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RESUMO
ABSTRACT
Rev. Científica Eletrônica Estácio, Ribeirão Preto, v 14, n.14, p.266-281, jan/jun. 2020.
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1. INTRODUÇÃO
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2. HISTÓRIA DO CASO
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com provas e fatos ele sempre negava, algumas vezes confessou e culpou a paciente,
dizia que tentaria mudar, mas que a mudança maior deveria partir dela “ele me culpa de
tudo e diz que eu tenho que mudar, eu faço de tudo para ele e a relação, levo café da
manhã na cama e ele nem me agradece”.
CT é filha mais velha e tem um irmão 3 anos mais novo. Seu pai é falecido, tem
boa relação com a mãe, porém a considera uma pessoa “bem difícil”, reclama de tudo, é
compulsiva e vive se endividando. A mãe mora em uma casa que é da paciente e o carro
também é de propriedade dela. A paciente relata que a relação ficou mais difícil quando
na sua adolescência, seus pais mudaram de cidade e deixaram ela e o irmão morando
juntos em Bauru. Após esse período foi fazer intercâmbio na Austrália, acredita que
esses fatores tenham afastado um pouco da mãe apesar de terrem uma boa relação. Já
com o irmão a relação é bem melhor, entretanto, após o casamento dele se afastaram um
pouco.
A empresa fica no mesmo local onde C. T. reside, por esse motivo acaba saindo
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pouco de casa, apenas para trabalhos externos e fazer comprar, relata ter pouco contato
com os amigos, situação que era bem diferente antes do casamento. Não sai para eventos
sociais e deixou de fazer treino funcional que fazia antes.
CT apresentava rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da
atividade. Alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse,
diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral à fadiga importante,
mesmo após um esforço mínimo. Dificuldades com sono e aumento do apetite, comendo
compulsivamente em alguns momentos e apresentava ganho de peso.
Diminuição da autoestima, autoconfiança e sentimento de culpa. Foi observado
também, sintomas ansiosos, consciente, orientada, desatenta, pensamento e falar
coerente, organizado e chorava bastante.
Foi observado, que a paciente apresentava, sintomas de depressão e ansiedade,
de acordo com o DSM V. Sendo eles: dores de cabeça, taquicardia, dificuldades com
sono, aumento de peso, choro constante, dificuldades de atenção e concentração, perda
de prazer no trabalho e atividades rotineiras, como lazer e atividade física.
Sempre que seu marido saía a paciente apresentava pensamentos como: “deve estar
me traindo de novo”, “deve estar com outra mulher” e “preciso checar o cartão pra ver
se ele passou em algum lugar suspeito”. Quando quem saía de casa era a paciente e o
marido ficava em casa, além de ficar olhando constantemente na câmera de vigilância da
casa pra ver o que o marido estava fazendo ou se recebeu alguém, começava ruminar
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“por que preciso passar por isso”, “sou fraca”, “sou idiota” e “não consigo sair disso”
Em relação ao comportamento do seu marido de questionar muito as coisas que a
paciente fazia, controlar o que ela comia, sua prática de atividade física, a organização
no trabalho e até as críticas que ele fazia em relação a ela, os pensamentos eram: “eu
não sei me impor”, “não posso comer o que quero”, “ele é mais inteligente do que eu”,
“sou uma fraca com ele e não sei me impor”, “faço tudo errado”, “preciso mudar”, “ele
não se importa comigo” e “não aguento mais isso”.
Quando a paciente via o marido conversando com alguém em aplicativos de
relacionamento ou nas festas em que faziam cobertura fotográfica, surgiam pensamentos
como: “sou idiota”, “estou fazendo papel de palhaça”, “todo mundo deve estar rindo de
mim”, “ele não me respeita”, “não aguento mais isso” e “preciso sair disso”.
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D. Hipótese de trabalho
Quando C. T. estava com 16 anos, sua mãe foi transferida de cidade a trabalho e
deixou a mesma com irmão três anos mais novo, momento em que passaram diversas
dificuldades.
