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Psicoterapia Cognitivo

Comportamental
DEANNE DE FREITAS OLIVEIRA
Terapia Comportamental

Foram nos anos 50 e 60 que motivados por uma crescente insatisfação com a corrente
psicodinâmica formou-se o núcleo de um novo enfoque terapêutico:

Terapia Comportamental

 psicologia experimental;
 condicionamento clássico ou respondente;
 condicionamento operante;
 princípios teóricos da aprendizagem;
 disciplinas da psicologia clínica.
Terapia Comportamental

 Pesquisadores clínicos começaram a aplicar as idéias de Pavlov, Skinner e outros behavioristas


experimentais (Rachman, 1997).

 Joseph Wolpe (1958) e Hans Eysenck (1966) foram pioneiros na exploração do potencial das
intervenções comportamentais, como a dessensibilização (contato gradual com objetos em situações
temidas) e treinamento de relaxamento.

 Muitas das abordagens iniciais ao uso dos princípios comportamentais para a psicoterapia prestavam
pouca atenção aos processos cognitivos envolvidos nos transtornos psiquiátricos.

 Pelo contrário, o foco era moldar o comportamento mensurável com reforçadores e em eliminar as
respostas de medo através da exposição.
Terapia Comportamental

 Diferentes denominações: Terapia Analítico-Comportamental, Terapia


por Contingências de Reforçamento, a Terapia Molar e de
Autoconhecimento e a Psicoterapia Comportamental Pragmática.

 Todas estas práticas são fundamentadas na Análise do Comportamento e


utilizam a análise de contingências como ferramenta de análise e
intervenção, buscando compreender o indivíduo como um todo.
Variáveis Cognitivas

 Em meados dos anos 60 a importância das variáveis cognitivas já tinha se


tornado mais reconhecida pela psicologia comportamental.

 O trabalho de Albert Bandura, psicólogo canadense (1970), sobre a


aprendizagem observacional (modelação) foi importante por chamar a atenção
para os fatores cognitivos na terapia comportamental.

 Nessa abordagem um indivíduo aprende ao observar o comportamento de outra


pessoa; o comportamento é aprendido com mais eficácia se o observador o
praticar posteriormente, embora isso não constitua uma condição necessária
ALBERT BANDURA – (1925) Canadense, Psicólogo,
professor emérito na Stanford University
Modelo de Auto-Regulação –
de Auto-Eficácia

 Bandura desenvolveu um modelo de auto-regulação chamado de auto-eficácia,


baseado na idéia de que toda a mudança de comportamento voluntária era
medida pelas percepções que os indivíduos tinham de sua capacidade de adotar o
comportamento em questão.

 Meichenbaum (1977) e Lewinsohn e cols (1985) incorporaram as teorias e


estratégias cognitivas nos tratamentos.

 Observaram que a perspectiva cognitiva acrescentava contexto, profundidade e


entendimento às intervenções comportamentais.
1960 - unificação das formulações cognitivas e comportamentais na
psicoterapia
Beck defendeu a inclusão de métodos comportamentais desde o início de seu
trabalho.

Reconhecia essas ferramentas como eficazes para reduzir sintomas.

Conceitualizou um relacionamento estreito entre cognição e comportamento.

Alguns puristas argumentam os méritos de se utilizar uma abordagem cognitiva ou


comportamental isolada.

Terapeutas mais pragmáticos consideram os métodos cognitivos e


comportamentais como parceiros eficientes tanto na teoria como na prática. Ex.
literatura: tratamento do Pânico
COGNITIVISMO

O termo cognição inclui idéias, construtos pessoais, imagens, crenças, expectativas,


atribuições, etc.

