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Tzu, Sun. A arte da guerra, Atlântico Press, 2014. ProQuest Ebook Central, http://ebookcentral.proquest.com/lib/unicamp-ebooks/detail.action?docID=3236329.
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A ARTE DA GUERRA
Sun Tzu

Tradução, introdução e notas de Luís Serrão


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INTRODUÇÃO
O conjunto de textos atribuído tradicionalmente a Sun Tzu, sob o título A
Arte da Guerra, constitui um dos mais antigos tratados de estratégia militar
que chegou até aos nossos dias. O seu objectivo é esclarecer qual a natureza
da guerra e apontar os meios susceptíveis de conduzir à vitória. No entanto,
para entender a natureza desta obra nascida da ancestral civilização chinesa,
torna-se necessário situá-la no plano histórico e circunscrever os factores
mais importantes que condicionam os seus princípios. Acontece que A Arte
da Guerra, de Sun Tzu (ou, segundo o título chinês original romanizado,
Sunzi bingfa), permanece um mistério tanto no que respeita à identidade do
autor como à data de redacção. Quanto a Sun Tzu (ou Sunzi), há notícia de
que seria natural do reino de Qi e que teria posto os seus conhecimentos
militares ao serviço de Helu, rei de Wu. Estas informações, que constam dos
Registos Históricos (Shiji), de Sima Quian, caso sejam aceites como
fidedignas, levam a concluir que Sun Tzu viveu por volta do ano 500 a. C.,
ou seja, nos finais do Período da Primavera e do Outono, que se prolongou
aproximadamente entre 771 e 481 a. C. A veracidade destes dados foi posta
em causa através de uma série de argumentos, entre os quais a ausência de
referências a Sun Tzu nas crónicas da época e a disparidade entre as teorias
elaboradas na sua obra e a realidade militar do século V a. C. Chegou
mesmo a colocar-se a hipótese de o texto ser da autoria de um descendente
de Sun Tzu, chamado Sun Pin, estratego ilustre do século IV a. C. e autor de
um tratado que se encontrava desaparecido. Esta hipótese ruiu quando uma
descoberta arqueológica feita em 1972 revelou a existência de duas obras
diferentes. Em Yinqueshan, na província de Shandong, foi encontrada num
túmulo da dinastia Han uma colecção de obras militares escritas sobre ripas
de bambu que incluía uma versão do texto de Sun Tzu e o manuscrito da
obra perdida de Sun Bin. Este achado conduziu a uma reavaliação completa
de A Arte da Guerra e da sua eventual data de composição. Apesar de todas
as controvérsias, é provável que o texto que nos chegou como sendo de Sun
Tzu date do Período dos Reinos Combatentes (403-221 a. C.), mais
precisamente da segunda metade do século IV a. C., constituindo o resultado
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de uma acumulação de experiências e teorias militares que foram


cristalizando ao longo dos tempos sob a forma de um tratado de estratégia.
Na verdade, a obra reflecte as preocupações e as práticas militares do
referido Período dos Reinos Combatentes, época em que a China não existia
ainda como estado unificado. O território encontrava-se dividido em vários
estados que lutavam renhidamente não só pela supremacia, mas igualmente
pela própria sobrevivência. Em consequência de guerras prolongadas, os
estados mais poderosos acabaram por aniquilar ou dominar os mais fracos,
restando então sete reinos principais: Qi, Chu, Yan, Han, Zhao, Wei e Qin.
Este último viria a constituir a base da posterior unificação da China pelo
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imperador Qin Shi Huang, em 221 a. C., facto que determinou o fim do
Período dos Reinos Combatentes.

A obra de Sun Tzu enquadra-se nas circunstâncias históricas dessa época


marcada pela guerra generalizada entre reinos. Entre alianças feitas e
desfeitas, lealdades e traições, batalhas sangrentas e manobras estratégicas,
a própria natureza da guerra se alterou, passando os exércitos a ser mais
numerosos, as campanhas mais prolongadas, os custos de manutenção das
tropas mais elevados e os militares mais profissionais. Ao contrário dos
confrontos localizados e de curta duração conhecidos em períodos
anteriores, instalou-se um conflito bélico permanente que ameaçou a
existência dos próprios reinos envolvidos e exigiu que estes dispusessem de
exércitos eficazes e bem comandados. Não é de estranhar que as palavras
iniciais de Sun Tzu se refiram à guerra como «um assunto de suprema
importância para o Estado», sublinhando que se trata de «uma questão de
vida ou morte, o caminho para a sobrevivência ou para a ruína». Tendo em
conta essa época de inusitada turbulência, A Arte da Guerra apresenta
soluções práticas, enraizadas na realidade concreta e destinadas a enfrentar
com êxito as circunstâncias difíceis então prevalecentes. Estamos perante
uma obra de estratégia militar cujos fundamentos se encontram tanto na
experiência prática dos senhores da guerra como nos ensinamentos mais
antigos da sabedoria chinesa. Sun Tzu foi decerto um mestre consumado na
arte da guerra, tendo deixado, nos treze capítulos do seu tratado, a síntese
dos conhecimentos adquiridos e transmitidos nas cortes dos príncipes e nos
campos de batalha. As suas reflexões, porém, abrangem não só assuntos
militares, mas igualmente o âmbito mais vasto dos conflitos inerentes à
existência humana.

