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Anielle Batista de
Sousa*
[aniellee_bs@hotmail.com]
AN ASSERTIVENESS TRAINING IN COGNITIVE BEHAVIOR
THERAPY: A CASE STUDY
Edela Aparecida Ni-
cholletii**
[seredela@hotmail.com]
Resumo: NO Treino de Assertividade consiste em psicoeducar o paciente sobre os três
Mariana Fortunata Do- estilos de comportamentos mais frequentes (assertivo, passivo e agressivo) e é uma
nadon*** intervenção bastante utilizada na Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) devido
[marianadonadon@hotmail.
com] aos seus benefícios. Os pacientes, após alguns treinos conseguem alcançar ganhos em
várias áreas de vida, pois o mesmo aprende habilidades que antes não tinha em seu
repertório. O presente trabalho teve como objetivo descrever a aplicação de um trei-
namento de assertividade sob enfoque da psicoterapia cognitivo comportamental em
uma paciente com sintomas ansiosos. Como metodologia, o presente trabalho refe-
re-se a um estudo de caso. Foram utilizadas as escalas para mensuração semanal do
humor: Inventário Beck de Depressão (BDI), Inventário Beck de Ansiedade (BAI) e
Escala Beck de Desesperança (BHS), além de inúmeras técnicas da abordagem: psicoe-
ducação, identificação e registro de situações ansiosas, além do treino de Assertividade
com o propósito de desenvolver a habilidade de se relacionar socialmente. Foi possível
perceber após o treino, juntamente com outras intervenções, uma diminuição da ansie-
dade e melhora nos relacionamentos interpessoais. Entende-se que o treino assertivo é
uma intervenção importante por ajudar o paciente a adquirir ou aprimorar a habilidade
da assertividade.
Recebido em: 01/07/2020 Keywords: Anxiety; Assertiveness; Cognitive; Therapy; Social skills; Psychotherapy
Aceito em: 13/11/2020
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ISSN 2238-5630
Anielle Batista de Sousa; Edela Aparecida Nicholletii; Mariana Fortunata Donadon Brasília-DF, v. 10, n. 2, maio-agosto de 2021
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UM TREINO DE ASSERTIVIDADE NA TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: UM ESTUDO DE CASO
terapeuta deve psicoeducar o paciente sobre a habilidade da cognitivo comportamental em uma paciente com sintomas
assertividade e a importância da mesma nas suas relações en- ansiosos.
fatizando que o comportamento assertivo traz um novo con-
ceito de si mesmo, do comportamento e dos pensamentos. Del METODOLOGIA
Prette e Del Prette (2009) afirmam que é importante ensinar o
paciente a relaxar e a determinar sua ansiedade nas situações Delineamento do Estudo
problemáticas para que possa experimentar melhores atuações
sociais e adquirir novas habilidades. O delineamento metodológico do presente trabalho refe-
Também é fundamental no treino de assertividade ajudar re-se a um estudo de caso advindo do atendimento de uma
o paciente a identificar as diferentes respostas (passiva, agres- paciente atendida sob enfoque da abordagem cognitivo com-
siva e assertiva) a fim de que perceba que o comportamento portamental na modalidade individual.
assertivo é o mais adequado e que proporciona a expressão Foram respeitados os cuidados éticos envolvendo pesqui-
mais adequada. Podem-se mencionar algumas atividades que sas com seres humanos e o participante assinou duas vias do
fazem parte do treino de assertividade e são comuns à terapia termo de consentimento livre e esclarecido.
cognitiva comportamental: a) os ensaios comportamentais,
quando tom de voz, postura e conteúdo da fala são pratica- Instrumentos utilizados
dos juntamente com o terapeuta em sessão; b) as tarefas de
casas relacionadas aos conteúdos treinados quando o paciente Foram utilizadas as seguintes escalas para mensuração se-
registra níveis de ansiedade, desempenho em situações pro- manal do humor da paciente: Inventário Beck de Depressão
blemas, novas habilidades adquiridas entre outros registros (BDI), Inventário Beck de Ansiedade (BAI) e Escala Beck de
que ajudem o novo comportamento; e c) o reforço que é dado Desesperança (BHS), as quais na época de utilização no estudo
ao paciente ao longo da sessão além de encorajado para que encontravam-se válidas e disponíveis para sua utilização se-
o paciente possa se reforçar através de expressões faciais ou gundo o site do Satepsy (2017).
