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Administração Hospitalar

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO
HOSPITAL MODERNO

Ernesto Lima Gonçalves


Professor Titular da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo e ex-Diretor do
PROAHSA da EAESP/FGV.

RESUMO: A proposta da nova estrutura organizacional do hospital baseia-se em estruturas funcionais, geográficas
ou de produto sob forma de gerência. Os gerentes, encarregados de decisões em suas áreas específicas, com-
põem o Conselho Técnico-Administrativo no qual as decisões gerais serão tomadas por consenso, formando uma
estrutura empresarial participativa.

ABSTRACT: A new organizational structure for hospitaIs is proposed based on functional or geographical specialized
areas. The manager of each specialized area is responsible for specific decisions in his own area and ali of them
integrate a body to discuss technical and administrative matters and where general decisions are assumed.

PALAVRAS-CHAVE: hospital, estrutura organizacional, administração participativa, gerências especializadas,


decisão consensual.

I<EY WORDS: hospital, organizational structure, participa tive management, specialized hospital areas,
consensual decision.

80 RAE - Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 38, n. 1, p. 80-90 Jan./Mar. 1998
ESTRUTURAORGANIZACIONAL DO HOSPITAL MODERNO

As naturais demandas sociais geradas na tes atividades humanas em busca da recupe-


intimidade da sociedade moderna incluem o ração da saúde.
hospital no rol das instituições fundamen- Conseqüência do volume de conhecimen-
tais da comunidade, como são as escolas, as tos gerados na área da saúde e voltados prin-
organizações políticas e as instituições re- cipalmente para o diagnóstico e tratamento
ligiosas. Sua importância pode bem ser ava- das doenças, a tecnologia utilizada nos hos-
liada pelo grau de relações que o hospital pitais encontra-se num movimento contínuo
mantém com os indivíduos em particular e de inovação, exigindo uma permanente pre-
com a coletividade em geral, resultante do ocupação dos responsáveis pelos serviços, na
papel essencial da instituição hospitalar em busca da competitividade, objetivando a su-
momentos fundamentais da vida das pes- peração dos padrões assistenciais vigentes.
soas, no nascimento, na doença e na morte.
Em relação à comunidade, é fundamental
lembrar que é no hospital que se encontram
As naturais demandas sociais geradas na
disponíveis, para uso de todos quantos o pro-
curam, não só os conhecimentos profissionais intimidade da sociedade moderna
de todas as categorias de integrantes da Equi- incluem o hospital no rol das instituições
pe de Saúde - médicos, enfermeiros, psicó-
logos, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoau- fundamentais da comunidade, como são
diólogos, farmacêuticos, assistentes sociais, as escolas, as organizações políticas e as
entre outros - mas também os recursos ins-
instituições religiosas.
trumentais com que a moderna tecnologia en-
riqueceu o exercício da medicina.
A disponibilidade de recursos de diag-
nóstico e tratamento, bem como as possibi- O contexto no qual a estrutura e a tecno-
lidades de pesquisa e aperfeiçoamento com logia hospitalar irão se situar caracteriza-se
que o hospital conta hoje constituem fatores por considerável imprevisibilidade, determi-
fundamentais para identificá-lo como o or- nando a necessidade de implementação de
ganismo mais qualificado para contribuir processos permanentes de gestão e assistên-
para o encaminhamento de soluções para os cia, complementados por outros procedimen-
problemas de saúde da comunidade. Daí a tos temporários, de modo a permitir uma deci-
importância de se analisar com cuidado a ins- são rápida e competente em torno de mudan-
tituição hospitalar em sua funcionalidade e, ças que ocorrem dentro e fora da instituição.
desde o início, em sua estruturação. I
Os hospitais evoluíram desde pequenos A GEOGRAFIA DO HOSPITAL
grupos estruturados informalmente até as
grandes e complexas organizações dos dias É preciso um pouco de cuidado e de
atuais; as modificações observadas buscaram acuidade para penetrar nos meandros da es-
sempre a racionalização dos esforços huma- trutura da organização hospitalar. Será pos-
nos, procurando atingir os objetivos defini- sível, então, verificar que ali existe muita
dos inicialmente. Para tanto, o hospital deve coisa além dos setores encarregados do aten-
ser administrado segundo critérios absolu- dimento dos que procuram o hospital, para
tamente racionais, essencialmente baseados diagnóstico e tratamento de sua doença. Tais
nos pressupostos que caracterizam a moder- setores têm aumentado numericamente e em
na administração empresarial. complexidade, particularmente por força do
O ambiente hospitalar hospeda hoje des- espantoso desenvolvimento tecnológico que
de tecnologias muito simples até os comple- o mundo moderno presencia. Essa evolução
xos e sofisticados métodos computadoriza- atingiu tanto o setor de elementos diagnós-
dos de diagnóstico e tratamento. Tais tecno- ticos e de recursos terapêuticos como os se-
logias incluem a aplicação de conhecimen- tores de apoio técnico. Entre os primeiros, é
tos gerados continuamente, a prestação de fácil lembrar os equipamentos de diagnósti-
serviços de atendimento ao doente, a utili- co por imagem, chegando hoje, por exem- 1. LIMA GONÇALVES, E. As funções do
zação de equipamentos mecânicos e eletrô- plo, a equipamentos que se baseiam na emis- hospital moderno. In: LIMA GONÇALVES,
E. (coord.) O hospital e a visão
nicos, procedimentos, métodos e processos são de pósitrons. Entre os recursos administrativa contemporânea. São
inovadores para a organização das diferen- terapêuticos de ponta podem ser lembradas Paulo: Pioneira, 1983.