Neste sentido, a guerra assume um significado amplo, pois inclui as mais


variadas espécies de conflito, luta, combate, implicando, além disso, o
domínio dos meios necessários para dominar um adversário ou atingir um
objectivo. Daí a actualidade da presente obra, que merece uma reflexão
atenta de quem procura caminhos estratégicos para o êxito nas mais diversas
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actividades do mundo contemporâneo.

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CAPÍTULO I
ESTIMATIVAS
Sun Tzu disse:

A guerra é um assunto de suprema importância para o Estado. É uma questão


de vida ou morte, o caminho para a sobrevivência ou para a ruína. Daí que
seja imprescindível o seu estudo exaustivo.
Por isso, há que considerar cinco factores básicos e comparar as várias
condições das partes antagonistas para determinar os resultados de uma
guerra. Estes factores são os seguintes: primeiro, a virtude; segundo, o
clima; terceiro, o terreno; quarto, o comandante; e quinto, o método.

A virtude é aquilo que leva o povo a estar em harmonia com o seu


governante, seguindo este sem cuidar da própria vida e sem medo de perigo
algum.
O clima significa noite e dia, frio e calor, o ciclo das estações.
O terreno refere-se às distâncias, à facilidade ou dificuldade de atravessar
territórios, quer em campo aberto ou fechado, e influencia as probabilidades
de vida ou morte.
O comandante corresponde às qualidades de sabedoria, sinceridade,
benevolência, coragem e rigor.

O método deve entender-se como a organização do exército, a hierarquia


militar, a manutenção das vias de abastecimento e a provisão de material de
combate.
Estes cinco factores básicos são conhecidos de todos os generais. Aqueles
que os dominam, alcançam a vitória. Aqueles que os negligenciam,
conhecem a derrota. Por conseguinte, ao fazer planos, é necessário comparar
os sete elementos seguintes, procedendo à sua avaliação com o maior
cuidado.

Que governante é mais sábio?


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Que comandante é mais talentoso?

Que exército retira mais vantagens da natureza e do terreno?

Que exército cumpre mais satisfatoriamente os regulamentos e as instruções?

Que tropas são mais fortes?

Que exército tem oficiais e soldados mais bem treinados?

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Que exército atribui recompensas e castigos de forma mais esclarecida?

Através destes sete elementos, serei capaz de prever qual dos lados sairá
vitorioso e qual será derrotado.

O general que presta atenção aos meus conselhos tem a garantia de vencer e
deve permanecer no comando. Aquele que ignora os meus conselhos sem
dúvida que conhecerá a derrota e deve ser afastado. Depois de escutar os
meus avisos, o general deve criar uma situação favorável à realização dos
planos. Avalia as condições no terreno e age de acordo com o que é
vantajoso.
A guerra é baseada na simulação. Quando se tem capacidade de atacar,
simular incapacidade. Quando as tropas estão em actividade, simular
inactividade. Quando perto do inimigo, simular que se está longe. Quando
longe, simular que se está perto.

Há que lançar engodos para aliciar o inimigo. Atacar o inimigo que se


encontra em desordem. Fazer preparativos contra o inimigo que está em
segurança. Evitar temporariamente o inimigo que é mais forte.
Se o oponente é de temperamento colérico, causar a sua irritação. Se é
arrogante, encorajar a sua altivez. Se as suas tropas estão bem organizadas,
procurar desgastá-las. Se estão unidas, lançar entre elas a dissensão. Atacar
o inimigo que não está preparado e avançar por onde ele menos espera.

Estas são as chaves da vitória militar. Não é possível formulá-las em


pormenor com antecipação. Ora, se estimativas feitas no templo antes da
batal ha indicam vitória, é porque cálculos meticulosos demonstram
condições favoráveis. Se indicam derrota, é porque cálculos meticulosos
demonstram condições desfavoráveis. Através de um maior número de
cálculos, é possível vencer. Através de um menor número, é impossível.
Como é mínima a probabilidade de vitória de quem não faz cálculos alguns!
Por estes meios, pode antever-se o desfecho de uma batalha.
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CAPÍTULO II
FAZER A GUERRA
Sun Tzu disse:

N a s operações bélicas, quando são necessários mil carros velozes, mil


c a r r o s pesados e mil soldados couraçados, e os mantimentos são
transportados ao longo de mil léguas, as despesas no país e na frente de
combate - incluindo o sustento de enviados e conselheiros, o custo de
materiais como cola e laca, os gastos com os carros e as armaduras -
atingirão mil peças de ouro por dia. Só é possível recrutar um exército de
cem mil homens quando este dinheiro está disponível.

Obter uma vitória rápida é o objectivo principal da guerra. Se a vitória


tarda em chegar, as armas desgastam-se e o ânimo decai. Se as tropas sitiam
as cidades, esgotam as suas forças. Se o exército empreende campanhas
prolongadas, os recursos do Estado tornam-se escassos.

