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TEMAS EM EVOLUÇÃO

DO COMPORTAMENTO
HUMANO II
Fívia de Araújo Lopes
Felipe Nalon Castro
Daniella Bezerra dos Santos
(Organizadores)
TEMAS EM EVOLUÇÃO
DO COMPORTAMENTO
HUMANO II
Fívia de Araújo Lopes
Felipe Nalon Castro
Daniella Bezerra dos Santos
(Organizadores)

Natal, 2022
Presidente da República
Jair Messias Bolsonaro
Ministro da Educação
Victor Godoy Veiga
Secretário de Educação Profissional e Tecnológica
Tomás Dias Sant’Ana

Reitor
José Arnóbio de Araújo Filho
Pró-Reitor de Pesquisa e Inovação
INSTITUTO FEDERAL Avelino Aldo de Lima Neto
Rio Grande do Norte
Coordenadora da Editora IFRN
Gabriela Dalila Bezerra Raulino

Conselho Editorial

Emanuel Neto Alves de Oliveira Avelino Aldo de Lima Neto


Paulo Augusto de Lima Filho Rodrigo Luiz Silva Pessoa
Adriano Martinez Basso Francinaide de Lima Silva Nascimento
Ana Judite de Oliveira Medeiros José Everaldo Pereira
Marcus Vinícius de Faria Oliveira Samuel de Carvalho Lima
Anna Cecília Chaves Gomes Amilde Martins da Fonseca
Alexandre da Costa Pereira Marcus Vinícius Duarte Sampaio
Maria Kassimati Milanez Ana Lúcia Sarmento Henrique
Genildo Fonseca Pereira Silvia Regina Pereira de Mendonca
Cinthia Beatrice da Silva Telles Diogo Pereira Bezerra
Leonardo Alcântara Alves Luciana Maria de Araújo Rabelo
Maurício Sandro de Lima Mota Cláudia Battestin
Paula Nunes Chaves Julie Thomas
Miler Franco D Anjour Maria Jalila Vieira de Figueirêdo Leite
Renato Samuel Barbosa de Araujo Raúl Humberto Velis Chávez

Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Revisão Linguística


Hanna Andreza Fernandes Sobral Rodrigo Luiz Silva Pessoa
Design de Capa: Prefixo editorial: Editora IFRN
Eduardo Mariosi Vasconcelos Linha Editorial: Acadêmica
Disponível para download em:
http://memoria.ifrn.edu.br

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“De uma forma ou de outra, se a evolução humana é para continuar,
teremos de aprender a apreciar mais a vida completamente”.

Mihály Csíkszentmihályi
Os textos assinados, no que diz respeito tanto à linguagem quanto ao
conteúdo, não refletem necessariamente a opinião do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte.
As opiniões são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.
É permitida a reprodução total ou parcial desde que citada a fonte.

T278 Temas em evolução do comportamento humano II [livro eletrônico] /


organizado por Fívia de Araújo Lopes, Felipe Nalon Castro,
Daniella Bezerra dos Santos. – Dados eletrônicos. – Natal:
IFRN, 2022.
293 p. ; PDF: il.

Bibliografia.
ISBN: 978-85-8333-276-3

1. Comportamento humano – evolução. 2. Comportamento social.


3. Comportamento reprodutivo. I. Lopes, Fívia de Araújo. II. Castro,
Felipe Nalon. III. Santos, Daniella Bezerra dos. IV. Título.

IFRN/SIBi CDU 159.92

Divisão de Serviços Técnicos


Catalogação da publicação na fonte elaborada pela Bibliotecária
Iara Celly Gomes da Silva – CRB-15/315

Esta obra foi submetida e selecionada por meio de edital específico para publicação
pela Editora IFRN, tendo sido analisada por pares no processo de editoração científica.
Agradecimentos

Os nossos agradecimentos iniciais são voltados às autoras


e autores desta obra, pela dedicação a temas tão atuais e pela be-
leza da integração conceitual proposta por todos em cada um de
seus capítulos.
Também agradecemos ao Programa de Pós-graduação em
Psicobiologia (UFRN) pelo espaço de acolhimento das propostas
de trabalho das quais derivaram os capítulos e pela formação de
excelência oferecida aos seus estudantes.
À UFRN, pelo compromisso, seriedade e transparência em
suas ações, que permitem, à despeito de tantas adversidades, um
ambiente de constante incentivo ao acesso e produção do saber.
Agradecemos também às agências de fomento CAPES e
CNPq, pelo fornecimento de bolsas de Mestrado e Doutorado, e à
CAPES, pelo suporte de manutenção de funcionamento do nosso
PPg em Psicobiologia da UFRN.
Agradecimentos mais do que especiais vão ao Laboratório
de Evolução do Comportamento Humano (LECH-UFRN): nosso
local de compartilhamento de conhecimentos, nosso lar científi-
co, que acolhe a tantos pesquisadores criativos e ávidos pelo sa-
ber, e nosso núcleo de apoio pessoal quando do enfrentamento
às árduas batalhas no árido cenário de construção do conheci-
mento científico no Brasil.
Também agradecemos aos colegas: Profª Drª Rovena
Clara Galvão Januário Engelberth (UFRN) e ao Dr. Victor Ken-
ji Medeiros Shiramizu (University of Strathclyde) pela dispo-
nibilidade para a realização da revisão crítica de alguns dos
capítulos.
Por fim, mas não menos importante, agradecemos ao IFRN,
através do Edital nº 26/2021 (PROPI/IFRN), pela iniciativa de in-
centivo à produção deste livro.
Apresentação ao volume II

A ideia de organização de e-books que pudessem refletir a


diversidade de temas trabalhados no Laboratório de Evolução
do Comportamento Humano (LECH- UFRN) não é recente. Há
algum tempo, os professores que compõem o LECH (Fívia Lo-
pes, Felipe Nalon e Maria Emília Yamamoto) se encantam com
a beleza dos temas selecionados pelos estudantes em seus tra-
balhos de pós-graduação. Assim, após a organização da primeira
coletânea, lançada em 2020, percebendo a repercussão daque-
le produto dentro da nossa comunidade mais próxima (UFRN)
e após o feedback de colegas e estudantes de outras instituições
brasileiras, nos sentimos motivados a manter a organização de
coletâneas, criando uma tradição em nosso laboratório.
Portanto, o presente livro se configura como uma coletâ-
nea, cujos escritos são, em sua maioria, adaptações das revisões
teóricas realizadas por mestres e doutores formados pelo Progra-
ma de Pós-graduação em Psicobiologia da UFRN.
Como será possível perceber, a perspectiva evolucionista
utilizada para o estudo do comportamento humano é o elemen-
to que integra as diferentes propostas. De forma resumida, tal
perspectiva acrescenta, à compreensão de nosso repertório com-
portamental, informações que remetem à constituição do ser hu-
mano enquanto uma espécie. Nosso comportamento, apesar de
plástico, é possível graças a um arcabouço em termos de sistema
nervoso, que conta uma história a qual extrapola o tempo de vida
de cada um de nós enquanto indivíduos. Somos, como as demais
espécies, uma espécie única, encantadora, que enfrentou desa-
fios evolutivos significativos que culminaram com o que somos
hoje.
Os dez capítulos aqui reunidos foram organizados em três
seções temáticas: Diferenças individuais, que inclui a discus-
são sobre felicidade, emoção e sistema imune comportamental;
Comportamento social, que discute partilha de recursos, escolha
de carreira, preconceito intergrupal e status e dominância social;
e Comportamento reprodutivo, que aborda o papel do olfato na
atração sexual, comportamentos sexuais de risco e uma avaliação
evolutiva da remoção de pelos corporais. Os capítulos podem ser
lidos de forma independente, mas temos certeza de que a leitura
completa desta obra tem o potencial de integrar conceitos, bem
como ampliar o conhecimento sobre o que nos torna humanos.
Sumário
1 Diferenças Individuais
Cap. 1 ‒ Felicidade e bem-estar subjetivo 14
Natália de Araújo Miranda Tasso

Cap. 2 ‒ Emoção, qual o seu valor? 38


Lara Gomes de Souza Silveira e Fívia de Araújo Lopes

Cap. 3 ‒ Intolerância, repulsa, sensibilidade: o sistema imu-


ne comportamental e suas implicações à saúde humana 63
Lucas Emanuel Ferreira

2 Comportamento Social
Cap. 4 ‒ As origens da partilha de recursos entre crianças
em contextos colaborativos 99
Natália Bezerra Dutra e Anne Kelly Morais Costa

Cap. 5 ‒ Motivação e escolha de carreira: como a motiva-


ção por status pode estar relacionada ao diploma universi-
tário no contexto brasileiro 129
Tainah Porpino de Paiva Costa

Cap. 6 ‒ Entendendo o preconceito intergrupal através da


perspectiva evolucionista: causas e soluções 154
Leonardo Henrique Coimbra Vieira
Cap. 7 ‒ Espelho, espelho meu, existe alguém mais exibido
do que eu? Produtos culturais como indicativo de atrativi-
dade, status e dominância social 177
João Lucas Garcia e Felipe Nalon Castro

3 Comportamento Reprodutivo
Cap. 8 ‒ Influência do sistema imunológico na atração se-
xual olfativa: perspectivas em relacionamentos não-hete-
rossexuais 209
Lillian Nathalie Oliveira da Silva

Cap. 9 ‒ Comportamentos sexuais de risco podem ser


adaptativos? 234
Igor de Souza Bezerra

Cap. 10 ‒ Práticas de remoção de pelos e a perspectiva evo-


lucionista 260
Jamile Lima Carvalho
Cap. 1
Felicidade e Bem-Estar
Subjetivo

Na t á l i a de Araújo Miranda Tasso

O que é felicidade para você? Se entrássemos em uma sala


com cem pessoas e fizéssemos essa mesma pergunta a cada uma
delas, provavelmente terminaríamos com cem respostas diferen-
tes. De forma empírica, sabemos o que é felicidade e que se sen-
tir feliz de forma regular é essencial para uma boa qualidade de
vida. Ao mesmo tempo, vemos que ao longo dos últimos anos, o
índice de doenças mentais como ansiedade e depressão tem au-
mentado (PATEL et al., 2018). Esse é um dos motivos pelo qual,
cada vez mais, diferentes disciplinas têm se debruçado sobre o
assunto, a fim de tentar compreender o que nos faz feliz e como
podemos buscar cultivar esse sentimento, para termos melhores
experiências de vida.
Apesar do aumento do número de pesquisas sobre o assun-
to ser relativamente recente por parte de algumas áreas, como a
Psicologia e a Biologia, sabemos que não é de agora que o tema
desperta curiosidade em nossa espécie. Em diversos documentos
da Grécia Antiga, dos tempos de Sócrates, Platão e Aristóteles, a
busca pela “boa vida” já era objeto de interesse de áreas como a
filosofia e a religião (LEE DUCKWORTH et al., 2005). Aristóteles,
por exemplo, pontua que “felicidade é o significado e propósito
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

da vida, o principal objetivo e a finalidade da existência huma-


na”. Quando o interesse por um assunto se mostra universal e
recorrente na humanidade, é provável que sua existência esteja
fortemente relacionada com nossa história evolutiva.
Alguns dos conceitos que surgiram na Grécia Antiga perdu-
ram até os dias atuais. A visão de que a felicidade poderia ser con-
ceituada como hedonística ou eudaimônica, por exemplo, foi le-
vada em consideração desde o início do surgimento do campo da
Psicologia (séculos XVIII e XIX), contribuindo para a compreen-
são de diversas subáreas, como a Psicanálise, Terapia Cognitiva,
Psicologia Humanística, Psicologia Existencial, entre outras (LEE
DUCKWORTH et al., 2005). Sabemos que a construção do conhe-
cimento científico ocorre graças ao acúmulo de saberes gerados
através da ciência ao longo dos anos e, por isso, também vamos
partir do conceito de felicidade hedonística e eudaimônica, pois
eles serão importantes para compreensão da ideia de felicidade
que será trazida ao longo do capítulo.
A felicidade hedonística é aquela gerada como resposta a
um estímulo positivo que foi captado pelo nosso sistema senso-
rial. Quando apreciamos uma boa refeição, conversamos com as
pessoas que gostamos, sentimos o cheiro de um perfume que nos
agrada ou temos relações sexuais com pessoas do nosso interes-
se, estamos lidando com essa categoria de felicidade. A resposta
a esses prazeres pode ser simples ou chegar a sentimentos mais
complexos, como conforto, êxtase e entusiasmo (CARR, 2004).
Em resumo, esse tipo de felicidade parte dos prazeres sentidos
pelo corpo (de fora para dentro) e é efêmera.
Já a felicidade eudaimônica está ligada a sentimentos mais
complexos, como plenitude e desenvolvimento pessoal. Quando
olhamos para nossa vida de forma geral e nos encontramos satis-

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

feitos com o passado e com o presente e temos perspectivas para o


futuro, os sentimentos positivos frutos dessa reflexão constituem
a eudaimonia. Por se tratar de uma visão geral da vida, esse tipo
de felicidade costuma sofrer menos variação e, mesmo quando
alterada, tende a voltar ao seu ponto médio anterior (ZEIGLER-
-HILL et al., 2015). Diversos filósofos, tanto do ocidente quanto do
oriente, julgavam esse tipo de sentimento como felicidade genuí-
na, em contraste com aquelas que eram fruto dos prazeres senso-
riais e, portanto, mais efêmeras (RYAN e DECI, 2001). Em resumo,
essa felicidade parte de nossa reflexão (de dentro para fora) e se
apresenta de maneira mais estável ao longo do tempo.
A dicotomia apresentada acima sempre esteve presente nos
debates acerca de felicidade, porém, durante muito tempo, ela
não era o foco. No início do campo da Psicologia, os sentimentos
positivos em geral não estavam em evidência, pois acreditava-se
que a ausência de sentimentos negativos automaticamente seria
substituída por sentimentos positivos (RYAN e DECI, 2001). Ou
seja, ao término do tratamento de algum transtorno mental, o
fim do sentimento negativo permitiria que os sentimentos bons
afluíssem como consequência. Assim, podemos ver que, apesar
do interesse pelo tema ser antigo, apenas recentemente a feli-
cidade se tornou o objeto de estudo em si, além de passar a ser
estudada através de abordagens mais científicas e estruturadas.
Ao final dos anos 90, a felicidade já era entendida como
um constructo complexo, que englobava sentimentos positivos
(CARR, 2004). O conceito ganhou espaço a partir de 1998, quan-
do Martin Seligman, membro da Sociedade Americana de Psico-
logia (American Psychological Association), formalizou a Psicolo-
gia Positiva como uma nova área de estudo. Como é comum no
meio acadêmico, essa área surgiu a partir de ideias que já vinham

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

sendo debatidas em disciplinas primas. Apesar da formalização


só ter acontecido em 1998, a Psicologia Positiva herdou ideias
e conceitos que já vinham sendo pensados em outras aborda-
gens, como na Psicologia Humanística, por exemplo (LEE DUCK-
WORTH et al., 2005). Até mesmo o uso do termo “Psicologia Po-
sitiva” já havia sido usado anteriormente no livro de Abraham
Maslow (1945), intitulado “Uma teoria para a Motivação Huma-
na” (A theory for Human Motivation). A Psicologia Positiva surge
então como a formalização de uma área interdisciplinar, que ser-
viria de auxílio para as outras abordagens existentes dentro do
campo da Psicologia, visando estudar os aspectos positivos da
experiência humana e a maneira de estimulá-los a fim de preve-
nir o surgimento de doenças mentais e proporcionar uma melhor
qualidade de vida.
Com o interesse pelo tema aumentando, iniciou-se um
debate sobre como avaliar esse sentimento e quantificá-lo. Lee
Duckworth et al. (2005) defenderam que era possível acessar a
felicidade de forma quantitativa através de questionários, já que
o sentimento já era entendido como um constructo. Quando o
participante responde um questionário dessa natureza, está
informando o quanto se sente bem e isso está acontecendo do
ponto de vista subjetivo dele. A partir dessa linha de raciocínio a
área da Psicologia convencionou que, ao estudarmos felicidade,
estamos tendo acesso por meio dos questionários ao bem-estar
subjetivo (BES) do sujeito. Ou seja, o BES nada mais é do que o
constructo criado para quantificar o sentimento o qual chama-
mos de felicidade (DIENER et al., 2003). Essa noção se mantém
e é por isso que, com o intuito de simplificação, as duas termino-
logias (felicidade e bem-estar subjetivo) são geralmente tratadas
como sinônimos e também serão tratadas assim nesse capítulo.

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Agora que fizemos esse breve apanhado histórico sobre


como as coisas começaram, vamos seguir em frente, trazendo a
Psicologia Evolucionista (PE) para a discussão. A PE aplica prin-
cípios evolutivos para estudar fenômenos psicológicos. O uso
desses princípios proporciona um entendimento mais abrangen-
te, a nível de espécie, acerca de diversos comportamentos. Ou
seja, sob a perspectiva da PE, nossa espécie é vista como parte
do mundo natural e sujeita à Seleção Natural. A fim de abordar
como é possível enxergar a felicidade sob os princípios da evo-
lução, iremos abordar o assunto a partir das quatro questões de
Tinbergen (1963).
Dito isso, a proposta do capítulo é compilar as principais
informações acerca do entendimento da felicidade por meio da
perspectiva evolucionista, com foco na espécie humana. Inicial-
mente, discutiremos as raízes da felicidade na árvore filogenética
das espécies, depois abordaremos os principais mecanismos li-
gados ao sentimento de felicidade, a seguir entenderemos de que
forma a felicidade pode ter sido relevante para a nossa aptidão e,
por fim, traremos alguns fatores que impactam na nossa felicida-
de ao longo do desenvolvimento.

1. Filogenia: em que momento surge a


felicidade na história evolutiva?

Vamos iniciar nossa análise evolutiva do BES pela sua filo-


genia, o que equivale, em termos de história evolutiva, a quando
surgiu a felicidade e quais foram seus possíveis precursores. De

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

acordo com Grinde (2002), é provável que todos os vertebrados


sejam capazes de “sentir” a diferença entre estímulos positivos e
negativos, já que eles são capazes de responder apropriadamente
a esses estímulos. Entretanto, dados sugerem que estar “ciente”
de prazer ou desprazer surgiu em algum momento da história
evolutiva entre anfíbios e répteis. A resposta fisiológica de um
réptil que busca um estímulo prazeroso ao tomar sol é semelhan-
te à que pode ser medida em humanos envolvidos em experiên-
cias positivas (CABANAC et al., 2009). Essa resposta fisiológica
não é encontrada em peixes ou anfíbios, sugerindo que nesses
grupos há uma resposta comportamental mais automática e me-
nos influenciada pela avaliação de sensações (GRINDE, 2002).
Dessa forma, os primeiros amniotas já possuíam estrutu-
ras cerebrais ancestrais que serviram de substrato para o desen-
volvimento posterior de áreas cerebrais responsáveis pela felici-
dade, isso tudo há mais de 300 milhões de anos (CABANAC et al.,
2009). Essas áreas mais primitivas já eram capazes de fornecer
respostas de aproximação ou aversão a determinados estímulos
do ambiente.
Como estamos estudando áreas cerebrais e evolução, fa-
remos uso também do conceito de módulos cerebrais, o qual se
baseia na ideia de que a evolução selecionou módulos cerebrais
ao longo dos milhões de anos. Um módulo cerebral não é uma
área específica, mas sim todo e qualquer circuito, que pode es-
tar disperso, e que quando ativado, gera uma resposta (NESSE,
2000). Partes de um módulo cerebral podem estar sobrepostas
com outros módulos, sendo a rede neural o substrato físico dos
módulos cerebrais.
Dessa forma, há cerca de 300 milhões de anos, foi sele-
cionado um módulo cerebral capaz de experenciar emoções

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

(GRINDE, 2013). Dentre os módulos cerebrais que foram sele-


cionados, estavam os módulos de humor. A função inicial deles
era bastante clara: dar aos organismos a capacidade de dife-
renciar situações de potencial perigo e oportunidades (RUSSO
e NESTLER, 2013). Reconhecer se uma situação irá trazer pre-
juízos ou benefícios é, ainda hoje, uma estratégia basal utiliza-
da mesmo por organismos mais derivados, ou seja, respostas
comportamentais mais complexas também possuem sua base
nos mecanismos de facilitação ou aversão. É essa capacidade de
distinção que pode direcionar a atenção do cérebro para esco-
lhas que contribuam para a sua aptidão.
Os módulos de humor envolvem os afetos negativos e os
afetos positivos. Quando o organismo se depara com uma de-
terminada situação, esses afetos sofrem variações que podem ir
para cima ou para baixo, numa escala que vai de descontente até
contente. Os afetos negativos são voltados para o sistema de ini-
bição comportamental, gerando respostas de evitar ou se distan-
ciar, o que manteria o organismo longe de situações de perigo,
dor ou punição. Já os afetos positivos, ligados ao sistema com-
portamental de facilitação, orientam o organismo a se aproxi-
mar ou interagir, levando-o a situações de recompensas e prazer
(ZEIGLER-HILL et al., 2015).
Conforme os módulos cerebrais foram sendo selecionados,
foi se tornando possível selecionar respostas cada vez mais com-
plexas. Apesar da rede neural basal de afetos positivos e negativos
permanecer a mesma, outras áreas foram sendo agregadas, geran-
do uma grande variedade de respostas (WATSON e PLATT, 2008).
Uma situação que desencadeie afetos negativos em nossa espécie
pode ser reconhecida como dor, raiva, tristeza ou luto, da mesma
forma que situações positivas podem ser interpretadas como fe-

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

licidade, amor, empatia ou contentamento. Quanto mais as emo-


ções se ramificam, mais formas há de se reagir diferentemente a
situações distintas, aumentando a plasticidade dos organismos.
Sendo assim, podemos concluir que os mecanismos basais
por trás da felicidade são bastante antigos na história das espécies.
Aparentemente, o BES é um produto dos módulos de humor posi-
tivo. Também podemos associar esse conceito de humor positivo
como resposta a potenciais oportunidades do ambiente como se-
melhante à ideia de felicidade hedônica. Afinal, aqui estamos tendo
a interpretação de uma pista ambiental que resulta em um senti-
mento positivo (felicidade de fora para dentro). Agora que vimos
um pouco da história evolutiva, vamos entender melhor os meca-
nismos por trás desse sentimento.

2. Mecanismo: como é possível sentir


felicidade?
Os principais neurotransmissores envolvidos nos módulos
de humor são a dopamina, a serotonina e os opioides, os quais
têm função homóloga em comportamentos de aproximação e
evitação em organismos com respostas mais simples (NIETO-
-FERNANDEZ et al., 2009). Considera-se que as emoções estão
localizadas em um conjunto de estruturas cerebrais chamadas de
sistema límbico, que é um sistema multiestrutural de regulação
comportamental (SUWA, 2009). Algumas dessas áreas são mais
primitivas, como o tálamo, o hipotálamo, o corpo amigdaloide, o
núcleo accumbens e área ventral tegmental; já outras áreas são
mais derivadas, como o córtex orbitofrontal, o pré-frontal late-
ral e estrutura cingulada anterior (ZEIGLER-HILL et al., 2015). As
áreas mais internas e, logo, mais antigas, estão envolvidas nos

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

afetos positivos e negativos. Já as mais derivadas e externas, mais


recentes, parecem dar o “sabor” ao sentimento, além de gerar a
sua consciência e capacidade de modular a próxima ação.
É interessante notar que, apesar de várias partes dos mó-
dulos de humor serem compartilhadas, é possível descrever de
forma bastante distinta duas vias: a de prazer e a de dor. Quan-
do nos deparamos com uma situação, as informações entram em
nosso corpo a partir de nossos sistemas sensoriais. Depois, vão
até nosso sistema nervoso central para serem processadas por
nossos módulos de humor. A primeira entrada ocorre nas áreas
mais internas (primitivas) e gera um afeto positivo ou negativo.
Depois, seguem para as áreas corticais (mais derivadas) para sua
especificidade ser adicionada.
Outro ponto interessante é que, independentemente de o
estímulo ambiental percebido ser físico ou não, ele será inter-
pretado pela mesma circuitaria (O’CONNOR et al., 2008). Vamos
exemplificar: se sabemos que nossos amigos marcaram de sair e
não nos avisaram e, por isso, nos sentimos excluídos do grupo ou
se um colega de trabalho que não gostamos é promovido e sen-
timos inveja, a informação será primariamente processada pelo
centro de punição, assim como se tropeçássemos em uma pedra.
O oposto é verdadeiro: quando nos sentimos inclusos nos planos
das pessoas que gostamos ou nos sentimos amados e valoriza-
dos, nosso centro de recompensa (núcleo lateral e ventromedial
do hipotálamo) é ativado, da mesma forma como quando come-
mos um alimento rico em açúcar, gordura e sal (ESPERIDIÃO-
-ANTONIO et al., 2008; IZUMA; SAITO; SADATO, 2010).
Ao final do primeiro tópico, vimos que a origem dos módu-
los de humor era bastante semelhante à ideia de felicidade he-
donística. Agora, ao final desse tópico, já começamos a perceber

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

que tanto a felicidade hedônica quanto a eudaimônica operam


pelos mesmos módulos cerebrais de humor. Seguindo o princí-
pio da parcimônia, isso faz sentido, pois seria muito mais custo-
so que várias redes neurais distintas fossem selecionadas, uma
para lidar com cada tipo de contentamento ou descontentamen-
to. Elas são inicialmente processadas pelas mesmas vias e ape-
nas posteriormente o córtex atribui significado a elas (ZEIGLER-
-HILL et al., 2015).
Agora que sabemos um pouco sobre a origem dos mecanis-
mos e como eles operam, vamos tentar compreender quais foram
as forças evolutivas por trás da capacidade de sentir felicidade e
como isso teve impacto na história evolutiva da nossa espécie.

3. Valor adaptativo: por que fomos dotados da


capacidade de sentir felicidade?
A seleção natural age de forma imparcial e, por isso, não
se importa se somos felizes ou não. Para ser selecionado, o que
importa é se o saldo final de descentes deixados será o suficiente
para dar continuação à linhagem daquele indivíduo, em detri-
mento de outro. Tendo em mente a importância do sucesso re-
produtivo diferencial para a seleção de características, é provável
que um estado de humor positivo, como a felicidade, tenha sido
selecionado em nossa espécie, pois trouxe vantagens adaptativas.
Como visto no tópico anterior, um estado de humor po-
sitivo nos direciona a comportamentos como procurar, querer,
gostar ou consumir. A principal vantagem de sentir felicidade
está na possibilidade de exibir um número maior de respostas
comportamentais a diferentes estímulos, ou seja, um aumento
na plasticidade comportamental (ZEIGLER-HILL et al., 2015).

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Ao longo dos milhões de anos, os organismos selecionados fo-


ram aqueles que melhor ajustaram seus comportamentos com
base no potencial custo ou recompensa advinda de uma escolha.
Enquanto animais mais antigos na história evolutiva utilizam
o sistema de aproximação/evitação, o surgimento de áreas sub-
corticais permitiram adicionar significado a essas experiências,
proporcionando um leque maior de interpretações e, consequen-
temente, um número mais variado de estratégias comportamen-
tais para lidar com essas diferentes situações.
De forma ilustrativa, é como se cérebros com módulo de
humor mais derivados, como o da nossa espécie, fizessem uma
conta, colocando o valor do benefício e subtraindo o valor do
possível prejuízo. Essa maneira de processar as informações
pode ser vantajosa, pois permite o envolvimento do organismo
em uma situação imediata não muito prazerosa, mas com poten-
cial de grande recompensa. Por exemplo, suponha que colocaram
na sua frente uma caixa cheia de baratas. Você sente repulsa a
esse inseto, porém caso aceite colocar a mão dentro da caixa por
5 segundos, você ganhará cem reais. Tomar a decisão de colocar
a mão dentro da caixa em troca de uma recompensa futura, mes-
mo tendo aversão a baratas, só é possível graças às regiões mais
derivadas do nosso cérebro, que “calculam” o melhor custo-be-
nefício. Ao colocar a mão na caixa, seus módulos de punição es-
tarão ativados, porém menos ativados do que se não houvesse
expectativa de recompensa ao final. Essa analgesia da dor é uma
condição chamada de anedonia e pode ser encontrada também
em outros animais (KRINGELBACH e BERRIDGE, 2009). Aqui, é
interessante notar que tendo em vista que a felicidade possibilita
um maior leque de estratégias comportamentais para lidar com
os diferentes desafios do ambiente, a escolha de qual caminho

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

seguir pode ser feita de forma hedonística, ou seja, quanto maior


a recompensa, maior o engajamento naquela direção (ZEIGLER-
-HILL et al., 2015).
Além dessa característica citada acima, também temos que
nossos módulos de humor são projetados para operarem com
valor positivo líquido (GEHER e WEDBERG, 2020). De maneira
ilustrativa, se tivéssemos um termômetro de humor em nosso
cérebro, que oscila para cima ou para baixo de acordo com os es-
tímulos que recebe do ambiente (afetos positivos e negativos),
o ponto basal dele não seria o meio do caminho entre conten-
tamento e descontentamento, mas sim um leve contentamento
(GRINDE, 2013). Isso significa dizer que nosso ponto de ajuste é a
felicidade e que essa ideia de felicidade vinda de dentro para fora
combina bastante com a ideia de felicidade eudaimônica que vi-
mos no início do capítulo.
Considerando então que nossos ancestrais que foram sele-
cionados e obtiveram melhor sucesso reprodutivo foram aqueles
que possuíam seu ponto de ajuste pendendo para o contenta-
mento, é plausível argumentar que se sentir feliz teve um peso
significativo não apenas para a sobrevivência, mas também para
a reprodução dos indivíduos (GUITAR et al., 2018). Essa é inclu-
sive uma preferência bem documentada na área de estudos de
comportamento reprodutivo: o bom-humor é uma característi-
ca importante em um parceiro romântico, para ambos os sexos
(HONE et al., 2015).
Sendo a felicidade um facilitador comportamental, ou
seja, um sentimento que estimula o indivíduo a agir, podemos
imaginar que em nossa linhagem, quando as coisas estavam
bem, as necessidades básicas atendidas e sem eminência de pe-
rigo, indivíduos mais felizes eram mais motivados a interagir

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

com seus familiares e amigos, explorar o ambiente, ajudar com


as tarefas de grupo etc., ou seja, exibir comportamentos que
afetariam positivamente seu status dentro do grupo, podendo
se desdobrar em um diferencial quanto a parceiros românticos,
maximizando seu potencial reprodutivo.
Aqui faremos uma reflexão acerca de um dado trazido no
início do capítulo, sobre o aumento de transtornos mentais ao
longo dos últimos anos. Atualmente, temos grande parte dos
membros de nossa espécie vivendo em sociedades industrializa-
das e urbanizadas, as quais têm ambiente que diferem bastan-
te do ambiente ancestral comum que nossa espécie existiu pela
maior parte de sua trajetória. As diferentes condições entre es-
ses ambientes podem levar ao que chamamos de descompassos
temporais.
Descompassos temporais são traços que outrora traziam
vantagens evolutivas, porém se tornaram desvantajosos em am-
bientes industrializados (LI et al., 2018). Um bom exemplo disso
é nossa preferência por açúcar, gordura e sal. Em nosso passado
evolutivo, apresentar preferência por esses elementos significa-
va um aumento de ingestão energética, aumentando a chance de
sobrevivência do indivíduo. Mas agora, quando vivemos cercados
de alimentos de alto valor calórico, essa preferência pode trazer
consequências negativas para a saúde. Como dito pelo psicólogo
clínico Stephen Ilardi [s.d], nós não fomos projetados para um
estilo de vida sedentário, recluso, com baixa qualidade de sono,
repleto de fast food e com o ritmo acelerado da vida moderna.
Em resumo, a felicidade parece ter trazido vantagens adap-
tativas para nossa espécie. Primeiro, por aumentar o leque de es-
tratégias comportamentais a adotar perante situações diversas
e, segundo, porque um ponto de equilíbrio de contentamento ge-

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TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

rou maior engajamento de nossos ancestrais em atividades que


aumentavam a sua aptidão. Agora, por fim, vamos falar um pou-
co sobre a ontogenia da felicidade e sobre algumas das variáveis
que a impactam.

4. Ontogenia: quais são as influências que


interferem em nossa felicidade?
Quando pensamos em termos de desenvolvimento ce-
rebral, os anos iniciais de vida são os que terão maior impacto.
Consequentemente, o contexto em que o indivíduo passou seus
primeiros anos de vida poderá gerar consequências consideráveis
em diversos fatores, dentre eles seu bem-estar subjetivo quando
adulto (o que não significa dizer que uma infância difícil irá re-
sultar em um adulto deprimido. Ter vivido em um ambiente de
maior imprevisibilidade na infância pode gerar um adulto com
maior propensão a esse resultado, porém a plasticidade do cére-
bro humano adulto permite uma compensação (GRINDE, 2005).
Em resumo, uma infância difícil pode impactar em seu bem-es-
tar subjetivo, porém é possível contornar a situação.
Em termos de importância evolutiva, os módulos de puni-
ção são mais facilmente ligados a um aumento de chance de so-
brevivência e, consequentemente, reprodução, porque evitar um
perigo que possa resultar em morte do indivíduo é mais vantajo-
so do que perder uma oportunidade de reproduzir, por exemplo.
Essa diferença de importância se reflete também na facilidade
com que são ativados. Os módulos de punição são ativados mais
facilmente do que os módulos de prazer. Durante o desenvolvi-
mento do infante, esse é um ponto importante para observar-
mos, já que o cérebro estará mais facilmente voltado a perceber

28
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

situações negativas do que positivas. Como argumenta Grinde


(2005), esse fator pode ajudar a explicar a alta prevalência de
ansiedade e depressão encontrada em jovens, principalmente
aqueles inseridos em um contexto de sociedade industrializada.
Isso é um indicativo de que, nesse tipo de sociedade, o ambiente
disponível para os infantes está abaixo do ideal para o desenvol-
vimento de uma saúde mental adequada. Este efeito pode ocor-
rer devido aos diversos descompassos temporais que nossa espé-
cie experencia e que são maiores de acordo com a distância entre
o ambiente em que estamos inseridos e nosso ambiente ancestral
comum (GEHER e WEDBERG, 2020).
Uma boa notícia é que os módulos cerebrais podem agir de
forma similar com os nossos músculos, isso é, se forem devida-
mente usados (ativados), podem se tornar mais fortes (mais sen-
síveis a ativação). Buscar por um ambiente que estimule nossos
módulos neurais positivos levará a um aumento de facilidade de
ativação. O contrário também é verdadeiro: se os módulos de pu-
nição forem pouco ativados, a tendência é que eles fiquem menos
reativos (ZEIGLER-HILL et al., 2015).
Com relação às variáveis que impactam o BES, vamos falar
sobre algumas das diversas que já foram relatadas pela literatu-
ra. No que diz respeito ao status de relacionamento, por exem-
plo, temos que pessoas satisfeitas em seus relacionamentos são
mais felizes, em média, do que pessoas que não estão em um
relacionamento (KANSKY, 2018). Entretanto, é importante des-
tacar que esse dado diz respeito a pessoas satisfeitas em seus
relacionamentos, ou seja, pessoas que estavam insatisfeitas em
seus relacionamentos reportaram menores níveis de felicidade
quando comparadas com indivíduos que não estavam em um
relacionamento.

29
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

A variável riqueza não mostrou efeitos a longo prazo no BES


(MOGILNER et al., 2018). Quando passamos a ganhar mais di-
nheiro, nossas áreas de recompensa são ativadas, entretanto esse
efeito não dura muito. Com o passar do tempo, nosso nível de feli-
cidade volta ao ponto anterior ao aumento. O estudo de Brickman,
Coates e Janoff-Bulman (1978), apesar de antigo, traz um panora-
ma interessante sobre essa questão. Os pesquisadores avaliaram
dois grupos: ganhadores da loteria e pessoas que haviam sofrido
um grave acidente de trânsito. Logo após o evento, a diferença de
felicidade reportada pelos dois grupos era clara: os ganhadores da
loteria expressavam se sentir muito mais felizes do que o grupo
de pessoas acidentadas. O curioso é que, com o passar do tempo,
os grupos passaram a reportar níveis cada vez mais parecidos de
felicidade até que, ao fim do estudo, ambos tinham níveis simila-
res. Isso remete ao que discutimos ao longo do capítulo, ou seja,
temos um nível de humor basal que tende ao contentamento e,
mesmo após passar por situações extremas, tendemos a voltar ao
ponto de equilíbrio semelhante ao anterior ao evento.
Outra variável que é amplamente associada ao BES é a
saúde. A revisão sistemática de Ngamaba, Panagioti e Armitage
(2017) traz dados interessantes a esse respeito. Os pesquisadores
encontraram que havia uma forte associação entre BES e saúde,
principalmente quando a variável era investigada como “satisfa-
ção com a vida”. Além disso, essa associação era ainda mais forte
em países em desenvolvimento. Com isso, os autores concluem
que proporcionar um nível de saúde adequado é uma das formas
pelas quais um governo pode aumentar o nível de BES da sua po-
pulação.
A prática de exercícios físicos também parece impactar o
BES. A revisão sistemática realizada por Zhang e Chen (2019)

30
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

encontrou uma forte associação positiva entre atividade física e


felicidade, de maneira que mesmo um dia de exercício por sema-
na já mostra impactos positivos no BES. A revisão aponta que a
prática de meditação gera impactos semelhantes. Porém, é im-
portante ressaltar que a maior parte dos estudos revisados são de
efeitos de associação, ou seja, ainda precisamos de mais estudos
com delineamentos experimentais ou quase-experimentais para
podermos considerar efeitos de casualidade.
Atividades como recreação também podem impactar o
BES, principalmente para idosos. A categoria recreação é bas-
tante ampla e pode incluir diversos tipos de entretenimento,
como a criação de animais de estimação, por exemplo. O estudo
de Gee, Mueller e Curl (2017) relatou que ter um animal de esti-
mação em estágios mais avançados da vida diminuía a propen-
são à depressão, ansiedade e sentimentos de solidão. Porém,
nem sempre pessoas idosas terão condições de criar animais.
Tkatch e colaboradores (2021) pensaram nisso e decidiram in-
vestigar se a presença de animais eletrônicos (animatronics) se-
riam o suficiente para diminuir a solidão de idosos em um asilo.
Os participantes relataram um aumento no BES e diminuição
do sentimento de solidão, quando na presença dos animais ele-
trônicos.
Compilando os achados dessa seção, observamos que, du-
rante nosso desenvolvimento, as experiências vivenciadas na
infância geram bastante impacto em nossa felicidade, mas que
somos plásticos o suficiente para compensar esse efeito após a
chegada da vida adulta. Além disso, diversos são os fatores que
impactam nosso bem-estar subjetivo, o que faz sentido, já que
esse sentimento faz parte dos nossos módulos de humor, respon-
sáveis por responder aos estímulos do ambiente.

31
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

5. Considerações finais

Ao longo do capítulo, vimos como é possível interpretar


a felicidade pelas lentes da PE. Após refletir sobre o BES através
das questões de Tinbergen (1963), podemos tirar algumas con-
clusões: (a) a felicidade, assim como outras emoções básicas hu-
manas, foi selecionada por razões evolutivas específicas, (b) a
felicidade é um estado de humor que nos motiva a engajar em
ações que, em média, terão impacto positivo em nossas chances
de sobrevivência e/ou reprodução, (c) nosso humor repousa em
um ponto de equilíbrio de leve contentamento e (d) buscar por
felicidade é tanto um objetivo próximo quanto um objetivo úl-
timo.
Finalizaremos com um convite àqueles que se interessa-
ram pelo tema e desejam aprofundar suas leituras. Falamos bre-
vemente sobre a Psicologia Positiva no início do capítulo e como
ela funciona muito bem como área interdisciplinar. Sua utiliza-
ção junto com a Psicologia Evolucionista também recebeu uma
proposta de formalização de nova área de estudo. Glenn Geher e
Nicole Wedberg (2020) propõem, em seu livro “Psicologia Evolu-
cionista Positiva” (Positive Evolutionary Psychology), argumentos
a favor da junção dessas duas áreas, que formariam a Psicologia
Evolucionista Positiva. A ideia central da proposta é aplicar o
conjunto de ferramentas da PE para ampliar a compreensão dos
aspectos positivos da experiência humana. Para encerrar, fica
como reflexão uma frase de Dalai Lama: “não há um caminho
para a felicidade, a felicidade é o caminho”.