© 1998, RAE - Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil. 81
as sondas que permitem as angioplastias com tão, com facilidade, a importância de se bus-
condições de superar processos capazes de car um relacionamento harmonioso entre a
acarretar infartos do miocárdio. A operação administração do hospital e seu corpo clíni-
dos diferentes setores de apoio fica hoje de- co, a fim de que "o hospital e os médicos pos-
finitivamente vinculada ao desenvolvimen- sam revigorar sua colaboração e o controle
to dos recursos de informática, cuja atuação de como os recursos do hospital podem ser
se estende natural e obrigatoriamente tam- usados no atendimento dos doentes". 2
bém aos setores de apoio clínico. Outro contingente profissional que mui-
Para atingir plenamente seus objetivos, o tas vezes envolve dificuldades comportamen-
hospital precisa estruturar de maneira extre- tais é representado por integrantes do Serviço
mamente racional todos os diversos setores de Enfermagem. Inegavelmente sua contribui-
referidos. Aqui começam as dificuldades, ção para o atendimento do doente é de extre-
porque a estrutura define tentativamente as ma relevância; a esse fato acrescenta-se a cir-
relações que deverão desenvolver-se entre as cunstância de que se trata, na prática, do úni-
pessoas e os grupos que convivem na orga- co grupo profissional que permanece no hos-
nização hospitalar. É natural e compreensí- pital durante as 24 horas do dia. Tais fatos
conduzem muitas vezes ao desenvolvimento
de mentalidade que confunde competência e
dedicação com autonomia e insubordinação.
As normas de conduta resultantes de Outra observação preliminar que deve ser
códigos formais passam a ser feita refere-se à presença da informática no
contexto do hospital, qualquer que seja a es-
justapostas às relações informais,
trutura organizacional que venha a ser ado-
definindo novos padrões de tada. "Na Era da Informação, conexões são
comportamento no interior das muito mais numerosas e reais do que em épo-
cas passadas. Muito mais pessoas e tecno-
instituições hospitalares. logias desempenham papéis e funções de li-
gação do que no passado. Conexões inte-
gram toda a equipe, seus membros e seus lí-
vel que tensões e conflitos surjam e se esta- deres, além das fronteiras, cruzando níveis
beleçam entre pessoas que trabalham no hos- e aproximando propósitos. Todos os partici-
pital, por ser esse um fato quase inevitável pantes integram-se numa rede de trabalho."?
em qualquer ambiente de trabalho. Em cada A informação, processada por meio da
situação, há indivíduos que, por sua perso- moderna tecnologia, é mais eficiente e per-
nalidade ou atividades que exercem, assu- mitirá que o administrador tenha melhores
mem papéis de liderança ou influência. É condições de trabalho para as ações de plane-
uma situação natural, aceita pelos outros, e jamento e execução, bem como para evitar
que influencia diferentes grupos, envolvidos ações repetitivas e improdutivas no hospital.
em diferentes relacionamentos. É essencial, A administração conjunta do fluxo de infor-
contudo, que o ambiente não se transforme mações, da utilização dos recursos físicos,
num teatro lírico, em que algum Pavarotti materiais e humanos, desde o ponto de ori-
pretenda dominar todo o elenco. gem das unidades produtivas e das unidades
No hospital ocorrem tensões de natureza administrativas até o ponto de destino e con-
grupal e profissional, envolvendo, por exem- sumo, bem como o acompanhamento desse
plo, o corpo clínico, os médicos que traba- trajeto e desses procedimentos, em todos os
lham no hospital. Trata-se de profissionais seus passos, por meio da tecnologia eletrôni-
com os quais muitas vezes é difícil trabalhar, ca, auxiliará no controle das tarefas de geren-
principalmente por serem formados - ou de- ciamento, permitindo acompanhamento es-
formados - ao longo dos anos de sua prepara- treito do desempenho institucional. A facili-
ção acadêmica para estar capacitados a exer- dade de realizar cálculos rápidos, com grande
cer, a cada momento, decisões que envolvem volume de dados, e seu armazenamento por
2. GOLDSMITH, J. A radical prescription
for hospitais, Harvard Business Review,
a vida e a morte das pessoas. Daí sua dificul- efeito comparativo fazem com que o uso da
p.l 04·11, mai./jun.1989. dade em repartir seu poder, em aceitar nor- informática seja fundamental nessas tarefas.
3. LlPNACK, J. The age af netwark. USA:
mas de disciplina coletiva, em ouvir suges- Os programas administrativos de folha de
Omnio, 1994. p.70·1. tões ou recomendações. Compreende-se en- pagamento, de controle de almoxarifado e de

