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Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5637-204-4.
1. Educação. 370
2. Didática - Métodos de ensino instrução e estudo – Pedagogia. 371.3
3. Linguagem, Línguas – Estudo e ensino. 418.007
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2021- Impresso no Brasil
SUMÁRIO
PREFÁCIO.....................................................................................................................7
ESCREVER É VERBO DO PRESENTE
Renilson José Menegassi
APRESENTAÇÃO.........................................................................................................11
ESCRITA COMO PRÁTICA SOCIAL (NÃO) ESCOLAR
Eliana Maria Severino Donaio Ruiz
PARTE 1
O TRABALHO COM GÊNEROS DISCURSIVOS EM SITUAÇÃO DE ENSINO
PARTE 2
O TRABALHO COM PRODUÇÕES ESCRITAS ESPECÍFICAS
SOBRE OS AUTORES..................................................................................................239
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PREFÁCIO
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APRESENTAÇÃO
1 PIETRI, Emerson de. A constituição da escrita escolar em objeto de análise dos estudos linguís-
ticos. Trabalhos em Linguística Aplicada. Campinas, v. 46, n. 2, p. 283-297. 2007. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-18132007000200010&script=sci_abstract.
Acesso em: 28 out. 2020.
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5 BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.
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PARTE 1
INTRODUÇÃO
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2 Street (2014) faz referência a dois modelos de letramento: o autônomo e o ideológico. O pri-
meiro, próximo a uma visão tradicional da linguagem, concebe o letramento como uma questão
técnica. Já o letramento ideológico considera a linguagem nas práticas sociais, permeada por
questões históricas, culturais e ideológicas.
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
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opta apenas por modificar sua forma de dar aulas; ele toma uma decisão
consciente de qual aluno gostaria de formar. Sabendo do poder da escrita
e das restrições a ela a que grande parte dos estudantes brasileiros estão
submetidos, esse professor tenta garantir ao seu aluno o direito de agir
socialmente mediante o uso da linguagem escrita.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2000.
BONINI, Adair. Metodologias do ensino de produção textual: a perspectiva da
enunciação e o papel da psicolinguística. Perspectiva, Florianópolis, v. 20, n. 1, p.
23-47, jan. 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental - Língua
Portuguesa. Brasília, 1998.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe
sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário
Oficial União, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 27 jan. 2020.
CORRÊA, Manoel Luiz Gonçalves. Bases teóricas para o ensino da escrita.
Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 13, n. 3, p. p. 481-513, set./dez. 2013.
DE GRANDE, Paula Baracat. Trabalhar com temas da comunidade. Plataforma
do Letramento, 2014. Disponível em: http://www.plataformadoletramento.org.br/
acervo-experimente/536/trabalhar-com-temas-da-comunidade.html. Acesso em: 18
jan. 2020.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 65. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2018.
GERALDI, João Wanderley. Concepções de linguagem e ensino de português. In:
GERALDI, João Wanderley (org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Anglo,
2012. p. 39-45.
KLEIMAN, Angela B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre
a prática social da escrita. São Paulo: Mercado de Letras, 1995.
KLEIMAN, Angela B. O processo de aculturação pela escrita: ensino da forma ou
aprendizagem da função? In: KLEIMAN, Angela B.; SIGNORINI, Inês (org.). O
ensino e a formação do professor: alfabetização de jovens e adultos. Porto Alegre:
Artmed, 2000. p. 223-243.
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ESCRITA E CIDADANIA:
UMA PRÁTICA PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA1
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• produção do rascunho;
• produção da carta;
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Fonte: A autora.
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Fonte: A autora.
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ANEXOS
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ticas sociais reais. Dessa forma, escrever era o mesmo que reproduzir
modelos prontos, só que rigorosamente adequados segundo os sistemas
gramatical e ortográfico da língua.
Com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
1997), com ideias norteadoras sobre o processo de ensino-aprendizagem
mediado pelo professor e uma língua mobilizada por meio das práticas
sociais reais, o texto se torna o protagonista no ensino. O texto, como
materialização dos gêneros discursivos – termo cunhado por Bakhtin
(2010) –, carrega consigo o fator reflexivo sobre a língua, uma vez que
pensar em gêneros discursivos, ainda que de forma didatizada, exige uma
análise sobre a sociedade e as suas formas de comunicação.