Não é apenas um processo intelectual mas sim padrões complexos de significado


em que participam emoções, pensamentos e comportamentos
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO

 A Terapia Cognitiva tem origem em correntes filosóficas e


religiões antigas (estoicismo grego, taoísmo e budismo) que
postulavam a influência das ideias sobre as emoções .
“Se pudermos reorientar nossos pensamentos e emoções e reorganizar nosso
comportamento, então poderemos não só aprender a lidar com o sofrimento mais
facilmente, mas, sobretudo e em primeiro lugar, evitar que muito dele surja”

Livro: Uma ética para o novo milênio (p.xii)


Dalai Lama
 “Não são as coisas que nos perturbam, mas a visão que temos dessas coisas”
( Epictetos I d.C)
Aaron Beck

 Primeiros estudos com pacientes deprimidos, ainda em base


psicanalítica. Explicação insuficiente, passando a observar
pensamentos rápidos, de qualificação sobre si mesmos.

 Pensamentos estão intimamente ligados as emoções.

 Ensaio clínico controlado conduzido em 1977 mostra que a TCC é


tão eficaz quanto o antidepressivo
 As primeiras formulações de Beck centravam-se no papel do processamento de informações
desadaptativo em transtornos de depressão e de ansiedade  Ideia do pensamento
disfuncional alterando humor e comportamento.

 A proposta de Beck de uma terapia cognitivamente orientada com o objetivo de reverter


cognições disfuncionais e comportamentos relacionados foi tema de várias pesquisas.
(Butler e Beck, 2000; Dobson, 1989; Wright et ai., 2003)

 Conceitualização da depressão: quando as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento, de


forma realista e adaptativa, elas obtêm melhora de seu estado de humor e comportamento.
 As teorias e os métodos descritos por Beck e outros colaboradores ampliaram-se a uma grande variedade de quadros
clínicos:
 Depressão
 Transtornos de ansiedade
 Transtornos alimentares
 Esquizofrenia
 Transtorno bipolar
 Dor crônica
 Transtornos de personalidade
 Abuso de substâncias.

Mais de 300 estudos controlados da TCC para uma série de transtornos psiquiátricos
(Butler e Beck, 2000).
“As idéias não só podiam controlar os sentimentos
mais intensos de uma pessoa, como também eram
capazes de modificá-los”
Beck e cols (1982)

AARON TEMKIN BECK


(1921) – Professor emérito

do Depto. De Psiquiatria da
Universidade da Pensilvania - EUA
PRINCÍPIOS DA TERAPIA COGNITIVA

1 - Baseia-se em uma formulação em contínuo desenvolvimento do paciente e de seus problemas em termos


cognitivos.

Identificar pensamentos, sentimentos e comportamentos; fatores precipitantes e levantamento de hipóteses e padrões de


comportamentos.
    
2 - Requer uma aliança terapêutica segura.
Ingredientes básicos em situação de acolhimento: empatia, afeto, atenção, interesse genuíno e competência.

3- Enfatiza colaboração e participação ativa


Terapia construída com o paciente: inicialmente, o terapeuta é mais ativo. A medida em que a terapia avança, o terapeuta
encoraja o paciente a ser mais ativo na sessão.

4- Orientada em metas e focalizada em problemas


Estabelecer objetivos específicos compartilhados.

5 - Enfatiza o presente inicialmente


Foco intenso nos problemas atuais. A atenção se volta para o passado quando: preferência do paciente ou quando a
PRINCÍPIOS DA TERAPIA COGNITIVA

-
6 É educativa - ensina o paciente a ser seu próprio terapeuta, tem como objetivo ensinar o paciente a
ser seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção de recaída.

7- Visa ter um tempo limitado (mas não é uma regra)

8- As sessões de TCC são estruturadas.

Independente do diagnóstico ou estágio, seguir uma determinada estrutura maximiza a eficiência e a eficácia.

9- Ensina o paciente a identificar, avaliar e responder a seus pensamentos e crenças disfuncionais

10- Utiliza-se de uma variedade de técnicas para mudar pensamento, humor e comportamento
TERAPIA COGNITIVA DA DEPRESSÃO
AARON BECK

TRÍADE COGNITIVA
VISÃO DE SI
 
 
EXPERIÊNCIAS FUTURO
 
É a forma como o indivíduo vê a si mesmo, o mundo e o seu futuro.
Na depressão, pela visão essencialmente negativa, geram-se sentimentos de desvalia,
autoacusação ou derrota.
E o sentimento e o comportamento estão de acordo com a sua percepção distorcida.
CONCEITOS BÁSICOS DA TERAPIA
COMPORTAMENTAL COGNITIVA
 