Quando o armamento se desgasta e a fogosidade esmorece, quando a força


se esgota e o tesouro é dilapidado, os senhores dos reinos vizinhos
aproveitarão a crise para actuar. E nem o mais sábio dos homens poderá
evitar as consequências desastrosas de tal situação. Por isso, há notícia de
batalhas travadas com imprudente precipitação, mas não de campanhas
hábeis prolongadamente conduzidas. Porque uma guerra prolongada nunca
beneficiou um país. Assim, quem não compreende os males provenientes da
utilização de tropas também não compreende as possíveis vantagens de uma
operação bélica.
Quem é hábil na condução do exército não precisa de efectuar mais do que
um recrutamento de tropas nem de proceder a abastecimentos mais do que
duas vezes. Transporta equipamento militar do seu país, mas conta com o
inimigo para obter provisões. Desta maneira, o exército dispõe de alimentos
em quantidade suficiente.
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É possível que um país empobreça em consequência de operações militares,


pois há necessidade de transportar provisões ao longo de grandes
distâncias. Abastecer o exército em sítios longínquos deixa o povo mais
pobre.

Quando se reúnem tropas, os preços sobem. Quando os preços sobem, a


riqueza fica esgotada. Quando a riqueza fica esgotada, o povo é
sobrecarregado com pesados impostos. Perdida a riqueza e exauridas as
forças, os lares do país tornam-se extremamente pobres e sete décimos dos
seus bens são dissipados.
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Quando às despesas do governo, que se devem à destruição dos carros de
guerra, ao desgaste e substituição de cavalos, armaduras e elmos, arcos e
flechas, lanças e escudos, bois de tiro e carroças, atingem seis décimos dos
recursos totais. Assim, um general sagaz providencia os alimentos das suas
tropas à custa do inimigo, pois um alqueire das provisões do inimigo
equivale a vinte alqueires das nossas provisões, e um fardo da forragem do
inimigo equivale a vinte fardos da nossa forragem.

Para que os soldados massacrem o inimigo, é necessário despertar-lhes o


ódio. Para que capturem os despojos do inimigo, é necessário que recebam
as devidas recompensas.
Então, numa batalha com carros de guerra, quando são capturados mais de
dez carros, há que recompensar quem se apoderou do primeiro. Depois,
substituir as bandeiras e os estandartes do inimigo, misturar com os nossos
os carros tomados e utilizá-los na contenda. E tratar bem os prisioneiros de
guerra. A isto se chama «vencer o inimigo e aumentar a própria força».

Em suma, o mais importante na guerra é a vitória, não a acção prolongada. E


o general que sabe como utilizar as tropas é o guardião dos destinos do
povo e o responsável pela segurança do país.
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CAPÍTULO III
ESTRATÉGIA OFENSIVA
Sun Tzu disse:

Em geral, o melhor procedimento na guerra é conquistar um país intacto, em


vez de causar a sua ruína. Capturar todo o exército do inimigo é melhor do
que a sua destruição. Tomar intactos um regimento, uma companhia ou uma
esquadra é melhor do que o seu aniquilamento.

Porque alcançar uma centena de vitórias numa centena de batalhas não é a


excelência suprema. Submeter o inimigo sem combater é a excelência
suprema.

Por isso, o melhor procedimento na guerra é, em primeiro lugar, atacar a


estratégia do inimigo. Em segundo lugar, atacar as suas alianças. Em
terceiro lugar, atacar o seu exército. O pior procedimento é atacar cidades
fortificadas.

Apenas se ataca uma cidade fortificada quando não há alternativa, pois são
necessários pelo menos três meses para preparar grandes escudos e carros,
aprontar armas e equipamentos adequados, e mais três meses para erguer
rampas de terra contra as muralhas. O general, incapaz de conter a
impaciência, ordenará aos seus soldados que trepem pelas muralhas como
formigas, pelo que uma terça parte do exército será morta sem que se
conquiste a cidade. Tal é a calamidade que resulta do ataque a uma cidade
fortificada.

Assim, quem é hábil na guerra submete o exército inimigo sem combater.


Captura as cidades inimigas sem as assaltar e domina o país inimigo sem
operações prolongadas. Tem como objectivo conquistar intacto tudo o que
existe sob o céu. Em consequência, as suas tropas não sofrerão desgaste e as
suas vantagens serão completas. Este é o método da estratégia ofensiva.
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Em suma, a arte da utilização de tropas é a seguinte. Se dez vezes superiores


às do inimigo, cercá-lo. Se cinco vezes superiores, atacá-lo. Se perfizerem o
dobro, dividi-lo. Se em proporções iguais, combatê-lo através de um bom
plano.

S e numericamente inferiores, baterem retirada. Se em todos os aspectos


mais fracas, evitar o inimigo. Na verdade, um pequeno exército que combate
temerariamente é presa fácil de outro mais poderoso.

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O general é o baluarte do país. Se o baluarte é perfeito, o país é seguramente
forte. Se o baluarte é imperfeito, o país é seguramente fraco.

Ora, um soberano pode causar a desgraça do seu exército de três maneiras.

Quando, ignorando que o exército não deve avançar, ordena o avanço. Ou


quando, ignorando que não deve retirar, ordena a retirada. Isto é o que se
chama «embaraçar o exército».