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ESTRUTURAORGANIZACIONAl DO HOSPITAL MODERNO

contabilidade já são rotineiramente processa- A estrutura é, pois, a anatomia com a qual


dos eletronicamente na maioria dos hospitais a organização é criada e operada, oferecen-
brasileiros. do um modelo sistematizado em relação ao
No hospital moderno, será indispensável trabalho a ser feito. Por conseqüência, a es-
avançar muito mais, na direção da utiliza- trutura organizacional é o arcabouço
ção da informática nos procedimentos rela- definidor de responsabilidades, de autorida-
cionados diretamente com o doente. A pres-
crição médica, por exemplo, deverá gerar um
amplo sistema de processamento, envolven-
do setores amplamente diversificados do A visão tradicional das organizações
hospital: de início o Serviço de Enfermagem, hospitalares, objetivando apenas uma
para conhecer e aplicar os recursos
terapêuticos de toda natureza, prescritos pelo
estrutura voltada para suas próprias atividades
médico, e também o Serviço de Nutrição e específicas, já está superada pelos novos
Dietética, para preparação de eventuais die-
estilos de gestão voltados para a integração
tas especiais, bem como os setores comple-
mentares de diagnóstico e tratamento, para crescente e a presença ativa dos integrantes
os quais o doente pode estar sendo encami- da organização e sua motivação, com
nhado. É fácil imaginar que um sistema
como o esboçado permitirá o controle da resultados fartamente positivos no
exatidão com que as prescrições são atendi- desempenho da instituição.
das, da eficácia com que os diferentes seto-
res operam, traduzida no tempo decorrido
desde a solicitação de algum procedimento
até sua execução e de sua eficiência, repre- des e de comunicações de indivíduos em cada
sentada pela realização das tarefas com o segmento da organização, as funções de cada
menor custo possível. Mais ainda: um siste- parte com as demais e para com a organiza-
ma de integração de informações hospitala- ção como um todo.
res como o descrito permitirá que o médico, "As escolas tradicionais de administração
dispondo em sua residência de equipamento preocupam-se com a estrutura organizacional
adequado, possa ter acesso direto às infor- e com as relações de hierarquia e não dão
mações relativas a seu paciente, incluindo ênfase suficiente ao problema de inter-rela-
os sinais vitais registrados pela enfermagem, cionamento e integração das atividades; à co-
permitindo-lhe, entre outras coisas, alterar a ordenação; à estrutura funcional, que não de-
conduta prescrita anteriormente. pendem dos centros de poder mas sim da ha-
Todos os segmentos que estão presentes bilidade de se levar adiante um objetivo es-
na atividade da instituição precisam ser for- pecífico - necessidades técnicas dentro das
mulados racionalmente, gerando uma estru- regras administrativas","
tura organizacional, um verdadeiro A visão tradicional das organizações hos-
arcabouço invisível que estabelece o status pitalares, objetivando apenas uma estrutura
e marca a posição de cada pessoa em rela- voltada para suas próprias atividades específi-
ção aos demais integrantes da organização. cas, já está superada pelos novos estilos de
Ela especifica quais indivíduos e quais ati- gestão voltados para a integração crescente e a
vidades estão subordinados a quais superio- presença ativa dos integrantes da organização
res. Ou, inversamente, a estrutura e sua motivação, com resultados fartamente
organizacional especifica quem tem autori- positivos no desempenho da instituição.
dade sobre quem e com que objetivo. As estruturas habitualmente utilizadas
O arcabouço invisível da estrutura é mon- pelos hospitais brasileiros situam-se na es-
tado para promover a coordenação dos mem- fera funcional, em que cada unidade, servi-
bros do grupo. Por meio de determinações ço ou departamento tem um conjunto de de-
específicas de autoridade e de responsabili- veres e responsabilidades diferenciados.
4. TEIXEIRA, J. M. C. Sistemas médicos,
dade, cada pessoa desempenhará sua parte Esse modelo serviu muito bem a seus pro- técnicos e administrativos do hospital
nos planos preestabelecidos, dentro de rela- pósitos nos trinta ou quarenta anos que se moderno: sua organização. In: LIMA
GONÇALVES, E. (coord.) O hospital e a
ções apropriadas em relação às demais, no passaram, quando as rotinas hospitalares ca- visão administrativa contemporanêa.
contexto do grupo. racterizavam-se por um desempenho está- São Paulo: Pioneira, 1983.