O indivíduo interage com o mundo externo e constrói


significados que alicerçam seus sistemas de crenças
 
indivíduo significado meio

crenças emoções
 
comportamento
ESQUEMATIZAÇÃO DO MODELO DE BECK
EVENTOS EXTERNOS
 
 

ESQUEMAS (estrutura)
 
 

CRENÇAS
 
 
COGNIÇÃO SENTIMENTOS
COMPORTAMENTO
(pensamento automático)
BASES METODOLÓGICAS E CONCEITUAÇÃO
COGNITIVA

A terapia cognitiva baseia-se no modelo cognitivo, que


levanta a hipótese de que as emoções e os comportamentos
das pessoas são influenciados por sua percepção dos
eventos.

Não é a situação por si só que determina o que as pessoas


sentem, mas sim, o modo como elas interpretam essa
situação.
Exemplos: a leitura de um livro; a apreciação de um filme; a
avaliação de uma aula. Cada indivíduo tem uma resposta
emocional diferente para cada uma dessas situações com
base.
no que está passando por suas cabeças naquele momento.
Portanto o modo como as pessoas se sentem está associado
ao modo como elas interpretam e pensam sobre uma
situação.
Entendendo os problemas

PENSAMENTO

ESTADOS DE HUMOR
REAÇÕES FÍSICAS

COMPORTAMENTO
AMBIENTE
Desenvolvimento do terapeuta

 Apesar do modelo cognitivo ser “simples”, cabe ao terapeuta:

 Desenvolvimento de rapport
 Coleta de dados
 Identificação de problemas
 Psicoeducação
 Levantamento de hipóteses
 Teste de hipóteses
 Resumos periódicos
Pensamentos Automáticos Disfuncionais

 São um fluxo de pensamentos que coexistem com um fluxo de pensamentos mais


manifestos, surgem espontaneamente e não são embasados em reflexão ou
deliberação.

 Parecem surgir espontaneamente, mas estão ligados ao nosso sistema de crenças


centrais e subjacentes.

 São quase sempre negativos, a menos que o paciente seja maníaco ou hipomaníaco,
tenha um transtorno de personalidade narcisístico ou seja um viciado em drogas.

 São usualmente breves e o paciente com frequência está mais ciente da emoção que
sente em decorrência do pensamento do que do pensamento em si.
Pensamentos Automáticos Disfuncionais

 Ajudam a definir os estados de humor que experimentamos

 Influenciam o comportamento: o que escolhemos ou não fazer e a qualidade do nosso


desempenho.

 Pensamentos e Crenças afetam respostas biológicas.

 São influenciados pelas crenças que adquire-se na infância e no meio cultural.

 Enquanto as mudanças no pensamento são, na maioria das vezes, fundamentais, muitos


problemas também exigem mudanças no comportamento, no funcionamento físico e no meio.

 A TCC ajuda a examinar todas as informações disponíveis; não é simplesmente pensamento


positivo
É importante identificar os estados de humor
Emoções

 As emoções são de importância primária para o terapeuta cognitivo.


Afinal uma meta importante da terapia é o alívio de sintomas, uma
redução no nível de aflição do paciente quando ele modifica o pensamento
disfuncional.

 A emoção negativa intensa é dolorosa e pode ser disfuncional quando


interfere com a capacidade do paciente de pensar claramente, resolver
problemas, agir efetivamente ou obter satisfação.

 Os pacientes com um transtorno psicológico, freqüentemente


experimentam uma intensidade de emoção que é excessiva ou
inapropriada à situação.

 Podem sentir-se cansados e não reconhecerem que estão deprimidos, ou


sentirem-se nervosos e não reconhecerem a ansiedade. Junto com a
depressão e a ansiedade, a raiva, a vergonha e a culpa são estados de
humor problemáticos comuns a muitas pessoas.
Emoções
 Uma forma de observação das emoções são as mudanças na tensão do
corpo. Ombros caídos podem indicar medo ou tensão; corpo pesado pode
indicar depressão ou frustração.