Pelo caráter dialógico das práticas sociais e na tentativa de propor
um trabalho à luz dos preceitos bakhtinianos e do ensino de gêneros,
nossa proposta didática integra os eixos de ensino de Língua Portuguesa,
especialmente a produção textual e a análise linguística.
Para tanto, escolhemos o gênero Guia de Viagem, uma vez que
constitui uma prática social que permite ao aprendiz explorar os conhe-
cimentos linguísticos e textuais do gênero e, também, se apropriar do
gênero e o contexto sócio-histórico no qual a comunidade escolar se
insere. Assim, mais que interagir com o sistema linguístico, o aprendiz
se relaciona de maneira efetiva com o seu ambiente, com sua cidade
e com conhecimentos que, no âmbito educacional, são considerados
interdisciplinares, efetivando, assim, o que propõem os documentos
oficiais, o que permite a colaboração para a formação escolar e cidadã
dos aprendizes.
1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
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2 A terminologia aqui utilizada se refere aos signos enquanto sistemas de significação, sejam
eles verbais ou não verbais.
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3 Esse “padrão” de guia de viagem, segundo Magalhães (2006), surgiu em Portugal e, diante do
avanço turístico da Europa, acabou se modelizando para os demais países.
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Nível de Nível de
desenvolvi- desenvolvimen-
mento to atual
Nível de desenvolvimento proximal
atual
(potencial que
(real) se torna real)
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Fonte: A autora.
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II Problematização
Em seguida, possibilitamos a construção dos conhecimentos acerca
dos gêneros e conceitos sobre o Guia de Viagem e seu papel social. É
nessa fase que levantaremos os questionamentos que devem ser respon-
didos ao longo do trabalho.
Dimensões a serem trabalhadas:
– Conceitual: O que é um guia de viagem?
– Social: Qual a importância do guia de viagem?
– Histórica: Qual a origem do guia de viagem e sua relação com os
aspectos históricos, geográficos e culturais de sua cidade?
III Instrumentalização
a) Ações didático-pedagógicas para a aprendizagem
Na etapa em foco, representamos a efetiva ação de sistematizar o
conhecimento para auxiliar o discente em sua reflexão e apropriação das
características do gênero
As atividades individuais ou coletivas têm como objetivo permitir
que os alunos construam seu conhecimento por meio das diversas lin-
guagens, da interação uns com os outros e, também, por mediação de
instrumentos.
Nesse momento, a mediação tem maior destaque, visto que o objeto
de conhecimento e o aluno estão em maior evidência devido à sistemati-
zação proporcionada pelo professor: “A instrumentalização é o caminho
pelo qual o conteúdo sistematizado é posto à disposição dos alunos para
que o assimilem e o recriem e, ao incorporá-lo, transformem-no em ins-
trumento de construção pessoal e profissional” (GASPARIN, 2012, p. 51).
Na etapa da instrumentalização, serão estabelecidos os conheci-
mentos necessários para que ocorra a produção do Guia de Viagem; no
nosso caso, refletir, por meio do estudo do gênero e da discussão em sala
de aula, sobre os aspectos sociais, textuais e linguísticos desse gênero.
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IV Catarse
De acordo com Gasparin (2012), a operação essencial da Catarse
é a de síntese mental, entendida como processo de apropriação ou de
internalização dos conteúdos veiculados durante as etapas de Proble-
matização e Instrumentação.
Nesse momento, o aluno deve mostrar o que realmente aprendeu
durante todo o processo de elaboração mental e material do conhecimento
teórico. Para Gasparin (2012, p. 124), “A catarse é a síntese do cotidiano e
do científico, do teórico e do prático a que o educando chegou, marcando
sua nova posição em relação ao conteúdo e à forma de sua construção
social e sua reconstrução na escola”.
A nova postura do aluno, diante dos conhecimentos científicos
apreendidos, é observada pelas suas ações sociais e na materialização
do que aprendeu.
A catarse de nossa proposta será a produção de um guia de viagem
da cidade em que os alunos residem e será dividida em três momentos
distintos:
1) Pesquisa e busca dos dados necessários para a produção do guia de
viagem.
2) A produção do guia.
3) A refacção textual final.