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vel desejado pelos administradores hospi- te para o tratamento e cura ", mas acres-
talares, enfatizando apenas como fazer uma centa a seguir que "cada profissional ou
tarefa específica. Em condições pouco mo- grupo interpreta o significado de atender
dificáveis o modelo propiciava atingir os esses objetivos em função de seu próprio
objetivos limitados pela própria tarefa; con- sistema de valores".
tudo, num cenário de contínuas mudanças A visão do cliente como centro das ativi-
das necessidades da clientela, dos proces- dades de uma organização emergiu nos anos
sos disponíveis para serem empregados e oitenta, mas, no âmbito das instituições de saú-
dos resultados desejados, a estrutura funcio- de, enfrentou algumas dificuldades de adoção.
nal, de características fortemente hierarqui- A influência das instituições públicas brasi-
zadas e verticalizadas, vem se mostrando in- leiras, nas quais predomina uma limitada vi-
satisfatória, principalmente em relação à ex- são das necessidades e dos direitos dos clien-
pectativa de cooperação entre os diversos tes a serviços de qualidade, contribuiu para
segmentos da instituição, com vistas a atin- uma estagnação de cerca de vinte anos na área.
gir o objetivo no qual o hospital encontra Algumas instituições hospitalares de na-
sua própria razão de existir, o melhor aten- tureza particular e, em menor número, as de
dimento do doente que o procura. natureza públicas conseguiram introduzir no-
Analisando o exemplo do Karolinska Hos- vas tecnologias de processo e de alcance de
pital de Estocolmo, Jacob' lembra que os hos- resultados, buscando a satisfação dos clien-
pitais não pensam na dimensão "doente"; pen- tes. Incorporando a concepção de que sua ati-
sam apenas em termos de especialização. Re- vidade deve fundar-se nos mesmos critérios
centemente o Karolinska desenvolveu consi- que presidem a atividade de qualquer empre-
derável descentralização, criando 47 departa- sa moderna, alguns hospitais brasileiros já
mentos, cada qual "marchando de acordo com desenvolvem até mesmo seu Programas de
seu próprio tambor" (na expressão típica do Qualidade Total, com atendimento das exigên-
autor). Mais adiante Jacob afirma que "o cias que o modelo de PQT coloca.
tribalismo é uma condição humana, dentro O comportamento dos funcionários do
dos hospitais, tal como nas empresas. Os hospital vem passando a ser identificado sob
doentes têm que superar elevados muros a óptica humanística (obviamente não huma-
entre as funções, precisando fazer muitas nitária), superando a visão tecnicista resul-
vezes múltiplas visitas de dia inteiro ao hos- tante dos papéis limitados, anteriormente de-
pital para realizar exames". terminados para eles. Sentimentos e emo-
A departamentalização exagerada do hos- ções, amizades e hostilidades, cooperação e
pital pode resultar em numa elevada fragmen- competição, constituindo regras de convivên-
tação de tarefas e em alta especialização. Em cia, são hoje considerados aspectos impor-
um hospital americano de 500 leitos, recente- tantes para o alcance dos objetivos e metas
mente analisado, existem cerca de 350 cargos da instituição hospitalar. As normas de con-
funcionais, situação que não é infreqüente no duta resultantes de códigos formais passam
Brasil. Mesmo os hospitais particulares, em a ser justapostos às relações informais, defi-
que se imagina existir maior racionalidade ad- nindo novos padrões de comportamento no
ministrativa, o número de cargos gira em tor- interior das instituições hospitalares.
no de 200. Essa situação pode gerar alguma
dificuldade administrativa e criar um ambi- o ORGANOGRAMA
ente em que a responsabilidade pela qualida-
de e pelo padrão do desempenho institucio- A organização formal é muitas vezes re-
nal pode ficar muito diluída. A divisão exa- tratada pelo organograma convencional. Na-
gerada do trabalho, levando a níveis elevados turalmente tal representação será sempre in-
5. JACOB, R. Organization for the 21 st
century, Fortune, p.60-7, abr.1995.
de especialização, pode transformar ativida- completa, já que nem todas as relações exis-
des simples em formas extremamente tentes podem ser demonstradas por meio de
6. GOLDSMITH, J .. Op. cit.
ineficientes de formulação administrativa. traços indicando autoridade, responsabilida-
7. TEIXEIRA, J. M. C. Op. cit. Chega-se por esse caminho à "celulite admi- de e deveres. A razão é que, para representar
8. ALBUQUERQUE, C. C. S. O modelo de
nistrativa", identificada por Goldsmith." mais corretamente essas relações, seria neces-
gestão como processo de inovação e Teixeira? lembra que "o hospital deve sário desenvolver uma terceira dimensão,
aumento de produtividade, Publicação do
Hospital das Clínicas. Porto Alegre, s.
atender a diferentes objetivos, sendo o prin- além das duas possíveis na representação ha-
d., 32 p. cipal satisfazer as necessidades do pacien- bitual. Para contornar o problema é que

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ESTRUTURAORGANIZACIONAl DO HOSPITAL MODERNO

Figura 1 - Proposta de estrutura organizacional

ENTIDADE
MANTENEDORA'

Diretrizes Desempenho
Orçamentos
,
CONSELHO

I,
Assessorias
I
1----
.
L.
__ T_É_C...,Nr-IG_'
0_'-_--II----IL..._C_o_m_i8_s_õe_S_.J
ADMINISTRATIVO