 Conseguir notar 3 estados de humor durante o mesmo dia.Ou usar lista


com estados de humor.

 Muitos pacientes não entendem claramente a diferença entre o que eles


estão pensando e o que estão sentindo emocionalmente.
 O terapeuta tenta obter o sentido da experiência do paciente e partilha seu
entendimento com o paciente, tentando explicar-lhe a diferença entre um
material racional (verbal ou pictórico) e um material emocional (aflitivo
ou não).
 Ao fazer essa distinção o paciente pode perceber exatamente qual
pensamento o deixa triste, ansioso, com raiva ou constrangido
Um caso

 Paulo, no início da terapia, relatou que não sentia vontade de estar com sua família
e amigos tanto quanto costumava sentir. Contou que preferiria ficar sozinho.

 Quando começou a analisar de perto as situações nas quais queria se isolar


descobriu que com frequência, estava pensando “Eles não querem estar comigo” e
“Se for lá,não vou me divertir”, ele reconheceu que seu humor era triste. Durante a
terapia aprendeu a relação entre pensamentos e estados de humor e a diferenciá-
los

 Era importante para Paulo diferenciar entre fatores situacionais (ambiente),


pensamentos e estados de humor.(Com quem?O que?Quando?Onde?)

 Os estados de humor são expressos por uma única palavra.

 Os pensamentos são as frases ou imagens visuais, incluindo as lembranças que


passam pela cabeça.
Quantificando as emoções

É importante para o paciente identificar suas emoções e


quantificar o grau de emoção que está experimentando.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Alguns pacientes tem a crença que se sentirem uma pequena


quantidade de aflição, isso aumentará e se tornará intolerável.
Aprender a classificar a intensidade das emoções auxiliará o paciente
a testar essa crença
PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS

Erros Cognitivos

Wright, Beck,Knapp
)

Abstração seletiva
(filtro mental)

Conclusão depois de examinar apenas uma pequena porção das informações disponíveis. Os dados
importantes são descartados ou ignorados, a fim de confirmar a visão tendenciosa que a pessoa tem
da situação.

Um homem deprimido com baixa auto-estima não recebe um cartão de boas-festas de um velho
amigo.

Ele pensa: "Estou perdendo todos os meus amigos; ninguém se importa mais comigo". Ele ignora
as evidências de que recebeu cartões de vários outros amigos, que seu velho amigo tem lhe enviado
cartões todos os anos nos últimos 15 anos, que seu amigo esteve muito ocupado no ano passado
com uma mudança e um novo emprego e que ele ainda tem bons relacionamentos com outros
amigos.
Inferência arbitrária
Conclusão a partir de evidências contraditórias ou na ausência de evidências.

Uma mulher com medo de elevador é solicitada a prever as chances de um elevador


cair com ela dentro. Ela responde que as chances são de 10% ou mais de o elevador
cair até o chão e ela se machucar. Muitas pessoas tentaram convencê-la de que as
chances de um acidente catastrófico com um elevador são desprezíveis.
Supergeneralização
Conclusão sobre um acontecimento isolado é estendida de
maneira ilógica a outras áreas do funcionamento.

Um universitário deprimido tira nota B em uma prova. Ele


considera insatisfatório e supergeneraliza com pensamentos
automáticos:

"Estou com problemas nessa aula; estou ficando para trás


em todas as áreas da minha vida; não consigo fazer nada
direito".
Maximizacão e Minimização

A importância de um atributo, evento ou sensação é exagerada ou


minimizada.

Uma mulher com transtorno de pânico começa a sentir tonturas durante o


início de um ataque de pânico. Ela pensa: "Vou desmaiar; posso ter um
ataque cardíaco ou um derrame".

“Eu tenho um ótimo emprego, mas todo mundo tem”.


“Obter notas boas não quer dizer que sou inteligente, os outros obtêm notas
melhores do que as minhas.”
Personalização

Assume-se responsabilidade excessiva ou culpa por eventos negativos.