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meio dos gêneros discursivos, e a escola, por sua vez, deve formar o
sujeito para a agência cívica, ou seja, deve partir de necessidades reais.
O ensino em uma perspectiva do letramento exige do professor
uma postura diferenciada, em que a sala de aula se transforma em lugar
de interação e criação. Em termos práticos, na área da linguagem, isso
significa que o texto – dos mais diferentes gêneros – passa a ocupar a
centralidade e seu ensino deve se dar de modo que a leitura seja crítica
e a escrita, além de crítica, processual (FIAD, 2011; 2013). A formação
inicial e continuada de professores, deve, portanto, ir ao encontro dessas
exigências. Em face do exposto, surge o questionamento: como promover
a escrita enquanto prática social e agência cívica, considerando a esfera
de letramento acadêmica, em um curso de formação de professores de
Língua Portuguesa?
Considerando o caráter híbrido das práticas de letramento em socie-
dade e sua pertinência no que concerne o ensino de Língua Portuguesa,
bem como a necessidade em articular essas necessidades à formação de
professores, pretende-se propor um projeto de letramento para a produção
colaborativa de um blog literário para postagens de resenhas de obras de
autores negros e relacionadas à negritude. O projeto será desenvolvido
junto a uma turma do curso de graduação em Letras Inglês-Português de
uma Universidade Pública no Paraná na disciplina de Leitura e Produção
Textual. Este artigo, especificamente, compõe parte de uma pesquisa de
doutorado e objetiva delinear o quadro teórico-metodológico, descrever
o contexto no qual se dá o trabalho e apresentar as etapas do projeto.
Neste quadro teórico-metodológico, associamos as teorias que,
dialogicamente, rompem as fronteiras do instrumentalismo que permeia
as práticas de letramento acadêmico. Enfatizamos a importância em se
desenvolver práticas de letramento acadêmico em que a escrita seja com-
preendida a partir de sua função social e agenciamento cívico. Ademais,
o projeto de letramento, a ser efetivado posteriormente, vai ao encontro
dos interesses dos sujeitos da pesquisa em promover na instituição dis-
cussões sobre a temática étnico-racial.
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2. PROJETOS DE LETRAMENTO
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Fonte: A autora.
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PARTE 2
INTRODUÇÃO
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3 Na ocasião da pesquisa de Camargo (2020), de acordo com a Ranking Universitário Folha 2018
(FOLHA, 2018), a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP) ocupavam, respectivamente, a primeira e a quarta posição entre as melhores
universidades brasileiras.
4 A Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Universidade Estadual de Maringá (UEM)
ocupavam, respectivamente, a 24ª e a 25ª posições entre as melhores universidades brasileiras
(FOLHA, 2018).
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5 “Art. 1º. O concurso vestibular das instituições federais e particulares que compõem o sistema
federal de ensino superior reger-se-á, a partir de 1º de janeiro de 1978, pelo Decreto número
68.908, de 13 de julho de 1971, com as seguintes alterações: a) introdução, a critério da insti-
tuição, de provas de habilidades específicas para Cursos que, por sua natureza, as justifiquem;
b) possibilidade de realização do concurso vestibular em mais de uma etapa; c) utilização de
mecanismos de aferição que assegurem a participação, na etapa final do processo classificatório,
apenas dos candidatos que comprovem um mínimo de conhecimento a nível de 2º grau e de
aptidão para prosseguimento de estudos em curso superior; d) inclusão obrigatória de prova
ou questão de redação em língua portuguesa; e) fixação, pelo Ministério da Educação e
Cultura, de data para início da realização do concurso vestibular nas instituições federais, e
de período em que será realizado o das particulares” (BRASIL, 1977, p. 1, grifo nosso).
6 Conforme notícia da Folha de S.Paulo, “O ministério tomou essas medidas em resposta a duas
reportagens veiculadas no ‘Fantástico’, da Rede Globo, que mostraram que um semi-analfabeto,
o padeiro Severino da Silva, foi aprovado nos vestibulares das universidades cariocas Estácio
de Sá, em direito, e Gama Filho, para o curso de letras” (FOLHA, 2001, grifo nosso).