Quando, ignorando os assuntos militares, interfere na sua administração. Isto


causa a perplexidade entre os oficiais.

Quando, ignorando os problemas do comando, interfere na orientação dos


combates. Isto suscita a desconfiança entre os oficiais.

Se o exército está confuso e pouco confiante, os soberanos de países


vizinhos tiram partido desse facto e causam maiores dificuldades. Por isso
se diz que «um exército em desordem conduz à vitória do inimigo».

Por conseguinte, há cinco factores através dos quais a vitória é previsível.

Aquele que sabe quando deve combater e quando deve evitar o confronto
será vitorioso.

Aquele que sabe utilizar tanto um pequeno número como um grande número
de homens será vitorioso.
Aquele cujas fileiras estão unidas num propósito comum será vitorioso.

Aquele que está bem preparado e espera um inimigo mal preparado será
vitorioso.

Aquele cujo general é competente e não sofre interferências do soberano


será vitorioso.
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É através destes cinco factores que se prevê a vitória.

Por isso, quem conhece o inimigo e se conhece a si mesmo em cem batalhas


nunca será derrotado. Quem não conhece o inimigo, mas se conhece a si
mesmo, terá iguais probabilidades de vitória e de derrota. Quem não
conhece o inimigo nem se conhece a si mesmo será derrotado em todas as
batalhas.

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CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES TÁCTICAS
Sun Tzu disse:

Os guerreiros hábeis dos tempos antigos tornavam-se primeiro invencíveis e


esperavam depois por um momento de vulnerabilidade do inimigo. A
invencibilidade depende da própria iniciativa, mas a vulnerabilidade do
inimigo só dele mesmo depende. Na verdade, aqueles que são hábeis na
guerra podem tornar-se invencíveis, mas não tornar o inimigo
inevitavelmente vulnerável. Por isso se diz: «É possível saber como vencer,
mas impossível garantir a vitória.»

Quando o inimigo é invulnerável, há que defender. Quando vulnerável, há


que atacar. Quando as forças são insuficientes, defender. Quando numerosas,
atacar.

Quem é hábil na defesa esconde-se nas profundezas da terra. Quem é hábil


no ataque move-se nas alturas do céu. Desta forma, é capaz de se proteger e
de alcançar uma vitória completa.
Prever uma vitória que todos são capazes de antecipar não é a excelência
suprema. Obter uma vitória que todos proclamam exímia não é a excelência
suprema. Porque erguer uma pena não demonstra grande força, distinguir
entre o Sol e a Lua não revela visão penetrante, ouvir o ribombar do trovão
não significa audição apurada.

N o s tempos antigos, aqueles que eram considerados hábeis na guerra


venciam um inimigo que era fácil de derrotar. As vitórias alcançadas não
lhes traziam fama pela sua sabedoria, nem mérito pela sua coragem. Porque
venciam sem cometer erros de cálculo. Sem equívocos, garantiam
necessariamente a vitória, triunfando sobre um inimigo já derrotado.

Em suma, o comandante hábil cria uma situação que o torna invencível e não
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desperdiça oportunidade alguma de vencer o inimigo. Um exército é


vitorioso se procura vencer antes de combater. Um exército é derrotado se
procura combater antes de vencer.
Aqueles que são hábeis na guerra cultivam princípios correctos e preservam
as leis. É deles que depende a vitória e a derrota.

Os factores que condicionam a arte da guerra são: primeiro, a medição das


superfícies; segundo, a avaliação das quantidades; terceiro, os cálculos;
quarto, as comparações; e, quinto, as probabilidades de vitória. As
superfícies derivam do território. As quantidades derivam das superfícies,

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os cálculos das quantidades, as comparações dos cálculos e a vitória das
comparações.

Um exército vitorioso é como um grão comparado a uma arroba, um exército


derrotado é como uma arroba comparada a um grão. Um general vitorioso
conduz os soldados à batalha como se libertasse uma queda de água num
abismo profundo. A sua força deve-se às disposições tácticas.
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CAPÍTULO V
A FORÇA DO EXÉRCITO
Sun Tzu disse:

Comandar muitos homens equivale a comandar poucos. É uma questão de os


dividir e organizar. Manobrar um grande exército equivale a manobrar um
pequeno. É uma questão de formações e sinais. Um exército consegue
enfrentar o inimigo sem derrota. É uma questão de usar forças regulares e
extraordinárias. As tropas esmagam o inimigo como uma pesada mó que cai
sobre um ovo. É uma questão de compreender o vazio e o cheio.

Em geral, na guerra, as forças regulares servem para combater. As


extraordinárias servem para alcançar a vitória. Ora, os recursos de quem
sabe usar forças extraordinárias são infinitos como o Céu e a Terra,
inesgotáveis como os rios e os mares. Desaparecem e reaparecem como o
Sol e a Lua. Morrem e renascem como as quatro estações.

Não há mais que cinco notas musicais, mas é impossível ouvir todas as suas
combinações. Não há mais que cinco cores, mas é impossível ver todos os
seus cambiantes. Não há mais que cinco sabores, mas é impossível saborear
todas as suas modificações. Em combate, não há mais que forças regulares e
extraordinárias, mas é impossível compreender todas as suas variações.
Porque estas duas forças se reproduzem mutuamente como num círculo sem
fim. Quem é capaz de abranger todas as suas possíveis modalidades?

