que se tivessem sido utilizados
os sentidos separadamente.
Acreditamos que a proposta com vídeos se mostrou uma boa prática inclusiva,
oferecendo as alunas surdas condições de aprendizagem. Este recurso, da forma como
utilizado favoreceu a compreensão dos alunos, o que pôde ser verificado pelas discussões
na roda de conversa tanto pelas alunas surdas quanto pelos ouvintes.
Foi entregue para cada aluno uma folha chamex em branco para que eles
produzissem a história em quadrinho sobre o que estudamos durante a sequência didática.
Em seguida, foi explicado que um deveria montar sua história em quadrinhos enfatizando
que ela precisa ter um sentido lógico: começo, meio e fim. Ressaltamos também que este
gênero tem como objetivo entreter e passar um ensinamento. Para auxiliá-los nesta
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produção, foram apresentados alguns recursos gráficos como: as onomatopeias, formato
de balões e letras, interjeições recursos estes que ajudam a dar sentido nas histórias em
quadrinhos.
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as fotos e os vídeos e o que fazer para planejar e criar o vídeo. O grupo teve acesso a
algumas fotos e vídeos disponibilizados num portfólio/banco de dados selecionados
antecipadamente pela pesquisadora.
O grupo produziu dois vídeos. O primeiro com as diferenças que existem entre o
corpo feminino e masculino e as mudanças com a chegada da adolescência. O segundo
vídeo falando dos cuidados que o adolescente tem que ter com seu corpo.
A participação das alunas Júlia e Vitória na produção dos vídeos foi satisfatória.
No primeiro vídeo produzido, simularam um diálogo entre quatro amigas, sendo elas e
mais duas colegas ouvintes, contando o que aprenderam na escola, primeiro falando das
fases da vida desde o nascimento até a velhice, em seguida uma delas pergunta para Júlia
qual a diferença entre o corpo feminino e masculino e ela diz que: “meninas ter seios,
quadril grande, menstruação, útero cresce, fica grávida – meninos pênis ereto, voz forte,
fica alto, espinhas”. Percebemos que houve avanço, posto que, elas conseguiram
descrever características que não são perceptíveis, como: mudança de voz, primeira
menstruação, aumento do tamanho do útero, primeira ejaculação que foram
conhecimentos adquiridos durante as atividades.
No segundo vídeo, as seis alunas combinaram que cada uma iria fazer o sinal dos
cuidados que se deve ter com o corpo, especialmente na adolescência. A participação de
Júlia foi interessante, como as colegas, às vezes, não conseguia fazer os sinais em Libras
ela ia ensinando.
Quando terminou a gravação, Júlia disse: “Eu tomar banho todo dia porque já
moça, não ter menstruação, mas seios já grande, usar soutien, correr muito suor
espinhas. Não pode grávida agora porque difícil estudar”.
Podemos observar na transcrição da fala de Júlia, que ela consegue relatar que
aprendeu, faz uma conexão com sua vida diária, mas, de forma breve. É importante
lembrar que a Libras não usa artigos, preposições, advérbios nem faz conjugação verbal.
Sobre isto, Santana (2007) lembra que o vocabulário da língua de sinais é menor
que das línguas orais, em uma proporção de uma palavra para cada cem, por consequência
de ser uma língua que está em construção, visto que é recente seu repertório.
Logo após a gravação, o grupo fez a edição do vídeo, Júlia e Vitória ajudaram na
realização da legenda do vídeo que depois seria apresentado aos demais colegas.
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todos os alunos do 6º ano puderam assistir e os organizadores deles tiveram a
oportunidade de receber as críticas do público.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital. 2.ed. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2008.
MORÁN, J. Ml, O vídeo na sala de aula. In: Comunicação e Educação, São Paulo, vol.
2, p. 27 - 35. jan. /abr. 1995. Disponível em:
<http://www.eca.usp.br/prof/moran/vidsal.htm > Acesso: 29/ 05 2021.
QUADROS, R. M., SCHMIEDT, M. L. P. Ideias para ensinar português para alunos
surdos – Brasília: MEC, SEESP, 2006.
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17. ENSINAR CIÊNCIAS NA PERSPECTIVA
INCLUSIVA: REFLEXÕES DO PERFIL AO
TRABALHO DO EDUCADOR PESQUISADOR
Pensar em inclusão numa sociedade que deveras foi extremamente excludente por
um longo período histórico é, inicialmente, afrontar padrões, estigmas e preconceitos/
pré-conceitos (naturalização de concepções), todos nós em algum ponto expressamos tais
posicionamentos, o problema é que ao negligenciar os excluídos continuamos afirmando
essas relações sem confrontá-las, narrando processos de tolerância ou omissão, negando
o convívio e dificultando ainda mais a apropriação do respeito.
Uma sociedade para todos, uma escola para todos e um ensino de ciências para
todos é reconhecer e confrontar as expressões excludentes que continuam presentes
nesses espaços, agir sobre elas e tentar transformá-las frente a um princípio inclusivo,
então é uma luta cotidiana, que para o educador requer um posicionamento político,
filosófico e crítico a favor da escola inclusiva.
47
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5684-0880
48
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8807-931X
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(BRASIL, 1996) que recentemente é ampliada pela Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) aplicada nas escolas.