32
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

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37
Cap. 2
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Emoção:
Qual o seu valor?

Lara Gomes de Souza Silveira


& Fívia de Araújo Lopes

O ser humano, tal como outros primatas, é um animal so-


cial. Por isso, desenvolve habilidades de socialização desde o nas-
cimento, seja através da comunicação ou de sinais emocionais
(ROBERTS, 2012). A emoção pode ser definida como uma respos-
ta fisiológica, neural, cognitiva e comportamental rápida frente a
estímulos externos e internos que visam a melhora na percepção,
aprendizagem, desempenho e adaptação do indivíduo ao meio
(social e ambiental) que o cerca (CAPELO et al., 2018; PARREI-
RA, 2013; SOUZA, 2019). É dessa forma que bebês comunicam os
seus estados internos, podendo, assim, usar da expressão emo-
cional como estratégia para manter o vínculo com seus cuidado-
res e regular as suas ações destes (ANDRADE, 2013; ANDRADE et
al., 2014; ROBERTS, 2012).
O impacto da percepção dos eventos que desencadeiam
uma resposta emocional é guiado pela experiência individual.
No início do desenvolvimento, podemos afirmar que as respos-
tas são mais biológicas ou instintivas do que sociais ou culturais,
já que o arcabouço cultural do indivíduo é desenvolvido com a
interação com quem constitui o seu entorno. Assim, ao longo do

39
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

desenvolvimento e do contato com outros indivíduos, os papeis


social e cultural terão maior influência nas respostas emocionais
(AKTAR e PÉREZ-EDGAR, 2020; CAPELO et al., 2018).
Ainda na infância, o sucesso na percepção e expressão de
emoções auxilia no reconhecimento das próprias emoções, de
acordo com a idade, e no desenvolvimento de estratégias de re-
laxamento frente a situações de emoções negativas ou estres-
se emocional (BERKOVITS et al., 2017). As emoções trazem ao
indivíduo a possibilidade de expressar, para o mundo externo,
como está a organização de seu mundo interno (SOUZA, 2019).
Isto posto, o objetivo deste capítulo é apresentar, através das
quatro questões sobre o comportamento1 desenvolvidas por
Nikolaas Tinbergen em 1963 - a saber: o mecanismo, a ontogê-
nese, a história evolutiva e o valor de sobrevivência desse com-
portamento -, o papel das emoções e como elas se inserem no
contexto social no qual está inserido o ser humano.

1. Detalhando as emoções

1.1 Emoções primárias e secundárias


As emoções podem ser classificadas em dois grupos: as
emoções primárias e as emoções secundárias. As emoções pri-
márias ou básicas são essenciais para a sobrevivência, comuni-
cação e desenvolvimento das espécies que as possuem, visto que
a interação entre os indivíduos é aprimorada com sua presença.
Elas são, também, caracterizadas como universais e ancestrais

1 Para uma visão mais detalhada sobre “as quatro questões sobre o
comportamento” desenvolvidas por Nikolaas Tinbergen, consultar o Manual
da Psicologia Evolucionista (YAMAMOTO e VALENTOVA, 2018).

40
filogeneticamente e ontogeneticamente (CAVIERES et al., 2021;
IZARD, 2009; NUDELMAN, 2018;). A emoção primária de alegria
é expressa, por exemplo, quando um filhote entra em contato vi-
sual com sua mãe ou cuidador principal; já a emoção primária
do medo, é expressa, por exemplo, na presença de um predador
(DARWIN, 1872).
Em acordo com Ekman (2007), consideraremos, neste ca-
pítulo, seis emoções primárias, que são: alegria, tristeza, raiva,
medo, nojo e surpresa. Essas emoções geram um padrão de ex-
pressões faciais único que acaba por diferenciá-las significati-
vamente umas das outras (NUDELMAN, 2018; NUMMENMAA e
SAARIMAKI, 2017; SOUZA, 2019). A emoção da alegria tem como
caracterização um sorriso, que levanta as bochechas e faz com
que os lábios superiores e inferiores se afastem, ocasionando o
aparecimento das gengivas e o levantamento das pálpebras. A
emoção da raiva se caracteriza pela junção das sobrancelhas,
ocasionando um enrugamento no espaço entre elas e com a con-
sequência de um olhar concentrado no objeto que desperta essa
emoção. Há também o afinamento dos lábios e uma abertura
intensa das narinas. Na emoção da tristeza, há o levantamento
dos cantos internos das sobrancelhas, de modo a uni-las, além
do rebaixamento do olhar, com a consequência de que as pálpe-
bras superiores acabam por pender. Há, ainda, o movimento de
abaixar os cantos dos lábios e as bochechas aparentam erguer-
-se e apertar os olhos. A emoção do medo é caracterizada por
sobrancelhas erguidas e as pálpebras (tanto superiores, quanto
inferiores) tensionadas ao máximo. O maxilar se mantém aberto
e a boca se estica em direção às orelhas. A emoção da surpresa se
assemelha bastante à emoção do medo, com a diferença de que
o maxilar fica sempre aberto ao máximo (ANDRADE et al., 2013;
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

EKMAN e CORDARO, 2011). A emoção do nojo se caracteriza pelo


enrugar da parte superior do nariz e, consequentemente, o le-
vantar do lábio superior, que acaba por enrugar, também, a parte
inferior do nariz (FERNANDES, 2020).
As emoções secundárias emergem a partir da interação
entre as emoções primárias e as experiências sociais dos indiví-
duos, dependendo, portanto, de aprendizagem (CAPELO et al.,
2018; PARREIRA, 2013). Consequentemente, possuem um cará-
ter social e cognitivo mais evidente. Os comportamentos emo-
cionais, principalmente das emoções secundárias, resultarão em
respostas motoras, voluntárias ou involuntárias (SOUZA, 2019).
Dentre as emoções secundárias, podemos encontrar: ciúme, or-
gulho, culpa, vergonha, amor, saudade, ansiedade, dentre outras
(IZARD, 2009; SOUZA, 2019). Pelo fato de serem aprendidas e ne-
cessitarem de um convívio social, não são naturais para crianças,
em especial as mais novas (entre 3 e 6 anos de idade), que não
têm em seu constructo natural a presença destas. Desta forma,
para essa faixa do desenvolvimento, apenas as emoções primá-
rias são percebidas e distinguidas com eficácia (MACHADO et
al., 2012). Tais emoções, pelo forte componente social e cultural,
apresentam ainda considerável variação em sua expressão.

1.2 Valência das emoções


As emoções podem ser divididas, também, de acordo com
outras duas categorias: emoções positivas e emoções negativas
(CAVIERES et al., 2021). Esses dois grupos assim se dividem pela
diferença entre os grupos musculares recrutados para a sua ex-
pressão. Cada um desses é formado por emoções que recrutam
musculaturas semelhantes para a sua expressão. O grupo das ex-
pressões primárias positivas, na verdade, é formado apenas pela

42
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

emoção da alegria e é possível que, por essa condição, a alegria


seja a emoção mais facilmente identificada em todas as fases do
desenvolvimento. Já o grupo das emoções primárias negativas é
formado pelo medo, tristeza, surpresa, nojo e raiva e, principal-
mente na infância, é observada uma maior dificuldade em se re-
conhecer e diferenciar essas emoções quando comparadas umas
com as outras, já que estas recrutam grupos musculares simila-
res em suas expressões (CAVIERES et al. 2021; IZARD, 2009; RO-
CHA et al., 2017).

1.3 Emoções e termos associados


É necessário se fazer uma diferenciação entre alguns ter-
mos por vezes associados ou interpretados como sinônimos. As
emoções são uma mudança momentânea em função de um es-
tímulo externo ou interno, em um curto intervalo de tempo. A
tendência emocional diz respeito à forma de agir e se portar emo-
cionalmente de um indivíduo durante um intervalo estável de
tempo, ou seja, o hábito de resposta emocional de uma pessoa.
O tom emocional de base são as expectativas da possibilidade de
experimentar emoções positivas ou negativas no futuro e pode
ter a duração de alguns dias. Por fim, os sentimentos são as ex-
periências unicamente subjetivas atreladas às emoções (ANDRA-
DE, 2013; IZARD, 2009).

2. Mecanismos para expressão,


reconhecimento e regulação de emoções
Classicamente, os estudos que buscavam identificar a base
neural das emoções projetavam que a área cerebral responsável
por elas seria o sistema límbico. Assim, teria sido encontrada a

43
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

base anatômica cerebral das emoções, cujas estruturas ali con-


tidas seriam responsáveis pelas emoções básicas. Cada uma das
seis emoções básicas teria uma estrutura cerebral responsável
por ela, o que foi demonstrado em diversos estudos com resso-
nância magnética funcional. No entanto, nos últimos anos, es-
tudos têm demonstrado que múltiplas áreas cerebrais podem
ser responsáveis por uma mesma emoção, assim como uma área
em particular pode ser responsável por diferentes emoções. Por
exemplo, a amígdala é entendida como responsável por todas as
emoções negativas, principalmente o medo e a raiva (AKTAR e
PÉREZ-EDGAR, 2020; NUDELMAN, 2018; WANG et al., 2020).
No entanto, existem também estudos os quais demonstram que
a amígdala seria a responsável pela facilitação de respostas com-
portamentais rápidas e automáticas em resposta a estímulos
aversivos, ou seja, ela seria a responsável pela percepção de uma
emoção negativa como o medo e, então, desencadearia o estímu-
lo motor em forma de reação de luta ou fuga naquele momento,
ao invés de ser a encarregada da emoção negativa em si (CAVIE-
RES et al., 2021; NUMMENMAA e SAARIMAKI, 2017).
Além das estruturas cerebrais responsáveis pela expressão
das emoções, a avaliação de expressões faciais através das mus-
culaturas dessa área são objetos de estudo constante desde as
primeiras pesquisas sobre emoções. Ekman e Friesen, em 1978,
desenvolveram o Facial Action Coding System (FACS), um sistema
que mapeia os movimentos dos músculos faciais e os separa em
44 unidades anatômicas de ação muscular. O FACS pontua todos
os movimentos que as unidades promovem separadas e em com-
binação, tornando possível analisar quais unidades e/ou combi-
nações destas são recrutadas para a expressão de cada uma das
emoções expressas pelos indivíduos. Foi a partir desse sistema

44
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

que surgiu a possibilidade de existir bancos de dados para aná-


lises de microexpressões faciais, utilizados até hoje nos estudos
das emoções (EKMAN e ROSENBERG, 1997).
No entanto, algumas críticas são feitas ao FACS, como por
exemplo: o fato de ser um sistema que depende do treinamento e
aplicação manual, o que poderia levar a um viés de aplicação por
meio do investigador; e o sistema operar através da percepção de
movimentos da musculatura facial, fazendo com que alterações
emocionais que não levam a esse tipo de movimentação, como
produção de lágrimas, mudança na temperatura da pele, suor, etc.,
não sejam percebidas. Como forma de aumentar a eficácia da per-
cepção de expressões de emoções, foram criados softwares como
o Automated Facial Expression Analysis (AFEA), que são capazes de
suprir as necessidades que o FACS não atende (CLARK et al., 2020).
Além da expressão de emoções, como temos apresentado
até aqui, a regulação emocional é um importante fator a ser leva-
do em consideração quando buscamos entender o impacto das
emoções na vida dos indivíduos. Trata-se de um processo de mo-
dulação da ocorrência, duração e intensidade de um estado emo-
cional positivo ou negativo mediado fisiologicamente. Para isso,
fatores internos e externos devem ser evidenciados: seja a idade
e gênero, seja a relação com pares, todos esses componentes in-
fluenciam diretamente a capacidade de regulação emocional de
um indivíduo. Por exemplo, crianças e adolescentes que foram
criados em ambientes inclusivos, onde diferentes emoções são
estimuladas e vivenciadas por e com os seus cuidadores princi-
pais, tendem a conseguir regular melhor suas emoções ao longo
do desenvolvimento, assim como crianças e adolescentes que vi-
vem em ambientes muito rígidos e pobres em experiências emo-
cionais acabam por desenvolverem dificuldades de socialização

45
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

e regulação emocional (AKTAR e PÉREZ-EDGAR, 2020; MORRIS


et al., 2017). Isso foi demonstrado em estudos que avaliavam a
ativação do sistema límbico de crianças e adolescentes e detec-
tou-se que há uma alta atividade em crianças que viviam em am-
bientes inclusivos, diferentemente dos indivíduos em ambientes
deficientes em tais questões, que tinham pouca ativação dessa
área e maior risco a desenvolverem depressão. Além disso, esses
mesmos estudos demonstraram que os indivíduos com maior
propensão a ansiedade e depressão possuíam uma alta respos-
ta de ativação da amígdala que, como relatamos anteriormen-
te, está ligada a estímulos de emoções negativas (MORRIS et al.,
2017; WANG, 2020).

3. Ontogenia emocional

Seres humanos conseguem perceber o estado emocional


dos outros e ajustar o seu comportamento em função disso des-
de os primeiros momentos de seu desenvolvimento (CAVIERES
et al., 2021). Por isso, o ambiente familiar desempenha um papel
ontogenético fundamental nas habilidades emocionais dos in-
divíduos. Em nossa espécie, a dependência dos pais nos primei-
ros anos de vida da criança é crucial para a sobrevivência (VON
DENTZ e AMORIM, 2019). Por esse motivo, as emoções expres-
sas pelas crianças atuam como um regulador do comportamen-
to dos cuidadores, como por exemplo: a expressão do medo ou
tristeza que indicam para o cuidador que a criança necessita de
proteção; ou a expressão da alegria, a qual indica para o cuidador
que a criança deseja manter vínculo com ele (ANDRADE, 2013).
Alguns autores indicam que, na faixa dos dois anos de ida-
de, as crianças já conseguem entender que existem expressões

46
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

faciais distintas e que indicam estados emocionais distintos. Pró-


ximo aos 3 anos de idade, elas já começam a discriminar entre
alegria e raiva e distinguir entre raiva e tristeza, por exemplo. Na
faixa etária dos 4 aos 5 anos de idade, já conseguem perceber e
reconhecer as seis emoções básicas (ALMEIDA, 2017; CAPELO et
al., 2018). Podemos acrescentar que a expressão de emoções em
crianças acaba por ser mais facilmente identificada, pois a inten-
sidade em que são expressas é maior. Acredita-se que isso se dá
pelo fato de que são novidades e a adequação tanto de intensida-
de como da intencionalidade de cada emoção em diferentes si-
tuações acontece com o convívio social (DARWIN, 1872; HARRIS
et al., 1989; IZARD, 2009).
As crianças com pais extremamente severos e controlado-
res acabam por ter dificuldades na regulação emocional, pois es-
tes utilizam do controle psicológico para inibir a individualidade
de seus filhos e, consequentemente, sua autonomia psicológica,
social e emocional. Por outro lado, filhos de pais extremamen-
te permissivos acabam por não lidar com frustração ou emoções
negativas e, consequentemente, têm sua regulação emocional
afetada (MORRIS et al., 2017). Concomitante com o controle psi-
cológico feito pelos pais, o fato de não estarem inseridas em um
ambiente rico em experimentação emocional, ou seja, o constan-
te exercício de perceber e expressar diferentes emoções, acaba
por influenciar um desenvolvimento saudável na infância (MOR-
RIS et al., 2017).
A habilidade de reconhecer emoções tem início nos pri-
meiros meses de um indivíduo e segue se desenvolvendo e apri-
morando ao longo da vida. Assim, as crianças conseguem fazer
o reconhecimento das seis emoções básicas com eficácia e, com
o passar do tempo e o aumento das interações sociais, desen-

47
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

volvem as habilidades de reconhecimento das emoções secun-


dárias. Essas habilidades têm o seu completo desenvolvimento
com a maturidade, durante a adolescência e vida adulta (BLACK
et al., 2017).
Na vida adulta, além de reconhecer emoções primárias
e secundárias, a capacidade de controlar e regular as próprias
emoções se torna eficaz. Além de regulação, os adultos são capa-
zes de refletir e gerir as emoções sentidas e as emoções percebi-
das no outro. Essa gestão emocional permite que o arcabouço de
comportamentos desencadeados pelas emoções possa ser cada
vez maior e mais eficaz a depender da situação em que se faz ne-
cessário o seu uso (PEIXOTO et al., 2019).
A ideia de que o reconhecimento de emoções aumenta de
forma linear ao longo do desenvolvimento tem sido refutada por
alguns pesquisadores. Eles afirmam que a trajetória se daria de
forma curvilínea ou de “U” invertido, tendo um aumento gradati-
vo na infância e adolescência com o pico no início da idade adulta
e um declínio na senescência (FERREIRA e TORRO-ALVES, 2016).
Os estudos mostram que, em idosos, há um declínio considerá-
vel no reconhecimento das emoções negativas como raiva, medo
e tristeza, havendo, por outro lado, reconhecimento do nojo, da
alegria e da surpresa de forma mais eficaz quando comparados
a adultos jovens (FERREIRA e TORRO-ALVES, 2016; LADISLAU;
GUIMARÃES; SOUZA, 2015).
Duas possíveis explicações para esse evento são: 1 - A Teo-
ria da Seletividade Socioemocional, a qual propõe que os ido-
sos possuiriam um efeito de positividade, em que, devido a uma
baixa perspectiva de tempo de vida restante, é dado um maior
foco emocional às emoções positivas. Assim, essas emoções se-
riam selecionadas para ter uma melhor diferenciação e reconhe-

48
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

cimento. 2 - A Teoria da Integração Dinâmica, que mostra que


há uma mudança nas estruturas cerebrais devido ao envelhe-
cimento natural do corpo humano e, dessa forma, haveria uma
diminuição de forma geral da capacidade de percepção e reco-
nhecimento de emoções. Essa deterioração de estruturas não
ocorre de maneira igual em todas as áreas cerebrais e, por isso,
diferentes áreas responsáveis por emoções distintas seriam afe-
tadas em momentos subsequentes na senescência (FERREIRA e
TORRO-ALVES, 2016).

4. Evolução das emoções

Charles Darwin (1872), em seu livro “A expressão das emo-


ções no homem e nos animais” observou indivíduos de diferen-
tes espécies e pôde perceber que existia a equivalência de expres-
sões faciais e corporais, como por exemplo: a raiva manifestada
por cães e gatos; a alegria de um cão com o seu dono, assim como
das mães de diferentes espécies com os seus filhotes; a tristeza de
macacas pela perda de filhotes, dentre outras. Foi a partir dessas
observações que Darwin argumentou sobre a equivalência das
emoções entre as espécies; assim, seriam compartilhadas não so-
mente as homologias, mas também os estados emocionais e suas
expressões, como por exemplo, a expressão da raiva no ser hu-
mano e em chimpanzés que consiste, basicamente, em um olhar
direto, a boca entreaberta e os lábios retraídos verticalmente, de
modo a mostrar os dentes (NUDELMAN, 2018).
Além disso, ele observou povos de diferentes culturas e tro-
cou correspondências com pesquisadores de sociedades que tive-
ram pouco ou nenhum contato com europeus e eles constataram
que há uma equivalência na expressão das emoções primárias,

49
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

demonstrando, dessa forma, que há uma base inata na expres-


são e percepção destas (CASTILHO e MARTINS, 2012; DARWIN,
1872; WANG, 2020). Como corroboração dos achados por Dar-
win e seus colaboradores, Ekman e Friesen (1975) realizaram um
estudo com populações de diversos países, entre eles Japão, Bra-
sil, Chile, Estados Unidos e Argentina e mostraram que, mesmo
com diferenças culturais e de linguagem, as interpretações das
emoções eram equivalentes.
Dessa forma, classicamente, a literatura traz que as emo-
ções primárias são universais e têm caráter evolutivo forte, po-
rém diferenças culturais precisam ser levadas em consideração
em duas situações. A primeira são as chamadas “regras de exibi-
ção”, que ditam como deve ser feita a expressão de emoções de
acordo com a ocasião e as regras sociais aplicadas a elas; estas
são ensinadas às crianças e se aperfeiçoam e se modulam duran-
te toda a vida. Por exemplo, a intensidade com que as emoções
podem ou não ser expressas varia consideravelmente. Em socie-
dades orientais, a alegria é demonstrada com sorrisos contidos
e pouca ou nenhuma expressão corporal; já em sociedades oci-
dentais, a alegria é demonstrada com largos sorrisos que mos-
tram dentes e gengivas, além de movimentações com os braços.
A segunda situação que deve ser considerada é a “expressivida-
de em relação ao gatilho”, ou seja, a expressão da emoção tende-
rá a ser modificada em relação ao tipo de evento que a desperta
em diferentes culturas. Assim, o mesmo evento pode estimular
emoções diferentes ou, até mesmo, opostas. Por exemplo, na
cultura mexicana, no dia 2 de novembro é comemorado o “Día
de los muertos”. Para eles, um dia de festa, alegria e celebração em
honra aos falecidos. Na cultura brasileira, o dia 2 de novembro é
celebrado o “Dia de finados”. Para nós, um dia de luto e tristeza

50
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

em memória, da mesma forma, dos falecidos (ANDRADE, 2013;


EKMAN et al., 1969; MATSUMOTO, 1989).
A hipótese da universalidade das emoções proposta por
Darwin (1872) diz que todos os humanos expressam as seis emo-
ções básicas através da contração e relaxamento dos mesmos
grupos musculares faciais. Em contrapartida, através de estudos
mais recentes realizados com populações ocidentais e orientais,
foi observado que, entre os dois grupos, há diferenças nas mus-
culaturas recrutadas para as seis emoções. Por exemplo, indiví-
duos de Papua Nova Guiné interpretam a abertura intensa do
orbicular dos olhos e o aumento da frequência respiratória como
intenção de atacar ou ameaçar, enquanto para indivíduos dos Es-
tados Unidos da mesma idade, essa seria a expressão de medo
ou submissão (GENDRON et al., 2018). Além disso, foi observado
que a atividade cerebral é distinta na expressão das seis emoções
básicas em diferentes culturas principalmente nas emoções de
surpresa, medo, nojo e raiva. Os resultados mostram diferenças
na atividade tanto na localização quanto no momento em que
os movimentos faciais são expressos (CHEN e JACK, 2017; JACK
et al., 2012).
Um ponto levantado por Gendron, Carlos e Barrett em
2018 é de que, nos estudos feitos com as emoções básicas, as suas
nomenclaturas e descrições poderiam enviesar as respostas dos
participantes para apenas aqueles rótulos, enquanto o seu arca-
bouço cultural poderia dispor de um leque vasto de designações
para os padrões exibidos aos sujeitos. Para estes pesquisadores,
as possibilidades de combinações de expressões faciais vão mui-
to além do possível para as emoções básicas e dependem do con-
texto social, da história de vida e dos estados internos de cada
indivíduo.

51
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

5. Valor adaptativo das emoções

Como demonstrado até aqui, as emoções são uma impor-


tante estratégia comportamental utilizada para a manutenção
da vida em grupo e a sua coalizão. Elas proporcionam o melhora-
mento nas interações sociais, pois são um elemento social de pri-
meira ordem ao longo do desenvolvimento do ser humano. Isso
se dá pelo fato de que a expressão de emoções traz uma carga
informativa, tanto para o indivíduo que as expressa, quanto para
o indivíduo que as percebe, criando uma relação entre eles, sendo
essa a base da interação social (ALMEIDA, 2017; HALBERSTADT
et al., 2001; NUDELMAN, 2018).
As emoções estão, também, associadas à organização do
desenvolvimento cerebral, bem como do desenvolvimento social
e cognitivo como um todo, tendo influência e sendo influenciada
por eles (MELO, 2005). É por esse motivo que a regulação da ex-
pressão e da percepção das emoções tem um caráter primordial,
pois influencia diretamente a relação com o meio físico e social
ao nosso redor (ANDRADE, 2013; BERKOVITS et al., 2017; PINTO,
2021).
Além disso, a expressão de emoções pode auxiliar, também,
na possibilidade de reprodução e sobrevivência dos indivíduos.
Seria exatamente por essa possibilidade de auxiliar os nossos
ancestrais a ser manterem longe de ameaças e aumentar a coa-
lizão e coesão de grupo que o comportamento teria se mantido
em nossa história evolutiva (AKTAR e PÉREZ-EDGAR, 2020; AN-
DRADE, 2013). A emoção do medo, por exemplo, é uma das prin-
cipais funções ligada à sobrevivência do indivíduo. Essa emoção
exerce a função de proteção diante de ameaça à integridade física
e/ou psicológica, o que se concretiza através do comportamento

52
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

de luta ou fuga e até mesmo o reflexo de freezing (que exerceria


o propósito de simular a morte e tornar-se desinteressante ao
predador) (ALMEIDA, 2017; SOUZA, 2019). Já a emoção da raiva
se apresenta quando o indivíduo se percebe provocado ou tolhi-
do de escolhas e pode gerar a resposta de dano ao entorno, seja
este físico e inanimado ou animado. No entanto, a raiva pode eli-
citar, ao invés da agressividade, a assertividade, desde que esta
seja trabalhada durante o desenvolvimento. A expressão da raiva
é importante para demonstrar que o indivíduo está se sentindo
ofendido, violado, injustiçado, agredido ou desrespeitado. Na
emoção da tristeza, um afastamento e retraimento do indivíduo
é observado e a sua principal função é promover a reparação ou
superação de algum evento. Por exemplo, o luto, presente da vida
dos indivíduos de forma inexorável, pode ser trabalhado através
da tristeza.
Por sua vez, as principais funções da alegria são: estreitar
os laços sociais e equilibrar os efeitos negativos das emoções
negativas. Alguns autores consideram o sorriso expresso na
alegria como uma “catação2 social” em humanos, uma catação
à distância, mas que seria capaz de modular o comportamento
social, assim como o praticado por outros grupos de primatas.
O comportamento de catação tem a função de remover parasi-
tas uns dos outros, mas pode também estimular a liberação de
hormônios como endorfinas e ocitocina, considerados impor-
tantes para a manutenção do vínculo social (NUDELMAN, 2018;
SOUZA, 2019). Por fim, a emoção do nojo apresenta uma função
principal, que é a de rejeição. Esse comportamento tem desdo-

2 Para uma visão mais detalhada sobre catação, consultar o Compor-


tamento Animal (YAMAMOTO e VOLPATO, 2011).

53
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

bramentos diferentes de acordo com a situação em que é expres-


so, porém, o intuito de fazê-lo é sempre o mesmo: sobrevivência.
Seja evitando alimentos contaminados ou violências como, por
exemplo, sexuais, a emoção primária do nojo sempre se apresen-
tará quando o indivíduo se perceber em risco (SOUZA, 2019).
Sendo assim, podemos afirmar que as emoções possuem
três funções principais: 1 – social, pois transmite informação do
estado do indivíduo naquele instante, 2 – adaptativa, pois con-
diciona fisiológica e comportamentalmente o indivíduo para a
ação em resposta à emoção expressa ou percebida, e 3 – motiva-
cional, pois há uma relação entre as emoções dos indivíduos e os
comportamentos motivados (ANDRADE, 2013).

6. Considerações finais

Muito se fala da importância da interação social, principal-


mente em uma sociedade nos moldes do século XXI, em que o
avanço tecnológico aproxima os indivíduos que estão separados
por distâncias continentais, mas separa os indivíduos que estão
à distância do olhar um do outro; sentimos isso principalmente
nos últimos anos, devido à pandemia de COVID-19.
Além de serem uma habilidade crucial para criar laços
sociais, as emoções são essenciais para a manutenção da saúde
mental dos indivíduos. É a partir do correto reconhecimento de
emoções em si e do outro que os indivíduos podem perceber a
necessidade de ajuda e auxílio para questões de saúde mental,
já que as nossas emoções influenciam o significado que atribuí-
mos para as situações em que nos inserimos e somos inseridos
diariamente, o que vai determinar nossas respostas emocionais
e cognitivas conscientes e inconscientes. As emoções são, tam-

54
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

bém, facilitadoras, pois é a partir delas que se criam sistemas de


alerta sobre eventos (internos ou externos) que podem auxiliar
na tomada de decisão, planejamento, resolução de problemas,
aumento da capacidade de raciocínio, dentre outras.
É por esses motivos que estratégias comportamentais
como as emoções são vistas como primordiais na manutenção da
vida, principalmente em grupo, e durante todo o desenvolvimen-
to. É a partir do conhecimento, diferenciação e expressão correta
das emoções que as habilidades sociais, cognitivas e comporta-
mentais dos indivíduos se veem completas e aprimoradas.

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62
Cap. 3
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Intolerância, Repulsa e
Sensibilidade: O Sistema
Imune Comportamental e suas
Implicações à Saúde Humana

Lucas Emanuel Ferreira

Quem diria que temos uma defesa imunológica compor-


tamental? Ou que, quando ativada, ela pode diminuir nossa
motivação para nos conectarmos socialmente com nossos ami-
gos? Embora as doenças infecciosas tenham representado uma
ameaça significativa e persistente à sobrevivência e ao bem-estar
humanos ao longo da história, apenas recentemente as implica-
ções psicológicas e comportamentais de ameaça de doenças se
tornaram um tópico de pesquisa nas ciências do comportamen-
to. Buscando esclarecer essa questão, apresentamos neste capí-
tulo o conceito de sistema imune comportamental – uma série
de mecanismos psicológicos os quais permitem que organismos
detectem a presença de agentes infecciosos (patógenos) em seu
ambiente externo, tomando atitudes preventivas para se defen-
der desses agentes - e suas implicações sociais e comportamen-
tais no que diz respeito à ameaça percebida à doença nos proces-
sos de julgamento e tomada de decisão e como isso impacta nas
normas culturais.

64
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

É provável que a ameaça representada por doenças in-


fecciosas ao longo da evolução humana tenha causado mais
mortes do que todas as outras causas de mortalidade combi-
nadas (INHORN e BROWN, 1990). Entretanto, essa ameaça não
impacta apenas a vida de seres humanos; os cientistas carac-
terizam a evolução de todas as espécies animais como tendo
sido impulsionada substancialmente por uma corrida arma-
mentista evolucionária de um bilhão de anos entre os parasi-
tas e seus hospedeiros (MURRAY et al., 2019; ZUK, 1992), com
apenas os vírus sendo responsáveis por 33% das adaptações
genéticas de mamíferos (ENARD et al., 2016). O resultado des-
sa corrida armamentista em humanos e demais vertebrados
é o sistema imunológico, composto por um conjunto de me-
canismos extraordinariamente complexos os quais derrotam
infecções de forma reativa quando elas ocorrem, possuindo a
capacidade de gerar bilhões de anticorpos únicos (FANNING
et al., 1996; MURRAY et al., 2019). Com a função de proteger o
hospedeiro de agentes químicos e de microrganismos, o siste-
ma imune fisiológico está presente desde bactérias a mamífe-
ros e tem sido um sucesso em termos evolutivos. Esse sistema
é capaz de responder adequadamente às mudanças que ocor-
rem no ambiente externo dos organismos (NICHOLSON, 2016;
SHAKHAR, 2019). É também evidente que todos os seres vivos
se mantêm interligados por uma gigante e complexa rede de
contato. Isso é ainda mais notório para as espécies que desen-
volveram o gregarismo (tendência a viver em grupos/bando).
Porém, apesar do surgimento e manutenção da existência de
grupos sociais terem trazido uma série de benefícios há tam-
bém, em especial, o custo do aumento de doenças transmissí-
veis (SHAKHAR, 2019).

65
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Ao longo de sua história evolutiva, os seres humanos, além


de outros animais, têm tido contato com diversos organismos
patogênicos como bactérias, vírus, fungos, protozoários e hel-
mintos (SCHALLER, 2011). As populações ancestrais que tiveram
proximidade com esses organismos desenvolveram, por pressão
seletiva, adaptações as quais diminuíram os custos impostos por
esses patógenos (SHELDON e VERHULST, 1996). Essas adapta-
ções nada mais são que os mecanismos fisiológicos de defesa
os quais detectam a presença de patógenos e, caso encontrados
dentro do corpo do indivíduo infectado, acionam respostas que,
em última instância, eliminam o organismo invasor (SCHALLER
e PARK, 2011).
Existem várias linhas de defesa que evoluíram para nos
proteger contra infecções, as quais interagem entre si e atuam de
forma colaborativa, mas também serial. Por exemplo, as barreiras
químicas e físicas bloqueiam a entrada de patógenos nos tecidos,
o que inclui a pele, que serve como uma barreira física, e as mem-
branas mucosas do estômago, que secretam suco gástrico e mo-
léculas as quais encapsulam e destroem muitos patógenos (SHA-
KHAR, 2019). Se os patógenos ultrapassarem a primeira linha de
defesa e invadirem o potencial hospedeiro, o sistema imunoló-
gico será ativado (KELLEY et al., 2005). Porém, se os patógenos
ultrapassarem a primeira linha de defesa e invadirem o corpo, o
sistema imunológico fisiológico será ativado. Este é o mecanismo
de defesa mais conhecido. As proteínas por ele utilizadas são co-
dificadas por mais de 7% do nosso genoma (KELLEY et al., 2005),
refletindo a forte pressão seletiva ocasionada por patógenos.
É importante destacar que a defesa imunológica fisiológica
é energeticamente custosa. Em primeiro lugar, ela consome re-
cursos calóricos que poderiam ser direcionados para outras ati-

66
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

vidades, como busca por parceiros, acasalamento e procura por


alimentos. Além disso, essa primeira linha de defesa produz algu-
mas reações a presença de invasores como fadiga, febre e outras
respostas fisiológicas debilitantes e fisiologicamente agressivas.
Em terceiro, a resposta fisiológica é meramente reativa, ou seja,
ela só é acionada quando o patógeno já está instalado no corpo
do hospedeiro (SCHALLER e PARK, 2011; SHELDON e VERHULST,
1996).
Devido a esses custos ligados à defesa imunológica contra
patógenos, Schaller e Duncan, em 2007, conceituaram um siste-
ma de defesa adicional e complementar – o sistema imunológico
comportamental (SIC). O SIC é tido como um sistema motiva-
cional que modifica o comportamento e, através de pistas per-
ceptuais, é capaz de induzir a redução de contato com agentes
infecciosos (Figura 1). É a partir dele que os indivíduos acionam
mecanismos emocionais e cognitivos que identificam ameaças
potenciais a partir de pistas, consequentemente interpretando-
-as e respondendo-as de maneira evasiva e se distanciando da
possível fonte contagiosa (SCHALLER e PARK, 2011).

67
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Figura 1: modelo ilustrativo sobre o mecanismo de ativação do sistema


imune comportamental e como ele reverbera sobre o sistema motivacional
(tomada de decisão).

Fonte: (Adaptado de Lateef, 2020)

O SIC foi observado em várias espécies animais, como em


girinos, chimpanzés e morcegos (HART, 1990; WISENDEN et al.,
2009). O tipo de defesa comportamental pode ser classifica-
do como defesa proativa (de caráter antecipatório) ou reativa.
A automedicação e o comportamento de nojo foram algumas
das maneiras de defesa comportamental reativas já observadas
(DANTZER e KELLEY, 2007; LARSON e DUNN, 2001; SINGER et
al., 2009). Porém, também há evidências de defesa comporta-
mental proativa como no caso de espécies de girinos que evitam
nadar próximos a girinos doentes (KIESECKER et al., 1999), fê-
meas de camundongo que apresentam aversão a odores de ca-
mundongos machos infectados por nematódeos (KAVALIERS e
COLWELL, 1995); chimpanzés que respondem agressivamente

68
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

a outros chimpanzés infectados pelo vírus causador da polio-


mielite (GOODALL, 1986); e morcegos que adotaram um padrão
solitário de hibernação como estratégia de distanciamento para
evitar vizinhos infectados por uma doença fúngica (LANGWIG et
al., 2012).
Nos humanos, as principais evidências que apoiam a pre-
sença do SIC se concentram em estudos que apontam na capaci-
dade de detectar doentes por meio de alguns indícios. Por exem-
plo, através do odor presente em peças de roupa, foi possível
detectar indivíduos que tiveram seu sistema imunológico ativa-
do, indicando que possivelmente essas pessoas tiveram seu or-
ganismo invadido por algum patógeno (OLSSON et al., 2014; RE-
GENBOGEN et al., 2017). Além disso, a aparência física e o modo
de caminhar foram percebidos como menos saudáveis (SUN-
DELIN et al., 2015) e desejáveis (REGENBOGEN et al., 2017). Há
também vários estudos que mostram que o SIC tem implicações
sociais referente a falsos positivos como no caso do preconceito,
xenofobia, categorias sociais e diferenças interculturais (FAULK-
NER et al., 2004a; MILLER e MANER, 2012; PARK, 2003; PARK et
al., 2007). Nos próximos parágrafos, exploraremos os impactos
do SIC no comportamento social (Figura 2) e consequentemente
à saúde humana.

69
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Figura 2: Imagem ilustrativa que representa as muitas maneiras pelas quais


a ameaça de infecção molda o comportamento social (Imagem adaptada).

Fonte: Bressan e Kramer (2021).