7 “Art. 2º. Todos os Processos Seletivos a que se refere o artigo anterior incluirão necessaria-
mente uma prova de redação em língua portuguesa, de caráter eliminatório, segundo normas
explicitadas no edital de convocação do processo seletivo. § 1 Em qualquer caso será eliminado
o aluno que obtiver nota zero na prova de redação” (BRASIL, 2001, grifo nosso).
8 “[...] Art. 5º. O resultado obtido pelo candidato no Exame Nacional do Ensino Médio -
ENEM realizado pelo Ministério da Educação deverá fazer parte necessariamente do
conjunto de requisitos ou provas dos Processos Seletivos das Faculdades Isoladas, das
Faculdades Integradas e dos Centros Universitários.
§ 1º. Serão considerados apenas resultados do ENEM obtidos pelos candidatos nos três anos
anteriores à realização do processo seletivo” (BRASIL, 2001, grifo nosso).
9 “De acordo com o ministro, a portaria vem resolver o problema do custo da correção da redação
reclamado por muitas instituições. ‘Elas podem adotar o Enem como parte do processo seletivo,
uma vez que a redação do Enem é corrigida pelo Ministério’. O ministro também considera
importante aproveitar esse momento para reforçar a redação em todos os níveis de ensino. Nós
queremos incentivar os alunos a raciocinar, incentivar os professores a ensinar os alunos
a pensar e a redigir e incentivar as escolas de ensino médio a dar prioridade à redação”
(VESTIBULAR1, 2001, grifo nosso).
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10 “Os critérios para a correção da redação no Enem ficaram mais rigorosos. Para alcançar uma
boa nota, o candidato deverá ficar atento às cinco competências exigidas. [...] 1) Domínio da
norma padrão da língua escrita: Consiste na aplicação das normas gramaticais aprendidas ao
longo da vida escolar do candidato. Atenção com a ortografia, concordância, pontuação e com
o coloquialismo, que deve ser evitado. 2) Compreensão do tema: Uma leitura atenta dos textos
motivadores poderá (sic) auxiliar o candidato na compreensão do tema. Não entender a proposta
pode provocar efeitos desastrosos na nota. 3) Organizar informações e argumentos: A organiza-
ção das ideias é fator primordial para quem quer expor adequadamente suas ideias. Além de bons
argumentos, o candidato deve saber como apresentá-los de maneira clara e objetiva. 4) Correta
aplicação da lógica: Seus argumentos precisam ser bem elaborados e coerentes. Um dos fatores
que contribuem para a coerência textual é a coesão, por isso, fique atento ao uso dos conectivos,
como advérbios e conjunções. 5) Apresentar uma proposta de intervenção para o problema:
Não basta apresentar argumentos coerentes, é preciso que o candidato apresente uma proposta
de solução para o problema, uma das principais características da redação do Enem” (BRASIL
ESCOLA, 2014, p. 1).
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12 Nos recortes discursivos (RD), para melhor identificação ética dos sujeitos, desenvolvemos
o seguinte código: X (y - Z), onde X é o nome do sujeito (letras aleatórias do alfabeto); y é
a posição-sujeito por ele ocupada (corretor de redação de vestibular; professor de Ensino
Médio; ou professor de cursinho pré-vestibular); e Z é o estado da federação em que atua
(PR - Paraná ou SP - São Paulo).
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RD1
Pesquisador: Para você, quais as diferenças entre o professor formador e
o corretor de redação de vestibular?
H (professor de cursinho pré-vestibular - SP): o professor formador é o
professor que vai é:: [+] criar uma [+] uma trajetória pra [+] tentar criar
o repertório argumentativo do aluno [+] o professor corretor é o professor
que vai [+] avaliar se esses percursos foram/ se esse caminho conseguiu bom
resultado [+] então o professor formador é o professor que atua acredito
eu mais [+] de maneira mais direta né’ junto atuando ali aos alunos [+]
funcionando como um [+] né’ um orientador pra que eles consigam [+] é:
associar aquilo que eles aprendem com as discussões dos temas [+] e o cor-
retor o corretor é aquele que vai saber se esse resultado foi atingido ou não
né’ então é aquele que tá mais distante da [+] desse jogo né’ com o aluno.
RD2
Pesquisador: Quais as diferenças entre o professor formador e o corretor
de redação de vestibular?
