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Contextualização teórica

Nessa aula falaremos sobre os três grandes eixos da psicopatologia e como esses
grandes eixos derivam das teorias da Psicologia. Além disso, faremos uma breve
introdução para você entender um pouco como a TCC se insere dentro da
Psicologia e porque ela é uma teoria baseada em evidências.

Primeiramente, é necessário entender que existem três grandes eixos teóricos


que nortearão todas as principais teorias da Psicologia: a psicopatologia
fenomenológica, a psicopatologia psicodinâmica e a psicopatologia ateórica.

● Psicopatologia fenomenológica

Da psicopatologia fenomenológica derivam as teorias humanistas e


fenomenológicas, abordagens que possuem um menor enquadramento, nosologias
e classificações dos transtornos mentais. Nesse viés, o ser humano é compreendido
de uma forma holística, mais ampla e sistêmica. Por se tratar de uma abordagem
humanística, afasta-se da relação causa e efeito entre situações, eventos e
transtornos mentais. Sendo assim, a psicopatologia fenomenológica seria uma
vertente sem classificações (DALGALARRONDO, 2019).

● Psicopatologia psicodinâmica

A psicopatologia psicodinâmica é o segundo principal eixo da Psicologia e dela


derivam-se a psicanálise e a terapia Junguiana. Segundo a psicopatologia
psicodinâmica, as causas para os transtornos mentais estariam no passado do
indivíduo, na sua história de vida, nos seus vínculos parentais e traumas
(DALGALARRONDO, 2019).

● Psicopatologia ateórica

No terceiro eixo, encontra-se a psicopatologia ateórica da qual derivam as teorias


comportamental e cognitivo-comportamental. É nesse contexto que se encontra a

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Teoria Cognitivo-comportamental (TCC). A psicopatologia ateórica baseia-se em um


método de classificação pautado na nosologia e entende que a causa de todos os
transtornos mentais é de origem multifatorial, possuindo influência genética,
biológica, ambiental, familiar e personalidade. Para a psicopatologia ateórica a união
de inúmeros fatores junto a um ambiente desfavorável pode desencadear um
transtorno mental (DALGALARRONDO, 2019).

APRESENTAÇÃO DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

A TCC é uma terapia estruturada, focada no presente e que não estabelece


uma relação de causalidade entre situações do passado e eventos atuais. A
TCC defende que os eventos do passado podem influenciar na atualidade e que os
fatores se comunicam de maneira correlacionada, mas não de maneira
determinadamente causal (BECK, 2021). Ela é orientada por metas e objetivos de
tratamento e suas intervenções acontecem através da descoberta guiada, na
qual o terapeuta guia o paciente no processo de descoberta e autoconhecimento.
Dessa forma, a TCC utiliza técnicas comportamentais e cognitivas e cada uma delas
possui um objetivo e aplicabilidade específica. É importante ressaltar, no entanto,
que as técnicas precisam ser aplicadas dentro de um contexto de formulação de
caso específica e individual para cada paciente, já que a TCC não é uma mera
aplicação de técnicas (WRIGHT et al., 2019, p.31).

E antes de seguirmos falando sobre a TCC, é importante voltar para um momento


anterior a ela a fim de entender porque e como a TCC chegou onde chegou. A
Psicologia comportamental, que antecede a TCC, tem como primeiro teórico
behaviorista Pavlov, responsável por um experimento realizado com um cachorro
que consistia, no condicionamento do estímulo de tocar uma sineta com a resposta
de salivação (FELDMAN, 2015). Posteriormente, Watson foi responsável por elevar
a Psicologia ao status de ciência e ficou conhecido por definir como objeto de
estudo o comportamento observável e mensurável. Sua teoria tem como premissa a
relação entre estímulo e resposta (ARDILA, 2013).

Em seguida, Skinner aprimorou a teoria anterior e trouxe o indivíduo entre o


estímulo e a resposta, defendendo a subjetividade de cada sujeito ao afirmar que

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além do estímulo e da resposta há uma pessoa singular, compreendendo que nem


sempre o mesmo estímulo vai resultar na mesma resposta, já que pessoas
diferentes reagem de maneiras diferentes aos estímulos, graças aos seus eventos
privados que seriam, de acordo com ele, o pensamento e a forma como o indivíduo
se sente, não pertencentes à seara do comportamento. E é nesse ponto que se
encontra a principal diferença entre a Psicologia comportamental e a Terapia
Cognitivo-Comportamental (SKINNER, 1953).