1. Impacto sobre o comportamento sexual

O SIC é capaz de afetar diretamente o comportamento se-


xual. Isso é explicado porque as relações sexuais podem ser a porta

70
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

de entrada para infecções sexualmente transmissíveis (IST). Como


os micróbios infecciosos são muito pequenos para serem vistos di-
retamente, o sistema imunológico comportamental foi moldado
para monitorar e responder a sinais que se correlacionam de forma
confiável com a presença de patógenos (SCHALLER e PARK, 2011).
Várias linhas de pesquisa têm se concentrado em compreender
melhor o que leva a comportamentos que evitam IST, incluindo o
uso de preservativo (ALBARRACÍN et al., 2001; BRYAN et al., 1996)
e medidas profiláticas pós-coito sexual, como tentativas de ras-
treio de ISTs (LORENC et al., 2011; MEVISSEN et al., 2011). Muitas
das pesquisas sobre prevenção de ISTs são conduzidas por teorias
sociais cognitivas, como a teoria do comportamento planejado
(AJZEN, 1985, 1991; GODIN e KOK, 1996) e o modelo de crença na
saúde (JANZ e BECKER, 1984; ROSENSTOCK, 1974).
A teoria do comportamento planejado (TPB) propõe que a
decisão de um indivíduo de se envolver em um comportamento
específico, como fazer ou não sexo, pode ser baseada em sua in-
tenção de se envolver nesse comportamento (AJZEN, 1985). Pres-
supõe-se que os fatores motivacionais estão sujeitos às intenções
internas que influenciam um comportamento; indicam o quão
as pessoas estão dispostas a tentar, de quanto esforço planejam
exercer para executar o comportamento. Como regra geral, quan-
to mais forte a intenção de se envolver em um comportamento,
mais provável deve ser seu desempenho (AJZEN, 1991). Já o mo-
delo de crença em saúde tenta prever o comportamento relacio-
nado à saúde em termos de certos padrões de crenças. A motiva-
ção de uma pessoa para assumir um comportamento de saúde
pode ser dividida em três categorias: percepções individuais,
fatores modificadores e probabilidade de ação. As percepções
individuais são fatores que afetam a percepção da doença e da

71
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

importância da saúde para o indivíduo, a suscetibilidade perce-


bida e a gravidade percebida. Os fatores de modificação incluem
variáveis demográficas, ameaça percebida e pistas para ação. A
probabilidade de ação são os benefícios percebidos menos as
barreiras percebidas de tomar a ação de saúde recomendada. A
combinação desses fatores causa uma resposta que muitas ve-
zes se manifesta na probabilidade desse comportamento ocorrer
(JANZ e BECKER, 1984; ROSENSTOCK e STRECHER, 1988). Esses
modelos propõem que as crenças pessoais (por exemplo, aquelas
relacionadas à avaliação de risco e habilidades pessoais) são os
principais determinantes do comportamento de saúde. A suposi-
ção de que as pessoas têm acesso consciente a esses fatores psico-
lógicos anteriormente citados que influenciam o comportamento
de saúde está subentendida em tais modelos. Embora essas abor-
dagens para o comportamento de proteção à saúde tenham sido
úteis na previsão do comportamento e na identificação de alvos
para intervenções, uma série de processos motivacionais adicio-
nais e menos examinados (o próprio SIC) também podem estar
associados ao comportamento de saúde (GRUIJTERS et al., 2016).
Mas como o SIC impacta as relações sexuais? Um estudo
conduzido por Oaten em 2019 observou que a excitação sexual di-
minui a aversão a ISTs em potencial e aumenta a disposição para
fazer sexo. Além disso, foi identificado que indivíduos que apre-
sentaram tolerância maior ao nojo estiveram positivamente pre-
dispostos a se envolverem em relações sexuais. Obviamente, há
muitos benefícios para o comportamento sexual, como a procria-
ção e a experiência de prazer e intimidade - benefícios que geram
fortes motivações para envolvimento em comportamento sexual
(HILL e PRESTON, 1996). Na verdade, a motivação sexual e a evi-
tação a patógenos estão provavelmente relacionados de forma

72
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

antagônica entre si. Ou seja, estados objetivos relevantes, como


evitar patógenos e o desejo de experimentar prazer sexual, podem
atuar como forças psicológicas opostas ao motivar o comporta-
mento. Portanto, o estudo supracitado evidencia o cabo de guerra
entre o sistema de motivação sexual e o SIC, ambos modulando,
em oposição, o controle de tomada de decisão sexual. Da mesma
forma, indivíduos do sexo masculino demonstraram redução nos
julgamentos negativos acerca do risco de contaminação por ISTs
graças à excitação sexual (BLANTON e GERRARD, 1997). Poste-
riormente, estudos confirmaram que o comportamento de risco
assumido tanto por homens quanto por mulheres é intensificado
pelo grau de excitação sexual e, em consequência, os sentimentos
de autocontrole são reduzidos (SKAKOON-SPARLING e CRAMER,
2016; SKAKOON-SPARLING; CRAMER; SHUPER, 2016).
Para além da excitação sexual anteriormente citada, a
atratividade física também é um fator importante. Independen-
temente da orientação sexual e da identidade de gênero, indi-
víduos apresentam maior disposição em fazer sexo desprotegi-
do com um parceiro atraente em relação a um menos atraente
(EPSTEIN et al., 2007; SHUPER e FISHER, 2008). Baseado nisso, é
importante se perguntar: se um estado de excitação sexual e um
parceiro potencial atraente aumentam a probabilidade de tomar
uma decisão sexual arriscada, como fazer sexo sem proteção, por
que isso ocorre? Uma hipótese plausível pode ser a emoção de
nojo. Quando a excitação sexual é alta, as respostas de nojo re-
lacionadas à ameaça do patógeno podem diminuir (BORG e DE
JONG, 2012). Com efeito, indivíduos com nível de evitação de
patógenos mais elevados são menos inclinados a fazer sexo com
múltiplos parceiros, o que é um fator-chave para adquirir uma
doença infecciosa (JOFFE et al., 1992). As pessoas com um SIC

73
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

mais ativo podem julgar os custos do sexo casual como maiores


que os benefícios, portanto, fariam menos sexo casual e perce-
beriam uma maior necessidade de manterem um comportamen-
to de proteção à saúde (por exemplo, fazerem teste de HIV após
sexo desprotegido). Portanto, uma motivação básica para evitar
patógenos pode influenciar a atitude e a intenção em relação ao
comportamento de proteção à saúde (GRUIJTERS et al., 2016).
A pista sensorial olfativa é uma forte preditora na iden-
tificação de possíveis riscos de infecção. Tybur e colaboradores
(2011) convidaram os participantes para um laboratório que foi
pulverizado com um odor semelhante aos associados a fontes de
patógenos. Os autores levantaram a hipótese de que esta pista
olfativa para patógenos motivaria inconscientemente o compor-
tamento preventivo, aumentando a intenção dos participantes
de usar, comprar e discutir o uso de preservativos em futuros en-
contros sexuais. Os resultados foram consistentes com esta hipó-
tese: os participantes que foram expostos a patógenos relataram
maiores intenções de uso de preservativo do que os participantes
em uma condição controle. Outra evidência foi apresentada por
Meertens e seus colaboradores em 2013: foi demonstrado que os
participantes os quais se imaginaram acordando em um quarto
sujo depois de um encontro sexual passaram a se considerar mais
suscetíveis a ISTs em comparação aos participantes que se imagi-
naram acordando em um ambiente limpo depois de uma transa à
noite. Os participantes que idealizaram a sala suja também con-
sideraram as chances de se envolverem em sexo casual inseguro
no futuro significativamente menores.

74
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

2. Aversão a doenças e ideologia política


A orientação política é uma forma consciente de pensa-
mento presente em um indivíduo ou em um grupo, incluindo
uma ideologia (por exemplo, esquerda ou direita) e/ou preferên-
cia partidária. Os cientistas sociais normalmente se debruçam
sobre o que pode influenciar a orientação política. Já os psicó-
logos questionam quais fatores inconscientes podem moldar a
nossa opinião política. Nesse sentido, os sistemas que abordam
traços neurofisiológicos, como o SIC, são cruciais para a com-
preensão dessas preferências (HOLMES, 2016). O SIC pode in-
duzir as atitudes políticas adotadas pelas pessoas, em especial
aquelas que reduzem a probabilidade de contato com patógenos,
reais ou fictícios, mesmo que esses indivíduos não tenham a mí-
nima consciência dos mecanismos psicológicos que podem estar
por trás de tais inclinações (BILLINGSLEY et al., 2018).
A atitude favorável dos governos a respeito de uma maior
abertura a entrada de imigrantes é um notório exemplo de polí-
tica vista com considerável resistência por aqueles que se consi-
deram mais conservadores no campo político. A ciência política
demonstra que são duas as razões que contribuem para a oposi-
ção à entrada de um indivíduo em um território que não seja o de
origem: (a) o desejo de conservar as normas e valores culturais
vigentes, especialmente por aqueles indivíduos com menor grau
de instrução e menos abertos a visões de mundo progressistas
(WRIGHT et al., 2012) e (b) preocupações com a competição eco-
nômica e a instabilidade no emprego, com indivíduos de baixa
renda e baixa qualificação sendo que mais se opõem (HAIN-
MUELLER e HISCOX, 2010).
Mas qual razão psicológica subjacente pode influenciar ta-
manha repulsa a essa política? Pense bem: você já sabe que o SIC

75
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

é um sistema adaptativo comportamental que previne o contato


contra possíveis fontes de infecção. Agora imagine a seguinte si-
tuação: seria desastroso para nossos ancestrais se aproximarem
indiscriminadamente de tudo e todos que estavam presentes no
ambiente, pois não se sabia o risco que aquela interação poderia
ocasionar, porém, igualmente desvantajoso seria evitar a forma-
ção de novos vínculos potencialmente benéficos. Com base nisso,
é razoável pensar que os indivíduos deveriam negociar o custo e
a probabilidade de serem infectados com o custo e a probabilida-
de de renunciar à cooperação (AARØE et al., 2016; TYBUR e LIE-
BERMAN, 2016). Essas perdas e possibilidades mudam de acordo
com o contexto e também de pessoa para pessoa (AL-SHAWAF
e LEWIS, 2013; FESSLER et al., 2005; FESSLER e NAVARRETE,
2003). Desse modo, o SIC possui uma flexibilidade que ajusta sua
resposta à ameaça representada pelo meio ambiente (CURTIS et
al., 2011) e à capacidade do indivíduo lidar com isso (SCHALLER
e DUNCAN, 2007).
Buscando elucidar os fatores acerca da rejeição às políti-
cas de imigração, a psicologia evolucionista, através do SIC, vem
reunindo um corpo de evidências convergentes de que a oposi-
ção à imigração também surge de inclinações psicológicas mais
profundas. Por esse viés, os pesquisadores propõem que os imi-
grantes podem desencadear reações de repulsa que motivam
sentimentos anti-imigração (FAULKNER et al., 2004b). A pri-
meira possibilidade é a de que os humanos desenvolveram um
mecanismo psicológico adaptativo que provoca hostilidade con-
tra grupos externos desconhecidos, porque indivíduos de outros
grupos e regiões carregaram diferentes patógenos potencialmen-
te perigosos durante sua história evolutiva (FINCHER e THOR-
NHILL, 2012). A segunda hipótese é que a tendência de perceber

76
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

outros indivíduos como vetores de patógenos é um subproduto,


em vez de predisposição adaptativa, de uma tendência de hiper-
vigilância contra tudo e qualquer coisa que pareça desconhecida
(AARØE et al., 2016). Por exemplo, os indivíduos tendem a tratar
muitos desvios físicos do fenótipo médio no interior de seu grupo
interno como um sinal de risco potencial de patógenos, especial-
mente desvios que são semelhantes aos sintomas reais de doen-
ça, como erupções cutâneas, inchaço e descoloração da pele. A
hipervigilância pode até ir além de sinais de anormalidade física.
Ela também pode ser ativada por práticas comportamentais des-
conhecidas sugestivas de um risco de patógenos (por exemplo,
má higiene ou hábitos alimentares incomuns) (FESSLER e NA-
VARRETE, 2003).
Tanto diferenças físicas quanto culturais podem ser men-
talmente interpretadas, a partir do SIC como pistas que indicam
presença de patógenos, causando estranhamento e fazendo com
que as pessoas evitem o contato com indivíduos etnicamente di-
ferentes, consequentemente despertando a preferência por po-
líticas de imigração mais restritivas. É importante salientar que
os indivíduos com maior sensibilidade imunológica comporta-
mental são mais inclinados a reagir defensivamente a fontes per-
cebidas de patógenos, incluindo imigrantes (FAULKNER et al.,
2004a). Esta área de pesquisa tem implicações importantes para
descobrir o que motiva as crenças políticas das pessoas, mas tem
recebido relativamente pouca atenção até agora. Eventos políti-
cos e sociais atuais são lembretes de que é imperativo continuar
a descobrir o que desperta as pessoas a tomarem certas decisões
dessa natureza.

77
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

3. Estereótipo e preconceito
Há dentro da hipótese do SIC uma abordagem sociofun-
cional que tenta explicar o preconceito baseado na ameaça por
patógenos (COTTRELL e NEUBERG, 2005). Eles sugerem que o
preconceito intergrupal se caracteriza por reações afetivas espe-
cíficas que são evocadas em resposta à percepção de ameaças (à
saúde grupal, liberdade individual, integridade física e recursos
econômicos) advindas de grupos externos que supostamente
colocam em risco a vida em grupo. Em outras palavras, a sensi-
bilidade ao nojo, que evoluiu como proteção contra ameaças de
patógenos, também desencadeia reações a pistas que não são
visceralmente nojentas, como pessoas com características raras
ou que fogem aos padrões majoritariamente aceitos e, portanto,
podem explicar o preconceito em relação aos membros desses
grupos. No contexto das reações emocionais, o preconceito refe-
re-se a crenças negativas sobre os outros, que podem ou não ser
baseadas em dados da realidade (ALLPORT, 1954).
Ameaças percebidas à segurança intergrupal predizem o
medo e a evitação como estratégia de proteção; quando relati-
vas à saúde do grupo, predizem reações de nojo para minimizar o
risco de contaminação; quando interpretadas como direcionadas
aos valores internos de um grupo, a resposta se traduz em repulsa
moral e em tentativas de manter os sistemas de valores dentro do
grupo por meio da limitação de influências do grupo tido como
perigoso; e obstáculos percebidos em relação ao funcionamento
dentro do grupo (como ameaças aos recursos econômicos, pro-
priedade, liberdades e direitos individuais, e cooperação social)
predizem respostas comportamentais de raiva para recuperar os
recursos e restaurar a dinâmica tradicional do grupo que se sente
ameaçado (COTTRELL e NEUBERG, 2005).

78
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Um exemplo clássico de uma forma de preconceito ainda


muito presente ao redor do mundo é a rejeição a pessoas não he-
terossexuais (especialmente gays e lésbicas). Os comportamen-
tos negativos dirigidos a homossexuais variam de agressão física
violenta a votar contra o casamento gay (FILIP-CRAWFORD e
NEUBERG, 2016). Estereótipos, preconceitos e comportamentos
discriminatórios dirigidos às pessoas com base na orientação se-
xual variam amplamente. As perspectivas existentes sobre o pre-
conceito sexual defendem diferentes causas subjacentes, às ve-
zes fornecem evidências díspares ou conflitantes para suas raízes
e, normalmente, não levam em conta variações observadas nos
estudos (PIRLOTT e COOK, 2018).
Um número considerável de estudos demonstrou relação
entre a sensação de nojo de pessoas heterossexuais e preconcei-
to em relação aos gays (ou seja, homofobia) (KISS; MORRISON;
MORRISON, 2020). A literatura científica a respeito do assunto
ainda é incipiente, com poucos estudos buscando explicar por
que ocorrem sentimentos de nojo de indivíduos heterossexuais
para com gays, lésbicas e bissexuais. No entanto, uma revisão da
literatura existente sobre homonegatividade (preconceito e dis-
criminação dirigidos a indivíduos considerados gays ou lésbicas)
(MORRISON e MORRISON, 2003) sugere que certas crenças am-
plamente aceitas podem ser responsáveis pela capacidade dos
membros da comunidade LGBT+ de desencadear um estado afe-
tivo negativo em pessoas que não se sentem pertencentes a essas
minorias sexuais. São elas: (1) estigma de “sodomia”; (2) homens
homossexuais como vetores de doenças; (3) homens gays como
desestabilizadores de valores heteronormativos; e (4) rejeição
(percebida) dos gays em relação a práticas religiosas tradicionais
(KISS et al., 2020).

79
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

A repugnância de cunho sexual, moral e relativa ao medo


de contaminação são preocupações significativas para a com-
preensão de comportamentos homonegativos. As percepções de
anormalidade são um indicativo para a presença de patógenos
(SCHALLER e NEUBERG, 2012). O contato sexual com indivíduos
do mesmo sexo é inerentemente não reprodutivo; assim, a ideia
de tal contato pode provocar repulsa sexual, particularmente em
resposta a percepções de interesse sexual indesejado. Pirlott e
Neuberg (2014) demonstraram que homens e mulheres heteros-
sexuais percebem gays e lésbicas, respectivamente, como amea-
ças de interesse sexual indesejado, as quais predizem atitudes
homofóbicas.
Como a pressão seletiva desencadeou a repulsa como
uma adaptação filogenética, a evitação de patógenos continua
a desempenhar um papel fundamental na psicologia de enfren-
tamento a contaminantes e contágios. Portanto, compreen-
der a psicologia de rejeição a patógenos é útil para elucidar os
mecanismos que provocam a reação de nojo. Nesse sentido, é
importante salientar que gays e lésbicas não são o único grupo
que provoca reações de repulsa. Pesquisas indicam que o nojo
é uma reação comum contra portadores de obesidade (LIEBER-
MAN et al., 2012), pessoas com deficiências físicas, anomalias
faciais e outras anormalidades corporais (FAULKNER et al.,
2004a), como também contra indivíduos que não compar-
tilham as mesmas crenças religiosas hegemônicas, como no
caso dos ateus (COOK et al., 2015), entre outros. Dessa forma,
entende-se que os novos modelos evolutivos baseados na tese
do sistema imunológico comportamental podem impulsionar
uma melhor compreensão da diversidade de comportamentos
homofóbicos e fatores pessoais e situacionais que induzem e

80
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

moderam sua ocorrência, bem como elucidam outras formas de


preconceito presentes em nossa sociedade, ajudando a romper
crenças equivocadas sobre indivíduos que não fazem parte do
grupo hegemônico.

4. Qual a relação entre o SIC e a pandemia da


COVID-19?
No final de 2019, o mundo inteiro foi pego de surpresa por
uma doença que redefiniu os padrões da sociabilidade humana.
Quase 2 anos depois, a COVID-19 ainda representa uma séria
ameaça à saúde global. O vírus SARS-CoV-2 se espalhou tão ra-
pidamente que, em março de 2020, a Organização Mundial de
Saúde decretou status de pandemia ao surto (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2020). A fim de diminuir a transmissão do ví-
rus, os governos e as organizações de saúde recomendaram uma
série de comportamentos preventivos, como aumento de fre-
quência da lavagem de mãos, evitar tocar o rosto, aumentar a fre-
quência da limpeza e desinfecção de superfícies, distanciamento
social para evitar contato muito próximo com outras pessoas e
utilização de máscaras (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND
PREVENTION, 2020; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020).
Dessa maneira, apesar do sucesso da produção de vacinas e
sua respectiva aplicação, a pandemia impôs a todos mudanças de
comportamento que ainda persistem como um possível meio de
reduzir a transmissão de doenças. Nesse sentido, diferenças indi-
viduais na reatividade do SIC (aversão a germes, sensibilidade a
repulsa por patógenos) estão associadas à preocupação com CO-
VID-19 e ao envolvimento em comportamentos de saúde preventi-
vos recomendados anteriormente destacados (SHOOK et al., 2020).

81
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Embora as pessoas encontrem patógenos diariamente, a


sua ameaça é realçada por situações como uma temporada de
gripe ou resfriado, ou no caso de uma epidemia ou doença de
propagação global. Para desacelerar o surto de novas doenças
infecciosas como a COVID-19, é crucial envolver-se em compor-
tamentos preventivos, como distanciamento social e práticas rí-
gidas de higiene pessoal. No entanto, muitos menosprezam essas
recomendações nos estágios iniciais e críticos porque os sinais
de doença não são imediatamente evidentes. Portanto, o SIC é
fundamental para compreender os fatores que predizem as per-
cepções da ameaça de pandemia e a importância dos comporta-
mentos preventivos. Um desses fatores pode ser a evitação de pa-
tógenos característicos das pessoas (MAKHANOVA e SHEPHERD,
2020).
Os indivíduos variam quanto à sensibilidade ao nojo, ou
na facilidade com que um fica enojado e também na intensidade
de sua resposta de nojo (HAIDT et al., 1994; TYBUR et al., 2009).
Aqueles que manifestam maior reatividade do SIC devem ser
mais sensíveis às ameaças de patógenos e tendem a evitar mais
situações ou coisas que as exponham a ameaças potenciais. Como
tal, os indivíduos com maior sensibilidade ao nojo e aversão aos
germes devem estar mais preocupados com a pandemia de CO-
VID-19 e mais propensos a adotar comportamentos preventivos
de saúde para evitar a doença. Algumas evidências dão suporte a
essa proposição, de modo que a maior reatividade do SIC foi as-
sociada a intenções comportamentais e esforços anteriores para
seguir as diretrizes de saúde do COVID-19 (DÍAZ e COVA, 2021).
Em dois estudos conduzidos por Makhanova e Sheperd em
2020, o traço relativo à evitação de patógenos foi associado a rea-
ções mais fortes a uma ameaça real de patógenos e a uma maior

82
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

predisposição a se engajarem em comportamento preventivos


que protegem o indivíduo do contágio e diminuem a propagação
do vírus. No estudo 1, a vulnerabilidade percebida à doença foi
positivamente associada a reações mais fortes à ameaça de CO-
VID-19, incluindo aumento da ansiedade, percepções de que as
pessoas devem alterar seu comportamento, bem como a impor-
tância relatada de que os indivíduos tomem atitudes cuidadosas
e de distanciamento social. No estudo 2, a vulnerabilidade per-
cebida à doença foi mais uma vez correlacionada ao aumento da
ansiedade, bem como a um comportamento mais precavido ao
fazer compras no mercado, como diminuição a idas à loja e menos
interações face a face. Embora as duas subescalas utilizadas nes-
ses estudos de vulnerabilidade à ameaça percebida (aversão ao
germe e infectabilidade percebida) fossem frequentemente pre-
ditores paralelos, surgiram várias diferenças entre as subescalas.
A aversão aos germes pode estar mais associada a comportamen-
tos, enquanto a infectabilidade percebida pode ser relacionada à
vigilância. Esses dados são consistentes com pesquisas anterio-
res, sugerindo que a psicologia de prevenção de patógenos das
pessoas reage às ameaças reais de doenças (BEALL et al., 2016).
O SIC pode influenciar até mesmo nas intenções de vacina-
ção. Três estudos investigaram e demonstraram que em contras-
te com pesquisas anteriores, aqueles com maior aversão aos ger-
mes durante a pandemia perceberam que as vacinas eram mais
seguras e tinham maiores intenções de aceitá-la. Indivíduos que
se consideravam mais suscetíveis à doença mostraram-se um
pouco mais dispostos a aceitar a vacinação (KARLSSON et al.,
2021). Entretanto, paradoxalmente, vários estudos mostram que
os indivíduos com maior sensibilidade à repulsa por patógenos e
mais aversão a germes têm atitudes mais negativas com relação

83
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

à vacina (CLAY, 2017; CLIFFORD e WENDELL, 2016; LUZ et al.,


2019; REUBEN et al., 2020).
Maior sensibilidade à repulsa e aversão a germes prediz
positivamente atitudes mais negativas em relação a vacinação,
pois as vacinas são administradas de maneiras que, por si mes-
mas, indicam presença de contaminantes ao perfurarem a pele
ou pressupõem a inalação ou ingestão de substâncias desco-
nhecidas (CLAY, 2017). Para que essa explicação tenha suporte,
os indivíduos que são mais avessos a patógenos devem reagir à
vacinação mais repulsivamente pois têm a percepção de que isso
representa uma contaminação em potencial. Essa reação, por
sua vez, levaria a atitudes mais negativas em relação às vacinas.
Tal noção deriva de evidências que demonstram que indivíduos
com maior aversão a agulhas e sangue têm atitudes mais desfa-
voráveis em relação à segurança e eficácia das vacinas (HORNSEY
et al., 2018). Indivíduos com medo de injeção também se mos-
traram menos dispostos a aceitar a vacinação contra COVID-19
(FREEMAN et al., 2021). Além disso, pessoas pertencentes a mo-
vimentos antivacina comumente as descrevem como “não natu-
rais”, contendo substâncias tóxicas e causando doenças (KATA,
2010; MORAN et al., 2016). As preocupações sobre a segurança da
vacina estão entre as razões mais comuns para a dificuldade em
aceitar a vacinação contra a COVID-19 (KARLSSON et al., 2021;
NEUMANN-BÖHME et al., 2020; TAYLOR et al., 2020). Nessa
perspectiva, uma maior aversão a germes poderia, de modo con-
traintuitivo, diminuir a aceitação e o engajamento das pessoas
em aderirem à vacinação.

84
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

5. Considerações finais
O sistema imunológico comportamental é uma recente
concepção utilizada para explicar e descrever comportamentos
antipatogênicos (sensibilidade, aversão/repulsa e nojo) que fo-
ram selecionados em nossa história evolutiva, uma vez que re-
duzem o risco de contaminação por agentes infecciosos. Esse
sistema possivelmente surgiu porque foi capaz de aumentar o
sucesso reprodutivo (aptidão). O sistema imunológico compor-
tamental é capaz de oferecer explicações plausíveis acerca da re-
lação entre sociabilidade e doenças infecciosas sobretudo acerca
da imunidade, personalidade, comportamento sexual, diferenças
culturais, moralidade, visão política, estereótipos e preconceitos,
teorias conspiratórias e uma série de outros assuntos de interes-
se social não abordados nesse capítulo. A integração de materiais
tão diversos em uma narrativa coerente tem o potencial de pro-
duzir novas compreensões.
Os processos evolutivos de prevenção de patógenos podem
fornecer um novo ângulo para o entendimento dos comporta-
mentos de proteção à saúde e podem complementar as aborda-
gens existentes da psicologia da saúde na previsão e mudança
do comportamento em saúde. Para melhorar ainda mais os me-
canismos de promoção à saúde, compreender quando e como a
motivação para evitar patógenos afeta o comportamento profi-
lático pode contribuir para o desenvolvimento de intervenções
mais eficazes. Enfim, de forma mais geral, a exploração adicional
de sistemas motivacionais fundamentais, como aqueles perten-
centes à prevenção de patógenos, pode fornecer táticas novas e
promissoras para aumentar a eficácia das intervenções, além de
promover um ambiente social mais coeso, pacífico e tolerante.

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98
Cap. 4
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

As Origens da Partilha de Recursos


Entre Crianças em Contextos
Colaborativos
Natália Bezerra Dutra
& Anne Kelly Costa Morais

A cooperação é frequentemente abordada como uma habi-


lidade geral e estudada através de uma variedade de ambientes e
técnicas (WARNEKEN, 2018). Entretanto, ela se divide em vários
tipos, os quais respondem a diferentes contextos. Este capítulo
propõe apresentar e discutir a literatura recente sobre a partilha
de recursos entre crianças à luz da hipótese de interdependência
de Tomasello e colaboradores (TOMASELLO et al., 2012). Coloca-
mos isso em contexto dentro da literatura tradicional de Psico-
logia do Desenvolvimento e discutimos a influência de variáveis
moderadoras potenciais sobre a partilha de recursos. Especifica-
mente, focamos na tomada de decisão de partilha em contextos
colaborativos. Por fim, argumentamos que os experimentos com
crianças devem fazer sentido no contexto no qual as ações das
crianças acontecem. Além disso, defendemos a inclusão de mais
destas variáveis quando analisamos o desenvolvimento da parti-
lha após a colaboração.
Os estudos de partilha (também chamada de doação e
alocação) são numerosos em psicologia do desenvolvimento e

100
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

envolvem uma variedade de métodos e teorias experimentais


(EISENBERG et al., 2006; GUMMERUM et al., 2008; SABATO e
KOGUT, 2020). Definimos partilha como qualquer decisão to-
mada por um ou mais indivíduos em relação à distribuição de
quaisquer itens entre eles e outros. Ou seja, por esta definição,
excluímos quaisquer estudos que envolvam decisões de crianças
a respeito da divisão de recursos entre outros, nos quais a criança
atua como um juiz externo. Portanto, consideramos apenas deci-
sões compartilhadas das quais as crianças possam se beneficiar
diretamente. Finalmente, compartilhar pode se referir ao uso co-
mum (por exemplo, compartilhar um brinquedo) ou a uma divi-
são clara (por exemplo, alocação ou doação de adesivos).

1. A hipótese de interdependência

Os seres humanos se comunicam e se coordenam para


alcançar objetivos comuns, muitas vezes por meio de acordos
mútuos sobre como as pessoas devem colaborar e, em última
instância, compartilhar recursos. A hipótese de interdependên-
cia afirma que as habilidades de partilha humana evoluíram no
contexto de colaboração obrigatória em atividades de coleta,
caça e divisão de comida (TOMASELLO et al., 2012). Portanto,
a colaboração foi necessária para a aquisição de recursos, o que
leva ao problema de como esses recursos seriam compartilhados
entre os parceiros. Esta hipótese argumenta que entre os primei-
ros hominídeos, aqueles que eram melhores que outros primatas
em colaborar com os outros e toleravam a proximidade com os
outros perto dos alimentos, se saíram melhor em desafios am-
bientais específicos que ocorreram há cerca de 2 milhões de anos
(TOMASELLO e GONZALEZ-CABRERA, 2017).

101
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

A tolerância de outros em adquirir uma parte dos recursos


relevantes pode ter ajudado a desenvolver normas sociais para
regular a aquisição de recursos no grupo. Neste contexto, é pre-
visto que os seres humanos devem ser mais sensíveis às regras de
justiça quando os recursos são adquiridos em colaboração e não
de forma independente. Além disso, eles podem mostrar disposi-
ções anteriores para compartilhar recursos de acordo com estas
regras. Em suporte a esta predição, crianças de três anos de idade
são capazes de compartilhar recursos igualmente, mesmo quan-
do têm a oportunidade de acumulá-los, mas somente quando
trabalham em conjunto para obter as recompensas (HAMANN et
al., 2011; WARNEKEN et al., 2010; HAMANN et al., 2014). Portan-
to, os seres humanos parecem desenvolver um senso de justiça
em conjunto com suas habilidades de colaboração (WARNEKEN,
2018).
Neste capítulo, argumentamos que, dado o contexto no
qual as habilidades de colaboração provavelmente evoluíram, as
crianças pequenas serão sensíveis a outras demandas ambien-
tais, complementares às interações sociais, tais como os recur-
sos disponíveis, os custos para obter esses recursos e o ambiente
social e cultural. Além disso, as diferenças individuais também
podem explicar o desempenho das crianças nas interações co-
laborativas, determinando quem receberá mais recursos e como
estes serão distribuídos. Apresentamos a seguir uma visão geral
das evidências sobre a influência das variáveis moderadoras nas
decisões de compartilhamento das crianças e discutimos a con-
tribuição destas evidências para uma teoria evolutiva do desen-
volvimento da cooperação humana.

102
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

2. Partilha após a colaboração em crianças

Crianças de três a cinco anos de idade levam em considera-


ção aspectos do contexto em que decisões de partilhar ocorrem.
Um destes aspectos é se há colaboração ou não antes da partilha.
Por exemplo, alguns estudos encontraram que crianças nessa fai-
xa etária levam em conta o contexto ao tomar decisões sobre a
distribuição de recursos entre dois personagens de uma história
que trabalharam juntos. Elas são capazes de restaurar a equidade
entre parceiros e levar em conta o esforço, dando mais recursos à
criança que trabalhou mais do que a outra, em comparação com
situações nas quais as crianças realizaram uma quantidade igual
de trabalho ou nenhum trabalho anterior (BAUMARD et al., 2012;
CHAI e HE, 2017; SCHÄFER et al., 2015).
Este comportamento, entretanto, parece ser sensível à
riqueza dos destinatários e modulado por normas culturais.
Crianças chinesas de três e cinco anos dão recursos iguais a
crianças pobres e ricas em tarefas colaborativas, enquanto
crianças de três anos dão mais para as crianças pobres em con-
textos não colaborativos (CHAI e HE, 2017). O fato de as crian-
ças mais velhas terem levado em conta a justiça independente-
mente de colaboração prévia ou não está em desacordo com as
descobertas anteriores com crianças alemãs obtidas por Paulus
(2014), nas quais crianças de cinco anos em um ambiente expe-
rimental semelhante dão mais recursos para as crianças pobres,
mesmo em tarefas colaborativas. Os autores interpretam suas
descobertas através da diferença cultural entre a China, uma
sociedade coletivista, e a Alemanha, uma sociedade individua-
lista. Nesta última, as crianças podem procurar compensar a
desigualdade, enquanto as crianças chinesas entendem que to-

103
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

dos devem receber a mesma quantia de acordo com sua contri-


buição, independentemente da riqueza.
Em outra série de estudos, foi observado que crianças de
três anos de idade dividem recursos igualmente cerca de 75% do
tempo, depois de puxar uma tábua juntas para obtê-los. Isso foi
observado quando os recursos foram agrupados e quando uma
criança terminou com mais recursos do que a outra (HAMANN et
al., 2011; MELIS et al., 2013; ULBER et al., 2015; WARNEKEN et al.,
2011), o que acontece com mais frequência do que depois de um
trabalho paralelo (no qual as crianças puxam a tábua lado a lado,
mas o esforço não é conjunto) ou quando não houve nenhum es-
forço para obter os recursos. Entretanto, é preciso interpretar tais
resultados e desenvolver outros estudos que investiguem varia-
ções na configuração da tarefa (por exemplo, número e acesso a
recursos disponíveis, tipos de papéis sociais) ou nas caracterís-
ticas das crianças (por exemplo, riqueza, classe social, cultura),
antes de tirar conclusões sobre o comportamento observado nes-
tes experimentos.
As evidências sobre o comportamento compartilhado em
crianças geralmente vêm de dois grupos de estudos: o primeiro
envolve decisões de terceiros com relação a cenários hipotéticos,
nos quais as crianças atuam como juízes externos (e que não são
o foco deste capítulo, como dito anteriormente). O segundo en-
volve decisões em primeira pessoa relativas à doação ou distri-
buição de recursos, entre a criança e outros (EISENBERG e MUS-
SEN, 1989). Quando se trata do papel da colaboração antes do
compartilhamento, os pesquisadores estão interessados em sa-
ber se, e em caso afirmativo, como as crianças irão julgar o mérito
ou o esforço dos envolvidos (DAMON, 1977). Então, as crianças
monopolizam os recursos, os compartilham igualmente, os com-

104
partilham de acordo com a contribuição de cada um, ou compar-
tilham de acordo com outro critério?
Em um estudo clássico, Damon e Killen (1982) investi-
garam se a discussão em grupo levava à melhoria do raciocínio
moral das crianças. A elas, eram contadas histórias nas quais
um grupo de colegas trabalhava em paralelo em uma tarefa (por
exemplo, fazendo colares de contas ou pinturas) e recebia uma
quantidade de recompensas depois. Em seguida, foram feitas
algumas perguntas às crianças a respeito da distribuição dessas
recompensas. Elas foram influenciadas pela interação com seus
pares, mas somente aquelas que se engajaram com outras crian-
ças, aceitando as opiniões dos outros ou colaborando na discus-
são. As crianças que discordavam ou se recusaram a se envolver
com as opiniões dos outros tinham taxas mais baixas de mudan-
ça de opinião.
As decisões das crianças e a interação com os outros podem
ser diferentes quando elas enfrentam uma situação real, se com-
portando estrategicamente desde cedo, em relação à sua escolha
de ações cooperativas versus competitivas nos jogos, quando
tomam decisões relativas a recursos limitados (MADSEN, 1967;
KAGAN e MADSEN, 1971, 1972; MADSEN, 1971; MADSEN e YI,
1975; CHARLESWORTH e LA FRENIERE, 1983; CHARLESWORTH,
1996). Charlesworth e La Freniere (1983) apresentaram a crian-
ças de quatro anos um brinquedo chamado Movie-Viewer, que
era basicamente uma câmera operada à mão que permitia a elas
assistir a um pequeno filme quando olhavam através de uma en-
trada em uma das extremidades. Eles adaptaram este brinquedo
para torná-lo um jogo cooperativo, no qual as crianças precisa-
vam recrutar parceiros para desempenhar dois papéis (operar
um interruptor de luz e acionar as engrenagens) enquanto se
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

assistia ao filme. A tarefa também exigia que uma delas ficasse


como espectador, esperando sua vez; por isso, a tarefa coope-
rativa também era competitiva. Eles descobriram que algumas
crianças tinham mais tempo de visualização do que outras, e as
com mais tempo de visualização eram mais dominantes e ativas
na tarefa, coordenando com as outras e dando ordens. Assim, a
cooperação pode ser uma estratégia para competir por recursos,
e crianças pequenas têm as habilidades necessárias para coorde-
nar seus interesses e os do grupo, mas com algumas dominando
seus grupos.
Crianças em idade pré-escolar e escolar às vezes compe-
tem em tarefas de cooperação quando enfrentam um potencial
conflito de interesses, mesmo que a competição leve ao fracas-
so. Considere, por exemplo, uma tarefa na qual duas crianças
estão nos lados opostos de uma prancha que possui cordas em
suas extremidades. Em cima da prancha há uma bolinha e so-
mente é possível ter acesso a usando uma das cordas para puxar
a prancha para perto de si. Entretanto, se as crianças puxarem
suas cordas ao mesmo tempo, a prancha irá se dividir e a bo-
linha irá cair em um espaço inacessível. Para obter a bolinha
é necessário que as crianças cooperem e decidam juntas para
qual entrada elas irão mover a prancha (MADSEN, 1971). Em-
bora a competição fosse sempre malsucedida nessa tarefa, se
observou que as crianças norte-americanas em geral são mais
competitivas e gostam mais de conflitos do que as crianças me-
xicanas, com crianças americano-mexicanas mostrando um
comportamento intermediário entre cooperação e competição
(KAGAN e MADSEN, 1972). Além disso, essa diferença aumen-
tou com a idade. Entretanto, houve também evidências de ou-
tras culturas; crianças da Coreia do Sul, África do Sul, Índia e

106
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Malásia comportaram-se de forma semelhante em relação à


concorrência (MADSEN, 1967, 1971; MADSEN e YI, 1975).

3. Quais variáveis moderam a partilha em


ambientes colaborativos?
Variáveis moderadoras, tais como diferenças individuais,
condição socioeconômica e cultura são frequentemente conside-
radas secundárias em explicações evolutivas do comportamento
(KLINE et al., 2018). Embora a busca de mecanismos gerais e ex-
plicações para a evolução e desenvolvimento do comportamento
seja relevante para uma teoria geral do comportamento humano,
parece problemático ignorar a influência dessas outras variáveis,
especialmente quando a maioria das pesquisas de desenvolvi-
mento publicadas nas principais revistas pode ser tendenciosa
em relação a amostras da América do Norte e Europa Ocidental
(NIELSEN et al., 2017). Apresentamos e discutimos evidências a
respeito de variáveis que moderam o desenvolvimento de deci-
sões de partilha em situações de colaboração, algumas das quais
foram cuidadosamente investigadas por psicólogos do desen-
volvimento, mas cujas evidências são frequentemente negligen-
ciadas ou ignoradas em relatos evolutivos de cooperação entre
crianças. Como já foi dito, esta escolha não constitui um proble-
ma em si mesma. Entretanto, como outros autores alertam, a in-
fluência dessas variáveis deve ser testada, em vez de descartada
ou assumida (NIELSEN et al., 2017).
Os comportamentos pró-sociais das crianças podem ser
afetados por variáveis moderadoras de diversas maneiras (EI-
SENBERG e MUSSEN, 1989), de maneira que o presente capítulo
foca em três categorias: as características da tarefa, as diferenças

107
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

individuais e a influência dos ambientes sociais e culturais. Argu-


mentamos que essas características podem ser variáveis relevan-
tes na explicação do comportamento das crianças em ambientes
colaborativos, o que traz implicações para uma teoria geral da
evolução e da ontogenia da partilha em seres humanos.

3.1 As características da tarefa: recursos e esforço


A evidência descrita acima sobre o comportamento de par-
tilha de crianças após a colaboração foi promovida como uma
forte evidência da tendência geral do ser humano para a justiça
e equidade. No entanto, torna-se necessário testar esta hipótese
em uma série de situações, para detalhar como os humanos são
sensíveis às demandas ambientais no que diz respeito à distri-
buição de recursos. Isso é particularmente relevante para uma
perspectiva evolucionista, porque os humanos modernos e nos-
sos antepassados próximos muito provavelmente evoluíram em
ambientes em mudança. Portanto, as crianças devem estar sinto-
nizadas com as pistas físicas e sociais desde cedo.
A primeira dessas pistas que gostaríamos de discutir se
refere às possibilidades de distribuição dos recursos envolvidos
nas interações colaborativas. Experimentos recentes mostrando
as notáveis habilidades de partilha das crianças em contextos co-
laborativos geralmente adotam um número par de recursos (por
exemplo, quatro) ou apresentam um desequilíbrio aleatório na
distribuição de recursos (por exemplo, três para uma criança e
um para outra), para em seguida testar se as crianças irão restau-
rar a equidade ou não. Outros estudos envolvendo a distribuição
de produtos de colaboração ou esforço por terceiros por parte de
crianças também adotam números pares. Entretanto, apesar da
capacidade das crianças de distribuir recompensas ser claramen-

108
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

te superior a outros macacos, há muitas outras situações em que


os recursos não podem ser compartilhados em partes iguais por
definição.
Um caso óbvio é quando uma criança tem um número ím-
par de recursos. Shaw e Olson (2012), por exemplo, apresenta-
ram a crianças norte-americanas de três a oito anos de idade uma
história na qual duas crianças realizavam uma atividade juntas e
ganhavam uma borracha como recompensa. Depois, os autores
perguntavam às crianças se estas queriam dar borrachas extras
para as crianças da história ou se preferiam descartá-las. Em uma
das condições, havia uma borracha extra (condição de desigual-
dade), e em outra condição havia duas (condição de igualdade).
Eles descobriram que as crianças norte-americanas preferiam
descartar a borracha na condição de desigualdade, mas as crian-
ças entre seis e oito anos o fizeram com mais frequência do que
as crianças mais novas. Os autores replicaram os achados com
outros grupos de crianças nessa última faixa etária: em crianças
norte-americanas usando doces e em crianças sul-africanas.
Outro caso que afeta as possibilidades de distribuição ocor-
re quando o recurso não é algo que pode ser facilmente dividido,
como o tempo, por exemplo. Conforme explicado acima, Char-
lesworth e La Freniere (1983) descobriram que crianças pequenas
não compartilharam o tempo em uma tarefa de forma igualitá-
ria. Entretanto, é possível argumentar que, independentemente
do tempo, as crianças poderiam ter mostrado taxas semelhantes
de prazer na tarefa. Um outro recurso que pode ser compartilha-
do com custos relativamente baixos é o conhecimento ou a infor-
mação. Em ambientes colaborativos, as crianças não só são boas
em coordenar, mas também compartilham informações com
seus parceiros (DEAN et al., 2012). Portanto, é relevante testar as

109
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

preferências das crianças em relação aos recursos disponíveis e


refletir sobre os diferentes tipos de recursos.
O segundo tipo de pista ambiental é o nível de esforço das
crianças em uma tarefa. Warneken (2018) argumenta que a co-
laboração é provavelmente um fator que origina a partilha das
crianças com base em um senso de justiça. Ele baseia seu argu-
mento na evidência de que as crianças estão avaliando o nível de
esforço em uma tarefa e julgando o mérito com base nisso. Assim,
quando as crianças restauram a equidade em uma tarefa de co-
laboração, o fazem porque prestam atenção à quantidade de tra-
balho que cada pessoa fez (KANNGIESSER e WARNEKEN, 2012).
Há evidências de que a sensibilidade a pistas de mérito sur-
ge cedo. Por exemplo, após uma tarefa de colaboração, crianças
de três e quatro anos compartilharam mais com um parceiro de
tarefa que se esforçou mais do que outro que se esforçou menos
(STACK e ROMERO-RIVAS, 2020). A sensibilidade ao esforço e ao
mérito relacionado ao primeiro é afetada por outras caracterís-
ticas do contexto, como práticas culturais locais e o nível de ri-
queza dos participantes em uma tarefa (CALLAGHAN e CORBIT,
2018). Entretanto, como demonstramos acima, isto não neces-
sariamente acontece. Assim, parece necessário considerar o pa-
pel que os recursos limitados têm na percepção das crianças e na
gestão do esforço em tarefas conjuntas.