Houve um revés econômico e um negócio anteriormente de sucesso passa


por dificuldades para cumprir o orçamento anual. Pensa-se em fazer
demissões. Uma série de fatores levaram à crise no orçamento, mas um dos
gerentes pensa:

"É tudo culpa minha; eu deveria saber que isso iria acontecer e ter feito
alguma coisa; falhei com todos na empresa".
Pensamento absolutista
(dicotômico ou do tipo tudo-ou-nada)

Os julgamentos sobre si mesmo, as experiências pessoais ou com os outros são separados em duas
categorias ( totalmente mau ou totalmente bom, fracasso total ou sucesso, cheio de defeitos ou
completamente perfeito)

Paulo, um homem com depressão, compara-se com Roberto, um amigo que parece ter um bom
casamento e cujos filhos estão indo bem na escola. Embora o amigo seja muito feliz em sua casa,
sua vida está longe do ideal. Roberto tem problemas no trabalho, restrições financeiras e dores
físicas, entre outras dificuldades. Paulo está se envolvendo em pensamento absolutista quando diz
para si mesmo:

"Tudo vai bem para Roberto; para mim nada vai bem".
Catastrofização

Pensar que o pior de uma situação vai ocorrer, sem levar em consideração
outros desfechos. Acreditar que esse acontecimento será terrível e
insuportável.

“Perder o emprego será o fim da minha carreira”

“Não suportarei a separação da minha mulher”

“Se eu perder o controle será o meu fim”


Raciocínio Emocional

 Presumir que sentimentos são fatos. “Sinto, logo existe”. Pensar que algo é verdadeiro porque
tem um sentimento (na verdade um pensamento) muito forte a respeito. Deixar os sentimentos
guiarem a interpretação da realidade. Presumir que as reações emocionais refletem a situação
verdadeira.

 “Eu sinto que minha mulher não gosta mais de mim.”

 “Sinto que meus colegas riem às minhas costas”.

 “Sinto que estou tendo um enfarto, então deve ser verdadeiro.”

 “Sinto-me desesperado, então a situação deve ser desesperadora.”


Advinhação

Prever o futuro. Antecipar problemas que talvez não venham a ocorrer. Expectativas
negativas estabelecidas como fatos.

“Não irei gostar da viagem.”

“Ela não aprovará meu trabalho.”

“Dará tudo errado.”


Leitura Mental

Presumir, sem evidências, que sabe o que os outros estão pensando, desconsiderando outras
hipóteses possíveis.

“Ela não está gostando da minha conversa.”

“Ele está me achando inoportuna.”

“Ele não gostou do meu projeto.”


Rotulação

 Colocar um rótulo global, rígido em si mesmo, numa pessoa ou situação, em vez de


rotular a situação ou o comportamento específico.

 “Sou incompetente.”

 “Ele é uma pessoa má.”

 “Ela é burra.”
Desqualificando o positivo

 “O sucesso obtido naquela tarefa não importa, porque foi fácil.”

 “Isso é o que esposas devem fazer, portanto, ela ser legal comigo não conta.”

 “Eles só estão elogiando meu trabalho porque estão com pena.”


Imperativos
“deveria” e “tenho que”

Interpretar eventos em termos de como as coisas deveriam ser, em vez de simplesmente considerar as coisas
como são. Afirmações absolutistas na tentativa de prover motivação ou modificar um comportamento.
Demandas feitas a si mesmo, aos outros e ao mundo para evitar as consequências do não cumprimento
dessas demandas.

“Eu tenho que ter controle sobre todas as coisas.”

“Eu devo ser perfeito em tudo que faço.”

“Eu não deveria ter ficado incomodado com meu amigo.”


Vitimização

Considerar-se injustiçado ou não entendido. A fonte dos


sentimentos negativos é algo ou alguém, havendo recusa ou
dificuldade de se responsabilizar pelos próprios sentimentos e
comportamentos.

“Minha esposa não entende meus sentimentos.”

“Faço tudo pelos meus filhos e eles não me agradecem.”


Questionalização
(E se?)

 Focar o evento naquilo que poderia ter sido e não foi. Culpar-se pelas
escolhas do passado e questionar-se por escolhas futuras.