L (professor de Ensino Médio - PR): Bom [+] o professor formador é aquele
que vai ensinar né’ ensinar os alunos [+] os objetivos ah: o passo a passo
da redação o que você tem que fazer [+] você vai formar aquele aluno [+]
você vai preparar ele para né’ um vestibular [+] pra ele fazer um concurso
[+] sei lá a gente vai preparar [+] mostrando esteticamente o que pode e o
que não pode [+] todos os passos.
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em vista o exame (você vai preparar ele para né’ um vestibular [+] pra
ele fazer um concurso). Do discurso deste professor resvala igualmente
o pré-construído, o já dito por Luckesi (2002), acerca da pedagogia do
exame. A partir do momento em que o processo de ensino comparece,
nesse discurso, voltado para a aprovação de estudantes e consequente
promoção de um nível escolar a outro, tal pedagogia se manifesta. O
discurso do sujeito L se mostra atravessado, portanto, pelos discursos da
instituição escolar, dos pais e dos próprios alunos que, por vezes, veem
o ensino de produção textual na escola como uma mera preparação para
a prova de redação no exame vestibular.
A imagem de redação de vestibular que resvala desses discursos
de sujeitos da educação a ela vinculados direta ou indiretamente é que
se trata de um texto que, se espera, seja adequadamente preparado pela
escola para ser aceito num exame fora da escola como comprovante de
habilidades de escrita.
Passemos agora à análise do imaginário discursivo acerca da peda-
gogia em si mesma, desenvolvida pelos sujeitos da educação em ambas
as instâncias escolares que envolvem a redação de vestibular – a educação
básica e o cursinho pré-vestibular:
RD3
Pesquisador: Para você quais as diferenças entre o professor formador e o
corretor de redação do vestibular?
P (corretor de redação de vestibular - SP): [...] o professor formador é::
[...] no fim das contas ele acaba servindo na maioria das vezes pra ensinar a
formulinha da prova [+] o modelinho da prova [+] o ideal [+] na definição
do que seria um professor formador seria um professor que de fato se preo-
cupa em fazer com que o aluno consiga expressar suas ideias por escrito [...].
RD4
Pesquisador: Quais as maiores dificuldades para o ensino de redação en-
frentados por professores em sala de aula?
A (professor de cursinho pré-vestibular - PR): [...] eu vejo ainda um certo
comodismo por parte dos professores porque dar aula de redação dá trabalho
[+] [...] corrigir dá muito trabalho se as duas coisas não funcionam [+] a
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aula de redação não flui como deveria [+] [...] muitas vezes o professor li-
mita a redação do aluno na sala de aula [+] então olha [+] não usem essas
expressões não usem estes recursos [+] não usem conclusão assim [+] não
usem introdução assim [+] então porque trabalha num único roteirinho
fica fácil para corrigir [+] fica fácil pro aluno melhor [+] só naquele mo-
delinho [+] mas o aluno não aprende a escrever de verdade ele aprende a
seguir um roteiro.
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RD5
Pesquisador: Escrever uma boa redação no vestibular significa escrever
bem? Justifique.
T (corretor de redação de vestibular - PR): não [+] eu acho que não
por que a gente acaba depois de um certo tempo se habituando a alguns
modelos de texto né [+] então talvez eu domine a forma [+] daquele gênero
específico e não domine muitas outras coisas [+] eu esteja preparada pra
fazer aquela prova mas isso não confere a mim por exemplo uma competên-
cia de discurso social ou de fazer alguma diferença na sociedade por meio
daquilo que eu falo, escrevo de como eu me expresso [+] então eu acho que
são coisas bem distintas.
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RD6
Pesquisador: Você gostaria de fazer algum comentário ou sugestão para
esta pesquisa?
H (professor de cursinho pré-vestibular - SP): [...] acho que a redação
é importante né? é um texto que embora não seja [+] muito pertinente à
vida prática depois ela é uma forma relevante de [+] de você construir
argumentação [...].
RD7
Pesquisador: Para você quais as diferenças entre o professor formador e o
corretor de redação de vestibular?
R (corretor de redação de vestibular - SP): [...] a redação do vestibular não
tem uma história [+] quando eu tô em sala de aula o texto tem uma história.