3.2 Características individuais


Em experimentos de comportamento pró-social, as dife-
renças individuais são frequentemente minimizadas a favor da
explicação de propensões gerais entre indivíduos e para ambien-
tes particulares. Por outro lado, a investigação das variáveis de
disposição, relacionadas às características individuais, visa ex-

110
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

plicar as disposições gerais que surgem em uma variedade de


circunstâncias (MALTI e DYS, 2018). Tem sido demonstrado que
o comportamento pró-social está ligado a certos traços de perso-
nalidade e sociais. Entretanto, a relação entre essas disposições
gerais, o desenvolvimento e o comportamento das crianças em
circunstâncias particulares precisam ser mais explorados.
A personalidade é considerada o produto conjunto dos tra-
ços de temperamento e das experiências de uma pessoa, enquan-
to o temperamento é definido como o conjunto de “diferenças
individuais de base biológica na reatividade emocional, motora
e atencional medida pela latência, intensidade e recuperação da
resposta, e processos de autorregulação como o controle com es-
forço que modula a reatividade” (ROTHBART, 2007, p. 207, tra-
dução nossa). Há três dimensões principais de temperamento,
de acordo com o modelo proposto por Rothbart (2007): extro-
versão, controle com esforço e afeto negativo, conforme se pode
observar em Linhares et al. (2013). Extroversão refere-se ao nível
de atividade e afeto, o controle com esforço refere-se ao nível de
autocontrole e habilidades de atenção e o afeto negativo se refe-
re ao nível de sentimentos negativos. Seria esperado que crian-
ças com níveis mais altos de extroversão e controle com esforço
e níveis mais baixos de afeto negativo demonstrassem melho-
res habilidades pró-sociais. Algumas pesquisas mostram que o
temperamento, de fato, é um fator preditor de comportamentos
pró-sociais. Indivíduos com afeto negativo, por exemplo, podem
apresentar mais variações de humor, o que leva a menos compor-
tamentos altruísticos (ATTARI et al., 2018). Além disso, em um
estudo longitudinal verificou-se que o temperamento de crian-
ças aos seis anos de idade estava associado a níveis maiores de
pró-socialidade aos sete anos de idade (LAIBLE et al., 2017).

111
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Outro conjunto de características individuais que prova-


velmente influenciam no comportamento pró-social é a compe-
tência social ou habilidades sociais, que pode ser definida como
a capacidade de estabelecer relações sociais de sucesso (CHEN
e FRENCH, 2008). Ao contrário do temperamento, espera-se
que as habilidades sociais sejam influenciadas por demandas
sociais e culturais. Portanto, embora se preveja que as crianças
com maior pontuação em competência social tendem a ser mais
cooperativas, esta relação provavelmente variará entre diferentes
culturas e contextos sociais.
Poucas pesquisas têm investigado os efeitos das diferenças
individuais de temperamento e competência social sobre o com-
portamento pró-social das crianças em ambientes colaborativos,
em que as crianças devem negociar perspectivas diferentes (EN-
DEDIJK et al., 2015; CALLAGHAN e CORBIT, 2018). Embora as teo-
rias sobre a influência das variáveis de disposição no comporta-
mento pró-social das crianças tenham gerado hipóteses a partir
de uma variedade de medidas, não está claro como crianças com
características diferentes irão interagir para alcançar juntos obje-
tivos pró-sociais ou colaborativos em ambientes controlados.

3.3 Socialização e família


As evidências sobre a influência das preferências sociais
dos pais sobre o comportamento pró-social de seus filhos são
mistas (BAUER et al., 2013; EISENBERG et al., 2006). Crianças
com pais que praticam atos altruísticos geralmente são mais pró-
-sociais, enquanto crianças cujos pais são modelos inconsisten-
tes (pregando, mas não praticando atos pró-sociais, por exem-
plo) tendem a ser menos pró-sociais (EISENBERG et al., 2006).
Entretanto, a influência dos pais pode ser confundida com outras

112
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

variáveis demográficas, o que torna difícil isolar essa variável.


Por exemplo, foi observado que crianças e adolescentes com pais
com baixa escolaridade tendem a ser mais egoístas (BANDY e
OTTONI-WILHELM, 2012; BAUER et al., 2013), efeito que se veri-
fica mesmo quando a idade, sexo, saúde, habilidades cognitivas e
composição dos irmãos são levados em consideração. Os autores
argumentam que suas descobertas representam uma evidência
de efeitos de socialização, mas uma explicação mais provável é
que essas crianças são mais egoístas porque têm menos recursos;
portanto, o valor que estas atribuem aos recursos é maior.
Em um outro estudo, Sutter e Untertrifaller (2020) obser-
varam que pais de escolaridade mais baixa concordavam com
menos frequência que pais de escolaridade alta que os filhos de-
veriam cooperar em um jogo econômico de partilha chamado di-
lema do prisioneiro, o que pode influenciar na visão normativa
do que é esperado que se faça numa situação semelhante à do
jogo. Além disso, Bauer et al. (2013) descobriram que as crianças
com pais de baixa escolaridade também eram pouco rancorosas
(ou seja, estas crianças optaram por minimizar o pagamento de
seu parceiro em um outro jogo econômico de partilha, mas so-
mente se não perderam recursos ao fazê-lo), indicando que há
outros fatores a serem considerados ao se comparar o comporta-
mento de crianças em experimentos de partilha.
Da mesma forma que a pesquisa sobre temperamento e ha-
bilidades sociais, a pesquisa sobre a influência dos pais se baseia
em medidas relatadas e estudos observacionais. As evidências de
estudos controlados que comparam o comportamento dos pais
e de seus filhos em tarefas colaborativas são raras (STORM et al.,
2021). Para que seja possível compreender melhor a influência do
comportamento dos pais (e outros membros da família e da co-

113
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

munidade) e informar melhor intervenções que visem o aumento


de comportamentos prossociais em crianças, há uma necessida-
de de mais estudos experimentais relativos às habilidades cola-
borativas das crianças e à influência dos cuidadores sobre elas.

3.4 Classe social


A condição socioeconômica ou classe social refere-se às
condições econômicas em que as pessoas vivem e seu status social
em comparação com outros dentro de sua sociedade. A condição
socioeconômica é medida de várias maneiras: muitos estudos de
desenvolvimento consideram a renda familiar e a educação dos
pais, outros consideram indicadores demográficos específicos
de cada país, enquanto há também os que infiram indiretamen-
te a partir dos locais e modos de vida das pessoas (BRADLEY e
CORWYN, 2002). É esperado que a classe social afete o compor-
tamento pró-social das crianças. Por exemplo, é possível argu-
mentar que crianças de classes sociais mais baixas acumulem ou
retenham recursos em estudos de partilha devido ao contexto
de escassez em que vivem; inversamente, elas podem ser mais
cooperativas por serem mais incentivadas a ajudar pessoas pró-
ximas (por exemplo, participando de atividades domésticas) do
que crianças de classes mais altas (WHITING e WHITING, 1975).
Alguns estudos apontam que crianças de classes mais altas de-
monstraram ser mais pró-sociais no compartilhamento de recur-
sos inesperados (BENENSON et al., 2007; ROCHAT et al., 2009).
Por outro lado, em adultos, a pró-socialidade é mais presente em
pessoas de classe baixa que de classe alta, bem como caracterís-
ticas de empatia e envolvimento social (PIFF e ROBINSON, 2017).
Entretanto, por se tratar de uma combinação complexa de variá-
veis, a classe social não pode ser estudada desconectada do con-

114
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

texto local, cultural e histórico em que as pessoas vivem, embora


estudos em psicologia do desenvolvimento comumente lidem
com esse tópico de maneira superficial (ROGOFF et al., 2018).

3.5 Cultura
A infância é uma fase relevante no aprendizado de normas
culturais, que envolve muito do aprendizado de como se com-
portar em relação a outras pessoas. A cultura também intera-
ge potencialmente com todos os fatores descritos acima (CAL-
LAGHAN e CORBIT, 2018; EISENBERG et al., 2006; ROGOFF et al.,
2018). Entretanto, como argumentamos anteriormente, grande
parte da pesquisa sobre o desenvolvimento da cooperação entre
crianças presumiu um caminho universal, comum a todos os hu-
manos, e minimizou os efeitos de outras variáveis como a cultura
e o ambiente social na evolução e desenvolvimento de comporta-
mentos cooperativos (NIELSEN e HAUN, 2016; KLINE et al., 2018;
WARNEKEN, 2018).
A cultura é o conjunto de crenças e práticas compartilhadas
por um grupo (HOFSTEDE et al., 2010) e ela modula o efeito da
interação social no desenvolvimento humano (CHEN e FRENCH,
2008). Por exemplo, famílias de culturas individualistas enfati-
zam o desenvolvimento da iniciativa social (ou seja, a capacida-
de de iniciar relacionamentos) e uma maior autoexpressão. As
pessoas também são estimuladas a perseguir objetivos pessoais
e ser mais competitivas. Por outro lado, famílias de culturas co-
letivistas enfatizam o desenvolvimento da autocontenção, ao in-
vés da iniciativa social, e menos autoexpressão. Nesse contexto,
a conformidade com o grupo é altamente valorizada. Portanto,
seria esperado que regras de partilha em contextos colaborativos
variassem entre culturas. Exemplo disso seria um estudo que si-

115
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

mula esses contextos feito no Canadá e replicado na Índia, em que


se verificou que as crianças da Índia, ao contrário das ocidentais,
partilhavam mais em atividades em que os recursos não eram ob-
tidos e partilhados durante a atividade de colaboração - nesse tipo
de colaboração, os recursos não foram tão partilhados (CORBIT et
al., 2021). No entanto, apesar do exemplo, as comparações trans-
culturais da partilha das crianças após a colaboração ainda são
raras (CHAI e HE, 2017; CIPRIANI et al., 2013; CORBIT et al., 2021).

4. Como integrar tais variáveis a teorias


sobre as origens da partilha em ambientes
colaborativos?
Pesquisas recentes sobre a partilha das crianças em contex-
tos colaborativos deram suporte a uma teoria geral da evolução da
cooperação humana e da cultura, juntamente com outros estudos
sobre os comportamentos cooperativos das crianças (MCAULIFFE
et al., 2017; TOMASELLO, 2019; WARNEKEN, 2018;). Entretanto,
existem outras explicações potenciais e específicas da teoria que
devem ser investigadas, considerando a complexidade da variação
humana (KLINE et al., 2018). Para dar sentido a outras variáveis de
interesse, como as descritas nas seções anteriores, em uma abor-
dagem evolutiva do desenvolvimento da cooperação humana, é
necessária uma combinação de diferentes abordagens (CARLO et
al., 2001; NIELSEN e HAUN, 2016). Estudos experimentais pode-
riam ser realizados em conjunto com a avaliação de outras me-
didas através de observações naturalistas ou medidas relatadas a
partir de questionários. Comparações entre culturas poderiam in-
cluir uma avaliação mais completa das características da amostra,
incluindo demografia e outras variáveis potenciais de confusão.

116
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Finalmente, as limitações devem ser tratadas em relação


a outras explicações potenciais que poderiam minar ou alterar
as especificidades da teoria subjacente que está sendo propos-
ta. Por exemplo, Rochat et al. (2009) compararam as decisões de
crianças de três e cinco anos de idade em doações entre diferen-
tes grupos sociais e culturais: três grupos de crianças brasileiras
(de classe média, classe baixa e muito baixa) foram comparados
entre si e com crianças de outros quatro países com diferentes
níveis de status socioeconômico e ambiente. A amostra brasileira
proporcionou um controle para estas comparações entre os paí-
ses. Os autores descobriram que crianças de sociedades rurais
tradicionais e de pequena escala estavam mais inclinadas a com-
partilhar os recursos de forma mais igualitária, enquanto crian-
ças brasileiras de classes muito mais baixas (que vivem nas ruas)
acumulavam os recursos a um ritmo semelhante ao das crianças
da classe média americana e a taxas mais altas do que as crian-
ças brasileiras dos outros dois grupos. No entanto, as crianças de
todas as culturas testadas mostraram uma tendência para uma
maior justiça aos cinco anos de idade, ao mesmo tempo em que
mostraram diferenças em relação à magnitude do interesse pró-
prio. Portanto, uma teoria abrangente de cooperação humana só
pode ser construída através do reconhecimento do papel das va-
riáveis moderadoras e da variação entre os seres humanos (RO-
GOFF et al., 2018).

5. Considerações finais

A distribuição de recursos é um assunto intrigante porque


os humanos se envolvem neste comportamento frequentemen-
te, em diferentes aspectos de suas vidas, mesmo quando é algo

117
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

custoso para os indivíduos. Além disso, as crianças humanas de-


monstram uma notável capacidade de compartilhar desde muito
cedo. No entanto, os seres humanos também são estratégicos na
tomada de decisões de partilha. Assim, para entender o desen-
volvimento dos comportamentos de partilha e as normas sociais
que regulam esses comportamentos com mais detalhes, é impor-
tante entender como as pessoas chegam a equilibrar estratégias
cooperativas versus competitivas com seus pares e como o meio
cultural e social pode afetar essas interações através do desen-
volvimento.
Estudos experimentais que incluem tarefas colaborativas
frequentemente ignoram ou subestimam a influência de variá-
veis relevantes, tais como o contexto cultural, classe social, rela-
ções sociais, práticas de socialização e até mesmo variáveis situa-
cionais, tais como temperamento e habilidades sociais. Isso não
é necessariamente um problema, tendo em vista que um estudo
é sempre um recorte limitado do fenômeno em estudo, mas tais
limitações nem sempre são admitidas de maneira explícita. Mui-
to frequentemente, a cultura e outras variáveis moderadoras são
vistas como secundárias na explicação do comportamento hu-
mano. Isso é problemático porque a teoria subjacente a estes es-
tudos procura propor uma teoria geral do comportamento huma-
no. Sem testar hipóteses alternativas de variação em diferentes
contextos, pesquisadores correm o risco de fazer generalizações
precipitadas.
Para concluir, os comportamentos cooperativos são um
produto complexo de interações entre as predisposições indivi-
duais e a história de vida, as influências sociais e o contexto cul-
tural. Parece importante distinguir a investigação de habilidades
gerais, com potencial para ser universal em diferentes ambientes,

118
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

e a investigação de estratégias flexíveis, que também podem ser


universais ou específicas, dependendo das variáveis envolvidas.
Este capítulo concentrou-se na discussão do papel das va-
riáveis moderadoras no desenvolvimento de um tipo de compor-
tamento cooperativo, que é a partilha após a colaboração. Tenta-
mos propor uma abordagem mais integrada para a investigação
experimental do desenvolvimento do comportamento coopera-
tivo e a influência dessas variáveis sobre esse tipo de comporta-
mento. Por um lado, tanto os estudos experimentais quanto o
uso de medidas indiretas, como questionários, podem ser criti-
cados por sua limitada validade externa. Por outro lado, a com-
binação de diferentes métodos pode trazer novos insights para o
estudo do desenvolvimento da cooperação humana a partir de
uma perspectiva evolucionista.

119
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
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128
Cap. 5
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Motivação e Escolha de Carreira:


Como a Motivação por Status
pode estar Relacionada ao
Diploma Universitário no Contexto
Brasileiro

Tainah Porpino de Paiva Costa

Na adolescência, sempre me incomodou o fato de alguns


profissionais serem mais respeitados socialmente do que ou-
tros. No início da vida adulta, esse incômodo foi sendo ampliado
quando comecei a perceber que além dos profissionais, estudan-
tes de determinados cursos de graduação também eram mais
respeitados e valorizados pela sociedade. Depois de um tempo,
entendi que esse comportamento de valorização e respeito tinha
um nome: se chamava “atribuir status”. Mas o que as pessoas
que escolhiam essas profissões e cursos tinham de diferente das
outras para que a sociedade atribuísse mais status a uns do que a
outros? Além disso, o que as motivaram a escolher determinada
carreira?
Os fatores que influenciam o comportamento humano in-
trigam pesquisadores de diferentes áreas há tempos. Em diversas
espécies, sabe-se que os comportamentos são impulsionados por
motivações e o ser humano não é diferente. Além da presença de

130
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

motivações elementares e movidas por forças fisiológicas regu-


ladoras, o “Conjunto de Motivos Fundamentais” proposto por
Kenrick e colaboradores em 2010 defende que nossa espécie pos-
sui sistemas motivacionais primários que evoluíram em popula-
ções ancestrais em resposta a desafios específicos e frequentes.
Dada sua especificidade, cada sistema motivacional é ativado
por pistas diferentes e resultam em respostas comportamentais
distintas, que por sua vez podem atuar influenciando o processo
de tomada de decisão em diversos contextos. Neste capítulo, um
panorama teórico sobre as motivações fundamentais será apre-
sentado, enfatizando a motivação por status e sua importância
na escolha de carreira dos indivíduos. Também analiso de que
maneira o curso de ensino superior pode atuar como um indica-
dor de status, tomando como exemplo o contexto brasileiro.

1. Motivos fundamentais

Em condições naturais, comportamentos similares podem


ser observados em diferentes espécies, como por exemplo a busca
por alimento ou a procura de um parceiro para acasalamento. Os
impulsos internos que levam os seres a realizar esses comporta-
mentos/ajustes fisiológicos são denominados de motivações ou
estados motivacionais. As motivações visam satisfazer a alguma
necessidade, como garantir que o indivíduo reponha suas reser-
vas de energia, no caso na busca por alimento, ou a passagem dos
genes para as próximas gerações, através do acasalamento (BEAR;
CONNORS; PARADISO, 2017).
Em geral, pode-se identificar três classes de estados mo-
tivacionais: (1) motivações elementares, (2) motivações com
forças fisiológicas reguladoras pouco definidas e (3) motivações

131
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

complexas (LENT, 2010). As motivações elementares são carac-


terizadas por forças fisiológicas bem definidas, como regulação
da temperatura corporal em mamíferos, busca por alimento,
dentre outros. Essa classe de motivação está presente na maioria
dos animais, pois proporciona a vantagem adaptativa direta de
garantir a sobrevivência do indivíduo. As motivações com forças
fisiológicas reguladoras pouco definidas podem ser exemplifica-
das pela busca por sexo. É provável que essa classe de motivação
tenha se fixado na maioria dos animais devido à facilitação da
reprodução, favorecendo a passagem dessa característica para
as gerações seguintes. Por fim, tem-se as motivações comple-
xas, sem determinação biológica direta identificável, como por
exemplo, o desejo de ascensão social e busca por prazer, motiva-
dos por impulsos interiores subjetivos, presente em animais com
vida social mais complexa (LENT, 2010).
De acordo com a perspectiva evolucionista, motivações ou
sistemas motivacionais específicos considerados básicos ou pri-
mários provavelmente evoluíram nas populações ancestrais ani-
mais em resposta a problemas adaptativos específicos frequentes
e, por isso, podem ser consideradas “motivações fundamentais”.
Elas predispõem os animais a se comportarem de forma ajusta-
da em função das oportunidades e ameaças encontradas no am-
biente e podem ser diferentes em função de sua fase do desen-
volvimento e da percepção de pistas ecológicas (KENRICK et al.,
2010a; SCHALLER et al., 2017).
Nos seres humanos, as motivações fundamentais com-
preendem mecanismos psicológicos que regulam as interações
comportamentais com outros indivíduos e com o ambiente ex-
terno. Tais motivações perduram atualmente porque exerceram
influência ao longo da história evolutiva, favorecendo o sucesso

132
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

reprodutivo (SCHALLER et al., 2017). Por exemplo, no ambiente


ancestral, a garantia do sucesso reprodutivo de todos os animais
sociais, incluindo o Homo sapiens, não se resumia apenas à cópu-
la, sendo necessária a resolução de outros problemas essenciais
como a sobrevivência até a idade reprodutiva, obtenção de recur-
sos que permitissem o funcionamento dos sistemas biológicos,
defesa contra predadores e parasitas, conquista de parceiros e
estabelecimento de um conjunto de interações com outros indi-
víduos, incluindo a formação de alianças (KENRICK et al., 2010b;
SCHALLER et al., 2017). Portanto, os humanos que superaram es-
ses desafios evolutivos e passaram seus genes para as próximas
gerações se tornaram nossos ancestrais.
O Conjunto de Motivos Fundamentais, proposto por Ken-
rick e colaboradores (2010a), argumenta que os seres humanos
apresentam diferentes sistemas motivacionais, destinados a so-
lucionar desafios ancestrais específicos e qualitativamente dife-
rentes. Esses sistemas motivacionais e seus respectivos desafios
seriam: (1) autoproteção - evitar danos físicos para permanecer
seguro; (2) evitação de doenças – evitar infecções para permane-
cer saudável; (3) afiliação – formar e manter alianças cooperati-
vas; (4) status – ganhar e manter respeito e admiração; (5) aqui-
sição de parceiro – adquirir um parceiro romântico desejável; (6)
retenção de parceiro – promover vínculo de relacionamento de
longo prazo e (7) cuidado parental – investir e cuidar da família
e prole. Cada um desses motivos é ativado por diferentes pistas,
produzindo um conjunto de respostas específicas para atenção,
memória, cognição e comportamento, todas elas destinadas a
resolver o problema final associado ao sistema que foi ativado
(GRISKEVICIUS e KENRICK, 2013; KENRICK et al., 2010b; NEEL et
al., 2016; SCHALLER et al., 2017).

133
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Por exemplo, o sistema de autoproteção é ativado por pis-


tas que indicam perigos físicos, como a identificação de faces
zangadas (ACKERMAN et al., 2006), permanência no escuro e
barulhos altos (SCHALLER et al., 2003). Quando presentes, essas
pistas atuam aumentando os níveis de vigilância dos indivíduos
e estimulando-os a estarem mais atentos e, assim, evitar o pe-
rigo. A evitação de doenças pode ser ativada, dentre outras pis-
tas, por interação com pessoas doentes, sujas ou portadoras de
deformidades, e estimulam os indivíduos a se comportarem de
forma a evitar a transmissão de patógenos, levando a comporta-
mentos como aumento da introversão (SCHALLER e NEUBERG,
2012). Já o sistema de afiliação se torna ativo perante interação
com amigos, colegas, grupo ou por presenciar situações de rejei-
ção. A ativação desse sistema leva as pessoas a se tornarem mais
extrovertidas e buscarem um maior contato social (GRISKEVI-
CIUS e KENRICK, 2013). O sistema de status, por sua vez, pode
ser ativado através de pistas que indiquem dominância e pres-
tígio, como situações de comparação, competição e até mesmo
perda de status (ANDERSON et al., 2012). Quando ativado, esse
sistema sinaliza a autopercepção do local no qual o indivíduo se
encontra na hierarquia e impulsiona a associação com pessoas de
uma posição hierárquica maior (ANDERSON et al., 2015), maior
engajamento em comportamentos pró-sociais (VAN VUGT et al.,
2007) ou agressivos (GRISKEVICIUS et al., 2009), visando um
aumento ou manutenção de sua posição hierárquica.
Na proposição das motivações fundamentais existem três
sistemas de motivação com implicação direta no comportamen-
to reprodutivo. O motivo de aquisição de parceiro pode ser ati-
vado, dentre outras pistas, pela interação com um potencial par-
ceiro atraente e possui influência na atenção visual, aumentando

134
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

a atenção para pessoas atraentes do sexo oposto, em indivíduos


heterossexuais (SCHALLER et al., 2017). Em ambos os sexos,
esse sistema motivacional leva os indivíduos a se engajarem em
comportamentos visando destaque e autopromoção perante os
demais, como a compra de produtos de luxo em homens (HEN-
NIGHAUSEN et al., 2016) e a ênfase de características físicas que
indicam beleza e juventude em mulheres (VARELLA et al., 2015;
WAGSTAFF, 2018). Já o sistema de retenção de parceiro é ativa-
do perante pistas que indiquem ameaças ao relacionamento de
longo prazo, como a presença de potenciais competidores, e atua
aumentando a atenção visual, reduzindo assim a probabilidade
de infidelidade (KREMS et al., 2016; SCHALLER et al., 2017). Por
fim, o sistema de cuidado parental pode ser ativado através de in-
terações familiares ou características morfológicas que lembrem
“faces de bebês” (GRISKEVICIUS e KENRICK, 2013; SCHALLER et
al., 2017). Quando essas pistas são percebidas, elas tendem a ge-
rar comportamentos que estimulam o cuidado, atenção e prote-
ção adequados, como evitação de indivíduos pertencentes a gru-
pos externos que representam ameaças (GILEAD e LIBERMAN,
2014).
Em conjunto, os sistemas motivacionais humanos foram
selecionados a fim de promover reações no organismo que per-
mitiram organizar e selecionar comportamentos para gerenciar
desafios evolutivos recorrentes e promover a sobrevivência e a
reprodução (GRISKEVICIUS e KENRICK, 2013; NEEL et al., 2016;
SACCO et al., 2016). É importante salientar que a ativação de de-
terminado sistema é sensível às pistas contextuais imediatas e
isso pode resultar na sobreposição de um dos sistemas sobre os
demais, direcionando assim o comportamento. Por exemplo, se
um indivíduo está em um piquenique romântico e percebe uma

135
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

aranha venenosa subindo pela sua perna, é provável que a mo-


tivação de autoproteção se sobreponha à motivação relaciona-
da à fome ou à de aquisição de parceiro que estavam ativas an-
teriormente. Todavia, se no lugar da aranha for uma borboleta,
é provável que a sobreposição anterior não aconteça (KENRICK
et al., 2010b). Dessa forma, uma mesma pessoa pode variar em
sua tomada de decisão em razão da motivação fundamental que
está ativa no momento. Por exemplo, Richerson, Mead e Li (2020)
encontraram que homens e mulheres modificam sua escolha ali-
mentar em um restaurante, imitando ou não a quantidade de ca-
lorias ingeridas pelo parceiro, dependendo do sistema motivacio-
nal ativado. Já Li et al. (2012) demonstraram que a aversão à perda
(tendência a se importar mais com a perda do que com o ganho)
é eliminada quando os homens estão com a motivação de aquisi-
ção de parceiro ativada, em contraste com a motivação para auto-
proteção, na qual se tornam mais avessos à perda. Diversos traba-
lhos retratam resultados semelhantes ao apontarem a influência
da ativação de determinado motivo fundamental no processo de
tomada de decisão (KENRICK et al., 2010a, 2010b; KREMS et al.,
2016; SACCO et al., 2016; SCHALLER e NEUBERG, 2012).

2. Busca por status

Como apontado anteriormente, um dos sistemas moti-


vacionais que rege o comportamento humano trata da busca e
manutenção do status. Existem muitos conceitos atribuídos a
“status” e, por vezes, ele pode ser confundido com outros ter-
mos como dominância e poder. De acordo com Van Vugt e Tybur
(2015), uma hierarquia baseada em dominância seria caracteri-
zada pelo acesso prioritário dos indivíduos ao recurso devido à

136
utilização de ameaças, intimidação e displays de força por esses
indivíduos. Já hierarquias baseadas em prestígio seriam forma-
das pela livre atribuição de status por terceiros, concedido a in-
divíduos que os ajudam a alcançar seus objetivos e, em troca da
ajuda, recebem o acesso prioritário aos recursos (VAN VUGT e
TYBUR, 2015). Por sua vez, ainda segundo esses autores, a domi-
nância e o prestígio seriam formas de se organizar a formação
hierárquica que levaria ao status, o qual é definido como “a po-
sição do indivíduo na hierarquia social, que determina o acesso
prioritário aos recursos em situações competitivas” (VAN VUGT
e TYBUR, 2015, p. 789).
Anderson, Hildreth e Howland (2015) conceituam status
como respeito, admiração e deferência voluntária concedida por
terceiros, baseada no valor social instrumental percebido de de-
terminado indivíduo. Em outras palavras, o status é concedido a
um indivíduo mediante a atribuição de respeito e admiração, por
meio da deferência voluntária de terceiros (pessoas obedecem de
forma voluntária aos desejos e sugestões e/ou concedem maiores
direitos e privilégios a determinado indivíduo) em função desse
indivíduo possuir um elevado valor instrumental para outro in-
divíduo ou para um grupo (percepção de que tal indivíduo possui
determinadas características pessoais que irão facilitar a realiza-
ção dos objetivos de quem concede o status).
Outra definição de status é apresentada por Garfield,
Hubbard e Hagen (2019). Para esses autores, o status seria “o
valor do indivíduo com base em avaliações subjetivas do gru-
po”, sendo considerado, portanto, sinônimo de prestígio. De
forma mais simplificada, Buss et al. (2020) indicam que o status
funcionaria como uma subcategoria de ranqueamento social
humano, baseado na admiração e no respeito. Independente do
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

conceito, os autores concordam que status elevado resulta em


benefícios para quem o possui.
Para a perspectiva evolucionista, possuir alto status e, con-
sequentemente, estar no topo do ranqueamento social é impor-
tante, pois proporciona ao indivíduo usufruir de benefícios es-
peciais (VAN VUGT e TYBUR, 2015), em geral na forma de acesso
a recursos reprodutivos importantes como parceiros desejáveis,
alianças sociais, comida em abundância e territórios privilegia-
dos (BUSS et al., 2020; SCHALLER et al., 2017; VAN VUGT e TYBUR,
2015). É importante salientar que esses benefícios derivados de
uma maior posição hierárquica também são observados em ani-
mais não humanos (BUSH et al., 2016) e, dado que culmina em
consequências com grande influência na aptidão do indivíduo,
é possível que a seleção natural tenha favorecido mecanismos
psicológicos especializados tanto para competir por status como
para reagir diante da possibilidade de descender na hierarquia.
Além disso, ao reconhecer possíveis discrepâncias em determi-
nadas habilidades, os indivíduos podem se associar a outros que
possuem recursos materiais os quais venham a facilitar a vida do
grupo, como também podem evitar entrar em conflitos custosos
(BUSS et al., 2020; KRAUS et al., 2017; VAN VUGT e TYBUR, 2015).
É importante ter em mente que a posição de status de um
indivíduo é relativa, pois depende das características que possui
em um determinado contexto. Diferente dos animais não huma-
nos, em que o ranqueamento é definido quase exclusivamente
pelo sucesso de um indivíduo em combates (BUSH et al., 2016),
na espécie humana, determinada característica pessoal que é va-
liosa em um meio e confere status a quem a possui nem sempre
é valiosa quando esse ambiente muda: ter habilidades atléticas,
por exemplo, é muito importante durante uma partida esportiva,

138
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

pois auxilia o grupo a vencer os jogos, mas durante uma prova


escolar, a posse dessa habilidade não vai aumentar as chances de
concluir o desafio com sucesso (ANDERSON et al., 2015). Como
exemplo anedótico, podemos citar o caso do primo que passou
em medicina e possui um alto status dentro da família, mas em
sala de aula ele é só mais um estudante de medicina.
Apesar de influenciada pelo contexto, a busca por status é
uma motivação fundamental humana, ou seja, ela está presente
em todos os seres humanos, e isso a torna universal (ANDERSON
et al., 2015). Nesse sentido, alguns pesquisadores se debruçaram
em identificar se existem critérios específicos de atribuição de
status que se repetem em diferentes nações e culturas. Um estu-
do realizado por Buss et al. (2020) em 14 países, revelou que, em
geral, características, atos e eventos que agregam (1) valor geral
para o grupo e aos indivíduos dentro do grupo, (2) valor para pa-
rentes e (3) saúde física são critérios utilizados pela amostra para
avaliar e conceder status tanto a homens quanto a mulheres.
Alguns exemplos dos quinze critérios relatados que mais
elevam o status para ambos os sexos foram: “ser inteligente”; “ser
aceito em uma universidade de prestígio”; “ter uma ampla gama
de conhecimentos”; “sempre ser honesto”; “ter um emprego que
paga bem”; “ter educação universitária”; “ter um bom senso de
humor”; “ser um líder excepcional”; “ser corajoso em face do
perigo”, dentre outros. É importante salientar que os benefícios
sociais de possuir alto status são alvo de diversos estudos com
humanos (VON RUEDEN et al., 2018; YUAN e ZHENG, 2019).
A importância do status se torna evidente através de es-
tudos que verificaram a influência do nível de status na saúde
física e mental dos indivíduos (KRAUS et al., 2017; TAY e DIE-
NER, 2011). Muitos trabalhos investigam o bem-estar subjetivo

139
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

(BES), que pode ser compreendido a partir de como as pessoas


pensam e experimentam suas vidas, incluindo julgamentos so-
bre sua satisfação com a vida, seja através de emoções positivas
e agradáveis ou de emoções desagradáveis e negativas (DIENER
et al., 2018). Os estudos que avaliaram o BES em diversos grupos
- entre amigos, vizinhança, local de trabalho, ambiente familiar
- e através de diferentes metodologias - autorrelato, experimen-
to laboratorial, dados correlacionais - encontraram que o status
do indivíduo em determinado grupo prevê os níveis de BES (AN-
DERSON et al., 2012; ANDERSON et al., 2015; KRAUS et al., 2017;
TAY e DIENER, 2011). De forma resumida, podemos destacar que
a motivação por status: (1) é uma motivação universal, (2) apre-
senta critérios comuns de atribuição em diferentes culturas, (3)
pode ser influenciada pelo contexto e (4) exerce influência sobre
a saúde mental dos indivíduos.
Como abordado anteriormente, a ativação de determinado
sistema de motivação pode influenciar o processo de tomada de
decisão. Nesse sentido, é importante analisar como a motivação
por status pode afetar a escolha da carreira.

3. Relação entre status e escolha de carreira

O termo “carreira” não possui uma definição universal e


é frequentemente utilizado como sinônimo de “trabalho” ou
“emprego”. Entretanto, ele se refere tanto ao envolvimento de
alguém em uma família de empregos específica (por exemplo,
medicina), quanto a uma sequência ou coleção de empregos
que alguém ocupou no decorrer da vida profissional; diferente
dos outros dois, que são definidos como “domínio da vida no
qual as pessoas prestam serviços ou criam bens” e “uma posi-

140
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

ção de trabalho específica mantida por um período de tempo


definido”, respectivamente.
Alguns autores consideram que o termo “carreira” implica,
necessariamente, em um maior tempo de formação, prestígio,
remuneração e melhores condições de trabalho. Nessa linha de
raciocínio, a medicina seria considerada uma carreira enquanto
ser pintor de paredes não (LENT e BROWN, 2013). Apesar do ter-
mo em questão não possuir uma definição universal, é possível
considerar a “escolha de carreira” como o processo de selecionar
e entrar em um plano de carreira específico, composto por pelo
menos duas fases: (1) estabelecimento de uma meta de escolha
e (2) tomada de decisões para que essa meta seja implementada,
seja através de treinamento adicional ou processo de procura de
emprego, por exemplo (LENT e BROWN, 2013).
Em geral, a decisão de qual carreira seguir ocorre no final
da adolescência e início da vida adulta e, para os jovens que ti-
veram acesso e completaram o ensino médio, é antecedida pela
escolha entre continuar os estudos, através do ensino superior,
ou adentrar no mercado de trabalho. Muitos são os fatores que
influenciam essa primeira tomada de decisão, sendo os princi-
pais o status socioeconômico do indivíduo, histórico e status so-
cioeconômico familiar (LENT e BROWN, 2013; GRINGS e JUNG,
2017; LEITÃO et al., 2013; XU, 2020), porque, em geral, são indica-
tivos de estressores ambientais e a presença de um ambiente im-
previsível pode levar os indivíduos a optarem pela maximização
dos ganhos imediatos através da entrada no mercado de traba-
lho logo após o ensino médio, pois o ingresso no ensino superior
exige um investimento a longo prazo, cujo retorno pode não ser
aproveitado, dado o caráter imprevisível do ambiente (GRISKE-
VICIUS e KENRICK, 2013; LEITÃO et al., 2013; XU, 2020).

141
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Se um indivíduo opta por continuar os estudos e iniciar


o ensino superior, outro desafio surge: a escolha de qual curso
seguir. Assim como a decisão anterior, essa também é influen-
ciada por inúmeros fatores. Em uma revisão de literatura, Grings
e Jung (2017) encontraram que questões socioeconômicas da
família (emprego/desemprego), nível educacional dos pais, opi-
nião materna, opinião de amigos, influência familiar, busca por
estabilidade e independência financeira são os principais fatores
que induzem à escolha profissional no Brasil e em Portugal. Esses
dados se repetem em outros países como Canadá (WRIGHT et al.,
2014) e Lituânia (URBANAVICIUTE et al., 2016). Apesar de até o
presente momento, os estudos não se debruçarem a investigar
se o prestígio atribuído a determinada profissão é um fator que
influencia a entrada em determinado curso de ensino superior
por parte dos estudantes, é importante salientar que a profissão
do indivíduo é frequentemente utilizada como uma forma de
avaliar o seu status, podendo estar associada ao nível de renda
(status socioeconômico), prestígio ou à competência percebida
(MATTAN et al., 2017).
Sendo assim, a profissão pode afetar a imagem que deter-
minada pessoa tem na sociedade, funcionando como algo que
comunica características individuais. Dessa forma, pode ser que
algumas pessoas selecionem uma profissão pela sinalização do
que ela representa no futuro ou benefícios sociais que ela pode vir
a ocasionar, e não pelas condições anteriores (histórico e status
socioeconômico da família, por exemplo) que determinam sua
condição atual no momento da tomada de decisão. A relação en-
tre status e escolha de carreira fica clara no estudo realizado por
Buss e colaboradores (2020), em que são revelados dois resulta-
dos interessantes nos critérios de aumento de status, a saber: (1)

142
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

empregos com salários “bons” e (2) educação universitária, que


parecem ter um papel importante na ascensão dos indivíduos em
ranqueamentos sociais.