até mesmo aplausos quando consegue atingir o objetivo de ser A Psicoeducação foi uma importante intervenção para
assertivo (RODRIGUES; FOLQUITTO, 2008, DEL PRETTE; que houvesse para adesão ao processo terapêutico, foi utiliza-
DEL PRETTE, 2006). da quanto a aderência a medicação, quanto a importância do
Estudos mostram que o treino de assertividade ajuda o pa- preenchimento de escalas, quanto ao modelo cognitivo, ques-
ciente a modificar sua estratégia compensatória manifestada tionamento de pensamentos distorcidos e crenças, modelo do
pelo comportamento passivo ou agressivo por uma estratégia luto. Foram realizadas psicoeducação sobre o modelo cogniti-
mais funcional manifestada pelo comportamento assertivo. vo, habilidades sociais, pensamentos, crenças e ansiedade.
Tal modificação contribui para a flexibilização de suas crenças Identificação e registro de situações ansiosas, para que o
disfuncionais e a melhora do humor, mostrando-se uma inter- paciente conseguisse identificar suas sensações em momentos
venção importante na terapia cognitiva comportamental (DEL de ansiedade e usasse estratégias de enfrentamento, como res-
PRETTE; DEL PRETTE, 2009). piração diafragmática, relaxamento progressivo e questiona-
Murta (2005) cita que o treino de habilidades sociais é uma mento de pensamento.
das intervenções que pode ser vista como prevenção de nível Foi realizado o treino de assertividade com o propósito de
primário, com pais e filhos, secundário, em clínicas e escolas desenvolver a habilidade de se relacionar socialmente e ex-
e terciário com pacientes com deficiência mental, autismo e pressar o que está dentro de si. O treinamento foi desenvolvido
outros transtornos do desenvolvimento. Utilizaram-se instru- em etapas envolvendo identificação das áreas com prejuízos
mentos verbais para avaliação, concluindo que no o treino de através da lista de dificuldades e metas, a psicoeducação dos
habilidades sociais é importante nos relacionamentos e comu- comportamentos (assertivo, passivo e agressivo), tarefas de
nicação da população, visando à implantação do treinamento casa, reforço pessoal do comportamento e ensaios compor-
nos níveis descritos como importante intervenção. tamentais. Role-Play durante as sessões foram feitos a fim de
Diante da importância observada do treino de assertivi- identificar o padrão do comportamento que na maioria das
dade como intervenção na terapia cognitiva comportamental, vezes era passivo.
o presente artigo tem como objetivo descrever a aplicação de Outras intervenções feitas no processo terapêutico foram:
um treinamento de assertividade sob enfoque da psicoterapia os questionamentos de crenças, vantagens e desvantagens e
custo e benefício de manter e modificar a crença. Foram tra-
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balhadas na fase intermediaria do tratamento, visando flexi- bém obteve ganhos na comunicação respeitando a opinião do
bilização das crenças negativa que o paciente apresentava, as seu namorado, mas sem deixar de expressar e de compartilhar
intervenções foram feitas de acordo com que acreditava, tra- seus próprios pensamentos e emoções. Em consequência da
balhando novas crenças enfatizando as vantagens e benefícios redução de seu comportamento passivo houve diminuição das
de mantê-las. discussões tanto no ambiente familiar como no namoro.
Os resultados alcançados com o presente estudo vão ao
RESULTADOS E DISCUSSÃO encontro da literatura da área que mostra que pacientes que
possuem comportamentos agressivos ou passivos são benefi-
Foram realizadas ao todo 17 sessões de psicotera- ciados após o treinamento de assertividade, visto que o treino
pia cognitivo-comportamental na modalidade individual. propicia o surgimento de novas habilidades, podendo contri-
Semanalmente, foram aplicados, no início de todas as sessões, buir para que o paciente desenvolva autonomia e melhor qua-
os inventários de Beck para depressão (BDI), ansiedade (BAI) lidade de vida (MULULO et al., 2009).