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seja, ao fato de, em contexto de sala de aula, a escrita não ser, de fato,
produzida para o interlocutor visado pelo gênero solicitado na prova,
mas, sim, apenas para o professor ler e avaliar o texto, ficando restrita
ao âmbito escolar, qual ocorre no exame.
Já no RD7, o corretor R avança fazendo uma comparação. Entende
que o texto produzido em situação de vestibular não estabelece relações
sócio-históricas com seu produtor (a redação do vestibular não tem
uma história), como, segundo ele, ocorre com o texto que se produz em
sala de aula (quando eu tô em sala de aula o texto tem uma história). Os
dizeres do sujeito corretor R indicam, tal como os do sujeito professor de
cursinho H, um imaginário de que a redação no vestibular se configura
como um texto artificial, descontextualizado da realidade do escrevente,
por não vincular efetivamente os participantes entre si (vestibulando e
interlocutor do texto do gênero elegido pela prova). Entretanto, ao se
referir ao texto produzido em situação de sala de aula, R acredita, por
força de concepção – talvez numa referência ao seu trabalho pessoal em
sala de aula como professor14 –, que este carrega relações sócio-históricas,
em razão do suposto contato entre os interlocutores (alunos e leitores).
A falta de história atribuída pelo sujeito R, corretor, ao gênero redação
de vestibular retoma interdiscursivamente os dizeres de H, professor, na
referência ao letramento escolar requerido pela prova – processo avalia-
tivo descarnado de realidade.
Curiosamente, ao mesmo tempo, H, professor, revela entender ser
a redação um texto relevante (a redação é importante né?) para auxiliar
no desenvolvimento da argumentação dos estudantes (ela é uma forma
relevante de [+] de você construir argumentação), já que no RD1 havia
mencionado a redação do Enem, conforme apontamos. Isso significa que
ele considera a redação de vestibular um instrumento legítimo para o en-
sino da língua escrita na escola, de modo que, ao defendê-la, subjetiva-se
à referida pedagogia do exame.
Parece não haver concepção, nesses dizeres, de que a redação é
uma produção situada sócio-historicamente em relação ao evento de
14 R é professor de cursinho e também de Ensino Médio.
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INTRODUÇÃO3
1 Texto apresentado como trabalho final da disciplina “Ensino de Produção Escrita em Língua
Materna”, ministrada pela Profa. Dra. Eliana Maria Severino Donaio Ruiz, no Programa de
Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Londrina.
2 Agradeço às professoras mestres Giuliana Castro Brossi (UEG) e Mariana Furio (UEL) pelas
atentas leituras às versões preliminares deste capítulo.
3 Todas as traduções neste capítulo são de minha autoria.
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10 Quando compartilhei a versão preliminar deste texto com Lima Neto, o pesquisador bem
salientou que essa concepção de escrita pós-moderna nos possibilita ir além, tendo em vista
que ela mesma nos constitui enquanto autores, ou seja, “é no/com o auxílio da escrita que
elaboramos e mudamos” (LIMA NETO, 2019).
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fim, entendo que esse cuidado ético, ou seja, cuidado com o outro (i.e.,
o modo pelo qual eu discursivamente represento o outro), converge com
a concepção de escrita (acadêmica) que advogo neste capítulo, a qual é
fluída e em constante construção composicional.
Em síntese, tanto a ética emancipatória quanto a escrita (acadêmica),
em sua perspectiva pós-moderna, partem do pressuposto de que o autor
constrói discursivamente a realidade. Assim, é necessário um cuidado
especial sobre o modo como terceiros (i.e., participantes de pesquisa) são
enunciados pelo pesquisador, razão pela qual é importante o proponente
do estudo compartilhar com os demais envolvidos suas análises.
3. DESENHO METODOLÓGICO
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INTRODUÇÃO
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deste artigo está dividida em uma breve introdução geral sobre o texto,
reflexões sobre o que já foi dito acerca dos processos de retextualização,
conceitos da área da tradução que possam ser relacionados ao tema supra-
citado, possíveis aproximações entre as duas áreas, com a adaptação da
ferramenta didática proposta e, por fim, possíveis contribuições esperadas
para a aplicação prática desta tabela em sala de aula, trazendo benefícios
tanto para o professor como para o aluno.