I
GEMNCIA GERtNCIA
I I
GER~NCIA
T
GER~NC:IA
1
GERtNGIA
MÉDICA DE ENFERMAGEM DEHOTELARlA OU DE MATERIAIS FINANCEIRA
APOlO
- COrpf) Clínico - Pac, Crítico OPERACIONAL - Dlstrlbuiçlo - Tesouraria
- serviço Medico - Pac. Externo - Farmácia - Contabilidade
- Diagnóstico ' - Pac. Interno - SAIPA - Almoxarifado - Execuqlo do
- Tratamento - centro Cirúrgico - Serviço de - Compres Orçamento
- Serviço de - centro Obatétrléo Nutrlçlo e - Esterillzaçlo I
Fisioterapia Dietética de Materiais
- Serviço de I - Higiene e Umpaza I I
PsicolOgia I - Lavanderia I
- Comissões' I - Serviço Social I
T - Transporte I I
I - Segurança' I
GER~NCIA
I - Zeladorlà I
PATRIMONIAL I I I I
E I I : I I
ENGENHARIA
DE PROCESSO I : I I :
-Prédio
~--r-----I------r-----T----I
- Instalações I I I I I
- Equipamentos
- Informatlzaçlo I I I I I
- Planejamento I I I I I
I I I I I
GER!NSIA I I I I I
DE RECURSOS I I I I I
HUMANOS
I I I I I
- Quantlflcaçio ---r-----i------r-----T----i
-Seleçlo
- Treinamento
I I I I I
-Coord: PaT I I I I I
I I I I I
GER~NCIA I I I I I
DE I I I I I
-
MARKETING ___ L ~ L l ~
- Publicidade
-Convênios
- Comunidade

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Lipnack? sugere que o modelo mais adequa- projetos específicos deverão certamente
do de representação seria a figura de um ocorrer simultaneamente com as atividades
tetraedro. de rotina de cada setor, o que não impede
A estrutura formal mostra a responsabi- que daqueles projetos participem integran-
lidade que cabe a cada unidade dentro da or- tes de diferentes áreas, como é de se desejar.
ganização, o nível em que se encontra den-
tro da organização e a autoridade que lhe é UMA PROPOSTA NOVA
delegada, bem como algumas linhas formais
de comunicação. É de se reconhecer que, ao A função de direção em nossas institui-
lado da autoridade formal, existe a informal, ções hospitalares situa-se habitualmente em
que decorre de relações interpessoais que se uma única pessoa, o diretor geral ou superin-
desenvolvem entre os integrantes de qualquer tendente, que se subordina a um Conselho Ad-
grupo humano. Não é exercida da mesma ministrativo, em um processo hierárquico bas-
maneira que a formal, nem usa os mesmos tante centralizador. Falar de hierarquia lem-
canais organizacionais, mas tem uma força bra muito mais estruturas do mundo físico do
considerável que não pode ser ignorada por que do humano e social. Lipnack'? lembra que
qualquer administrador consciente. "hierarquia traz-nos moléculas, átomos, par-
A disposição sistemática da estrutura tículas nafísica. A biologia tem células, teci-
organizacional não é estática, como even- dos, órgãos, organismos, ecologias e ambi-
tualmente se poderia depreender do estudo su- entes". Falar de hierarquia lembra igualmen-
perficial de sua representação gráfica, que é o te de imediato outra face de estruturas
organograma. Ao contrário, as linhas estrutu- ineficientes, representada pela burocracia,
rais devem indicar relações dinâmicas que não no sentido weberiano, de racionalização
ocorrem entre os componentes do grupo. dos procedimentos, mas de controles exage-
Esse dinamismo encontra tradução, mui- rados e limitantes da iniciativa e da agilidade
tas vezes, nas modificações que, ao longo do administrativa.
tempo, as experiências e as necessidades aca- A proposta apresentada na Figura 1 re-
bam por introduzir na estrutura organizacional flete mais de vinte anos de experiência na
e, por conseguinte, no organograma que tenta área e determina novas formas de ação e ges-
representá-la. Um bom exemplo, no caso do tão na área da saúde, buscando maior agili-
hospital, tem sido a absorção dos modernos dade operacional e uma tomada de decisão
aportes administrativos que a chamada estru- executada de maneira mais participativa e
tura matricial oferece. menos burocratizada.
Trata-se de uma forma inovadora de re- Essa proposta visa recuperar uma defasa-
presentação que procura superar a gem de muitos anos entre as estruturas hospi-
inadequação da estrutura convencional para talares e as formas contemporâneas de orga-
as atividades integradas, isto é, aquelas que nização preconizadas, objetivando um proces-
exigem interação entre diversas áreas fun- so de reconstrução administrativa em rede ma-
cionais a serem realizadas. A matriz é uma tricial. Ao analisarmos os organogramas ha-
forma de estruturar recursos provenientes de bitualmente vigentes em nossos hospitais, ob-
diversos setores institucionais com o obje- servamos que suas hierarquias são extensas e
tivo de desenvolver atividades de interesse algumas vezes superpostas, sem que se
comum a eles, quer sejam projetos, quer se- visualizem mecanismos de equilíbrio que pos-
jam produtos ou serviços. sam favorecer o processo de tomada de deci-
Um aspecto da estrutura matricial a ser são. Além desse aspecto, a questão das tare-
analisado é a dupla ou múltipla subordina- fas distribuídas sem a correspondente defini-
ção, o que pode envolver inconvenientes ção de critérios que possam representar me-
administrativos e desvios funcionais, com cria- tas a serem alcançadas faz com que o proces-
ção de eventuais conflitos. Importa aqui so de tomada de decisão, em situações não
lembrar que os projetos ou programas con- previstas, seja determinado por modelos de
cebidos cuja execução exige a participação erro e acerto, em vez de ser orientado por es-
de elementos de diferentes áreas da organi- tilos participativos de gestão.
zação não exigem habitualmente tempo e Vale salientar que essa forma participativa
9. LlPNACK, J. Op, cít.
dedicação integral dos participantes. No hos- de vivência institucional é a meta procurada
10. Idem, ibidem. pital em que se utiliza estrutura desse tipo, por todas as empresas, em qualquer parte do