Na escola sempre se sentia diferente das outras meninas, feia e tímida, porém
conseguia lidar com a situação de uma maneira relativamente tranquila, pois tinha um
círculo social bastante amplo. Fez intercambio fora do país e relata que ao final do
intercambio começou a sentir algo diferente, "um sentimento de vazio", que se repetiu ao
terminar o ensino médio, em estágios, trabalhos e faculdade.
Aos 26 anos começou a namorar o atual marido e em menos de 1 ano, já estavam
trabalhando e morando juntos, com isso C. T. foi deixando de ter vida social, saindo de
casa cada vez menos e passava a maior parte do tempo trabalhando (o escritório fica na
própria casa) e com o marido.
Com dois anos de relacionamento a paciente relata que pegou a primeira traição
e a partir de então, apareceram as crenças nucleares de desemparo e desamor. Se sentia
“incapaz e “incompetente”, posteriormente descobriu outras traições, o que contribuiu
para o desenvolvimento dos ciclos de manutenção de hipervigilância e de ruminação,
sempre que o marido ficava em casa sozinha, C. T. ficava olhando pelas câmeras da casa,
tentava olhar o celular dele para ver se existia conversar nos aplicativos e forte ruminação
como: "ele está me traindo", "ele está me fazendo de boba", "as pessoas estão rindo de
mim', “estou fazendo papel de palhaça” e "ele vai largar de mim".
Com o tempo relata ter sentindo-se cada vez mais deprimida, sem energia,
desmotivada, ganhou peso e desenvolveu outros ciclos de manutenção: redução de
atividades e fuga/esquiva quanto mais ruminava, menos tinha vontade de fazer
atividades, recusava convites, marcava com os amigos e desmarcava.
Com medo do fim do relacionamento C. T. foi aceitando fazer coisas que não
gostava, pois acreditava que se fizesse o que o marido pedia ele melhoraria sua atenção
e carinho com ela e com isso ficariam bem, a mesma aceitou a fazer sexo com outro
homem e o marido e até a fazer sexo na webcam, instalou-se um ciclo de passividade.
O marido passou a cobrar cada vez mais que ela fizesse atividade física, se
dedicasse mais em relação a alimentação e que trabalhasse mais, porém a mesma já
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trabalhava cerca de 12 a 14 horas por dia, isso foi aumentando cada vez mais o
sentimento de culpa de C. T., mas ela se esforçou e cada vez que não conseguia se
deprimia ainda mais.
Com base em todo o funcionamento cognitivo da paciente a hipótese foi em
primeiro momento, realizar uma ativação comportamental, para que aumentasse o nível
de atividades e melhorasse seu humor.
Na sequência, realizar um quadro de atividades para organizar melhor sua
agenda, registar e questionar pensamentos automáticos disfuncionais, para a
reestruturação cognitiva e depois intervir nas crenças de desamor e desamparo.
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2.7 Intervenções/Procedimentos
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2.8 Obstáculos
3. RESULTADOS
C.
4
0
3
5
3
0
2
5
2
AI 1a 1b 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27
BD BA BH
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4. DISCUSSÃO
A ativação comportamental, foi de fundamental importância para que a paciente
entendesse que a mudança de comportamentos poderia impactar na mudança de humor
e na resolução de quadros depressivos e também para diminuir o comportamento de
fuga/esquiva e melhorar o ciclo de manutenção de redução de atividades
gradativamente. A aplicação de um processo de ativação comportamental, pode variar
desde a utilização de protocolos e estruturas específicas para cada sessão terapêutica
(LEJUEZ et al., 2011), à protocolos que fornecem uma estrutura flexível para as sessões
de acordo com a demanda de cada cliente, sempre mantendo o foco na análise de
contingências e na ativação de comportamentos (MARTELL; ADDIS; JACOBSON,
2001).