1. O PROCESSO DE RETEXTUALIZAÇÃO
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Até meados dos anos 70, a atividade tradutória possuía uma conota-
ção formalista, isto é, o ato de traduzir ficava preso no âmbito da forma,
da frase e do léxico, com um forte foco no significado, considerando o
texto-base como superior ao texto traduzido. Nessa época, uma nova visão
a respeito da tradução surgiu e foi chamada de Tradução Funcionalista.
Para os funcionalistas, não era possível desprender da tradução caracte-
rísticas essenciais que permeiam qualquer texto: como uma forma de ação
social, dialógica e situada sócio-historicamente (PONTES; PEREIRA,
2017). Na tradução funcionalista, ‘o texto é entendido como um evento
comunicativo, localizado em tempo e lugar, que possui, pelo menos,
dois interlocutores em condições apropriadas e dispostos a se comunicar
para alcançar um objetivo concreto” (PONTES; PEREIRA, 2017, p. 3).
Christiane Nord, um dos grandes nomes do campo de Tradução
Funcionalista, se preocupou em descrever aspectos funcionais do texto e
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suas relações com o ato tradutório, definindo dois pontos básicos para a
atividade tradutória: o objetivo da tradução e sua função na cultura-alvo
(NORD, 1996). Seguindo esse raciocínio, o que se traduz em um texto
são suas funções comunicativas, não apenas a estrutura e a forma, como
era feito sob o viés formalista. Pensando nisso, Nord refletiu sobre como
um modelo de análise poderia ajudar os tradutores a encontrar as funções
do texto e facilitar o processo tradutório:
2 Tradução livre de: “Empleando un modelo analítico exhaustivo que considere los factores
intra y extratextuales, el traductor establece la función-en-cultura de un texto base dado, para
compararla con la (pretendida) función-en-cultura del texto meta encomendado, distinguiendo
los elementos (funcionales) del TB que pueden o deben mantenerse iguales en el proceso de
traducción de los que han de adaptarse a las exigencias de la cultura meta” (NORD, 2012,
p.23).
3 TF é a sigla utilizada pela autora para descrever o texto-fonte e TM para descrever o texto-
meta.
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Nord deixa claro que, muitas vezes, o tradutor não tem acesso à
resposta para todas essas perguntas, porém, mesmo assim, o desenlace
da maioria delas facilitaria enormemente o processo tradutório. O mo-
delo proposto por Nord está explicitado em sua totalidade no fim desta
seção (Quadro 01).
Na próxima seção, tentaremos aproximar o uso da tabela pré-trans-
lativa de Nord e suas possíveis relações com o ensino de escrita. Para tal,
partiremos da dissertação de mestrado de Demétrio (2014), em que a au-
tora faz uso da tabela em uma atividade de tradução, relacionando-a com
o movimento de retextualização. A seguir, faremos nossa contribuição.
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3. POSSÍVEIS APROXIMAÇÕES
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modelo de Nord trata com eficácia a análise desses pontos cruciais que
perpassam o processo de retextualização no que tange à escrita e poderia
auxiliar os alunos como uma espécie de ponto de partida ou guia durante
as atividades de escrita que permeiam as atividades de retextualização.
Essa premissa se baseia em alguns teóricos que fazem uma aproximação
entre teorias de textualização/retextualização e tradução (TRAVAGLIA,
2003; DEMÉTRIO, 2014).
Marcuschi (2001) já falava sobre como a retextualização pode ser
considerada um tipo de tradução. O teórico afirma que a interpretação
do texto-base no processo de retextualização é extremamente importan-
te e chama esse movimento de “uma espécie de tradução endolíngue
que, como em toda tradução, tem uma complexidade muito grande”
(MARCUSCHI, 2001, p. 70). Em outras palavras, ela seria um tipo de
tradução dentro da própria língua, com relação direta com a interpretação
dos textos.
Dikson (2018), ao interpretar esta noção proposta por Marcuschi,
aponta que
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4 O poema “The Road not Taken”, escrito por Robert Lee Frost e publicado em 1916, é um dos
grandes clássicos da literatura estadunidense. Seu tema central é sobre as difíceis escolhas da
vida e apresenta grande complexidade em suas interpretações. O poema pode ser encontrado
no site oficial da Poetry Foundation: https://www.poetryfoundation.org/poems/44272/the-
road-not-taken
5 A tabela desta página foi transcrita da imagem original para facilitar o entendimento. A imagem
original se encontra na seção ANEXO.