A água torrencial arrasta enormes pedras em virtude da sua força. A ave de


rapina ataca e aniquila a presa em virtude da sua presteza. De igual modo,
quem é hábil na guerra revela força esmagadora e presteza no ataque. A sua
força é como a do arco completamente tenso. A sua presteza como o libertar
da flecha.

No tumulto e na agitação, o combate parece caótico, mas a desordem não se


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instala entre as fileiras. O campo de batalha parece mergulhado na confusão,


mas a formação das tropas mantém-se ordenada e torna impossível a
derrota.

A desordem provém da ordem. A cobardia provém da coragem. A fraqueza


provém da força. A ordem ou a desordem dependem da organização. A
coragem ou a cobardia dependem das circunstâncias. A força ou a fraqueza
dependem das disposições tácticas.

Quem é hábil em desalojar o inimigo cria uma situação com a qual este se

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conforma. Atrai o inimigo através de uma vantagem que este deseja.
Desaloja o inimigo através de um engodo para depois o atacar com tropas
emboscadas.

Assim sendo, um comandante hábil procura a vitória através das situações e


não a exige dos seus subordinados. Escolhe os homens adequados e explora
as situações. Aquele que tira partido das situações usa os seus homens em
combate como quem faz rolar toros e pedras. Pela sua própria natureza, os
toros e as pedras permanecem imóveis num terreno plano, mas tendem a
rolar numa encosta. Se quadrados, param; se redondos, rolam. Quem sabe
utilizar tropas em combate incute-lhes uma força comparável à de pedras
redondas lançadas de uma alta montanha. É esta a força do exército.
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CAPÍTULO VI
VAZIO E CHEIO
Sun Tzu disse:

Em geral, quem ocupa primeiro o campo de batalha e espera pelo inimigo


está descansado. Quem chega mais tarde e se precipita no combate está
fatigado. Aqueles que são hábeis na guerra conduzem ao campo de batalha o
inimigo e não se deixam por ele conduzir.

Para que o inimigo se aproxime de livre vontade, oferecem-lhe a


perspectiva de uma vantagem. Para que se mantenha afastado, inspiram-lhe o
receio de sofrer danos. Quando o inimigo está descansado, são capazes de o
fatigar. Quando bem alimentado, são capazes de o deixar com fome. Quando
imóvel, são capazes de o pôr em movimento. Aparecem em locais que ele
não consegue defender e movem-se rapidamente na direcção mais
inesperada.

Quando é possível marchar ao longo de mil léguas sem cansaço, é porque se


avança em território onde o inimigo não está presente. Para ter a certeza de
conquistar o que se ataca, é preciso atacar um lugar que não está defendido.
Para ter a certeza de conservar o que se defende, é preciso defender um
lugar que o inimigo não ousa atacar. Por essa razão, perante quem é hábil no
ataque, o inimigo não sabe onde defender. Perante quem é hábil na defesa, o
inimigo não sabe onde atacar.

Infinitamente subtil, o guerreiro hábil não mostra qualquer forma.


Divinamente misterioso, não emite qualquer som. É assim que se torna
senhor do destino do inimigo. Na ofensiva é irresistível, porque ataca as
posições mais fracas do inimigo. Na retirada não é alcançado, porque se
movimenta com rapidez. Por isso, quando pretendo travar batalha, o meu
inimigo, mesmo que protegido por altas muralhas e fossos profundos, não
pode fugirão confronto. Porque ataco uma posição que é obrigado a
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defender. Quando não pretendo travar batalha, desenho uma linha no terreno
para me defender, e o inimigo é incapaz de me atacar. Porque o desvio do
seu objectivo.

O general hábil condiciona as formações do inimigo, porém oculta as suas.


Por conseguinte, estou concentrado, enquanto o inimigo está disperso. Estou
concentrado e agrupado num corpo único. O inimigo está disperso e
fraccionado em dez partes. Posso então usar dez para atacar um. Quando
tenho a possibilidade de usar muitos homens para atacar forças restritas,
estas sofrem uma derrota inevitável.
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O inimigo não deve saber onde tenciono atacar. Se não sabe onde tenciono
atacar, necessita de se preparar em muitos locais. Quando se prepara em
muitos locais, são reduzidas as forças que tenho de combater. Quando se
prepara na frente, deixa a retaguarda desguarnecida. Quando se prepara na
retaguarda, deixa a frente desguarnecida. Quando reforça a esquerda,
enfraquece a direita. Quando reforça a direita, enfraquece a esquerda. E
quando envia tropas para toda a parte, não assegura a defesa em lugar
algum. Estão em inferioridade numérica aqueles que têm de se preparar
contra os ataques dos outros. Estão em superioridade numérica aqueles que
obrigam os outros a preparar-se contra os seus ataques.