 “Se eu tivesse aceitado o outro emprego, estaria melhor agora.”

 “E se o novo emprego não der certo?”

 “Se eu não tivesse viajado, isso não teria acontecido.”


De onde os pensamentos automáticos surgem?

O que faz uma pessoa interpretar uma situação


diferentemente de uma outra pessoa?

Por que a mesma pessoa pode interpretar um evento


idêntico de forma diferente em um momento e em outro?
Esses pensamentos estão relacionados com as
CRENÇAS
As crenças mais centrais são entendimentos tão
fundamentais e profundos que as pessoas freqüentemente
não os articulam, sequer para si mesmas.

Essas idéias são consideradas pela pessoa como verdades


absolutas.

As crenças centrais são o nível mais fundamental de


pensamento.

São globais, rígidas e supergeneralizadas


Crenças Centrais
 Idéias e conceitos fundamentais sobre nós mesmos, os outros e o mundo

 Incondicionais

 Formadas desde a infância e se fortalecem com o tempo

 Suas mudanças proporcionarão os melhores resultados na terapia no que se refere


ao tratamento da psicopatologia em questão.
Agrupamento das Crenças Centrais
Judith Beck(1995)

 Desamparo: impotente, frágil, vulnerável, carente, desamparado,


necessitado

 Desamor: indesejável, incapaz de ser gostado, de ser amado, sem


atrativos, imperfeito, rejeitado, abandonado, sozinho

 Desvalor: incapaz, incompetente, inadequado, ineficiente, falho,


defeituoso, enganador, fracassado, sem valor
 Crenças nucleares sobre os outros:
As pessoas são más, desleais, traiçoeiras, só querem se
aproveitar, tirar vantagens, etc.

 Crenças nucleares sobre o mundo:


O mundo é injusto, ameaçador, perigoso, etc.

As crenças nucleares ou centrais são mais abstratas e


gerais, constituindo um nível mais profundo de
representação dos pensamentos.
Crenças Centrais

 Ativam-se durante os transtornos emocionais


 O processo de informação torna-se tendencioso, extraindo da realidade os aspectos que
confirmam a crença disfuncional. (viés confirmatório)
 Passado o problema emocional ela volta a ser latente.

 Nos traços e transtornos de personalidade os indivíduos tem suas crenças disfuncionais


ativadas na maior parte do tempo
Esquemas

Conceito de crença e esquema geralmente são indistintos.

 Esquemas são estruturas internas de relativa durabilidade que armazenam aspectos


genéricos ou protótipos de estímulos, idéias ou experiências, e também organizam
informações novas para que tenham significado, determinando como os fenômenos são
percebidos e conceitualizados
Esquemas são estruturas cognitivas com conteúdos
(crenças)

 Estruturas mentais que contêm armazenadas as representações de


significados.

 São fundamentais para orientar a seleção, codificação, organização,


armazenamento e recuperação de informações de dentro do aparato
cognitivo.

 Tem uma estrutura interna consistente que ordena novas informações que
entram no sistema cognitivo.
(Williams, 1997)
O esquema
(Clark, Beck, Alford, 1999)

Dá à experiência sua forma e significado, provendo, dessa forma, a


estabilidade (estrutura) dos sistemas cognitivo, afetivo e comportamental
ao longo do tempo e dos eventos.

São padrões ordenadores da experiência que ajudam os indivíduos a


explicá-la, mediar sua percepção e guiar suas respostas (cognitivas,
emocionais e comportamentais).

A “arquitetura” dos esquemas faz o indivíduo ser como é


CRENÇAS INTERMEDIÁRIAS OU SUBJACENTES, PRESSUPOSTOS
CONDICIONAIS

As crenças centrais influenciam o desenvolvimento das crenças


intermediárias.  

compostas por
regras (eu devo...tenho que):
atitudes (é preciso que...):
suposições (se eu...)

Essas crenças pressupõe que uma vez cumpridas as regras, normas e atitudes não
haverá problema, o indivíduo se mantém relativamente estável e produtivo. No
entanto, se, por alguma circunstância, os pressupostos não estão sendo cumpridos,
o indivíduo torna-se vulnerável ao transtorno emocional quando a crença
negativa é ativada

   
Estratégias de Enfrentamento

Comportamentos que a pessoa usa na tentativa de lidar com a crença.