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ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO HOSPITAL MODERNO

Quadro 1 - Tópicos a serem objeto de consenso entre as gerências

1. EM NíVEL GLOBAL

• No âmbito do Conselho Técnico-Administrativo:


- Discussâo do orçamento e de parâmetros de sua execução.
- Planejamento e implantação de novas unidades assistenciais e técnicas.
- Aquisição de equipamentos de alto custo e operação complexa.
- Desenvolvimento de programas intersetoriais (e. g., GQT).
- Desenvolvimento de programas de intercâmbio nacional e internacional.
- Desenvolvimento de instrumentos adequados de publicidade.

2. GERÊNCIA MÉDICA

• Com gerência patrimonial e de engenharia de processo:


- Desenvolvimento de novos programas e sistemas de informática destinados ao
acompanhamento das atividades assistenciais.
- Planejamento e realização de programas de manutenção preventiva de equipamentos
especializados.
• Com gerência de Recursos Humanos:
- Fixação de parâmetros de seleção de pessoal médico.
- Planejamento e desenvolvimento de atividades de formação e capacitação.
• Com gerência de marketing:
- Planejamento conjunto de programas de intercâmbio científico e de eventos médicos
especializados.

3. GERÊNCIA DE ENFERMAGEM

• Com gerência patrimonial e de engenharia de processo:


- Desenvolvimento de adequado sistema de informações para permitir avaliação do
desempenho do pessoal de enfermagem e da assistência prestada ao doente.
• Com gerência de Recursos Humanos:
- Definição de critérios para dotação de RH necessários ao atendimento de enfermagem
a pacientes externos e internados.
- Planejamento e desenvolvimento de programas de treinamento e capacitação.
• Com gerência de marketing:
- Planejamento conjunto de programas de capacitação técnica e de campanhas de
educação em saúde voltados para a comunidade.

4. GERÊNCIA DE HOTELARIA (APOIO OPERACIONAL)


"
• Com gerência patrimonial e de engenharia de processo:
- Desenvolvimento de parâmetros de produção e avaliação de qualidade dos
setores operacionais.
- Planejamento de reformas e adaptações físicas e de instalações nas áreas
assistenciais e técnicas.
• Com gerência de Recursos Humanos:
- Definição de critérios de avaliação de desempenho dos setores operacionais, com
vistas a eventual terceirização.
- Planejamento e desenvolvimento de programas de treinamento e capacitação.
• Com gerência de marketing:
- Planejamento conjunto de programas culturais voltados para a comunidade.

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5. GERÊNCIA DE MATERIAIS

• Com gerência patrimonial e de engenharia de processo:


- Desenvolvimento de programas de acompanhamento de aquisição (recepção),
preparação (embalagem) e distribuição de materiais.
- Exame da necessidade de aquisição/substituição de equipamentos.
• Com gerência de Recursos Humanos:
- Planejamento e desenvolvimento de programas de treinamento e capacitação.
• Com gerência de marketing:
- Análise e elaboração conjunta de contratos de aquisição de materiais e manutenção
de equipamentos.

6. GERÊNCIA FINANCEIRA

• Com gerência patrimonial e de engenharia de processo:


- Desenvolvimento de adequado sistema de informática destinado ao acompanhamento
dos procedimentos de controle econômico e financeiro do hospital.
• Com gerência de Recursos Humanos:
- Desenvolvimento de planos de cargos e salários e de política de benefícios.
• Com gerência de marketing:
- Elaboração conjunta de instrumentos de contratação de serviços e de estabelecimento
de valores de remuneração.