4. Escolha do curso superior no Brasil

No Brasil, as ofertas de ensino superior se dão pelo ingresso


em instituições de ensino superior (IES) públicas ou privadas, as
quais incluem faculdades, universidades, centros universitários,
dentre outros. Uma característica interessante é que, diferente-
mente de países como os Estados Unidos, em geral, os cursos ofe-
recidos nas universidades públicas são mais bem conceituados
e possuem mais prestígio do que os cursos provenientes de ins-
tituições de ensino superior privadas. Nas universidades públi-
cas, o ingresso se dá através do Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM), que ocorre anualmente. O ENEM é um instrumento que
avalia o desempenho escolar ao final da educação básica através
de 180 questões referentes às áreas de linguagens, códigos e suas
tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias; ciências da na-
tureza e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias e uma
redação (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira [INEP], 2020). A pontuação obtida nesse exame é
utilizada para o ingresso em universidades e na maioria das ins-
tituições de ensino superior públicas, através do Sistema de Se-
leção Unificada (SiSU), no qual os candidatos com melhor clas-
sificação são selecionados. Nas IES privadas, a entrada no curso
varia de acordo com critérios estabelecidos por cada instituição.
Entretanto, é importante salientar que a conclusão do en-
sino superior não necessariamente resulta sempre em empre-
gos com bons salários. Um estudo realizado pelo Instituto de

143
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2013, revelou que as


ocupações de nível superior mais bem pagas no Brasil entre os
anos de 2009-2012 foram “pesquisadores de engenharia e tec-
nologia”, “médicos em medicina diagnóstica e terapêutica”, “pe-
ritos criminais”, “profissionais da administração dos serviços de
segurança”, dentre outros. Esses dados revelam que, apesar de
todas as ocupações exigirem o mesmo nível de formação (ensino
superior), algumas são mais bem pagas do que outras. Aliado a
isso, ao se observar a concorrência e as notas de corte por cursos
do SiSU, é possível perceber que alguns cursos são mais procura-
dos e disputados do que outros. Por exemplo, no ano de 2020, na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, as maiores notas
de corte pertenciam aos cursos de Medicina (762,79 pontos), En-
genharia Civil (711,08) e Direito (709,15), enquanto as menores
notas de corte pertenciam aos cursos de Turismo (593,58 pon-
tos), Engenharia de Aquicultura (587,64) e Geofísica (564,6).
Essa diferença de pontuação se repete em diversas universidades
federais brasileiras.
No Brasil, existe um abismo entre a quantidade de pessoas
que ingressam no ensino superior e as que saem efetivamen-
te com diploma. O Censo da Educação Superior, realizado pelo
INEP, mostra que a quantidade de concluintes no ano de 2019
equivaleu a 34,4% da quantidade de estudantes que ingressaram
nesse mesmo ano. Aliado a isso, os dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) realizada pelo Ins-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que, em
2019, a proporção de pessoas maiores de 25 anos que possuíam
ensino superior completo era de 17,4%. Outro dado interessante
é o perfil socioeconômico dos ingressantes em Instituições Fede-
rais de Ensino Superior (IFES). Em 2018, 53,5% dos graduandos

144
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

das IFES estavam na faixa de renda mensal familiar per capita de


“até 1 salário mínimo e 70,2% na faixa de renda mensal familiar
per capita de até 1,5 salário mínimo” (Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior [ANDI-
FES], 2018). Em conjunto, esses resultados revelam que tanto a
entrada como a conclusão do ensino superior não são uma rea-
lidade para todos os brasileiros, principalmente para os setores
mais pobres da população.

5. Considerações finais

Na sociedade moderna atual, uma das formas de se adqui-


rir status é através da ascensão profissional, proveniente tanto do
tempo investido em educação, como do preparo acadêmico atra-
vés do ingresso em instituições de ensino superior, em sua maio-
ria. Entretanto, a escolha de carreira é influenciada por diversos
fatores, principalmente indicadores socioeconômicos, como ní-
veis de imprevisibilidade ambiental e pobreza na infância; em-
prego e status socioeconômico dos pais. Em geral, esses fatores
estão associados a menor investimento em educação, medido
através da quantidade de anos direcionados ao estudo, menor
busca por status e dificuldade na escolha da carreira (BULLED e
SOSIS, 2010; NEEL et al., 2016; XU, 2020).
Em contrapartida, a abordagem das motivações funda-
mentais indica que um dos sistemas motivacionais que rege o
comportamento humano trata da busca e manutenção do status,
o qual resulta em benefícios de sobrevivência e reprodução para
ambos os sexos. Por ser uma motivação universal, o status apre-
senta critérios similares de atribuição em diferentes culturas,
sendo características, atos ou eventos que agregam valor para o

145
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

grupo e para os indivíduos dentro do grupo, um dos principais


sinalizadores usados para atribuição de status. Uma dessas ca-
racterísticas, por sua vez, inclui a posse de um diploma univer-
sitário, dado que a profissão é frequentemente utilizada como
indicadora de características perante terceiros.
No Brasil, o ingresso em cursos de ensino superior muito
concorridos pode funcionar como um sinalizador de caracterís-
ticas vantajosas no contexto social, como por exemplo, posse de
recursos, em geral financeiros, dado que o ingresso em um curso
concorrido demanda um grande investimento de tempo desti-
nado ao estudo e consequente ausência no mercado de traba-
lho, bem como sinaliza um grande acúmulo de conhecimentos,
adquiridos ao longo da trajetória escolar. Essa hipótese vai ao
encontro dos dados estatísticos que revelam o abismo existente
entre a posse do diploma de ensino superior entre as diferentes
classes sociais brasileiras.
Por fim, assim como outros fatores já descritos na litera-
tura, a motivação por status pode nos ajudar a entender o que
influencia a escolha de carreira, uma importante tomada de de-
cisão que será realizada pela maioria da população em algum
momento da vida e que possui grande impacto nas sociedades
modernas atuais.

146
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153
Cap. 6
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Entendendo o Preconceito
Intergrupal Através da Perspectiva
Evolucionista: Causas e Soluções
L e o n a r d o H e n r i q u e C o i mb r a V i e i r a

A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece


que toda pessoa deve gozar de liberdade, dignidade e direitos uni-
versais, sem distinção de: etnia, sexo, religião, opinião política, na-
cionalidade, linguagem, riqueza, etc. (ONU, 1948). Esse importan-
te documento internacional representa uma tentativa de manejar
o preconceito intergrupal, um fenômeno nocivo que surge do con-
flito entre grupos humanos. Devido às suas múltiplas formas de
expressão (como racismo, sexismo, xenofobia e outras formas de
intolerância), esse fenômeno pode ser difícil de definir. Barlow e
Sibley (2017) definem preconceito como “[...] aquelas ideologias,
atitudes e crenças que mantenham e legitimem a hierarquia e ex-
ploração baseadas em grupo” (p. 3). Quando disso resulta o favo-
recimento ao próprio grupo e antagonismo a outro, consideramos
preconceito intergrupal (BREWER, 2017). É disso que iremos tra-
tar neste capítulo.
Você já deve ter ouvido falar do ativismo de nomes como:
Martin Luther King Jr. em favor dos direitos civis dos negros nor-
te-americanos; Simone de Beauvoir na resistência à opressão
sofrida pelas mulheres; e Mahatma Gandhi pela independência

155
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

da Índia. O que essas personalidades históricas têm em comum?


Todas vivenciaram o preconceito intergrupal, desenvolveram vi-
sões sofisticadas sobre suas causas e consequências para a socie-
dade, e agiram em prol de remediá-lo. Nesse sentido, esperamos
fomentar o seu senso crítico sobre a influência do preconceito
intergrupal em sua realidade e sua reflexão sobre qual postura
ética praticar. Para isso, adotamos a perspectiva evolucionista do
comportamento humano, visando fornecer a você explicações
plausíveis sobre esse fenômeno.
Na perspectiva evolucionista, para que um comportamento
seja selecionado e conservado, de modo a manter-se presente em
uma espécie, ele deve contribuir positivamente para o sucesso re-
produtivo individual, conhecido como aptidão (DARWIN, 2018).
Isso significa que, para entendermos por que nos comportamos
de uma dada forma atualmente, devemos nos remeter a como esse
comportamento incrementou a aptidão de nossos ancestrais. Para
isso, abordaremos alguns aspectos evolutivos do comportamento
social e os mecanismos que suportam sua expressão. Em particu-
lar, enfatizaremos os traços cognitivos subjacentes à vida em grupo
e aspectos do ambiente social, atual e evolutivo, do Homo sapiens.
Resumidamente, explanaremos sobre as prováveis pres-
sões seletivas modeladoras das competências cognitivas que
fundamentam o preconceito intergrupal. Além disso, detalhare-
mos seus constituintes e contextualizaremos o seu funcionamen-
to. Dessa forma, esperamos responder perguntas fundamentais,
como: (1) Esse fenômeno é universal? (2) Por que tendemos a agir
dessa forma? (3) Como isso ocorre? (4) Quais fatores interferem
nisso? e (5) É realmente possível remediá-lo? Julgamos que esse
conteúdo constitua o repertório mínimo a ser incorporado por
você, leitor.

156
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Enfim, o objetivo deste capítulo é apresentar o preconceito


intergrupal como um produto da cognição humana, através da
perspectiva evolucionista. Ao final, esperamos que você, leitor,
seja capaz de justificar a necessidade da criação e manutenção
de uma norma internacional como a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Doravante, seguiremos o exemplo de Luther
King, Beauvoir e Gandhi.

1. Cooperação e altruísmo: perspectivas


evolucionistas sobre os grupos humanos
Neste tópico abordaremos, uma pequena parcela dos ar-
gumentos sobre a evolução dos grupos humanos, centrada nos
conceitos de cooperação e altruísmo, dois termos que tratam do
mesmo fenômeno. Além disso, o tópico explana sobre as princi-
pais teorias evolutivas que consideram esse fenômeno um dos
fundamentos das sociedades humanas, o grande campo de ob-
servação do preconceito intergrupal.
Assim como outras espécies, o Homo sapiens está adapta-
do à vida social (TOMASELLO, 2015), o que nos permite formar
e manter grupos. Os grupos humanos, assim como os de outras
espécies, evoluíram devido a um comportamento particular, de-
nominado cooperação – um comportamento em que um indiví-
duo beneficia a outro e que foi selecionado devido a esse benefí-
cio (IZAR, 2018). No entanto, grupos humanos apresentam uma
peculiaridade. Eles podem ser formados para realizar objetivos
específicos, que orientam as ações cooperativas dos membros.
Quando essas ações coletivas são bem-sucedidas e os objetivos
são alcançados, os benefícios são amplos. Esse tipo de grupo, de-
nominado coalizão cooperativa (o chamaremos apenas de coa-

157
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

lizão), foi fundamental na evolução da vida social do Homo sa-


piens (BUSS, 2019). Buss (2019) infere que humanos ancestrais,
a exemplo de caçadores-coletores contemporâneos, formavam
coalizões para resolver diversos problemas adaptativos funda-
mentais, como: alimentação (ao caçar, coletar e dividir os ali-
mentos), gerenciamento do ambiente físico (ao se deslocar pelo
terreno, termorregular e construir abrigos), cuidado parental e
segurança (ao defender-se contra predadores e nas incursões/de-
fesas contra coalizões rivais). Contudo, para entendermos como
as coalizões tornaram-se tão eficientes, faz-se necessário ampliar
nossa forma de conceber a própria cooperação e as diferentes for-
mas de cooperar.
Todo comportamento tem um custo fisiológico. Ao mudar-
mos o foco de análise da cooperação, das vantagens do benefi-
ciado para os custos do beneficente, percebemos que estamos
tratando de um comportamento que pode ser bastante custoso.
A consideração dos custos inerentes à cooperação é representada
pelo termo “altruísmo” (WEST et al., 2011), e explicar sua evolu-
ção é um desafio, já que os custos desse comportamento acar-
retam perda de aptidão do altruísta. Adiante, apresentaremos
quatro teorias que fornecem explicações sobre a evolução do al-
truísmo e como esse comportamento se tornou, a partir de coali-
zões ancestrais, uma das bases das grandes sociedades humanas
atuais. São elas: a Teoria da Seleção por Parentesco (HAMILTON,
1964), a Teoria do Altruísmo Recíproco (TRIVERS, 1971), a Teoria
da Reciprocidade Indireta (ALEXANDER, 1985) e a Teoria do Al-
truísmo Contingente (BREWER, 1999).
A Teoria da Seleção por Parentesco, proposta por Hamil-
ton (1964), explica a evolução do altruísmo direcionado a in-
divíduos aparentados. O conceito de aptidão indireta permite

158
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

entender que o altruísta incrementa indiretamente sua aptidão


ao favorecer o potencial reprodutivo de um parente, já que esse
compartilha informação genética com o altruísta. O somatório
da aptidão direta (descendentes férteis do altruísta) e da aptidão
indireta (descendentes férteis do parente beneficiado) é repre-
sentado pelo conceito de aptidão abrangente. Esse modelo traz
ainda o coeficiente de parentesco, que, resumidamente, equacio-
na a quantidade de informação genética compartilhada entre o
altruísta e seu parente. Por exemplo, gêmeos monozigóticos, ir-
mãos e pais, sobrinhos, primos etc., representam diferentes graus
de parentesco, já que os indivíduos envolvidos compartilham
quantidades diferentes de informação genética. Nesse sentido,
quanto maior o grau de parentesco do beneficiado, maior será o
incremento de aptidão abrangente do altruísta. O modelo de se-
leção por parentesco representa um marco no estudo da vida so-
cial, pois a partir dele, os conceitos de cooperação e altruísmo fo-
ram adequadamente incorporados a uma perspectiva de ganhos
individuais. No entanto, participar de coalizões envolve cooperar
também com indivíduos não aparentados.
Proposta por Trivers (1971), a Teoria do Altruísmo Recípro-
co explica o altruísmo direcionado a indivíduos não aparentados.
O conceito de reciprocidade direta explica que ações altruístas
podem, em caso de reencontro com o beneficiado, aumentar as
chances do altruísta receber benefícios recíprocos. Contudo, para
que a reciprocidade direta ocorra, algumas condições devem ser
cumpridas, entre elas: (1) os agentes devem ser capazes de me-
morizar a ação altruísta e associá-la a quem a praticou, (2) os
agentes devem viver tempo o suficiente para retribuir, (3) o gru-
po deve apresentar uma taxa de dispersão que possibilite o reen-
contro e uma estrutura hierárquica que permita a reciprocidade

159
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

e (4) os agentes devem ser relativamente dependentes uns dos


outros para sobreviver. Caso essas condições sejam atendidas,
para que esse comportamento tenha sido selecionado, é neces-
sário ainda que os custos das ações altruístas sejam menores que
os benefícios gerados, incorrendo em incremento da aptidão de
ambas as partes. O Homo sapiens atende aos requisitos citados,
assim, é plausível assumir que a evolução por altruísmo recípro-
co seja um dos antecedentes de parte do nosso perfil de cognição
social - o dilema entre ser ou não recíproco com o altruísta (tra-
pacear), controlar a trapaça, e reações emocionais associadas - e
da estrutura/dinâmica das coalizões (normas sociais, sistemas
de punição e recompensa etc).
As propostas de Hamilton e Trivers explicam boa parte do
altruísmo em grupos relativamente pequenos e com alto grau de
parentesco – como são inferidos os grupos humanos ancestrais
(IZAR, 2018). Contudo, as grandes sociedades atuais apresentam
formas sofisticadas de interação, o que envolve generalizações do
comportamento altruísta. Por exemplo: (1) os donos de grandes
empresas dependem do trabalho de funcionários não aparenta-
dos com eles, e recompensam esse esforço com um salário; (2)
torcedores de futebol apoiam fervorosamente seus companhei-
ros de torcida; e (3) voluntários ajudam em instituições filantró-
picas. Para explicar essas formas generalizadas de altruísmo con-
tamos com as Teorias da Reciprocidade Indireta (ALEXANDER,
1985) e do Altruísmo Contingente (BREWER, 1999).
Alexander (1985) propôs uma forma de generalização do
altruísmo baseada em informações e inferências sobre o poten-
cial cooperativo dos indivíduos, ou reputação. Segundo o autor,
comportamentos de ajuda aparentemente desinteressados pro-
cedem da evolução de sistemas morais baseados em reciprocida-

160
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

de indireta. Isso é, quando terceiros observam o resultado de uma


ação altruísta, adquirem informações sobre o comportamento
dos envolvidos e conseguem inferir resultados de futuras inte-
rações com eles. Dessa forma, podem julgar e escolher aqueles
cuja probabilidade de reciprocidade seja maior, incrementando
sua aptidão. Neste sentido, nossa tendência em favorecer os in-
divíduos de “boa reputação” e punir os de “má reputação” seria a
causa de exibirmos frequentemente o altruísmo em público, as-
sim como de evitarmos difamações, calúnias e outras formas de
“dano à moral” (NOWAK e SIGMUND, 2005). Portanto, a evolu-
ção dos sistemas morais se deve ao aumento da probabilidade de
altruístas recíprocos serem escolhidos como parceiros cooperati-
vos e à diminuição geral de interações cooperativas malogradas.
A Teoria do Altruísmo Contingente (BREWER, 1999) expli-
ca outra forma de generalização do altruísmo, na qual indivíduos
favorecem seletivamente aos membros de sua coalizão. Para que
o altruísmo ocorra de forma contingente, é necessário que os in-
divíduos: (1) sejam capazes de discriminar entre os membros e
não-membros da coalizão, logo, que realizem categorização so-
cial (TAJFEL, 1978); (2) apresentem aspectos de sua identidade
vinculados à coalizão, uma identidade social (TAJFEL e TURNER,
1986) e; (3) que tendam a favorecer os membros da coalizão, mes-
mo na ausência de parentesco, interações anteriores ou informa-
ções reputacionais – conhecido como viés de grupo (TAJFEL et al.,
1971). Essa forma de altruísmo incorre em outra condição, já que
os membros de uma coalizão apresentam respostas específicas a
não-membros. Essas respostas variam muito, contudo, respostas
negativas (indiferença e hostilidade) são expressas com regulari-
dade. Brewer (1999) argumenta que o altruísmo contingente evo-
luiu devido a um mecanismo de despersonalização, que garante o

161
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

direcionamento exclusivo de benefícios aos membros da coalizão.


Essa forma de altruísmo também é conhecida como altruísmo pa-
roquial – doravante usaremos esse termo para referenciá-la.
Visto que o conflito massivo entre coalizões ancestrais, ou
guerra, é considerado causa frequente de mortes durante perío-
do evolutivo da espécie (CHOI e BOWLES, 2007), assumimos o
incremento na eficiência do altruísmo como uma resposta adap-
tativa a essa pressão. Assim, as díades parentesco e retribuição
direta e reputação e despersonalização constituem um cres-
cente em poder de generalização dos mecanismos cooperativos
das coalizões. Essa inferência sugere que a generalização do al-
truísmo pode ter contribuído para o sucesso em conflitos entre
coalizões ancestrais. Nesse sentido, o altruísmo paroquial se so-
bressai, pelo maior poder de generalização. Dessa forma, os seus
traços cognitivos (categorizar indivíduos, identificar-se com um
grupo, enviesar o altruísmo aos membros, e responder a não-
-membros) teriam se difundido nas populações de Homo sapiens.
Esses traços foram conservados até a atualidade e caracterizam
nosso comportamento frente a condições ambientais semelhan-
tes às que os selecionaram.
Em síntese, argumentamos que todas as formas de altruís-
mo citadas articulam-se na dinâmica das coalizões e explicam
parcialmente a eficiência e evolução dessa forma de grupo. O al-
truísmo paroquial, em particular, nos interessa, pois considera-
mos que a expressão do preconceito intergrupal jaz na exclusão
e nas agressões direcionadas às categorias sociais antagonizadas
pelo agressor, motivadas por aspectos de sua própria identida-
de social. Essa teoria remete a particularidades da evolução do
altruísmo e das coalizões que provavelmente antecedem os tra-
ços cognitivos subjacentes ao preconceito intergrupal. Assim,

162
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

todas as formas de intolerância citadas na Declaração Univer-


sal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) procederiam do mesmo
mecanismo, em interação com diferentes categorias sociais (por
exemplo, o racismo procederia do preconceito entre grupos com
diferentes identidades étnicas). Adiante, focaremos em porme-
norizar os constituintes do preconceito intergrupal, tendo como
modelo teórico a Psicologia Evolucionista.

2. Psicologia Evolucionista: entendendo a


gênese do preconceito intergrupal
Neste tópico, apresentaremos o preconceito intergrupal
como uma resposta cognitiva a condições específicas do ambiente
social. Para isso, usaremos alguns dos conceitos da Psicologia Evo-
lucionista e os articularemos aos constituintes do altruísmo paro-
quial. Com isso, visamos evidenciar que o preconceito intergrupal
se trata de uma expressão regular, de intensidade variável, porém
não necessária, do altruísmo paroquial.
A Psicologia Evolucionista é considerada uma síntese da
biologia evolutiva e da psicologia cognitiva (HATTORI e YAMA-
MOTO, 2012). Seu objeto central é a cognição humana, ou seja,
essa ciência explica nossa interação com o ambiente atual a par-
tir de processos fisiológicos, através dos quais adquirimos, aten-
tamos, processamos, memorizamos e recordamos padrões infor-
macionais que impactaram positivamente na aptidão de nossos
ancestrais (FLINN et al., 2005). Isso posto, usaremos os conceitos
de mecanismo psicológico evoluído e função adaptativa (YAMA-
MOTO e VALENTOVA, 2018) para explicar o funcionamento dos
constituintes do altruísmo paroquial e a expressão do preconcei-
to intergrupal.

163
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Segundo Yamamoto e Valentova (2018), a Psicologia Evo-


lucionista assume que a cognição humana advém da estrutura-
ção de mecanismos psicológicos evoluídos. Esses mecanismos
são considerados unidades compostas por conjuntos de proces-
sos fisiológicos que subjazem o comportamento. O período evo-
lutivo trata do intervalo de tempo em que ocorreu o surgimento
e integração desses conjuntos de processos ao design cognitivo
do Homo sapiens. Sua função adaptativa consiste em suportar um
comportamento que responda adequadamente a um problema
adaptativo específico, o que resulta em ganho de aptidão e con-
servação do mecanismo psicológico evoluído. Apesar de especí-
ficos, esses mecanismos são plásticos e interativos entre si, o que
confere grande extensão ao repertório comportamental da espé-
cie. Esses conceitos nos ajudarão a entender as causas de com-
portamentos como o preconceito intergrupal.
Nesse sentido, poderíamos considerar o altruísmo paro-
quial como um mecanismo psicológico evoluído? Yamamoto
e Lopes (2009) respondem que: sim. Nessa perspectiva, o pre-
conceito intergrupal é caracterizado pela associação entre viés
de grupo e respostas negativas a outros grupos (indiferença e/
ou hostilidade). Para ratificar a visão das autoras, explanaremos
sobre o funcionamento e função adaptativa dos constituintes e
processos desse mecanismo até a expressão do preconceito in-
tergrupal.
A categorização social nos permite, por comparação, abs-
trair a variabilidade dos traços em subconjuntos (as catego-
rias), e intensificar as similaridades e diferenças desses subcon-
juntos (TAJFEL, 1978). Com efeito, comparando nossos traços
aos de outros indivíduos, cogitamos uma noção categórica de
si, um “eu”, denominado por Turner et al., (1994) de identida-

164
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

de individual. A identidade social emerge quando informações


referentes ao pertencimento grupal são incorporadas à identi-
dade individual. Aliás, Tajfel (1978) enfatiza que a identidade
social também é caracterizada por sua associação a emoções.
Isso significa que um vínculo afetivo entre o indivíduo e seu
grupo fundamenta a construção das noções de “nós” (membros
do meu grupo) e “eles” (não-membros do meu grupo), além da
atribuição de valor a essas categorias. Ademais, esses processos
orientam a tomada de decisão em contexto grupal, logo, ante-
cedem comportamentos que impactam no sucesso das relações
altruístas nas coalizões.
De fato, o viés de grupo é um dos comportamentos que de-
rivam das competências cognitivas citadas acima (TAJFEL et al.,
1971). O valor afetivo do pertencimento faz da identidade social
uma fonte confiável de informação para inferências sobre as dis-
posições cooperativas dos membros de uma coalizão, o que per-
mite a despersonalização dos membros. Isso mantém o caráter
contingente do altruísmo pela mitigação dos riscos de não-reci-
procidade, resultando no favorecimento generalizado dos mem-
bros e na viabilidade econômica de coalizões mais populosas e
menos aparentadas. Contudo, dada a centralidade do altruísmo
para a manutenção das coalizões, o viés de grupo pode associar-
-se a adjuvantes.
Favorecer exclusivamente aos membros de um grupo po-
puloso não é tarefa simples, pois esses podem não ter interagido
anteriormente. Dessa forma, sinalizações evidentes de perten-
cimento, ou marcadores sociais (YAMAMOTO e LOPES, 2009),
facilitam o reconhecimento do membro e o direcionamento ex-
clusivo de benefícios grupais. Diversos padrões podem executar
essa função, como: linguagem, gênero, idade, vestuário, adornos,

165
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

penteado, etc. O pertencimento ao grupo pode ser sinalizado


ainda por conformidade social (PANIZZA et al., 2021), na qual os
juízos e atitudes dos membros são comparados a um “ideal nor-
mativo” de membro – conhecido como protótipo. Ademais, sina-
lizações de pertencimento podem ser custosas, o que aumenta
sua fiabilidade (HENRICH, 2009). Por exemplo, ritos de passa-
gem dolorosos, abstinência de prazeres, tatuagens etc.
Finalmente, explanaremos sobre os comportamentos di-
recionados a não-membros. Duckitt e Parra (2004) averiguaram
que o tipo de relação entre as coalizões de um mesmo cenário
predisse a associação entre identidade social e respostas negati-
vas. Os autores propuseram um modelo de três relações:
I - Autonomia interna: a manutenção interna das coalizões
é independente, ou seja, não há comparações ou ameaças entre
elas. Nesse caso, não se espera associação entre identidade social
e respostas negativas.
II - Comparação intergrupo: a manutenção interna de uma
coalizão depende do declínio da outra. Nesse caso, a identidade
social pode estar associada a respostas negativas motivadas tan-
to por beneficiar a própria coalizão quanto por prejudicar a outra.
III - Conflito intergrupo: a manutenção interna de uma
coalizão é ameaçada pelo conflito com outra. Nesse caso, se es-
pera que identidade social se associe a respostas que não diferen-
ciem beneficiar a própria coalizão e prejudicar a outra.
Esse modelo esclarece que a identidade social e o cenário in-
tergrupo, isoladamente, não são causas suficientes da indiferença
e/ou hostilidades a não-membros. Porém, sua associação funcio-
na como um gatilho do preconceito intergrupal (BREWER, 2017).
Resumidamente, a Psicologia Evolucionista considera o al-
truísmo paroquial um mecanismo psicológico evoluído que man-

166
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

tém e otimiza a coesão das coalizões. Esse mecanismo foi selecio-


nado por incrementar a chance de vitória em guerras durante o
período evolutivo da espécie (CHOI e BOWLES, 2007). O cumpri-
mento de sua função adaptativa demanda que o indivíduo catego-
rize o ambiente social e identifique-se com uma coalizão (cogni-
ção) para então motivar-se em favorecer os membros e contribuir
para a realização dos objetivos da coalizão (comportamento). Con-
tudo, em caso de competição por recursos ou prestígio (ambiente
conflituoso), a identidade social também motiva a expressão de
indiferença/hostilidade aos competidores, daí a gênese do precon-
ceito intergrupal (BREWER, 2017). Apesar de custoso, considera-
mos o altruísmo paroquial um mecanismo psicológico evoluído
de desempenho eficiente e estável em lidar com o contexto que
foi desenhado para operar. Dessa forma, esperamos ter provido ao
leitor uma explicação sobre a regularidade espacial e temporal do
preconceito intergrupal em cenários de competição e conflito.

3. Lidando com o preconceito intergrupal

Agora que provemos uma perspectiva sobre a evolução e


os aspectos cognitivos subjacentes ao preconceito intergrupal,
abordaremos o manejo desse fenômeno. Partimos de duas pre-
missas baseadas na Teoria da Distinção Ótima (ZUCKERMAN,
2016): (1) que uma relação entre identidade individual e identi-
dade social interfere na expressão do altruísmo paroquial; e (2)
que a interpretação do cenário intergrupo é suficiente em evocar
respostas comportamentais. Isso significa que a mera interpre-
tação da existência de conflito intergrupo (logo, de risco) pode
motivar a proteção da identidade individual através de compor-
tamentos que assegurem a integridade e/ou otimizem o desem-

167
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

penho da coalizão. São exemplos disso: a exclusão social, atra-


vés do viés de grupo e indiferença; as agressões físicas e morais
contra rivais; e até a sua desumanização. Neste tópico, apresen-
taremos algumas das teorias de maior alcance sobre a mitigação
dessas tendências.
A hipótese do contato (ALLPORT et al., 1954; CHRIST e
KAUFF, 2019) e o conceito de complexidade da identidade social
(ROCCAS e BREWER, 2002) são premissas importantes de inves-
tigações atuais sobre redução do preconceito intergrupal (FLA-
DE et al, 2019; JUNG et al., 2019; VEZZALI et al., 2021). A hipó-
tese do contato prediz que o surgimento do preconceito se deve
a não-familiaridade entre os grupos, o que causa desconfiança,
insegurança e até agressividade (ALLPORT et al., 1954). Por outro
lado, devido à complexidade da identidade social, indivíduos são
capazes de identificar-se a múltiplos grupos simultaneamente
(ROCCAS e BREWER, 2002). Ou seja, se as categorias sociais po-
dem relacionar-se de forma complexa, é plausível testar modelos
que flexibilizem os limites categóricos e a própria identidade so-
cial. Dessa forma, surgiram modelos de mitigação do preconceito
intergrupal baseados nas ações propostas por Allport et al. (1954):
apoio institucional, criação de interdependência no cumprimen-
to de objetivos comuns e igualdade de status entre os grupos.
O modelo da decategorização social (BREWER e MILLER,
1984) assume que o aumento da familiaridade entre membros
de diferentes grupos atenua a interpretação de risco à identidade
individual. Com isso, os limites categóricos do grupo são flexi-
bilizados e os indivíduos tendem a humanizar os não-membros
do grupo, o que reduz a hostilidade. Estudos empíricos recentes
apontam que a decategorização social suporta o efeito de trans-
ferência secundária, no qual ações positivas entre dois grupos

168
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

foram incrementadas por ações positivas direcionadas a um ter-


ceiro grupo (VEZZALI et al., 2021). Esse modelo suporta ainda o
efeito de unificação por ameaça externa, no qual ações positivas
entre grupos outrora rivais são incrementadas pelo senso de “ini-
migo em comum” (FLADE et al., 2019).
O modelo da recategorização social (GAERTNER et al.,
1999) visa aumentar o contato e a familiaridade entre grupos
através da criação de um novo grupo, mais abrangente e inclu-
sivo. Recentemente, verificou-se que a recategorização suportou
o efeito de projeção do grupo, no qual o pertencimento a grupos
inter-relacionados resultou em recategorizações hierárquicas de
suas múltiplas identidades sociais (JUNG et al., 2019). Ademais,
os modelos mistos articulam a decategorização e a recategori-
zação objetivando respostas mais consistentes em longo prazo
(BROWN e HEWSTONE, 2005).
Resumidamente, a literatura corrobora a hipótese do con-
tato. As premissas e inferências dessa hipótese se figuram um
suporte confiável a estudos e ações que visem reduzir os efeitos
danosos do preconceito intergrupal. Os modelos e evidências
apresentados neste tópico sugerem que a percepção de risco ao
grupo é interpretada como um risco a integridade da identidade
individual, o que motiva reações excludentes e hostis. A redução
dessa insegurança pela familiarização dos grupos é o cerne da
proposta de Allport et al. (1954) e aparenta ser um “ponto segu-
ro” em que podemos nos ater. Essa familiarização pode se dar
de várias formas e resultar em vários efeitos, porém, eles con-
vergem para o aumento das respostas positivas, o que indica a
diminuição das respostas negativas. Enfim, as ações efetivas em
lidar com o preconceito intergrupal são pautadas na promoção
paulatina de cooperação entre rivais.

169
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

4. Considerações finais

Neste capítulo, tratamos do preconceito intergrupal, um


comportamento excludente e hostil, gerado espontaneamente
por um mecanismo psicológico evoluído. Esse mecanismo foi se-
lecionado por subjazer respostas comportamentais adequadas
à pressão seletiva do conflito entre grupos ancestrais. Em con-
sequência, a simples percepção de risco ao grupo que estamos
suficientemente identificados constitui o gatilho ambiental da
exclusão social e da hostilidade. Frente a esse gatilho, o precon-
ceito intergrupal tende a ser expresso de forma bastante regular,
e sua eficiência em subjugar rivais e vencer conflitos é evidente.
Contudo, atualmente, essa regularidade e eficiência são descon-
certantes e contraproducentes à manutenção da civilidade. Isso
justifica nossos esforços em lidar com o preconceito intergrupal
pela criação e manutenção de um referencial ético-normativo in-
ternacional, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Encerramos ressaltando ao leitor que as pesquisas cientí-
ficas e publicações acadêmicas também são uma forma de lidar
com o preconceito intergrupal. Este capítulo é uma prova disso!
Lideranças como Luther King, Beauvoir e Ganghi são evidências
históricas da eficiência de uma formação ético-intelectual indi-
vidual e do engajamento popular não-violento na mitigação do
preconceito intergrupal. Neste capítulo, através da perspectiva
evolucionista, esperamos ter provido ao nosso leitor um pouco
de ambas.

170
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

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176
Cap. 7
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Espelho, Espelho Meu, Existe


Alguém Mais Exibido do Que
Eu? Produtos Culturais Como
Indicativo de Atratividade, Status e
Dominância Social

João Lucas Garcia


& Felipe Nalon Castro

Por vezes, nos questionamos o motivo de “Fulano


comprar aquele relógio tão caro” ou de “Beltrano comprar
aquela bolsa chiquérrima e caríssima que por vezes não
cabe nem o cartão de crédito que pretende usar” ou “por
que Astrogildo decidiu comprar um carro premium de va-
lor monetário tão alto, se ele não será capaz de pagar todas
as parcelas até o final?” ou até o famoso dilema de: “Quem
consome mais, homem ou mulher?” ou ainda aquela famo-
sa frase que sempre ouvimos de pessoas consumistas: “Só
compro o necessário”. Esses e outros questionamentos per-
meiam nossa mente e sociedade em busca de uma possível
resposta que nos leve a, pelo menos, termos a noção do que
se passa na cabeça dessas pessoas ao fazerem consumos tão
caros, por vezes são tidos como “desnecessários” para a so-
brevivência humana.

178
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Durante a evolução, diversas estratégias sexuais surgiram


no contexto animal como forma de demonstrar características e
aptidões (BUSS e SCHMITT, 1993). Uma das formas mais usais de
comunicação é a sinalização, que é uma forma comum de anun-
ciar informações. Para isso, os indivíduos exibem suas posses,
conquistas, presentes, artigos, bens, dentre outros, na intenção de
demonstrar seu status, dominância social e valor de mercado, que
consiste no quanto o indivíduo é atrativo em uma escala global
considerando várias características.
Neste capítulo, traremos uma breve discussão sobre o
quanto a autopercepção do indivíduo sobre suas escolhas de
consumo pode influenciar na modulação do seu status social
subjetivo, dominância social e seu valor de mercado.

1. Motivações fundamentais

Os animais apresentam características que permitem sua


sobrevivência e, via reprodução, há a passagem da informação
genética para as futuras gerações. Quando se trata de reprodu-
ção, verifica-se que os sexos masculino e feminino utilizam dife-
rentes estratégias para a busca por parceiros reprodutivos. Com-
portamentos relacionados à busca por parceiros, competição por
status, investimento parental, assim como evitação a doenças,
são comportamentos associados a diferentes sistemas de moti-
vação (DURANTE e GRISKEVICIUS, 2016).
A motivação, do ponto de vista etológico, é caracterizada
como a capacidade que um animal possui de lidar com os desafios
internos e externos na natureza, a fim de conduzir a uma respos-
ta que o permita sobreviver naquele determinado ambiente. O
conceito leva em consideração a dinâmica ambiental, estrutural

179
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

e a abordagem concernente da ontogenia comportamental. A on-


togenia se relaciona com o desenvolvimento de um organismo e
refere-se à capacidade do indivíduo aprender a lidar desde jovem
com os desafios do ambiente e como ele vai refletir na sua respos-
ta durante o período da maturidade animal. Esse aprendizado irá
criar novas redes neurais, que possibilitarão ao animal coexistir
na natureza com indivíduos da sua e de outras espécies por meio
do ato da comunicação, competição, investimento em sua prole,
reprodução, dentre outros fatores (DECARO et al., 2015).
O termo “motivação” também pode ser caracterizado por
modelos neuroendócrinos que impulsionam as expressões com-
portamentais dos indivíduos, conduzindo a comportamentos
afiliativos, cognição social, agressão e estresse/ansiedade, bem
como se relaciona a sentimentos, à percepção de atitudes que
gerem ansiedade, raiva, humilhação (SUMMERELL et al., 2020),
comportamento sexual (BIALY et al., 2019) comportamento so-
cial, dentre outros. Em animais, a motivação também se relacio-
na ao investimento parental, forrageio e reprodução (MARQUES
et al., 2020). Os sistemas motivacionais estão atrelados à ação
de hormônios que possibilitam criar, bloquear e modelar com-
portamentos mediados por pistas ambientais (SAUNDERS et al.,
2018), bem como fatores físicos externos podem afetar sua fisio-
logia. Dessa forma, esses sistemas foram selecionados por capa-
citar os animais a lidar com os desafios encontrados no ambiente.
As motivações fundamentais são parte de sistemas adap-
tativos que surgiram para resolver problemas ancestrais recor-
rentes. Esses sistemas de motivação podem ser entendidos como
indicadores de ameaças ou oportunidades relacionadas a desa-
fios evolutivos específicos, tais como: evitar danos físicos, evitar
doenças, fazer amigos, alcançar status, adquirir um parceiro,

180
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

manter um companheiro e cuidar da família, os quais podem ser


ativados devido a pistas externas ou internas no ambiente (DU-
RANTE e GRISKEVICIUS, 2016).
Nos humanos, as motivações fundamentais influenciam
uma série de comportamentos, tais como: afiliação, pertenci-
mento social, ensino e aprendizado, autoproteção, obtenção de
status, atração por parceiros, retenção de parceiros e criação dos
filhos (MOTOKI e SUGIURA, 2017). Por exemplo, a busca por
parceiros é o sistema motivacional tipicamente acionado pela
presença de parceiros reais ou potenciais parceiros imaginados.
Este sistema de motivação também pode ser desencadeado por
meio do acesso a anúncios sensuais ou românticos, filmes, pro-
pagandas ou programas televisivos (GRISKEVICIUS e KENRICK,
2013). É um sistema que, diferente do sistema de autoproteção,
faz com que a pessoa deseje ser notada. Inclusive, para se des-
tacarem socialmente, muitos homens tendem a se exibir mais e
buscar gastar mais com consumo de luxo (GRISKEVICIUS et al.,
2007). Outro componente importante do sistema motivacional
é a manutenção ou retenção de parceiros, que envolve compor-
tamentos direcionados para manter os atuais compromissos de
relacionamento afetivo, bem como possui um fator de ameaças
que impede rivais de chegarem ao seu atual parceiro reproduti-
vo. A motivação para retenção de parceiros também é circundada
por pistas no ambiente que os faça recordar constantemente so-
bre seus vínculos de relacionamentos atuais, tais como lembrar
da data de aniversário dentre outras características.
Ainda dentro do aspecto reprodutivo, o investimento pa-
rental é uma motivação fundamental que está atrelada à neces-
sidade de ajudar um indivíduo aparentado a sobreviver. O inves-
timento parental, por sua vez, envolve um cuidado maior com o

181
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

indivíduo que está mais próximo dele, principalmente quando,


nesse caso, o indivíduo pertence a um grupo de maior parentesco
(BURNSTEIN et al., 1994).
Relacionado de forma mais direta com competição no am-
biente social, observamos a motivação fundamental para a bus-
ca pelo status. De acordo com Griskevicius e Kenrick (2013), este
sistema é acionado por pistas no ambiente que se relacionam a
dominância, prestigio, reputação ou competição, bem como rea-
lizações, rivalidades, produtos ou pessoas com conceitos eleva-
dos. Para Anderson, Hildreth e Howland, (2015), o status pode
ser definido como respeito, admiração e deferências voluntárias
proporcionadas por outros. É percebido que pessoas com eleva-
do status possuem significativa influência interpessoal, mais re-
cursos materiais, maior autoestima e melhor saúde, assim como
uma maior chance de adquirir e reter parceiros reprodutivos
(DURANTE et al., 2013).