ORIGEM DA TCC

A TCC foi criada por Aaron Beck, nascido na Filadélfia, Estados Unidos. Beck
iniciou o seu trabalho associado ao Albert Ellis, que foi um grande colaborador no
início da construção da TCC. Beck se inspirou em diversos conceitos das teorias
psicológicas, bem como a teoria comportamental, a teoria humanista, a abordagem
centrada na pessoa, a Gestalt-terapia e o Psicodrama. Com a evolução dos estudos
da Psicologia foi possível conceber a Teoria Cognitivo-comportamental como
uma abordagem contemporânea, que fornece uma nova visão sobre o
comportamento (BECK, 2021).

Na década de 70, Beck atendia os pacientes como psiquiatra e psicanalista e


começou a perceber que os seus pacientes deprimidos apresentavam um certo
modo de pensar que se repetia, bem como uma falta de esperança e rigidez em
relação aos eventos do futuro. Ao perceber esse padrão de pensamento, o principal
objetivo de Beck era construir uma teoria que pudesse reestruturar o pensamento
rígido, trazendo flexibilidade para esses pensamentos (BECK, 1964).

Por esse modo, a TCC se apresenta como o tratamento psicológico com mais
evidências científicas, consolidada a partir de um método estruturado a ser aplicado
no paciente. É possível fazer a checagem do humor, o estabelecimento de metas
terapêuticas, dentre outras técnicas que seguem um escopo para o atendimento
clínico. Além disso, a TCC utiliza o método científico para a produção de
ensaios clínicos randomizados e estudos comparativos que demonstram a
eficácia da psicoterapia em TCC, aplicada individualmente e de maneira
combinada com a terapia medicamentosa. A TCC é uma teoria fortemente

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embasada em evidências científicas, o que oferece maior segurança para o


profissional na condução do tratamento e para o paciente ao ter maiores chances de
sucesso (NEUFELD; RANGÉ, 2017).

Como visto anteriormente, os pacientes deprimidos foram o ponto de partida para


Aaron Beck criar a Terapia Cognitivo-comportamental. Ele acreditava, assim como o
Epíteto (1991, p. 14) que: “Os homens não são perturbados por coisas, mas sim
pela opinião que têm delas.” Sendo assim, a TCC defende que o que importa não
é a situação, e sim como a interpretamos (pensamentos automáticos) (BECK,
2021).

CONCEITOS IMPORTANTES E PRINCÍPIOS DA TCC

No processo de construção da teoria, Aaron Beck levantou duas hipóteses que


envolvem os pensamentos. A primeira diz que: “Um portador de um transtorno
mental tem uma tendência aumentada para distorcer eventos e uma rigidez
cognitiva, ou seja, ele resiste em reconhecer interpretações alternativas.” A
partir dessa hipótese, o intuito do autor foi criar uma teoria capaz de oferecer uma
flexibilização cognitiva (BECK et al., 1979). E é dessa ideia de flexibilidade cognitiva
que o Steven Hayes estruturou a ACT - Terapia da aceitação e compromisso.

A segunda hipótese é que "as cognições têm primazia sobre as emoções e


comportamentos” (BECK, 1976). Essa é uma das principais diferenças entre a
Teoria Cognitivo-Comportamental e a Teoria Comportamental. Enquanto a Teoria
Comportamental entende que é modificando o comportamento que as alterações
significativas acontecem, a TCC defende que existem duas vias de modificação:
intervindo no pensamento e no comportamento (BECK, 2021).