Tem correlação direta com as regras e os pressupostos disfuncionais que


acabam por reforçar ainda mais as crenças.

Os pressupostos condicionais modelam a relação entre as estratégias


comportamentais e as crenças nucleares.
Exemplo:
Indivíduo Fóbico Social

Sou incapaz de ser amado (CRENÇA CENTRAL)

É perigoso interagir com as pessoas, pois elas não vão


gostar de mim. (ATITUDE)

     Para não ter problemas, não devo interagir com as


pessoas (REGRA)

Se eu me engajar em minha estratégia compensatória,


estarei bem; se não, minha crença central ficará
evidente. Devo me afastar, caso contrário me
machucarão. (SUPOSIÇÃO)

Não vou ter assunto pra conversar na festa.


(PENSAMENTO AUTOMÁTICO)
Terapia

Cognitiva
Metodologicamente, a trajetória da terapia cognitiva, envolve uma
ênfase inicial sobre os pensamentos automáticos, ou seja as cognições
mais próximas à percepção consciente.

O terapeuta ensina o paciente a identificar, avaliar e modificar seus


pensamentos, a fim de produzir alívio de sintomas.

Então, as crenças que estão por trás dos pensamentos disfuncionais e


constantes em muitas situações tornam-se o foco do tratamento.

Crenças relevantes de nível intermediário e crenças centrais são


avaliadas de vários modos e subseqüentemente modificadas para que as
conclusões dos pacientes sobre os eventos e as percepções dos eventos
mudem.

A modificação profunda de crenças mais fundamentais torna os


pacientes menos propensos a apresentar recaída no futuro.
Crença Central
 
 

Crença Intermediária
 
 

Situação
 
 

Pensamento Automático
 
 

Reações: emocional
comportamental
fisiológica
Conceitualização (Conceituação)

Cognitiva
Quando pensamentos em conceituar um caso, estamos nos perguntando qual a melhor forma de utilizar nosso
treinamento e experiência juntamente às abordagens de terapia baseadas em evidências para ajudar questões
particulares desta pessoa?!

Definimos conceitualização de caso em TCC da seguinte forma:

Conceitualização de caso é um processo em que terapeuta e cliente trabalham em colaboração para


primeiro descrever e depois explicar os problemas que o cliente apresenta na terapia. A sua função
primária é guiar a terapia de modo a aliviar o sofrimento do cliente e a desenvolver a sua resiliência.

Logo, cabe ao terapeuta, atentar para três perguntas:

Como eu posso descrever o problema do meu paciente?


Como posso entende-lo em termos cognitivo-comportamentais?
Como posso ajudar meu paciente a encontrar formas de enfrentar, resolver ou tornar-se resiliente.
 O processo de conceitualização de caso é assim, na medida
em que ele combina as dificuldades e as experiências que o
cliente apresenta com a teoria e a pesquisa da TCC para
formarem um novo entendimento, que é original e único
daquele cliente.
 A teoria e a pesquisa em TCC são ingredientes essenciais no
caldeirão; é a integração do conhecimento empírico que
diferencia a conceitualização de caso dos processos naturais
de obtenção de significado das experiências em que as pessoas
se envolvem a todo o momento.
 A colaboração ajuda a assegurar que os ingredientes certos
sejam misturados de forma adequada. Estas hipóteses são
testadas e depois revisadas com base em observações e no
feedback do cliente.
 A conceitualização se desenvolve ao longo do tempo,
desenvolve uma explicação histórica das queixas.
 Incorporação dos pontos fortes aumenta as chances de
enfretamento e desenvolvimento de resiliência.
Funções da conceitualização