Tais indagações e o breve percurso histórico são fruto representativo dos avanços
sociais no diálogo sobre inclusão, perspectivas que são travadas por intermédio dos
movimentos sociais de luta intensificados nas últimas décadas pelo reconhecimento e
valorização da diversidade e das diferenças, que pode ser considerada um confronto
histórico contra os padrões normativos dicotômico, visto que:
[...] inclusão tem muito mais a ver com participação como um direito
humano inalienável e subjetivo a todos os serviços oferecidos pela
sociedade do que com o condicionamento desta participação a alguma
característica pessoal, grupal, étnica, cultural, religiosa, política, de
gênero, de sexualidade etc., dos cidadãos do mundo (FONSECA, 2014,
p.57).
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Então, pensar nesse modelo de escola inclusiva proposto e na formação de
professores na perspectiva inclusiva é considerar no processo de ensino e aprendizagem
as questões que envolvem pessoas com deficiência, estudantes com dificuldades de
aprendizagem, questões étnicas, raciais, culturais e de gênero, é lutar contra qualquer
ideologia que gere diferentes processos de exclusão, preconceitos e ajustamentos,
valorizando a diversidade e primando pelo respeito a vida.
É fato que o professor precise ser sensibilizado para tais causas, mais, que a forma
de ensinar ciências e conceber seus conceitos precisam atentar a tais diferenças, o que
infere a perspectiva de inclusão um pensamento embasado nos princípios de direitos
humanos, totalidade, representatividade e democracia participativa, a qual expressa suas
faces subjetivas, principalmente por intermédio da diversidade e criatividade no convívio
social.
Educador, porque seu interesse maior se orienta numa educação de qualidade para
todos, considerando o educando como sujeito participativo na realização do processo de
ensino e aprendizagem, dotado de conhecimento no agora, seja a criança da Educação
Infantil ao Adulto do Ensino Superior, e que amplia seus saberes em contato com o
conhecimento elaborado mediado, exercitado ou vinculado as ações pedagógicas na
instituição escolar com perspectivas de influência e ou aplicação na sociedade.
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Pesquisador, pois acredita que sua formação está sempre na linha da incompletude
(FREIRE, 2020) e que o processo de experimentação e investigação científica
potencializa a relação teoria e prática na sua aprendizagem e na dos educandos, devendo
sempre que possível ser pautada para colaborar na aproximação dos contextos e
problematizações do conteúdo curricular, de outra maneira compreendendo e assumindo
que pesquisa auxiliaria na participação ativa e na formação emancipatória.
A ideia que se cultiva nessa escrita é substanciada entre anos de prática docente
na educação em Ciências, Química, Biologia, Educação Especial, Pedagogia e
participação em diferentes grupos de pesquisas científicas efetivadas no ensino de
ciências e na educação especial, um diálogo entre educadores pesquisadores e professores
formadores, não só para firmar que a perspectiva inclusiva precisa ser exercitada com
mais ênfase no chão da escola, mas que pode ser assumida inicialmente com base nas
nossas licenciaturas atuais, como já acontece e ou pode ser realizada através da associação
entre o conhecimento elaborado em ciências e as mudanças atitudinais na docência e no
convívio social.
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crítica através de intervenções direcionadas as necessidades da sociedade e seus sujeitos,
sendo articulada ao conteúdo das disciplinas com diferentes mediações e técnicas
pedagógicas.
Assim, adaptar o currículo é uma tarefa que vai além da educação especial dentro
da perspectiva inclusiva, podendo ser aplicada em inúmeros casos em que se observe
dificuldades, distúrbios de aprendizagem ou contextos escolares adversos, dentro do
nosso interesse específico da área de ciências da natureza, de modo a facilitar o processo
de ensino e aprendizagem dedicado às disciplinas de Ciências, Biologia, Física e
Química, orientadas pela BNCC, mas não restrita a ela, principalmente quando
consideram confrontar as relações de exclusão.
CONSIDERAÇÕES
• Os estudantes vinculados a educação especial – São e devem ser cada vez mais
presentes em nossas salas, pois precisamos aprender e conviver com eles, não os excluir,
assumir o estudante e sua dificuldade na transformação da nossa didática: Quantos de nós
sabemos os conceitos básicos em LIBRAS? Quantos de nós realizamos trabalhos
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colaborativos com os professores especialistas no desenvolvimento das avaliações e
adaptações das atividades?
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Para cada uma dessas perguntas existe alguns – SIM – as possibilidades são
maiores em meio ao desenvolvimento da tecnologia e o fortalecimento da participação
social, principalmente dos excluídos, pelo movimento de luta apoiado na inclusão e pela
divulgação científica. A afirmação, o sim, carece de formação direcionada aos professores
pela leitura e atualização em pesquisas científicas que trabalhem com métodos
pedagógicos diferenciados, práticas didáticas diversificadas, tecnologia associada ao
educar.
REFERÊNCIAS
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nº 9394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece a lei de diretrizes e bases da educação
nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 dez.
1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 73. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2020.
241
Michele W. Comarú; Fabiana da S. Kauark; Nahun Thiaghor L. P. Gonçalves (Organizadores)
ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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GONÇALVES, N. T. L. P. Do desmonte da educação pública a formação humana
omnilateral, perspectivas e seus reflexos na educação especial. Revista Cocar. v.14
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Michele W. Comarú; Fabiana da S. Kauark; Nahun Thiaghor L. P. Gonçalves (Organizadores)
ENSINANDO A ENSINAR CIÊNCIAS VOLUME II: Discutindo práticas inclusivas
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