Quando se conhece o dia do combate e o campo de batalha, é possível lutar


depois de uma marcha de mil léguas. Quando não se conhece o dia do
combate nem o campo de batalha, a esquerda é incapaz de apoiar a direita, a
direita é incapaz de apoiar a esquerda, a frente é incapaz de apoiar a
retaguarda, a retaguarda é incapaz de apoiar a frente. E ainda mais quando
separadas por várias dezenas de léguas ou, na verdade, apenas por algumas
poucas!

Embora, segundo os meus cálculos, as tropas de Yueh sejam muito


numerosas, qual a vantagem de tal facto quanto ao desfecho da guerra? É por
isso que digo: «A vitória pode ser conquistada». Apesar da superioridade
numérica do inimigo, é possível impedir que este combata.

Há que analisar os planos do inimigo para conhecer as suas fraquezas e as


suas forças. Levá-lo a agir para conhecer o padrão dos seus movimentos.
Atraí-lo para conhecer as suas formações e determinar a sua posição.
Sondá-lo para conhecer os locais onde as suas forças abundam e onde
escasseiam.

A excelência suprema na formação das tropas é conseguir a ausência de


forma. Então, os espiões mais argutos não as conseguem discernir, nem os
sábios têm capacidade de fazer planos para as atacar. Através da formação
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das tropas a vitória é conquistada aos olhos da multidão, embora a multidão


não a compreenda. Todos conhecem a formação que me torna vitorioso, mas
ninguém sabe como determino essa formação. Há que não repetir as tácticas
que conduziram a uma vitória, mas responder às circunstâncias através de
uma infinita variedade de formas.

Ora, a forma de um exército é comparável à água. A água foge das alturas


para se precipitar nas terras baixas. O exército vitorioso evita os pontos
sólidos e ataca os vazios. A água forma o seu curso de acordo com os
acidentes do terreno. O exército constrói a sua vitória de acordo com a

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situação do inimigo. O exército não tem um dispositivo fixo, tal como a água
não tem uma forma constante. Quem obtém a vitória modificando as suas
tácticas de acordo com a situação do inimigo pode ser considerado divino.
Dos cinco elementos, nenhum é sempre predominante. Das quatro estações,
nenhuma dura eternamente. O Sol brilha durante mais ou menos tempo,
sendo uns dias longos, outros curtos. A Lua tanto se enche com se esvazia. É
esta também a essência da utilização das tropas.
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CAPÍTULO VII
MANOBRAS DE COMBATE
Sun Tzu disse:

Por norma, na guerra, o general recebe ordens do soberano, reúne as tropas,


mobiliza as gentes, organiza o exército e estabelece o acampamento. Nada é
mais difícil do que manobrar o exército em combate. A dificuldade consiste
em transformar o caminho sinuoso em directo e tornar a adversidade numa
vantagem. Por isso, é conveniente tomar um caminho sinuoso e desviar o
inimigo através do engodo de uma vantagem. Quem inicia a marcha depois
do inimigo e chega antes deste ao campo de batalha é porque conhece a arte
das manobras de diversão.

As manobras de combate trazem vantagens. As manobras de combate trazem


perigos. Quem luta por uma vantagem com todo o exército não chegará a
tempo. Quem luta por uma vantagem com um exército reduzido perderá
equipamentos e provisões. Em consequência, se um exército efectuar uma
marcha forçada sem armaduras, não parando nem de dia nem de noite,
percorrendo o dobro da distância habitual numa etapa para ganhar uma
vantagem de cem léguas, então é provável que os comandantes sejam
capturados. Os homens mais fortes chegarão primeiro, os mais fracos
ficarão para trás, e apenas um décimo do exército alcançará o seu destino.
Numa marcha forçada de cinquenta léguas, o comandante da vanguarda
possivelmente tombará, mas metade do exército chegará. Numa marcha
forçada de trinta léguas, apenas dois terços chegarão. Daqui se conclui que
um exército sem equipamento nem provisões estará perdido.

Quem não conhece as estratégias dos soberanos vizinhos não deve com eles
fazer alianças. Quem não conhece as condições do terreno em montanhas,
florestas, desfiladeiros e pântanos não pode conduzir um exército. Quem não
recorre a guias locais é incapaz de obter vantagens do terreno.
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A guerra é baseada na astúcia. O exército tem de avançar quando se torna


vantajoso e alterar a situação através da dispersão e da concentração de
forças. Quando em campanha, ser rápido como o vento. Quando em marcha
lenta, majestoso como a floresta. Quando na ofensiva, violento como o fogo.
Quando imóvel, firme como a montanha. Quando oculto, indiscernível como
a sombra. Quando em movimento, certeiro como um raio.

Quando faz pilhagens nos campos, dispersa as suas forças. Quando


conquista territórios, defende os pontos estratégicos. É necessário avaliar a
situação antes de avançar. Quem conhece a arte das acções directas e
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indirectas é vitorioso. Este é o método das manobras de combate.

No Livro da Administração Militar; lê-se: «Como as vozes não são


claramente audíveis numa batalha, usam-se tambores e gongos. Como as
tropas não são claramente visíveis numa batalha, usam-se bandeiras e
estandartes.» Por conseguinte, no combate diurno, convém utilizar mais
bandeiras e estandartes. No combate nocturno, mais tambores e gongos. Ora,
tambores, gongos, bandeiras e estandartes são meios para unificar as tropas
através da visão e da audição. Quando estas se encontram assim fortemente
consolidadas na acção, os corajosos não podem avançar sozinhos antes de
receberem ordens, nem os cobardes bater em retirada por iniciativa própria.
Este é o método para conduzir tropas numerosas.