mundo, qualquer que seja a atividade a que debates durante uma assembléia geral, a im-
se dediquem. Todas elas estão em busca de plantação do chamado Plano de Opções de
modelos que permitam maior integração de Ações para Funcionários. A experiência tem
seus funcionários, por estarem todas mostrado que, ao lado da participação nos
convencidas de que essa é a melhor forma resultados econômicos, ponderáveis ganhos
de garantir melhores resultados. E quando se na eficácia e na eficiência da empresa po-
fala em modelos participativos não se está dem ser alcançados pela motivação dos em-
falando apenas de participação nos resulta- pregados decorrente de uma estrutura
dos econômicos, já que isso é apenas conse- organizacional que permita sua integração
qüência de uma estru turação realmente na própria vida da empresa.
integradora. A base fundamental do novo estilo agora
Na mais poderosa economia da Europa, proposto para a organização do hospital si-
desde a criação da República Federal da tua-se na estrutura matricial, associada a es-
Alemanha, após a 2ª Guerra Mundial, a So- truturas funcionais, geográficas ou de produ-
ciedade Trabalhista de Parcerias na Econo- to, com a conseqüente eliminação da figura
mia (AGP) empenha-se em conseguir a par- centralizadora e geralmente autocrática do su-
ticipação do trabalhador na vida da empre- perintendente ou diretor geral. Em substitui-
sa. Na AGP agrupam-se hoje mais de 500 ção a essa figura sugere-se a imagem de um
empresas adotand o diferentes modelos conjunto de gerentes, formando um Conse-
participati vos, desde a gigante da mídia lho Técnico-Administrativo. Este estará vin-
Bertelsman, com 58 mil empregados, até pe- culado a um Conselho Superior ou Diretor,
quenas empresas com 20 ou 30 funcioná- que representa a entidade mantenedora do hos-
rios. Embora a participação nos resultados pital, qualquer que seja a formação jurídica
não seja a única nem talvez a mais impor- assumida por esses mantenedores. Desse Con-
tante forma de presença do empregado na selho Superior o Conselho Técnico-Adminis-
vida da empresa, ela é sem dúvida aspecto trativo recebe diretrizes gerais a serem aten-
que assume relevância/interesse/preocupa- didas e a proposta orçamentária a ser execu-
ção para o dirigente/proprietário e cativa a tada; em troca, deverá oferecer informações
opinião pública. Há poucas semanas a minuciosas sobre o desempenho de toda a ins-
Volkswagen alemã autorizou, após longos tituição, na periodicidade desejada.

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ESTRUTURAORGANIZACIONAL DO HOSPITAL MODERNO

As Gerências Médica, de Enfermagem, O estilo gerencial proposto produz uma


de Apoio Operacional, de Materiais e Finan- característica de limite departamental do tipo
ceira, na dimensão horizontal, e as Gerênci- "polvo", em que saliências e reentrâncias apre-
as Patrimonial e de Engenharia de Processo, sentam limites menos rígidos entre os diver-
de Recursos Humanos e a de Marketing, na sos setores, serviços e departamentos, atenden-
dimensão vertical, são representadas pelos do aos interesses globais da instituição e
seus Gerentes no Conselho referido. As gran- priorizando-os num ambiente de contínua ne-
des decisões de âmbito institucional são aqui
tomadas em consenso, todos os gerentes dis-
pondo do mesmo poder de opinar e votar.
As decisões setoriais continuam a ser assu- A disposição sistemática da estrutura
midas pelas gerências em nível horizontal, à organizacional não é estática, como
semelhança das atuais estruturas, mas elas
eventualmente se poderia depreender do
se submetem na direção vertical no que se
refere a novos projetos, a controle de quali- estudo superficial de sua representação gráfica,
dade total, a desenvolvimento de recursos que é o organograma. Ao contrário, as linhas
humanos e a aspectos patrimoniais, por
exemplo. Naturalmente em hospitais de mé- estruturais devem indicar relações dinâmicas
dio ou pequeno porte o número de gerências que ocorrem entre os componentes do grupo.
deverá ser diminuído, aglutinando duas ou
mais em uma só gerência, segundo critérios
racionais, mas que poderão atender inclusi-
ve a critérios culturais vinculados a mode- gociação, no nível da rede matricial, do Con-
los administrativos mais freqüentes. selho Técnico-Administrativo e, em última
Esse estilo diminui os conflitos diversi- instância, do Conselho Superior. Por outro
ficados entre as linhas de poder e de lado, a rede matricial facilita e favorece a cria-
hegemonia, além de responder à demanda ção de grupos, essenciais ao processo altamente
por um melhor convívio interdepartamental desejável de busca da Qualidade Total.
e por uma melhor utilização de recursos dis- A dimensão horizontal do organograma
poníveis, por meio de um determinante obri- proposto não foge muito das formas já co-
gatório de ação e reação a duas pressões am- nhecidas de estruturas hospitalares vigentes.
bientais, a vertical e a horizontal. Em outras Uma modificação, que não pretende ser ape-
palavras, as gerências de dimensão horizon- nas de nomenclatura, mas que supõe uma
tal concentrar-se-ão em serem eficazes e efi- modificação de mentalidade, reporta-se à
cientes na consecução de metas estabeleci- Gerência de Apoio Operacional, que recebe
das e no atendimento das necessidades dos a denominação de Gerência de Hotelaria. A
clientes, enquanto que as gerências de di- designação quer marcar, por um lado, o fato
mensão vertical deverão analisar, avaliar e de que o conjunto de atividades atribuídas a
estabelecer critérios globais para o desenvol- essa Gerência estão presentes nos hotéis de
vimento da instituição como um todo, equi- boa categoria e quer assinalar, por outro lado,
librando dessa forma os diferentes interes- a diferença facilmente perceptível entre a
ses estratégicos envolvidos. forma como o doente e seu acompanhante
Por outro lado, o modelo exige um sis- são recebidos e introduzidos no hospital e a
tema de informações amplo e interligado maneira como o hóspede e seus familiares
numa rede de alta competência. Os interes- são atendidos na recepção de um hotel bem
ses do conjunto sobrepõem-se naturalmen- estruturado. Alimentamos a hipótese de, no
te aos de determinado serviço, passível este futuro, essa Gerência ser ocupada por pro-
de análise e julgamento a partir dos resul- fissional da área de hotelaria, desde que su-
tados obtidos e não apenas pelos procedi- ficientemente sensibilizado e envolvido com
mentos executados. Tais resultados estarão as atividades e os procedimentos que carac-
registrados no sistema de informática do terizam a vivência hospitalar.
hospital, podendo ser acessados, por quem Observação semelhante merece a Gerên-
de direito, até mesmo via on-line, ou a par- cia de Ma rketing , que bem poderia denomi-
tir de relatórios emitidos com a periodici- nar-se de Relações com o Mercado, numa iden-
dade desejada. tificação que talvez seja ainda inovadora de-