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Competência 4:
Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora,
como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –,
bem como conhecimentos das linguagens artística, matemá-
tica e científica, para se expressar e partilhar informações,
experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e
produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo (BRASIL,
2017, p. 9).
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2. A PROVA PARANÁ
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2 Tradução livre de: “Whether the washback effect is positive or negative will largely depend
on where and how it exists and manifests itself within a particular educational context […]”
(ALDERSON; WALL, 1993, p. 11).
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a educação brasileira tem como um dos focos cen-
trais de discussões a implementação da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC). O documento tem como principal – e talvez utópico – objetivo
balizar a qualidade da educação no país, para que todos os alunos, sejam
de escolas públicas ou particulares, do norte ao sul, tenham as mesmas
condições de aprendizagem.
Surge como um documento normatizador que estabelece o conjunto
de aprendizagens essenciais que todo estudante deve desenvolver ao
longo da Educação Básica. A Base funciona como subsídio para orien-
tar os currículos nos Estados, municípios e escolas; a partir dela cada
escola deverá desenvolver seus currículos, avaliando suas realidades e
necessidades locais.
Com a recente homologação do documento, faz-se ainda mais ne-
cessário que se aprofundem as discussões sobre a Base, buscando com-
preender as minúcias do ensino de escrita que implicaram diretamente
em sala de aula. Nesse cenário, considerando a disciplina de Língua
Portuguesa, a partir da discussão proposta por Fiad (2006; 2009; 2010;
1 Trabalho realizado em função da disciplina Ensino de Produção Escrita em Língua Materna, do
Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem na Universidade Estadual de Londrina
(UEL), sob orientação da Profa. Dra. Eliana Maria Severino Donaio Ruiz.
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2. ESCRITA E REESCRITA
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3. METODOLOGIA
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Habilidades
Séries Campo Trecho
2º ano Ensino Artístico-literário (EF02LP27)3 Reescrever textos narrativos
Fundamental I literários lidos pelo professor (p. 111).
6º ao 9º ano Jornalístico-midiático (EF69LP07) Produzir textos em diferen-
Ensino tes gêneros, considerando sua adequação
Fundamental II ao contexto produção e circulação – os
enunciadores envolvidos, os objetivos, o
gênero, o suporte, a circulação –, ao modo
(escrito ou oral; imagem estática ou em
movimento etc.), à variedade linguística
e/ou semiótica apropriada a esse contexto,
à construção da textualidade relacionada
às propriedades textuais e do gênero),
utilizando estratégias de planejamento,
elaboração, revisão, edição, reescrita/
redesign e avaliação de textos, para, com
a ajuda do professor e a colaboração dos
colegas, corrigir e aprimorar as produções
realizadas, fazendo cortes, acréscimos,
reformulações, correções de concordância,
ortografia, pontuação em textos e editando
imagens, arquivos sonoros, fazendo cortes,
acréscimos, ajustes, acrescentando/ alte-
rando efeitos, ordenamentos etc. (p. 143).
6º ao 9º ano Ensino Jornalístico-midiático (EF69LP12) Desenvolver estratégias
Fundamental II de planejamento, elaboração, revisão,
edição, reescrita/ redesign (esses três
últimos quando não for situação ao vivo)
e avaliação de textos orais, áudio e/ou
vídeo, considerando sua adequação aos
contextos em que foram produzidos, à
forma composicional e estilo de gêneros,
a clareza, progressão temática e variedade
linguística empregada, os elementos rela-
cionados à fala, tais como modulação de
voz, entonação, ritmo, altura e intensidade,
respiração etc., os elementos cinésicos,
tais como postura corporal, movimentos e
gestualidade significativa, expressão facial,
contato de olho com plateia etc. (p. 145).
3 As Habilidades apresentadas pela BNCC são organizadas por meio de um código alfanumérico.
O primeiro par de letras indica a etapa de ensino, o primeiro par de números indica o bloco
de anos a que se refere a habilidade, o segundo par de letras indica o componente curricular
e o último par de números indica a posição da habilidade na numeração sequencial do ano ou
bloco de anos.
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