e a escala de desesperança (BHS) a fim de realizar uma medi- Segundo Bolsoni-Silva (2002), o treino de assertividade
ção objetiva do humor da paciente. Foi possível perceber como mostra-se uma intervenção muito importante, pois o déficit
resultados que após o treino de assertividade, juntamente com na assertividade implica em dois tipos de comportamentos: o
outras intervenções comportamentais e cognitivas, houve a di- passivo e o agressivo, que frequentemente prejudicam o indi-
minuição dos escores de ansiedade, bem como dos sintomas víduo e suas relações. Como resultados da ausência de asser-
de depressão e desesperança que a paciente apresentara, con- tividade, a literatura destaca a presença de: incapacidade para
forme Figura 1. resolução de problemas, dificuldade de comunicação e de ex-
As sensações físicas de ansiedade e depressão se reduziram por opiniões, sentimento de inferioridade, ansiedade exagera-
e logo a paciente passou a não se preocupar tanto com a reação da, incapacidade de tomar decisões claras, aumento do stress,
das pessoas, desenvolvendo recursos para identificar situações diminuição do relacionamento social à frente do comporta-
que gerassem ansiedade e fizesse com que seu comportamento mento inadequado a determinadas situações (CAMINHA;
fosse passivo/agressivo, conseguindo elaborar estratégias para KNAPP, 2004).
resolver problemas. O presente estudo mostrou que através do treino assertivo,
O ponto chave no tratamento do presente caso foram as questionamentos de crenças e vantagens e desvantagens, veri-
intervenções realizadas nas habilidades sociais da paciente. ficou a redução da ansiedade e flexibilização de pensamentos e
Uma descrição detalhada de como foi realizado esse treino de crenças, o paciente identificou o comportamento passivo e de-
habilidades e dos resultados obtidos pode ser vista na Tabela 1. senvolveu estratégias para controle da ansiedade e habilidades
A paciente também conseguiu ser mais assertiva nas re- para expressão de pensamentos e emoções de forma adequada.
lações familiares expressando de forma adequada seus senti- Um estudo muito interessante de Elias et al. (2007) mos-
mentos, vontades e expectativas. Na sua relação afetiva tam- traram também que através de um estudo de caso com uma
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paciente de 22 anos com queixa de crise de comunicação no melhora no repertório de habilidades sociais, além de um au-
casamento, obteve uma grande melhora após o treinamento mento da sua autoconfiança.
de habilidades sociais. O resultado de intervenções como o Tais resultados em conjunto corroboram evidências de que
registro de pensamentos e comportamentos, relaxamentos, re- o treino assertivo individual se mostrou eficiente na melhora
estruturação cognitiva, resolução de problemas e o treino de do repertório de habilidades da paciente e contribuiu para re-
assertividade teve como objetivo auxiliar no controle da an- dução dos sintomas de ansiedade.
siedade. As intervenções se mostraram eficazes uma vez que
modificaram o comportamento da paciente que adquiriu ha- CONSIDERAÇÕES FINAIS
bilidades de comunicação e de assertividade trazendo melhora
nos seus relacionamentos interpessoais. Os resultados foram O presente estudo mostrou que 17 sessões de psicoterapia
confirmados através dos registros da paciente e pela verbali- individual na abordagem cognitivo comportamental conjunta-
zação da mesma. mente a aplicação de técnicas, principalmente, do treinamento
Por fim, Donadon, Correia, Nunes e Nicoletti (2016) tam- de assertividade, foi possível obter grandes ganhos. Entende-se
bém apresentaram, por meio de um estudo de caso, resultados que o treino assertivo é uma intervenção importante dentro da
interessantes após a aplicação de um treinamento de habili- terapia cognitiva e pode ajudar o paciente a adquirir ou apri-
dades sociais em uma paciente com sintomas depressivos. As morar a habilidades já existentes, além de contribuir para a
autoras observaram uma diminuição do humor depressivo e modificação de pensamentos, crenças sobre si mesmo e com-
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portamentos disfuncionais, fazendo com que o paciente tenha Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 36, n. 6, p. 221-228, 2009.
uma vida mais saudável.
Como limites do presente estudo entende-se que por se MURTA, S. G. Aplicações do treinamento em habilidades sociais:
tratar da descrição de apenas um caso, é possível que os mes- análise da produção nacional. Psicologia: Reflexão e crítica, v. 18,
mos resultados não sejam generalizados em outros contextos, n. 2, p. 283-291, 2005.
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