A energia dos exércitos pode ser contrariada. A determinação do


comandante pode ser abalada. O humor matinal é belicoso, o humor do
meio-dia é indolente, o humor vespertino é nostálgico. Por isso, aqueles que
são hábeis na guerra evitam o inimigo quando o seu humor é belicoso para o
atacar quando se torna indolente e nostálgico. É o domínio do factor moral.
Em boa ordem, esperam um inimigo em desordem; com serenidade, um
inimigo em agitação. É o domínio do factor mental. Na proximidade do
campo de batalha, aguardam um inimigo que vem de longe; em descanso, um
inimigo exausto; com tropas bem alimentadas, outras esfomeadas. É o
domínio do factor físico. Não combatem um inimigo que avança com
estandartes bem ordenados, nem um inimigo cujas formações militares são
imponentes. É o domínio das circunstâncias mutáveis.

Por conseguinte, a arte de utilizar tropas implica não investir contra um


inimigo que ocupa um terreno elevado e, quando a sua retaguarda se apoia
nas colinas, não empreender um ataque frontal. Não o perseguir quando
simula uma retirada. Não atacar tropas de elite. Não cair em engodos. Não
deter um inimigo que regressa ao seu território. Deixar uma saída a um
inimigo cercado. Não pressionar um inimigo desesperado. Este é o método
de utilização das tropas.
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CAPÍTULO V
A FORÇA DO EXÉRCITO

No quinto capítulo, é referida a utilização de forças regulares e forças


extraordinárias, cujos recursos devem constituir energias inesgotáveis do
exército. Através da correcta formação e utilização das tropas, através das
suas disposições tácticas, «quem é hábil na guerra revela força esmagadora
e presteza no ataque». Mesmo no caos aparente da batalha, o exército
mantém as suas formações e atrai o inimigo para o derrotar, depois de criar
a situação mais propícia para o efeito.
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CAPÍTULO VI
VAZIO E CHEIO

Este capítulo também poderia designar-se por «Pontos fracos e pontos


fortes», pois é disso que se trata: a capacidade das tropas tirarem partido
das fraquezas do inimigo, ao mesmo tempo impedem eventuais ataques.

Este ponto é sintetizado da seguinte forma: «Perante quem é hábil 110


ataque, o inimigo não sabe onde defender. Perante quem é hábil na defesa, o
inimigo não sabe onde atacar.» Além de conhecer as forças e fraquezas do
inimigo, é necessário manter a flexibilidade para enfrentar adequadamente
as diferentes situações: «Há que não repetir as tácticas que conduziram a
uma vitória, mas responder às circunstâncias através de uma infinita
variedade de formas.»

Daí que a forma do exército seja comparável à água, que se adapta aos
acidentes do terreno e acaba por vencer os obstáculos para chegar ao seu
destino.
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CAPÍTULO VII
MANOBRAS EM COMBATE

O capítulo sétimo realça que as manobras de um exército em combate


acarretam sempre dificuldades, vantagens e perigos.
« A dificuldade consiste em transformar o caminho sinuoso em directo e
tornar a adversidade numa vantagem.»

Trata-se aqui de dominar «a arte das acções directas e indirectas» para


avançar com segurança e conquistar a vitória. Para isso, é preciso recorrer
aos mais diversos estratagemas, pois «a guerra é baseada na astúcia».

Por outro lado, há que saber conduzir os exércitos no campo de batalha


através de sinalização apropriada e dominar os factores morais, mentais,
físicos e circunstanciais que condicionam o desenrolar de operações bélicas
e a óptima utilização das tropas.

Por fim, há que ter presente a dialéctica imanente na natureza, à semelhança


da qual se processam as actividades bélicas. «Dos cinco elementos, nenhum
é sempre predominante. Das quatro estações, nenhuma dura eternamente. O
Sol brilha durante mais ou menos tempo, sendo uns dias longos, outros
curtos. A Lua tanto se enche com se esvazia. É esta também a essência da
utilização das tropas.» Na tradição chinesa, os cinco elementos são a água, o
fogo, o metal, a madeira e a terra.
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CAPÍTULO VIII
AS NOVE VARIÁVEIS

Este capítulo principia da mesma maneira que o anterior: «Em geral, a


utilização das tropas é organizada pelo comandante, depois de receber
ordens do soberano para reunir o exército e mobilizar as gentes.» O seu
título, porém, é incompreensível, pois embora surja no corpo do texto nunca
chega a ser explicado.