O processo da ativação comportamental é eficaz para o tratamento da depressão
e validado experimentalmente. porém, apesar da eficácia, é importante considerá-lo
como uma possibilidade de intervenção, e não apenas como a única alternativa. Em
casos de depressão moderada e grave, por exemplo, os pacientes podem ser beneficiados
de um tratamento psiquiátrico paralelamente ao tratamento psicológico, pois o processo
de psicoterapia pode demandar tempo, o que seria perigoso considerando que alguns
casos têm risco de suicídio, e também pelo fato de que a depressão pode ser decorrente
de alterações biológicas (WIELENSKA, 2014).
Quando iniciado a identificação e questionamento dos pensamentos automáticos
disfuncionais da paciente em questão, o humor melhorou, ela passou a questioná-los e
entender melhor o comportamento disfuncional que ocorria e compreender o que ainda
há mantinha naquela relação. Além de questionar os pensamentos automáticos
disfuncionais, existia um problema para ser resolvido: de que forma a paciente
conseguiria se sustentar após o do relacionamento, respondendo melhor as distorções
presentes nesse momento, a mesma conseguiu pensar em estratégias de resolução do
problema.
O modelo cognitivo em questão pressupõe que o pensamento disfuncional é
comum em todos os transtornos psicológicos. Quando as pessoas aprendem a avaliar seu
pensamento de forma mais realista e adaptativa, elas obtêm uma melhora em seu estado
emocional e em seu comportamento (BECK, 2013).
A TCC foca em dois pilares de intervenção: a reestruturação cognitiva e a
resolução de problemas. Prioritariamente, foca em uma conceituação cognitiva, na qual
os sintomas estão relacionados a um estilo negativo de pensamento em três domínios: si
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mesmo, mundo e futuro (tríade cognitiva) (BECK, 2013). A proposta de Beck era
reestruturar uma terapia com as metas de reversão das cognições disfuncionais e dos
comportamentos relacionados (WRIGHT et al, 2008). No primeiro pilar, a
reestruturação cognitiva, objetiva-se a primeira meta, observando-se que o pensamento
disfuncional ativo a emoção disfuncional exagerada, que resulta no comportamento
disfuncional. Reestruturando esses pensamentos, não haveria o resultado de emoções e
comportamentos disfuncionais. No entanto, para viabilizar uma sólida reestruturação
cognitiva, é necessário desenvolver habilidades as quaiso indivíduo possa apresentá-las
inicialmente reduzidas.
Durante o processo terapêutico, a meta de diminuir os sintomas ansiosos e
depressivos foi alcançada, isso ocorreu com a redução das ativações das crenças.
Estratégias para quebrar os ciclos de manutenção e flexibilização das crenças
disfuncionais de desamor e desamparo. Como no caso em questão as distorções eram
fundamentais para compreender o que mantinha o problema, as distorções identificadas
foram: abstração seletiva, catrastrofização, leitura mental, filtro mental, rotulação e
personalização.
5. CONCLUSÃO
O caso apresentado ilustra a eficácia da TCC no tratamento de pacientes que
sofrem de dependência afetiva, pois através de suas técnicas é possível trabalhar a
resolução de problemas como por exemplo, ajudar o paciente identificar e pensar
estratégias para solucionar questões que ocorrerão durante e após a separação, como por
exemplo direitos e divisão de bens.
A TCC ainda intervém nas crenças que o indivíduo tem acerca da tríade
cognitiva: eu, outro e futuro; essas ativadas causam mal-estar e comportamentos
disfuncionais perante a separação. Com o trabalho de restruturação cognitiva, é possível
ajudar os pacientes a compreender de forma racional o problema da dependência afetiva,
bem como o que o mantém e as distorções sobre orompimento da relação. Auxilia
também numa nova possibilidade de reorganizar a vida.
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REFERÊNCIAS
CASTELLÓ, Jorge. Análisis del concepto dependencia emocional. Recuperado el, 2000, 25.
COWAN, Connell; KINDER, Melvyn. Las mujeres que los hombres aman, las mujeres que los
hombres abandonan. Vergara, 1991.
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