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mais. De qualquer maneira, o objetivo básico outro lado, importa atrair para o hospital a
será de aproximação com a comunidade: de atenção e a presença da comunidade em ge-
início para identificar as formas de cobertura ral; para tanto, poderão ser desenvolvidas ini-
assistencial disponíveis entre grupos médicos, ciativas de natureza cultural e educacional,
seguros-saúde, programas de autogestão para fazendo do hospital um pólo de atuação im-
selecionar aqueles com os quais haverá inte- portante, também a serviço da comunidade.
resse em estabelecer vinculações contratuais, A Gerência de Recursos Humanos deverá
com vistas a definir a clientela a ser atendida. receber atenção especial, não apenas porque
os funcionários precisarão receber treinamen-
to permanente para relacionar-se de maneira
positiva com pessoas fragilizadas pela doen-
Como qualquer entidade prestadora de ça e familiares desgastados pelo sofrimento.
serviços o hospital está, mais do que qualquer Acresce que a área de RH das empresas vem
enfrentando um dos mais difíceis desafios na
outra organização, na dependência do modernização empresarial. Os profissionais
comportamento de seus recursos humanos. E, da área estão procurando mapear esse desafio
para que possam responder adequadamente às
tal como em qualquer organização, o
demandas impostas pela nova situação. "As
desempenho das pessoas que atuam no antigas práticas de recrutamento e avaliação,
hospital dependem de sua motivaCjão. remuneração e desenvolvimento terão pouco
valor nessa nossa situação. As empresas pre-
cisam de sistemas que encorajem o aprendi-
zado e a iniciativa e que facilitem o cresci-
Outro aspecto fundamental a ser trabalha- mento pessoal e motivem todos a centrar seus
do refere-se à publicidade a ser desenvolvi- esforços no cliente."!
da. Importa aqui lembrar a existência de al- Outra diferença essencial do organogra-
gumas restrições éticas a serem atendidas, ma proposto reside na intersecção das estru-
nesse campo, pelo hospital. Quando se con- turas horizontais com as da dimensão verti-
templam os componentes do composto mer- cal, priorizando o processo de gestão como
cadológico - preço, distribuição, qualidade um todo. Apenas a título de exemplo são
do produto e sua promoção - verifica-se a apresentados no Quadro 1 propostas e pro-
limitação do âmbito de trabalho possível. cedimentos que podem ser objeto desse tra-
Começando pela distribuição do produto, é balho de integração e integrador.
óbvio que ela se vincula à localização das ins-
talações do hospital, o que naturalmente res- CONCLUSÃO
tringe a exploração publicitária desse tópico.
O preço será naturalmente objeto de entendi- Nada disso, contudo, será suficiente para
mentos relacionados à celebração de convê- garantir o elevado desempenho que se deseja
nios, mas não será adequada sua utilização em que o hospital atinja. Como qualquer entida-
instrumentos de publicidade. Mas, tal como de prestadora de serviços o hospital está, mais
seria delicado dizer que o hospital cobra os do que qualquer outra organização, na depen-
menores preços do mercado, seria muito ade- dência do comportamento de seus recursos hu-
quado afirmar que ele oferece a melhor qua- manos. Principalmente porque aqui os funcio-
lidade assistencial possível. Este último tópi- nários defrontam-se com pessoas fragilizadas
co deverá contemplar especialmente a quali- pela doença e em processo de regressão psi-
dade de instalações e equipamentos, bem cológica, bem como com familiares sofridos
como a do corpo clínico do hospital. e desgastados. No hospital não serão suficien-
11. GONÇALVES, J. E. L. Os novos
A aproximação com a comunidade repre- tes treinamento ou obediência a normas
desafios da empresa do futuro, Revista senta expressivo instrumento de publicidade operacionais estabelecidas previamente e ri-
de Administração de Empresas, v.37, n.3,
p.10·9,1997.
a ser desenvolvido. Por um lado, em relação gidamente obedecidas. Tal como em qualquer
à comunidade médica e à Equipe de Saúde organização, o desempenho das pessoas que
O autor agradece os comentários e
sugestões do Dr. José Henrique German
em geral, é fundamental a criação de um am- atuam no hospital dependem de sua motiva-
Ferreira, Professor do PROAHSA biente, inclusive físico, que permita a reali- ção. Essa é a palavra-chave de toda a admi-
(Programa de Administração Hospitalar
e da Saúde, convênio EAESP/FGV - Hei
zação freqüente de cursos especializados, com nistração hospitalar e que precisa ser cuida-
FMUSP). o apoio de profissionais de alto renome. Por dosa e permanentemente buscada. D

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