1. A conceitualização de caso sintetiza a experiência do cliente, a teoria e a pesquisa pertinentes


em TCC. Integra as experiências do cliente em conjunto com a teoria.
2. A conceitualização de caso normaliza os problemas apresentados pelos clientes e é validante.
Desperta esperança, auxilia o paciente a enxergar relevância do modelo cognitivo e oferece
oportunidade de mudança.
3. A conceitualização de caso promove o engajamento do cliente. Facilita a compreensão do
caso e domínio da terapia.
4. A conceitualização de caso pode fazer com que inúmeros problemas complexos pareçam
mais possíveis de serem manejados pelos clientes e terapeutas. “Todas as partes do quebra-
cabeça se encaixam!”
5. A conceitualização de caso orienta a escolha, o foco e a sequência das intervenções.
Funções da conceitualização

6. A conceitualização de caso pode identificar os pontos fortes e sugerir formas de ajudar


a desenvolver a resiliência do cliente.
7. A conceitualização de caso frequentemente sugere as intervenções com maior relação
custo-benefício.
8. A conceitualização de caso antecipa e aborda os problemas na terapia. Toda a
conceitualização possibilita que o terapeuta formule hipóteses sobre problemas que
provavelmente surgirão na terapia.
9. A conceitualização de caso nos ajuda a compreender a não resposta à terapia e sugere
rotas alternativas para a mudança.
10. A conceitualização de caso possibilita supervisão e consulta de alta qualidade.
As perguntas básicas que o terapeuta faz a si mesmo são:

 Como esse paciente veio parar • É essencial para o terapeuta aprender a conceituar as
aqui? dificuldades do paciente em termos cognitivos, a fim de
determinar como proceder na terapia:
 Que vulnerabilidades e eventos de . quando trabalhar sobre uma meta específica
vida (traumas, experiências,
interações) foram importantes? . pensamento automático

. crença ou comportamento
 Como o paciente enfrentou sua
vulnerabilidade?
. que técnicas escolher e
 Quais são seus pensamentos . como melhorar o relacionamento terapêutico
automáticos e de que crenças eles
brotaram?
É importante para o terapeuta colocar-se no lugar do
paciente para desenvolver empatia pelo que o paciente
está passando, entender como ele está se sentindo e
perceber o mundo através dos seus olhos.

Dessa maneira, de acordo com a sua história e conjunto


de crenças, suas percepções, pensamentos, emoções e
comportamentos deveriam fazer sentido.
Uma conceituação cognitiva fornece a estrutura para o
entendimento de um paciente pelo terapeuta, que faz a si mesmo as
seguintes perguntas:

 Qual é o diagnóstico do paciente?

 Quais são seus problemas atuais, como esses problemas se desenvolveram e


como eles são mantidos?

 Que pensamentos e crenças disfuncionais estão associados aos problemas?

 Quais reações (emocionais, fisiológicas e comportamentais) estão associadas


ao seu pensamento?
Então o terapeuta levanta hipóteses sobre como o
paciente desenvolveu essa desordem psicológica
particular, fazendo a si mesmo as seguintes perguntas:

Que aprendizagens e experiências antigas (e talvez


predisposições genéticas) contribuem para seus problemas
hoje?

Quais são suas crenças subjacentes (incluindo atitudes,


expectativas e regras) e pensamentos?

Como ele enfrentou suas crenças disfuncionais?


Que mecanismos cognitivos, afetivos e comportamentais, positivos e
negativos, ele desenvolveu para enfrentar suas crenças
disfuncionais?

Como ele via (e vê) a si mesmo, aos outros, seu mundo pessoal, seu
futuro?

Que estressores contribuíram para seus problemas psicológicos ou


interferiram em sua habilidade para resolver esses problemas?

Dessa maneira o terapeuta começa a construir uma conceituação


cognitiva durante seu primeiro contato com um paciente e
continua a refinar sua conceituação até a última sessão.
Exercício Prático

 Desenhe 3 colunas em uma folha de papel e escreva em cada uma delas


“situação”
“pensamento automático”
“emoções”

 Relembre uma situação recente ou uma lembrança ou evento que lhe


trouxe emoções como ansiedade, tristeza, raiva, tensão física ou alegria

 Tente se colocar na situação


Quais foram os pensamentos automáticos que passaram por sua cabeça?

 Escreva-os na folha, juntamente com as emoções e a situação

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