As «cinco vantagens» também referidas talvez correspondam à enumeração


daquilo que não é aconselhável o comandante fazer: «Há estradas que não
deve seguir. Há tropas que não deve atacar. Há cidades que não deve
assaltar. Há territórios que não deve conquistar. Há ordens do soberano que
não deve acatar.»
Para lá de algumas indicações de natureza topográfica, são feitos avisos
quanto à necessidade de garantir a invencibilidade face ao inimigo e quanto
aos traços de carácter indesejáveis num general.
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CAPÍTULO IX
O EXÉRCITO EM MARCHA

O capítulo nove analisa os princípios que devem reger o posicionamento do


exército em diversos terrenos. «Em geral, estes princípios oferecem
vantagens no posicionamento do exército. Foi através da sua utilização que
o Imperador Amarelo venceu os quatro soberanos vizinhos.» Segundo a
lenda, o Imperador Amarelo foi o imperador mais antigo da China, tendo
reinado há cerca de cinco mil anos.

Em seguida, é abordada a possibilidade de interpretar os indícios que


denunciam os movimentos e as intenções do inimigo. Alerta-se também para
o facto de a vantagem militar não depender necessariamente da
superioridade numérica e para o perigo de subestimar o inimigo. Por fim,
são feitas considerações sobre a necessidade de disciplina militar.
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CAPÍTULO X
O TERRENO

Este capítulo aborda os procedimentos do exército de acordo com uma


classificação dos terrenos em seis tipos e alerta para seis situações que
podem conduzir as tropas à derrota. É da responsabilidade do comandante
analisar cuidadosamente estes factores e avaliaras situações de forma a
garantir a vitória e a evitar a derrota, mesmo que para esse efeito tenha de
desobedecer às ordens do soberano. São enaltecidas as qualidades do bom
general, que «é visto como o tesouro do reino».
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CAPÍTULO XI
AS NOVE ESPÉCIES DE TERRENO

Um longo capítulo em que a diversidade do terreno é analisada em


profundidade.

As condições do exército quando se encontra em território inimigo são


igualmente abordadas: «Colocar as tropas numa posição da qual não há
saída. Mesmo perante a morte, não fugirão. Preparadas para morrer, não
serão capazes de tudo?»

Mais uma vez é realçada a astúcia necessária na guerra para alcançar a


vitória: «A princípio, mostrar a timidez de uma virgem. Depois, quando o
inimigo abre uma porta, ser veloz como uma lebre. O inimigo será incapaz
de resistir.»

Por fim, uma nota de compaixão: «Os meus oficiais não têm excesso de
riquezas, mas não porque desdenhem os bens materiais. Não têm a
expectativa de uma vida longa, mas não porque lhes desagrade a
longevidade. No dia em que se dá a ordem de marcha, as lágrimas dos que
estão sentados humedecem as suas vestes, as lágrimas dos que estão
deitados rolam pelas suas faces. Mas colocai-os numa situação sem saída e
eles demonstrarão a coragem de Zhuan Zhu e Cao Gui.» Zhuan Zhu e Cao
Gui viveram no Período da Primavera e do Outono, sendo considerados
bravos guerreiros que não temiam a morte.
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CAPÍTULO XII
ATAQUE COM FOGO

O tópico principal deste capítulo é a utilização do fogo nos ataques. As


formas de o empregar, as épocas e os dias mais propícios para o fazer.

«Os dias são aqueles em que a Lua se encontra nas constelações da Peneira,
do Muro, da Asa e da Plataforma do Carro.» Estas constituem,
respectivamente, a 7.a, 14.a, 27.a e 28.a das Vinte e Oito Mansões
Estelares, correspondendo de forma aproximada às constelações de
Sagitário, Pégaso, Taça e Corvo.

Surgem também avisos relativos às motivações que impelem soberanos e


generais a combater, sendo realçadas as consequências funestas da guerra:
«A cólera pode dar lugar à alegria. O rancor pode dar lugar ao
contentamento. Um país aniquilado não pode voltar a existir. Os mortos não
podem regressar à vida.»
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CAPÍTULO XIII
UTILIZAÇÃO DE ESPIÕES

O último capítulo trata especificamente do emprego de agentes secretos na


obtenção de informações militares relevantes.

Começa, todavia, por referir os prejuízos causados pela guerra, como por
exemplo: «O trabalho agrícola de setecentas mil famílias é interrompido.»
Na China antiga, oito famílias formavam uma comunidade. Quando uma
família enviava um homem para o exército, as restantes sete contribuíam
para o sustento dessa família. Assim, quando um exército de cem mil
homens era recrutado, 700 mil famílias deixavam de ter capacidade para
realizar todos os trabalhos agrícolas necessários.

Quanto à necessidade de informação sobre o inimigo e ao papel


imprescindível dos espiões, que são classificados em cinco categorias, fica
bem explícito o pensamento de Sun Tzu: «A previsão não se alcança por
meio de espíritos ou deuses, nem por comparação de sucessos passados,
nem por cálculos astrológicos. Tem de ser obtida através daqueles que
conhecem a situação do inimigo.» O recurso à espionagem, com especial
realce para os espiões duplos, é considerado essencial na guerra.
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FICHA TÉCNICA

© A Arte da Guerra, de Sun Tzu

© Tradução, introdução e notas de Luís Serrão

© Versão digital:
ATLÂNTICO PRESS . Rua do Salitre nº 84 - 4º Dto. 1250-202 Lisboa -
Portugal
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© COISAS DE LER . Rua Professor Egas Moniz Lote 4, Cave Traseira


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ISBN: 978-989-8659-22-4

Direitos reservados.
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