2. Competição, escolha e preferências sexuais

A seleção de parceiros reprodutivos é um processo custo-


so e ocorre por meio da competição entre indivíduos do mesmo
sexo e da exibição das características para atrair parceiros de
interesse (ALCOCK, 2011). Nos mamíferos, é amplamente ob-
servado o investimento parental materno (lactação, gestação e
cuidado) e, dentre os grandes primatas, os humanos constituem
um grupo no qual o investimento parental paterno é significan-
te para a sobrevivência dos infantes, por provisionamento de re-
cursos, defesa e cuidado (KLEIMAN e MALCOLM, 1981). Como
homens e mulheres apresentam investimento parental, obser-
vamos a ocorrência da escolha mútua no acasalamento, ou seja,

182
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

homens e mulheres exercem uma escolha substancial sobre seus


potenciais parceiros. Além disso, cada sexo possui uma singular
preferência por parceiros reprodutivos (BUSS e SCHMITT, 1993),
sendo influenciado por traços, como: ser generoso, altruísta,
justo, heroico (MARGANA et al., 2019) e cooperativo (HENRICH
e MUTHUKRISHNA, 2020). Somada à escolha, observamos que
a competição é um fator importante no processo reprodutivo e
pode ser entendida por disputa entre indivíduos em que ocorre
busca por recursos sociais ou físicos os quais venham melhorar a
capacidade de sobrevivência e o sucesso reprodutivo no processo
de seleção de parceiros (BENENSON et al., 2018).
A seleção de parceiros reprodutivos assemelha-se ao fun-
cionamento de um típico mercado, no qual ocorre troca de “mer-
cadorias” e que, em virtude dos traços que um parceiro em poten-
cial viesse a exibir, poderia angariar vantagens competitivas ou o
direito de escolha do referido parceiro (NOE e HAMMERSTEIN,
1995). De forma geral, um “mercado biológico” caracteriza-se
por constituir algumas características peculiares, tais como: (1)
o parceiro que possuir melhores atributos e oferecer melhores
presentes possuirá mais vantagens em detrimento de seus com-
petidores; (2) existe uma maior troca de mercadorias entre eles e
isso se torna uma fonte de conflito; (3) usam a mercadoria como
forma de serem mutualistas, trocando benefícios com pelo me-
nos duas classes de indivíduos. A forma como competem entre
si determina quais ou quantos pares serão formados no grupo
(NOE e HAMMERSTEIN, 1995). Para que a comunicação destas
informações ocorra com sucesso, é necessário que emissor e re-
ceptor possuam aparatos que os permitam emitir, identificar e
compreender a mensagem, para que não haja uma típica sinali-
zação desonesta ou trapaça por meio dos indivíduos. Caso ocorra

183
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

trapaça e desonestidade por meio dos sinais passados, os indiví-


duos vítimas da trapaça tenderão a perder em energia e possíveis
parceiros reprodutivos (LAMAURY et al., 2019).
De acordo com Trivers (1972), o investimento parental é
um tipo de esforço dos pais que possibilita o aumento na chance
dos filhos sobreviverem à custa de eles conseguirem investir em
outra prole, o que significa dizer que aumentar o investimento
em uma prole limita o investimento em prole futuras. Segundo
Trivers (1972), machos e fêmeas se comportam de forma dife-
rente: normalmente, fêmeas tendem a investir mais energia na
produção de seus ovos enquanto machos tendem a investir sua
energia para gerar o esperma. Dessa forma, fêmeas tendem a ser
mais seletivas na escolha do parceiro reprodutivo, visto que seu
investimento tende a ser mais custoso e prolongado devido à ge-
ração e cuidado da prole.
A Teoria das Estratégias Sexuais (TES) proposta por Buss e
Schmitt (1993) indica que, no decorrer da evolução, surgiram es-
tratégias específicas em indivíduos de ambos os sexos a fim de ad-
quirir um parceiro adequado para acasalamento. As principais ca-
racterísticas de interesse são aquelas consideradas importantes na
reprodução, por sinalizarem maturidade sexual e disponibilidade
de recursos necessários para o cuidado com a prole. Homens e
mulheres tendem a se comportar de formas diferentes perante um
parceiro reprodutivo e essa característica é mais significante quan-
do relacionada a relacionamentos de curto e longo prazo. Segundo
a TES, as mulheres valorizam parceiros que apresentam recursos
e elevado status socioeconômico, além do aporte ou aptidão física
que poderá ser mais viável para sustento de uma prole e a qualida-
de genética. Inclusive, quando se trata de porte físico, compreen-
de-se que uma das forças modeladoras da seleção sexual na inten-

184
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

ção de ganhar uma competição poderia ter sido a ameaça, a força


e, segundo Ko e Suh (2019), a atratividade física do parceiro estava
relacionada à felicidade nas mulheres, bem como a atratividade
seria um fator característico de um parceiro em boas condições de
saúde. Para o sexo masculino, as características mais relevantes
são àquelas relacionadas com a saúde reprodutiva feminina e que
sinalizam maturidade sexual (BUSS e SCHMITT, 1993).
Segundo Castro e Lopes (2011), para relacionamentos de
curto prazo, as mulheres tendem a buscar homens com caracterís-
ticas relacionadas a rosto bonito, saúde, inteligência e bom humor
e, medianamente, os traços de corpo bonito e sinceridade são os
que vem logo a seguir. Concernente a relacionamentos de longo
prazo, as mulheres dão preferência a homens inteligentes, saudá-
veis, com bom humor e sinceros, pois essas características podem
indicar alto nível de sociabilidade nos indivíduos. No quesito de
relacionamento de curto prazo para homens, eles dão preferência
a quesitos relacionados ao corpo bonito, rosto bonito e saúde e,
para relacionamentos de longo prazo, os homens tendem a bus-
car mulheres com corpo bonito, rosto bonito, saudável e, também,
inteligente e sincera, pois são fatores percebidos para relaciona-
mentos de longo prazo como estratégia em ambos os sexos e que
indicam ser características alvo para manutenção deste tipo de
relacionamento.
Na natureza, é importante salientar que as estratégias uti-
lizadas para busca por parceiros não são fixas, mas sim variam
de acordo com as características do ambiente (BUSS e SCHMITT,
2019). Sabe-se que os machos mais requisitados são aqueles que
conseguem passar à sua prole características genéticas que os
diferenciem e permitam melhor se adaptar e sobreviver no am-
biente; contudo, fêmeas também buscam machos que consigam

185
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

fazer um balanceamento entre investir geneticamente e cuidar


dos filhotes. Machos e fêmeas foram selecionados para usar es-
tratégias de acasalamento ecologicamente contingentes e con-
dicionais, dedicando algum esforço ao acasalamento a curto e
a longo prazo sob condições específicas. Em um ambiente mais
desafiador, no qual a sobrevivência da prole está relacionada ao
cuidado biparental, as fêmeas tenderiam a buscar pais que pos-
sibilitassem um maior investimento na prole e não apenas inves-
timento genético, então, nesse caso, espera-se que uma maior
quantidade de mulheres adote a estratégia de relacionamento
de longo prazo. Por outro lado, se o ambiente apresenta elevado
nível de patógenos, as fêmeas tendem a buscar machos com me-
lhor aptidão genética.

3. Sinalização custosa e comparação social

Para compreender o comportamento, é importante enten-


der como os indivíduos comunicam suas características e quais
são os custos envolvidos na sinalização da informação. A comu-
nicação envolve a transferência de informação entre animais de
sua espécie ou outras espécies com intenções distintas e variadas
de forma involuntária ou intencional, em que é necessário que
os indivíduos possuam aparato comunicativo capaz de discernir
entre o envio e recebimento das informações. Como exemplo de
comunicação intencional, encontramos o caso das cortes, que se
caracteriza como um tipo de sinalização animal (ALCOCK, 2011;
WITZANY, 2014). Sinalização, por sua vez, tem como significado
a capacidade que o indivíduo tem de demonstrar suas caracterís-
ticas por meio de exibições, sejam sonoras, visuais, físicas, den-
tre outras formas, de maneira que o receptor consiga interpretar

186
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

essa informação. Caso contrário, o emissor terá gasto energético


significante para envio de uma informação que não foi bem apro-
veitada e será descartada (ZAHAVI, 1975).
Um tipo específico de sinalização é a sinalização custo-
sa. Esse termo foi cunhado por Zahavi (1975), o qual mostrou
que os animais tendem a exibir suas características conspícuas
(chamativas) como forma de sinalização para fêmeas em uma
seleção intersexual e, como animal característico, ele citou a
exuberante cauda do pavão como um de seus mais fidedignos
representantes. O pavão apresenta custos para manutenção
desta cauda, os quais são significativos, já que quanto maior e
mais colorida for a cauda, maior são os custos energéticos des-
pendidos pelo animal e, ainda por cima, maior é a facilidade do
predador encontrá-lo. Ainda assim, o pavão utiliza esse orna-
mento como forma de atrair parceiras sexuais (ZAHAVI, 1975),
resultando em ganhos de aptidão. Para De Jong (1994), apti-
dão seria em si uma causa da seleção natural, usada para indi-
car uma medida de adaptação geral na natureza e para indicar
uma medida do sucesso reprodutivo em curto prazo dos indi-
víduos. São quatro as características necessárias para um sinal
ser considerado custoso: (1) deve ser observado com facilidade
no ambiente; (2) sua falsificação deve ser difícil, uma vez que
ela apresenta custos para sua produção e/ou manutenção; (3)
deve estar associado direta ou indiretamente com alguma ca-
racterística não facilmente observada, mas que indique elevada
qualidade e que é desejada pelos demais indivíduos; e (4) deve
resultar no aumento da aptidão (NELISSEN e MEIJERS, 2011). A
manutenção da exibição conspícua sugere que sua função como
indicador de aptidão resulta em benefícios para os indivíduos
que estão em condições de arcar com seus custos.

187
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Nos humanos, a aptidão dos indivíduos pode ser sinali-


zada dessa forma e suas qualidades podem ser percebidas pelos
outros, o que, por sua vez, pode afetar as interações sociais, re-
sultando em benefícios sociais (GROSS et al., 2016) e reproduti-
vos. Dentre os exemplos de exibição conspícua, podemos citar:
(1) a generosidade incondicional, em que os indivíduos tendem a
fornecer contribuições significativas a outras pessoas (como ali-
mentos saborosos, ajuda financeira, dentre outros) em ambien-
tes com nítida aglomeração de pessoas, o que pode resultar em
maior visibilidade social e poder político; (2) o comportamento
de “desperdício”, no qual o indivíduo utiliza de forma desneces-
sária seus recursos para exibir suas características e conquistas
para outros; (3) a elaboração artística, caracterizada por capa-
cidades que os indivíduos possuem de, com suas habilidades,
conseguirem parceiros por meio de exibição de seus trabalhos,
de tal maneira que, dependendo do tipo de material especifico e
bem elaborado pela pessoa, ela irá ou não obter benefícios socias
como o casamento desejado; (4) ritual e compromisso religioso,
caracterizado por investimentos feitos pelo indivíduo naquele
determinado local de concentração religiosa, seja por meio de
bens financeiros, tempo, divulgação, dentre outros, de forma a
demonstrar íntimo compromisso com aquela causa em questão
(NELISSEN e MEIJERS, 2011).
Na nossa espécie, as características individuais, relaciona-
das ao status e os relacionamentos sociais conquistados podem
ser objeto de comparação social, influenciando direta ou indi-
retamente a competição. A teoria da comparação social propõe
que seres humanos têm um instinto básico de se comparar com
outros para obter uma avaliação das suas próprias habilidades
e opiniões (FESTINGER, 1954). A comparação das habilidades

188
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

físicas ou cognitivas com terceiros pode resultar na redução do


desempenho, contudo a comparação social pode resultar em res-
peito, fornecimento de benefícios e imposição dentre grupos, o
que possibilita vantagem competitiva entre os envolvidos (FES-
TINGER, 1954). Por meio da comparação social, é possível reduzir
os custos originados a partir de um confronto direto com outro
indivíduo mais apto, uma vez que os indivíduos podem avaliar
suas características e a diferença de desempenho esperada em
determinado contexto pode ser usada para tomar a decisão de
competir por determinado recurso ou evitar o confronto (MARX,
2019).
Diversos estudos evidenciam os efeitos da comparação
social em vários âmbitos: ela ocorre nas redes sociais (YANG e
ROBINSON, 2018), em compras on-line por impulso (LIU; HE; LI,
2019), no uso do Facebook e suas consequências afetivas, na au-
toestima e fadiga, nas emoções e bem-estar psicológico (PARK e
BAEK, 2018). Também percebe-se o efeito da comparação social
na aferição da inveja em alunos (ZHENG et al., 2017), no contexto
de nacionalidade (WOO et al., 2018), no sentimento de inveja e
ameaça por colegas de trabalho e nas motivações para consumo
de produtos de luxo (ZHENG et al., 2018). Por meio dessa aborda-
gem concernente à comparação social é que se busca o entendi-
mento ou possível explicação dos motivos relacionados ao con-
sumo conspícuo ou de luxo.

4. Produtos culturais e consumo conspícuo

De acordo com Buss e Schmitt (2019), uma das fontes de


dados que pode ser utilizada para testar hipóteses evolucionis-
tas é a investigação de produtos humanos. Segundo tais autores,

189
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

produtos humanos englobam qualquer tipo de produto que foi


desenvolvido a partir da nossa mente evoluída. Em consonância
com o pensamento, o pesquisador Saad (2012) apresentou o ter-
mo “produtos culturais”, o qual apresenta como componentes o
uso da arte, música, literatura, genética e sinalização sexual, den-
tre outros fatores, que são utilizados como ferramentas condu-
toras de processos adaptativos. Ele afirma que vários produtos
podem ser interpretados como “fósseis da mente humana”, indi-
cando que muitos estão relacionados a temas recorrentes ao lon-
go do tempo evolutivo e representam a universalidade da nos-
sa natureza. Muitos desses produtos são sucessos de vendas no
mercado porque exploram nossos desejos evoluídos ou porque
sinalizam características que gostaríamos de exibir a terceiros.
Por exemplo, ao comprarmos um carro muito caro em detrimen-
to de um carro com as mesmas funções, porém com o preço mais
acessível, acabamos por demonstrar socialmente que temos uma
quantidade grande de recursos. Esse exemplo ilustra uma forma
atual de sinalização custosa muito comum em nossa espécie: o
consumo conspícuo. O termo consumo conspícuo foi cunhado
por Veblen (1899), no livro “A teoria da classe ociosa”, que visa
caracterizar e denominar a compra de produtos de luxo e gastos
expressivos, dispensáveis para sobrevivência do ser humano.
O sociólogo Zygmunt Bauman (2008) sugere que o consu-
mo traz a promessa de intensa satisfação para o ser humano que
só possui utilidade enquanto o indivíduo continuar insatisfeito
após sua realização ou quando não está completamente satisfeito
com seus desejos e motivações. Neste caso, observa-se um ciclo
que envolve consumo, insatisfação com o consumo realizado e,
novamente, um novo consumo. Bauman (2008) também afirma
que o consumo afeta o valor social e a autoestima do indivíduo

190
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

e que a sociedade consumista é, em si mesma, a própria merca-


doria de consumo. Corroborando com Bauman, Taschner (1997)
aferiu que o consumo não inclui necessariamente bens, mas sim
a imagem que produzem para a sociedade. Também percebe-se
que pessoas compram ou consomem materiais buscando satis-
fazer suas experiências hedônicas e não necessariamente suas
necessidades básicas (HUDDERS, 2012).
Uma categoria típica de produtos conspícuos que tendem
a apelar para o hedonismo ou exibição do consumo são os pro-
dutos luxuosos. O conceito da palavra luxo é abrangente e par-
cialmente difícil de ser contextualizado. Luxo pode ser definido
como bens, artigos, objetos ou materiais que verdadeiramente
são excepcionais ou únicos para o indivíduo e a sociedade, seja
em termos de raridade, qualidade, matérias-primas nobres ou
caracterização particular artesanal, levando os produtos a preços
elevados ou conspícuos, adquiríveis apenas para poucos grupos
oligárquicos (KAPFERER e LAURENT, 2016). A longo prazo e per-
meando várias culturas, este termo também tem sido corriquei-
ramente relacionado a aspectos de noções de qualidade, status
social, exclusividade, valor do preço, herança, veracidade, ex-
clusividade, autenticidade e gastos ostensivos (VEBLEN, 1899).
A percepção do conceito “luxo” varia de acordo com o mercado
econômico e nem sempre esse tipo de consumo incluiu a qua-
lidade de ser supérfluo ou desnecessário para sobrevivência do
indivíduo (CRISTINI et al., 2017). Sabe-se que os produtos con-
siderados luxuosos variam entre classes sociais e culturas e se
caracterizam por variações na percepção de preços (KAPFERER e
LAURENT, 2016), bem como variam em relação a rendas e moti-
vações (STATHOPOULOU e BALABANIS, 2019). Em continuidade
ao entendimento do conceito “luxo”, podemos citar como poten-

191
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

ciais exemplos de luxuosidade os carros, apartamentos, roupas,


relógios e celulares, dentre outros itens (DUNN e HILL, 2014;
GOLDENBERG, 2011). O consumo de luxo pode até mesmo ser
observado em populações tradicionais que estão em contato com
centros urbanos, não apenas em populações ou ambientes que
despendiam de forma nítida gastos ostensivos e inconspícuos
com bens frívolos e efêmeros. Por exemplo, em tribos oriundas
da região amazônica (tsimanes), Godoy et al. (2007) verificaram
que ambos os sexos alocam a parcela maior de suas despesas mo-
netárias a luxos ou a bens duráveis visíveis. De forma geral, esses
produtos têm sido usados como instrumento para alcançar obje-
tivos e desejos futuros.
Diversos trabalhos têm sugerido que a exibição de produ-
tos luxuosos afeta a percepção das características dos indivíduos
e pode influenciar as interações sociais. Griskevicius, Tybur e Van
den Bergh (2010) verificaram que pessoas consumiam produtos
verdes ou ecológicos não pelo seu benefício direto à natureza,
mas sim devido à sua capacidade de exibição e aumento de sta-
tus, uma vez que esses produtos só eram adquiridos quando o
indivíduo se encontrava em locais públicos, visíveis a terceiros.
Já o trabalho realizado por Nelissen e Meijers (2011) identificou
que o consumo de marcas de luxo afeta o indivíduo diretamen-
te, atribuindo-lhe vantagens e aumentando até a probabilidade
de conseguir um emprego. Como demonstrado, a sinalização das
características via consumo conspícuo pode afetar a percepção
do nível de inteligência, atratividade e status em um contexto ge-
ral de busca por parceiros, além de aumentar seu nível de valor
de mercado. Com isso, nota-se que o consumo conspícuo tende
a funcionar como uma expressiva sinalização individual no con-
texto social (WU et al., 2017).

192
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Diversos artigos ou produtos afetam, de forma diferente, a


imagem de cada um dos sexos (BUSS e FOLEY, 2019), bem como
o ato da exibição pode estar sendo afetado tanto pela competição
intrassexual (HENNIGHAUSEN et al., 2016), quanto pela seleção
intersexual. De forma breve, a competição intrassexual é um tipo
de disputa em que animais de mesma espécie e sexo tendem a
exibir-se um ao outro por meio de seus armamentos, bem como
a seleção intersexual é um processo de seleção sexual no qual a
escolha usualmente é realizada pelas fêmeas. Diferentemente de
diversos animais não humanos, a competição intrassexual em
humanos nem sempre se dá através de confronto direto. Esse
fenômeno é demonstrado em diversos exemplos de estudos que
destacam diferenças sexuais no consumo e exibição de produ-
tos luxuosos em que os indivíduos do sexo masculino tendem a
comprar carros de luxo e sinalizar conspicuamente na intenção
de competir com indivíduos do mesmo sexo (DUNN e SEAR-
LE, 2010). Também foi observado que homens são classificados
como mais atraentes e com alto status por indivíduos do sexo
oposto quando sinalizam a posse de um apartamento de luxo em
contraste com a posse de apartamento popular (DUNN e HILL,
2014).
Na pesquisa proposta por Godoy et al. (2007), foi encon-
trado que homens tendiam a investir mais em produtos sinaliza-
dores de status do que mulheres, aumentando, dessa forma, seu
valor de mercado. Janssens et al. (2011) também perceberam que
homens apresentavam um comportamento de querer investir
mais em produtos que sinalizam status quando estão na frente
de mulheres atraentes. Em consonância, Sundie et al. (2019) mos-
traram que os homens são muito materialistas em um contexto
de busca por parceiros e eles só conseguiam se sair bem em rela-

193
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

ção à conquista de parceiros e aumento de status em um contex-


to de exibição quando as mulheres não demonstravam ser mate-
rialistas como eles. Em um contexto típico de exibição, Lycett e
Dunbar (2000) perceberam que homens tendiam a exibir mais
seus celulares em um bar quando rodeados por quantidade con-
siderável de homens e que esse comportamento característico de
exibição também servia como sinalização para mulheres. Segal
e Podoshen (2013) concluíram que quando se trata de materia-
lismo e consumo conspícuo, os homens tendem a pontuar bem
mais que as mulheres e, segundo os autores, o consumo cons-
pícuo em meio à crise financeira poderia denotar características
de fidelidade, além de sugerir que tal comportamento pode ser
considerado “publicidade sexual”. Iredale, Van Vugt e Dunbar
(2008), em seu estudo, perceberam que, comparados a mulhe-
res, homens tendem a contribuir mais para caridade quando ob-
servados por um membro do sexo oposto.
Consumir produtos de luxo não é um comportamento ex-
clusivamente masculino. Em primeira instância, quando se trata
de consumo conspícuo, Griskevicius et al. (2007) demonstraram
que quando este consumo está relacionado à motivação para aca-
salamento, os gastos ostensivos feito pelas mulheres não denota-
vam nuances de conspicuidade ou frivolidade exacerbada como
em homens, porém quando gastavam publicamente, mostravam
que seu consumo era em artigos considerados úteis. O consumo
pode ser utilizado em determinados contextos como estratégia
de autopromoção, assegurando vantagens competitivas como a
percepção de que são mais atraentes, convidativas, desejosas de
autocrescimento e sexys; contudo podem também passar a ima-
gem de que são menos leais, maduras e inteligentes (HUDDERS et
al., 2014).

194
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Zhao et al. (2017), em seus estudos, perceberam que em uma


comparação social entre mulheres que faziam consumo conspí-
cuo de casacos em relação a mulheres que não o faziam, notou-se
que as que faziam esse tipo de consumo apresentavam maiores
índices de confiança e de retenção de seus parceiros românticos.
Yuan e Zheng (2019) observaram que mulheres que possuíam um
desejo forte por parceiros românticos apresentavam maior incli-
nação a pagar mais por bens conspícuos na intenção de aumentar
o seu valor de mercado em detrimento de mulheres que não pos-
suíam ou eram indiferentes ao desejo de ter parceiros românticos
naquele momento, sendo essa característica mais evidenciada em
mulheres mais jovens. Parte do consumo conspícuo realizado por
mulheres parece estar intimamente relacionado à motivação de
manutenção do parceiro de acasalamento, principalmente na pre-
sença de rivais do mesmo sexo (GRISKEVICIUS e WANG, 2013).
Além do gênero, o estado interno dos indivíduos e caracte-
rísticas do ambiente também podem influenciar o consumo de
produtos ou ser influenciados por eles. No estudo proposto por
Lens et al. (2012), denotou-se que mulheres prestam mais aten-
ção aos produtos que gerem status em uma exibição visual em
torno da ovulação do que em outras fases de seu ciclo menstrual.
Em outro caso, foi percebido que mulheres tendiam a utilizar
mais roupas sexys e reveladoras quando estavam no início do pe-
ríodo de ovulação e que essa característica era mais expressiva
em um contexto em que as mulheres eram solteiras (DURANTE
e GRISKEVICIUS, 2016). Durante, Li e Haselton (2008) sugeri-
ram que as mulheres também disputavam durante o período da
ovulação, a qual também corriqueiramente afetava suas decisões
econômicas (DURANTE et al., 2013). Em concordância, tecendo
comentários sobre a ação de hormônios sobre as decisões mas-

195
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

culinas, Saad e Vongas (2009) apresentaram que homens que


dirigiam um carro esportivo considerado de luxo tendiam a pro-
duzir níveis mais substanciais de testosterona do que quando di-
rigiam um carro não tido como luxuoso, bem como homens que
venciam competições tendiam a buscar mais por produtos de ní-
vel superior, como carros conceituados que gerassem prestígio
e status (WU et al., 2017); sabe-se que tal hormônio está direta-
mente envolvido na competição intrasexual. Bradshaw, Rodehef-
fer e Hill (2019), em seus estudos, aferiram que, em períodos de
recessão econômica: 1) homens buscam mais produtos de luxo;
2) homens se empenham nessas buscas por produtos luxuosos
visando parceiras de curto prazo e, 3) mulheres buscam mais por
parceiros que exibam marcas ou produtos de luxo.
Dentre as mais diversas ofertas de serviços e produtos dis-
poníveis no mercado, automóveis podem ser considerados um
importante marcador cultural e um dos mais significativos re-
presentantes quando se trata de mercado de luxo, devido à sua
expressividade e popularidade (LOUREIRO e KAUFMANN, 2016;
NELISSEN e MEIJERS, 2011). Em função da variedade de mode-
los, a posse ou não de determinados tipos de automóveis tem o
potencial de sinalizar características de seus donos. Por exemplo,
Feng e Luo (2016) perceberam que os estilos e marcas de carros
apareciam no trânsito em momentos distintos do dia e que, se-
gundo os autores, isso se deve ao quesito de que cada motorista
possuía um estilo de vida próprio com horários diferentes. Assim,
automóveis diferentes podem refletir estilos de vida diferentes,
que podem, por sua vez, afetar a percepção e o comportamento
das outras pessoas na comunidade.
Automóveis variam em função de sua utilidade, nível de
segurança, conforto e exclusividade. De forma específica, auto-

196
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

móveis de luxo são aqueles compostos por recursos agradáveis


ou desejados, com despesas significativas para um público dito
seleto (SULTANA et al., 2016). Carros de luxo podem ser tanto
comprados por sua total unanimidade em relação a valores ou
desejo de exibição (conspicuidade), como também podem ser
comprados por públicos considerados tribalistas (grupo de pes-
soas que compartilham gostos e desejos parecidos) os quais se
caracterizam por obter esses automóveis não apenas pela cons-
picuidade da marca, porém, também, por sua expressividade re-
lacional dentre grupos (LOUREIRO e KAUFMANN, 2016).

5. Considerações finais

Em resumo, a imagem exibida pelo indivíduo funciona


como um fator importante no mercado biológico, além do que é
importante salientar que as informações exibidas podem ser ou
não honestas, sendo fundamental distinguir uma da outra para
reduzir os custos nas interações sociais. Segundo Bossert e Wil-
son, (1963), Townsend et al., (2017) e Lamaury, Cochet e Bourjade
(2019), para que a comunicação da informação ocorra de forma
bem sucedida é necessário que emissor e receptor possuam apa-
ratos que os permitam emitir, identificar e compreender a men-
sagem, respectivamente.
Entende-se que o consumo é uma forma comum de comu-
nicar suas aptidões, bens, pertencimento e características, bem
como de adquirir produtos que possam satisfazer as necessida-
des mais basais e urgentes do indivíduo. Atrelado a isso, perce-
be-se que alguns grupos de pessoas tendem a exercer um tipo de
consumo o qual costuma fugir do padrão característico concer-
nente à necessidade de sobrevivência e que, por vezes, esse tipo

197
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

de consumo conspícuo, mesmo que aparentemente desnecessá-


rio, consegue, a longo prazo, apresentar resultados favoráveis ao
acasalamento e retenção de parceiros. Contudo, ainda assim, é
de costume entre a população dizer que consumir bens de luxo e
artigos de alto valor monetário tende a ser característico de um
consumo desnecessário e irracional que não traz bem-estar e fe-
licidade ao indivíduo.

198
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208
Cap. 8
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Influência do Sistema Imunológico


na Atração Sexual Olfativa:
Perspectivas em Relacionamentos
Não-Heterossexuais

Lillian Nathalie Oliveira da Silva

O comportamento humano é influenciado por inúmeros


fatores, e a sexualidade é um dos mais complexos já estudados.
Aspectos elementares da seara sexual devem ser analisados cri-
teriosamente com o fim de aumentar sua compreensão. Muitas
pesquisas experimentais têm abordado o tema da importância
do sistema imunológico como fator da atração sexual olfativa em
humanos, seguindo pistas evolucionistas que dizem respeito à
seleção sexual e ao processo reprodutivo (HAVLÍČEK et al., 2020).
Pelo aspecto reprodutivo implicado nas pesquisas de esco-
lha de parcerias sexuais, a verificação da influência do sistema
imunológico tem se limitado à heterossexualidade. No entanto,
estudos sobre a sexualidade humana são importantes em todo
os âmbitos, e torna-se inegável a necessidade de abertura para os
entendimentos das orientações sexuais diferentes da heterosse-
xual, visto que cada vez mais pessoas têm tido a oportunidade de
expressar sua constituição, identificação, preferências ou qual-
quer especificidade que lhes caracterizem.

210
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Dessa forma, este capítulo objetiva embasar a necessidade


de expansão dos estudos sobre o sistema imunológico como fator
da atração sexual olfativa em pessoas não-heterossexuais. Para
tanto, serão explanados o papel do olfato na atração sexual hu-
mana; a influência do sistema imunológico nesse tipo de atração;
os mecanismos evolutivos que embasam o processo de escolha
de parcerias heterossexuais nesse contexto; os dados que funda-
mentam o estudo de escolha de parcerias não-heterossexuais; e,
por fim, serão trazidas novas perspectivas para a pesquisa com
atração sexual olfativa humana.

1. O papel do olfato na atração sexual humana

A atração sexual em humanos tem influência de aspectos


multivariados, observáveis e não observáveis, que agregam na
avaliação da parceria (GROYECKA et al., 2017). Seja para um rela-
cionamento de companheirismo a longo prazo, seja para um sexo
casual sem comprometimento, as pessoas estão sempre fazendo
escolhas sobre as qualidades da parceria em potencial. Nos se-
res humanos, escolher alguém para ser um parceiro romântico
é considerado um processo complexo (BUSS, 2019; HATTORI e
CASTRO, 2017).
Comunicar-se também é um ato complexo e multiface-
tado. Em toda e qualquer espécie social, receber e transmitir
informações são partes fundamentais para a sobrevivência dos
indivíduos e a perpetuação da informação genética ao longo das
gerações (ROBERTS et al., 2020). Tradicionalmente, as pesquisas
em humanos apontam uma prevalência da comunicação ver-
bal/auditiva, tátil e visual consideravelmente mais eficaz que a
olfativa, sendo essa última tratada com evidente desconfiança,

211
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

enquanto para uma boa parte dos animais, a comunicação por


meio de sinais químicos pode ser considerada altamente eficien-
te (ROBERTS et al., 2020).
As evidências dessa defasagem olfativa em humanos não
são corroboradas por antropólogos pesquisadores de comunida-
des de pequena escala, que descobriram, por exemplo, que para
muitos indígenas australianos, o cheiro do suor pode transferir a
essência da pessoa (ARSHAMIAN et al., 2020); ou pode ser indi-
cativo de estratificação social, como para os Kapsiki dos Cama-
rões, para quem o cheiro de putrefação do corpo morto há 3 dias
se torna um divisor social que delimita a importância da catego-
ria da pessoa a ser enterrada (BEEK, 1992).
Aparentemente, o motivo da discordância se subscreve
num dos paradigmas da ciência atual: as pesquisas, em sua maio-
ria, são realizadas nas sociedades denominadas como WEIRD -
ocidental, educada, industrializada, rica e democrática - do inglês
Western, educated, industrialized, rich and democratic (ARSHAMIAN
et al., 2020). Embora a consciência humana tenha subvalorizado
o papel dos odores com a supervalorização dos demais sentidos,
há validação empírica de que somos capazes de discriminar cerca
de 1 trilhão de odores diferentes (BUSHDID et al., 2014), e o mer-
cado de cosméticos e perfumaria claramente não desacredita do
potencial no âmbito popular, movendo cerca de US$ 29,6 bilhões
em 2020 só no setor brasileiro (ABIHPEC, 2020).
A comunicação química possui muitas vantagens pecu-
liares em relação aos outros tipos de comunicação, pois os si-
nais odoríferos podem superar barreiras físicas, ser sentidos no
escuro ou no barulho, ser transportados pelo vento, pela água,
ser usados por membros intra e interespecíficos, assim como ter
maior durabilidade de tempo no local (LÜBKE e PAUSE, 2015).

212
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Comunicar-se por meio de sinais químicos requer um ela-


borado mecanismo de emissão e recepção da mensagem. Do lado
do emissor, existe o envolvimento de diversos sistemas do orga-
nismo que, juntos, determinam a quantidade e a composição dos
fluidos corporais, e quando alinhados com a microflora cutânea,
formam o sinal ativo a ser transmitido. Se há uma resposta dada
pelo receptor, houve uma detecção do sinal por meio de recepto-
res olfativos e do processamento em áreas sociais do cérebro. Essa
resposta é variável, com diferenças individuais desde o nível gené-
tico até a história de aprendizagem, condições psicológicas e con-
texto social, e inclui adaptações comportamentais, fisiológicas e
emocionais. Somente quando tomados em conjunto, os aspectos
relevantes para a resposta ganham seu significado evolutivo de so-
brevivência e reprodução (ALCOCK, 2016; LÜBKE e PAUSE, 2015).
Os odores corporais sinalizam numerosas pistas sobre as
pessoas com quem interagimos. Informações valiosas como ap-
tidão física (FIALOVÁ et al., 2020), estado de saúde (SAROLIDOU
et al., 2020), dieta (ZUNIGA et al., 2017), estado de humor (SA-
ROLIDOU et al., 2020) e traços de personalidade (LARSSON et al.,
2000) são detectáveis através do cheiro, por isso, a sinalização
quimiossensorial está altamente envolvida na comunicação do
estresse, na relação mãe-bebê e nos comportamentos sociais li-
gados à formação de vínculos e em contextos de sobrevivência
(LÜBKE e PAUSE, 2015).
Dentro do escopo de relações que as pesquisas em comu-
nicação olfativa estão investigando (DE GROOT et al., 2020; FIA-
LOVÁ et al., 2020; PAUSE et al., 2020; NATSCH e EMTER, 2020;
SCHAAL et al., 2020; SCHÄFER et al., 2020), as de escolha de par-
ceria em humanos são as mais numerosas (BENDAS et al., 2018;
LÜBKE e PAUSE, 2015). Nessas relações, há evidências de que

213
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

pessoas com alta sensibilidade olfativa sintam maior prazer nas


atividades sexuais, bem como mulheres nesta condição tenham
maiores números de orgasmos (BENDAS et al., 2018).
Os odores influenciam na atração sexual fornecendo pistas
sobre a qualidade da parceria em potencial também com respei-
to: à saúde, tornando o cheiro de pessoas doentes mais aversivo
que o de pessoas saudáveis (SAROLIDOU et al., 2020); à condição
social, como mulheres que preferem os odores de homens so-
cialmente dominantes (HAVLICEK et al., 2005); bem como indi-
cando estado reprodutivo, fornecendo informações sobre o nível
dos hormônios sexuais (LÜBKE e PAUSE, 2015) e influenciando
a preferência dos homens pelos odores de mulheres no período
ovulatório do ciclo menstrual (período fértil), em detrimento aos
odores das demais fases (FERDENZI et al., 2020).
Assim, os sinais quimiossensoriais expressam uma vanta-
gem evolutiva, colocando os estudos sobre comunicação química
olfativa na escolha de parceria em humanos bem fundamenta-
dos pela teoria da Seleção Sexual (DARWIN, 2004), mecanismo
evolutivo básico indissociável da Seleção Natural, que transmite
as características que podem conferir maior aptidão aos orga-
nismos. A Seleção Sexual dá aporte aos aspectos reprodutivos da
Seleção Natural, e como toda característica transmitida pelas ge-
rações, o comportamento sexual é também regido pelas leis evo-
lucionistas (ALCOCK, 2016; SOUZA e HATTORI, 2018).

2. A influência do sistema imunológico na


atração sexual olfativa
Para realizar uma investigação científica no estudo do
comportamento sexual, deve-se formular perguntas que gerem

214
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

hipóteses relacionadas tanto aos aspectos evolutivos e adapta-


tivos - que dizem respeito aos efeitos sobre as chances de sobre-
viver e de deixar descendentes, conhecidos como causas últimas
ou distais do comportamento; quanto aos mecanismos sensó-
rio-motores e de desenvolvimento ontogenético, como as inte-
rações genético-ambientais e a ação do sistema nervoso que in-
fluenciam o comportamento - aspectos que buscam esclarecer as
causas próximas ou imediatas (ALCOCK, 2016; IZAR, 2018).
É nesse contexto de evolução da comunicação e de buscar
hipóteses explicativas do comportamento sexual que os estudos
sobre o Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC, de
major histocompatibility complex) entram em cena na investigação
da escolha de parceria. Também conhecido nos humanos por An-
tígeno Leucocitário Humano (HLA, de human leucocyte antigen), o
MHC é um importante complexo do sistema imunológico, essen-
cial para uma resposta adaptativa de sobrevivência em vertebra-
dos. É tradicionalmente conhecido por sua função reguladora do
sistema imunológico, compreendendo um grupo de genes loca-
lizados no braço curto do cromossomo 6 em humanos (KROMER
et al., 2016). Suas moléculas estão localizadas na superfície das
células e desempenham um papel fundamental na discrimina-
ção entre material próprio e não próprio (SCHUBERT et al., 2021;
WINTERNITZ et al., 2017).
Nos vertebrados, o MHC é estudado nas mais diversas
formas de atração sexual, como a olfativa, auditiva e a visual. A
maior parte das pesquisas tem se voltado para a influência olfati-
va, uma vez que os seus genes polimórficos determinam, em par-
te, algo como a identidade odorífera dos indivíduos (SCHUBERT
et al., 2021) e as evidências apontam que os indivíduos preferem
parcerias sexuais com as moléculas do complexo imunológico

215
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

diferentes das suas ou em heterozigose (HAVLÍČEK et al., 2020;


WINTERNITZ et al., 2017).
Do ponto de vista evolucionista, esse padrão reconheci-
do em animais e em averiguação nos humanos corrobora com a
teoria da Seleção Sexual, uma vez que as moléculas de MHC são
transmitidas à prole de forma codominante, sendo 50% da mãe
e 50% do pai, e uma maior variedade imunológica parental au-
menta a variedade imunológica da prole, tornando-a mais resis-
tente a vários patógenos (HAKKARAINEN et al., 2021; KROMER et
al., 2016). Além da percepção das preferências de odores por di-
ferenças no MHC/HLA, pesquisas em humanos apontam maiores
evidências de que as mulheres preferem o odor de homens HLA-
-diferentes quando comparados aos homens HLA-semelhantes
(HAVLÍČEK et al., 2020; WINTERNITZ et al., 2017), mas os ho-
mens não demonstram preferência especial pelo odor de mulhe-
res na mesma condição (PROBST et al., 2017).
Dessa forma, a hipótese evolucionista aponta que o siste-
ma imunológico pode influenciar a atração sexual olfativa por
aumentar a aptidão da prole, aumentando as chances de obter
sucesso reprodutivo, o que torna a atratividade bem implicada
ao fator reprodutivo dos comportamentos sexuais.