Aaron Beck postulou inicialmente em seus estudos que primeiro há a cognição,


depois a emoção e por fim o comportamento, todavia, isso não é rigidamente
causal. Com isso, a TCC é estruturada a partir de uma tríade que inclui
pensamento, emoção e comportamento. Por exemplo, no Transtorno Obsessivo
Compulsivo é possível observar a correlação entre os pensamentos obsessivos, as
emoções e o comportamento. O que ocorre nesse caso é um ciclo nutrido

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mutuamente, composto pelo pensamento automático, que gera uma emoção


disfuncional e que, consequentemente, gera um comportamento desadaptativo.

Dentre os principais conceitos da TCC, é essencial compreender os três conceitos


básicos, de acordo com Beck (2021): os pensamentos automáticos, as crenças
intermediárias e as crenças nucleares ou crenças centrais. Os pensamentos
automáticos são aqueles que surgem sem que seja possível controlar. Crenças
intermediárias podem ser consideradas pressupostos, como regras rígidas e
sempre se apresentam através de um nexo causal “se… então…”. Seu papel é
mediar os pensamentos automáticos e crenças nucleares. As crenças
nucleares, por sua vez, se manifestam de maneira arbitrária em forma de “sou…” e
segundo Judith Beck, se subdividem em três categorias: desamor, desvalor e
desamparo.

A TCC é caracterizada pela influência da cognição sob a causa e manutenção dos


transtornos psiquiátricos e não por suas técnicas (WRIGHT et al., 2019). A TCC
pressupõe que a conceitualização é um modelo cognitivo de compreensão dos
transtornos e condições psicológicas do paciente. O tratamento, portanto, deve
ser baseado nessa conceitualização (BECK, 2021).

Os dez princípios básicos que caracterizam os métodos conceituais na Teoria


Cognitivo-Comportamental de acordo com Beck (2021) são:

1. A TCC se orienta no conhecimento empírico da Psicologia científica baseada em


evidências;

2. A TCC é uma terapia orientada para o momento presente;

3. A TCC se baseia na análise dos fatores de vulnerabilidades, fatores


desencadeadores e mantenedores dos transtornos mentais;

4. Por se orientar no problema, a TCC também é orientada para um objetivo


definido, uma meta;

5. A TCC é voltada para ação e não apenas para a tomada de consciência;

6. A TCC não se restringe ao setting terapêutico, mas se estende à vida diária do


indivíduo, através do plano de ação, por exemplo;

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7. A TCC é transparente quanto aos seus objetivos e seus meios. Tudo é


compartilhado com os pacientes;

8. A TCC procura ser uma ajuda para que o paciente possa se ajudar;

9. A TCC se esforça para estar em constante desenvolvimento;

10. A TCC tem como principal objetivo transformar o paciente no seu próprio
terapeuta.

REFERÊNCIAS

ARDILA, R. J. B.Watson, a psicologia experimental e o condutismo 100 anos depois.


Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro , v. 13, n. 1, p. 312-319, abr. 2013.
Disponível em: https://bityli.com/tERNMRYI. Acesso em: 04 out. 2022.

BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 3 ed. Porto


Alegre: Artmed, 2021.

BECK, A. T. et al. Cognitive therapy of depression. New York: Guilford, 1979.

BECK, A. T. Cognitive therapy and the emotional disorders. New York:


International Universities Press, 1976.

BECK, A. T. Thinking and depression: II. Theory and therapy. Archives of General
Psychiatry, v. 10, n. 6. p. 561-571, 1964.

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.


Artmed. Porto Alegre, 2019.

Epictetus: Enchiridion. Translated by George Long. Amherst, NY, Prometheus


Books, 1991.

FELDMAN, Robert S. Introdução à Psicologia. 10 ed. Porto Alegre: McGraw Hill,


2015.

KARWOWSKI, S. L. Por um entendimento do que se chama psicopatologia


fenomenológica. Rev. abordagem gestalt., Goiânia , v. 21, n. 1, p. 62-73, jun. 2015.
Disponível em: https://bityli.com/FMfrkYix. Acesso em: 04 out. 2022.

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NEUFELD, C. B.; RANGÉ, B. P. Terapia Cognitivo-Comportamental em Grupos:


das evidências à prática. Porto Alegre: Artmed, 2017.

SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. 5 ed. São Paulo, Martins


Fontes, 1953.

WRIGHT, J. H. Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: um guia


ilustrado. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.

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