3. Mecanismos evolutivos sobre a ação do


sistema imunológico na atração heterossexual
olfativa
Através de uma abordagem evolucionista, a psicologia
segue pistas complexas sobre o que tornou certas característi-
cas mais ou menos atraentes em parcerias potenciais para um
comportamento de acasalamento em humanos. Nessa seara, a

216
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Psicologia Evolucionista aborda o comportamento sexual como


decorrente de mecanismos psicológicos evoluídos, sendo estes
entendidos como um conjunto de processos ocorrendo dentro de
um organismo, fruto do processo de seleção natural, que possi-
bilitou a solução de um problema adaptativo específico, de so-
brevivência ou reprodução, num ambiente ancestral (HATTORI e
YAMAMOTO, 2012).
Nesse contexto, escolher uma parceria sexual é um meca-
nismo complexo, elaborado ao longo da evolução para resolver
problemas adaptativos específicos. Os achados sobre a influência
do MHC na atração sexual olfativa em homens e mulheres hete-
rossexuais corroboram com o cenário evolutivo, uma vez que a
intensidade da seleção sexual é regulada pelo que Trivers (1972)
denominou de Teoria do Investimento Parental, a qual aponta
que a seletividade na escolha da parceria sexual é diferente en-
tre machos e fêmeas, dadas as diferentes pressões evolutivas que
ambos os sexos sofreram ao longo da evolução e de acordo com
o grau de investimento despendido com a prole. Geralmente, as
fêmeas tendem a ser mais seletivas na qualidade de um parceiro,
uma vez que seu grau de investimento e comprometimento fisio-
lógico é muito maior que o dos machos, desde o tamanho dos ga-
metas, período fértil específico, gestação, alimentação (lactação
para mamíferos) até os cuidados para a sobrevivência do infan-
te. Enquanto para os machos, o investimento não é obrigatório,
sendo o sucesso reprodutivo mais garantido a partir do acesso ao
maior número de fêmeas possível.
Em algumas espécies, o cuidado biparental é muitas vezes
essencial para a sobrevivência da prole, e isso é especialmente
verdade para os seres humanos, assim como também são maio-
res o custo energético e o comprometimento fisiológico femi-

217
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

nino (HATTORI e CASTRO, 2017). Dessa forma, uma vez que as


mulheres têm o maior investimento, detectar pistas genéticas
do parceiro em potencial (causas próximas do comportamento)
que possam aumentar a resistência imunológica da prole pode
garantir um maior sucesso reprodutivo (causas distais), e, por-
tanto, tornar o odor do parceiro HLA-diferente uma preferência
sexual (comportamento).
Nos homens, por sua vez, embora a resistência da prole
também tenha importância, esse elaborado mecanismo de reco-
nhecimento imunológico pode não ter sido selecionado devido à
menor obrigatoriedade de investimento e à busca por um maior
acesso a parceiras (PROBST et al., 2017). Aqui, as causas próximas
e distais para a preferência sexual por diferenças de HLA não es-
tavam presentes com força suficiente para que o comportamento
fosse selecionado.
Desse modo, é concebível pensar no processo de escolha
de parceria pela influência do HLA no odor corporal através do
aumento da aptidão da prole. Essa preferência sexual denota,
portanto, uma detecção específica sobre o valor reprodutivo do
relacionamento em potencial. Como um dos componentes da se-
leção sexual, a escolha de parceria (seleção intersexual) está ao
lado da competição por parceria (seleção intrassexual), tendo
sempre como pano de fundo o aspecto reprodutivo desses com-
portamentos (ALCOCK, 2016; IZAR, 2018).
No entanto, essa perspectiva coloca necessariamente o ce-
nário evolutivo da sexualidade restrito a dois paradigmas: (1) a
psicobiologia se torna bicategorizada, bem definida entre dois
sexos através dos cromossomos X e Y, com dimorfização dos ga-
metas; e (2) os mecanismos psicológicos evoluídos envolvidos no
comportamento sexual põem a atração sexual também bidirecio-

218
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

nada a partir das categorizações de sexo iniciais (AINSWORTH,


2017; PINEL e BARNES, 2018).

4. Escolha de parcerias não-heterossexuais

Apesar da simplificação bicategorizada exposta acima, o


cenário mais complexo da evolução da sexualidade aponta para
um espectro muito maior que os termos binários homem/mulher
e uma fluidez na atração sexual modificável ao longo da vida que
foge aos padrões cisheterossexuais (AINSWORTH, 2017; PINEL e
BARNES, 2018).
O padrão cisheterossexual diz respeito à identidade de gêne-
ro, entendida como uma autoidentificação nos gêneros sociais exis-
tentes (masculino/feminino), e à orientação sexual (heterossexual/
homossexual), compreendida como um indicativo de por qual sexo
ou gênero uma pessoa sente atração sexual, levando em considera-
ção a sua própria definição de gênero (BAILEY et al., 2016).
O padrão é delimitado, então, na cisgeneridade, entendida
como a autoidentificação de gênero correspondente ao seu sexo
genético - em contraponto ao transgênero, que se identifica com o
gênero diferente do seu sexo genético -, e na heterossexualidade,
que é a atração sexual por pessoas do sexo oposto - em contrapon-
to à homossexualidade, em que se sente atração por pessoas do
mesmo sexo (BAILEY et al., 2016).
Toda expressão sexual diferente do padrão cisheterosse-
xual é considerada diversidade sexual. No entanto, as possibili-
dades de sexualidade não se restringem em cis/trans e hetero/
homo. A diversidade sexual é ampla e pode ser inicialmente ve-
rificada pela sigla de LGBTQIA+, que abarca atração bissexual
representada pela letra B, além do L de Lésbica e G de gay; a não

219
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

identificação em um gênero, Queer, determinada pela letra Q,


além do T, de Transgênero; a não categorização sexual binária
determinada pela letra I de Intersexo; a letra A de ausência que
pode indicar assexualidade tanto por órgãos genitais quanto por
ausência de qualquer atividade sexual; além do + indicando que
há outras formas de viver a sexualidade além das categorizadas
(Bailey et al., 2016).
A delimitação da sigla é realizada por pessoas que pedem
representatividade social. Pesquisas estatísticas estimam que
existe uma variação de 3% a 11% de pessoas que se autodefinem
não heterossexuais nas sociedades já estudadas, e cerca de 0,5%
de pessoas como transgênero (GOMES e SILVA, 2020; NASCI-
MENTO e OLIVEIRA, 2020), além de uma porcentagem entre
0,05% e 1,7% de pessoas intersexo (PINEL e BARNES, 2018). As
estimativas em números e no desejo de representatividade in-
dicam que a diversidade sexual é um mecanismo psicobiológi-
co.
Além de imposto socialmente, o padrão cisheterossexual
também se fez como um paradigma nos estudos evolucionis-
tas sobre a sexualidade. Uma vez que a Psicologia Evolucionista
aborda o comportamento sexual como decorrente de mecanis-
mos psicológicos evoluídos, sendo esses desenhados pelo pro-
cesso evolutivo para a solução de problemas adaptativos espe-
cíficos, parece urgente a abrangência dos estudos de escolha de
parceiro em humanos de forma a abarcar a diversidade sexual.
Com êxito, os mecanismos de escolha de parcerias não-he-
terossexuais vêm sendo investigados e, em linhas gerais, indicam
que há peculiares diferenças com relação ao padrão cisheteros-
sexuais, suficientemente dignas de uma maior atenção (NASCI-
MENTO e OLIVEIRA, 2020). Do mesmo modo, a psicobiologia já

220
começa a delinear hipóteses alternativas para a origem evoluti-
va da diversidade sexual, colocando-a como uma possível con-
dição ancestral, com comportamento sexual indiscriminado em
termos binários nos animais (LERCH e SERVEDIO, 2021; MONK
et al., 2019) e provavelmente sendo mais a regra que a exceção
(AINSWORTH, 2017).
Nesse contexto, as pesquisas com escolha de parcerias não-
-heterossexuais detectam um campo fecundo de investigação. Em
estudos que investigam as preferências de idade, por exemplo, o
padrão heterossexual traz geralmente o masculino como mais ve-
lho que o feminino como mais atraente para ambos os sexos, mas
nos estudos com não-heterossexuais, gays e lésbicas demonstra-
ram preferir parcerias com as mesmas idades, com tendência à
preferência por companheiros cada vez mais jovens conforme o
aumento da própria idade (CONWAY et al., 2015), assim como no
quesito altura, que enquanto os padrões heterossexuais buscam
também o masculino mais alto, os padrões não-heterossexuais
buscam parcerias com alturas parecidas às suas próprias (VA-
LENTOVA et al., 2016).
Quanto à atratividade física, embora mulheres lésbicas
também prefiram uma parceira com menor proporção cintura-
-quadril (corpo no formato violão) igual aos homens heteros-
sexuais, nádegas e seios grandes não são tão atrativos para elas
como são para eles, havendo preferências geralmente por tama-
nhos medianos, o que indica que mulheres não-heterossexuais
têm menor motivação para buscar indicadores de fecundidade
e fertilidade em suas parceiras potenciais (VALENTOVA et al.,
2017). Nos homens, por sua vez, a preferência por atratividade
física independe da orientação sexual, sendo muito importante
tanto para homens gays quanto para heteros, e geralmente mais
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

desejado que para as mulheres de forma geral (OLIVEIRA, 2020;


RUSSOCK, 2011).
Estes são exemplos de como os processos de escolha de
parceria em humanos possuem variações a depender de gênero e
orientação sexual e de como os padrões diferem daqueles encon-
trados em pessoas heterossexuais, indicando a necessidade de
mais pesquisas nessa esfera para uma compreensão mais abran-
gente e fidedigna da sexualidade.

5. Sistema imune, atração sexual olfativa e


escolha de parceria: novas perspectivas
Do mesmo modo que as investigações sobre a influência
dos odores na atração sexual obtiveram êxito com casais hete-
rossexuais, pesquisas detectaram que humanos conseguem dis-
criminar se os cheiros sentidos são de parceiros potenciais em
relação ao gênero e à orientação sexual. Analisados através de
processamento do sistema nervoso central (SNC), homens gays
e heterossexuais indicaram preferir os odores corporais de suas
parcerias sexuais preferidas (homens homossexuais e mulheres
respectivamente); mulheres lésbicas preferiram os odores cor-
porais de seu gênero preferido (mulheres de forma geral); e as
áreas cerebrais de ativação em gays e lésbicas, quando expostos
ao cheiro de homens heterossexuais, indicaram avaliação de par-
ceiros indesejados (LÜBKE et al., 2012).
Outras pesquisas realizadas com hormônios esteroides, os
que mais se aproximam de feromônios em humanos (chamados
de feromônios putativos), descobriram que os homens homos-
sexuais processaram o “feromônio masculino” AND (4,16-an-
drostadien-3-ona) de forma similar às mulheres heterossexuais

222
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

e que ambos ativaram áreas diferentes dos homens heterosse-


xuais (SAVIC et al., 2005). Além disso, as mulheres lésbicas, em
contraste com as heterossexuais, processaram os odores de ho-
mens heterossexuais somente por vias olfativas e não pelas vias
hipotalâmicas relacionadas à atividade sexual, sendo estas áreas
ativadas quando as mulheres lésbicas foram expostas ao feromô-
nio putativo feminino EST (16-tetraen-3-ol) (BERGLUND et al.,
2006).
O número de pesquisas realizadas com atração sexual olfa-
tiva em pessoas não-heterossexuais é ínfimo quando comparado
às de orientação heterossexual, no entanto, as poucas realizadas,
geralmente por ativação de áreas cerebrais e processamento do
sistema nervoso central, como nos exemplos acima, verificam
que os padrões de ativação cerebral são diferenciados entre he-
tero e homossexuais nas preferências dos odores, mesmo desco-
nhecendo a identidade do cheiro percebido. Isso sugere um cam-
po fecundo para investigações mais apuradas.
Em se tratando especificamente da preferência de odor
através de similaridade de HLA, as pesquisas sempre delimi-
tam suas verificações em pares heterossexuais, dada a hipótese
de detecção do valor reprodutivo. Nessas pesquisas, qualquer
orientação sexual e identidade de gênero diferente da cishete-
rossexualidade são critérios de exclusão da amostra, na tentativa
de diminuir os fatores de confusão (PROBST et al., 2017; THOR-
NHILL et al., 2003).
Dessa forma, torna-se inegável a importância de examinar
os processos de escolha de parceria em humanos para além do
contexto cisheterossexual. Investigar grupos não-heterossexuais
(NASCIMENTO, 2020; OLIVEIRA, 2020) torna possível verificar
se os mecanismos psicológicos evoluídos de acasalamento são

223
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

específicos para o sexo do indivíduo ou do sexo do parceiro prefe-


rido (HOWARD e PERILLOUX, 2017), assim como viabiliza a ge-
ração de hipóteses explicativas para as causas próximas e distais
do comportamento sexual e dá suporte para repensar seus atri-
butos para além da reprodução.

6. Considerações finais

Dadas as considerações trazidas neste capítulo, é perceptí-


vel que estudos sobre a sexualidade humana de um ponto de vis-
ta psicobiológico e da psicologia evolucionista não comportam
a manutenção dentro dos paradigmas binários e explicáveis so-
mente em termos de reprodução. Em linhas gerais, as evidências
dos estudos de escolha de parcerias não-heterossexuais demons-
tram que não há um padrão de preferências com o sexo de ori-
gem, com o sexo oposto e nem com o sexo do parceiro preferido.
Estudos sobre a atração sexual olfativa em pessoas não-he-
terossexuais ainda são escassos, o que abre possibilidades para
pesquisas exploratórias capazes de fortalecer as evidências dos
fatores que influenciam a atração sexual. Detectar o impacto que
as diferenças individuais do sistema imunológico têm na atrati-
vidade de odor em pessoas não-heterossexuais pode dar maior
aparato científico sobre a importância dos componentes genéti-
cos na sexualidade, lançar novos olhares acerca dos paradigmas
evolutivos em que essa se encontra ancorada, bem como discri-
minar elementos específicos que podem influenciar no compor-
tamento sexual e expandir a sua compreensão.

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233
Cap. 9
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Comportamentos Sexuais de Risco


Podem Ser Adaptativos?

Igor de Souza Bezerra

A reprodução faz parte do desenvolvimento de todos os se-


res vivos, sejam sexuados ou assexuados. Grande parte de nossa
energia é alocada para este fim, sendo usada desde a maquinária
fisiológica, como a produção de gametas, até a busca por par-
ceiros sexuais, chegando, por fim, ao ato sexual. Os indivíduos
que conseguem se reproduzir têm a chance de passar seus genes
para as próximas gerações e, consequentemente, possibilitam a
continuidade da espécie naquele ambiente. Assim, conseguimos
perceber o quão importante é a reprodução para os seres vivos. É
através dela que também ocorre o fenômeno da evolução.
A evolução está presente em nossas vidas desde sempre. É
através desse fenômeno que ocorrem mudanças em todos os se-
res vivos, como respostas às pressões do meio ambiente em que
vivem. Mas como explicar comportamentos tão custosos, como
comportamentos sexuais de risco, em que os indivíduos se ex-
põem a patógenos? Apesar de ter tanta informação a respeito dos
riscos sexuais, ainda há doenças como sífilis e HIV, com grandes
taxas de novas infecções todos os anos. Por que será que isso
ocorre? Pode haver benefícios neste comportamento? As carac-
terísticas dos indivíduos seriam responsáveis por esta exposição?

235
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Este capítulo traz informações acerca dos comportamentos


sexuais de risco e as possíveis hipóteses para explicar o porquê
desses comportamentos ainda estarem presentes na atualidade,
mesmo com o alto custo que possuem. Além disso, também se-
rão abordadas algumas das possíveis diferenças individuais que
podem ser responsáveis por favorecer a expressão desse compor-
tamento, como personalidade e busca por sensações.

1. Como ocorre a passagem de características?

Diferente do que se imagina, a evolução ainda age nos dias


de hoje. Para explicá-la, Darwin (2003) apresentou a teoria da
seleção natural, que ocorre através da persistência do indivíduo
mais apto (aqueles que conseguem sobreviver e reproduzir), em
que as variações individuais que são favoráveis à sobrevivência
em um dado contexto são conservadas e as variações nocivas se
tornam menos frequentes. Darwin também nos traz um outro fe-
nômeno responsável pela evolução: a seleção sexual, que favorece
características não necessariamente ligadas à sobrevivência do in-
divíduo, mas sim à reprodução. Nesse fenômeno, ocorre a compe-
tição intrassexual, geralmente entre machos, para ter acesso aos
indivíduos do sexo oposto, em que apenas os machos mais fortes
e adaptados conseguem vencer, tendo como recompensa a chance
de cópula. Em outras palavras, na seleção sexual, ocorre a escolha
de características as quais permitem que o indivíduo tenha van-
tagem reprodutiva em relação aos indivíduos que não possuem a
determinada característica. Como exemplo, é possível citar o pa-
vão e sua enorme cauda, que não favorece a sobrevivência, mas é
de extrema importância para chamar atenção de potenciais par-
ceiras e alcançar a reprodução (HATTORI e CASTRO, 2017).

236
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

2. Reprodução humana

Para compreendermos como ocorre a dinâmica do compor-


tamento reprodutivo humano, é interessante conhecer algumas
teorias: a Teoria do Investimento Parental e a Teoria das Estraté-
gias Sexuais. Trivers (1972) apresentou a Teoria do Investimento
Parental como um complemento à Teoria da Seleção Sexual de
Darwin, que se baseia no investimento que os pais fazem à pro-
le na intenção de promover a sobrevivência dos infantes. Esse
investimento pode acontecer desde o investimento metabólico,
como a produção gamética, até alocação de recursos, como ali-
mentação, que promove a sobrevivência da prole, mas prejudica
o sucesso reprodutivo futuro dos pais (BUSS e SCHMITT, 1993;
TRIVERS, 1972). Todos esses investimentos proporcionam o au-
mento da sobrevivência dos filhos, que, por sua vez, permitem
sua chegada à idade reprodutiva, de maneira que os filhos pode-
rão contribuir para o sucesso reprodutivo dos pais (HATTORI e
CASTRO, 2017).
Trivers (1972) apresentou que o sexo que mais investe na
prole - na maioria das espécies, o sexo feminino - se torna o alvo
da competição do sexo oposto, que compete entre si para ter aces-
so às fêmeas. Trivers também sugeriu que o investimento paren-
tal teria papel importante na modulação da seleção sexual devido
às diferenças que os sexos apresentam nesse investimento: o sexo
“investidor” seria mais exigente na escolha do parceiro, enquan-
to o sexo que investe menos seria o que competiria (competição
intrassexual) para ter acesso ao sexo “investidor” (BUSS e SCH-
MITT, 1993; LORDELO et al., 2006; HATTORI e CASTRO, 2017).
Quando aplicamos essa teoria à espécie humana, conse-
guimos perceber que ambos os sexos possuem papéis importan-

237
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

tes na seleção de parceiros e ambos também cuidam da prole,


entretanto, o sexo feminino apresenta maior investimento do
que o sexo masculino. O investimento da mulher se inicia ainda
na produção gamética, seguido pelo longo período de gestação e
lactação e, por isso, apresentariam maior seletividade na hora de
escolher o parceiro para reprodução. Por outro lado, o homem,
mesmo apresentando os maiores níveis de investimento pater-
nal entre os primatas não-humanos, apresentam menor inves-
timento à prole quando comparados com as mulheres, porque
os investimentos voltados para proteção e alocação de recursos,
além do investimento fisiológico, são menores do que o inves-
timento feminino. Por isso, teriam uma menor seletividade na
escolha de possíveis parceiras e maior competição intrassexual
para ter acesso às mulheres consideradas mais atraentes (BUSS e
SCHMITT, 1993; BUSSAB et al., 2011).
No ambiente ancestral, em nossa história evolutiva, ho-
mens e mulheres enfrentaram diferentes problemas relaciona-
dos à reprodução. Por isso, desenvolveram estratégias diferen-
tes para solucionar esses problemas. A partir disso, a Teoria das
Estratégias Sexuais foi proposta por Buss e Schmitt (1993). Essa
teoria apresenta as diferentes estratégias desenvolvidas por nos-
sa espécie em termos de relacionamento e o contexto temporal
desses relacionamentos. Há dois contextos temporais: o relacio-
namento de curto prazo, em que não há comprometimento, ge-
ralmente ocorre a presença de vários parceiros e baixo envolvi-
mento emocional; e o relacionamento de longo prazo, em que os
indivíduos prezam pelo compromisso e pela relação duradoura,
geralmente apresentando apenas um parceiro e havendo inten-
ção de investimento parental e exclusividade sexual (HATTORI e
CASTRO, 2017).

238
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Quando se trata da estratégia de curto prazo, os homens


parecem se beneficiar mais do que as mulheres, pois em termos
reprodutivos, o homem possui um maior número de gametas
em produção frequente e, por isso, o sucesso reprodutivo do sexo
masculino é limitado ao número de parceiras sexuais que conse-
guem inseminar (HATTORI e CASTRO, 2017). A partir disso, os ho-
mens teriam baixa seletividade na escolha por parceiras sexuais
e prefeririam maior quantidade de parceiras, priorizando parcei-
ras jovens, com alta atratividade e características que remetem
à nubilidade, o que levaria a um maior número de descenden-
tes (LASSEK e GAULIN, 2019). As características procuradas são
aquelas que podem indicar que a mulher atingiu a maturidade
sexual, como a cintura mais fina que o quadril, lábios carnudos,
baixo IMC e alta taxa de gordura nas coxas e glúteos (ALCOCK,
2011; LASSEK e GAULIN, 2019). Por outro lado, as mulheres pos-
suem número limitado de gametas: geralmente apenas um óvulo
é liberado por período fértil, portanto o número de descendentes
é limitado ao número de gametas que as mulheres liberam por pe-
ríodo fértil, e não pelo número de parceiros com quem conseguem
acasalar (BUSS e SCHMITT, 1993). Há chances dessa estratégia ser
altamente custosa para o sexo feminino, visto que há possibilida-
de de ocorrer uma gravidez indesejada, em que o parceiro possi-
velmente não investiria nesta prole. Além disso, as mulheres apre-
sentam maior investimento à prole (TRIVERS, 1972), o que as leva
a serem mais seletivas na seleção dos parceiros sexuais, priorizan-
do a qualidade do parceiro. Para isso, ocorre o reconhecimento
de pistas nos homens que ajudam a identificar essas qualidades,
como voz mais grave e corpo mais musculoso, indicando que o
parceiro é saudável e possui bons níveis de testosterona, além de
rostos simétricos e másculos, o que seria uma pista de boa quali-

239
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

dade genética (ALCOCK, 2011). A percepção dessas características


e a preferência por elas é de grande importância para que, caso
ocorra a fecundação, o filho herde as boas características do pai.
Já em relação às estratégias de longo prazo, ambos os se-
xos se beneficiariam dela. As mulheres normalmente apresentam
maior preferência por relacionamentos de longo prazo, se benefi-
ciando do investimento parental provindo do pai, proporcionan-
do maior cuidado e ajuda nos primeiros meses de cuidado à prole,
como alocação de recursos para alimentação e ajuda econômica
(BUSS e SCHMITT, 1993). A maior seletividade das mulheres na
escolha do parceiro também traria benefícios para a prole, pois
herdariam genes de boa qualidade vindos do lado paterno. Para os
homens, a estratégia de longo prazo promove maior certeza da pa-
ternidade, assim como a conquista de uma parceira de alto valor
no mercado de acasalamento, o que levaria a maior qualidade ge-
nética da prole (BUSS e SCHMITT, 1993). Nessa estratégia, além de
todas as características físicas indicativas de maturidade sexual,
os homens tendem a buscar parceiras que demonstrem compro-
misso e exclusividade sexual, levando à diminuição das incertezas
da paternidade (BUSS e SCHMITT, 1993). É importante destacar
que tanto homens quanto mulheres podem se envolver em rela-
cionamentos de curto e longo prazo (BUSS e SCHMITT, 1993).

3. Os riscos do comportamento sexual

O comportamento sexual está presente em diversas espé-


cies, e não seria diferente na espécie humana. É por meio des-
se comportamento que os indivíduos conseguem se reproduzir,
passando seus genes para a próxima geração. Entretanto, a pre-
sença de patógenos em potenciais parceiros sexuais pode tornar

240
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

este comportamento custoso para os indivíduos. Infecções se-


xualmente transmissíveis não são exclusivas dos seres humanos,
estando presentes em outros animais, como cães e gatos. Como
exemplo, pode-se citar o caso da brucelose, uma doença causada
por uma bactéria, que pode afetar um cão saudável ao ter contato
sexual com um outro animal infectado (SILVA et al., 2019).
Quando se trata de seres humanos, as infecções sexual-
mente transmissíveis (IST) são bastantes conhecidas, mas ainda
assim há grandes taxas de novas infecções todos os anos, como
é o caso da sífilis e do HIV, mesmo em meio a tanta informação
e campanhas midiáticas. Há comportamentos que podem au-
mentar as chances de contrair as IST, como os comportamentos
sexuais de risco. Estes comportamentos são caracterizados por
grande número de parceiros sexuais, pela prática sexual despro-
tegida, pelo uso de entorpecentes antes ou durante a prática se-
xual, como substâncias ilícitas e álcool, e pela iniciação da ativi-
dade sexual precoce (KOGAN et al., 2015; SALES et al., 2016). Além
disso, a vivência com o vírus da imunodeficiência humana (HIV)
pode também ser responsável por prejudicar a saúde mental, já
que indivíduos que vivem com o HIV têm maiores chances de de-
senvolver depressão (ELLER et al., 2014; RABKIN, 2008), sendo
relacionada ao estigma causado pelo HIV e também à autoima-
gem negativa (BING et al., 2001; COUTINHO et al., 2018; ONYE-
BUCHI-IWUDIBIA e BROWN, 2014).

4. Diferenças individuais e comportamento


sexual de risco
Os comportamentos em geral podem ter sua expressão mo-
dulada através das diferenças individuais, e isso também ocorre

241
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

com os comportamentos sexuais de risco, que podem ter sua ex-


pressão favorecida ou reduzida. Essas diferenças individuais são
características presentes nos indivíduos, que podem se expressar
devido à predisposição genética, e vão se moldando ao longo do
crescimento do indivíduo através das interações sociais e com o
meio ambiente.
A literatura apresenta algumas diferenças individuais que
possuem relação com os comportamentos sexuais de risco, como
os traços de personalidade (EFRATI e GOLA, 2018), a busca por
sensações sexuais (LEHMILLER e IOERGER, 2014), a impulsivi-
dade na tomada de decisão (CHARNIGO et al., 2013), e a socios-
sexualidade (SEVI et al., 2018).

4.1 Os cinco grandes fatores de personalidade e a tríade


negra
Segundo Allport (1921), a personalidade é composta por
tendências fixas e controladoras de ajustamento ao ambiente.
Em outras palavras, a personalidade modula a forma como os
indivíduos interagem e reagem ao ambiente, possibilitando res-
postas únicas, mesmo quando indivíduos distintos estão sob o
mesmo estímulo. Relativamente estáveis, os traços de persona-
lidade fazem parte das dimensões das diferenças individuais e
estão relacionados ao afeto, cognição e comportamento (PENKE
e JOKELA, 2016).
Existem várias formas de estudar e avaliar os traços de
personalidade, dentre eles, o modelo dos cinco grandes traços
de personalidade, também chamado de Big Five, que divide os
traços de personalidade em cinco, que são: o neuroticismo, a ex-
troversão, a abertura a novas experiências, a agradabilidade e a
conscienciosidade (MCCRAE e COSTA, 1987). Todos nós possuí-

242
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

mos esses traços, em diferentes níveis, que em conjunto com to-


das as outras diferenças individuais, nos torna únicos.
O indivíduo que possui alta pontuação no traço de neuro-
ticismo pode, por exemplo, apresentar emoções negativas, como
preocupação e medo, além disso, ter maior tendência a ser pessi-
mista, possuindo baixa autoestima, e percepção negativa do am-
biente em que está inserido (MCCRAE e COSTA, 1987; SIMÕES,
2016). Já em relação à extroversão, os indivíduos podem ser alta-
mente sociáveis, muito comunicativos, se sentindo bem em grupo,
ou seja, podem ser indivíduos energéticos e amigáveis, apresen-
tando altos níveis de otimismo (AMIRKHAN et al., 1995; MCCRAE
e COSTA, 1987). O traço de abertura à experiência está relacionado
com a busca por novas vivências, incluindo atividades intelectuais
e busca por novas sensações. Esse traço está relacionado com
a criatividade e liberdade de pensamentos e comportamentos.
Além disso, a abertura à experiência também está ligada a maior
conhecimento sexual, incluindo experiências sexuais mais amplas
e atitude sexual mais liberal (MCCRAE, 1994; MCCRAE e COSTA,
1987). Alta pontuação em agradabilidade é caracterizada pela alta
sociabilidade, isto é, são indivíduos que prezam pelo convívio e
manutenção dos vínculos sociais, sendo cooperativos e simpá-
ticos (GRAZIANO e EISENBERG, 1997; MCCRAE e COSTA, 1987).
Por último, a conscienciosidade é o traço que se expressa através
da organização, em que os indivíduos têm tendência a serem cau-
telosos e responsáveis (VELTEN et al., 2019), apresentando maior
resistência a seus impulsos (PASSOS e LAROS, 2014) e tendendo a
respeitar as regras (MCCRAE e COSTA, 1987).
Além do Big Five, também existe o modelo que investiga os
traços de personalidade que são socialmente aversivos, a Tríade
Negra (Dark Triad). A Dark Triad é dividida em três traços: narci-

243
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

sismo, maquiavelismo e psicopatia (JONES e PAULHUS, 2014). É


importante lembrar que este modelo investiga traços de perso-
nalidade não patológicos.
O narcisismo é caracterizado pela grandiosidade, domi-
nância e superioridade. Os indivíduos com alta pontuação nes-
te traço podem apresentar autoconceito positivo e se evadem
quando se trata de relacionamentos íntimos e próximos (CAM-
PBELL et al., 2006; PAULHUS e WILLIAMS, 2002). O maquiave-
lismo, por sua vez, é caracterizado pela visão de mundo cínica,
falta de moralidade e alta tendência em manipulação. Os indi-
víduos com alta pontuação nesse traço tendem a planejar suas
ações com antecedência, formar alianças vantajosas e fazem o
possível para manter a reputação positiva (JONES e PAULHUS,
2014). Por fim, o traço da psicopatia pode ser caracterizado pela
impulsividade na tomada de decisão e busca por sensações. Os
indivíduos com alta pontuação neste traço tendem a apresentar
baixa empatia e ansiedade (PAULHUS e WILLIAMS, 2002).
Como podemos ver, nem todos os traços de personalida-
de do Big Five parecem estar relacionados aos comportamentos
sexuais de risco. Espera-se que indivíduos com maior pontuação
em conscienciosidade tenham maior cautela em seus relaciona-
mentos sexuais, evitando os riscos sexuais, por exemplo. Segundo
a literatura, maior pontuação nos traços de abertura à experiên-
cia, extroversão e neuroticismo apresentam maior propensão aos
riscos sexuais, assim como a baixa agradabilidade e consciencio-
sidade estão ligadas também a maiores riscos sexuais (SCHMITT,
2004). Além disso, a literatura também nos mostra que todos os
traços da Dark Triad apresentam maior propensão à alta impulsi-
vidade e busca por sensações, o que pode indicar maior exposição
aos comportamentos sexuais de risco (CRYSEL et al., 2013).

244
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

4.2 Busca por sensações


A busca por sensações também faz parte do repertório
comportamental humano e possui bases biológicas e genéticas.
Esse traço está relacionado ao envolvimento em atividades esti-
mulantes, o que também inclui novos estímulos sexuais (LEH-
MILLER e IOERGER, 2014). A busca por coisas novas e sensações
intensas é constante, o que leva esses indivíduos a assumir riscos
em busca delas, de maneira que quanto maior for a pontuação
do indivíduo neste traço, maior será a disposição para assumir os
riscos em busca de viver a sensação desejada (BYCK et al., 2014).
Este traço pode levar o indivíduo a expressar comporta-
mentos custosos, como uso de substâncias ilícitas e até mesmo
dirigir em alta velocidade (ZUCKERMAN, 2007). Essas conse-
quências da busca por sensações têm baixo efeito no buscador
de fortes sensações (high sensation seeker), enquanto os busca-
dores de sensações fracas (low sensation seeker) têm maior per-
cepção das consequências. Em outros termos, os buscadores de
sensações mais fortes não se sentem atingidos pelas consequên-
cias dessa busca, tendo baixa percepção do risco e apresentan-
do maior tendência a buscar as sensações independente desses
riscos. Por outro lado, os buscadores de sensações fracas seriam
mais sensíveis aos riscos e por isso seriam mais cautelosos nessa
busca, tendo maior tendência a evitar sensações muito custosas,
podendo apresentar maior ansiedade em situações de alto risco
do que os buscadores de sensações mais intensas (ZUCKERMAN,
2007).
Em relação aos comportamentos sexuais, a busca por sen-
sações pode levar o indivíduo a se envolver em várias atividades
sexuais arriscadas, como grande número de parceiros sexuais e
relações sexuais desprotegidas (LEHMILLER e IOERGER, 2014).

245
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

O envolvimento nestas atividades pode favorecer o acometimen-


to por infecções sexualmente transmissíveis e gravidezes indese-
jadas (ZUCKERMAN, 2007).

4.3 Impulsividade na tomada de decisão


A tomada de decisão é considerada um processo de esco-
lha entre duas ou mais alternativas, que pode sofrer alteração
dependendo do ambiente ou situação em que esse processo de
escolha está ocorrendo (RAMOS et al., 2018). Ela tem um papel de
grande importância na aprimoração dos comportamentos, uma
vez que escolhas adaptativas foram selecionadas em detrimento
a outras possibilidades disponíveis no ambiente, possibilitando
ao indivíduo maiores chances de sobreviver, aumentando, con-
sequentemente, suas chances de se reproduzir, proporcionando
maior sucesso reprodutivo.
A impulsividade na tomada de decisão é considerada um
traço de personalidade, em que sua expressão ocorre no mo-
mento da escolha. O indivíduo não pensa nas consequências, de
modo que a percepção das consequências negativas é reduzida;
não há planejamento prévio à ação; e as consequências de longo
prazo não são levadas em consideração (CHARNIGO et al., 2013;
MOELLER et al., 2001).
Esse traço de personalidade é constantemente associado
aos comportamentos sexuais de risco (CHARNIGO et al., 2013) e
à maior frequência em envolvimento com comportamentos de
risco em adolescentes e jovens adultos (STANFORD et al., 1996).
Além disso, indivíduos que apresentam sociossexualidade irres-
trita têm maiores chances de também serem impulsivos, o que
pode levá-los a se envolverem em riscos sexuais, como sexo des-
protegido (SEAL e AGOSTINELLI, 1994).

246
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Quando relacionada ao comportamento sexual, a impul-


sividade pode significar o não uso de preservativos durante a
relação sexual, o que pode ocorrer tanto devido à falta do pre-
servativo durante o ato, quanto pela percepção de diminuição da
sensibilidade quando se usa a proteção. Por essa razão, a impul-
sividade é relacionada à infecção pelo HIV (JONES; SULLIVAN,
2015), assim como outras IST.

4.4 Sociossexualidade
A sociossexualidade se refere à tendência do indivíduo se
envolver em relacionamentos casuais, sem vínculo emocional
(PENKE e ASENDORPF, 2008; SIMPSON e GANGESTAD, 1991). A
orientação sociossexual pode ser modulada por meio das expe-
riências vividas pelo indivíduo, por experiências vividas ainda na
primeira infância, pelas suas predisposições comportamentais
do próprio indivíduo e também por influência genética e am-
biental (PENKE e ASENDORPF, 2008; SIMPSON e GANGESTAD,
1991)
A orientação sociossexual pode ser representada por dois
extremos: de um lado temos a sociossexualidade irrestrita, en-
quanto do outro existe a sociossexualidade restrita. A socios-
sexualidade irrestrita é caracterizada por maior envolvimento
em relações casuais e sem afetividade, em que esses indivíduos
apresentam menores níveis de ansiedade após esses relaciona-
mentos. Por outro lado, há os indivíduos que possuem orientação
sociossexual mais restrita, apresentando maior envolvimento
emocional e maior compromisso antes da relação sexual, e têm
maior tendência em demonstrar ansiedade após relacionamen-
tos casuais (VALENTOVA e VELOSO, 2018; VRANGALOVA e ONG,
2014a)

247
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

A orientação sociossexual irrestrita parece estar mais rela-


cionada aos comportamentos sexuais de risco do que a restrita,
devido à tendência desses indivíduos se envolverem em maior
número de relações sexuais casuais, sem envolvimento emocio-
nal, o que pode levar ao contato com vários parceiros sexuais em
um curto período de tempo. Essa exposição pode aumentar as
chances de infecção por patógenos sexualmente transmissíveis,
assim como maior possibilidade de ocorrer gravidez indeseja-
da (BARBER, 2008; SEVI et al., 2018; SIMONS et al., 2013). Além
disso, a orientação sociossexual irrestrita parece estar envolvida
com a busca por sensações, o que pode maximizar os riscos se-
xuais, tendo em vista que a busca por sensações sexuais também
está relacionada à maior exposição aos comportamentos sexuais
de risco por ser caracterizada pelo interesse em novas atividades
sexuais excitantes, incluindo atividade sexual arriscada, como
uso de substâncias ilícitas durante o ato sexual, e também maior
tendência a ter a relação sexual desprotegida (KOOMSON e TE-
YE-KWADJO, 2021).

5. O comportamento sexual de risco tem


benefícios?
Em termos evolutivos, o comportamento sexual é extre-
mamente importante. É através dele que a evolução pode agir,
passando os genes daquele indivíduo para as próximas gerações.
Além disso, é preciso falar sobre os benefícios em nível de indi-
víduo. A atividade sexual é associada a maior bem-estar, em que
o afeto desempenha um papel importante na associação entre a
frequência sexual e o bem-estar (DEBROT et al., 2017). Debrot e
colaboradores apresentaram que a frequência sexual estava as-

248
sociada a maiores emoções positivas e maior bem-estar emocio-
nal; por fim, demonstraram que a atividade sexual estaria rela-
cionada ao aumento em afeto positivo.
Quando se trata de humanos, o sexo não é apenas sobre re-
produção, porque o prazer é um grande fator motivador para a
atividade sexual e muitas vezes os indivíduos acabam se expon-
do para alcançar o maior prazer percebido. Em um estudo feito
por Mabire et al., (2019), os participantes relataram que uma das
maiores barreiras para o prazer sexual é o uso do preservativo, o
que leva muitos indivíduos a não usarem essa proteção, alegando
redução da sensibilidade e até mesmo irritação e queimação. O
não uso de preservativo muitas vezes é associado ao uso da pro-
filaxia pré-exposição ao HIV (PrEP), que evita que o indivíduo
seja infectado pelo vírus causador do HIV, mas não impede que
outras infecções, como sífilis e gonorreia, sejam contraídas. O
mesmo estudo traz que o uso do preservativo era visto como uma
barreira para o engajamento em atividade sexual, impedindo a
ereção e limitando o desejo, em que o prazer sexual percebido
era maior quando a atividade sexual era feita sem o preservati-
vo. Além disso, o ato de colocar o preservativo de forma correta
era percebido como um maior obstáculo, provocando ansiedade
e estresse, levando à inibição do desejo ou ereção.
Essa busca por prazer pode ir além da relação sexual des-
protegida, sendo voltada também para a quantidade de parceiros
sexuais em um curto período. Segundo Vrangalova e Ong (2014),
sexo casual semanal demonstrou ser um fator determinante
para o bem-estar, em que indivíduos com alta sociossexualidade
(orientação sociossexual irrestrita) reportaram maior autoestima
e satisfação com a vida nas semanas de sexo casual em compara-
ção com as semanas sem sexo casual.
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Entretanto, como vimos ao longo deste capítulo, todos es-


ses comportamentos podem ter custos altos, que podem levar os
indivíduos a terem danos físicos, como as infecções sexualmente
transmissíveis, que podem até mesmo ser fatais caso não trata-
das; também, como já vimos, podem ser prejudiciais para a saú-
de mental (ELLER et al., 2014; RABKIN, 2008) além do estado de
vulnerabilidade quando se trata de gravidez precoce (MIURA et
al., 2014).
Por outro lado, a interação sexual destes indivíduos pode
ter como benefício a passagem de seus genes para a próxima ge-
ração. O envolvimento sexual com múltiplos parceiros, assim
como a atividade sexual desprotegida, apesar dos riscos, pode
proporcionar maior aptidão direta para esses indivíduos. Em ou-
tras palavras, esses indivíduos aumentam a passagem de seus
genes para a próxima geração, tendo maior quantidade de filhos
do que os indivíduos que não expressam estes comportamentos
arriscados. Sendo assim, os genes responsáveis pela expressão
destes comportamentos também estarão presentes na próxima
geração, garantindo a possibilidade da permanência destes ge-
nes na população.

6. Considerações finais

Em resumo, a atividade sexual tem grande valor adaptativo


devido ao seu importante papel na evolução, contribuindo para
a passagem de genes que carregam características de extremo
valor adaptativo para as futuras gerações. Entretanto, quando
este comportamento está relacionado com outras características
individuais, como a busca por sensações e impulsividade, temos
variações comportamentais que podem ser nocivas para os indi-

250
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

víduos, aumentando as chances de acometimento por infecções


sexualmente transmissíveis. É possível que essas características
ainda estejam presentes atualmente, por aumentarem o sucesso
reprodutivo desses indivíduos devido ao aumento no número de
contato sexual desprotegido e o maior número de parceiros; além
disso, é possível que essas diferenças individuais sejam adaptati-
vas em outros âmbitos da vida dos indivíduos, como a extrover-
são, que pode facilitar as interações sociais.
O estudo da perspectiva evolucionista pode nos levar a
compreender fenômenos sob a óptica da evolução, tendo em vis-
ta o panorama ancestral, podendo proporcionar a compreensão
da persistência de comportamentos que à primeira vista podem
parecer deletérios, mas que podem possuir papel de importân-
cia na passagem de genes. Investigar o comportamento sexual
de risco sob a perspectiva evolucionista pode promover maior
compreensão de como e o por que ocorrem os processos sexuais
que podem levar indivíduos a se exporem aos riscos sexuais. Essa
compreensão, por sua vez, pode contribuir para que ocorra a re-
dução da exposição aos riscos sexuais, diminuindo os custos des-
se comportamento tão natural, que é o comportamento sexual.

251
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

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259
Cap. 10
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Práticas de Remoção de Pelos e


Perspectiva Cultural-Evolutiva
Humana
Jamile Lima Carvalho

Pelos corporais (situados do pescoço para baixo) são carac-


teres sexuais secundários que se desenvolvem sob a influência
de hormônios androgênicos a partir da puberdade (RANDALL,
2008). A despeito da função dos pelos em contextos de comu-
nicação animal, como um sinal visual de maturidade sexual ou
pista olfativa do estado reprodutivo, mulheres e homens enga-
jam-se em práticas de remoção e redução de seus pelos e geram
um verdadeiro enigma no que se refere à função adaptativa desse
comportamento (CRAIG e GRAY, 2018).
Sabe-se hoje que práticas de depilação e redução de pelos
estão presentes em nossa história desde os tempos da Idade An-
tiga e em diversas culturas humanas, a despeito de exposição a
marketing e pornografia (CRAIG e GRAY, 2018; PROKOP, 2016).
Um estudo intercultural de Craig e Gray (2018) que explorou prá-
ticas de remoção e retenção de pelos fora do ocidente, por meio
da codificação do conteúdo das sociedades no banco de dados
dos Arquivos da Área de Relações Humanas (eHRAF World Cultu-
res), observou que práticas de remoção são mais comuns que as
de retenção de pelos também em sociedades tradicionais não-o-

261
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

cidentais. Trinta e uma sociedades analisadas realizavam práti-


cas distintas de remoção ou retenção de pelos e os resultados in-
dicaram que as mulheres praticaram mais comumente remoção
de pelo em relação aos homens, em diferentes culturas. Dados
descritivos de 72 sociedades que forneceram um contexto adicio-
nal nesse estudo mostraram que ambos os sexos relatam razões
de higiene, atratividade e sinalização social para justificar a re-
moção de seus pelos (CRAIG e GRAY, 2018).
Apesar dos riscos a infecções e lesões de pele (LUSTER et
al., 2019; SWAIN et al., 2016; VERALDI et al., 2016) que a depilação
pode trazer, em sociedades ocidentais contemporâneas, o ideal
‘sem pelos’ foi endurecido especialmente para o sexo feminino.
Em mulheres americanas, a gênese do comportamento de reti-
rada de pelos tem sido relacionada com conformidade a normas
sociais e sua manutenção a razões de atratividade e feminilidade
(BASOW, 1991); para o sexo masculino, ela parece estar mais asso-
ciada à comparação específica entre a norma de pelos dos outros
homens, preocupações com autoimagem e impulso para exibição
da musculatura (BOROUGHS, 2012). Comparadas aos homens
norte-americanos, mulheres americanas ainda removem seus
pelos com maior frequência e também relatam bem mais injúrias
por esses procedimentos (BOROUGHS, 2012; SWAIN et al., 2016).
Um estudo realizado com 400 mulheres sauditas mostrou
que cerca de três quartos (77,0%) retiraram os pelos pubianos
por conta própria, enquanto o restante utilizou profissionais de
consultórios médicos (15,5%), salões de beleza, (5,3%) e servi-
ços profissionais em casa (2,2%). Três quartos dessas mulheres
(75,5%) relataram complicações que, embora fossem, em sua
maioria, leves, levaram-nas a buscar tratamento para 17,9% delas
(ROUZI et al., 2018).

262
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Uma pesquisa transversal com 21.487 mulheres brasileiras


(média de idade: 28,1 ± 7,7 anos) maiores de 18 anos através de
questionário anônimo e online mostrou que 97% removem par-
cial ou totalmente seus pelos genitais. Houve relato de algum
tipo de sintoma genital (vermelhidão, coceira, pelos encravados
e outros) entre 65,1% de mulheres com depilação genital parcial e
completa (LARA, 2017).
Outro estudo que avaliou vulvovaginites e hábitos de hi-
giene de mulheres atendidas em Unidades Básicas de Saúde da
Família em Uberlândia (estado de Minas Gerais, Brasil) com 100
mulheres que realizaram consulta ginecológica e exames de la-
boratório para diagnóstico e relatório mostrou que 30% delas
apresentou alterações na microbiota a partir do exame de Papa-
nicolaou, sendo a vaginose bacteriana o microrganismo predo-
minante (83,3%). O hábito de depilar a região genital foi relatado
por todas as mulheres, sendo a lâmina de barbear o instrumen-
to mais utilizado (68%). Para infecção/reações e dermatite por
depilação, houve diferença estatisticamente significativa para a
ocorrência de infecção (FELIX et al., 2020).
Ainda sobre brasileiras, um estudo com dados de 69.920
indivíduos (52.787 mulheres e 17.133 homens) mostrou que a
maioria das mulheres (64,3%) e dos homens (62,2%) preferiram
a genitália feminina completamente depilada e essa preferência
foi mais pronunciada entre os indivíduos mais jovens de ambos
os sexos. A maioria das mulheres se depilavam em casa (55,8%)
e 44,4% delas usavam cera quente, enquanto 40,1% utilizam lâ-
mina de barbear. Quase metade das mulheres (44,7%) e dos ho-
mens (50,1%) alegaram ter frequência sexual de 2 a 3 vezes por
semana. A frequência sexual das mulheres e a satisfação com sua
própria genitália foram positivamente relacionadas com a prefe-

263
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

rência pela remoção total dos pelos pubianos (SANGIORGI et al.,


2017). Ainda não está bem esclarecido como se dá conjuntamen-
te a relação entre maior frequência sexual, a remoção dos pelos
pubianos e maior risco a infecções sexuais.
Há muito, pesquisadores destacam fatores socioculturais
importantes que influenciam em comportamentos que se desti-
nam à melhoria de aparência, como a depilação, incluindo ideais
na mídia, pressão de seus pares (WEBB et al., 2017), normas so-
ciais (RANDAZZO e SOLMON, 2018), cultura patriarcal (LEVE et
al., 2012), conceitos de beleza (GROGAN, 2008), objetificação se-
xual (STRELAN e HARGREAVES, 2005) e conformidade aos pa-
peis de gênero (LENNON e RUDD, 1994). Menos investigadores,
no entanto, discutiram a psicologia de realce de aparência, espe-
cificamente da remoção de pelos, por uma abordagem evolutiva,
em que a diferença entre homens e mulheres e os padrões estabe-
lecidos para cada gênero considerem os efeitos da seleção intra e
intersexual (DAVIS e ARNOCKY, 2020). O objetivo deste capítu-
lo é lançar luz sobre o tema da remoção de pelos corporais, dis-
cutindo a diferença intersexual envolta nessa prática, sob o viés
cultural-evolutivo. Discutiremos ainda o potencial da remoção e
retenção de pelos de sinalizar características sexuais importan-
tes na escolha de parceiros para o sexo oposto.

1. Retenção e remoção de pelos e a


perspectiva evolucionista

1.1 Remoção de pelos em animais não humanos


Partindo de uma perspectiva filogenética, outros mamífe-
ros também realizam o comportamento de remoção de pelos em

264
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

diferentes contextos. A presença dos pelos nesses animais pode


representar uma pista visual, tátil e odorífera de outros traços
subjacentes, como saúde, estado físico e reprodutivo, assim como
a remoção dos pelos também pode possuir um significado bioló-
gico e adaptativo. Cães, gatos domésticos e primatas cativos em
episódios de catação social ou auto-higiene por exemplo, remo-
vem pelos para retirada de parasitas, em lutas ou como uma res-
posta comportamental ao estresse (BRAND e MARCHANT, 2015;
REINHARDT, 2005). Em coelhos cativos, os indivíduos podem
remover e comer o pelo uns dos outros como um complemento
de fibras à ração oferecida e também como resposta ao estres-
se (MULDER et al., 1992). Coelhas fêmeas arrancam os pelos do
próprio peito com os dentes, forram o ninho e cobrem os filhotes
juntamente com capim, uma vez que os infantes nascem sem pe-
lagem (GONZÁLEZ-MARISCAL et al., 2016).
Um estudo realizado com bonobos em cativeiro também
levantou alguns aspectos que podem ser relevantes ao analisar
a retirada de pelo feita pelos próprios indivíduos ou por seus pa-
res, como a hierarquia, a sazonalidade, composição do grupo e
o aprendizado social desse comportamento. O estudo de Brand
e Marchant (2015) com 17 bonobos em cativeiro mostrou que a
retirada de pelos dentro desse grupo era especialmente autodiri-
gida, ocorrendo durante aproximadamente 21% de todas as ses-
sões de catação e realizado pela maioria dos indivíduos, desta-
cadamente machos subadultos e machos e fêmeas dominantes.
Indivíduos em cativeiro também foram mais propensos a exibir o
comportamento do que em relação a animais nascidos na natu-
reza, o que apoia a sugestão de que o estresse do ambiente artifi-
cial e a exposição precoce e observação da arrancada do pelo po-
dem influenciar o desenvolvimento do comportamento (BRAND

265
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

e MARCHANT, 2015). Embora o ato de arrancar pelos possa ser


visto como uma patologia comportamental em animais não-hu-
manos, vale ressaltar que é uma prática adaptativa ao contexto
(REINHARDT, 2005).

1.2 A evolução da pelagem hominídea e a seleção sexual


No que se refere à pelagem, humanos são um tanto únicos
entre os mamíferos no sentido de que possuímos pouca quanti-
dade de pelos, podendo ser maior em alguns locais específicos
do corpo. Além disso, exibimos certo dimorfismo sexual, com os
homens em geral possuindo mais volume e locais de distribuição
de pelos do que as mulheres, com destaque para a face e o tórax;
e, ainda, uma diferença no trato e na sinalização social, no que se
refere a exibição dos pelos ou de uma pele lisa. Tais peculiarida-
des levaram cientistas evolucionistas a considerar quais pressões
seletivas podem ter impulsionado a evolução da pelagem homi-
nídea, bem como as diferenças intersexuais desta e de práticas
relacionadas aos pelos.
Ao passo que a redução dos pelos ao longo do tempo evo-
lutivo pode ter sido importante para a sobrevivência em termos
de termorregulação e defesa contra ectoparasitas, a retenção de
pelos em certas partes do corpo não parece fornecer vantagem
direta na sobrevivência, podendo por vezes gerar custos (DAVIS
e ARNOCKY, 2020; DIXSON et al., 2019; DIXSON e VASEY, 2012).
Por outro lado, a retirada artificial desses pelos também pode tra-
zer danos, provocar lesões de pele e aumentar a suscetibilidade
a certos patógenos (LUSTER et al., 2019; SWAIN et al., 2016; VE-
RALDI et al., 2016).
Em meio às mudanças nas práticas de depilação e pen-
teado através da história e entre as culturas, as pessoas exibiram

266
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

preferências específicas por certos estilos de cabelos em seus


parceiros e alteraram a forma e a exibição dos pelos para incre-
mentar a própria beleza (BUTLER et al., 2015; DIXSON e BROOKS,
2013; DIXSON et al., 2019).
Tais evidências, relacionadas ao custo de ter os pelos, bem
como o de eventualmente ter que retirá-los e seus efeitos varia-
dos na atratividade em homens e mulheres, sugerem que a se-
leção sexual ajudou a moldar a retenção biológica dos pelos em
certos locais, assim como o comportamento de depilação (DAVIS
e ARNOCKY, 2020). Remoção e retenção de pelos, como práticas,
podem ter emergido como ornamentação, para aumentar a atra-
tividade percebida e a qualidade fenotípica (seleção intersexual)
ou como pistas para formidabilidade física, dominância ou status
(competição intrassexual) (DARWIN, 2004; DIXSON e BROOKS,
2013; DIXSON e RANTALA, 2016; DIXSON et al., 2019; DIXSON e
VASEY, 2012).
Assim como outras espécies que se reproduzem sexual-
mente, os humanos não se acasalam nem exibem suas preferên-
cias aleatoriamente, mas para obter benefícios diretos, como por
exemplo, paternidade, presentes nupciais, proteção física, sta-
tus e acessibilidade sexual; bem como benefícios reprodutivos
indiretos, como “bons genes”, saúde, qualidade do esperma em
machos e fecundidade em fêmeas (BUSS e SCHMITT, 2019; CLU-
TTON-BROCK, 1991; DARWIN, 2004; GANGESTAD e SCHEYD,
2005). A escolha prudente do companheiro ajuda a evitar custos
do acasalamento indiscriminado como adquirir doenças sexual-
mente transmissíveis, infidelidade, abandono, genes com alta
carga de mutação para a prole e danos à reputação.
Alguns estudos evolucionistas no campo dos pelos e da
aparência física usaram dessa lógica para investigar os possíveis

267
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

benefícios e custos biológicos envolvidos nas preferências de pe-


lagem humana que tanto influenciam na seleção sexual e, em ge-
ral, resultam na predileção de homens por mulheres depiladas e
de mulheres por homens com mais pelos.

1.3 Preferências relacionadas aos pelos entre os sexos


Prokop (2016) examinou a preferência masculina por me-
nos pelos pubianos na perspectiva da hipótese de evitar o contá-
gio por ectoparasitas – que propõe que a preferência por redução
de pelos em mulheres foi favorecida porque indivíduos sofreriam
com menores cargas parasitárias de piolhos na região genital, e da
hipótese social, que propõe que a exposição à pornografia leva à
essas preferências. O autor encontrou que homens, em geral, pre-
feriam genitálias femininas depiladas e que aqueles com maior
sensibilidade ao nojo de patógenos e mais irrestritos sociosse-
xualmente possuíam essa preferência mais forte. Contrariando
a hipótese social, foi observada uma correlação negativa com
o consumo de pornografia e preferências por depilação genital
(PROKOP, 2016). O mesmo autor ainda argumenta que fêmeas,
por serem mais sedentárias e cuidarem de filhotes, estariam mais
sujeitas à parasitas, assim como machos mais irrestritos que co-
pulavam com mais fêmeas também estariam mais expostos. No
entanto, como limitações do seu trabalho, ele aponta que seus re-
sultados podem ser especialmente verdadeiros apenas em locais
com baixa prevalência de parasitas como a Eslováquia, país no
qual sua pesquisa foi realizada, que ainda não está claro como as
preferências de parceiros de curto e longo prazo influenciam as
preferências por órgãos genitais raspados em situações da vida
real e que esses trabalhos precisam ser replicados pelo mundo
(PROKOP, 2016).

268
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Um estudo intercultural com dados de 30 países propôs


que a preferência das fêmeas por pelos nos machos poderia es-
tar relacionada à exibição conspícua desse traço como símbolo
de sua resistência a parasitas não encontrou relações significa-
tivas entre taxas passadas ou atuais de parasitas e a preferência
de mulheres (DIXSON et al., 2019). Apesar de fracas, os autores
desse estudo encontram mais correlações positivas entre a pre-
ferência da fêmea por pelos masculinos e a idade das mulheres,
com fortes preferências por pelos faciais, em países com maior
proporção de homens, altos índices de desenvolvimento humano
e baixos índices de educação (DIXSON et al., 2019).
Estudos sociais mais tradicionais sobre preferência e per-
cepção dos pelos corporais entre os gêneros apontam para outra
direção de investigação, analisando a relação entre a ausência de
pelos e feminilidade, bem como presença de pelos e masculinida-
de. Toerien e Wilkinson (2003) argumentam que, como um sinal
social, a norma de pelos parece divergir em seu significado entre
homens e mulheres: enquanto a pelagem masculina é comumen-
te ligada a agressividade e virilidade (COOPER, 1971; TOERIEN
e WILKINSON, 2003), no corpo feminino, paradoxalmente, está
associada a “devassidão” e a negação da própria sexualidade das
mulheres em sociedades ocidentais (TOERIEN e WILKINSON,
2003).
Basow e Braman (1998) observaram que mulheres ame-
ricanas não depiladas são vistas como mais agressivas, ativas e
fortes, bem como consideradas fisicamente menos atraentes. Os
autores especulam que isso poderia ser devido a uma associação
entre a presença de pelos e a feminilidade: uma vez que esta não
é estereotipadamente associada à força, atividade e agressão, a
mulher mais peluda seria percebida então como ‘não feminina’,

269
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

fora do molde tradicional e, portanto, sem os traços tipicamente


associados à feminilidade. Em um contexto de busca por padrões
valorizados pelo sexo oposto, tal trabalho sugere que a pressão
mais forte sobre a redução de pelos para as mulheres poderia não
acontecer apenas porque os pelos corporais simbolizam classi-
camente virilidade e assertividade, mas também porque a sua
presença está associada à um modelo de atratividade psicológico
masculino (BASOW, 1991).
A visão evolucionista propõe que as preferências por traços
que denotem feminilidade, como a exibição de uma pele sem pe-
los, podem estar associadas ao reconhecimento não consciente
da capacidade e investimento fisiológico da mulher em conceber
e criar filhos, através de indicadores de fecundidade e investi-
mento materno (DIXON, 2016; JASIENSKA, 2009). Nesse sentido,
é possível que a remoção do pelos possa transmitir informações
associadas ao investimento materno e se relacionar também com
a exibição de certas características evolutivamente importantes
para os homens, como por exemplo sociossexualidade (detalha-
da mais adiante), personalidade, idade e status.
Um estudo com um viés evolucionista, realizado por Di-
xson e Vasey (2012), mostrou que os pelos faciais masculinos
aumentaram a percepção da idade, status social e agressivida-
de nos machos, mas não necessariamente de atratividade, inde-
pendente do estado de fertilidade da fêmea. Um outro trabalho
de Dixson e Brooks (2013) também mostrou que a percepção da
masculinidade aumentou linearmente em homens e mulheres
à medida que os pelos faciais aumentaram e esse efeito é mais
pronunciado nas mulheres na fase fértil do ciclo menstrual. Jul-
gamentos de atributos sociossexuais masculinos desse estudo
sugeriram que um nível intermediário de barba é mais atraente

270
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

e homens com barba cheia são vistos como pais melhores, mais
saudáveis e que podem proteger e investir mais em seus filhos.

2. Por que o comportamento de remoção


de pelos se tornou mais normativo entre as
mulheres?
De uma perspectiva evolucionista, as diferenças entre os se-
xos nas estratégias de escolha e competição de parceiros são vistas
como o resultado de diferentes pressões adaptativas que humanos
ancestrais enfrentaram ao longo do tempo, o que levou ao desen-
volvimento de características de design específicas para cada sexo
(BUSS e SCHMITT, 2019). Essas pressões podem gerar mecanis-
mos psicológicos evoluídos, produtos funcionais da Seleção Natu-
ral ou Sexual capazes de influenciar diversos traços, mas também
caracteres culturais humanos – comportamentos propriamente
ditos, ideias e tecnologias que podem ser aprendidas com outros
indivíduos e que, em geral, possuem complexos padrões de trans-
missão e evolução difíceis de serem explicados somente através de
paralelos com a genética mendeliana (CREANZA et al., 2017).
Homens ancestrais, como a maioria dos machos mamífe-
ros, enfrentaram problemas adaptativos de identificar correta-
mente, cortejar e competir com rivais por parceiras sexualmen-
te disponíveis e atraentes (ou seja, férteis e saudáveis) (BUSS e
SCHMITT, 2019). Como consequência de desafios seletivos dife-
renciais, espera-se que as mulheres compitam mais em aspectos
de sua aparência física, de modo a sinalizar juventude, feminili-
dade, saúde e fertilidade, enquanto os homens devam competir
mais por sinais de retenção de recursos (dinheiro e status) e for-
midabilidade física, que são traços mais importantes para os pro-

271
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

blemas de suprimento e proteção de suas companheiras (BUSS,


1988; BUSS e DEDDEN, 1990; FINK et al., 2014).
Dentro do acasalamento heterossexual, as preferências de
um sexo tendem a se tornar o que os membros do sexo oposto
buscam incorporar. Consequentemente, para os membros de um
mesmo sexo, as preferências do outro lançam os domínios no
quais a competição intrassexual deverá ocorrer. Até o momen-
to, basicamente duas estratégias dominantes de competição in-
trassexual foram estudadas (BUSS e DEDDEN, 1990; SCHMITT e
BUSS, 1996). A primeira é chamada de autopromoção, que envol-
ve amplificar características para aumentar o apelo para parcei-
ros em potencial. A segunda é a difamação do concorrente, que
envolve tentativas de reduzir o valor de parceiro dos rivais. Nesse
sentido, um estudo de Buss e Dedden (1990) com homens e mu-
lheres norte-americanos mostrou que, enquanto elas foram mais
propensas a depreciar pessoas do mesmo sexo em relação à sua
aparência física, eles foram mais propensos a atacar a posição fi-
nanceira, realizações e força de um rival.
Agora, com todo o contexto de escolha e competição, pode-
mos analisar os comportamentos de remoção de pelos e depilação
propriamente ditos sob a óptica completa da seleção sexual e com-
preender porque, em geral, estes e outros procedimentos que visam
melhorar a aparência física são mais comuns em mulheres. Tais
práticas visam atender não só às preferências adaptativas mascu-
linas, mas também servem como estratégias de competição intras-
sexual do tipo autopromoção, que podem ser usadas não só para
aumentar a probabilidade de escolha, mas também para aumentar
a competitivamente, valor do mercado e status dos indivíduos, de-
sencorajando a competição por rivais do mesmo sexo (BUSS e DE-
DDEN, 1990; SCHMITT e BUSS, 1996; VARELLA et al., 2017).

272
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

A estratégia de reduzir o valor de parceiro de rivais tam-


bém pode estar envolvida na maior difusão de práticas de remo-
ção de pelos entre as mulheres. Socialmente, isso pode se refletir
no nojo, julgamentos e difamação por parte de algumas mulheres
que se depilam para com aquelas não se depilam (ou removem os
pelos com uma menor frequência), além de maior normatividade
do comportamento de depilação entre as mulheres.
O comportamento de remoção de pelos, especificamente,
exibe um padrão dimórfico entre os sexos que sugere Seleção Se-
xual na evolução desse traço e também parece estar sujeito a cer-
tos vieses e preferências mais proeminentes em homens ou em
mulheres. É importante salientar, no entanto, que o comporta-
mento em si de remoção de pelos está sujeito ao processo de evo-
lução cultural, no qual o aprendizado social importa bastante,
além do valor da retenção ou depilação como inovação cultural;
o tamanho e conectividade das populações, bem como suas res-
pectivas cargas parasitárias; as condições climáticas e recursos
alimentares disponíveis podem também influenciar na seleção
desse traço (CREANZA et al., 2017).

3. Remoção e retenção de pelos dentro da


perspectiva da evolução cultural
Não somente elementos da Seleção Sexual e certos vieses e
preferências podem ajudar a moldar os comportamentos de re-
moção e retenção de pelos e a mensagem transmitida por eles,
mas também aspectos culturais e individuais.
Um estudo com 584 neozelandeses com idades entre 18 e
35 demonstrou que, ainda que proporções substanciais de mu-
lheres e homens removam pelos corporais de muitos locais, as

273
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

diferenças de gênero permanecem. Uma diferença-chave aparece


no conceito de escolha flexível em torno da remoção ou reten-
ção de pelos corporais, vista na diferença entre a aceitação per-
cebida de ter pelos no corpo (81% para homens versus 11% para
mulheres). Essas descobertas sugerem que, embora os homens,
assim como as mulheres, estejam sob pressão para remover pelos
do corpo, ainda há uma grande diferença social na capacidade
de homens e mulheres de escolher ceder a ela (TERRY e BRAUN,
2013).
Aspectos mais individuais, como por exemplo traços de
personalidade, também podem estar envolvidos na expressão
dos comportamentos de remoção e retenção de pelos corporais.
Dentro do que se discute sobre Evolução cultural, estudos já
mostram um link entre inovação e a aprendizagem social –, con-
ceitos-chave dentro dessa teoria, e traços de personalidade.
A personalidade humana abrange estados de espírito, ati-
tudes e opiniões e inclui características comportamentais, ine-
rentes e adquiridas, que distinguem uma pessoa da outra e que
podem ser observadas nas relações das pessoas com o meio am-
biente e social (HOLZMAN, 2020). A composição da personali-
dade inclui componentes hereditários, é relativamente estável ao
longo da vida dos indivíduos e é marcada por traços ou fatores
que funcionam como programas mentais que influenciam a for-
ma de pensar, sentir e se comportar (HOLZMAN, 2020).
Um estudo com crianças de 7 a 11 anos do Reino Unido (N
= 282) que examinou se a personalidade influenciou a propen-
são de escolher observar os outros primeiro ou gerar soluções
para novos problemas de forma independente mostrou resulta-
dos interessantes. A conscienciosidade foi associada a não optar
por demonstrações, enquanto a agradabilidade foi associada

274
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

a optar por demonstrações das tarefas. Para crianças que rece-


bem demonstrações, a abertura à experiência previu um desvio
consistente dos métodos observados e menos ações imitativas.
Crianças com alta conscienciosidade, em comparação com as de
classificação baixa, eram menos propensas a desviar do méto-
do demonstrado, enquanto aquelas classificadas com mais alta
agradabilidade e neuroticismo foram mais propensos a exibir
inovações do que aqueles com baixos níveis nesses traços (RA-
WLINGS et al., 2021).
Pensando em uma relação entre personalidade, cultura
e exibição ou não dos pelos corporais, é possível encontrar um
paralelo entre esses comportamentos e os traços do Big 5, por
exemplo. O traço abertura à experiência e seus componentes re-
lacionados à tolerância ao incomum, desejo por mudança e di-
versidade pode influenciar a disposição do indivíduo em seguir
normas de gênero vigente (PLATT e SZOKA, 2019), como às re-
lacionas aos pelos; aspectos relacionados ao manejo do estres-
se, insatisfação com o próprio corpo e competição intrassexual
podem estar relacionados com o traço neuroticismo e também
influenciar as decisões sobre os pelos (MACNEILL et al., 2017). A
interação desses traços pode ainda ser melhor explorada na in-
fluência sobre as práticas relacionadas ao pelos.
Um outro constructo que pode ser utilizado para entender
a retenção ou remoção dos pelos e sua sinalização é a sociosse-
xualidade, conceito introduzido por Alfred Kinsey para descrever
as diferenças individuais em permissividade sexual e promiscui-
dade (KINSEY et al., 1948; 1953). Hoje, pela escala de sociossexua-
lidade atualizada de Penke e Asendorpf (2008), o nível de irres-
trição sexual é avaliado através de três facetas: comportamento
passado em termos de número de parceiros sexuais casuais e va-

275
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

riáveis, atitude explícita em relação ao sexo não comprometido e


o desejo sexual para pessoas com quem não se tem um relaciona-
mento romântico (PENKE e ASENDORPF, 2008).
Alguns estudos já mostram o impacto que a remoção de
pelos tem na vida sexual das mulheres, bem como na sua auto-
percepção e satisfação com suas relações. Um estudo com 222
mulheres, recrutadas nos ambulatórios do Hospital Geral El-
-menshawy em Tanta, no Egito, mostrou que todas as funções
sexuais aumentaram em mulheres após a remoção dos pelos
do corpo (YOUNIS et al., 2018). Os resultados indicaram que as
funções sexuais como desejo, lubrificação e orgasmo melhoram
após a depilação corporal em mulheres, além de outros fatores
também associados, como circuncisão, escolaridade, situação
ocupacional e local da depilação (YOUNIS et al., 2018). A frequên-
cia sexual das mulheres e a satisfação com sua própria genitália
foram positivamente relacionadas com a preferência pela remo-
ção total dos pelos pubianos (SANGIORGI et al., 2017). Outros
estudos já mostram que a remoção dos pelos púbicos está rela-
cionada a atribuições de atratividade sexual e autorrealce. Além
disso, ter um parceiro e a exposição a formas específicas de mídia
também previram a remoção dos pelos pubianos (TIGGEMANN;
HODGSON, 2008). O estudo de Prokop (2016) já mostrou como
a sociossexualidade dos homens afeta também a preferência por
mulheres com genitália depilada.
Tendo em vista essa relação da depilação com o compor-
tamento sexual, é possível que a sociossexualidade de mulheres
influencie não só as práticas de depilação, mas também possa
servir de sinalização diferentemente para parceiros de longo ou
curto prazo.

276
4. Considerações finais

Estudar os comportamentos de remoção e retenção de pe-


los pode ser uma tarefa complexa. Dentro do que se entende por
Evolução cultural, diversos fatores podem ser analisados dessas
práticas sobre os pelos corporais, desde motivações intrínsecas
e aspectos individuais como personalidade e sociossexualidade,
até elementos culturais e ambientais que também as influen-
ciam. De uma perspectiva da Seleção Sexual, aspectos relaciona-
dos à competição intersexual e preferências humanas também
são um campo vasto para explorar a sinalização que os pelos
exercem. Ademais, outros trabalhos que investiguem a relação
entre os pelos e a percepção/promoção de saúde ainda precisam
demonstrar melhor como se dá esse efeito, bem como investigar
a percepção dos pelos por outras vias sensórias além da visão.
Esses trabalhos são importantes não somente dentro do âmbito
da Biologia e Psicologia, mas também para a compreensão real
da atratividade e normas sociais envoltos nos constructos de gê-
nero, debates científicos e feministas.
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
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285
Sobre os
organizadores
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Fívia de Araújo Lopes é doutora em Psicobiologia e gra-


duada em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), Brasil. Realizou atividades de pós-doutora-
do no LEEC, Université Paris-13 (Villetaneuse-França). É pro-
fessora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Nor-
te (UFRN) no Departamento de Fisiologia e Comportamento
(Centro de Biociências-UFRN) e professora permanente do Pro-
grama de Pós-graduação em Psicobiologia (UFRN). É membro
do Grupo de Trabalho de Psicologia Evolucionista da ANPEPP.
É coordenadora do Laboratório de Evolução do Comportamen-
to Humano (LECH-UFRN). Atua em pesquisas voltadas para a
compreensão do comportamento humano à luz da perspectiva
evolucionista, com interesse principalmente na investigação
do comportamento alimentar, escolha de parceiros e compor-
tamento social.

Felipe Nalon Castro é doutor em Psicobiologia pela Uni-


versidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e gradua-
do em Administração de Empresas pela Universidade Potiguar
(UnP) e em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de
Viçosa (UFV). É professor adjunto no Departamento de Fisiolo-
gia e Comportamento (Centro de Biociências-UFRN) e profes-
sor permanente do Programa de Pós-graduação em Psicobiolo-
gia (UFRN). É vice-coordenador do Laboratório de Evolução do
Comportamento Humano (LECH-UFRN). Tem experiência em
Psicologia Evolucionista e análise quantitativa de dados. Seu tra-
balho inclui a investigação do comportamento reprodutivo, es-
tratégias sexuais e escolha de parceiros em humanos, bem como
os fatores que motivam o consumo de produtos humanos para
testar hipóteses evolutivas.

287
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Daniella Bezerra dos Santos é mestre em Psicobiologia e


graduada em Biomedicina (Bacharelado) pela Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Norte (UFRN). Atualmente é doutoran-
da pelo Programa de Pós-graduação em Psicobiologia da UFRN
e membro do Laboratório de Evolução do Comportamento Hu-
mano (LECH-UFRN), tendo como temas centrais de pesquisa a
autoeficácia e a escolha de parceiros românticos. Dentre seus te-
mas de interesse estão: cognição, agenciamento humano, plas-
ticidade transpessoal, personalidade,  self-expansion  e relações
interpessoais. 

288
Sobre os
autores
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Anne Kelly Costa Morais é graduada em Psicologia pela


Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Atual-
mente é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Psicobio-
logia (UFRN), tendo como temas de pesquisa a cooperação em
crianças e linguagem. Faz parte do Laboratório de Evolução do
Comportamento Humano (LECH- UFRN) e tem interesse em te-
mas como cooperação, linguagem e desenvolvimento humano.
Igor de Souza Bezerra é graduado em Ciências Biológicas
(Licenciatura) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Atualmente é mestrando pelo Programa de Pós-Gradua-
ção em Psicobiologia e membro do Laboratório de Evolução do
Comportamento Humano (LECH-UFRN), onde pesquisa com-
portamentos sexuais de risco e diferenças individuais. Além dis-
so, tem interesse em temas como escolha de parceiros e compor-
tamento reprodutivo.
Jamile Lima Carvalho é graduada em Ciências Bio-
lógicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre
em Psicobiologia pela Universidade Federal do Rio Gran-
de do Norte (UFRN). Integrante do Laboratório de Evolu-
ção do Comportamento Humano (LECH-UFRN), investiga
questões sobre preferências de parceiros, normas de atra-
tividade feminina e evolução cultural.
João Lucas Garcia da Silva é graduado em Ciências Bioló-
gicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
mestre em Psicobiologia pelo Programa de Pós-graduação em
Psicobiologia da UFRN e membro do Laboratório de Evolução
do Comportamento Humano (LECH-UFRN), tendo como temas
centrais de pesquisa o consumo e os produtos culturais. Dentre
seus temas de interesse, estão: consumo premium, status, valor
de mercado e dominância social.

290
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Lara Gomes de Souza Silveira possui graduação em Ciên-


cias Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Nor-
te, especialização em Ciências Forenses e Perícia Criminal pela
Universidade Potiguar e mestrado em Psicobiologia pela Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Norte. No momento, é douto-
randa em Psicobiologia pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), dando continuidade à sua pesquisa de mes-
trado em empatia, dessa vez, com ênfase no comportamento em
diferentes fases do desenvolvimento. Tem experiência na área de
etologia, com ênfase em comportamento sexual, na área de cri-
minologia, com ênfase em comportamento sexual desviante e na
área de psicologia evolucionista, com ênfase em comportamen-
tos socioemocionais. Sua última experiência de trabalho junto à
University of Texas (Austin) envolveu transcrição e tradução e co-
leta de dados, além de sua tabulação.
Leonardo Henrique Coimbra Vieira é graduado em Ciên-
cias Biológicas pela Universidade Federal do Ceará e mestre em
Psicobiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Nor-
te. Atualmente é codificador e instrutor em Facial Action Coding
System pelo F-M Group International e colaborador do Laboratório
de Evolução do Comportamento Humano (LECH-UFRN). Dentre
seus temas de interesse, estão: cognição social, comportamento
de grupo, preconceito, influência social e expressões faciais.
Lillian Nathalie Oliveira da Silva é psicóloga da Univer-
sidade Federal de Alagoas (UFAL), tem especialização em Clínica
Psicanalítica, mestre em Psicologia Social pela Universidade Fe-
deral de Sergipe (UFS) e doutora em Psicobiologia pela Universi-
dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Possui formações
complementares em Análise do Comportamento e Neurociên-
cias. Membro do Laboratório de Evolução do comportamento

291
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

Humano (LECH-UFRN), pesquisa sobre atração sexual olfativa e


escolha de parceiros na diversidade sexual.
Lucas Emanuel Ferreira é graduado em Ciências Biológi-
cas (Bacharelado) pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Atualmente, é discente do curso de Ciências Sociais (Li-
cenciatura), mestrando pelo Programa de Pós-graduação em
Psicobiologia da UFRN e membro do Laboratório de Evolução
do Comportamento Humano (LECH-UFRN), tendo como temas
centrais de pesquisa o sistema imunológico comportamental e
escolha de parceiros românticos.
Natália de Araújo Miranda Tasso é mestre em Psicobio-
logia e graduada em Ciências Biológicas (Bacharelado), am-
bos pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Atualmente é doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em
Psicobiologia (UFRN) e membro do Laboratório de Evolução do
Comportamento Humano (LECH-UFRN). Durante a graduação e
mestrado, estudou os componentes motivacionais para doação
de sangue sob a perspectiva evolucionista. No doutorado, a auto-
ra segue interessada em componentes motivacionais, porém sob
outro conjunto de ideias e aplicadas ao melhor entendimento do
bem-estar subjetivo e seus possíveis valores adaptativos.
Natália B. Dutra é bolsista de pós-doutorado no Programa
de Pós-Graduação em Psicobiologia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN), vinculada ao Laboratório de Evolu-
ção do Comportamento Humano (LECH)-UFRN). Possui douto-
rado em Psicologia do Desenvolvimento pela Durham University,
Inglaterra (2018), mestrado em Psicobiologia pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (2012) e graduação em Psicologia
pela Universidade Federal do Ceará (2007). Principais interesses
incluem: funções executivas, aprendizagem cultural, cooperação

292
TEMAS EM EVOLUÇÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO II

e pró-socialidade, psicologia cultural evolucionista, e práticas de


open science.
Tainah Porpino de Paiva Costa é técnica em Controle Am-
biental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte (IFRN), graduada em Ciências Biológicas
(Licenciatura) pela Universidade Federal do Rio Grande do Nor-
te, mestre em Psicobiologia pelo Programa de Pós-graduação em
Psicobiologia da UFRN e membro do Laboratório de Evolução do
Comportamento Humano (LECH-UFRN), desenvolvendo pes-
quisas na área de Produtos Culturais e Comportamento Humano,
com ênfase na motivação por status e a escolha de carreira.  

293
A Editora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Norte (IFRN) já publicou livros em todas as áreas do conhecimento,
ultrapassando a marca de 150 títulos. Atualmente, a edição de suas obras está
direcionada a cinco linhas editoriais, quais sejam: acadêmica, técnico-científica,
de apoio didático-pedagógico, artístico-literária ou cultural potiguar.

Ao articular-se à função social do IFRN, a Editora destaca seu compromisso


com a formação humana integral, o exercício da cidadania, a produção e a
socialização do conhecimento.

Nesse sentido, a EDITORA IFRN visa promover a publicação da produção de


servidores e estudantes deste Instituto, bem como da comunidade externa,
nas várias áreas do saber, abrangendo edição, difusão e distribuição dos seus
produtos editoriais, buscando, sempre, consolidar a sua política editorial, que
prioriza a qualidade.
Fívia Lopes
é doutora em Psicobiologia e graduada em Psicologia pela Universidade Fede-
ral do Rio Grande do Norte (UFRN), Brasil. É professora titular da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Felipe Nalon Castro


é doutor em Psicobiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) e graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viço-
sa (UFV). É professor adjunto na UFRN.

Daniella Bezerra dos Santos


é mestre em Psicobiologia e graduada em Biomedicina pela Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Norte (UFRN). Atualmente é doutoranda pelo Programa
de Pós-graduação em Psicobiologia da UFRN.
O presente e-book se configura como uma coletânea
(10 capítulos), cujos escritos são, em sua maioria, adapta-
ções das revisões teóricas realizadas por, hoje, mestres e
doutores formados pelo Programa de Pós-graduação em
Psicobiologia da UFRN. Como será possível perceber, a
perspectiva evolucionista utilizada para o estudo do com-
portamento humano é o elemento que integra as diferentes
propostas. De forma resumida, tal perspectiva acrescenta
à compreensão de nosso repertório comportamental, in-
formações que remetem à constituição do ser humano
enquanto uma espécie. Nosso comportamento, apesar de
plástico, é possível graças a um arcabouço em termos de
sistema nervoso, que conta uma história que extrapola o
tempo de vida de cada um de nós enquanto indivíduos. So-
mos, como as demais espécies, uma espécie única, encan-
tadora, que enfrentou desafios evolutivos significativos que
culminaram com o que somos hoje.

ISBN 978-85-8333-276-3

9 788583 332763

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